O Fantástico na ilha de Santa
Catarina
Adaptado de:
http://prezi.com/l_tazkpwrwi7/o-fantastico-na-ilha-de-santa-catarina/
O Fantástico na ilha de Santa Catarina
• Franklin Cascaes (1908 - 1983)
• Nasceu na parte continental da cidade de Florianópolis, e dedicou sua
vida ao estudo da cultura açoriana presente na ilha.
Escreveu vários contos incluindo aspectos folclóricos, culturais,
suas lendas e superstições.
EDIÇÕES
• Duas coletâneas foram lançadas, a primeira com os contos 1 a 12, e a
segunda com os contos 13 a 24.
Entretanto, as narrativas foram todas agrupadas numa só edição,
revisada em novembro de 2011.
O livro aborda em todos os seus 24 contos, lendas do povo açoriano,
das quais algumas ainda permanecem na cultura popular atual, como
por exemplo, aquilo que é descrito em “Vassoura Bruxólica”.
Estrutura da obra:
http://literatura-edir.blogspot.com.br/2014/06/resumo-o-fantastico-na-ilha-de-santa.html
• São 24 narrativas bruxólicas, isto é, que têm as bruxas como tema.
A maior parte das narrativas segue o seguinte formato:
• a) Introdução no discurso do autor (linguagem padrão)
• b) A narrativa em si, em que os personagens, através do discurso
direto revelam o dialeto “manezês”.
• c) Um epílogo em que o autor retoma a palavra, exaltando as belezas
e mistérios da ilha, evidenciando uma relação afetiva do narrador
com o espaço.
Linguagem
• Sempre atento ao falar popular dos “manezinhos”, procurou transcrevê-lo
em sua obra, adotando uma escrita fonética quando dá voz às
personagens.
• “- Primo Nicolau! Vossa mecê acardita memo de vredade naquelas istória
que o nosso povo lá das ihias dos Açôri (i) contavo prá nóis como
vredaderas?
• - Ah!... Sim, acardito de vredade, sim, minha prima! E inté agora me veio
uma delas, no bestunto da minha cabeça e que eu acho ela memo munto
inzata. Como tu bem sabes e vancês todos que tão aqui me osvindo,
aquelas ihia dos Açôri, de ondi os nosso avó, foram sempre munto
infestada por muhié bruxa que roubam embarcação prá móde fazê viagem
inté a Índia em quatro horas; que dão nóis nos rabo e crinas dos cavalo;
chupo sangue de criancinha; intico com as pessoa grande e pratico mil
malas-arte.”
Referências Históricas
• Colonização açoriana:
• “Colonizada a partir de 1748, por colonos açorianos que habitavam
aquelas ilhotas que vivem bem lá em riba da careca do oceano,
açoitados diariamente pelas ondas bravias encarneiradas do mar e
palas bocas infernais de vulcões seculares que vomitam fogo e
gemem furor incontido sobre as pobres populações. É um povo
mesclado, inteligente, audacioso, de espírito arguto e, sobretudo,
essencialmente religioso e arreigado em crendices mitológicas.”
• (Eleição bruxólica)
Índios
• Observe que num dos diálogos de “Congresso Bruxólico”, há uma referência à presença
anterior dos índios no território colonizado. O personagem Nicolau das Venturas aborda
criticamente a exploração e a escravização dos “bugres”:
• - Os bugre trabahiavo na lavoura?
• - Trabahiavo, sim sinhôri, sô João, trabahiavo! Veja o sinhôri que eles prantavam
mandioca, batata, mihio, cibola, fejão e muntas otras cosas. Fazio a cohieta e os home
das otras bandas do mundo levavo tudo simbora prôs povo cumê. Inté pexe escalado com
sáli preso, eles fazio pros home de fora.
• - Sô Nicolau, eu osvi falá que os bugre ero uns bicho brabo, matavo os vivente que cahio
no ôhio deles e cumio a carne muqueada com cinza.
• - No mô fraco pensá, sô João, a móde que não era tanto ansim não, proque uns fazendero
de São Paulo vinho aqui, agarravo eles tudo pra móde trabahiá nas fazendas deles
quinem iscravo. Os coitado dos padre é quem pricuravo livrá eles da iscravidão, mas num
consiguio. Munto ente do povo das ihia dos Açôri vim pra cá morá, munta água suja já
tinha corrido pela aqui onde nóis temo.
Urbanização, Industrialização e Política
• Como já foi mencionado, a política a serviço das elites urbanas é referida
criticamente nos textos de Cascaes. Nota-se o uso da expressão irônica
“Madame Política”. Nesse sentido, destaca-se o conto “Eleição Bruxólica”,
em que o personagem Serafim não se deixa enganar pelas promessas
mirabolantes de uns “home rico da cidade que viéro a pricura de enleitôri”.
• Veja que o personagem Vicente, ao contrário, estava ingenuamente
deslumbrado:
• Eu nunca vi uns home tão bão quinem aqueles. [...] Eles primitero inté fazê
casa de tijolo prá um pudê de gente daqui,só proque acharo essas casa de
parede de estuque munto fraca; primitero pra Ináça uma vaca que dá leite,
croste, coalhada, nata, mantega pura e quejo. Dissero que sai tudo
prontinho de dentro do ubre da vaca, sem a gente precisá se incomodá. [...]
• (Eleição Bruxólica)
Urbanização, Industrialização e Política
• Repare como o trecho pode ser lido como uma metáfora da
industrialização, colocando-se o homem alienado à espera da
satisfação de suas necessidades básicas sem mais ter poder sobre o
que consome.
• Cético quanto às promessas eleitoreiras, Serafim as relaciona com as
histórias de sua bisavó sobre as eleições das bruxas - como se
também a política dos homens da cidade fosse uma força maligna a
interferir na vida dos homens.
Referências à cultura açoriana
• - Boi-de-Mamão (referido em “Vassoura Bruxólica”)
• - Festa do Divino Espírito Santo (referida em “Bruxas
Metamorfoseadas em Bois”)
• - Pão-por-Deus (referido em “As Bruxas e o Noivo”)
• Lá vai o meu coração
• Nas asas de um tico-tico
• Pra pedir o Pão-por-Deus
• À Maria Quebra Pinico
• (As Bruxas e o Noivo)
As Bruxas
• As lendas revitalizadas por Franklin Cascaes têm como tema central a
crença popular de que muitos dos males experimentados pela população
ilhoa eram causados por bruxas.
• Nos contos de “O Fantástico na Ilha de Santa Catarina”, essas criaturas
sobrenaturais praticam diversas estripulias: aterrorizam pescadores (“Baile
das Bruxas dentro de uma Tarrafa de Pescaria”), roubam objetos (“Bruxa
metamorfoseou o sapato do Sabiano”) e embarcações (“Bruxas roubam
lancha baleeira de um pescador”), dão nós em rabos e crinas de cavalos
(“Mulheres Bruxas Atacam Cavalos”), fazem viagens noturnas em
vassouras ou em outros objetos, podem metamorfosear-se e até ficar
invisíveis, mas o pior de seus hábitos é atacar criancinhas para chupar-lhes
todo o sangue, até a morte. Em muitas histórias, pais se desesperam ao ver
seus filhos enfraquecidos e com manchas na pele. Muitas vezes acreditam
ser alguma doença e demoram a descobrir o “embruxamento”.
As Bruxas
• O mais triste dos relatos é o “Estado Fadórico das Bruxas”, em que
Elizeu tem o filho embruxado e recorre ao curandeiro benzedor
Quintino Pagajá. Diante de um pai desprevenido, que não tinha como
pagar no ato da consulta além da metade do valor estipulado, Pagajá
fez apenas a metade do ritual da benzedura e a criança acabou
morrendo por embruxamento. À noite, na frente da casa, as bruxas
apareceram e Elizeu reconheceu uma delas como uma moça a quem
havia desgraçado no passado. O pai pagou com a morte do próprio
filho.
• Adoradoras do diabo, as bruxas têm uma hierarquia: em noites de
sexta-feira, reúnem-se às ordens da bruxa-chefe, a única que têm
acesso direto a Lúcifer.
As Bruxas
• Há, segundo as narrativas, dois tipos de bruxas: as terráqueas, que por
opção própria decidem seguir o demônio e as bruxas espirituais, um caso
muito especial que ocorre quando um casal tem sete filhas mulheres e
nenhum varão: a sétima filha está destinada ao fado (destino) bruxólico, o
que só pode ser evitado se a menina for batizada pela irmã mais velha
recebendo o nome de Benta.
• O conto “Bruxas Gêmeas” trata justamente disso, mas com o agravante de
ter sido o sétimo parto da mulher de Manoel Braseiro o nascimento de
irmãs gêmeas. Sem saber qual das duas era a sétima, o pai pede ajuda à
benzedeira Sinhá Candinha, que, enganada por Lúcifer, diagnostica por
erro, a menina chamada Santa como a sétima, quando na verdade era a
outra, a Benta, aquela fadada à bruxaria. Mais tarde a verdade é
descoberta, quando Benta é desmascarada por uma curandeira após
“embruxar” um bebê.
As Bruxas
• Quanto ao aspecto físico, a maioria das bruxas de Franklin Cascaes é
representada de forma asquerosa.Gostam de fumar, soltam fumaça pelo
nariz e pelas orelhas e costumam ser peludas. No entanto, é possível que
algumas exerçam atração erótica sobre os homens. Veja a descrição de
Isidora no conto “A Bruxa Mamãe”
•
• A Isidora Fumadeira até que não era uma moça muito feia nem
deseducada. Gostava muito de fumar cigarros papa-terra [...]. Também
tinha o hábito de mascar fumo e cheirar rapé. Não gostava de usar roupas
femininas, e o prazer dela era vestir as roupas do irmão mais velho.[...]
• Os moços de sua comunidade não gostavam de namorar com ela pela
razão de ser muito autoritária e mandona.
As Bruxas
• Romualdo se apaixona pela moça:
• Ela parece ser machona – pensou ele – mas tem os peitos muito salientes!
• Os dois casam e têm filhas (gêmeas). Logo em seguida, Isidora passa a
abandonar o lar para viver suas aventuras bruxólicas à noite. Certa vez, é
vista pelas filhas metamorfoseando-se em morcego. Romualdo, em
desespero, procura uma benzedeira que termina por desmascarar a
“mulher bruxa machorra” e suas companheiras.
• Observe que, assim como a urbanização da paisagem é vista como uma
espécie de “embruxamento” de que sofre a Ilha, a modernização dos
costumes também é associada à bruxaria. São exemplos a mulher
insubmissa, masculinizada como Isidora da narrativa anterior ou a
personagem Irineia, do conto “Madame Bruxólica e o Saci-Pererê” com
seus hábitos da cidade:
As Bruxas
• A Irineia, cada vez que vinha na cidade, aparecia no sítio onde morava
desfilando as modas jovens que copiava, até bem mal, de mulheres
vaidosas, embonecadas e retorcidas. Ora aparecia com um vestido tão
curto, que a bainha lhe alcançava a cintura; ora aparecia com um vestido
tão comprido, que chegava a varrer os ciscos por onde ela passava.[...]
• As tais modas [...] escandalizavam as mulheres antigas [...].
• O Bento Leandro [...] até que apreciava muito, principalmente quando ela
se apresentava bem ensacada dentro de uma calça de brim bem
descorado, exibindo seu par de nádegas calipigianamente avantajadas aos
olhos esbugalhados da população da comunidade dela.
As Bruxas
• Nesse conto, a bruxa, que já despertava suspeitas sobre seu
comportamento, ao ver um “gato preto meio pintado de vermelho” (SaciPererê), decide, num impulso montar sobre ele para viajar a toda
velocidade a caçar discos voadores:
• “Viajei bruxolicamente, e tudo o que encontrei ocupando os espaços
siderais catarinenses em matéria de discos voadores é digno do mais alto
pode científico que a humanidade alcançou até os dias de hoje.“
• Ao final, a mulher perde o encantamento bruxólico por ter desobedecido
as ordens de Lúcifer (excedeu-se em seu tempo de viagem espacial).
• Observe que, além do comportamento “urbanizado”, Irineia é
transgressora porque busca o conhecimento.
Bruxas x Curandeiros
• No conto “Congresso Bruxólico”, o personagem Nicolau, perguntado sobre a diferença
entre bruxas e feiticeiras, diz que as primeiras têm sina maligna e as últimas procuram
fazer o bem com remédios e benzeduras, assim como os curandeiros, verdadeiros
“dotôri”.
• Veja a importância dos curandeiros para a população que vivia em comunidades privadas
de serviços básicos de saúde:
• Nesses tempos longínquos, na “Vila Capitáli” nem havia doutores de dar remédios. [...]
Ora, em situações de desespero, com relação a doenças que corroíam o organismo até
dá-lo à morte, o jeito mesmo era recorrer a Deus e aos santos e, consequentemente aos
benzedores e curandeiristas que existiam e ainda existem entre as populações [...]
• (Bruxa metamorfoseou o sapato do Sabiano)
• A maioria dos curandeiros apenas pratica o bem, sem se importar com a
remuneração, mas em alguns casos, há benzedores “dinheiristas”, como o velho
Quintino Pagajá do conto “Estado Fadórico das Mulheres Bruxas”.
1 - Eleições bruxólicas
• Dois pescadores, Serafim Calimera e Vicente Loreano, encontram-se e
conversam sobre eleições, acerca de promessas eleitoreiras feitas a
Antônio Diulindo caso o povo votasse neles.
• Serafim não acredita, vão visitar Antônio que confirma as
promessas(absurdas: galinhas que põe ovos cozidos, por exemplo0.
• O personagem Serafim não se deixa enganar pelas promessas
mirabolantes de uns “home rico da cidade que viéro a pricura de
enleitôri”.
• Serafim convida Vicente para ir embora. No caminho, afirma não
acreditar nos milagres prometidos. Vicente crê nelas. Serafim diz crer
no que contava sua bisavó sobre as eleições entre as bruxas.
1 - Eleições bruxólicas
• Ela dizia que o demônio ilumina a bruxa mais velha a fim de que ela seja a chefe
do bando e lhe entrega um novelo enfeitiçado. Quando a bruxa velha estiver
perto de morrer, ela tem que preparar uma outra para tomar seu lugar. Então, é
realizada a eleição. As bruxas se reúnem em encruzilhadas para escolherem a
mais cotada para o cargo e aquela que vai prestar obediência a Lúcifer.
• No dia marcado, todas elas comparece. A veia bruxa toma o novelo e vai pelos ari
sortando o fio e gritando: "Quem pega co largo! Quem pega co largo! Muntas vez
a veia bruxa, que ta munto acustumada no mando e que não quê larga ele, por
amori tombem grita: "Não pega co não largo! Não pega co não largo!" A bruxa
que consigui recoiê maióri contidade de metro de fio pra o sô grupo sara antão a
nova bruxa-chefe do bando. Daí em diente, a veia bruxa-chefe, que perdeu o
mando, se acarma, perde o orguio do mando e vai morre sossegada mordendo
dente de áhio do arrependimento dos malis que fez prôs sós vivente, lá de dentro
dos fogos das carderas dos inferno do demonho que foi o patrão dela.
2 - Congresso Bruxólico
• Nos congressos bruxólicos, realizados nos salões rubros inferneiros, que
são presididos, satanicamente, pelo ex-anjo Lúcifer, só comparecem as
velhas bruxas chefes de bandos comunitários. Ocorrem semanalmente nas
sextas-feiras após a hora de Ângelos – 18 horas.
• A história tem início com a conversa de três personagens, a Januária do
Zeca, o Nicolau das Venturas e o Malaquia do Faial, sobre crença ou não
das histórias sobrenaturais que seus descendentes dos Açores contavam.
• Nicolau, em tom de respeito e medo, diz ser verdade o que seus
antepassados contavam acerca das bruxas. Diziam que elas davam nós em
rabos e crinas de cavalos, roubavam as embarcações dos pescadores para ir
até a índia em quatro horas, chupavam sangue de crianças e praticavam
muitos males por onde passavam. Ele relembra que sua bisavó Mariana
contava que cada lugar da Vila possuía uma bruxa-chefe orientada pelo
Anjo Lúcifer e que dominava as outras bruxas subordinadas.
2 - Congresso Bruxólico
• A conversa ruma, ainda, para a diferença entre bruxa e feiticeira;
segundo Nicolau, bruxas são mulheres que fazem o mal, e feiticeiras,
aquelas que fazem o bem, ou seja, as benzedeiras.
• Enquanto conversam, outros moradores vão chegando e contando
outras histórias para confirmar a existência das bruxas. João conta
que seu bisavô junto com o pai viram um Congresso Bruxólico lá na
Ponta da Feiticeira (pedras que ficam entre a Praia Brava e a Praia dos
Ingleses) enquanto pescavam. Aterrorizados, só saíram de lá quando
o sol nasceu e não viram nenhum vestígio do que acontecera durante
a noite. As bruxas só não os pegaram porque eles carregavam no
pescoço breve bento e nos bolsos, dentes de alho com casca.
O que o conto 1 e o conto dois têm em
comum?
• Técnicas físicas corpóreas que a ciência cabocla popular lhes garante
para a metamorfose; as defesas ágeis e prontas contra as
benzedeiras, suas benzeduras e ardilosas armadilhas para apanhá-las
e, além de tudo, a correção absoluta para pronunciarem as palavras
do encanto no exato momento do pedido de metamorfose são
abordados nas reuniões bruxólicas.
3 - Balanço bruxólico
• Na roça, quando começaram a fazer a plantação, açorianos notaram
que as panelas amanheciam sujas, as ferramentas bagunçadas e
jogadas pelo chão, como se alguém aparecesse por lá para fazer
malvadezas.
No centro de tudo estava uma bruxa fantasiada de cabeça de boi com
pernas dianteiras e traseiras também de boi.
3 - Balanço bruxólico
• Manoéli Pereira e seus filhos subiram o morro da Lagoa da Conceição
a fim de limpar uma parte dele para plantar mandioca. Durante o
serviço, observaram uma grande árvore que possuía grossos cipós em
forma de um balanço e resolveram poupá-la, não a derrubando.
Deixavam ali seus pertences (ferramentas e louças) para não precisar
carregar tudo até sua casa. Porém, quando voltavam, tudo estava fora
do lugar. Desconfiaram que aquilo não era coisa desse mundo.
Contaram aos amigos e vizinhos que, imediatamente, afirmaram ser
coisa das mulheres bruxas.
3 - Balanço bruxólico
• Numa noite de sexta-feira, 13 de agosto, constataram um quadro
terrível naquele local: Viram várias lamparinas metamorfoseadas em
seres com formas humanas, dançando surungamente. As árvores
mostravam suas raízes metamorfoseadas em patas de vários animais,
inclusive as de homens. No balanço do cipó da grande figueira
balouçava-se cinicamente, uma bruxa metamorfoseada em roda de
carro de boi, e partes do próprio boi.
3 - Balanço bruxólico
• O compadre de Manoéli, Zeferino soube da história e foi visitá-lo. Lá
chegando, resolveu ver o tal balanço e não teve dúvidas: cortou-o com seu
facão.
• Caiu fulminado e nem a benzedeira com várias tentativas o pôs de pé.
• À noite, porém, de repente, o Zeferino se acordou do seu sono bruxólico e
começou a gritar: "To no balanço! To no balanço! To no balanço lá em riba
do morro...
• Todas as pessoas da casa atenderam, muito curiosas as palavras dele, e
correram para espiar a árvore do balanço lá no morro e, de fato, viram
sobre aquela mata, surgir um fogaréu que parecia estar queimando tudo o
que lá se encontrava.
4 - Mulheres bruxas atacam cavalos
• Quando são atacados por mulheres bruxas em atividades
extraterrenas, para lhes chupar o sangue, cavalos galopeiam pelos
ares, e no dia seguinte, apresentam-se sangrando, e com nós
indesatáveis nas crinas e nos rabos.
Era muito comum o homem do interior da ilha cercar os ranchos ou
estrebarias onde recolhem o seu gado, com redes de pescaria usadas,
porque acreditavam que as bruxas de verdade o faziam.
5 - Baile de bruxas dentro de uma tarrafa de
pescaria
• Quando Selvero, um pescador, tinha filhas gêmeas, estavam doentes e o
remédio do boticário não ajudava. Chama Maria Gamboa, famosa benzedeira.
Eram bruxas que sugavam o sangue das crianças.
• Ela dorme na casa de Selvero, e o pescador , sem ter como pagar a benzedeira
resolve pescar e dar-lhe esse presente. Jogou a tarrafa no mar, viu um clarão e
depara-se com mulheres nuas dançando fandango bruxólico.
• O homem chama a benzedeira, e ela afirma ter esquecido de queimar palha
de alho pra cortar o poder do “fado” das bruxas que eram a Virgina do
Antonho Pé de Chumbo, mais suas três filhas. Essas eram as vizinhas da Luiza
do Mané Perpéto (irmã da esposa de Selvero. O conto comeãra com
instruções de Luísa às filhas contra essas vizinhas, enquanto estivesse fora.). E
quando ela queima a palha de alho, veem as bruxas se alimentando do
sangue das filhas.
6 - Estado fadórico das mulheres bruxas
• Bruxas devem obediência e respeito no cumprimento das tarefas
malignas excepcionalmente ao demônio. Relata o processo de transe
fadórico, onde as bruxas despem suas roupas, para poderem praticar
suas diabólicas estripulias seculares.
Se o objetivo for chupar sangue de criancinhas, elas se enfileiram
para receber o vaso do unto sem sal que a velha bruxa chefe lhes
apresenta. Com ele, elas untam seus corpos nus e estão prontas para
entrarem num transe espiritual maléfico.
7 - Vassoura bruxólica
• Uma mulher desafia as crendices da Sexta-Feira Santa, faz uma aposta
dizendo que iria trabalhar neste dia santo e nada iria lhe acontecer.
Porém quando a primeira varrida foi dada, a vassoura
metamorfoseou-se em bruxa e desapareceu no alto para além do
espaço sideral.
8 - Orquestra selenita bruxólica
•Trata se de um conjunto bruxólico
orquestral diabólico terminando o último
ensaio para organizar uma festa nas
montanhas do planetóide Eros, para
recepcionar ardilosamente os astronautas
terráqueos quando lá aparecem em viagens
espaciais.
9-Bruxas roubam lancha baleeira de um
pescador
• Um pescador muito trabalhador que possuía várias embarcações para o
serviço de pesca entre as quais uma lancha baleia. Mantinha sempre
fechado à chave do rancho onde guardava sua lancha baleeira. Na manhã
de uma sexta feira quando ele acompanhado pelos seus camaradas se
dirigiu ao rancho a fim de retirar as embarcações para ir a pescaria
encontrou a lancha molhada e com muita areia de praia espalhada sobre o
fundo, o que causou grande surpresa a toda a tripulação, pois na véspera
ao recolherem-na ao interior do rancho haviam-na deixado enxuta e limpa.
Após um tempo soube que bruxas estavam aprontando naquele dia e
assim concluíram o fato. As bruxas não contentes com as suas
‘brincadeiras’, invadem e roubam a lancha do pescador.
10- Lamparina e catuto em metamorfose
• Pescaria de camaradas redeiros no mar. Chegaram na praia e
acenderam uma fogueira, por volta das nove da noite e põem-se a
conversarem sobre bruxaria. Durante uma história bruxólica, uns
pedaços de pedra rolaram para o mar, pensando que fosse uma
tempestade, os pesqueiros correm para guardar a canoa, que já
estava a uns 50 metros mar a dentro. A lamparina, o catuto e o leme
estavam metamorfoseados pescando com a rede solta no mar.
11- Bruxas atacam pescador
• Conta a visita de uma familiar de Deolindo que fica por alguns dias
em sua casa e que nesses dias faz com que sua filha vire uma bruxa.
Deolindo leva sua filha para se consultar mas o doutor diz que ali não
era o lugar correto e que não acharia a solução. Então o doutor indica
uma benzedeira.
Ao chegar na benzedeira, ela faz uma espécie de ritual e tira a bruxa
de dentro da pobre garotinha.
12 – Bruxa rouba meio alqueire feito
armadilha para apanhá-la
• Nesse conto Melânia e Isidoro dos Anjos tiveram uma filha chamada
Constância depois de um mês de casados, colocaram muita inveja na
comunidade. A avó de Constância, Canda Mandioca, era conhecida
como uma bruxa, depois de um certo tempo Constância fica doente e
descobrem que foi embruxamento de algum parente da família, no
caso, a avó dela.
13 – Bruxas gêmeas
• Após o nascimento da sétima filha, a mais velha precisa batizar a mais
moça, para afastar o fado bruxólico. Mas no sétimo parto de uma
mulher, nascem irmãs gêmeas.
• Sem saber qual das duas era a sétima, o pai pede ajuda à benzedeira
Sinhá Candinha, que, enganada por Lúcifer, diagnostica por erro, a
menina chamada Santa como a sétima, quando na verdade era a
outra, a Benta, aquela fadada à bruxaria. Mais tarde a verdade é
descoberta, quando Benta é desmascarada por uma curandeira após
“embruxar” um bebê.
14 - Armadilha feita com pilão de chumbar
café para apanhar bruxas
• Zé era pescador, filho de Bento Crisanto e homem trabalhador de quarenta anos,
que não fumava nem tomava bebida alcoólica. Devido a essas qualidades, muitas
mães desejavam-no como genro.
• Ele casa com Nica, contra a vontade paterna, já que essa fora tida como amante
de um padre e havia noivado quatro vezes.
• Quando tiveram um filho, a mãe o privou de vê-lo, rogando praga para a criança
que definhava.
• Nica não aceita ajuda para tratar a criança, assim a madrinha agiu: fizeram uma
armadilha contra bruxas. A armadilha é feita com a primeira camisa usada pela
criança, criva-a de agulhas, coloca-a dentro de um pilão de chumbar café e, com a
mão de pilão, soca-a até que as agulhas penetrem na madeira do pilão, logo, a
bruxa vai procurar a família, para confessar-se culpada. A bruxa era Nica.
15 - Balé de mulheres bruxas
• Depois de chupar muito sangue de inocentes criancinhas, sem serem
molestadas por benzedeiras, armadilhas ou algo que as detenha, essa
caterva de mulheres resolveram comemorar a vitória diabólica, com
uma dança de balé bruxólico no Morro do Rapa no extremo norte da
Ilha de Santa Catarina, sobre a bata rubra do ex-anjo Lúcifer.
• Diz-se que, mulheres bruxas possuem uma inteligência excepcional, a
qual elas usam sempre para ludibriar o homem de argila humana
crua.
16 - Bruxa metamorfoseou o sapato do
Sabino
• Sabino tinha uma filha embruxada que estava sendo tratada com um
benzedor experiente. Ele, no entanto, não dava jeito neste caso.
• Numa sexta-feira que ele ia levar sua filha, não achou o pé esquerdo
do sapato e resolveu ir descalço mesmo. Na volta, avistou um quadro
bruxólico representando seu sapato transformado em barco.
17 – Bruxas metamorfoseadas em bois
• Zé João, era um grande curandeiro e Policarpo um homem dono de
algumas terras.
• Zé João morava numa das casas de Policarpo e os dois sempre iam
juntos para buscar os remédios do curandeiro.
• Num certo dia, foram atacados por bruxas, aquilo se transformou em
um pesadelo em que eles viram seus bois pegarem fogo diante de
seus olhos.
• Ficaram chocados mas a vida seguiu. Algum tempo depois, foram
atacados de novo, porém os dois amigos estavam preparados e
jogaram mostarda no fogaréu das bruxas, que sumiram, derrotadas.
18 – Armadilha para apanhar bruxas. Pais em
vigília
• João Sossego e sua mulher, a Loca tecedeira, tiveram seu filho
'embruxado‘, então passaram a tentar derrotar a bruxa.
• Acham uma curandeira que lhes da a receita: nove dentes de alho,
uma ceroula do pai, água benta, uma vela benta... armaram uma
arapuca.
• Conseguem pegá-la, ela perdeu seus poderes, e o bebê voltou ao
normal.
19 – As bruxas e o noivo
• Frumenço era um jovem muito, mas muito feio, não era aceito por
ninguém em sua cidade, não tinha amigos, muito menos namorada, nem
trabalho arranjava, pois os patrões viam ele como azarado.
• Foi embora com seu tio para uma cidade distante, lá conheceu três
mulheres, Maria Quebra Pinico, Rosa de Catacumba e Rafaela Pé de Ganso.
• Frumenço se apaixonou por Maria e achou que elas fossem moças boas,
mas na verdade eram bruxas e só falavam com ele para rir de sua cara.
• Quando descobriu, voltou a ficar triste, porém é isso que acontece com
quem ama bruxas.
20 – A bruxa mamãe
• Isidora Fumadeira era uma moça muito estranha, cheia de manias
masculinas.
• Conseguiu se casar e até teve duas filhas gêmeas, porém, não gostava
muito delas e nem do marido, acabou desaparecendo e deixando sua
família sozinha.
• Tempos depois, descobriram que ela era uma bruxa.
21 – Reumatismo bruxólico
• Conta o narrador que no Pântano do Sul havia um homem muito
bom, de nome Quiliano das Paca, chamado também de so Beré, que
sofria de reumatismo ou "rubatismo", como dizia o mané. A casa de
Sô Bere vivia cheia de ‘dotori da cidade’ que iam ali para lhe pedirem
ajuda em épocas de eleição.
• Antes do reumatismo, acontece que de tanto ir à cidade, Quintiliano
acabara tornando-se frequentador de bordéis. Um dia, ele dormiu
com uma rameira, chamada Calista e se apaixonou pela moça e a
trouxe para morar em sua casa.
21 - Reumatismo bruxólico
• Dois meses depois, seu Quintiliano começou a reclamar de terríveis dores
nas costas, mas não conseguia entender, pois ia dormir bem e acordava-se
daquele jeito.
• A irmã dele orientou-o a ir consultar com com o tio Adão, um curandeiro
famoso que morava lá pras banda do Ruberão (Ribeirão da Ilha). Ele foi e
ouviu com atenção o que tio Adão lhe falou: a doença que ele tinha fora
posta por sua mulher. Enquanto ele, dormia ela no fado bruxólico lhe fazia
de cavalo até o amanhecer.
• O benzedor lhe ensina uma armadilha com a tamanca esquerda virada. O
feitiço se faz e é Quintiliano quem transforma a mulher em égua. Calista
deixa de ser égua ao amanhecer e volta para seu antigo trabalho.
22 – Três bruxas viraram galinhas brancas
• Conta o narrador que na região onde ele morava, morava também um
casal com quatro filhos pequenos. Ele se chamava Polino (Paulino) dos
Brejo. Trabalhava muito para sustentar a casa. Seu pai havia morrido
quando ele tinha 19 anos, mas a mãe era viva e morava com duas filhas
solteironas, irmãs de Polino.
• A vizinhança não gostava muito delas e, quando elas iam visitar alguém,
eles jogavam sal no fogo, viravam a vassoura de perna para cima e outras
rezas somente pra se verem livre da presença delas na casa.
• Com sua criança mais nova doente. Polino a levou ao boticário da cidade,
mas ela não melhorava. Até que a prima dele disse indicou uma curandeira
muito boa.
22 – Três bruxas viraram galinhas brancas
• Ele foi lá, e ela disse que quando chegasse em casa, ele iria encontrar as bruxas,
em traje de galinha, beliscando a criança.
• Quando chegou a casa, viu três galinhas bicando seu bebê. Pegou uma bengala
que tinha e acertou as costas de uma delas; as outras duas conseguiram escapar
imunes.
• Voltou à casa de Sinhá dona Chandoca, a curandeira para perguntar-lhe quem
eram as bruxas. Como ela já sabia que ele soubesse iria querer matar as mulheres
que estavam fazendo mal a seu filho, ela lhe disse que já havia quebrado o
encanto fadórico das mulheres, que elas nunca mais iriam machucar ninguém.
• Mesmo assim, a benzedeira lhe disse que ele acertara com a bengala a mulher
velha; que se ele visse alguma velha com o "congote machucado com farinha de
mandioca e sáli feito cataprasma", que era a bruxa que havia maltratado seu
filho. Eram sua mãe e as duas irmãs. Ele as espancou até dizerem que ele estava
vingado.
23 – Madame bruxólica e o Saci-Pererê
• A bruxa, que já despertava suspeitas sobre seu comportamento, ao
ver um “gato preto meio pintado de vermelho” (Saci-Pererê), decide,
num impulso montar sobre ele para viajar a toda velocidade a caçar
discos voadores. Ao final, a mulher perde o encantamento bruxólico
por ter desobedecido as ordens de Lúcifer (excedeu-se em seu tempo
de viagem espacial). Observe que, além do comportamento
“urbanizado”, Irineia é transgressora porque busca o conhecimento.
24 – Velha bruxa-chefe
• Cada bruxa-chefe do bando de uma comunidade recebe ordens para
transmiti-las às suas subordinadas. Ordens das mãos rubras do exanjo Lúcifer.
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As Bruxas