Notícia
Propósito: Relatar um acontecimento
atual, de interesse social.
Interlocução: Linguagem predominantemente
denotativa, clara e direta. (público alvo amplo)
Estrutura do gênero notícia
A notícia é um texto geralmente curto que se compõe de:
MANCHETE: Título, geralmente chamativo, busca chamar a
atenção do leitor.
LEAD OU OLHO: Espécie de resumo da notícia, serve para
direcionar o leitor, deve conter obrigatoriamente:
O quê? Quando? Onde? Como? e, às vezes, Por quê?
DESENVOLVIMENTO OU CORPO: Aprofundamento do
assunto com dados como fala de pessoas envolvidas no fato,
sempre entre aspas.
ONG resgata filhote de rinoceronte após mãe ser morta na Índia
Um filhote de rinoceronte com duas semanas de vida foi resgatado por funcionários da
organização ambiental WWF nesta semana, após sua mãe ser morta por caçadores, na
Índia. Segundo a WWF, a mãe teve o chifre cortado, no último incidente do gênero
ocorrido neste ano na província de Assam.
Até agora, 16 rinocerontes foram mortos na região. A mãe foi caçada na terça-feira (2),
e uma equipe da ONG junto com guardas indianos iniciou uma busca no Parque
Nacional Manas para encontrar o filhote, tão logo a notícia se espalhou.
O bebê-rinoceronte estava desidratado e precisando de cuidados veterinários quando
foi encontrado. "Foi um desafio trazer o filhote, já que ele estava muito assustado na
hora do resgate. Pelo menos o animal está bem e parece estar progredindo", disse o
funcionário Deba Dutta, da WWF, em nota oficial divulgada pela instituição.
Segundo a ONG, rinocerontes são muito dependentes de suas mães nos primeiros
anos de vida, e não é possível assegurar que o filhote vá sobreviver. "É preciso reforçar
a patrulha, o monioramento e a proteção aos animais no Parque Nacional Manas",
disse um dos diretores da WWF na Índia, Dipankar Ghose, em nota da instituição.
(www.g1.com.br)
No DF, estudantes protestam por políticas públicas e educação de qualidade
Jovens estudantes e integrantes de movimentos sociais fizeram hoje (2) uma marcha na
Esplanada dos Ministérios para reivindicar ações como educação pública de qualidade,
políticas públicas para a juventude no campo e combate ao racismo e à violência contra
os jovens. O movimento faz parte da Jornada Nacional de Lutas da Juventude Brasileira,
que conta com a adesão de cerca de 40 movimentos sociais.
Ao longo da marcha, que terminou em frente ao Congresso Nacional, os representantes
dos movimentos sociais expuseram os principais eixos de reivindicação da jornada que
são a destinação dos royalties do petróleo para a educação; trabalho decente para a
juventude; reformas política e agrária; e a democratização da comunicação de massa.
Segundo o presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Daniel Iliescu, a
educação é um tema central da mobilização. "Existe uma bandeira principal que é a
destinação dos royalties do petróleo e do Fundo Social do pré-sal para financiar a
educação. O investimento de 10% do PIB [Produto Interno Bruto] na educação pode ser
viável sim, desde que aproveitados os royalties do petróleo. Queremos chamar a atenção
da sociedade, do Congresso e do governo".
A juventude rural também marcou presença na marcha. A representante da Fetag-MG
(Federação dos Trabalhadores da Agricultura de Minas Gerais), Marilene Faustino, contou
que a luta dos jovens do campo é por políticas públicas que se adequem às
especificidades do meio rural.
"Quando as políticas públicas chegam ao campo, chegam com um monte de desafios que
não atendem as necessidades específicas da região. A educação no campo é uma das
pautas que temos apresentado, a reforma agrária é outra luta constante. Nos sentimos
muito prejudicados pela falta de políticas públicas no campo para a juventude", relatou.
Criança trocada por casa é apresentada no PR:
Um dos quatro bebês trocados pelos pais por material de construção,
cestas básicas e até uma casa foi apresentado ontem pela manhã na sede
do Sicride (Serviço de Investigações de Crianças Desaparecidas) da
Segurança Pública do Paraná.
A criança estava em Curitiba com o engenheiro Antônio Ricardo Siqueira,
39, e a comerciante Luiza Helena Pereira, 39, havia cerca de um mês.
O menino continuará com o casal, que foi indiciado em inquérito policial,
até decisão final da Justiça. O casal foi indiciado sob acusação de venda ou
troca de crianças, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente.
A mãe da criança, a desempregada Maria do Nascimento, deverá ser
indiciada em inquérito policial no início da próxima semana, segundo o
delegado Harry Herbert, que cuida do caso.
Ela teria entregue o filho em abril à curitibana Jurema Frumento, que
teria intermediado a troca da criança por uma casa.
Jurema, que também foi indiciada, nega ter recebido qualquer quantia
pela entrega. Ela afirma ter apenas ajudado a amiga, que é mãe solteira e
não tem dinheiro.
[...]
(Folha de S. Paulo, 12/6/99)
Crônica jornalística narrativa
Propósito: Fazer a releitura de um fato
aparentemente banal e levar o leitor à reflexão.
Interlocução: A linguagem adotada dependerá
da forma como se quer levar o leitor a refletir:
Humor, ironia, sentimentalismo,
filosoficamente.
Estrutura do gênero crônica narrativa
Por tratar-se de um gênero narrativo a crônica terá
basicamente:
APRESENTAÇÃO: Dos personagens e da situação.
CONFLITO: Mudança na situação de equilíbrio (já visando à
reflexão do leitor)
DESFECHO: Geralmente inesperado.
A casa das ilusões perdidas - Moacyr Scliar
Quando ela anunciou que estava grávida, a primeira reação dele foi de
desagrado, logo seguida de franca irritação. Que coisa, disse, você não podia tomar
cuidado, engravidar logo agora que estou desempregado, numa pior, você não tem
cabeça mesmo, não sei o que vi em você, já deveria ter trocado de mulher havia
muito tempo. Ela, naturalmente, chorou, chorou muito. Disse que ele tinha razão, que
aquilo fora uma irresponsabilidade, mas mesmo assim queria ter o filho. Sempre
sonhara com isso, com a maternidade – e agora que o sonho estava prestes a se
realizar, não deixaria que ele se desfizesse.
- Por favor, suplicou. – Eu faço tudo que você quiser, eu dou um jeito de
arranjar trabalho, eu sustento o nenê, mas, por favor, me deixe ser mãe.
Ele disse que ia pensar. Ao fim de três dias daria a resposta. E sumiu.
Voltou, não ao cabo de três dias, mas de três meses. Àquela altura ela já
estava com uma barriga avançada que tornava impossível o aborto; ao vê-lo,
esqueceu a desconsideração, esqueceu tudo – estava certa de que ele vinha com a
mensagem que tanto esperava, você pode ter o nenê, eu ajudo você a criá-lo.
Estava errada. Ele vinha, sim, dizer-lhe que podia dar à luz a criança; mas não
para ficar com ela. Já tinha feito o negócio: trocariam o recém-nascido por uma casa.
A casa que não tinham e que agora seria o lar deles, o lar onde – agora ele prometia
– ficariam para sempre.
Ela ficou desesperada. De novo caiu em prantos, de novo
implorou. Ele se mostrou irredutível. E ela, como sempre, cedeu.
Entregue a criança, foram visitar a casa. Era uma modesta
construção num bairro popular. Mas era o lar prometido e ela ficou
extasiada. Ali mesmo, contudo, fez uma declaração.
- Nós vamos encher esta casa de crianças. Quatro ou cinco, no
mínimo.
Ele não disse nada, mas ficou pensando. Quatro ou cinco casas,
aquilo era um bom começo. (Folha de S. Paulo, 14/6/99.)
Exemplos de crônicas narrativas
Homens já adotam sobrenome das noivas. Criar uma
nova família a partir do nome da mulher, provar o
quanto essa mulher é importante na vida do casal,
romper com o ranço das tradições: essas são
algumas das justificativas que levam os noivos
paulistanos a adotar os sobrenomes de suas noivas.
Cotidiano, 13.mar.05
Nomes condicionam destinos. Sobrenomes também
Est omen in nomen (o destino está no nome). Provérbio latino
Se pelo menos eu tivesse conservado meu sobrenome, suspirava a
mãe, dorido lamento que ela ouviu várias vezes em sua infância.
Dorido e explicável: a mãe era uma mulher submissa, maltratada
pelo marido e completamente anulada por este. Muito cedo, portanto,
ela decidiu: não só manteria o sobrenome de solteira como só casaria
com um homem que adotasse esse sobrenome.
Logo as oportunidades começaram a aparecer. Bonita, inteligente, ela
atraía a atenção dos rapazes. Namorados não lhe faltavam, nem
propostas matrimoniais, de modo que podia dar-se ao luxo de
escolher.
O primeiro pretendente sério foi o Marcelo. Rapaz trabalhador,
esforçado, tinha um bom futuro como executivo numa grande
empresa. E queria casar. Ela disse que aceitava a proposta, mas com
aquela condição, Marcelo teria de adotar o sobrenome dela. Coisa
que o rapaz rejeitou, indignado. Marido adotar o sobrenome da
noiva? Completa inversão de valores? De jeito nenhum. Romperam
ali mesmo.
O segundo foi o Bruno, não tão sério quanto Marcelo, mas mais
inteligente, brilhante, até. Namoraram algum tempo, ele propôs
casamento. Quando ouviu a exigência dela, vacilou; não lhe
agradava, aquilo, mas fez uma contraproposta: casariam e cada
um conservaria seu sobrenome. Nada feito, retrucou ela.
O terceiro foi Arlindo. Não tão inteligente quanto o Bruno, mas
muito mais afetivo. Desta vez foi ela quem levantou o assunto:
quando a gente casar, disse, eu quero que você adote meu
sobrenome. Ele olhou-a, espantado: a verdade é que nunca
cogitara isso. Viver juntos, tudo bem; casamento, nem pensar.
Ela mandou-o embora, indignada.
Agora, faz tempo que está sozinha. Mas tem observado com
interesse um colega de escritório. Homem trabalhador,
esforçado, inteligente (brilhante, até) afetivo. Marido ideal.
Problema: ele e ela têm o mesmo sobrenome, Silveira. Se
casarem, esse Silveira será o sobrenome dela ou o dele? Se for
este o caso, ela não quer nem saber.
(Moacyr Scliar)
PNEU FURADO (Luís Fernando Veríssimo)
O carro estava encostado no meio-fio, com um pneu furado. De pé, ao lado do
carro, olhando desconsoladamente para o pneu, uma moça muito bonitinha.
Tão bonitinha que atrás parou outro carro e dele desceu um homem dizendo:
“Pode deixar”. Ele trocaria o pneu.
- Você tem macaco? – perguntou o homem.
- Não – respondeu a moça.
- Tudo bem, eu tenho – disse o homem. – Você tem estepe?
- Não – disse a moça.
- Vamos usar o meu – disse o homem.
E pôs-se a trabalhar, trocando o pneu, sob o olhar da moça. Terminou no
momento em que chegava o ônibus que a moça estava esperando. Ele ficou
ali, suando, de boca aberta, vendo o ônibus se afastar. Dali a pouco chegou o
dono do carro.
- Puxa, você trocou o pneu pra mim. Muito obrigado.
- É. Eu … Eu não posso ver pneu furado. Tenho que trocar.
- Coisa estranha.
- É uma compulsão. Sei lá.
A BOLA
Luis Fernando Veríssimo
O pai deu uma bola de presente ao filho. Lembrando o prazer que sentira ao ganhar
a sua primeira bola do pai. Uma número 5 sem tento oficial de couro. Agora não era
mais de couro, era de plástico. Mas era uma bola.
O garoto agradeceu, desembrulhou a bola e disse "Legal!". Ou o que os garotos
dizem hoje em dia quando gostam do presente ou não querem magoar o velho.
Depois começou a girar a bola, à procura de alguma coisa.
- Como é que liga? - perguntou.
- Como, como é que liga? Não se liga.
O garoto procurou dentro do papel de embrulho. - Não tem manual de instrução?
O pai começou a desanimar e a pensar que os tempos são outros. Que os tempos
são decididamente outros.
- Não precisa manual de instrução.
- O que é que ela faz?
- Ela não faz nada. Você é que faz coisas com ela.
-O quê?
- Controla, chuta ...
- Ah, então é uma bola.
- Claro que é uma bola.
- Uma bola, bola. Uma bola mesmo.
- Você pensou que fosse o quê?
-Nada, não.
O garoto agradeceu, disse "Legal" de novo, e dali a pouco o pai o
encontrou na frente da tevê, com a bola nova do lado, manejando os
controles de um videogame. Algo chamado Monster Ball, em que times de
monstrinhos disputavam a posse de uma bola em forma de chip eletrônico
na tela ao mesmo tempo que tentavam se destruir mutuamente. O garoto
era bom no jogo. Tinha coordenação e raciocínio rápido. Estava ganhando
da máquina.
O pai pegou a bola nova e ensaiou algumas embaixadas. Conseguiu
equilibrar a bola no peito do pé, como antigamente, e chamou o garoto.
- Filho, olha.
O garoto disse "Legal" mas não desviou os olhos da tela. O pai segurou a
bola com as mãos e a cheirou, tentando recapturar mentalmente o cheiro
de couro. A bola cheirava a nada. Talvez um manual de instrução fosse
uma boa idéia, pensou. Mas em inglês, para a garotada se interessar.
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