CAMINHOS SERTANEJOS
As ricas áreas açucareiras de Bahia e
Pernambuco, bem como a região aurífera das
Minas Gerais, eram os grandes mercados
consumidores da carne bovina. O movimento das
boiadas em direção a estas localidades, se fazia
através de precários caminhos sertão afora,
surgidos e ampliados conforme a necessidade,
as chamadas “Estradas Sertanejas”.
As boiadas, de 100 a 300 cabeças geralmente,
eram guiadas pelos tangerinos (trabalhadores
brancos, livres, , índios a serviço dos
latifundiários, negros escravos), que sob o sol
escaldante e aos gritos e cantos conduziam as
reses a pé, enfrentando a caatinga, longas
viagens, ataques indígenas, fora os atoleiros
quase intransponíveis de invernos pesados.
Os tangerinos eram exímios conhecedores da
região e viajavam sempre armados por conta da
rotina de assaltos.
Nas longas jornadas, muitos animais morriam no
percurso ou emagreciam demais, num desgaste
tal que os rebanhos acabavam vendidos por
preços aviltantes nas vilas de destino.
Aquelas “estradas” que cortavam o Ceará eram
verdadeiras rotas comerciais, pelas quais
durante séculos se deu o escoamento da
produção regional e entravam as mercadorias
que iam abastecer os sertões.
Entre estes caminhos, destacava-se a Estrada
Geral do Jaguaribe, a mais importante via de
comunicação local, cortando a capitania de norte
a sul (partia da região do Aracati, seguia o rio
Jaguaribe, passava por Russas e Icó, chegando
ao Cariri e depois ao médio São Francisco).
Havia também a Estrada das Boiadas, depois
denominada Caminho dos Inhamuns, que
interligava o Piauí e a região central cearense
com os mercados consumidores de Pernambuco
e Parnaíba.
Existia ainda a estrada da Caiçara, que saindo do
norte cearense (Sobral e Acaraú) e atingindo a
Estrada das Boiadas, ligava-se ao litoral
açucareiro pernambucano.
A estrada nova das boiadas ligava o Rio Grande do
Norte, Paraíba, Ceará e Pernambuco.
Nos locais de pouso dos tangerinos aos poucos
surgiram sítios e povoados que deram origem a
cidades atuais:
 Icó (Encontro da Estrada Geral do Jaguaribe e a
estrada das Boiadas)
 Sobral (surgida em torno da fazenda Caiçara)
 Quixeramobim (Onde se encontravam a Estrada
da Caiçara e a estrada Nova das Boiadas).
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CHARQUEADAS
A produção de carne excedia às necessidades do
mercado local. Assim sendo, não era justificável
para a acanhada economia do Ceará que
centenas de reses fossem mortas apenas para
aproveitamento do couro. Além do mais, havia
necessidade de carne, tanto nos engenhos da
zona da mata, como nas demais concentrações
populacionais.
Porém, a venda do gado para outras capitanias
não era tão lucrativa como se imaginava. Mortes,
animais selvagens, assaltos, altos impostos
cobrados quando o gado deixava a capitania,
longas caminhadas, eram alguns dos problemas
enfrentados.
Por tais razões, a partir da segunda década do
séc.XVIII, os fazendeiros do litoral passaram a
vender sua matéria-prima já industrialmente
preparada, reduzida a carne a mantas
conservadas pelo sal e capazes de resistir, sem
deterioração, a longas viagens.
Surgiram assim as
fábricas
de
beneficiamento de
carne, chamadas
charqueadas,
oficinas de carne
ou oficinas de
charque
As oficinas se localizavam, principalmente, no
estuário dos grandes rios. Era vendido em
especial para Pernambuco, Bahia, Minas Gerais
e Rio de Janeiro.
O charque, além de seu papel dentro da colônia,
apresentou destaque no tráfico de escravos para
o Brasil, pois era usado na alimentação dos
negros, quando estes eram “preparados” para
virem para o Brasil.
Esta também era uma razão pela qual a
aristocracia pernambucana se interessava pelo
comércio do charque.
FATORES QUE FACILITAVAM O FABRICO DO CHARQUE
NO LITORAL:
Ventos constantes e a baixa umidade do ar que
favoreciam a secagem da carne;
 Possibilidade de conduzir a mercadoria por via
marítima;

DESTACAM-SE COMO CENTROS CHARQUEADORES
Aracati (foz do rio Jaguaribe)
 Acaraú e Sobral (rio Acaraú)
 Granja e Camocim (rio Coreaú)
Posteriormente:
 Piauí (rio Parnaíba)
 Rio Grande do Norte (Açu e Mossoró)

O charque possibilitou um crescimento do
mercado interno, igualmente uma diversificação
da produção, pois afora a carne, poderiam ser
comercializados couros e peles, que até a época
da salga inexistiam como mercadoria.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS
Farias, Airton de – História do Ceará / Airton de
Farias. Fortaleza: Edições Livro Técnico 2009. –
5ª edição
GIRÃO, Valdelice Carneiro. Oficinas ou
Charqueadas no Ceará, Fortaleza: Secretaria de
Cultura
e
Desporto.
1984
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