ESCOLA
BÍBLICA
(Escola da Fé)
Evangelho
segundo Mateus
1 – Visão geral do Evangelho
O que são os evangelhos?
NÃO são a história da vida de Jesus;
NÃO estão preocupados em contar fatos da
vida humana de Jesus de Nazaré: não dizem
qual o seu aspecto físico, como se vestia, o
que comia, como foi educado...
Os evangelhos têm somente uma intenção:
mostrar que Ele é o Cristo de Deus, o
Messias de Israel que por nós morreu e
ressuscitou, de modo que aquele que
crer no seu nome, receber o Batismo
por parte da Igreja e, fazendo parte da
1 – Visão geral do Evangelho
Comunidade de Jesus (que é a Igreja),
alimentar-se da Eucaristia, tem a vida
eterna em nome de Jesus.
Assim, os evangelhos não são a narração
neutra, imparcial como um documento
histórico, mas são relatos escritos por cristãos
e para cristãos que acreditavam em Jesus e
queriam que as pessoas, lendo esses relatos,
tivessem fé no Senhor. Isto aparece muito
claro no final do Evangelho de João:
1 – Visão geral do Evangelho
“Jesus fez, diante de seus discípulos, muitos outros
sinais ainda, que não se acham escritos neste livro.
Esses, porém, foram escritos para crerdes que
Jesus é o Cristo (= o Messias), o Filho de Deus, e
para que, crendo, tenhais a vida em seu nome”
(Jo 20,30-31).
Portanto é bobagem fazer algumas perguntas
como: o que Jesus fez entre os doze e os
trinta anos? Como era a sua vida de família?
Qual era o seu aspecto físico? Como foi que
Maria conheceu e casou com José?
1 – Visão geral do Evangelho
Os evangelhos nem de longe se preocupam
com isso: eles somente estão interessados em
nos fazer compreender uma coisa:
Cristo morto e ressuscitado é
o Senhor e nele nós temos a
salvação se nele
acreditarmos!
1 – Visão geral do Evangelho
b) Como surgiram os evangelhos?
Hoje temos quatro evangelhos bem
arrumadinhos na nossa Bíblia. Mas o seu
nascimento não foi simples nem fácil. Jesus
morreu e ressuscitou no ano 30(33) da nossa
era; pois bem, ele não mandou escrever nada:
“Ide por todo o mundo e proclamai o
Evangelho a toda a criatura. Aquele que
crer e for batizado será salvo”
(Mc 16,15-16).
1 – Visão geral do Evangelho
Então, a Igreja nascente proclamou o
Evangelho, batizou, celebrou a Eucaristia
(chamada no Novo Testamento de “fração do
pão”)... e tudo isso sem existir ainda o Novo
Testamento. A Igreja de Cristo, a Igreja
católica, vem antes da Bíblia: os apóstolos não
andavam com a Bíblia debaixo do braço...
ainda não havia Novo Testamento.... e já havia
Igreja católica!
1 – Visão geral do Evangelho
Palavra CATÓLICO, significado:
Vem do grego "katholikos", que quer dizer,
para todos ou universal. É a Igreja Católica, é a
Boa Nova pregada por Jesus Cristo, é o
próprio nascer do Cristianismo, que levou a
libertação, não só para o povo escolhido
inicialmente por DEUS, os Judeus, como
também, para toda a humanidade. O Próprio
Senhor Jesus, pediu a Pedro que apascentasse
seu rebanho. No caso, seus seguidores.
1 – Visão geral do Evangelho
Se não havia os quatro evangelhos, que
Evangelho os Apóstolos pregavam?
O Evangelho (= Boa Notícia) é um só: Cristo
morreu e ressuscitou para nos salvar! O Pai
ressuscitou Jesus e derramou sobre ele o
Santo Espírito e quem crer no nome de
Jesus recebe este Espírito para a remissão
dos pecados e tem a vida eterna!
1 – Visão geral do Evangelho
Um bom resumo desse Evangelho está em
1Cor 15,1-8.
O Evangelho não é um livro escrito, mas uma
boa notícia, uma novidade alegre de salvação,
que Cristo entregou à sua Igreja, chefiada por
Pedro e os Doze!
Contudo, à medida que os Apóstolos iam
pregando, as várias comunidades cristãs (no
Novo Testamento tais comunidades são
chamadas de “igrejas”) iam colocando por
1 – Visão geral do Evangelho
escrito alguma coisa sobre Jesus, de modo que
foram aparecendo pequenas apostilas... umas
com alguns milagres de Jesus, outras com
algumas curas, outras com seus discursos ou
pequenas frases soltas...
Pois bem, o primeiro que reuniu uma parte
deste material e arrumou tudo num
“evangelho” escrito foi São Marcos, lá pelo
ano 63 – portanto, 33 anos após a morte e
ressurreição de Jesus! Depois surgiram os
1 – Visão geral do Evangelho
outros evangelhos. Estes evangelhos nem
sempre foram escritos por um apóstolo.
Quando trazem o nome do apóstolo é porque
foram escritos com base na sua pregação, na
pregação apostólica. Um exemplo disso está
no final do evangelho de João: “Este é o
discípulo que dá testemunho dessas coisas e
foi quem as escreveu; e sabemos que seu
testemunho é verdadeiro (Jo 21,24).
1 – Visão geral do Evangelho
Vejamos: quem é o discípulo que dá
testemunho?
É João, o Discípulo Amado; e quem são as
pessoas que sabem (“sabemos”, diz o texto!)
que o testemunho de João é verdadeiro? Sãos
os cristãos das comunidades fundadas por
João, que escreveram a sua pregação e a
colocaram por escrito! São eles os autores do
Quarto Evangelho!
1 – Visão geral do Evangelho
Mais uma coisa interessante: não foram
escritos somente quatro evangelhos, mas
muito mais de dez.... Por exemplo: o ProtoEvangelho de Tiago, o Evangelho de Pedro, o
Evangelho dos Doze Apóstolos, o Evangelho
aos Hebreus.... e muitos outros! Diante desta
confusão toda, como saber quais eram os
escritos inspirados? Foi a Igreja – a Igreja
católica! – quem decidiu, com a assistência do
Santo Espírito (cf. Mt 28,20; Jo 14,25-26; At
15,28) quais daqueles livros e cartas eram
inspirados!
1 – Visão geral do Evangelho
Foi assim que surgiram nossos quatro
evangelhos atuais. Naquele tempo eles não
eram chamados de “evangelhos”, mas sim de
“Memórias dos Apóstolos”, porque traziam
por escrito não um relato jornalístico sobre a
vida de Jesus, mas o miolo da pregação
apostólica.
São Justino, que viveu no século II, escreveu
assim, lá pelo ano 150, contando como se
celebrava a Missa:
1 – Visão geral do Evangelho
“No dia que se chama do sol (era o modo
dos pagãos chamarem o domingo) celebra-se
a reunião dos que moram nas cidades ou nos
campos e ali se lêem, quanto o tempo
permite, as Memórias dos apóstolos ou os
escritos dos profetas (quer dizer, o Antigo
Testamento)”. Somente no final do século II
e início do século III, estes quatros escritos
passaram a se chamar “evangelhos” (no
plural). Então, pregar o Evangelho é muito
mais do que ler e explicar os quatro
evangelhos!
1 – Visão geral do Evangelho
c) O Evangelho de Mateus
O Evangelho segundo Mateus não é o mais
antigo: enquanto Marcos foi escrito em 63,
Mateus somente foi escrito lá pelos anos 80
– quase vinte anos depois de Marcos! Não
sabemos quem é seu autor. A Tradição da
Igreja o atribui a Mateus, significando que
este evangelho é um eco fiel da pregação
apostólica. Sabemos com certeza que ele foi
escrito para os cristãos que se converteram
do judaísmo, cristãos de raça israelita. ‘
1 – Visão geral do Evangelho
Isto é fácil de perceber pela quantidade de
vezes que Mateus cita o Antigo Testamento.
Muitas vezes ele vai dizer: “Isto
aconteceu para que se cumprisse a
Escritura”...
Ora, somente os judeus conheciam a
Escritura, quer dizer, o Antigo Testamento!
Outra coisa: quando Mateus fala dos
costumes dos judeus nunca precisa explicálos... por que? Porque estava escrevendo
para judeus que conheciam muito bem tais
costumes.
1 – Visão geral do Evangelho
Quando Mateus escreveu o seu evangelho,
que imagem de Jesus ele quis mostrar? Para
ele, Jesus é:
O NOVO MOISÉS. Uma tal ideia aparece
até mesmo no modo como Mateus arruma
seu evangelho: ele o divide em cinco partes
para recordar os cinco livros da Lei de
Moisés. Muitas vezes Jesus vai ser
apresentado sobre o monte, como Moisés
no Monte Sinai. A narrativa da infância de
Jesus, Mateus a escreve copiando muita
1 – Visão geral do Evangelho
coisa daquilo que os judeus contavam sobre
a infância de Moisés (coisas que não estão
na Bíblia!).
ELE É TAMBÉM O FILHO DE DEUS,
nascido por obra do próprio Deus. Ele é
aquele que vem realizar as promessas a
Abraão e a Israel. Por isso mesmo Mateus
faz questão de afirmar que Jesus descende
de Abraão: “Livro da origem de Jesus Cristo,
filho de Davi, filho de Abraão” (Mt 1,1).
1 – Visão geral do Evangelho
ELE É O NOVO DAVI, o verdadeiro Davi
prometido pelos profetas, o Messias (= o
Ungido) verdadeiro, rei de Israel. Por isso mesmo
Mateus faz questão de mostrar na sua genealogia
(cf. Mt 1,1-17) que Jesus descende do rei Davi.
Finalmente, para Mateus JESUS É O DEUS
MESMO CONOSCO. Ele não é um simples
profeta, não é um simples mensageiro: ele é
Deus mesmo que vem visitar e habitar com o
seu povo. Isso aparece no início e no fim do
evangelho (cf. Mt 1,23 e Mt 28,20).
1 – Visão geral do Evangelho
Outra coisa importante: para Mateus, o
tema central da pregação e missão de Jesus
é o anúncio e instauração do Reino dos
Céus.
Em outras palavras: Jesus é aquele que
anuncia e torna presente o Reino
dos Céus, o Reino de Deus que o
Antigo Testamento tanto tinha
prometido!
d) O esquema do Evangelho de Mateus
1 – Evangelho da Infância (Mt 1 – 2)
2 – A promulgação do Reino dos Céus
(Parte I) ( Mt 3 – 7) - A
3 – A pregação do Reino dos Céus
(Parte II) (Mt 8 – 10) - B
4 – O mistério do Reino dos Céus
(Parte III) (Mt 11 – 13,52) - C
5 – A Igreja, primícias do Reino dos Céus
(Parte IV) (Mt 13,53 – 18) – B1
6 – O advento próximo do Reino dos Céus
(Parte V) (Mt 19 – 25) – A1
7 – A paixão e a ressurreição (Mt 26 – 28)
1 – Visão geral do Evangelho
Algumas observações sobre o esquema:
Se olharmos com atenção o evangelho foi
esquematizado em cinco partes, comparando com
os cinco livros de Moisés. A parte mais importante
das cinco é a do meio: assim: A, B, C, B1, A1.
Cada uma das cinco partes é composta de um bloco
de narrativas e de um discurso. Assim, em Mateus,
Jesus, novo Moisés, faz cinco discursos: o Discurso
da Montanha, o Discurso da Missão, o Discurso das
Parábolas, o Discurso sobre a Igreja e o Discurso
Escatológico.
1 – Visão geral do Evangelho
Além das cinco partes, Mateus coloca uma
introdução (as narrativas da infância de Jesus) e
uma conclusão (a Páscoa do Senhor), que é, sem
dúvida, o ponto alto do evangelho. Em todos os
quatro evangelhos tudo que se escreve é
preparação para mostrar que o Senhor morto e
ressuscitado é o nosso Salvador.
1 – Visão geral do Evangelho
O Evangelho da infância segundo
Mateus (Mt 1 – 2)
Trata-se de um midraxe (um modo de contar
uma história próprio dos judeus) no qual
Jesus é apresentado como o novo Moisés.
Para isso Mateus usa as histórias que os
rabinos contavam sobre o pequeno Moisés:
faraó soube que nasceria um menino judeu
que iria libertar o povo e manda matar todas
as crianças judias; os pais de Moisés eram
santos e piedosos e um anjo anunciou-lhes
que seu filho iria libertar Israel, etc.
1 – Visão geral do Evangelho
Mateus deseja mostrar também que Jesus
que é aquele que refaz o caminho de Israel,
chamado do Egito (Mt 1 – 2). Ele é o fruto
maduro e santo de Israel, que vai passar a
limpo a história do seu povo. Portanto, a
intenção do Evangelista é apresentar Jesus
como aquele prometido pelas Escrituras de
Israel, o Profeta, prometido desde os tempos
de Moisés.
1 – Visão geral do Evangelho
Mas ele é mais que Moisés: é o Filho de
Deus, o Emanuel, Filho de Davi! Por isso
Mateus narra a origem humana de Jesus: se
por um lado ele vem de Abraão e de Davi,
por outro, ele vem diretamente de Deus (daí
Mateus contar a concepção virginal). Ele é o
Emanuel, o próprio Deus no meio do seu
povo!
1 – Visão geral do Evangelho
O mistério do Reino dos Céus (Mt 11 –
13,51)
a) A parte narrativa (11,1 – 12,50)
Este é o tema central do Evangelho de
Mateus: o Reino do céus que Jesus veio
trazer. Mateus começa narrando várias cenas
e palavras de Jesus: “Jesus partiu para pregar
e ensinar nas cidades deles” (11,1):
1 – Visão geral do Evangelho
Ele manda dizer ao Batista que é o Messias
que traz o Reino (11,1-15). Diante dele é
preciso decidir-se e isto vai ser decisivo para
o destino eterno de cada um (11,16-24).
Somente quem for simples pode acolher o
Reino que ele traz e aceitá-lo como Messias
(11,25-30). Como Messias, ele é o Senhor do
sábado (Mt 12,1-14). Mas vai implantar o
Reino como o Servo sofredor predito por
Isaías (12,15-21). Trazendo o Reino dos Céus,
ele expulsa o reino de Satanás ((12,22-37).
1 – Visão geral do Evangelho
Por tudo isso não se pode ficar indiferente
diante de Jesus: é preciso fazer parte da nova
família que ele vem fundar (a Igreja) (12,4350). O sinal definitivo da presença do Reino
será a Ressurreição (12,38-42).
b) O Discurso das Parábolas (13,1–52)
Mas é sobretudo no Discurso das Parábolas
que Jesus apresenta o mistério do Reino dos
Céus. Mateus reúne sete parábolas (sete é o
número da perfeição, da plenitude):
1 – Visão geral do Evangelho
Jesus se senta num barco (é a posição
própria do mestre, de quem está na “cadeira
de Moisés”) e aí apresenta o Reino:
É como o semeador que lança a semente
(13,1-23)
É como um campo de trigo no qual cresce o
joio (13,24-30)
É como um grão de mostarda (13,31-32)
É como o fermento que leveda a massa
(13,33)
1 – Visão geral do Evangelho
É como um tesouro de grande valor (13,44)
É como uma pérola preciosa (13,45-46)
É como uma rede jogada no mar (13,47-50)
A promulgação do Reino dos Céus (Mt
3 – 7)
Nesta primeira parte (A) do corpo do
evangelho de Mateus, o evangelista que
apresentar a promulgação, quer dizer, o
decreto do Reino do Céus: quais são suas
leis, seus valores, suas características.
1 – Visão geral do Evangelho
a) A parte narrativa (3,1 – 4,25)
O Batista prepara a chegada do Messias que
vai trazer o Reino (3,1-12)
Jesus aparece e é batizado e é ungido com o
Espírito como Messias-Servo sofredor (3,1317)
O Espírito leva Jesus para ser provado no
deserto (4,1-11)
Jesus volta para sua terra e começa a
anunciar o Reino, convidando à conversão
(4,12-17)
1 – Visão geral do Evangelho
Em vista do Reino e da Igreja, ele começa a
escolher seus discípulos (4,18-22)
Jesus ensina e cura, como sinal da chegada do
Reino que destrói o reino de Satanás (4,2325)
b) O Discurso da Montanha (5,1 – 7,29)
Jesus senta-se (como Moisés na sua cátedra)
no Monte (como Moisés no Sinai); aí ele vai
promulgar a Lei do Reino dos Céus: é uma
lei toda interior, feita de bondade,
1 – Visão geral do Evangelho
sinceridade, misericórdia, confiança em Deus
e total abandono nas suas mãos. Quem
aceitar o Reino que Jesus trouxe, constrói a
casa de sua vida sobre a rocha. Neste
discurso, que começa com as bemaventuranças, Jesus quer ensinar:
O espírito que deve animar os filhos do
Reino (5,3-48) = a benignidade
O espírito com o qual eles devem cumprir as
leis religiosas (6,1-18) = a sinceridade
interior
1 – Visão geral do Evangelho
O desprendimento das riquezas (6,19-34)
As relações com o próximo (7,1-12) = a
bondade
A necessidade de entrar no Reino por uma
decisão que transforme a vida (7,13-27) = a
radicalidade sincera
1 – Visão geral do Evangelho
O advento próximo do Reino dos Céus
(Mt 19 - 25)
Esta parte (A1) está ligada à parte I (A): o
Reino dos Céus que Jesus promulgou no
início de sua pregação, ele agora vai realizá-lo
efetivamente: com ele o Reino virá em
plenitude!
1 – Visão geral do Evangelho
a) Parte narrativa (19,1 – 23,39)
No primeiro bloco desta parte Mateus
procura apresentar palavras e gestos de Jesus
que mostram o quanto o Reino é exigente: a
questão do divórcio (19,1-9), o celibato
(19,10-12), a necessidade de ser como as
crianças (19,13-15), a necessidade de deixar
tudo pelo Reino (19,16-30), a necessidade de
fazer tudo isso por amor de Deus e não por
interesse mesquinho (20,1-16), a necessidade
de estar com Jesus na sua provação,
1 – Visão geral do Evangelho
seguindo-o sempre (20,17-34). Outro tema
importante é a polêmica de Jesus com Israel
que, recusando Jesus recusa o Reino e se
tornará estéril (21 – 22). Finalmente, Jesus
censura os escribas e fariseus que se
sentaram “na cátedra de Moisés” (23,2),
cátedra que é de Jesus! Aí Jesus lança-lhes
oito “ais”, em contraposição às oito bemaventuranças: a mensagem é clara: diante do
Reino, é necessário escolher entre a bênção
e a maldição. Jesus faz o que Moisés fez com
Israel (cf. Dt 28,1-46; 11,29; Js 8,32-35).
1 – Visão geral do Evangelho
b) O Discurso Escatológico (24,1 – 25,46)
Neste belíssimo Discurso Mateus usa o
estilo apocalíptico, isto é, fala do aparição
final do Reino usando imagens fortes como
num quadro pintado com tintas bem
berrantes, para chamar atenção! Só entende
bem este discurso quem entender sua
linguagem simbólica, cheia de imagens muito
usadas na época de Jesus. É importante
observar que aqui Mateus mistura dois tipos
1 – Visão geral do Evangelho
de palavras de Jesus: um sobre a destruição
de Jerusalém e outro sobre o fim dos
tempos: a destruição de Jerusalém, que
acontecerá logo [“esta geração não passará
sem que tudo isso aconteça” (24,34)] é um
sinal, um prenúncio do final dos tempos, que
acontecerá “numa hora em que não pensais”
(24,44), pois “daquele Dia e da Hora,
ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o
Filho, mas só o Pai” (24,36). Para
compreender este discurso, eis algumas
observações importantes:
1 – Visão geral do Evangelho
Quando Jesus fala em revoluções, dores (=
fenômenos históricos) e sinais na natureza
(fenômenos cósmicos) é para dizer que o
Reino vai transformar e purificar a história
humana e toda a criação: nada deixará de ser
confrontado com o Reino dos Céus!
O que realmente interessa a Jesus é o apelo
à vigilância: contra os falsos profetas e falsos
messias (24,4-5), contra a apostasia e o
esfriamento da fé (24,9-14.37-44). Jesus
previne que o caminho não é fácil, mas quem
1 – Visão geral do Evangelho
perseverar será salvo (24,13)! As quatro
parábolas que Mateus coloca neste Discurso
mostram bem isto:
A parábola da figueira (24,32-36):
necessidade de estar atentos aos sinais do
Reino
A parábola do mordomo (24,45-51):
necessidade da fidelidade esperançosa
A parábola das virgens (25,1-12): necessidade
de vigiar
1 – Visão geral do Evangelho
A parábola dos talentos (25,14-30):
necessidade de trabalhar pelo Reino
Tudo isto se completa no quadro
impressionante do último julgamento: nossa
atitude diante de Jesus e de seu Reino
decidirão nossa sorte eterna. Mas nossa
atitude diante de Jesus passa por nosso
comportamento em relação aos irmãos
(25,31-46),
1 – Visão geral do Evangelho
A pregação do Reino dos céus (Mt 8 –
10)
Nesta parte Mateus reúne muito de quanto
Jesus fez e disse sobre a missão de anunciar
o Reino.
a) Parte narrativa (8,1 – 9,38)
Aqui Mateus deseja mostrar o que deve
fazer e como deve agir e sentir aquele que é
ministro do Reino. O modelo de pregação é
o próprio Jesus: ele é compassivo com o
1 – Visão geral do Evangelho
leproso e a hemorroíssa, aberto a todos,
como foi ao centurião e ao pecador Mateus,
ele tem pena de todos: não é frio, legalista,
indiferente e distante! O evangelista
apresenta uma série de dez milagres,
apresentando-os, portanto, como sinais que
acompanharão a pregação do Reino – é este
o sentido dos milagres nos evangelhos: são
sinais!
1 – Visão geral do Evangelho
b) O Discurso sobe a Missão (10,1-42)
Jesus chama os Doze e os envia: deles
nascerá a Igreja! O que Jesus diz aos
Apóstolos vale para os seus sucessores em
todos os tempos; vale até mesmo para cada
cristão, discípulo de Jesus:
eles devem pregar a todos e a todos levar a
paz do Reino (aqui Jesus manda pregar
somente a Israel (10,5-7); depois da
ressurreição mandará a todo o mundo
(28,19-20). Todos serão julgados pela atitude
diante dos enviados de Jesus (10,5-16)
1 – Visão geral do Evangelho
os missionários serão sinal de contradição,
como Jesus (10,17-25)
não devem ser covardes nem medrosos
(10,26-33)
se Jesus é sinal de contradição, os discípulos
também o serão e deverão segui-lo nisso
(10,34-39)
onde estiver um anunciador do Reino, aí
estará o próprio Jesus (10,40-42)
1 – Visão geral do Evangelho
A Igreja, primícias dos Reino dos céus
(Mt 13,53 – 18)
Mateus liga esta parte IV (B1) à parte II (B). A
pregação dos Apóstolos dá origem à Igreja,
início do Reino dos Céus: na Igreja o Reino
já se faz presente como uma semente que
um dia dará fruto!
1 – Visão geral do Evangelho
a) Parte narrativa
Aqui Mateus reúne um material muito
diverso, mas sempre em relação com a Igreja:
Jesus é rejeitado em Nazaré: ele formará
uma nova Pátria, um novo Povo, a Igreja
(13,53-58)
destino de João Batista já indica qual será o
destino que o antigo Povo dará a Jesus (14,112)
1 – Visão geral do Evangelho
As multiplicações dos pães mostra Jesus,
novo Moisés, que alimentará com o novo
maná (a Eucaristia) o novo Israel (14,13-21;
32-39): os dois milagres mostram que a Igreja
reunirá judeus e pagãos
Aparece também o papel de Pedro: caminha
sobre as águas e é feito pedra da Igreja
(14,22-34;16,13-20; 17,24-27
Jesus realiza cura para os pagãos
prenunciando a missão da Igreja e a
conversão dos pagãos, que serão o novo
Israel (14,34-36; 15,21-28)
1 – Visão geral do Evangelho
Jesus reprova as tradições do antigo povo,
incrédulo e cheio do velho fermento (15,120; 16,1-13).
Jesus anuncia sua paixão e convida a segui-lo:
a Igreja deverá sempre responder este
convite (16,21-28; 17,22-23)
Jesus convida seus discípulos à viver na fé
(17,14-20)
Jesus se transfigura: ele é aquele de quem o
Antigo Testamento (Moisés e Elias) tinha
falado: a Igreja deverá sempre ouvi-lo! Ele
morrerá, mas venceu! (17,1-8)
1 – Visão geral do Evangelho
b) O Discurso sobre a Igreja
Aqui Mateus reúne várias palavras de Jesus
sobre a vida da Comunidade: a Igreja deve
ser como Jesus sonhou para ser sinal do
Reino dos Céus!
Na Igreja, é maior quem serve mais (18,1-4)
Deve-se evitar o escândalo, sobretudo por
causa dos fracos na fé, que podem se
desgarrar; os pastores devem preocupar-se
com estes (18,5-14)
1 – Visão geral do Evangelho
Na comunidade deve haver a correção
fraterna (18,15-18)
Deve-se rezar em comum e perdoar-se
mutuamente (19-35)
1 – Visão geral do Evangelho
Conclusão do Evangelho: A paixão e
ressurreição do Senhor
Cada evangelho tem seu ponto alto na
Páscoa do Senhor. Por isso mesmo cada
evangelista apresenta de modo orante e
contemplativo aqueles acontecimentos que
marcam a salvação que Deus nos deu por
Jesus. Os evangelhos não narram um fato cru:
eles interpretam, querem mostrar o que está
por trás dos acontecimentos à primeira vista
absurdos e sem sentido!
1 – Visão geral do Evangelho
No seu relato da paixão, morte e
ressurreição, Mateus deseja mostrar que as
Escrituras judaicas são plenamente
cumpridas e o Reino dos Céus instaurado
(26,29)... tanto que os pecados são
perdoados (26,28), a nova aliança é selada
(26,27-28) a morte é vencida, os mortos
saem dos túmulos e podem entrar com o
Messias na Jerusalém Celeste (27,51-54). A
Páscoa judaica vai ser cumprida na Páscoa de
Jesus (26,1-2) e o templo de Jerusalém e o
1 – Visão geral do Evangelho
antigo culto da antiga aliança perde o seu
sentido (27,51). Tudo culmina na
Ressurreição, “após o Sábado, ao raiar do
Primeiro Dia” (28,1), dia novo do novo
Reino; dia da alegria (28,9). Mas somente
pode participar da alegria de ver o
Ressuscitado quem estiver disposto a
caminhar, a ir para a Galiléia para começar a
missão de anunciar o Reino (28,7).
1 – Visão geral do Evangelho
Mateus encerra o seu evangelho de modo
estupendo: o Novo Moisés, sobre à
montanha, como no Monte Sinai, abençoa os
seus e os envia definitivamente em missão... e
promete: “Eu estudarei convosco até a
consumação dos séculos!” (Mt 28,16-20).
1 – Visão geral do Evangelho
Para que foi escrito o Evangelho
segundo Mateus?
Mateus escreveu para a sua comunidade, ou as
comunidades que viviam na sua região.
Contudo, quais eram essas comunidades, e em
que situação se encontravam?
Voltemos ao século I, pelos anos 70.
Em 70 d.C. o império romano invadiu a
Palestina, que já era sua colônia e lhe pagava
tributos. Sufocou o movimento judaico
revolucionário, tomou Jerusalém e destruiu o
templo. Os judeus tiveram que se dispersar e
1 – Visão geral do Evangelho
se reorganizar. As comunidades cristãs que aí
existiam saíram antes. Algumas foram para Pela,
no lado oriental do rio Jordão, outras se
espalharam pela Síria e Fenícia, e outras ainda
se refugiaram junto à comunidade de Antioquia
na Síria. E foi provavelmente de Antioquia, pelo
ano 80 d.C., que Mateus escreveu o seu
evangelho para essas comunidades que tinham
nascido na Palestina. Isso explica um pouco as
preocupações de Mateus. Ele é um judeu
convertido ao cristianismo e se dirige ao
mesmo tipo de pessoas.
1 – Visão geral do Evangelho
Primeiro quer mostrar que Jesus e sua ação realizam
tudo o que o Antigo Testamento anunciava, pedia e
prometia. Depois, que o cristianismo também é
ruptura com a religião judaica oficial, cristalizada em
formas e vivências que já estavam muito distantes do
projeto de Deus revelado e realizado em Jesus.
Finalmente, quer mostrar que as comunidades não
devem ficar fechadas em Si mesmas, um olhando para
o outro, mas se abrir para todos, levando a todos os
tempos e lugares a palavra e a ação que libertam para
a vida nova.
Qual? É o que veremos depois, e então
compreenderemos como a notícia do evangelho de
Mateus é realmente boa.
1 – Visão geral do Evangelho
EVANGELHO É CATEQUESE
Às vezes pensamos que o evangelho é biografia de
Jesus. E não é. Os evangelhos representam uma
segunda etapa do anúncio de Jesus e da sua missão,
dos quais as comunidades são chamadas a participar.
O primeiro anúncio era muito simples e consistia em
proclamar uma acusação de que a sociedade tinha
assassinado um inocente que só queria a justiça e a
vida (Atos 2,23.32-36). Pegas de surpresa e
arrependidas, as pessoas se convertiam a Jesus. .Mas, e
agora? Fazer o que? Vinha então a segunda etapa:
aprender que a vida de Jesus era um modelo
inspirador para a busca da justiça e da vida.
1 – Visão geral do Evangelho
De início muito resumida, era feita a catequese, o
ensino de quem tinha sido Jesus e de como ele tinha
vivido. Lendo Atos 10,36-43 podemos ter uma ideia
de como era essa primeira catequese. E, olhando bem,
nela já aparece bem claro o esquema fundamental dos
evangelhos.
Os evangelhos são o desenvolvimento dessa
catequese inicial. Não foram escritos para dar
informações, mas para ajudar as comunidades a
descobrir o sentido das palavras, ações e vida de
Jesus, que revelam e concretizam o projeto de Deus
para a vida da humanidade. Pela fé a comunidade já se
comprometeu com esse projeto. Agora é preciso
1 – Visão geral do Evangelho
conhecê-lo profundamente, para continuá-lo
na sua vida, palavra e ação. Entendamos bem.
Não se trata de imitar Jesus. O importante e
perceber como ele compreendeu e realizou
o projeto de Deus em seu tempo. A nos
todos cabe a tarefa de, inspirados por ele,
recriarmos em nosso tempo e lugar a palavra
e a ação que concretizam o projeto de
liberdade e vida que Deus quer para todos.
O que também é a nossa mais profunda
aspiração.
1 – Visão geral do Evangelho
Para refletir em grupos
1. O que significa a palavra evangelho?
2. Por que o evangelho de Mateus é uma
boa notícia?
3. A situação das comunidades para as
quais Mateus escreveu e semelhante à
situação de nossas comunidades?
4. Para que foram escritos os
evangelhos?
JESUS, MESTRE DE JUSTIÇA
Ao ler cada um dos evangelhos, devemos
prestar atenção a como o evangelista
apresenta Jesus. Isso é particularmente
importante no evangelho de Mateus. Quem
é Jesus?
Jesus é o "Deus conosco“
Ao comentar o sentido do nascimento de Jesus,
Mateus cita o texto do profeta Isaías (7,14): "Vejam:
a virgem conceberá, e dará a luz um filho. Ele
será chamado pelo nome de Emanuel, que
quer dizer: Deus está conosco". Dessa forma, o
evangelista aponta para todo o mistério da pessoa de
Jesus. Nele, o Deus que habitava na eternidade vai se
tomar próximo de nós, morando em nosso meio,
participando de nossa vida, nossas aspirações, lutas e
realizações. E até quando ele vai ficar entre nós?
E vai ficar conosco para sempre
O fim do evangelho mostra Jesus entre os discípulos,
isto é, a comunidade cristã. Depois de mandar que
todos continuem a sua missão, batizando as pessoas e
ensinando-as a observar tudo o que ele ensinou, Jesus
faz a grande promessa: "Eis que eu estarei com
vocês todos os dias, ate o fim do mundo" (Mt
28,20).
Jesus jamais abandonará os discípulos, jamais deixará
de estar presente na vida e na ação da comunidade
cristã. Sua presença está:
sacramentalmente selada na Eucaristia,
sua palavra continua falando através do
Evangelho, e
sua ação se prolonga através da ação da
comunidade.
Presença, palavra e ação, que continuam para sempre
no meio daqueles que, pela fé, se comprometeram
com Jesus.
Todavia, a ordem de Jesus é que a comunidade faça com que
todos os povos se tornem seus discípulos, ensinando-os a
observar tudo o que ele ordenou a comunidade. Ensinar o
que, precisamente? Precisamos verificar alguns textos desse
evangelho.
Para ensinar a justiça
Quando Jesus se apresenta para o batismo de João, ha um
diálogo interessante, que apresenta o programa de todo o
evangelho de Mateus. João resiste. Jesus responde a ele:
"Devemos cumprir toda a justiça" (Mt 3,15). Esse e um
ponto muito
importante, porque o batismo de Jesus marca a direção de
toda a atividade que ele vai desenvolver. Notemos que o
verbo está no plural: "devemos". Quem mais, além de Jesus,
deve cumprir toda a justiça? Não só João, mas todos os que
seguem a Jesus, inclusive os cristãos das comunidades de
hoje, dois mil anos depois.
O batismo de Jesus aponta a meta da sua vida: realizar a
justiça. Nós, também batizados em seu nome, temos a
mesma meta. E aí podemos nos perguntar: O que é
cumprir a justiça? O que é a justiça a que Jesus se
refere?
Na Bíblia, a justiça é a vontade de Deus, o seu projeto eterno.
Somos justos e praticamos a justiça quando deixamos que
Deus realize a sua vontade sobre nós e, como através de
Jesus, realize o seu projeto.
Qual e o projeto de Deus?
O Antigo Testamento apresenta os dois pontos fundamentais
desse projeto. No livro do Êxodo podemos ver que Deus quer
liberdade para todos, em primeiro lugar para os que não a
tem, uma vez que foram roubados pelos que são dominados
pela ganância do poder. Por outro lado, o livro do
Gênesis mostra que Deus criou tudo vivo, e endereçou tudo para
a vida. O projeto de Deus e, portanto, liberdade e vida.
Estranho? Não. Também nós, lá no fundo de nós mesmos,
desejamos ardentemente a mesma coisa. O único problema
entre Deus e nós é que Deus quer isso para todos. E isso é
justiça. Todos tem igualmente direito a liberdade e a vida.
Liberdade para ser, para se descobrir como ser único e
participar dos rumos da sociedade e da história. Vida a ser
usufruída por todos, através da partilha dos bens que sustentam
e promovem a vida humana. Nós, muitas vezes, só pensamos em
nossa liberdade e em nossa vida individual. Aí está a diferença.
Falando de justiça, Jesus queria levar o projeto de Deus à
frente. Somos convidados a fazer o mesmo, junto com ele.
Porque o Reino de Deus vem pela justiça
O propósito de Mateus fica mais claro em 6,25-34. Depois de
falar sobre a preocupação continua que os pobres tem com a
comida, a bebida e a roupa, coisas de primeira necessidade,
ele acrescenta: "Em primeiro lugar, busquem o Reino
de Deus e a sua justiça, e Deus dará a vocês, em
acréscimo, todas essas coisas" (Mt 6,33).
Aí está. Não adianta pensar em curar os sintomas. Precisa
curar a sua causa. Se não se tem o que comer, beber e vestir
(e casa, e escola, e assistência médica, e lazer, e descanso
etc.), não adianta ficar preocupado afanosamente com isso. É
fazer buraco na água. Quando o povo não tem liberdade e
vida, para viver dignamente e participar na construção da
sociedade e da história, isso é sinal de que está havendo
injustiça. Não adianta remendar. A primeira luta é para que
haja justiça. Ninguém precisa de bondade (que, em geral, só
serve para esconder a injustiça). Todos precisam da justiça
de Deus, do seu Reino, onde todos podem igualmente
ter acesso aos bens da liberdade e da vida. Quando há
justiça, todos podem viver dignamente, com todas as
suas necessidades satisfeitas.
O Jesus de Mateus é, portanto, o Mestre da justiça.
Com sua presença, palavra e ação, ele vai ensinando a
comunidade a lutar pela justiça que liberta a todos
para uma vida digna. E isso não deve ficar dentro da
comunidade apenas. Deve ser ensinado a todos, para
que todos aprendam de Jesus qual é a justiça que
Deus quer.
Para refletir em grupos
1.
Por que Mateus chama Jesus de Emanuel?
2.
Segundo Mateus, onde Jesus está hoje?
3.
O que Jesus quer ensinar a comunidade?
4.
Qual a diferença entre bondade e justiça?
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Aula 1 - Evangelho de Mateus