Vilém Flusser
A filosofia da fotografia e o universo
das imagens técnicas
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Vilém Flusser nasce em 1920 em Praga.
Começa a estudar filosofia em 1939, mas é
obrigado a deixar seu país por causa da
perseguição nazista.
• Muda-se inicialmente para a Inglaterra e em
seguida vem ao Brasil, onde trabalha com
comércio até 1959
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• A partir do começo dos anos 60 inicia e
ensinar filosofia, em especial filosofia da
linguagem e da ciência. Escreve para jornais
como Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo.
• Em 1972 deixa o Brasil por questões políticas e
vai morar na França, onde continua com suas
atividades culturais
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Torna-se conhecido como filósofo da mídia.
• Morre em 1991 em decorrência de um
acidente de trânsito perto de Praga, cidade
para a qual estava voltando depois de 52 anos
para proferir palestra sobre o neonazismo.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Vamos aqui tentar analisar dois livros. O
primeiro famoso no mundo todo “Filosofia da
Caixa Preta” , foi escrito em 1983. É um
resumo de conferências feitas na França e na
Alemanha a pedido da European Photography
o segundo, publicado dois anos mais tarde, “O
Universo das imagens técnicas – elogio da
superficialidade”, é uma continuação e
aprimoramento do primeiro
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• São dois textos bastante difíceis e complexos
pela própria maneira que Vilém Flusser tem
de filosofar.
• Ele afirma e se contradiz o tempo todo, num
exercício complexo de raciocinar e pensar.
• A impressão que tenho é que ele leva para
seus textos não um pensamento já
organizado, mas todo o processo e trabalho
intelectual.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• No primeiro livro ele parte de da hipótese de
que seria possível observar duas revoluções
fundamentais na estrutura cultural:
• 1. quando o homem “inventa a escrita linear”
e portanto, segundo Flusser, a história
propriamente dita
• 2. quando o homem “inventa as imagens
técnicas” e inaugura um modo de ser ainda
indefinível.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Na “revisão” deste primeiro livro, ele se coloca
com um ser inseguro, sem chão, num mundo
utópico ( utopia, significa sem chão) frente ao
que ao futuro que está imergindo. Lembro
que este texto foi escrito em 1985.
• Segundo ele nos agarramos as imagens
técnicas e portanto ele as critica.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Vamos começar pelo Filosofia da Caixa Preta.
• São nove textos que definem a linha mestra
de seu pensamento: a imagem, a imagem
técnica, o aparelho, o gesto de fotografar, a
fotografia, a distribuição da fotografia, a
recepção da fotografia, o universo fotográfico
e por fim a necessidade de uma filosofia da
fotografia.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Filósofos já escreveram sobre fotografia. Não
podemos esquecer que um dos primeiros
textos que se dispôs a compreender o
fenômeno fotográfico, foi justamente escrito
por um filósofo, Walter Benjamin: “Pequena
História da Fotografia”.
• Aliás alguns estudiosos chegam a comparar os
dois filósofos, afirmando que Flusser seria o
“Walter Benjamin da pós-história”.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Em cada capítulo ele aponta para conceitoschaves que vão se somando a medida que
adiantamos na leitura.
• Palavras como: imagem, aparelho,programa e
informação.
• Conceitos que – como ele mesmo escreve –
dão origem a novos conceitos
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Imagem implica em magia; aparelho em
automação, jogo; programa em acaso,
necessidade; informação implica em símbolo.
• São com estes conceitos que ele “brinca” o
tempo todo.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Ao definir imagem ele diz que é uma
superfície que pretende representar algo.
• Que por sua capacidade de abstração nos
apresentam a possibilidade imaginativa do
homem.
• Traz a questão da decodificação da imagem
que aparentemente pode ter sei significado
captado por um golpe de vista.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Mas, alerta ele. Esta é uma decifração superficial,
já que para entender realmente uma imagem é
preciso vagar por ela, ou como ele mesmo diz
“escanear” uma imagem.
• “O tempo projetado pelo olhar na imagem é do
eterno retorno”.
• Nesse processo os olhos acabam voltando e se
fixando nos aspectos que mais lhe agradam,
relações significativas que ele define como
“tempo de magia”.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Por que magia? Porque é um tempo que não é
linear, existe uma troca entre os elementos.
• “O caráter mágico das imagens é essencial
para a compreensão das suas mensagens.
Imagens são códigos que traduzem eventos
em cenas”
• Cena-representação-cenário-ficção.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• “Imagens tem o propósito de representar o
mundo”
• Segundo Flusser o homem, então passa a
viver em função das imagens e confunde o
mundo como um conjunto de cenas.
• Daí nasce a idolatria: adoração pela imagens.
• Atenção: até aqui ele está falando de imagens
em geral.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• O homem se esquece da função da imagem, a
imaginação se torna alucinação e perdemos a
possibilidade de decifrar imagens.
• Ainda segundo o autor no segundo milênio
A.C. esta alucinação teria atingido seu apogeu.
• Pessoas passaram a “rasgar imagens” a fim de
recolocá-las em seu lugar de origem, dando
início, ou inventando a “escrita linear” e a
partir daí criar a consciência histórica.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Ou seja sair do tempo circular para um tempo
linear: a escrita contra a imagem.
• Em decorrência disso vamos entrar na
sociedade que adora textos, da mesma forma
que adorava imagens.
• O texto como portador da história. Lembro
vocês de quão pouco as ciências humanas
ainda fazem parte da imagem como fonte
primária.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Seguindo nesta linha de raciocínio, em
seguidas vem as imagens técnicas: imagens
produzidas por aparelhos.
• “Imagens técnicas são produto indireto dos
textos – o que lhe confere posição histórica e
ontológica diferente das imagens tradicionais”
• Imagens tradicionais são pré-história e as
técnicas pós-história.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Enquanto as imagens tradicionais estavam
ligadas a uma necessidade de decifração por
sua característica mágica, as técnicas
aparentemente não precisam ser decifradas,
já que seu significado se imprime de forma
automática sobre a superfície como uma
impressão digital.
• “o dedo é o significado e a imagem o efeito”
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Seu caráter aparentemente não simbólico e
objetivo faz com que o observador as olhe
“como janelas e não como imagens”.
• O que o Vilém Flusser quer nos dizer é da
transformação da percepção: ou seja a partir
da imagem técnica, portanto fotografia, tenho
transformações sócio-culturais.
• As imagens técnicas não são percebidas como
imagens, mas como visões de mundo.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Portanto magia x realidade.
• Ao compreendermos uma imagem técnica
seremos então capazes de compreender seu
significado que é o de transformar textos em
imagens.
• Portanto não idéias, mas conceitos. O
conceito passa a ser o significado de uma
imagem.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Mas ele também nos lembra de um paradoxo.
• Como não são janelas, mas imagens, as
imagens técnicas também são cenas, também
são magia e portanto projetam magia sobre o
mundo.
• O que ele entende por magia?
• Simbólico!
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Magias diferentes porém.
• O fascínio pela fotografia, televisão e cinema não
é o mesmo da imagem impressa nas cavernas.
Isso porque existe na nossa cultura um nível de
historicidade.
• Partindo destas premissas da transformação da
cultura com a criação da escrita e em seguida da
imagem técnica é que ele desenvolve a
necessidade de uma filosofia da fotografia.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Isso porque é necessário de uma nova forma
de abordar e entender esta imagem que ate
determinado ponto, está à mercê de um
aparelho que obviamente tem suas limitações
e que conseqüentemente limita a produção
livre de uma imagem.
• Ao mesmo tempo o aparelho por ser
programado atua casualmente.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• O instrumento passa a ser modelo de
pensamento.
• “A partir do momento que a fotografia passa a
ser modelo de pensamento, muda a própria
estrutura da existência, do mundo e da
sociedade”.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Ao comprar uma câmara fotográfica não estou
só comprando plástico ou aço, mas a
possibilidade de realizar fotografias.
• Por isso os aparelhos baixam de preço
tornando-se muitas vezes até gratuitos. O que
vale é a possibilidade virtual de criar uma
imagem técnica.
• A informação e não o objeto é que tem valor.
Segundo ele.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• “As fotografias significam conceitos
programados visando programar
magicamente o comportamento do de seus
receptores”
• “Na verdade não é isso que acontece, visto
que ingenuamente são percebidas como
cenas que se imprimem automaticamente
sobre superfícies”
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• É preciso pois decifrá-las para entender o que
os conceitos significam.
• Para esta operação é preciso levar em conta a
ambigüidade do código fotográfico: “a
intenção do aparelho prevalece sobre a
intenção humana”.
• O que ele que dizer com isso? Que limitações
tecnológicas também fazem parte da
fotografia.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Outra questão que ele aborda é o contexto
onde estas imagens são vistas. Por onde elas
circulam e como elas são decifradas a partir
deste contexto.
• Mas ele ainda nos relembra de que a
fotografia, como objeto, não tem nenhum
valor: são folhas!
• O valor está na informação que transmite
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Quadro x fotografia (objetos)
• Esta seria uma das características da póshistória ou melhor da época pós-industrial: o
que queremos é informação e não objetos.
• Questão amplamente discutível, mas que vale
a pena refletir sobre isso.
• Jogamos folhetos e jornais e revistas, mas
também rasgamos e guardamos fotografias
vistas nos jornais e revistas.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• De novo: uma transformação cultural.
• A mídia como formadora de cultura. A
semiótica também afirma isso.
• Por estas questões, citadas aqui, é que Vilém
Flusser defende uma filosofia da fotografia
como uma tentativa de conscientizar sobre a
práxis da fotografia.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• “é a possibilidade de se viver livremente num
mundo programado por aparelhos. Reflexão
sobre o significado que o homem pode dar à
vida, onde tudo é acaso estúpido, rumo a
morte absurda. Assim vejo a tarefa da filosofia
da fotografia: apontar o caminho da
liberdade”
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Já no segundo livro, que complementa a
filosofia da caixa preta, ele retoma alguns
destes conceitos, ampliando porém sua
abrangência, visto que o primeiro foi aceito e
divulgado, segundo ele próprio de forma
ingênua como se fosse um livro sobre a
fotografia.
• Na verdade ele estava falando da cultura
mediática.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Das conseqüências na sociedade geradas pela
proliferação das imagens tecnológicas.
• Embora tenha sido escrito em 1985, antes desta
verdadeira proliferação de imagens técnicas ou
tecnológicas, o livro já aponta para a imagem
digital.
• Neste os capítulos não são temas, mas verbos
como: abstrair, concretizar, tatear, imaginar,
apontar, circular, dispersar, programar, dialogar,
brincar, criar, preparar, decidir, dominar e
encolher.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Em quase todos os capítulos ele retoma os
conceitos-chaves que já vimos, mas de forma
mais aprofundada.
• Uma das melhores frases do livro, na minha
opinião, está no final, quando ele escreve:
• “quem prevê não vê o que se aproxima, mas
vê a direção rumo a qual o presente se afasta”.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Por que esta frase, porque é um deslocar do
pensar. Ao prever não digo o que virá mas
para onde iremos.
• Neste livro retoma a questão da imagem pósescrita, mas não mais feita de planos e
superfícies e sim de pontos, grânulos e pixels.
• Uma imagem sem dimensão, que vive na
superficialidade.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• De novo, um impacto na cultura, no contexto
e na forma da recepção das imagens.
• Mais uma transformação.
• O elogio da superficialidade não significa o
vulgar, o não aprofundado (embora seja isso
sim, de certa forma) mas a questão da
imagem na tela.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• “Superfície ínfima que me religa a todos os
outros, a todo espaço, a todo tempo. A partir
dessa concreticidade superficial, posso criar,
junto com os outros, o inconcebível o
inimaginável. Posso fazer o elogio da
superficialidade, o elogio da criatividade
concreta”
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Ele aqui traz os conceitos da sociedade do
espetáculo, dos presentes-continuos, da
sociedade de consumo e conseqüentemente
da alienação.
• As imagens da mídia passam a ser os sonhos
da massa.
• Pessoas que pensaram por mim e que ele
chama de “imaginadores’.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• Para ele imagens técnicas não são vetores de
significados visto que não espelham.
• Elas são projeções, projetam significados. É o
projeto que significa. Portanto questões como
realismo e idealismo não se colocam quando
falamos das imagens técnicas.
• Portanto tudo se torna repetível. Por isso o
domínio do espetáculo.
A filosofia da fotografia e o universo das
imagens técnicas
• “Nos dias de hoje as imagens se tornam cada
vez mais fiéis (mostram como nos
comportamos efetivamente) e nós nos
tornamos sempre mais fiéis às imagens
(comportamo-nos efetivamente conforme o
programa)”.
Download

Vilém Flusser - Escola de Governo