Análise de classe latente de padrões de consumo de álcool e outras drogas em baladas na cidade de São Paulo, Brasil Doutoranda: Adriana Sañudo Orientadora: Profa Dra Zila van der Meer Sanchez Pós-graduação em Saúde Coletiva Departamento de Medicina Preventiva- UNIFESP Introdução Álcool Introdução Mundialmente, 3,3 milhões de pessoas morrem a cada ano devido ao uso indevido do álcool, representando 5,9% de todas as mortes; (WHO, 2014) Binge drinking - padrão de consumo de risco que tem despertado interesse internacional, mas que apenas recentemente começou a ser investigado no Brasil. (Silveira et al, 2008) Introdução Binge drinking (ou beber pesado episódico) INTOXICAÇÃO ALCOÓLICA Estabelecido como 5 doses para homens e 4 para mulheres em uma mesma ocasião. (Weschler et al, 2001) Introdução Quadro preocupante no que tange o abuso de outras drogas; (Degenhardt et al., 2014) No geral, estimou-se que as drogas ilícitas foi a causa de 0,9% dos anos de vida perdidos por incapacidade em todo o mundo em 2010. (Degenhardt et al., 2014) Introdução No Brasil, Álcool é a droga mais consumida em todas as faixas etárias da população; (Vieira et al., 2007) De acordo com Levantamento Nacional de Álcool e Drogas: 50,0% da população brasileira adulta consumiu bebida alcoólica; 16,9% utilizaram tabaco; 2,5% utilizaram maconha; 1,7% utilizaram cocaína. (LENAD, 2012) Aumento na porcentagem de pessoas não abstêmias que, em dias que bebe, costumam praticar binge drinking – em 2006 eram 29% e em 2012 passou para 39% ; (LENAD, 2012) Introdução Poliuso de drogas – o uso de mais de um tipo de droga; (Smith et al., 2011) Poliuso de drogas concorrente – consumo de mais de uma droga pelo mesmo sujeito no período de até 12 meses. (Martin, 2008) Introdução Por que estudar baladas? Abuso de álcool e outras drogas está diretamente relacionado com o contexto recreativo das baladas; (Calafat et al., 2011) Locais de socialização, diversão, dança, encontros românticos e sexuais e uso de álcool e outras drogas fazem parte deste contexto; (Calafat et al., 2009) Aumento de comportamento de risco de seus frequentadores. (Duff, 2008) Introdução Frequentadores de baladas – população conhecida internacionalmente como de maior risco para o uso abusivo de drogas; (Ramo et al., 2010) Padrões de consumo de álcool e outras drogas assim como comportamentos de risco associados às baladas variam de acordo com aspectos culturais do país; (Calafat, 2011) O diagnóstico do que ocorre na vida noturna de São Paulo é o primeiro passo para o direcionamento de ações preventivas destinadas à população exposta, baseando-se em dados da realidade local. Introdução Para identificar perfis de consumo de drogas em uma população, Análise de Classe Latente é um instrumento de análise de dados, que leva em conta variações no padrão de consumo de drogas e, identifica grupos de indivíduos com respostas semelhantes à ausência ou presença de poliuso. Objetivo Avaliar como o consumo de uma vasta gama de drogas se agrupa entre frequentadores de baladas na cidade de São Paulo através do uso de Análise de Classe Latente; Avaliar como esses diferentes perfis de drogas se associam com fatores sociodemográficos, frequência e estilo do estabelecimento frequentado. Metodologia Método Misto - combinação de dados quanti com dados qualitativos. (Creswell, 2009) Dados pessoais obtidos a partir de um inquérito de portal; (Voas et al., 2006) Dados das baladas obtidos através de etnografia das casas noturnas/bares. Unidades primárias de amostragem - baladas. Baladas: local público com controle de entrada e saída, pista de dança e venda de bebida alcoólica. Metodologia Lista com potenciais baladas: Revistas; Guias especializados em atividades de lazer; Google – ‘São Paulo’, ‘baladas’, ‘discotecas’ e ‘danceterias’. 150 baladas preencheram critérios de inclusão; 40 baladas (e 40 substituições) sorteadas. 31 baladas concordaram em participar : taxa de aceitação de 66%. Metodologia Amostra sistemática na fila de entrada: Critérios de inclusão: ≥18anos; intenção de entrar; não estar severamente embriagado; ausência de fala pastosa; Escala de Perham ausência de sinais lentificados ou dificulade de locomoção, ausência de olhos petrificados, e, ausência de odor alcoólico. 2422 entrevistados em 31 baladas; Metodologia Três etapas de entrevistas: Entrevistas de Entrada + Bafômetro; Entrevistas de Saída + Bafômetro; Online 24 horas depois. Dados etnográficos coletados simultaneamente; Fluxograma da coleta de dados Inquérito de portal Clientes na porta de entrada (n=2422) Etnografia Medidas ambientais e comportamentais (n=31) Mesmo entrevistado 3063 abordagens = 80% aceite Inquérito de portal Clientes na saída da balada (n=1833) 76% 67% Seguimento pós intervenção 3, 6 e 12 meses após Intervenção web RCT usando feedback de normas sociais (n= 1053) Questionário online Dia seguinte (n=1222) Fluxograma da coleta de dados Inquérito de portal Clientes na porta de entrada (n=2422) Seguimento pós intervenção 3, 6 e 12 meses após Etnografia Medidas ambientais e comportamentais (n=31) Inquérito de portal Clientes na saída da balada (n=1833) Intervenção web RCT usando feedback de normas sociais (n= 1053) Questionário online Dia seguinte (n=1222) Metodologia Parte da equipe no campo POR NOITE: 6 entrevistadores; 1 coordenador de campo; 75 entrevistas completas (entrada + saída)/noite. Metodologia Coleta de dados através de tablets em sistema integrado à internet Website: gerenciamento dos dados do projeto e informação ao público geral Metodologia Indivíduos monitorados por uma pulseira de eventos Metodologia Informações sobre a continuação da pesquisa (web) Metodologia Variáveis Explicativas Características sociodemográficas: “Variável Resposta” Poliuso no período de um ano: gênero; binge drinking; idade; tabaco; etnia; situação econômica (ABEP); educação; ocupação, e Religião. Frequência a baladas mês passado; Tipo de balada. maconha; cocaína; ecstasy; inalantes (loló, lança, cola, etc.); ketamina; alucinógenos (cogumelos, LSD, lírio, etc). Metodologia Análise Estatística Análise de Classe Latente; Avaliação dos modelos: (Hagenaars and McCutcheon, 2002) LL; AIC; (Akaike, 1974) BIC; (Schwartz, 1978) SSABIC; VLMR; (Sclove, 1987) (Lo et al., 2001) Entropia. (Ramaswamy et al., 1993) Modelo hierárquico de regressão logística multinomial. (Hosmer et al., 2013) Resultados Entrevistas de entrada: 3063 indivíduos abordados; 2422 aceitaram participar 80% de aceite; Entrevistas de saída: 1832 indivíduos responderam 76% de follow-up. Perdas de saída (n = 590): Intoxicação alcoólica severa: (n=67, 11,3%); Recusa: (n=12, 2,1%); Perdas gerais: (n=511, 86,6%). Não houve diferença estatisticamente significante de sexo e idade entre o grupo de recusa e os entrevistados da entrada e saída. Resultados Gênero Feminino 39% Masculino 61% 100% Faixa etária 90% 80% 70% 63% 60% 50% 40% 25% 30% 20% 12% 10% 0% 18 - 25 26 - 33 34 e mais Resultados 100% 90% Escolaridade 80% 70% 60% 60% 50% 40% 26% 30% 20% 10% 7% 7% 0% até Ensino Fundamental Ensino Médio Superior completo Pós graduação Classe Social A 21% 26% C/D/E 54% B Resultados Frequência mensal às baladas 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 54% até 3 vezes 46% 3 vezes ou + Rock HipHop Estilo musical Forró / Zouk PopDance Funk Sertaneja Eclética Eletrônica 0% 10% 20% 30% Resultados 100% Consumo nos últimos 12 meses 90% 80% 70% 68% 60% 50% 40% 36% 29% 30% 20% 13% 12% 8% 10% 5% 9% 0% Binge drinking Maconha Cocaína Ecstasy Tabaco Inalante Ketamina Alucinógenos Resultados Tabela: Comparação entre as estatísticas de ajuste de acordo com o número de classes latentes para o poliuso de drogas no último ano entre frequentadores de baladas (n=2420) na cidade de São Paulo no ano de 2013. Poliuso de drogas Estatísticas de ajuste Modelo LL AIC BIC SSABIC p-Vuong Entropia 1 classe -8.187,57 16.391,14 16.437,47 16.412,05 N.A. N.A. 2 classes -7.104,31 14.242,62 14.341,07 14.287,06 0,202 0,827 3 classes -6.919,89 13.891,78 14.042,36 13.959,76 0,136 0,695 4 classes -6.885,64 13.841,27 14.043,97 13.932,77 0,429 0,677 5 classes -6.867,90 13.823,80 14.078,63 13.938,83 0,538 0,674 6 classes -6.852,53 13.811,06 14.118,02 13.949,62 0,575 0,709 Nylund et al. (2007) recomenda a estatística BIC para determinar o número de classes. Resultados Figura 1. Binge drinking e poliuso de drogas no ano em três classes latente. Probabilidade ponderada de presença de BD e poliuso de drogas dada a classe latente entre frequentadores de baladas (N=2420) na cidade de São Paulo, 2013. 100% 90% 80% Probabilidade 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Binge Maconha Não poliuso Cocaína Ecstasy Tabaco Poliuso moderado Inalante Ketamina Poliuso severo Alucinógeno Resultados Modelo de regressão logística multinomial em blocos Variável resposta – 3 classes latentes Binge drinking – 55% frequentadores Poliuso moderado – 35% frequentadores Poliuso severo – 10% frequentadores Características sociodemográficas Variáveis explicativas – gênero; idade; etnia; situação econômica (ABEP); educação; ocupação, e Religião. Frequência a baladas mês passado; Tipo de balada. Resultados Modelo multivariado de regressão logística multinomial com variável resposta classe latente entre frequentadores de baladas (N=2420) na cidade de São Paulo, 2013. Poliuso moderado Nível 1 Gênero Masculino vs Feminino ORa IC 95% 1,26 0,95-1,68 2,50 2,42 1,75-3,57 1,46-4,00 Poliuso severo p 0,114 ORa IC 95% 1,44 1,01-2,06 1,00 1,38 0,64-1,55 0,78-2,46 p 0,046 Faixa etária (anos) 18 – 25 vs ≥34 26 – 33 vs ≥34 <0,001 0,001 0,989 0,271 Nível 2 Freq. mensal balada Mais 3x vs até 3x <0,001 1,79 1,47-2,18 0,43 0,76 1,31 0,96 1,94 1,93 0,36 0,30-.0,61 0,39-1,48 0,89-1,94 0,62-1,48 1,36-2,77 1,38-2,70 0,26-0,50 <0,001 3,50 1,96-6,25 0,06 2,65 9,86 0,17 2,29 10,13 0,25 0,01-0,57 0,60-11,77 5,36-18,12 0,02-1,58 1,30-4,04 6,23-16,45 0,08-0,75 Música balada Sertanejo vs Eclética Funk vs Eclética Eletrônica vs Eclética PopDance vs Eclética Rock vs Eclética HipHop vs Eclética Forró/Zouk vs Eclética <0,001 0,422 0,171 0,855 <0,001 <0,001 <0,001 0,015 0,201 <0,001 0,120 0,004 <0,001 0,013 Discussão Baladeiros propensos a fazer poliuso de substâncias; (Ramo et al., 2010) Maioria dos estudos examina prevalência de consumo e correlaciona o uso entre grupos, porém não caracteriza grupos de poliuso. (Measham et al., 2013 e Herbeck et al., 2013) Discussão Presente estudo se diferencia por examinar padrões de poliuso nos últimos 12 meses em uma amostra representativa de frequentadores de baladas em SP; Poliuso avaliado no período de 1 ano: vantagem de capturar período ainda recente; mais amplo do que o consumo no dia; (Quek et al., 2013) poliuso poderia não estar presente em frequência adequada. (Smith et al., 2011) Discussão Análise de Classe Latente: Classe 1 – “não poliuso”; Classe 2 – “poliuso moderado”; Classe 3 – “poliuso severo”. Vários estudos de poliuso em populações específicas: usuários de ecstasy; (Carlson et al., 2005 e Scheier et al., 2008) usuários de alguma droga. (Ramo et al., 2010) Estudos em amostras de população geral. (Smith et al., 2011) Discussão Não obtenção de uma classe “Não usuários”. População diferenciada de binge drinking. mesmo a classe não poliuso apresenta 50% Binge drinking – padrão de consumo de álcool associado: Complicações sociais – morbidade psiquiátrica, acidentes. (Bartoli et al., 2014) Comportamentos de risco: Sexo sem proteção, Overdose, Quedas, Violência, Acidentes de carro, Suicídio. (Naimi et al., 2003) Discussão Diferenças de gênero em poliuso de drogas: variam pelo tipo de drogas avaliadas; (Carlson et al., 2005 e Ramo et al., 2010) variam de acordo com a população em questão. (Smith et al., 2011) Homens mais expostos poliuso severo entre baladeiros de SP. Idades mais avançadas parecem mais protegidas ao poliuso. (Smith et al., 2011) Maior importância na associação das classes de poliuso com a opção de escolha do tipo de balada e frequência à balada do que variáveis relacionadas ao perfil sociodemográfico. Discussão Frequência às baladas mais do que 3 vezes no mês maior chance de pertencer às classes de poliuso. Frequentadores de baladas com músicas rock e hiphop maior chance de pertencer às classes com poliuso de drogas; Frequentadores de baladas com músicas eletrônicas maior chance de pertencer à classe poliuso severo. Limitações do Estudo Possível viés de informação caracterizado nesse estudo pelo viés de memória dos frequentadores; Taxa de aceite entre as baladas amostradas. Potencialidades do Estudo Primeiro estudo no mundo com amostra probabilística de baladas; Primeiro estudo epidemiológico com amostra representativa de baladeiros em um país em desenvolvimento; 80% de aceite na participação de clientes na entrada de casas noturnas em uma das maiores cidades do mundo. Conclusão Nossos dados sugerem que próprio contexto da balada parece estar associado ao poliuso; Políticas públicas devem ser implementadas nos locais de recreação para atingir seus frequentadores. Possíveis medidas: Controle de venda de álcool para pessoas já intoxicadas; Aumento de fiscalização para drogas ilícitas na entrada de estabelecimentos de recreação, principalmente baladas eletrônica, rock e hiphop; Informações sobre redução de danos a baladeiros.