Recursividade e Funções Recursivas Aleatoriedade e Processos de Monte Carlo Pedro Barahona DI/FCT/UNL Introdução aos Computadores e à Programação 2º Semestre 2006/2007 23 Março 2007 Recursividade Funções Recursivas. Aleatoriedade e Processos de Monte Carlo 1 Funções Encadeadas • Como foi visto em vários exemplos anteriores, na especificação de uma função podem ser chamadas outras funções, que por sua vez podem chamar outras funções. • Assim uma função (programa pode ser visto como um encadeamento de funções. Por exemplo, a função ang_vec/2 chama a função mod_vec/2 na especificação abaixo indicada function a = ang_vec(V1,V2); % retorna ângulo em graus M = prod_int(V1,V2)) cos = M /(mod_vec(V1) * mod_vec(V2)) a = acos(cos)*180/pi endfunction • Em algumas linguagens de programação, em vez de funções são usados procedimentos, mas a filosofia de encadeamento é semelhante. • De notar que o programa principal, pode ele próprio ser visto como uma função. 23 Março 2007 Recursividade Funções Recursivas. Aleatoriedade e Processos de Monte Carlo 2 Funções Recursivas • Um caso particular ocorre quando as funções se chamam a si próprias, isto é, quando as funções são recursivas. • Talvez o exemplo mais simples seja o da função factorial, que pode ser definida (incompletamente) como fact(n) = n * fact(n-1) • Nestas condições, tal como nos ciclos, levanta-se o problema da terminação. Se uma função se chama a si própria, existe o risco de a computação se tornar infinita (entrar em ciclo fechado ou “loop”). • É pois condição necessária para evitar estes ciclos infinitos que sejam definidas e testadas em primeiro lugar as condições de fim da recursividade. se n 0 1 fact(n) n * fact(n 1) se n 0 23 Março 2007 Recursividade Funções Recursivas. Aleatoriedade e Processos de Monte Carlo 3 Funções Recursivas • Em geral, a recursividade é feita com base num conjunto recursivo (indutivo), definido através de cláusulas – de base; um ou vários elementos de base (que fecham a recursão) – de recursão: uma definição recursiva que permite a obtenção de elementos a partir de outros elementos. • Num grande número de casos, o conjunto recursivo utilizado é o conjunto dos numeros inteiros, em que – 1 (ou 0) é um número inteiro (cláusula de base) – Se i é inteiro, i+1 também é inteiro (cláusula de recursão) • Tendo em conta esta estrutura recursiva, podemos definir (correctamente) a função factorial tendo em conta a cláusula de base e a cláusula recursiva: se n 0 1 fact(n) n * fact(n 1) se n 0 23 Março 2007 Recursividade Funções Recursivas. Aleatoriedade e Processos de Monte Carlo 4 Funções Recursivas • No caso da função factorial basta então testar inicialmente se o parâmetro de entrada é nulo. Em pseudo-código, a função é definida como função fact(n) se n = 0 então fact 1 % elemento base senão fact n * fact(n-1) % definição recursiva fimse; fimfunção; • Em Octave é definida de uma forma semelhante function f = fact(n) if n == 0 f = 1 else f = n*fact(n) endif; endfunction; 23 Março 2007 se n 0 1 fact(n) n * fact(n 1) se n 0 Recursividade Funções Recursivas. Aleatoriedade e Processos de Monte Carlo 5 Limites à Recursividade • De notar que para prevenir os ciclos infinitos, o Octave tem uma variável prédefinida, max_recursion_depth, que limita o número de chamadas recursivas de uma função. • Por omissão (“default”), o valor da variável é 256, pelo que não se pode calcular fact(260) sem alterar o valor da variável. • Existem várias outras funções recursivas em que pode existir mais do que um elemento base ou em que o conjunto recursivo é mais difícil de definir. Em qualquer caso é essencial definir a condição de terminação. • Para exemplificar estas funções, estudamos de seguida – a determinação dos números de Fibonacci e – o cálculo do maior divisor comum entre dois números. 23 Março 2007 Recursividade Funções Recursivas. Aleatoriedade e Processos de Monte Carlo 6 Função Fibonacci (Recursiva) • Fibonacci (matemático da Renascença italiana) estabeleceu uma série curiosa de números para modelar o número de casais de coelhos em sucessivas gerações. Em cada geração, o número pode ser obtido através dos das 2 gerações anteriores através de fib(n) = fib(n-1) + fib(n-2) • Assumindo que nas primeiras duas gerações só existe um casal de coelhos, os sucessivos números de Fibonacci são 1,1,2,3,5,8,13,21,34,55,89, ... • Estes números ocorrem em vários processos biológicos (e não só), por exemplo, no número de pétalas de algumas flores. • A sua determinação recursiva impõe o cálculo directo do valor para 2 elementos de base (a 1ª e a 2ª geração). 23 Março 2007 Recursividade Funções Recursivas. Aleatoriedade e Processos de Monte Carlo 7 Função Fibonacci (Recursiva) • Em Octave, a obtenção dos números de Fibonacci pode ser feita muito facilmente através da função recursiva abaixo (em Octave) function f = fib(n); if n == 1 % 1º elemento base f = 1; elseif n == 2 % 2º elemento base f = 1; else % definição recursiva f = fib(n-1) + fib(n-2); endif; endfunction; • Como é fácil de constatar, se o número n inicial for maior ou igual a 1, a recursão termina. No entanto, se se chamar fib(0) a computação não termina (em Octave termina quando o número de chamadas recursivas exceder o valor da variável max_recursion_depth)! 23 Março 2007 Recursividade Funções Recursivas. Aleatoriedade e Processos de Monte Carlo 8 Máximo Divisor Comum (Função Recursiva) • Como se sabe, o máximo divisor comum (mdc) entre dois números m e n é também um divisor da sua diferença, m-n. Por exemplo, o mdc de 60 e 36 é 12, que divide 24 = 60-36. • Por outro lado, o mdc dos dois números m e n é ainda o mdc do menor número (n) com a diferença (m-n). Se houvesse um divisor comum maior, ele seria igualmente divisor de n, contrariamente à hipótese. • Assim, pode determinar-se o mdc de dois números através da determinação do mdc de números cada vez menores. A computação termina quando os números forem iguais, caso em que o mdc é esse número. • Por exemplo: 60 - 36 = 24 ; 36 – 24 = 12; 24 – 12 = 12; 12 = 12 ! 23 Março 2007 % 12 é o mdc de 60 e 36 Recursividade Funções Recursivas. Aleatoriedade e Processos de Monte Carlo 9 Máximo Divisor Comum (Função Recursiva) • Em Octave, pode determinar-se o maior divisor comum de dois números com a função seguinte function d = mdc(m,n); if m == n d = m; elseif m > n d = mdc(m-n,n); else d = mdc(n-m,m); endif; endfunction; • De notar que antes da chamada recursiva deve ser verificado qual o maior dos argumentos de entrada (para não se chamar a função com argumentos negativos!) 23 Março 2007 Recursividade Funções Recursivas. Aleatoriedade e Processos de Monte Carlo 10 Recursão e Iteração • Uma função definida recursivamente pode ser igualmente definida de uma forma iterativa (através de ciclos). Em geral, a definição recursiva é mais “declarativa” na medida em que explicita o que se pretende obter e não a forma como se obtém (ou seja, um determinado programa que é usado). • Por outro lado, uma definição iterativa, embora não permita uma compreensão tão imediata, é geralmente mais eficiente, já que as instruções de programação de baixo nível para a iteração são mais eficientes que as de chamadas de funções. function f = fact_ite(n); f = 1; for i = n:-1:1 f = f * i; endif; endfunction; • function f = fact_rec(n); if n == 1 f = 1 else f = n * fact_rec(n-1); endif; endfunction; No entanto, estas diferenças são geralmente pouco importantes, excepto em casos de recursão múltipla, em que a ineficiência pode ser “catastrófica”. 23 Março 2007 Recursividade Funções Recursivas. Aleatoriedade e Processos de Monte Carlo 11 Recursão e Iteração • Esta é a situação da função de Fibonacci, em que o seu valor depende de 2 chamadas recursivas. Como as chamadas são independentes, a mesma função acaba por ser recalculada várias (mu...uitas !) vezes. • Na realidade, o número de funções chamadas é o próprio número de fibonacci (7/1, 6/1, 5/2, 4/3, 3/5, 2/8) que aumenta exponencialmente com o valor de n. 7 5 6 5 4 3 2 1 23 Março 2007 3 3 2 4 4 2 1 2 3 2 1 2 3 2 2 1 1 function f = fib(n); if n <= 2 f = 1 else f = fib(n-1)+fib(n-2); endif; endfunction; Recursividade Funções Recursivas. Aleatoriedade e Processos de Monte Carlo 12 Recursão e Iteração • Para se ter uma ideia do aumento, podemos notar que apesar de inicialmente pequenos n fib(n) 1 1 2 1 3 2 4 3 5 5 6 8 7 13 8 21 9 34 10 55 11 89 os números tornam-se rapidamente “grandes” !!! n fib(n) 26 121 393 27 196 418 28 317 811 29 514 229 30 832 040 31 1 346 269 32 2 178 309 ou mesmo “enormes” !!! n fib(n) 46 1 836 311 903 47 2 971 215 073 48 4 807 526 976 49 7 778 742 049 50 12 586 269 025 tornando proibitiva a sua computação recursiva (normal). 23 Março 2007 Recursividade Funções Recursivas. Aleatoriedade e Processos de Monte Carlo 13 Memorização • Por vezes é possível aliar a declaratividade da versão recursiva, com a eficiência da versão iterativa, através da memorização dos valores já computados. Por exemplo se se pretenderem os primeiros 100 números de fibonacci, pode criar-se um vector, fib_vec, com os valores já determinados. – Se fib_vec(n) ainda não contiver o valor de fib(n), então determina-se fib(n) e regista-se esse valor em fib_vec(n). – Caso contrário, retorna-se simplesmente o valor de fib_vec(n). • Para que este esquema seja posível, é necessário que a tabela fib_m seja visível por todas as instâncias da função fib(n). Para evitar passá-la como parâmetro deve declarar-se como uma variável global. • Em Octave, para que uma variável seja global, ela deve ser declarada no programa principal com a declaração global. No caso actual, se se pretende um vector linha com 100 elementos inicializados a zero, devemos declarar a variável global global fib_vec = zeros(1,100) 23 Março 2007 Recursividade Funções Recursivas. Aleatoriedade e Processos de Monte Carlo 14 Memorização • Uma vez declarada uma variável global, ela só pode ser eliminada através da declaração clear. Se pretendermos um vector com 200 elementos deveremos fazer clear fib_vec global fib_vec = zeros(1,200) • Para que na função a variável, fib_vec considerada seja a variável global e não uma variável local, a variável deve ser identificada novamente como global. function f = fib_mem(n); % versão recursiva com memória global fib_vec; if fib_vec(n) == 0 % se o valor ainda não foi calculado if n <= 2 % determina esse valor ... fib_vec(n) = 1; else fib_vec(n) = fib_mem(n-1)+fib_mem(n-2); endif endif; f = fib_vec(n); % e atribui o valor memorizado à função endfunction; 23 Março 2007 Recursividade Funções Recursivas. Aleatoriedade e Processos de Monte Carlo 15 Aleatoriedade • Em muitas aplicações informáticas, nomeadamente em simulações que utilizam processos aleatórios ou estocásticos, muito utilizadas em engenharia. • Um processo aleatório é aquele cujo resultado não é conhecido com rigor, mas que obedece a uma distribuição de probabilidades. • Por exemplo, no lançamento de uma moeda ao ar, não se conhece o resultado a priori, mas, se a moeda não estiver viviada, assume-se que cerca de 50% das vezes sai cara, enquanto que nas outras cerca de 50% de vezes sai coroa. Já o número de vezes que no lançamento de um dado sai um “2” é de 1/6 (ou 16.66%). • Tais processos podem ser simulados com recurso a números (pseudo-) aleatórios, conhecidos como processos ou simulações de Monte Carlo. • Estes números são obtido por um gerador de números aleatórios, que no caso do Octave é invocado pela função pre-definida rand(), ou simplesmente rand. • Esta função retorna um número aleatório entre no intervalo [0, 1[ de cada vez que é invocada. 23 Março 2007 Recursividade Funções Recursivas. Aleatoriedade e Processos de Monte Carlo 16 Exemplos: Moeda ao ar e Lançamento de um Dado • Por exemplo o processo de n lançamentos de uma moeda ao ar, em que 1 significa caras e 2 significa coroas, pode ser simulado pela função function L = moeda(n); for i = 1:n if rand > 0.5 L(i) = 1 else L(i) = 2 endif end for endfunction • Já o lançamento de uma dados pode ser simulado pela função function L = dado(n); for i = 1:n r = rand; if r < 1/6 elseif r < 2/6 ... elseif r < 5/6 else endif end for endfunction 23 Março 2007 L(i) = 1; L(i) = 2; L(i) = 5 L(i) = 6 Recursividade Funções Recursivas. Aleatoriedade e Processos de Monte Carlo 17 Exemplos: Moeda ao ar e Lançamento de um Dado • Na realidade, para grandes números a frequência aproxima-se da probabilidade, isto é, se lançarmos 10 vezes uma moeda ao ar, o número de caras deve ser próximo de 5, pois a probabilidade de sair caras é ½ e ½ *10 = 5. • Em geral a frequência de ocorrrência de um valor aleatório aproxima-se da sua probabilidade para grandes valores de n. Mais formalmente, denotando por – p(X=a) ou simplesmente pa, a probabilidade de um evento X tomar o valor A; – n o número de eventos e – ea o valor esperado do número de ocorrências de X=a – fa o número efectivo de ocorrências de X=a temos ea = n*pa ; e fa ≈ ea, devendo o erro relativo (n) = ( fa – ea)/ n diminuir com o aumento do número de eventos. 23 Março 2007 Recursividade Funções Recursivas. Aleatoriedade e Processos de Monte Carlo 18 Passeio Aleatório Exemplo: Uma pessoa pretende percorrer um passeio entre as duas vias de uma estrada, em que começando no centro do passeio, pode guinar até k vezes para a direita ou a esquerda antes de sair do passeio e ser atropelada. Estando “bêbada”, em cada passo que dá tem uma probabilidade de 50% de guinar para a direita .e outra igual de guinar para a esquerda. Sabendo-se que deverá dar n passos, qual a probabilidade de chegar ao fim da estrada sem sair do passeio? • Para resolver este problema, basta utilizar a função passeio, que para um número total de percursos de n passos num passeio que admite k desvios, conta o número na de “atropelamentos”. function p = passeio(n,k,total); na = 0; for i = 1:total na = na + atropelado(n,k); endfor p = na/total endfunction • Naturalmente a função passeio utiliza uma função atropelado que deve retornar 1 se houver atropelamento e 0 no caso contrário. 23 Março 2007 Recursividade Funções Recursivas. Aleatoriedade e Processos de Monte Carlo 19 Passeio Aleatório • Para a função atropelado, vamos considerar uma variável desvio, que começa em 0 e vai acumulando os desvios para a direita e para a esquerda. • Se conseguir chegar ao fim do ciclo for sem atingir um desvio, em módulo, maior que k, a função retorna 0. • De notar que logo que o desvio seja maior que k, a função pode retornar imediatamente o valor 1, saindo do ciclo for com a instrução de excepção return. function p = atropelado(n,k); p = 0; desvio = 0; for i = 1:n if rand > 0.5 d = 1; else d = -1; endif; desvio = desvio + d; if abs(desvio) > k p = 1; return; endif endfor endfunction 23 Março 2007 Recursividade Funções Recursivas. Aleatoriedade e Processos de Monte Carlo 20 Área de uma Curva • Os numeros aleatórios também podem ser utilizados na determinação aproximada de áreas. O raciocínio é o seguinte: 1. Contornemos a área a determinar A, por uma área conhecida, B 2. Consideremos um conjunto aleatório de pontos na área conhecida, e contabilizar a percentagem p de pontos que “cai” dentro da área a determinar. 3. A área A pode ser aproximada por A ≈ pB . • Exemplo: f ( x) 1 x 2 1 B 1. Calculemos a área do ¼ de circulo de raio 1 ao lado. 2. A área B é naturalmente de 1 A 3. A área do ¼ de circulo deve ser próxima de /4 1 • Falta determinar a forma de gerar pontos aleatórios no quadrado, o que se pode fazer facilmente gerando x e y aleatórios no intervalo [0,1[ e verificando se ficam abaixo da função y = sqrt(1-x2) 23 Março 2007 Recursividade Funções Recursivas. Aleatoriedade e Processos de Monte Carlo 21 Área de uma Curva • Este algoritmo está implementado na função pi_prob abaixo indicada. – O ciclo for gera n pontos <x,y>, – Destes n pontos , c estão abaixo da curva do ¼ círculo. – A área do ¼ de círculo é a fracção c/n da área do quadrado (1*1) – O valor de pi é 4 vezes a área function p = pi_prob(); c = 0; for i = 1:n; x = rand(); y = rand(); if y < sqrt(1-x^2) c = c+1; endif endfor area = (1*1)* c/n; p = 4*area; endfunction 23 Março 2007 f ( x) 1 x 2 1 B A Recursividade Funções Recursivas. Aleatoriedade e Processos de Monte Carlo 1 22