ESCOLA BÍBLICA (Escola da Fé) EVANGELHO SEGUNDO MATEUS EVANGELHO SEGUNDO MATEUS (ler 23,12-36) Cuidado com a hipocrisia religiosa! Agora o ataque é direto contra os teóricos e práticos da religião (23,12-36). É a página mais violenta deste evangelho. Jesus desmascara todos aqueles que se escondem atrás de uma fachada religiosa para enganar o povo com o seu ensinamento teórico ou com a sua prática. É o julgamento dos teólogos e dos "piedosos". O que fazem eles? Ajudam o povo sofrido a se libertar para encontrar a vida, ou o sufocam ainda mais com ideias escravizadoras e práticas que só levam a aniquilação e a morte? Deus quer isso? EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Ou isso representa apenas os interesses de uma classe que se aproveita da ignorância do povo? Temos aqui sete "ais", uma forma de condenar absolutamente qualquer dominação das consciências. É a pior dominação, pois impossibilita que o povo, em "nome de Deus", reaja contra tudo aquilo que diminui ou impede a sua vida. Por a + b Jesus prova que esses intelectuais são cegos que pretendem guiar as pessoas, cegando-as. Eles estão dispostos a observar as coisas mínimas como desculpa para não ver as coisas principais. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Quais são as coisas principais? A justiça, a misericórdia e a fidelidade. Fidelidade a Deus que deseja a justiça e a misericórdia para com o próximo. Não adianta agradar a Deus. Ele quer que agrademos ao próximo, e não com o que gostamos de fazer, mas em fazer aquilo de que o próximo precisa. Deus é Pai. Qual pai não deseja que os filhos se ajudem entre si? Sepulcros caiados. Não adiante querer esconder cadáveres no porão, porque eles acabam cheirando mal e desmentindo a fachada de justiça dos EVANGELHO SEGUNDO MATEUS pretensos "justos". Não são estes que acabam matando os verdadeiros profetas e justos que advogam a causa do povo? As cobras venenosas são bonitas, mas são venenosas! Cuidado com elas! O julgamento é duro: "Virá sobre vocês todo o sangue justo derramado sobre a terra". Por quê? Porque são as ideias, e principalmente as religiosas, que produzem tantos mortos na história. Ora, Deus só quer a vida. Precisamos estar atentos para não construir a nossa vida sobre a morte dos outros. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Aí de ti, minha cidade! (ler 23,37-39) Jerusalém era a cidade de Davi, a cidade de Deus e, por isso mesmo, a cidade do povo, todos os filhos de Deus. Termina agora o grande confronto de Jesus com a cidade e tudo o que se esconde por baixo dela (23,37-39). O panorama é sombrio: a cidade não vai se converter e cometerá o supremo crime: prenderá, condenará, torturará e assassinará aquele que a libertaria das ilusões que criam a prisão e a morte de todo um povo. Jesus se compara com uma galinhachoca: ele quis reunir os pintinhos no calor e na EVANGELHO SEGUNDO MATEUS proteção de suas asas, mas o povo não aceitou. O povo? Ou todos aqueles que impedem o povo de abrir os olhos e enxergar a sua libertação para a vida? Qual o futuro da cidade? Jesus deixa claro: "Daqui em diante vocês não me verão mais, até que digam: Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor!" São as mesmas palavras que o povo disse quando Jesus entrou em Jerusalém (21,9). O que significam? Significam que Jesus e o seu projeto são a salvação para a cidade e todo o povo que nela vive. Na cidade EVANGELHO SEGUNDO MATEUS estão concentrados o poder econômico, político, ideológico e religioso. É na mão desses poderes, está o destino do povo. Irão eles conduzir o povo a escravidão e a morte, ou a liberdade e a vida? Tudo depende. A cidade poderá reconhecer em Jesus o Homem que é fiel ao projeto de Deus, levando o povo à vida. Ou não. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Para refletir em grupos 1. Os intelectuais, teóricos e práticos, são importantes na vida do povo. Qual seria a sua missão? 2. Por que as palavras mais violentas de Jesus foram dirigidas contra os intelectuais? 3. O que é principal na religião? 4. O que é viver como um sepulcro caiado? 5. É na cidade que se decide o destino de um povo. Comente isso. 6. Qual é o maior desafio que o Evangelho traz para a cidade? EVANGELHO SEGUNDO MATEUS O TRIUNFO DA JUSTIÇA (I) (Mateus 24) Começa o quinto e último discurso de Jesus neste evangelho, abarcando os capítulos 24 e 25. O discurso é todo voltado para o futuro, tanto próximo como remoto, indicando o fim dos tempos. Depois do grande confronto com as estruturas injustas da cidade que explora e oprime o povo, temos o seu julgamento e sentença. Por trás de Mateus 24 vemos ecoar os acontecimentos que se deram entre os anos EVANGELHO SEGUNDO MATEUS 66 e 70 d.C.: revoltas e batalhas contra os romanos, que culminaram com a tomada de Jerusalém pelos romanos no ano 70 d.C. e a destruição do Templo. O fim do sistema injusto (Ler 24,1-8 ) Mateus 24,1-8 anuncia o fim do centro do judaísmo. Jerusalém era o centro do mundo judaico, e nela o Templo era o centro dos poderes econômicopolítico-sócial-religioso. Jesus sai do Templo, isto é, do sistema, e os discípulos lhe observam a beleza de sua construção. Jesus responde com o julgamento: "Aqui não ficará pedra sobre pedra; tudo será EVANGELHO SEGUNDO MATEUS destruído". Não se referia simplesmente ao fim da construção, mas ao fim do sistema corrupto que dominava o povo. No monte das Oliveiras, de onde se contemplava o panorama de Jerusalém, os discípulos perguntam duas coisas: "Quando vai acontecer isso", ou seja, a destruição do Templo, e "qual será o sinal da tua vinda e do fim do mundo". Jesus responde agora a primeira pergunta, aludindo a sua proximidade. Mas ele deixa bem claro que a tomada de Jerusalém pelos romanos e a destruição do Templo não são o fim do EVANGELHO SEGUNDO MATEUS mundo. São o fim de um mundo. Jerusalém e o Templo eram o símbolo da aliança de Deus com o povo, o lugar concreto das relações com Deus. O fim deles, porém, não significa o fim da aliança ou o fim das relações com Deus. Haverá muitas lutas e dificuldades, mas a relação com Deus continuará. Como? Através das comunidades cristãs que se comprometem com Jesus e o seu projeto de justiça. Os cristãos não precisam se impressionar com os messias nacionalistas que apareceram entre os anos 60-70. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS O fim de uma instituição não significa o fim de tudo. Na história muitas instituições foram deixadas para trás, mas o Reino de Deus continua a sua marcha até a sua completa construção. Continuar o testemunho com coragem Agora Jesus fala diretamente aos discípulos (24,914). O que acontecerá com as comunidades cristãs, depois que Jerusalém for tomada em 70 d.C.? As comunidades se espalharão entre outros povos, igualmente dominados pelos romanos. E viverão em EVANGELHO SEGUNDO MATEUS tribulação, ou seja, em continua perseguição, fria ou quente. Se continuarem a anunciar e a praticar a justiça que Jesus ensinou, atrairão o ódio de todos aqueles que não querem a justiça para não perder seus privilégios. Os da comunidade poderão ficar com medo, e aí aparecerão as traições, as delações, o desânimo e a apostasia. Mas, com tudo isso, o anúncio do Reino da justiça atingirá todos os povos, e então virá o fim. E "quem perseverar até o fim será salvo". Até o fim do que? Certamente o fim da injustiça. Então começará para todos o Reino de Deus. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Não se deixar enganar (ler 24,15-28) Jesus continua falando diretamente aos discípulos (24,15-28), e volta ao tema de 24,1-8. A "abominação da desolação" alude a profanação do Templo pelos romanos, acompanhada pelas situações difíceis desencadeadas em todo o país. Qual a solução? Fugir as pressas, sem voltar para casa e sem apanhar os próprios bens. As mulheres grávidas ou as que amamentam terão dificuldade de correr para as montanhas, lugar seguro de refúgio. E o fenômeno dos tempos de crise são os messias EVANGELHO SEGUNDO MATEUS salvadores, principalmente os líderes políticos que se apresentam com planos que "resolvem tudo". A comunidade precisará ter muito discernimento para avaliar em que realmente consistem esses "planos de salvação". Caso contrário ela será facilmente enganada e deixará o projeto de Jesus. A história e o fim dos tempos (ler 24,29-31) Jesus responde agora a segunda parte da pergunta dos discípulos: quando vai ser o fim do mundo? (24,29-31). Ele, porém, alude apenas ao sinal da sua chegada, e não ao "quando". A queda de Jerusalém EVANGELHO SEGUNDO MATEUS manifesta o julgamento com que Deus condena a injustiça em todas as épocas da história, e essa ação divina se consumará no fim da história, ou, se quisermos, no fim do mundo. O Filho do Homem é o próprio Jesus que, pela morte e ressurreição, testemunhadas pelos seus discípulos, irá reunir todo o povo de Deus (leia Daniel 7,13-14). O fim do mundo da injustiça acontecerá quando os cristãos anunciarem a todos o Reino da justiça. E o que fazer até lá? Ficar atento! EVANGELHO SEGUNDO MATEUS (Ler 24,32-51) O fim de Jerusalém e do Templo não são o fim do mundo. Ainda é preciso anunciar e praticar a justiça, para que todos sejam libertos e tenham a vida. Mas, até lá, o que fazer? (24,32-51). A comunidade deve aprender com a figueira: quando a justiça estiver se fazendo, o Reino de Deus estará perto. A lembrança de Noé traz um passo a mais: não se distraiam com as coisas da vida, esquecendose de que o mais importante é a busca, o anúncio e a prática da justiça. Não sabemos quando chegará o EVANGELHO SEGUNDO MATEUS ladrão, e por isso ficamos acordados, esperando. É preciso permanecer conscientes, porque não sabemos quando Jesus irá pedir contas. O que fazer? A parábola de 24,45-51 ressalta a missão dos responsáveis pelas comunidades cristãs (Jesus está falando para os seus discípulos). Jesus deixou seus delegados para dirigirem as comunidades na prática da justiça. Enquanto esperam por Jesus e pelo Reino de justiça, não podem desanimar ou desacreditar do projeto, entregando-se a prática da injustiça. Pelo contrário, EVANGELHO SEGUNDO MATEUS devem continuar alimentando a comunidade, para que esta tenha forças para continuar firme na busca da justiça. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Para refletir em grupos 1. O Evangelho prevê a destruição total da cidade injusta. Como vemos isso em nossos dias? 2. Hoje existem falsos messias e falsos profetas que prometem a salvação? Onde estão e quais são? 3. Como é que imaginamos o fim do mundo? 4. Por que o fim de um mundo não é o fim do mundo? 5. E a prática da justiça que faz o fim do mundo chegar. Comente isso. 6. Como é que a comunidade cristã pode se desviar da sua missão? EVANGELHO SEGUNDO MATEUS O TRIUNFO DA JUSTIÇA (II) (Mateus 25,1-30) Continua o quinto e último discurso de Jesus no evangelho de Mateus, e o foco da atenção é muito preciso: o que acontecerá depois da queda de Jerusalém e da destruição do Templo? As comunidades que seguem a palavra e a prática de Jesus continuarão ativas na história, até que o Reino de Deus, ou Reino da justiça, se torne inteiramente conhecido a todos. Então virá o fim, isto é, o EVANGELHO SEGUNDO MATEUS julgamento e o estabelecimento do Reino para sempre. Todavia, diante do quê as pessoas serão julgadas? Nossa fantasia costuma galopar a mil... O capítulo 25 de Mateus nos esclarece, libertando-nos de angústias falsas para mostrar o critério do julgamento. Uma festa de casamento (ler 25,1-13) Mateus 25,1-13 nos coloca em clima de festa de casamento na Palestina daquele tempo. Essa festa durava dias, é o momento culminante era o encontro EVANGELHO SEGUNDO MATEUS do noivo com a noiva. Para esse encontro, as amigas da noiva (virgens) ficavam com ela, a espera da vinda ritual do noivo, acompanhado pelos seus amigos. Então se fazia a festa de casamento, selando a união matrimonial. Como a história é contada a partir da casa da noiva, o suspense fica por conta da chegada do noivo. O noivo é claramente Jesus, que chega para unir-se a sua esposa, a comunidade cristã, todas as comunidades. Mas o evangelista nos avisa já de um pormenor. É noite, e metade das amigas da noiva EVANGELHO SEGUNDO MATEUS não teve o bom-senso de levar óleo para as suas lamparinas. O noivo tarda e, no meio da noite, alguém grita de longe ou vem avisar que o noivo está chegando. Estamos sem o óleo da justiça! As amigas todas acordam do cochilo, metade delas com susto: "Estamos sem óleo!" As outras são duras: "Não podemos repartir o nosso com vocês. Vão comprar no mercado!" E lá foram as cinco, pois, como se diz, "quem não tem cabeça tem pernas“. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS O óleo está no centro da história. Que óleo é esse? Aqui voltamos à preocupação do tema central de Mateus: A justiça. O óleo é claramente a prática da justiça. É ela que testemunha o compromisso com Jesus (o noivo): "Que a luz de vocês brilhe diante dos homens, para que eles vejam as boas obras que vocês fazem, e louvem o Pai de vocês que está no céu" (5,16). Sem óleo a lâmpada não se acende, e sem a prática da justiça a humanidade não pode descobrir o seu caminho, caminho que é vontade de Deus e, ao mesmo tempo, a maior aspiração das pessoas. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS "Não conheço vocês!" Agora já é tarde demais. As comunidades imprudentes, que só na última hora descobriram a importância da prática da justiça, suplicam: "Queremos entrar". Mas o noivo (Jesus) é severo: "Não as conheço!" E aí temos o sentido dessa parábola: "Fiquem vigiando, pois vocês não sabem qual será o dia, nem a hora". Em outras palavras, pratiquem A justiça, para não serem pegas de surpresa... EVANGELHO SEGUNDO MATEUS (ler 25,14-30) Responsabilidade conforme a capacidade A parábola dos talentos (25,14-30) continua o tema. Como é que cada um pode colaborar com o Reino de Deus, o Reino da justiça que reverterá em bem para todos? Um proprietário (quem é ele?), antes de viajar, deixa seus bens aos empregados. Não diz o que devem fazer. Mas, curiosamente, ele sabe do que cada um deles é capaz, pois confia a cada um "de acordo com a própria capacidade". E o que ele confia não é pouco: um talento equivalia a 34 quilos de ouro! EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Mesmo o que recebe um só não pode reclamar, pois já recebeu muito. Mais do que imaginamos Já se falou que os talentos só os nossos talentos, nossas capacidades ou aptidões ou nossos valores. Mas o problema é: o que fazemos com as nossas capacidades e valores, que foram dados por Deus? Nós os colocamos a serviço da justiça, da liberdade e da vida, ou a serviço da injustiça, da escravidão e da morte, para nós e para os outros? Muitos seriam EVANGELHO SEGUNDO MATEUS tentados a dizer, como o empregado que recebeu um talento: "Ah, eu não posso nada! Então não faço nada". Boa desculpa, a mesma que muitos dão a vida inteira: "É, a vida é dura mesmo, mas eu não posso fazer nada..." Não pode mesmo? O acerto de contas A parábola caminha para o final, onde ela adquire todo o seu sentido. Assistimos pouco a pouco ao acerto de contas, até que chega diante do patrão o empregado que recebera um talento. E o que vemos? EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Ele não tem nada a apresentar, a não ser desculpas esfarrapadas. Ele sabia muito bem que o patrão é exigente, ou melhor, que o patrão entrega as sementes para que nós as plantemos e elas se transformem em árvores e dêem muitos frutos. Mas ele não fez nada, e então recebe um duro castigo: "fora" e "escuridão", com "ranger de dentes", é a forma figurada de falar de uma vida que perdeu completamente o sentido. Mas toda vida criada por Deus tem um sentido. Malditos somos nós que perdemos o sentido e esbanjamos a vida que recebemos. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Não podemos nada? Não importa se recebemos muito ou pouco. Aliás, não existe muito ou pouco quando se fala das possibilidades que cada um tem. Existem, sim, as possibilidades de cada um, suas aptidões, capacidades e valores. Comparar-se com outros e tortura chinesa. O que importa é que cada um coloque o que é e o que tem a serviço do Reino da justiça. O pouco que cada um pode fazer é importante para todos e, se não for feito, algo ficará faltando. Deus não dá uma provação acima das EVANGELHO SEGUNDO MATEUS nossas forças, nem uma missão que supere a nossa capacidade. Se não realizarmos a nossa tarefa, por inútil que ela pareça, aí sim é que seremos considerados inúteis! EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Para refletir em grupos 1. Estamos caminhando para uma grande festa. Estamos com as lâmpadas preparadas para iluminála? Como fazer essa preparação? 2. Se não praticamos a justiça, Jesus não nos reconhece. O que significa isso? 3. Cada um de nós recebeu uma missão relacionada com a justiça, e segundo a própria capacidade. Como a estamos realizando? 4. Deus aceita desculpas? Quais são as nossas desculpas? 5. Existe alguém que é inútil para o Reino de Deus?