Balismo + Coréia (Doença de Huntington) José Lucas Malosti Teodoro Rodrigues Curitiba, 2014 ÍNDICE • • • • Histórico Definições Epidemiologia Fisiopatologia – Etiologia (Medicamentosa/Metabólica/Vascular/ Infecciosa) • Coréia de Sydenham • Doença de Huntington HISTÓRICO • Coréia (grego: χορεία): antiga dança grega acompanhada por cantos. • Dança de St. Vitus: “surtos” religiosos clamando por santos. • Paracelsus: “chorea naturalis” (Sec XVI) “chorea imaginativa” “chorea lasciva” HISTÓRICO • Thomaz Sydenham (Sec XVII): Coréias orgânicas (infantis principalmente). – Apesar disso, a associação Coréia + Febre Reumática + Endocardite só foi devidamente reconhecida no século XIX. HISTÓRICO • George Huntington (Séc XIX) Descrição de uma família do estado história da medicina de Nova“NaYork. existem poucas doenças que tenham sido descritas com tamanha precisão e brevidade” DEFINIÇÕES • Coréia: desordem motora caracterizada por movimentos aleatórios e contínuos dando a impressão de agitação. Afeta principalmente musculatura límbica distal. • Balismo: movimentos “enérgicos” principalmente de origem da musculatura límbica proximal. Caráter de “choque”/”soco”/”tiro”. VÍDEOS Balismo Coréia EPIDEMIOLOGIA • Coréias como um todo: Desconhecida. – Genéticas: Doença de Huntington (Mais frequente 3/100.000) – Por uso de medicamentos: provavelmente a mais frequente em adultos (sem estudos comunitários). EPIDEMIOLOGIA • Estudos em centros terciários: 50% de causa vascular. • Em crianças: 94-96% Coréia de Sydenham. FISIOPATOLOGIA FISIOPATOLOGIA • Depende da etiologia subjacente – Genéticas – Adquiridas • • • • • • Por uso de medicamentos Lesões no gânglios da base Metabólicas Infecciosas Autoimune (...) ETIOLOGIA • Medicamentosa • Metabólica • Hereditária • Estrutural – Vascular • Infecciosa – Doença de Huntington – HIV • Autoimune – Coréia de Sydenham SINAIS E SINTOMAS • Coréia: indiferente à causa, o sinal é sempre o mesmo. O auxilio no diagnóstico diferencial vem de outras manifestações clínicas e resultados de exames. MEDICAMENTOSA MEDICAMENTOSA • “Coreiogênicos” – Bloqueadores da Dopamina (Neurolépticos, anticolinérgicos dentre outros). • Exigem alguma “pré-disposição” – Contraceptivos (Coréia de Sydenham, LES...) – Levodopa (Parkisonismo) MEDICAMENTOSA • Neurolépticos Típicos • Neurolépticos Atípicos – Haloperidol – Clorpromazina – Levomepromazina – Risperidona – Quetiapina – Olanzapina MEDICAMENTOSA • Tratamento – Cessação da terapia – Pode ser ineficaz em caso de discinesia tardia (quando tratamento crônico com antipsicóticos/antieméticos em idoso). – Possível uso de benzodiazepínicos, injeções de toxina butolínica e até mesmo retomada do tratamento com antipsicóticos. METABÓLICA • Degeneração hepatolenticular • Hiperglicemia nãocetoacidótica do DM-II • Tireotoxicose METABÓLICA • Diagnóstico – Exames laboratoriais (dosagem hormonal plasmática/glicemia/função hepática) • Tratamento – Resolução da causa base (quando possível) VASCULAR • Maioria dos casos de coréia adquirida atendida em serviços hospitalares. • Apenas 1% dos AVEs evoluem com coréia. • Lesão isquêmica/hemorrágica nos gânglios da base gerando hemicoréia/hemibalismo contra-lateral. VASCULAR VASCULAR • Diagnóstico – Exames de imagem para demonstrar área do AVE/Diagnóstico AVE. • Tratamento – A remissão espontânea é a regra – Uso de Neurolépticos ou Depletores de Dopamina em fase aguda – Caso persistente: avaliação para cirurgia: Talamotomia ou palidotomia postero-ventral INFECCIOSA • Principal causa: HIV/AIDS. – 12% das causas em coréias não genéticas – 50% dos pacientes com AIDS desenvolvem algum tipo de transtorno de movimento – Ação direta/Infecção oportunista/Toxicidade dos medicamentos INFECCIOSA • Tratamento: – Controle da infecção – Sintomático • Neurolépticos Atípicos AUTOIMUNES CORÉIA DE SYDENHAM • Fisiopatologia CORÉIA DE SYDENHAM • Epidemiologia – Maior causa de coréia em crianças – Ocorre principalmente entre os 5 e 15 anos. – Taxa ♀/♂ = 2 CORÉIA DE SYDENHAM • Clínica – Ocorre de 4 a 8 semanas após infecção (artrite/cardite/nódulos subcutâneos e outras ocorrem de 1 a 3 semanas). – Hemicoréia em até 20% dos pacientes – Disartria/Distúrbios de marcha/Vocalizações/Hipotonia/Fraqueza CORÉIA DE SYDENHAM • Clínica – Comportamento obsessivocompulsivo/ansiedade/hiperatividade – Duração de 2 a 9 meses CORÉIA DE SYDENHAM • Diagnóstico – Baseado em critérios clínicos principalmente • História de febre reumática aguda • Presença de outras manifestações da febre reumática • Exclusão clínica/laboratorial de outras causas CORÉIA DE SYDENHAM • Diagnóstico – Avaliação Complementar: • Avaliação cardíaca cuidadosa (ECG/Ecocardio) já que presença de cardite “confirma” o diagnóstico • Anti-Streptolisina O (ASO) geralmente apresenta baixos títulos após 5ª semana • Anti-DNAse B é mais duradouro e sensível • Neuroimagem/FAN/Ceruloplasmina (...) -> Exclusão de outras causas CORÉIA DE SYDENHAM • Tratamento – Remissão espontânea – Caso sintomas sejam problemáticos • • • • • Ácido Valpróico Carbamazepina Risperidona Haloperidol/Pimozida Metilprednisona (?) CORÉIA DE SYDENHAM • Prognóstico – Tratamento profilático com Penicilina G Benzatina – Recorrências em até 30% dos pacientes (principalmente em não tratados) – Aumento de risco para coréias induzidas por fármacos. DOENÇA DE HUNTINGTON EPIDEMIOLOGIA • • • • Prevalência de 3/100.000 (mundo) Incidência 0,38/100.000 (mundo) Principal causa de coréia genética Início vai desde menos de 20 anos (Westphal) até os 80. Sendo principalmente nos 35-44. FISIOPATOLOGIA • 4p16.3 • Huntingtina – Repetições CAG • • • • 6 – 34: Normal 35-39: Penetrância incompleta 40+: Penetrância completa 60+: Variante Westphal(?) FISIOPATOLOGIA • Genética – Padrão autossômico dominante – Fenômeno de antecipação (♂) – “Ganho de função” tóxico FISIOPATOLOGIA • Anatomia Patológica – Perda neuronal cortical e em gânglios da base (principalmente no estriado, sendo o caudado mais afetado) FISIOPATOLOGIA • Anatomia Patológica – Perda neuronal com reação de gliose no estriado. FISIOPATOLOGIA • Morte neuronal – Poliglutaminas causam desnaturação e acúmulo de huntingtina no citoplasma neuronal – – – – – Interrupção da transcrição Ativação de proteases Redução da degradação protéica Interferência no transporte axonal Rhes (Ras homolog enriched in striatum) se liga avidamente à huntingtina mutante ativando vias de ubiquitinação desta SINAIS E SINTOMAS • Motores – No início: hipotonia/hiporreflexia – Coréia progressiva (“distal para proximal”) – Distonia focal e moderada bradicinesia – Com o tempo • Coréia -> Parkisonismo Rígido-Acinético SINAIS E SINTOMAS • Psiquiátricos – Apatia/Depressão – Ansiedade 33-76% – Irritabilidade – Comportamento obsessivo-compulsivo – Psicose 3-11% 10-52% SINAIS E SINTOMAS • Cognitivos – Demência subcortical (dificuldade em testes que envolvem “tempo” e não apenas conteúdo) – Perda de memória -> Fases finais • Gerais – Perda de peso EXAMES COMPLEMENTARES • Ressonância magnética – Atrofia do estriado e aumento ventricular EXAMES COMPLEMENTARES • Tomografia computadorizada – Atrofia do estriado e aumento ventricular EXAMES COMPLEMENTARES • Teste genético – A análise laboratorial em busca da mutação do gene da huntingtina tem sensibilidade de 98,8% e especificidade de 100% – Substitui a necessidade de exames de imagem para confirmação diagnóstica EXAMES COMPLEMENTARES • Outros exames (principalmente para DDx) – Hemograma/Esfregaço (acantócitos) – Glicemia/eletrólitos/hormônios (metabólicas) – Ceruloplasmina (Doença de Wilson, paciente 40 a. ou menos com sintomas neurológicos) – Teste para HIV – FAN/Outras provas sorológicas – (...) TRATAMENTO E PROGNÓSTICO • Doença progressiva sem tratamento que impeça seu desenvolvimento (“sem cura”) • Pacientes irão a óbito em 10-30 anos depois do surgimento dos primeiros sintomas • Morte por pneumonias aspirativas e infecções de repetição (disfagia/imóvel) TRATAMENTO E PROGNÓSTICO • Suporte – Psicológico ao paciente e familiares – Dietas com altas-taxas calóricas ajustadas – Acompanhamento com fonoaudiólogo (Disfagia e vocalizações) – Fisioterapia – Cuidados em casa ou hospitalares – Manter paciente calmo/ambiente calmo TRATAMENTO E PROGNÓSTICO • Coréia – Tetrabenazina (Evidência 2B) • Sedação • Sonolência • Preço (R$ 567,83 + Frete/Impostos) TRATAMENTO E PROGNÓSTICO • Coréia – Neurolépticos atípicos (Evidência 2C) • Risperidona • Olanzapina • Aripiprazol – – – – – Principalmente quando acompanhado de sintomas comportamentais Rigidez Discinesia tardia Parkisonismo Sedação Ansiedade TRATAMENTO E PROGNÓSTICO • Coréia – Neurolépticos típicos (Evidência 2C) • Haloperidol • Flufenazina – Sedação – Parkisonismo TRATAMENTO E PROGNÓSTICO • Depressão – Tratamento seguindo as diretrizes de Depressão • Inibidores seletivos da recaptação de 5-HT • Tricíclicos • Sintomas comportamentais – Quetiapina (quando isolados) TRATAMENTO E PROGNÓSTICO • Rigidez/Parkisonismo – Quando necessário, uso de Levodopa ou agonistas da dopamina. (Piora dos sintomas cognitivos. Deve ser feita por especialista em distúrbios do movimento) • Demência – Não há tratamento disponível VARIANTE DE WESTPHAL (JUVENIL) • Quando inicia sintomatologia até os 20 anos • 10% dos casos de doença de Huntington – Distonia/Ataxia/Convulsões – Menos de 25% desenvolvem coréia – Progressão mais rápida – Tratamento semelhante à variante do adulto DIAGNÓSTICO DE CORÉIAS História Idade de início Infância (Sydenham/Westph al/Coreia hereditária benigna) Adulto (Lesões estruturais/uso de medicamentos/Hunt ington) História Familial Causas Genéticas Intermitente (Metabólicas/Medic amentosa/Autoimun e) Evolução Uso de medicação Estática (Lesões estruturais/Coréia Hereditária Benigna) Progressiva (Doenças neurodegenerativas ) DIAGNÓSTICO DE CORÉIAS Exame Neurológico Distribuição da Coréia Focal/Hemicoreia Achados associados Completa Ataxia (Espinocerebelar 2,3,17) Demência (Huntington/HDL 2) Neuropatia periférica (Ataxia telangiectasia/Coréia acantocitose) DIAGNÓSTICO DE CORÉIAS Exames Complementares Bioquímica sanguínea Causas metabólicas/endócri nas Hematologia (Acantocitose) Coréia Acantocitose/Síndro me de McLeod Painel de anticorpos Autoimunes (LES/Syndeham/ant ifosfolípide) Teste genético Huntington/HDL 2 Tomografia/Resson ância PET Doenças estruturais (vasculares/neoplas ias/inflamatórias) Redução do metabolismo de gânglios da base (doenças degenerativas e auto-imunes) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS • • • • • • BOUCHARD, M. SUCHOWERSKY, O. “Overview of Chorea” – UpToDate”. Disponível em < http://www.uptodate.com/contents/overview-ofchorea?source=search_result&search=choreas&selectedTitle=1~101> Acesso em 22/07/14. CRUSE, R. P. “Syndeham Chorea” – UpToDate. Disponível em < http://www.uptodate.com/contents/sydenhamchorea?source=search_result&search=chorea&selectedTitle=2~101> Acesso em 24/07/14 SUCHOWERSKY, O. “Huntington Disease: Clinical Features and Diagnosis” Disponível em < http://www.uptodate.com/contents/huntington-disease-clinical-features-anddiagnosis?source=search_result&search=Huntington+disease%3A+Clinical+features+and+diagnosis&selectedTitle =1~47> Acesso em 22/07/14 SUCHOWERSKY, O “Huntington Disease: Management” Disponível em < http://www.uptodate.com/contents/huntington-diseasemanagement?source=search_result&search=Huntington+disease&selectedTitle=2~47> Acesso em 22/07/14 CARODOSO F. et al. “Seminar on Choreas”. Neurology – The Lancet. Vol 05, p589-602. Julho 2006. CARDOSO F. “Huntington Disease and Other Choreas” – Neurological Clinics, Vol. 27, p719-736. 2009