ESTUDO COMPARATIVO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR PLANEJADOR E DO CONSUMISTA: O CASO DE GRAVATAL. Amanda Mendes Leandro Ivone Junges (orientadora) PUIC (Programa Unisul de Iniciação Científica) Ciências Sociais Aplicadas – Economia. Nupem – Núcleo de Pesquisas em Empreendedorismo e Gestão de Micro e Pequenas Empresas Curso de Administração – Tubarão Apoio Financeiro: UNISUL Introdução O estudo sobre o comportamento dos consumidores é relativamente antigo. Nos dias de hoje este estudo vem ganhando continuamente espaço estratégico entre pesquisadores e profissionais. Desta forma, torna-se necessário decifrar o comportamento do consumidor gravatalense, a fim de identificar os diferentes perfis de consumidores residentes na cidade; e demonstrar os fatores que influenciam a forma como a população satisfaz suas necessidades e desejos (gasta seu dinheiro-renda); o gasto das famílias com bens de consumo ou serviços e a fração de sua renda que não é consumida (poupar). Objetivos Objetivo Geral: Analisar através de estudo comparativo o comportamento dos consumidores planejadores e consumistas de Gravatal. Objetivos Específicos: a) compreender os diferentes perfis de consumidores da cidade de Gravatal e seus diferentes padrões de comportamento; b) permitir a empresários, organizações e população em geral conhecer o processo que determina o comportamento de compra dos cidadãos gravatalenses; c) contribuir ainda na identificação das variáveis que mais influenciam no comportamento destes consumidores; e d) obter informações para a formação de políticas de vendas para serem adotadas por empresas no município. Referencial Teórico Mercado O funcionamento de uma economia capitalista ou de mercado, como é o caso da economia brasileira, está baseado em um conjunto de regras, pelas quais se compram e vendem bens e serviços, como também os fatores produtivos (pessoas, recursos naturais, capital, tecnologias, capacidade empresarial). Assim, mercado é toda instituição social na qual bens, serviços e fatores produtivos são trocados livremente. São as instituições onde se adquire bens, serviços e produtos. A teoria da oferta e da procura demonstra como as preferências dos consumidores determinam a procura dos bens, enquanto que os custos das empresas são a base da oferta. Do equilíbrio entre a oferta e a procura resulta o preço e a quantidade a ser negociada de cada bem no mercado. Teoria da demanda/procura: comportamento dos consumidores A relação de demanda descreve o comportamento dos compradores, análise sobre a quantidade que um indivíduo demandará de um bem, em um determinado período de tempo, dependendo de seu preço. A Teoria da demanda deriva da hipótese sobre a escolha do consumidor entre diversos bens que seu orçamento permite adquirir. Teoria da oferta: comportamento dos ofertantes A relação de oferta explica o comportamento dos vendedores, mostrando o quanto estariam dispostos a vender a um determinado preço. Os vendedores têm uma atitude oposta dos compradores em relação a preços altos. Elasticidade da demanda/procura e oferta O conceito de elasticidade é usado para medir a reação das pessoas ou empresas frente a mudanças em variáveis econômicas. Equilíbrio de mercado O equilíbrio de mercado ocorre quando a quantidade que os consumidores desejam comprar, é igual a quantidade que os produtores desejam vender. Existe, assim, uma coincidência de desejos. O preço é o equalizador dos desejos dos consumidores e dos vendedores. Propensão a consumir O consumo corresponde à aquisição ou utilização de bens ou serviços para a satisfação de um interesse pessoal ou de uma necessidade. Todo o consumo envolve a extinção ou depreciação da renda, de modo a atender alguma necessidade; pois o consumidor se desfaz de moeda para a satisfação de interesse particular. Em relação à Teoria Geral do Emprego do Juro e da Moeda, John Maynard Keynes, destaca motivos objetivos e subjetivos que determinam o consumo de uma pessoa/família, além da renda. De acordo com ele, a quantia gasta em consumo depende: do montante da renda; das circunstâncias objetivas que o acompanha; e das necessidades subjetivas, propensões psicológicas e hábitos dos indivíduos, além dos princípios que governam a distribuição de renda entre eles. Podem também ser listados motivos para consumir, como: prazer; imprevidência; generosidade; irreflexão; ostentação e extravagância (KEYNES, 1996). Propensão a poupar Poupar significa “abrir mão” de parte do consumo presente para consumi-lo no futuro. Já que a renda pode ser utilizada para poupar ou gastar, então; a renda que não é gasta em consumo é poupada/guardada. A poupança é a acumulação de capital, de excedente de recursos; significa, por isso, renúncia ao consumo presente, como forma de acumular recursos para um consumo futuro, certo ou incerto. Para este conceito, pode ser escrito a seguinte função: S=Y-C onde: C = consumo; Y = renda; S = poupança. Entre diversos estudiosos, Keynes foi quem descreveu sobre os motivos psicológicos; que correspondem aos motivos subjetivos que levam as pessoas a poupar ao invés de consumir. As pessoas, de forma geral, poupam acumulando riqueza financeira por motivos variados. Esses motivos podem ser imediatistas, como por exemplo, para aquisição de algum bem de consumo ou viagem; ou de longo prazo como a aposentadoria, por exemplo. Em sua obra, A Propensão Marginal a Consumir: II- Os fatores Subjetivos, Keynes coloca, como havendo em geral, oito motivos ou fins importantes de caráter subjetivo que influenciam os indivíduos a poupar: precaução; previdência; cálculo (beneficiar-se do juro e da valorização); melhoria no nível de vida; independência; iniciativa; orgulho e avareza. Abordagens e teorias do comportamento do consumidor Muitas teorias foram desenvolvidas, desde a Grécia Antiga por diversos profissionais buscando explicar porque as pessoas consomem. A seguir, serão abordadas as diferentes teorias clássicas que procuraram descrever o comportamento do consumidor e suas principais características: Abordagens e teorias do comportamento do consumidor Teorias Principais características Para o behaviorismo a aprendizagem é uma resposta aos fatores externos, Teoria Behaviorista existentes no meio ambiente; considerando assim o consumidor como uma "caixa preta". O comportamento do consumidor sofre influências de fatores cognitivos como percepção, motivação, aprendizagem, memória, atitudes, valores e Teoria Cognitivista personalidade; de fatores socioculturais como influência de grupo, família, cultura e classe social; e ainda dos fatores situacionais como influência localizada no meio ambiente por ocasião da compra. O comportamento humano é determinado por motivos conscientes e desejos Teoria Psicanalística do inconsciente; assim os indivíduos atribuem seus desejos, expectativas, / Freudiana angústias e conflitos nos produtos. O ser humano não reage apenas aos estímulos e circunstâncias que o Teoria Humanista envolvem; mas reage as suas necessidades. Quadro 1 – Abordagens e teorias do comportamento do consumidor. Fonte: Elaboração da autora a partir de pesquisa bibliográfica, 2010. Figura 1 - A visão behaviorista percebe o consumidor como uma “caixa preta”. Fonte: SAMARA; MORSCH, 2005, p.108. Figura 2 - Teoria Cognitiva X Teoria Psicanalítica. Fonte: Adaptação SAMARA; MORSCH, 2005, p.134. O processo de decisão de compra do consumidor A partir de vários estudos já realizados e de nossas próprias experiências como consumidores; pode-se afirmar que o ato de consumir implica em escolher entre as diversas alternativas apresentadas pelo mercado. No entanto, o ato de escolha significa abandonar algumas alternativas; e segundo diversos estudiosos o Processo de Decisão do Consumidor, ou modelo PDC como também é chamado, abrange um processo seqüencial de estágios, que serão apresentados a seguir: PDC - Processo de decisão de compra do consumidor Estágios Principais características 1º Estágio: Ocorre quando o indivíduo percebe o seu estado real, ou atual e compara reconhecimento da com o que acredita ser ideal, com o que ele deseja ou almeja para si; necessidade motivando-o para compra. Coleta de informações, onde os consumidores iniciam o processo de busca para obter informações sobre os produtos ou serviços que possam satisfazer 2º Estágio: busca de informações suas necessidades não atendidas. As fontes para obter informações podem ser de busca interna ou externa. O consumidor avalia as alternativas e informações obtidas no processo de 3º Estágio: avaliação busca; comparando e identificando as opções possíveis capazes de resolver a das alternativas situação/problema. O ato de compra, onde é executado todo o processo pelo qual passou o consumidor para chegar a uma determinada decisão. Neste estágio o 4º Estágio: decisão de consumidor faz uma escolha entre as diversas marcas, serviços, lojas (ou compra outras fontes), formas de pagamento e a empresa que oferece maiores facilidades de compra. O consumidor então utiliza o produto ou serviço que tende a solucionar o seu problema ou necessidade, que originou todo o processo de decisão de 5º Estágio: consumo compra. 6º Estágio: avalição pós- É verificado o quanto o produto ou serviço adquirido satisfez a necessidade consumo ou realizou a expectativa do consumidor. 7º Estágio: descarte São os fins que os consumidores darão aos produtos após seu total consumo. Quadro 2 – PDC - Processo de decisão de compra do consumidor. Fonte: Adaptação Blackwell; Miniard; Engel, 2005, p.74-86. Modelo VALS 2 O modelo VALS 2 (Values and Lifestyles System – Sistema de Valores e Estilo de Vida), formulado em 1989 por Arnold Mitchell, do Instituto de Pesquisa de Stanford (SRI); surgiu como resultado da atualização primeiro sistema VALS. “O pressuposto dessa metodologia é que as pessoas expressam suas personalidades por meio de seus comportamentos. Assim, os consumidores são segmentados com base nos traços de personalidade que afetam os comportamentos de compra e consumo”. (Limeira, 2008, p. 73). O modelo VALS 2 classifica as pessoas em oito grupos diferentes, segundo Blackwell; Miniard; Engel (2005, p.232) e outros autores: atualizados; satisfeitos, realizadores, experimentadores; crentes; lutadores; feitores e esforçados Modelo AIO Abreviação de Atividade (activities), Interesses (interests) e Opiniões (opinions) é o modelo que classifica as pessoas de acordo com as respostas a um longo questionário que separa o indivíduo em diversas dimensões de acordo com as suas atividades, interesses ou opiniões. O Modelo AIO acrescenta, ainda uma série de fatores demográficos à classificação, entre eles: faixa etária, nível escolar, ocupação, local onde mora, tamanho da cidade, tamanho da família, etc. CIDADE DE GRAVATAL O município de Gravatal, localizado no Estado de Santa Catarina, possui uma área de 168.473 km² e está situado na microrregião do Vale do Rio Tubarão. Segundo as estimativas das populações residentes nos municípios brasileiros, com data de referência de 1º de julho de 2009; o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – apresenta a estimativa anual da população de Gravatal de 10.793 habitantes. A economia do município concentra-se em sua maioria no setor de serviços, mais especificamente devido ao porte turístico, segmento hoteleiro da cidade. Resultados Sexo Feminino Faixa etária 45 Masculino 42 18 a 25 a nos 40 34 35 30 35% 25 26 a 30 a nos 28 31 a 36 a nos 22 43 a 50 a nos 15 65% 37 a 42 a nos 18 20 11 10 9 5 51 a 59 a nos a cima de 60 a nos 0 Gráfico 1 – Sexo dos entrevistados. Fonte: Elaboração da autora a partir da pesquisa de campo, 2010. Gráfico 2 – Faixa etária. Fonte: Elaboração da autora a partir da pesquisa de campo, 2010. Ocupação atual Faixa de renda mensal 3% 8% 8% 7% Profissiona l libera l 19% 32% 1% Autônomo Até 1.000 Estuda nte/Bolsista de 1.001 a 2.000 Assa la ria do 5% Dona de ca sa de 2.001 a 3.000 36% 53% Servidor público 26% de 4.001 a 5.000 Aposenta do/Pensionista 2% Gráfico 3 – Ocupação atual. Fonte: Elaboração da autora a partir da pesquisa de campo, 2010. de 3.001 a 4.000 Gráfico 4 – Faixa de renda mensal. . Elaboração da autora a partir da pesquisa de campo, 2010. Fonte: Motivações de compra 11% Ordem de importância na compra 15% 25% Novidade 16% 33% Preço Necessiadade Marca Status Propriedades Bem-estar 7% Embalagem 17% Estilo de vida 51% 25% Gráfico 5 – Motivações de compra. Fonte: Elaboração da autora a partir da pesquisa de campo, 2010. Gráfico 6 – Ordem de importância na compra. Fonte: Elaboração da autora a partir da pesquisa de campo, 2010. Utilização de modalidades de créditos Poupar e aplicar recursos 120 95 104 100 90 80 85 60 60 Sim Não 89 Sim 80 Não 75 40 75 20 70 0 65 Gráfico 7 – Utilização de modalidades de crédito. Fonte: Elaboração da autora a partir da pesquisa de campo, 2010. Gráfico 8 – Poupar e aplicar recursos. Fonte: Elaboração da autora a partir da pesquisa de campo, 2010. Utilização de lista de compras 70 60 Razões de escolha do local de compra 2% 63 2% Sim, obedeço a lista Proximidade de residência ou local de trabalho 53 48 50 40 28% 19% Sim, faço lista de compras; mas nem sempre obedeço 30 Prática de preços e promoções Facilidade de pagamento Qualidade dos produtos 20 Não faço lista de compras 49% 10 Bom atendimento 0 Gráfico 9 – Utilização de lista de compras. Fonte: Elaboração da autora a partir da pesquisa de campo, 2010. Gráfico 10 – Razões de escolha do local de compra. Fonte: Elaboração da autora a partir da pesquisa de campo, 2010. Fontes de informação que motivam a compra 60 Conselho de a migos, colega s e pa rentes 50 Revista s especia liza da s 40 Propa ga nda s Informa ções obtida s no ponto de venda 30 Folhetos promociona is 20 Experiência pa ssa da de consumo sa tisfeito 10 Vitrine 0 Moda Gráfico 11 – Fontes de informação que motivam a comprar. Fonte: Elaboração da autora a partir da pesquisa de campo, 2010. Conclusão Com características de consumidores elásticos, sensíveis a alterações nos preços; por não possuírem o hábito de poupar recursos com visão de futuro, apenas por motivos imediatistas. E, ainda por sofrerem grandes influências dos estímulos de marketing, especialmente campanhas promocionais nos locais de compra e televisão. Os consumidores de Gravatal possuem perfil de consumidores moderados, que reagem normalmente as suas necessidades internas e externas. Estes não costumam se planejar antes de realizarem algumas compras, os que utilizam “lista de compras” nem sempre a obedecem e alguns compram por impulso. Buscam em sua maioria fontes de informação interna, como a experiência passada de consumo satisfeito. As decisões de consumo dos entrevistados são baseadas em suas preferências, em função da necessidade e utilidade, restrições orçamentárias e preço dos produtos. No âmbito familiar, é a esposa quem normalmente assume todos os papéis no processo de decisão de compra, com pouca participação do marido. Os consumidores não consideram importante comprar sem sair de casa, por isso realizam suas compras em lojas; mas destacam ser fundamental o ato de realizar as compras de forma rápida. Muitos entrevistados aceitam novas idéias com facilidade, sendo assim facilmente influenciados sobre suas decisões de compra pelas propagandas e publicidade. Bibliografia BLACKWELL, Roger D.; MINIARD, Paul W.; ENGEL, James F. (Comp.) Comportamento do consumidor. Tradução Eduardo Teixeira Ayrosa. São Paulo: Cengage Learning, 2005. GIGLIO, Ernesto. Comportamento do consumidor e a gerência de marketing. São Paulo: Pioneira, 1996. KARSAKLIAN, Eliane. Comportamento do consumidor. São Paulo: Atlas, 2000. LIMEIRA, Tânia Maria Vidigal. Comportamento do consumidor. São Paulo: Saraiva, 2008. SAMARA, Beatriz Santos; MORSCH, Marco Aurélio. Comportamento do consumidor: conceitos e casos. São Paulo: Prentice Hall, 2005.