•A Sociedade Escravista no
Brasil
ADRIANO NASCIMENTO
Método: história interpretativa de longa duração
 Não é uma “metafísica” ou história “sem fatos”
 Braudel: Ciclos históricos
Longo  dimensão estrutural
Médio  dimensão conjuntural
Curto  dimensão factual
Análise de longa duração para a o Brasil colonial permite...
 a) ver que os eventos históricos do período colonial
se organizam com base em uma economia de
extração colonial e de produção escravista
 b) ver que se organizam com base em uma ordem
política senhorial e escravocrata
 c) ver que a sociedade brasileira que se constituiu
com tal passado ainda apresenta elementos que
não romperam com tal passado
As economias coloniais e exportadoras:
 As economias exportadoras nasceram:

 a) profundamente especializadas;
 b) esta especialização foi imposta pelas antigas
metrópoles;
 c) após as emancipações nacionais estas economias
não deixaram de apresentar especialização colonial
Permanência da estrutura colonial após a emancipação
nacional
 Mesmo após a emancipação nacional (1808-1822), as
pressões para manter as formas de produção e estruturas
coloniais permanecem.
 As pressões vinham a partir de dentro e a partir de fora:
pressão exercida
pelos grupos
dominantes na
economia e na
sociedade
pressão
exercida pela
expansão dos
países
industriais e dos
dinamismos do
mercado
mundial
Manutenção
das formas
de produção
e estruturas
coloniais
Razões da crise da produção colonial-escravistas
 Dadas às forças destas pressões, os fatores que
determinaram a superação das formas de produção e
estrutura coloniais são resultados da crise da
produção escravista e colonial e não de um
movimento em direção à modernização capitalista.
Duplo aspecto (ou duplo confronto) da evolução da
escravidão no Brasil
 Florestan divide tal evolução em:
 1º) as fases socioeconômicas de evolução do sistema
de produção e de dominação econômica;
 2º) as fases da evolução do sistema social de poder.
As fases socioeconômicas de evolução do sistema de
produção e de dominação econômica:
a) “a era colonial, que se
caracteriza pelo controle
direto da Coroa e pelos
efeitos do antigo sistema
colonial na organização do
espaço ecológico,
econômico e social
b) “a era de transição
neocolonial, que vai, grosso
modo, do início do século XIX,
com a chegada da família
imperial, a abertura dos portos
e a Independência, até a sexta
década do século XIX”
c) “a era da emergência e
expansão de um capitalismo
dependente, nascido do
crescimento e consolidação do
“setor novo da economia”, que
primeiro se configura como
uma economia urbanocomercial com funções
satelizadoras em relação ao
campo e, em seguida, se
reorganiza, transfigura e
redefine como uma economia
urbano-industrial, com
funções integrativas de escala
nacional e tendências
metropolitanas, era que vai da
sexta década do século XIX aos
nossos dias”
Fases de evolução do sistema de poder ou de
evolução do sistema de dominação política
Era colonial
• a) a primeira
cobre o largo
período
colonial
Era neocolonial
• b) a segunda é a era
de emancipação
nacional, em que a
ordem senhorial
escravocrata é
reintegrada no
Império e converte
o Estado nacional
em um Estado
senhorial e,
portanto, escravista
Era de expansão e
consolidação da
ordem competitiva
• c) e a terceira era,
na qual se tem a
emergência de uma
ordem social e
competitiva que
origina um Estado
burguês
propriamente dito
1ª fase socioeconômica – a era colonial
 a) A diferença entre a escravidão antiga e a




escravidão moderna
b) A fundamental importância das colônias para as
metrópoles
c) O caráter subordinado do senhor de escravo à
acumulação mercantil
d) Diferencial na base técnica entre Metrópole e
Colônia
e) A apropriação no contexto histórico do sistema
colonial
2ª fase socioeconômica – a era de transição
neocolonial
 Na era subsequente à era colonial, a escravidão manteve o seu caráter mercantil e a
ordem senhorial e escravocrata é remodelada, mas permanecesse essencialmente
com as mesmas ligações estruturais e dinâmicas com o sistema de mercado
mundial.
 Apesar disso, Florestan acentua que não podem ser menosprezados os efeitos de
encadeamento do fim do ciclo de mineração. A investigação histórica, econômica e
sociológica tem dado maior relevo à crise do trabalho escravo que enfrentava
pressões dos ingleses ou as pressões internas das leis emancipacionistas. Ele oferece
outra chave de interpretação para se entender “o período de crise final da
instituição”
 Para ele, sem o trabalho escravo não teríamos a particular forma que assumiu a
revolução urbano-comercial no século XIX. Afirma ele: “Se essa revolução culmina
no fim da década desse século e atinge o seu apogeu sob o trabalho livre, isso não
significa outra coisa senão que a diferenciação alcançada sob o trabalho escravo pela
economia interna exigia outra forma de trabalho – e não que, sem a escravidão
mercantil, o capitalismo comercial teria crescido sobre seus próprios pés nas zonas
urbanas e imposto à grande lavoura um novo padrão de organização e crescimento
econômico” (53).
A articulação de formas subsidiárias de produção nas várias
regiões da Colônia e a extensão da escravidão mercantil
 “O que possui importância é que essa irradiação da economia de
plantação explica a generalização precoce da escravidão mercantil
na economia colonial, com o branco refugando o “trabalho
mecânico” pela existência do escravo e as oportunidades das
“fronteiras abertas” (54). Mas é o ciclo de mineração que produz o
que Florestan chama de efeitos de encadeamento que suscitam
tanto a expansão da economia de plantação para o sul como põem o
escravo no centro de “uma revolução econômica dentro da ordem”
(idem). Isto se explica pela maior dificuldade em se exercer o
controle sobre o processo econômico da mineração em relação à
plantation: “A Coroa com seus funcionários não puderam impedir
várias modalidades de retenção do ouro (e em escala menor dos
diamantes) pelos operadores diretos ou pelos agentes econômicos
que controlavam tais atividades. Por isso, ao terminar o episódio,
havia muita ‘gente rica’, pelo entesouramento encoberto, pela posse
de escravos, e como resultado das trocas mercantis” (idem).
A transplantação da família real para o Brasil, a
abertura dos portos e os episódios da Indepedência
 Como indica Florestan, com a emancipação nacional a economia colonial
não entra em colapso. O que entra em crise é a parte política do antigo
sistema colonial, que prendia e subordinava a Colônia à dominação
colonial metropolitana: “O resto desse sistema apenas se redefine, com a
monopolização das funções administrativas, legais e políticas da Coroa pela
aristocracia agrária e os estamentos de que esta dependia para controlar o
Estado senhorial e escravista. Entretanto, no conjunto tal transformação
constituía uma revolução política de profundas consequências econômicas.
A questão principal é óbvia. Essa revolução eliminava o controle direto e a
mediação econômica da Metrópole: o que quer dizer, ela acabava com
aquilo que os setores dominantes da economia interna viam como ‘o
esbulho colonial’. Desaparecia a superposição da apropriação colonial
sobre a apropriação escravista. A apropriação do produto do trabalho
escravo convertia-se numa relação econômica específica, determinada a
partir de dentro e regulada pelos interesses coletivos da aristocracia
agrária” (57).
Desvencilhamento do nexo colonial, acumulação
originária internalizada e diferenciação econômica
 Para Florestan, com o fim do “pacto colonial” o Brasil passa a
participar do circuito do “mercando triangular” e se beneficiar
dos lucros produzidos mesmo que boa parte deles fosse
absorvida pelo tráfico. As estruturas escravistas da produção
deixam de ser esteio para o desenvolvimento exclusivamente
para fora e passam a ser internalizados como base material do
crescimento mercantil dentro do país. Os interesses
comerciais e financeiros dos senhores se concentram nas
cidades, impulsionando o desenvolvimento urbano do século
XIX, e fortalecendo o mercado interno ao impactar a
acumulação mercantil que se redimensiona agora para dentro
do país. A transição para uma economia neocolonial é
responsável, portanto, por um processo de diferenciação
econômica resultante do engolfamento dos senhores de
escravo na vida urbana
Download

A sociedade escravista no Brasil