ESCOLA BÍBLICA (ESCOLA DA FÉ) Evangelho segundo Mateus EVANGELHO SEGUNDO MATEUS "Pobres em espírito". Por quê? Mateus sabe muito bem que existem pobres que tem espírito de rico. São todos aqueles que, iludidos, pensam que serão felizes quando forem ricos, quando ganharem na loteria ou conseguirem um negócio bem lucrativo. O psicólogo Carl Gustav Jung dizia que atrás de cada rico existe um demônio, e atrás de cada pobre existem dois. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS De fato, não há nada pior que um pobre com espírito de rico. Esse tipo de pobre, quando se liberta, fica pior que os ricos que ele próprio combateu. O pobre, portanto, deve primeiro se converter, deixando para trás as ilusões do poder e da riqueza. Deve aprender a escolher a pobreza, que é a verdadeira condição do homem diante de Deus. Deus é rico. Certo. Mas dá tudo o que tem para ser repartido entre todos nós. Ele é poderoso. Certo. Mas entrega o governo do mundo e da história para todos nós, para que, juntos, constru- EVANGELHO SEGUNDO MATEUS amos o futuro da vida. Essa é a justiça. Aprendendo a repartir a liberdade e a vida é que iremos construir o Reino de Deus, que é liberdade e vida para todos. Deus quer isso. E nós também. Só falta nos decidirmos e colocar nossas mãos em ação. ... porque os pobres são o sal e a luz do mundo? EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Os pobres precisam da justiça para viver. Se não lutarem pela justiça, não haverá esperança para ninguém, pois aí os ricos e poderosos não perderão suas ilusões, e os pobres estarão cada vez mais perdidos. Por isso o pobre é o sal e a luz do mundo (5,1315). É através dele que o projeto de Deus pode se realizar. Mas é preciso manter a qualidade do sal e não esconder a luz. E Mateus é ousado. O discípulo João diz que "Deus é luz" (1João 1,5) e Jesus é a luz do mundo (João 8,12). Mateus diz que aqueles EVANGELHO SEGUNDO MATEUS que se comprometem com Deus e Jesus são a luz. É Deus que brilha através deles. Para a glória do Pai Os pobres, quando convertidos para a pobreza, que é a verdadeira condição da humanidade diante de Deus tornam-se o farol que ilumina o caminho da história e o cimento que constrói uma sociedade verdadeiramente justa e fraterna. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Lastimável seria se, depois de toda a luta, os pobres se tornássemos ricos e poderosos, donos do mundo e da verdade. O que teríamos seria apenas uma repetição da injustiça que antes se havia combatido e, agora, talvez muito pior. Não. Os que escolhem ser pobres deverão ter outro espírito. Jesus deixa bem claro: "Que a luz de vocês brilhe diante dos homens, para que eles vejam as boas obras que vocês fazem, e louvem o Pai de vocês que está no céu!" (5,16). A luta pela justiça, que EVANGELHO SEGUNDO MATEUS é o Reino de Deus, não pode ser entortada para servir aos nossos caprichos egoístas, mas para servir ao Deus que entrega sua vida e seu poder para todos nós. Cabe a nós repartir essa infinita riqueza entre todos nós. E aí veremos a beleza que é a vida. E como Deus e justo. Essa é a sua bondade. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS PARA REFLETIR EM GRUPOS 1. Por que o Reino de Deus é dos pobres? 2. Os pobres precisam primeiro se converter, para depois se tornarem agentes da justiça. Por quê? 3. De que modo a nossa comunidade pode salgar e iluminar a sociedade em que vivemos? O que é preciso para que a comunidade não se torne insossa e não se apague? EVANGELHO SEGUNDO MATEUS 4. Somos instrumentos de Deus. Como podemos ser bons instrumentos? E como fazer, para que isso fique bem claro para todos? Trabalhamos para nós ou para Deus? EVANGELHO SEGUNDO MATEUS A PERFEIÇÃO DA JUSTIÇA (Mateus 5,17-48) Depois de proclamar que o Reino de Deus é dos pobres, e que os pobres são os agentes de Deus para levar o Reino a todos, Jesus mostra que o Reino é a justiça de Deus, muito mais exigente do que a justiça que os homens praticam. Somente a perfeição da justiça pode trazer liberdade e vida para todos. Nada de pieguice. O Reino de Deus exige luta e enfrentamento de conflitos, e o modelo é a integridade do Pai. Devemos ser inteiros assim como ele é inteiro. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS A justiça maior... A proclamação de que o Reino é dos pobres pode assustar muita gente, principalmente os que pensam que a riqueza e o poder são as melhores coisas do mundo, esquecendo-se que essas coisas é que criam os maiores problemas para todos. O Antigo Testamento (Lei e Profetas) prometia o reinado de Deus, que traria bem-estar, prosperidade e felicidade para todos. E Jesus explica que é através dos pobres que esse Reino vai se EVANGELHO SEGUNDO MATEUS realizar. Nada do que foi prometido ficará sem se cumprir. Mas é preciso compreender muito bem que o Reino vem pela prática da justiça que Deus quer. Que justiça é essa? (5,17-20) Um dos centros do Sermão da Montanha é 5,20: "Se a justiça de vocês não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, vocês não entrarão no Reino do Céu". EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Os doutores da Lei ou escribas eram os intelectuais, donos do saber, que interpretavam a BÍBLIA para os outros. Sabiam muito bem o que se devia fazer, mas não o faziam e nem sempre ensinavam aos outros o que Deus pedia. Uma forma de conservar o poder: ocultar. Os fariseus se consideravam perfeitos e criticavam todo mundo, em vez de se solidarizar com o povo sofrido, ajudando-o na luta. Doutores da Lei e fariseus eram pessoas esclarecidas, mas que não saiam da acomodação para ajudar na luta do povo. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Jesus exige a justiça maior. E os pobres precisam aprender o que é essa justiça, a fim de dirigir a história para a realização do mundo novo, que Deus e a humanidade querem, onde todos poderão ter liberdade e vida. Não basta saber. É preciso praticar. Não basta fazer de conta. É preciso ser eficiente, entregando a forca que se tem para que o povo construa o Reino junto com Deus, para o bem de todos. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS ...exige compreensão profunda... Para explicar o que é a justiça maior, Jesus retoma algumas exigências da Lei (5,21-42). Não é uma coisa exaustiva, mas apenas alguns exemplos. Isso para mostrar que o senso de justiça não se apega a algumas regras escritas e acabou. Nossa mania é que sempre imaginamos ficar livres depois de cumprir as prescrições. Livres para o que? Temos muitas fantasias sobre o que podemos fazer depois de cumprir as leis. Prova de que EVANGELHO SEGUNDO MATEUS não compreendemos as próprias leis. Será que elas são uma restrição ou, ao contrário, um estímulo para a nossa liberdade? O ato de matar começa com o ressentimento e a raiva. É preciso cortá-los pela raiz, resolvendo o ódio que pode levar até ao assassinato. O adultério começa com o olhar cobiçoso, com os planos para arrebatar a mulher do próximo. É preciso resolver isso pela base. Também é preciso ser veraz. Para que ficar jurando e prometendo, e depois violar o juramento e não cumprir as EVANGELHO SEGUNDO MATEUS promessas feitas? Melhor dizer sim ou não, e ser coerente. A incoerência é apenas um dos modos de tapear os outros. Coisa diabólica. E como lidar com a violência? Com uma violência maior. Dar a outra face para quem já bateu numa delas não é prova de fraqueza, mas de uma forca tão grande que desarma o adversário. Usar as armas do adversário é um modo de nunca acabar a briga... O senso de justiça não se apega simplesmente a uma regra ou norma escrita. Pelo contrário, vai até o fundo dela e se EVANGELHO SEGUNDO MATEUS transforma em discernimento que em cada situação dita um ato novo, capaz de encaminhar a liberdade e a vida. A justiça que Jesus exige dos pobres que se comprometem com ele é esse discernimento que é profundamente as situações, e em todas elas gera um ato libertador. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS ... porque justiça é integridade O último exemplo dado por Mateus é o do amor aos inimigos (5,43-48). Em nenhum lugar da BÍBLIA iremos encontrar a afirmação de que devemos odiar os nossos inimigos. Isso é uma interpretação "natural" que fazemos: o inimigo é perigoso para o que pensamos, falamos e vivemos – logo, devemos odiá-lo. Contudo, fica sempre o desafio: o inimigo, ou quem quer que vejamos como inimigo está aí, bem na nossa frente, vivendo EVANGELHO SEGUNDO MATEUS como nós. E o que fazer? Mandá-lo pelos ares seria a solução mais cômoda e fácil. Mas isso é justiça? Deus manda o sol e a chuva sobre justos e injustos, sobre amigos e inimigos. Eis a questão. E nós, o que faremos diante disso? Somos imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1,26-27). E somos filhos dele. Tal pai, tal filho. O maior desafio e compreendermos aquilo que Deus diz através do profeta Ezequiel: "Eu não tenho prazer na morte de ninguém... Convertam-se e terão a vida" (Ez 18,32). EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Amar os inimigos acaba com qualquer romantismo e, ao mesmo tempo, mostra que o amor é capacidade de se relacionar com conflitos aparentemente insolúveis. A perfeição do Pai é suportar amigos e inimigos. Aliás, a palavra grega teleios, em geral traduzida por perfeito, significa ser inteiro, ser Integro. O Pai é perfeito porque é Integro, porque suporta, aceita e ama todos e cada um de nós. Como seus filhos, devemos fazer o mesmo. Mas somos diferentes. O que fazer? Talvez descobrir que os nossos EVANGELHO SEGUNDO MATEUS inimigos são os nossos maiores amigos. Não pensariam eles o que não pensamos, não diriam eles o que temos medo de dizer, e não fariam o que gostaríamos de fazer, e só não fazemos porque nos falta coragem? Deus sustenta todos nós. Sinal de que temos algo a resolver entre nós, conversando, discutindo e brigando. Aí talvez aprendamos o que é o amor, a forma mais perfeita da justiça. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS PARA REFLETIR EM GRUPOS 1. De que modo podemos passar do saber para o fazer? Não adianta apenas conhecer a religião. Como colocá-la em prática? 2. O senso da justiça é superior a qualquer lei. De que modo podemos aguçar esse senso de justiça? 3. Quais são os inimigos da comunidade? De que modo a comunidade pode amá-los e se relacionar com eles? EVANGELHO SEGUNDO MATEUS 4. Deus é Perfeito porque é Inteiro. De que modo podemos, como filhos, ser inteiros como ele? 5. Já verificamos alguma vez o que os nossos inimigos tem a nos dizer? EVANGELHO SEGUNDO MATEUS A JUSTIÇA VERDADEIRA (Mateus 6,1-18) O Reino de Deus, a justiça que traz liberdade e vida para todos, pertence já aos pobres, e só os pobres que vão realizálo, através da prática da justiça. Contudo, como ela deve ser praticada? Os fariseus, que se consideravam perfeitos, já a praticavam. No que é que os pobres, seguidores de Jesus, vão ser diferentes? EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Nesta parte Mateus vai explicar o que já havia dito em 5,16: "que a luz de vocês brilhe diante dos homens, para que eles vejam as boas obras que vocês fazem, e louvem o Pai de vocês que está no céu". Para Deus ou para mim mesmo? Mateus vai direto ao assunto: "Prestem atenção! Não pratiquem a justiça de vocês diante dos homens, só para serem elogiados por eles. Fazendo assim, vocês terão a recompensa do Pai de vocês que está no céu" (6,1). EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Os fariseus praticavam a justiça ostensivamente, para serem vistos e elogiados e, assim, manterem seu prestigio e poder, tapeando o povo. Pura máscara, pura representação. Os seguidores de Jesus, ao contrário, deverão praticar a justiça não para se exibirem, bancando "os tais", mas para obedecer ao Pai, fonte de liberdade e vida para todos. O Pai é o começo e o fim de tudo. Os homens são apenas instrumentos. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Os seguidores de Jesus agem assim por causa da recompensa. Qual? Dinheiro, fama, posição? Nada disso. A recompensa de fazer o que Deus quer é ter a experiência da própria vida de Deus. Qual? Começando, pois o Pai reserva para os seus filhos muito mais do que eles conseguiriam imaginar. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS As três faces da justiça No tempo de Jesus a justiça era encarada como a realização de três praticas: esmola, oração e jejum. Poderíamos pensar essas coisas como práticas isoladas. Elas, porém, são muito mais que isso. Na verdade, englobam todas as relações que mantemos na vida. E a justiça deve ser praticada em todas essas relações, para que haja, de fato, liberdade e vida para todos. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS 1. A esmola Podemos dar ou não esmola (6,2-4) para os que pedem, mas, num e noutro caso, sempre ficamos incomodados, pois sabemos que isso nunca resolverá completamente o problema do mendigo. Bendito incômodo, que nos lembra que o mendigo é acusação de um sistema injusto, que gera pobres e miseráveis, dependentes da "bondade" alheia. Deus não quer isso. No seu Reino a justiça proporciona vida digna para todos, EVANGELHO SEGUNDO MATEUS através da partilha igualitária dos bens que ele destinou a todos. A esmola, portanto, é apenas um sinal, um lembrete de que devemos lutar por um sistema econômico que realmente faça uma partilha justa dos bens. Enquanto isso não acontece, ficamos incomodados. Vejamos agora: a alegria dos hipócritas em receber palmas pelos seus "grandes donativos": "Nossa! Como ele é bom!" Mas o pobre disfarça, até para não melindrar o irmão necessitado. Ele sabe que EVANGELHO SEGUNDO MATEUS o que lhe sobra faz falta para o outro, e reparte. E então tem a recompensa de experimentar a justiça do próprio Deus. 2. A oração A oração (6,5-6) nos coloca em contato com o Pai, continuamente nos lembrando do projeto de Deus e do nosso compromisso com esse projeto. Aí pedimos, agradecemos, louvamos e renovamos a nossa fé e confiança. Sobretudo nos lembramos de que EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Deus é Deus e nós não somos Deus. Somos criaturas suas, filhos seus que devem confiar no seu amor. Agora, transformar a oração em chance de exibição é entortar tudo. Pura máscara. Ou então, ficar repetindo e repetindo, como papagaios, pensando que Deus é burro ou surdo. Uma ofensa a Deus, que sabe muito bem do que precisamos, antes mesmo de lhe pedirmos. Ele só espera que peçamos porque não gosta de se intrometer em nossa vida. Todavia, o que é EVANGELHO SEGUNDO MATEUS que devemos pedir? Em resposta, Mateus coloca aqui o Pai Nosso, oração de Jesus e de todos os que com ele se comprometem (6,715). Nela está o modelo da oração cristã, fonte da espiritualidade dos pobres. PAI NOSSO Oração da comunidade (nosso), com seis pedidos. Os três primeiros são por toda a humanidade: que todos reconheçam o Pai (nome), que seu Reino de justiça se realize EVANGELHO SEGUNDO MATEUS (Reino), trazendo para o mundo a vida que Deus quer para todos (vontade). Os três últimos são pela comunidade: que Deus conceda o necessário e suficiente para ela viver (pão), que Deus a perdoe assim como ela perdoa seus inimigos (perdão), e que o Pai não permita que a comunidade sucumba às tentações da injustiça (tentação). Se a comunidade não perdoar, ela deixará de ser o testemunho do amor do Pai. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS 3. O jejum Jejuar (6,16-18) é privar-se de alguma coisa que julgamos muito importante, e depois descobrir que essa coisa não é tão importante assim. No jejum podemos perceber horizontes novos para a nossa vida, e principalmente o que é essencial e fundamental para a vida humana. Com ele também percebemos que podemos crescer além do que já somos, fazendo coisas diferentes daquelas que já fazemos. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Sobretudo, poderemos descobrir que há novas formas de viver e se relacionar com os outro; com Deus e com o mundo. Deus nos fez a sua imagem e semelhança (Gênesis 1,26-27). Pois bem. Não devemos nos conformar com o que estamos sendo, mas desejar ser muito mais. E aqui entra o jejum: ele é um teste que nos ajuda a ver que há horizontes novos, basta que não fiquemos marcando passo em nossa "vidinha". Jejum é, portanto, fundamental. Mas bobagem EVANGELHO SEGUNDO MATEUS seria fazer jejum só para se exibir. Aí não se descobre nada. Os pobres têm o jejum como mola propulsora de sua vida: são capazes de fazer sacrifícios para criar vida nova, sociedade nova, relações novas, mais justas e fraternas. *** Esmola, oração e jejum: relação com o irmão, relação com o Pai e relação conosco mesmos. Estamos no centro desse triângulo, e não EVANGELHO SEGUNDO MATEUS podemos esquecer de nenhum dos três bicos. Deus vai na frente, em direção a Vida. Nós o seguimos, trilhando caminhos novos e construindo nova sociedade e nova história. Mas o ponto mais importante é repartir tudo entre todos. Então viveremos a justiça que Deus quer, reconhecendo talvez que a nossa maior dificuldade era a de aceitar o dom que Deus sempre nos fez. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS PARA REFLETIR EM GRUPOS 1. Qual é o principio e a meta da ação da comunidade? Giramos ao "redor do toco", ou estamos dando passos à frente? 2. Por que a prática da justiça compreende a esmola, a oração e o jejum? De que modo praticamos essas coisas? 3. De que modo a prática da justiça pode ser distorcida? 4. Por que o Pai Nosso é a grande oração da comunidade?