Três alegorias bíblicas missionárias O pastor, o pescador e semeador Pe Rafael Lopez Villasenor A missão brota de Deus A missão tem a sua raiz na atração de Deus. É do Deus amor que brota a missão, deste modo, a natureza missionária da Igreja está em Deus. A missão, que nasce de Deus, precede a Igreja que nasce do envio trinitário. Portanto, a Igreja não tem uma missão, ela é própria missão. As raízes da natureza missionária da Igreja encontram na essência de Deus, não faz sentido distinguir ‘atividades missionárias' de atividades que quase clandestinamente se emanciparam de Deus sem serem atividades missionárias. “A atividade missionária entre as nações se distingue da ação pastoral exercida entre os fiéis e das iniciativas empreendidas para restaurar a unidade dos cristãos (...), porém, que tanto a ação pastoral como a ação ecumênica estão intimamente ligadas ao esforço missionário da Igreja" (AG 6). O missionário Pastor A alegoria do missionário pastor nos remete para a parábola do Bom Pastor (Jo 10, 1-6). Os pastores eram donos de um punhado de ovelhas, as conheciam pelo nome e características, reuniam, à noitinha, num único curral, suas criações. O curral era cercado por uma taipa de pedras, com uma porta, onde ficava o vigia noturno. De manhã, cada pastor se apresentava, chamava as ovelhas pelo nome; estas reconheciam a voz do seu pastor e saíam. Cada um deles caminhava à frente delas, conduzindo-as às pastagens. A parábola contrapõe o pastor e o ladrão assaltante. O ladrão pula o muro para roubar, o pastor entra pela porta. As intenções e ações do pastor e do ladrão são diametralmente opostas entre si. A atividade do pastor consiste em chamar, conduzir para fora e caminhar à frente. A porta é o lugar da entrada e da saída. Entra-se em casa para se ter segurança, sai-se dela para a liberdade. Jesus é a porta, ponto de referência para tudo o que o ser humano sonha e realiza. Entrar por ela é salvar-se, pois é aderir a ele, fugindo da morte. Sair dessa porta é caminhar para a liberdade, ao encontro da vida ou pastagens. O missionário Pastor O pastor vive dos produtos do rebanho. Usufrui dos bens como lã, leite e carne A prática de Jesus mostra que ele jamais se serviu do povo, explorando-o, pelo contrário, ele se tornou o próprio alimento e força do seu povo, na conquista de sua liberdade. A delimitação do espaço em seu próprio território indica que essa missão permanece de caráter pastoral: é uma missão no redil, que se baseia numa relação pessoal, íntima, com seus destinatários. O Bom Pastor "chama", as ovelhas "ouvem a sua voz", ele as conhece pelo nome, as acompanha fora do redil, caminha à frente delas, corre atrás delas quando se perdem, dá a vida por elas e ao mesmo tempo tem uma preocupação quase maternal com outras ovelhas que "não são deste aprisco" (cf. Jo 10,1-18). Jesus tem compaixão do povo por serem ovelhas sem pastor (Mt 9, 36). O missionário ao ter compaixão demonstra ser o verdadeiro pastor, que age com a compaixão própria de Deus para com o povo. Ter compaixão significa "sofrer junto" com o povo. O missionário Pastor O missionário Pastor “vai ao encontro dos afastados, interessa-se por sua situação, a fim de reencantá-los com a Igreja e convidá-los a novamente se envolverem com ela" (DA 226). Vai ao encontro dos católicos afastados, que não professam a fé, pois seriam os mais vulneráveis ao proselitismo (Cf EG 24). A alegria do Pastor é encontrar a ovelha perdida e a reintegra no rebanho. (Cf EG 237). Ao missionário pastor cabe o esforço da retomada da missão, do mandato de anunciar o Evangelho através da "missão continental" para que cada cristão se comprometa a ser discípulo e missionário (DAp 362), de uma Igreja em estado permanente de missão (DAp 144). Passando de pessoa a pessoa, de casa em casa, de comunidade a comunidade. O projeto do missionário pastor é uma proposta de missão ad intra, isto é, para dentro da igreja, preocupado em manter as ovelhas no próprio curral. O perigo deste modelo é esquecer a missão ad gentes, fora de sua casa e de seus quintais. O missionário Pescador O missionário pescador que lança as redes. Jesus convida: "Sigam-me, e eu farei de vocês pescadores de homens". Os discípulos deixam suas atividades e o pai (Mt 4, 1922) e seguem a Jesus. O chamado tem como objetivo atrair as pessoas a Jesus, serem pescadores de homens. Os discípulos deixam tudo, a única coisa que possuem e levam consigo é a fraternidade que deverá alargar os horizontes estreitos da família. O estado de uma Igreja em situação de missão ad gentes pode ser associada à figura evangélica do pescador. O pescador não exerce sua profissão em alto mar. A pesca depende do acaso, da sorte, e está sujeita a todo tipo de imprevistos e de riscos. É uma missão na qual a Igreja descobre sua verdadeira vocação em deixar-se conduzir somente pela Palavra. A missão ad gentes é uma atividade marcada pela pura fé. O missionário Pescador O missionário pescador não deve trabalhar apenas para uma Igreja voltada para si mesma, ad intra, mas estar também presente nas decisões do mundo, ad extra. A missão deve estar voltada também para os "novos areópagos". Nessa arena estão o mundo da mídia, dos construtores da paz, dos que lutam pelo desenvolvimento e libertação dos povos, sobretudo das minorias, pela promoção da mulher e das crianças, pela ecologia e proteção da natureza. Incluem também os areópagos da cultura, dos experimentos científicos, das relações internacionais (Cf DAp 491). Os discípulos missionários são chamados a fazer outros discípulos missionários, isto é, a lançar as redes. É a missão universal, sem fronteiras no alto mar, é "ir onde a Igreja ainda não está presente" (DAp 376). A missão, não é fechada em si mesma, aos adeptos, mas é aberta ao mundo, no envio além-fronteiras. "Aqui descobrimos outra profunda lei da realidade: Que a vida se alcança e amadurece à medida que é entregue para dar vida aos outros. Isso é definitivamente a missão" (DAp 360). É o critério da universalidade, próprio da dinâmica do Evangelho, dado que o Pai quer que todos os homens se salvem. O mandato é: "Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda criatura" (Mc 16, 15), porque toda "a criação se encontra em expectativa ansiosa, aguardando a revelação dos filhos de Deus" (Rm 8, 19). O missionário Semeador O missionário semeador nos remete para a parábola do semeador (Mt 13, 3-9), Jesus é o semeador generoso que não esconde a semente (Palavra). A parábola apresenta forças contrárias que abafam o poder de vida da semente como os pássaros, o terreno pedregoso e os espinhos, mas Jesus é como o experiente lavrador, sabe que, ao semear, um pouco se perde. A explicação do texto (Mt 13, 18-22) desloca a atenção da semente para o tipo de terreno. O primeiro obstáculo do missionário para obter frutos é a superficialidade ou a insensibilidade, pois na estrada de chão batido, onde a semente não nasce; não atingiu a profundidade, ficou só na superfície. O Maligno rouba e leva embora. O segundo obstáculo do missionário são as perseguições. Diante delas surge facilmente o desânimo. São as perseguições "por causa da Palavra e da missão". É o testemunho que provoca conflito e rejeição. O terceiro obstáculo do missionário é caracterizado como "as preocupações do mundo e a ilusão da riqueza". As estruturas políticas e econômicas fascinam e seduzem e têm poder de sufocar, de tornar estéril e ineficaz o poder da missão. O tipo da missão ideal é identificado com o terreno bom que produz frutos abundantes. O missionário Semeador A parábola do joio no meio do trigo (Mt 13, 24-30) mostra que a sociedade é um campo de semeaduras diferentes e contrastantes. O missionário semeador cumpre o dever de semear boa semente: é o discípulo missionário. No meio do terreno cresce também o joio. Isso não é fruto do dualismo absoluto da missão, pois o inimigo também semeia. Apenas a Deus cabe fazer a triagem., que não acontece agora para não correr o perigo de arrancar o trigo junto com o joio pois, quando pequenos, são muito parecidos, mas no momento da espiga, a diferença fica evidente. Ao missionário acabe apenas semear transmitir a mensagem. O missionário Semeador A nova evangelização encontra na figura do semeador uma sua possível alegoria. O lugar não é o redil do Bom Pastor. Agora o "campo é o mundo" (Mt 13,48), lugar aberto, de risco e de insegurança, onde o semeador sai para semear. Ele lança a semente em todo tipo de terreno, mas não é ele rega (cf. 1Cor 3,7) menos ainda aquele que faz crescer (cf. Mc 4,26-29). A ação do missionário semeador é marcada por uma gratuidade radical: ele somente lança a Palavra de Deus, talvez pequena como semente de mostarda (cf. Mc 4,30-32) e não se preocupa nem de arrancar o joio (cf. Mt 13,29). Mas é animado por uma profunda esperança de que algo possa dar fruto. O missionário é o portador das "Sementes do Verbo" (AG, 11), a prepararam o terreno e descobrir os valores presentes na cultura e na vida do povo. As Sementes do Verbo são os valores presentes na justiça, na fraternidade, na vida comunitária, entre outros (Cf EG 68). A missão por atração O discípulo missionário não faz proselitismo. Ele apenas cuida das ovelhas, lança as redes e semeia a palavra através do trabalho missionário, para que os frutos venham por atração. A migração de fiéis para outras denominações e igrejas, assim como a perda do sentido da missão, nos faz admitir, que existe a falta de atratividade missionária da Igreja ou, às vezes, substituída por uma atratividade alienada . A atratividade é a marca registrada do nosso Deus. Por tanto, o essencial da natureza missionária é sua atratividade, em outras palavras, atrair como Deus atrai.