Pensamento Crítico, Prática 2
Argumentação
Estrutura de um Argumento
Estrutura de um Argumento
Conclusão
Estrutura de um Argumento
Razões
Conclusão
Estrutura de um Argumento
Razões
Inferência
Conclusão
Análise de um Argumento
Identificar Conclusões principais
Identificar Razões e Pressupostos
Esclarecer termos
Avaliação de um Argumento
As Razões são aceitáveis?
As Razões apoiam as conclusões?
(As inferências são aceitáveis?)
Qual a avaliação geral quanto à
estrutura, fundamento, pressupostos e
inferências?
Exemplo:
“Bento XVI contra o Irão”
Anselmo Borges
Padre e professor de Filosofia
(Diário de Notícias, 24-9-06)
Bento XVI contra o Irão (1)
Tudo aconteceu no contexto de uma
Vorlesung (lição universitária) e,
mesmo admitindo que Bento XVI tenha
sido talvez imprudente ao apresentar,
no desenvolvimento da sua tese, a já
famosa citação e que poderia fazer
também uma referência à violência dos
cristãos ao longo da História, deve-se
reconhecer que não há razões
objectivas para a indignação e os
protestos do mundo islâmico.
Bento XVI contra o Irão (1)
Tudo aconteceu no contexto de uma
Vorlesung (lição universitária) e,
mesmo admitindo que Bento XVI tenha
sido talvez imprudente ao apresentar,
no desenvolvimento da sua tese, a já
famosa citação e que poderia fazer
também uma referência à violência dos
cristãos ao longo da História, deve-se
reconhecer que não há razões
objectivas para a indignação e os ?
protestos do mundo islâmico.
Bento XVI contra o Irão (2)
Como se sabe, nas universidades
públicas alemãs, há duas faculdades
de Teologia: uma católica e outra
protestante. Ora, se a fé nada tivesse a
ver com a razão, com que direito se
justificaria a presença da Teologia na
universidade? Daí o tema da lição do
professor Joseph Ratzinger na
Universidade de Regensburg: "Fé,
razão e universidade."
Bento XVI contra o Irão (2)
Como se sabe, nas universidades
públicas alemãs, há duas faculdades
de Teologia: uma católica e outra
protestante. Ora, se a fé nada tivesse a
ver com a razão, com que direito se
justificaria a presença da Teologia na
universidade? Daí o tema da lição do
professor Joseph Ratzinger na
Universidade de Regensburg: "Fé,
razão e universidade."
Bento XVI contra o Irão (2)
se a fé nada tivesse a ver com a razão,
com que direito se justificaria a
presença da Teologia na universidade?
Pergunta retórica...
Equivale a:
Se a teologia se justifica na universidade,
a fé tem a ver com a razão.
Bento XVI contra o Irão (2)
Daí o tema da lição do professor Joseph
Ratzinger na Universidade de
Regensburg: "Fé, razão e
universidade.“
“Daí”?
Bento XVI contra o Irão (2)
Daí o tema da lição do professor Joseph
Ratzinger na Universidade de
Regensburg: "Fé, razão e
universidade.“
“Daí”?
De “a fé tem a ver com a razão”
Bento XVI contra o Irão (2)
Se a teologia se justifica na universidade,
a fé tem a ver com a razão.
e
nas universidades públicas alemãs há
Teologia
Inferência aceitável?
Bento XVI contra o Irão (2)
Se a teologia se justifica na universidade,
a fé tem a ver com a razão.
e
nas universidades públicas alemãs há
Teologia
Inferência aceitável? Não (pode haver
sem se justificar)
Bento XVI contra o Irão (2)
Se a teologia se justifica na universidade,
a fé tem a ver com a razão.
e
nas universidades públicas alemãs há
Teologia
Pressuposto: o que se dá na
universidade justifica-se
Bento XVI contra o Irão (2)
Se a teologia se justifica na universidade,
a fé tem a ver com a razão.
e
nas universidades públicas alemãs há
Teologia
e
o que se dá na universidade justifica-se
Inferência OK. Mas razões aceitáveis?
Bento XVI contra o Irão (2)
Daí o tema da lição do professor Joseph
Ratzinger na Universidade de
Regensburg: "Fé, razão e
universidade.“
Bento XVI contra o Irão (2)
Daí o tema da lição do professor Joseph
Ratzinger na Universidade de
Regensburg: "Fé, razão e
universidade.“
Será que é por ter a ver com a razão?
Podemos aceitar que sim, mas o
problema encontra-se mais atrás...
Bento XVI contra o Irão (3)
O conceito moderno de razão baseia-se na
síntese entre platonismo (cartesianismo) e
empirismo. Só as ciências naturais poderão
reivindicar certeza, pois detêm o monopólio
da cientificidade, que deriva da sinergia de
matemática e experiência. Assim, não admira
que as ciências humanas tenham procurado
aproximar-se deste critério. Por outro lado,
este método exclui o problema de Deus,
"fazendo-o aparecer como problema acientífico ou pré- -científico".
Bento XVI contra o Irão (3)
Resumindo:
Ciências humanas querem certeza
Por isso excluem o problema de Deus
Bento XVI contra o Irão (3)
Resumindo:
Ciências humanas querem certeza
Por isso excluem o problema de Deus
(é preciso excluir deuses para ter
certeza, ou é excluído por falta de
evidências?)
Bento XVI contra o Irão (4)
Torna-se, porém, claro que, nesta
concepção, o próprio homem sofre
uma redução, já que as perguntas
radicais sobre o fundamento e fim
últimos e as questões da religião e da
ética não encontrariam lugar no espaço
da razão universal, devendo ser
deslocadas para o âmbito da mera
subjectividade.
Bento XVI contra o Irão (4)
Torna-se, porém, claro que, nesta
concepção, o próprio homem sofre
uma redução, já que as perguntas
radicais sobre o fundamento e fim
últimos e as questões da religião e da
ética não encontrariam lugar no espaço
da razão universal, devendo ser
deslocadas para o âmbito da mera
subjectividade.
Bento XVI contra o Irão (4)
Torna-se, porém, claro que, nesta
concepção, o próprio homem sofre
uma redução, já que as perguntas
radicais sobre o fundamento e fim
últimos e as questões da religião e da
ética não encontrariam lugar no espaço
da razão universal, devendo ser
deslocadas para o âmbito da mera
subjectividade.
Bento XVI contra o Irão (4)
Torna-se, porém, claro que, nesta
concepção, o próprio homem sofre
uma redução, já que
as perguntas sobre o fundamento e fim
últimos não têm lugar no espaço da
razão
devem ser deslocadas para o âmbito da
mera subjectividade.
Bento XVI contra o Irão (4)
A ciência exclui o problema de Deus
as perguntas sobre o fundamento e fim
últimos não têm lugar no espaço da
razão
devem ser deslocadas para o âmbito da
mera subjectividade.
o próprio homem sofre uma redução
Bento XVI contra o Irão (4)
A ciência exclui o problema de Deus
as perguntas sobre o fundamento e fim
últimos não têm lugar no espaço da
razão (Precisam de Deus?)
devem ser deslocadas para o âmbito da
mera subjectividade.
o próprio homem sofre uma redução
(havia algo mais?)
Bento XVI contra o Irão (5)
Não se pode voltar atrás em relação ao
iluminismo. Mas impõe-se superar a
limitação da ciência ao que é verificável
na experimentação e abrir a razão à
amplidão de todas as suas dimensões,
isto é, não se pode ficar encerrado na
razão positivista.
Bento XVI contra o Irão (5)
Resumindo:
Mas impõe-se superar a limitação da
ciência ao que é verificável
Mas como? Se não é verificável, como
saber que é verdade?
Bento XVI contra o Irão (6)
A própria razão, feito todo o seu
percurso, mostra a sua abertura à
transcendência. Há a estrutura racional
da matéria e a correspondência entre o
nosso espírito e essa estrutura. Isso é
um facto, mas a pergunta sobre o
porquê desse "dado de facto" já não é
do domínio das ciências naturais, mas
da filosofia e da teologia.
Bento XVI contra o Irão (6)
Resumindo:
A correspondência entre o nosso
espírito e a estrutura da matéria não é
do domínio das ciências naturais, mas
da filosofia e da teologia.
Porquê?
Bento XVI contra o Irão (5-6)
Os parágrafos 5 e 6 parecem ser apenas
afirmações, e não um argumento.
Bento XVI contra o Irão (7)
Ao contrário do que, dentro do
cristianismo, pensou o nominalismo e,
no quadro do islão, Ibn Hazn, que
defenderam um Deus arbitrário, não
vinculado à verdade e ao bem, a Bíblia,
nomeadamente o Evangelho de São
João, refere-se a Deus como Logos:
"No princípio, era o Logos" (Razão,
Palavra). Por isso, criou um mundo que
é inteligível racionalmente.
Bento XVI contra o Irão (7)
Ao contrário do que, dentro do
cristianismo, pensou o nominalismo e,
no quadro do islão, Ibn Hazn, que
defenderam um Deus arbitrário, não
vinculado à verdade e ao bem, a Bíblia,
nomeadamente o Evangelho de São
João, refere-se a Deus como Logos:
"No princípio, era o Logos" (Razão,
Palavra). Por isso, criou um mundo que
é inteligível racionalmente.
Bento XVI contra o Irão (7)
O Evangelho de São João, refere-se a
Deus como Logos.
Por isso, [Deus] criou um mundo que é
inteligível racionalmente.
Explicação ou argumento?
Bento XVI contra o Irão (7)
O Evangelho de São João, refere-se a
Deus como Logos.
Por isso, [Deus] criou um mundo que é
inteligível racionalmente.
Argumento. Aceitável?
Bento XVI contra o Irão (8)
Neste contexto, Ratzinger defendeu a
tese que lhe é particularmente querida:
há uma concordância profunda entre a
fé bíblica e a interrogação filosófica
grega.
Bento XVI contra o Irão (9a)
Só neste enquadramento ganha sentido a
citação, que Ratzinger tinha lido
recentemente na parte editada por Th.
Khoury do diálogo que o douto
imperador bizantino Manuel II
Paleólogo manteve com um persa
culto, em 1391, sobre o cristianismo e o
islão.
Bento XVI contra o Irão (8-9a)
Resumindo:
Só no enquadramento de Deus como
Logos ganha sentido a citação
Questionável?
Relevante?
Bento XVI contra o Irão (9b)
Na sétima controvérsia, o imperador, "de
modo surpreendentemente brusco que
nos espanta", dirige-se ao seu
interlocutor com "a pergunta central"
sobre a relação entre religião e
violência: "Mostra-me o que Maomé
trouxe de novo. Encontrarás só coisas
más e desumanas, como a prescrição
de difundir por meio da espada a fé que
pregava."
Bento XVI contra o Irão (10)
Aqui, o imperador explica a razão por
que é irracional a difusão da fé pela
violência: "A Deus não agrada o
sangue e não agir segundo a razão é
contrário à natureza de Deus."
Argumento?
Bento XVI contra o Irão (10)
A Deus não agrada a violência
e
Não agir segundo a razão é contrário à
natureza de Deus.
Por isso
É irracional a difusão da fé pela violência
Inferência aceitável? Razões aceitáveis?
Bento XVI contra o Irão (10)
A Deus não agrada a violência
e
Não agir segundo a razão é contrário à
natureza de Deus.
Por isso
É irracional a difusão da fé pela violência
O que quer dizer?
Bento XVI contra o Irão (11)
Ratzinger sublinha que "a afirmação
decisiva" contra a associação de
religião e violência é precisamente
esta: "Não agir segundo a razão é
contrário à natureza de Deus e da
alma." Se trouxe à colação este
imperador, foi por causa desta
afirmação que, para ele, como
bizantino crescido na filosofia grega,
era evidente.
Bento XVI contra o Irão (11)
Resumindo:
O imperador afirmou "Não agir segundo
a razão é contrário à natureza de Deus
e da alma.“
e
Esta é a afirmação decisiva contra a
associação entre religião e violência
Por isso
Ratzinger citou o imperador
Bento XVI contra o Irão (12)
Por isso, o papa-professor concluiu: "
'Não agir segundo a razão é contrário à
natureza de Deus', disse Manuel II,
partindo da sua imagem cristã de Deus.
É a este grande Logos, a esta vastidão
da razão, que convidamos os nossos
interlocutores no diálogo das culturas.
Reencontrarmo-la incessantemente
nós mesmos é a grande tarefa da
universidade."
Bento XVI contra o Irão (11-12)
O imperador afirmou "Não agir segundo
a razão é contrário à natureza de Deus
e da alma.“
e
Esta é a afirmação decisiva contra a
associação entre religião e violência
Então
Foi por isso que Ratzinger citou o
imperador, concluindo: " 'Não agir
segundo a razão é contrário à natureza
de Deus”
Bento XVI contra o Irão (13)
Bento XVI não pediu desculpas formais
nem tinha de fazê-lo. Como é natural,
mostrou-se profundamente triste pela
má interpretação da sua lição,
sublinhando que não tinha havido a
mínima intenção de ferir a comunidade
islâmica.
Bento XVI contra o Irão (14)
Infelizmente, de modo geral, o islão ainda
não assumiu conquistas fundamentais
da modernidade, sem as quais não
haverá paz entre as religiões e no
mundo: a distinção entre religião e
política e a leitura histórico-crítica do
Alcorão.
Bento XVI contra o Irão
Conclusões (?)
Não há razões para ser considerado ofensivo,
e não tem que pedir desculpas
Mas: "Mostra-me o que Maomé trouxe de novo.
Encontrarás só coisas más e desumanas,
como a prescrição de difundir por meio da
espada a fé que pregava.“
Mostra irracionalidade da violência ou critica o
islão?
Bento XVI contra o Irão
Conclusões (?)
A ciência tem que rejeitar Deus e por isso
reduz o homem
Bento XVI contra o Irão
Conclusões (?)
É irracional a difusão da fé pela violência
Bento XVI contra o Irão
Conclusões (?)
Ratzinger escolheu o tema porque a
teologia tem a ver com a razão.
Medicina Alternativa
Medicina Alternativa
O que é?
Acupunctura
Ervanária
Homeopatia
Iridologia
Reflexologia
...
Medicina Alternativa
Problemas:
Como regular a prática?
Deve-se deixar a escolha ao paciente?
Deve o Estado comparticipar?
O que é uma medicina alternativa?
Medicina Alternativa
Definição:
«o conjunto de práticas de diagnose e terapia
sem validação científica ou consideradas
inacessíveis ao método científico»
(Wikipedia PT)
O que é inacessível ao método científico?
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