LUGARES (IM)POSSÍVEIS DE SE
APRENDER INGLÊS NO BRASIL:
Crenças sobre
aprendizagem de inglês
em uma narrativa.
Ana Maria Ferreira Barcelos
INTRODUÇÃO
Os lugares de se aprender inglês povoam o imaginário, o senso
comum (conhecimentos adquiridos ao longo da vida), o discurso e as
práticas sociais no contexto brasileiro.
Alguns autores expõem claramente como a escola pública (EP) é vista
por muitos professores, alunos e pais que possuem a (des)crença na
aprendizagem de inglês. Para os participantes de alguns desses
estudos, a resposta à pergunta Inglês em escolas públicas não
funciona?, infelizmente, é positiva.
Essa também parece ser a resposta da Narrativa 14.
NARRATIVA 14
o O que seria a narrativa 14?
A narrativa 14 traça a trajetória de aprendizagem de inglês de um
aluno desde a Escola Pública, passando pelo curso de idiomas, pelo
curso de letras, até a especialização. O aluno descreve suas crenças
sobre os lugares em que estudou a Língua Inglesa, discorrendo muitos
mais sobre a Escola Pública, provavelmente pelo longo período de
tempo que alunos passam ali. A Escola Pública é construída na
narrativa como lugar NÃO possível de aprendizagem e inglês,
enquanto o cursinho é descrito como o lugar não somente possível,
mas IDEAL. O curso de letras aparece apenas no final da narrativa, e
o narrador não dá muitos detalhes.
CRENÇAS SOBRE ENSINO E APRENDIZAGEM
DE INGLÊS NA ESCOLA PÚBLICA
A importância desse conceito relaciona-se com a abordagem do aprendizado dos
alunos e sua relação com fatores como: motivação, estratégias, expectativas,
ansiedade, autoestima, dentre outros; com a abordagem de ensino e com a
tomada de decisão dos professores, além do processo de mudança educacional.
Constata-se em uma pesquisa que a maioria dos participantes possui a crença de
que não é possível aprender inglês em Escola Pública e que o curso de idiomas é a
melhor opção.
O estudo de Andrade (2004) feito com 199 alunos e 10 professores do 1°ano EM
de três EP, mostra um quadro alarmante, os resultados mostraram que os alunos não
acreditam que conseguem aprender inglês na escola regular, mas somente em
cursinhos. Já os professores acreditam que os alunos não têm bom nível de inglês,
nem interesse em aprender.
Os estudantes da pesquisa de Coelho (2005) acreditam que podem aprender
inglês na EP e que lá seria o local ideal. Já os professores não acreditam, e dizem
que “não é possível ensinar estruturas mais complexas porque os alunos não
acompanhariam”, “ os alunos não mostram interesse nem motivação”.
ESTUDO FEITO EM EP DO ESTADO DE SP
LUGAR (IM)POSSÍVEL DE APRENDIZAGEM
DE INGLÊS: A ESCOLA PÚBLICA
A EP é caracterizada na narrativa 14 como o lugar não possível de
aprendizagem de inglês no Brasil. Mas o autor da narrativa deixa
brechas para ver a EP como, no mínimo, um lugar de esperança de
aprender, ao narrar sua vontade de voltar à EP para fazer a
diferença.
A EP não aparece como lugar de motivação, mas sim de não
aprendizagem e de consequente desilusão e frustração.
LUGAR POSSÍVEL: O CURSO DE IDIOMAS
COMO O ELDORADO DA APRENDIZAGEM
A palavra “mensalidade” encontrada quatro vezes na narrativa 14,
enfatiza a importância da questão financeira, o esforço feito para
frequentar um curso de idiomas e o papel desse contexto na
motivação do aluno, ao contrário da EP.
O curso de idiomas é retratado como “uma oportunidade”, um sonho
visto como impossível para o aluno “devido ao alto preço das
mensalidades”.
O curso de idiomas pode ser visto como o cupido entre o aluno e a
língua inglesa, responsável por esse caso de amor (ainda desiludido).
O CURSO SUPERIOR: A PRESENÇA DO
CURSO DE IDIOMAS E O REGRESSO À EP
O curso de letras é o menos retratado na narrativa 14, sendo
totalmente voltada para o cursinho. A referência que o autor dá para
o curso de letras é: o local que o faz voltar à EP na época dos
estágios. Essa volta é descrita com desesperança e tristeza. Ele
descreve a EP como estando “pior”, com professores de outras
matérias dando aula de inglês e “professores de inglês” aprendendo
com a aula dele. Ou seja, o aluno volta ao início de sua
aprendizagem quando descrevia a EP como o lugar da não
aprendizagem e seus professores como não sabendo inglês.
Por fim, o curso de letras parece ter contribuído pouco para sua
formação, já que aparece pouco na narrativa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na visão do narrador, não é possível aprender inglês na EP. Na visão
da autora deste capítulo, é e deveria ser possível.
É possível desde que:
A) os professores sejam respeitados por seus pares, pelos agentes
educacionais e pelos pais, que precisam acreditar nessa possibilidade
e cobrar e lutar por seus direitos.
B) os alunos compreendam que as condições exteriores são
importantes sim; mas que a aprendizagem, o desejo, a motivação
vêm de dentro e que esses podem ajudá-los a redesenhar o seu
ambiente em oportunidades de aprendizagem.
C) a escola e a sociedade assumam o compromisso com o ensino eficiente
da língua inglesa com seus professores e alunos, respeitando a autonomia
de seus professores e alunos.
D) as associações de professores de inglês e de linguistas aplicados atuem
mais fortemente junto aos órgãos governamentais, paras valorizar o ensino
de inglês nas escolas públicas.
E) o governo fortaleça o ensino através do aumento da carga horária, de
melhor salário para professores e recursos para essas aulas, como livros
didáticos, recursos audiovisuais e acesso a novas tecnologias, com
adequado apoio ao professor.
“Desejo que as narrativas dos alunos se transformem em lugares possíveis
de imaginação de possibilidades, de possíveis mundos de uma escola e
que eles são capazes de aprender, como lugar possível de conhecer e de
aprender uma LE.”
REFERÊNCIAS
Lima, Diógenes Cândido de; Barcelos, Ana Maria Ferreira. Inglês em
escolas públicas não funciona? – Lugares (im)possíveis de se
aprender inglês no Brasil.
Moretti, Lindiane Viviane; Castro, Claudia L. de; Reis, Fernanda C.
dos; Silveira, Ivaneide; Pereira, Jéssica; Santos, Sandra M. dos. 2012.
A desvalorização do ensino de inglês nas escolas públicas e as
consequências para o mercado/ Revista científica Hermes 7: 155168, 2012.
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