Escola Bíblica Dominical, 24.07.2011, Missão Batista Vida Nova. Por: Pr Luciano R. Peterlevitz 1 Título do livro “Eclesiastes”, palavra de origem grega, relacionada com ekklesia, “assembléia”. No hebraico: Qohelet (Coelét), que tem o mesmo sentido do termo grego: “orador”, “pregador”. Esta palavra hebraica origina-se de qahal, “reunir, congregar”. É provável que Qohelet signifique “aquele que reúne”, e, portanto, o Qohelet seria alguém que reuniu alunos para aprender; reuniu ditos e reflexões, contidos no livro. 2 Autoria e data Supostamente escrito por Salomão. Mas: ... não é impossível que Salomão seja Qohelet, mas as evidências opostas são suficientes para gerar dúvidas. Como as Escrituras não comentam o assunto, não podemos identificar Qohelet com certeza. HILL, Andrew E. & WALTON, J.H. Panorama do Antigo Testamento, p.402. Provavelmente Eclesiastes foi escrito no período helênico (cerca de 300 – 200 a.C), quando a Palestina passou a ser governada pelos Ptolomeus, que exploravam o país mediante a exigência de pagamentos tributários. Neste caso, os mais prejudicados seriam os pequenos fazendeiros. Para Lasor, Hubbart e Bush, a identificação de Coélet com Salomão não objetiva enganar seus leitores, antes, produz um efeito literário. Assim, “Parece que o nosso autor seguiu a prática comum de se identificar com alguma pessoa importante para acrescentar peso ao seu argumento”. Donald C. Fleming. 3. A decepção do Coelét como possibilidade de uma nova esperança. A canonicidade de Eclesiastes foi questionada por uma das vertentes da antiga tradição judaica, a escola de Shammai. O pessimismo e o humanismo foram notados no livro, não só por esta escola judaica, mas também por vários cristãos dos primeiros séculos da Igreja. Mas as contradições encontradas no livro podem muito bem servir ao propósito do Coélet. É que ele utilizou-se de um estilo dialético, onde se faz uma afirmação e em seguida se contesta a mesma; justapõe-se o positivo e o negativo. Dois exemplos: 1) Em 2.13-14a fala-se da vantagem da sabedoria sobre a insensatez, mas em seguida, nos v. 14b-15, contesta-se tal vantagem: “o sábio morre como o insensato” (v.16). 2) Em 3.12-13, Coélet exorta seus leitores a regozijar-se com a bondade da criação, desfrutando do trabalho, mas, em contraposição, ele já havia afirmado que o homem é incapaz de reter ou possuir qualquer lucro dos seus trabalhos (1.3, 14; 2.21). Qual a função teológica/pedagógica de tais contradições ou pessimismos? A decepção e a esperança do Coelét a partir de 1.4-7. Da efemeridade (1.2-3), o Coélet passa à monotonia cósmica (1.5-7), que reproduz ou explica a monotonia de todas as coisas (v.4, 8-11). O ritmo cíclico da criação é observado: o sol que nasce e se põe, repetidamente; o vento que sopra e depois retorna ao seu ponto de partida; os rios que sempre correm para o mar, sem encher o mar. Tudo isso causa estranheza para o Coélet (v.8), levando-o à seguinte afirmativa: “O que foi será, e o que se fez, se fará novamente; não há nada de novo debaixo do sol.” (v.9). Esse ciclo repetitivo dos elementos naturais aponta à ilusão das conquistas humanas, pois, assim como para a natureza, há um destino (morte) marcado para a humanidade (2.14; 5.16; 9.3). Em 1.4-7 o Coelét apresenta a ordem na natureza que pode equivocadamente fundamentar uma ordem opressora na sociedade. Por isso, ao longo do livro, sua dúvida e pessimismo apresentam-se como tentativa de sabotar uma ordem estabelecida por aqueles que detém um poder opressor. Já que debaixo do sol nada muda, todo o ciclo da natureza é imutável (1.4-7), então será que a opressão existente debaixo do sol seria imutável (cf. 3.16; 4.1)? A decepção surge a partir do determinismo histórico (exemplo: o pobre está destinado a ser pobre). Mas a esperança surge a partir da possibilidade de reverter o quadro social, duvidando-se daquilo que alguém determinou. A dúvida e o pessimismo, neste caso, são um trampolim para se construir a esperança de uma vida melhor. A efemeridade da vida e a ilusão do trabalho 1.4-7: nada muda. Mas, em 1.2-3: tudo passa. 1.2: “vaidade das vaidades”. Hebraico hébel significa sopro, o que não tem substância, o vazio o oco, o nada. “Vaidade”: é o termo chave do livro; aparece do início (1.2) ao fim (12.8); alude às coisas ilusórias, que ao invés de conferir significado à vida, proporciona decepção. A ilusão do trabalho opressor: para o Coélet, o trabalho é bem melhor traduzido por opressão e ilusão (2.18-22, 24, 26; 3.10, 13; 4.4, 6, 8; 5.12, 16, 18, 19; 8.16-17; 10.15). O termo hebraico ‘amal, “trabalho”, também pode ser traduzido por “fadiga”, ou “trabalho árduo”. Sobre esta palavra, a Bíblia de Jerusalém comenta: “evoca, a maioria das vezes, trabalho penoso semelhante ao do escravo (cf. Dt 26.7), donde a fatiga, o sofrimento”. Portanto, o pessimismo do Coelét em relação à vida é uma tentativa de sabotar uma ordem que se sustém pela efetivação do trabalho opressor. Esse é o grande tema do Coelét: a história não é determinista; a história é um tempo de possibilidades; a história apresenta-se como oportunidade para se reescrever histórias de vidas. Portanto, mesmo em meio às decepções, podem-se vislumbrar novas esperanças. Textos marcantes: 3.9: Que proveito tem o trabalhador naquilo com que se afadiga? 4.1: Vi ainda todas as opressões que se fazem debaixo do sol: vi as lágrimas dos que foram oprimidos, sem que ninguém os consolasse; vi a violência na mão dos opressores, sem que ninguém consolasse os oprimidos. 5.9a: O proveito da terra é para todos. 7.10: Jamais digas: Por que foram os dias passados melhores do que estes? Pois não é sábio perguntar assim. 8.9b: Há épocas em que um homem tem domínio sobre outro para arruiná-lo. 12.13: De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem.