Redação
Foco na Unicamp
Escreve bem quem lê muito e escreve
melhor quem lê e escreve muito.
Assim como o esporte, a leitura e a
escrita devem ser exercitados. Quanto
antes você começar, mais rápido
atingirá o seu objetivo!
Relembrando a correção
Propósito – 0 ou 1 ponto
Interlocução – 0 ou 1 ponto
Gênero – 0 ou 1 ponto
Holística – de 0 a 5 pontos
Atenção à leitura
Coloque-se na posição de um articulista que, ao fazer uma
pesquisa sobre as recentes catástrofes ocorridas em função
das chuvas que afetaram o Brasil a partir do final de 2009,
encontra a crônica de Drummond, publicada em 1966, e
decide dialogar com ela em um artigo jornalístico opinativo
para uma série especial sobre cidades, publicada em revista de
grande circulação. Nesse artigo você, necessariamente, deverá:
a) relacionar três (3) problemas enfrentados recentemente
pelas cidades brasileiras em função das chuvas com aqueles
trabalhados na crônica;
b) mostrar em que medida concorda com a visão do cronista
sobre a questão.
O que é um artigo jornalístico opinativo
– ou artigo de opinião?
O artigo de opinião é um gênero jornalístico que se
caracteriza por expressar opiniões de seus autores, ao
contrário das notícias, que devem ser isentas do julgamento
daqueles que as escrevem.
Como o nome diz, é um gênero produzido na área jornalística
para ser publicado em jornais e revistas impressos ou virtuais.
Quando são publicados em jornais, os artigos costumam
ocupar espaços pré-determinados, em seções ou colunas
destinadas à veiculação de opiniões. Diferentemente das
notícias e reportagens, os artigos de opinião não são
ilustrados por imagens. Essa forma de apresentação reforça o
caráter de seriedade do gênero, que já é dada por seus
autores serem especialistas nos assuntos que discutem.
Seus autores (os articulistas) representam grupos
sociais reconhecidos por sua atuação, como
empresários,
partidos
políticos,
áreas
profissionais, sindicatos, associações de defesa do
ambiente etc. O articulista, diante de fatos que
afetam o segmento social a que pertence e que
provocam divergências com os demais grupos
sociais, escolhe uma posição a favor ou contra
possíveis encaminhamentos que esse fato possa
ter para, fundamentado nela, escrever seu texto.
Como assim?
Vamos tomar como exemplo um fato que gera polêmicas
atualmente: a existência do trabalho infantil.
Para uma parte da sociedade, o trabalho infantil é um crime;
para outra, um passo natural no crescimento do indivíduo;
para outra, ainda, considerá-lo um crime ou não depende do
tipo de trabalho infantil que é realizado: se forem tarefas que
exploram a criança e a impedem de estudar e brincar, é
crime; se forem tarefas que exigem tempo curto e preparam
a criança para futuras responsabilidades sociais e, além disso,
contribuem para que a cultura de um grupo social seja
aprendida, não é crime, é um princípio educativo.
São as diversas questões que surgem diante dos fatos que
possibilitam ao articulista escolher um ponto de vista, uma
posição e a defendê-la com argumentos que possam
convencer o leitor de que seu ângulo de visão é o correto.
Argumentos
O movimento de persuadir o leitor é feito por meio
da construção e colocação articulada de
argumentos no artigo, a partir, em geral, da
descrição do fato e da polêmica constituída sobre
ele e que o articulista quer discutir. Ele usará
diferentes tipos de argumentos, por exemplo:
de autoridade, citando falas de pessoas conhecidas
por dominarem a questão; de causa e
consequência; de provas, referindo-se a estatísticas
e outros dados de estudos sobre o problema;
de princípio, quando se tratar de causa que envolva
ética e moral.
Por fim...
A tomada de posição (que não pode acontecer em
outros gêneros jornalísticos como a notícia ou a
reportagem) é indicada no artigo, entre outras
coisas, por marcas linguísticas que anunciam a
posição do articulista: “penso que”, “do nosso
ponto de vista”; introduzem os argumentos:
“porque”, “pois”; trazem para o texto diferentes
vozes: “alguns dizem que”, “as pesquisas
apontam”, “os economistas argumentam que”,
introduzem a conclusão: “portanto”, “logo”.
Exemplo
Trabalho infantil no Brasil
Cerca de 4 milhões de crianças, entre 5 e 16 anos, trabalham no Brasil, o
que o coloca entre os países com os maiores índices de trabalho infantil.
Uma nação responsável deve garantir que a criança tenha oportunidade de
estudar, brincar, ou seja, desfrutar desde a infância os seus direitos como
ser humano.
Dados do IBGE revelam que o trabalho infantil se manifesta de muitas
maneiras, como crianças trabalhando em lixões; como catadores de papel;
em serviços de carvoarias e olarias; crianças sendo exploradas
sexualmente, etc.
Devemos ressaltar também que, pensando em benefício próprio, muitos
pais são coniventes com essa exploração, e, pior ainda, muitos acreditam
que é melhor para a criança que comece a trabalhar mais cedo, pois assim
"livra-se de ser bandido".
No Brasil, além do trabalho das ONG's, e outras organizações da sociedade civil
organizada, o combate à exploração infantil deve acontecer com políticas
governamentais eficazes. Onde está a fiscalização sobre esses exploradores de
menores? Qual tem sido a sua punição?
Precisamos avançar nesta questão porque os discursos, as palestras e as
conferências em que a teoria parece perfeita, carecem, de forma
imprescindível, da efetiva prática.
Leia esse parágrafo abaixo relatando a posição dos exploradores desses
menores (parágrafo extraído do site: www.adital.com.br)
[...] Como motivos para a exploração dos "menores", o Unicef destaca a
preferência dos empregadores pelas crianças, porque são obedientes e
"saem baratas", são submetidas a condições de trabalho que os adultos
considerariam inaceitáveis, sem opor resistência; têm "dedos ágeis", e
prestam mais atenção aos detalhes”.[...]
É fundamental que toda a sociedade brasileira se mobilize em prol dessas
crianças, quer seja através de protestos e denúncias, quer seja através da
solidariedade. Essa luta é nossa! Pode e deve ser vencida!
Michelle Marques de Mello
Voltemos à proposta!
Os dias escuros
Carlos Drummond de Andrade
Amanheceu um dia sem luz – mais um – e há um grande silêncio na rua. Chego
à janela e não vejo as figuras habituais dos primeiros trabalhadores. A cidade,
ensopada de chuva, parece que desistiu de viver. Só a chuva mantém
constante seu movimento entre monótono e nervoso. É hora de escrever, e
não sinto a menor vontade de fazê-lo. Não que falte assunto. O assunto aí está,
molhando, ensopando os morros, as casas, as pistas, as pessoas, a alma de
todos nós. Barracos que se desmancham como armações de baralho e, por
baixo de seus restos, mortos, mortos, mortos. Sobreviventes mariscando na
lama, à pesquisa de mortos e de pobres objetos amassados. Depósito de gente
no chão das escolas, e toda essa gente precisando de colchão, roupa de corpo,
comida, medicamento. O calhau solto que fez parar a adutora. Ruas que
deixam de ser ruas, porque não dão mais passagem. Carros submersos, aviões
e ônibus interestaduais paralisados, corrida a mercearias e supermercados
como em dia de revolução. O desabamento que acaba de acontecer e os
desabamentos programados para daqui a poucos instantes.
Este, o Rio que tenho diante dos olhos, e, se não saio à
rua, nem por isso a imagem é menos ostensiva, pois a
televisão traz para dentro de casa a variada pungência de
seus horrores.
Sim, é admirável o esforço de todo mundo para enfrentar
a calamidade e socorrer as vítimas, esforço que chega a
ser perturbador pelo excesso de devotamento
desprovido de técnica. Mas se não fosse essa mobilização
espontânea do povo, determinada pelo sentimento
humano, à revelia do governo incitando-o à ação, que
seria desta cidade, tão rica de galas e bens supérfluos, e
tão miserável em sua infraestrutura de submoradia, de
subalimentação e de condições primitivas de trabalho?
Mobilização que de certo modo supre o eterno
despreparo, a clássica desarrumação das agências
oficiais, fazendo surgir de improviso, entre a dor, o
espanto e a surpresa, uma corrente de afeto solidário,
participante, que procura abarcar todos os flagelados.
Chuva e remorso juntam-se nestas horas de pesadelo, a chuva
matando e destruindo por um lado, e, por outro, denunciando
velhos erros sociais e omissões urbanísticas; e remorso, por que
escondê-lo? Pois deve existir um sentimento geral de culpa
diante de cidade tão desprotegida de armadura assistencial, tão
vazia de meios de defesa da existência humana, que temos o
dever de implantar e entretanto não implantamos, enquanto a
chuva cai e o bueiro entope e o rio enche e o barraco desaba e a
morte se instala, abatendo-se de preferência sobre a mão de
obra que dorme nos morros sob a ameaça contínua da natureza;
a mão de obra de hoje, esses trabalhadores entregues a si
mesmos, e suas crianças que nem tiveram tempo de crescer
para cumprimento de um destino anônimo.
No dia escuro, de más notícias esvoaçando, com a esperança de
milhões de seres posta num raio de sol que teima em não
romper, não há alegria para a crônica, nem lhe resta outro
sentido senão o triste registro da fragilidade imensa da rica,
poderosa e martirizada cidade do Rio de Janeiro.
Correio da Manhã, 14/01/1966.
Relendo a proposta
Coloque-se na posição de um articulista que, ao fazer uma
pesquisa sobre as recentes catástrofes ocorridas em função
das chuvas que afetaram o Brasil a partir do final de 2009,
encontra a crônica de Drummond, publicada em 1966, e
decide dialogar com ela em um artigo jornalístico opinativo
para uma série especial sobre cidades, publicada em revista de
grande circulação. Nesse artigo você, necessariamente, deverá:
a) relacionar três (3) problemas enfrentados recentemente
pelas cidades brasileiras em função das chuvas com aqueles
trabalhados na crônica;
b) mostrar em que medida concorda com a visão do cronista
sobre a questão.
Exemplo acima da média desta redação
No fim de 2009, diversas cidades brasileiras enfrentaram
problemas devido às fortes e frequentes chuvas. Para muitas
famílias, foi um período de “dias escuros”, tal como o nome da
crônica de Drummond. Na mesma, o cronista relata a perda de
muitas famílias devido a desabamentos de casas e tantos mortos
soterrados.
Lendo tal texto, não é difícil recordar dos acontecimentos recentes
de Angra dos Reis, a imagem de barracos e pousadas vindo à baixo
repetiu-se inúmeras vezes nos telejornais. Drummond escreve de
uma cidade “ensopada de chuva” e rios enchendo que poderia
muito bem ter acontecido no ano passado, quando, por exemplo,
cidades históricas do interior paulista foram destruídas pela
enchente, e não há mais de 40 anos.
Há ainda o despreparo do governo para ajudar tantos
desabrigados. Um fato atual ou ainda estamos falando
da crônica? Não há como separar. Mesmo anos atrás, o
escritor nos apontou problemas de nossa sociedade
que acabaram acarretando desgraças. Ele nos falou dos
problemas de estruturas e submoradias, falta de
condições sanitárias e todas as outras críticas que
ouvimos especialistas relatarem há poucos meses como
causa dos recentes desastres.
Nada foi feito naquela época e os problemas
persistiram até os dias de hoje, “o eterno despreparo”.
E enquanto nenhuma medida é tomada afim de não se
repetir as mesmas desgraças, ficamos como
Drummond, tomados pelo remorso e sentimento de
culpa por não ter sido feito nada para impedir algo que
já era previsto.
Exemplo abaixo da média desta redação
Todos dizem que o Brasil é um bom país para se morar, pois não temos
que enfrentar grandes catástrofes naturais como a ação de vulcões e
terremotos. Porém a falta de planejamento na construção civil e a
ocupação ilegal (principalmente nas encostas dos morros) fazem com
que a chuva se torne algo preocupante.
Basta a água começar a cair que logo nos preocupamos com possíveis
desastres como enchentes, moradias que desabam por falta de
estrutura e a terra que desliza dos barrancos de encostas de morros,
colocando a vida de pessoas em perigo, em razão da ocupação ilegal.
Isso tudo sem contar o trânsito que se torna um verdadeiro caos.
A crônica define bem o drama das pessoas e colocou muito bem o fato
do Governo estar despreparado para tais acontecimentos. Além disso,
pode-se notar também a falta de consideração das autoridades, que
parecem fechar os olhos para esses problemas.
A crônica destacou também as pessoas que tentam ajudar (mesmo sem
preparo) e como o povo brasileiro se mostra corajoso e solidário nessas
horas. Porém as vezes as mídias exaltam demais a bravura do povo (o
Exemplo de redação anulada
São Paulo, 21 de novembro de 2010
Cara edição da revista sobre série especial sobre cidades,
Venho por meio desta alertar que há quarenta e quatro anos atrás foi
deixado por Carlos Drummond de Andrade a podridão pública de
enganar seus semelhantes e abandona-los. A população carente
sofrendo primitivas condições de trabalho, subalimentação, a falta de
saneamento básico (doenças) e falta de
infraestrutura, são fatores que ainda são presentes nos dias de hoje, nas
grandes cidades (imagina nas pequenas), somadas aos terríveis dias de
chuva.
Porém, hoje se adiciona promessas feitas por governantes, com muita
persuasão, dos assoreamentos dos rios, políticos ambientalistas,
construções de casas populares, que retomam ao mesmo discurso de
quarenta e quatro anos atrás.
Portanto, devido a sua grande circulação, aproveito para esse divulgação
e conscientização da população para exigirem seus direitos.
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