Texto Base: I João 2:14c ...Jovens, eu vos escrevi, porque sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e tendes vencido o Maligno. Introdução. Os jovens são uma força na vida da igreja, mas desmobilizada. Sua energia está sendo canalizada para o louvor, que muitas vezes é mero entretenimento, e não para o testemunho transformador da sociedade. Por isso, santificação é um tema extremamente necessário de se abordar. Jovens cristãos devem ser santos sempre, e em qualquer cultura. O NT faz apenas uma referência a eles. 1João 2.14, e alude, em termos gerais, à santidade, embora não a citando: “(…) Eu vos escrevi, jovens, porque sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e já vencestes o Maligno” Os jovens do tempo de João eram fortes, tinham a palavra de Deus permanente neles e venciam o Maligno. Isto é resultado de uma vida santificada. Não sei de quantos jovens se diria isto hoje. AS MARCAS DA CULTURA MODERNA, A NOSSA ÉPOCA Mas nós somos modernos. Conheçamos um pouco da modernidade, o contexto em que ainda vivemos. Perguntará alguém: “Se a modernidade está cedendo lugar à pós-modernidade, por que gastar tempo com ela?”. Porque é o ambiente em que fomos educados. Segundo, porque é a nossa visão. Terceiro, porque a pós-modernidade é uma reação a ela e se conhece bem a reação quando se conhece a ação. Quarto, porque a pós-modernidade é um modismo cultural. A modernidade é produto de quatro revoluções: científica, política, cultural e a técnica. Podem ser fundidas na análise, comentando juntas a científico e a técnica. A revolução científico-técnica mudou a vida do homem. O saber se tornou fragmentado, surgindo a especialização. A Medicina é um exemplo. O clínico geral cede cada vez mais espaço para o oftalmologista, o pneumatologista, o ortopedista que cuida do pé direito e o ortopedista que cuida do pé esquerdo. Na área social também sucedeu algo semelhante: ter uma visão global do mundo se tornou cada vez mais difícil. Com isso, o mundo se tornou mais complexo e ininteligível, em seu aspecto não físico. Mas conferiu uma aura de especialista infalível ao homem das ciências. O homem de ciências passa a fazer afirmações teológicas, sem qualquer lastro filosófico. Antigamente o homem vestido de preto, o sacerdote, era respeitado por deter o poder. Hoje é o homem de avental branco. Ele sabe e os outros não sabem. A Teologia e o saber filosófico se tornaram irrelevantes, cedendo lugar para a técnica e passamos a ter um mundo cada vez mais sem alma e sem sensibilidade. 1º) O lucro como motor essencial do progresso; 2º) A concorrência passou a ser a lei suprema da economia; 3º) O quantificável se tornou o mais importante em nossa cultura. O que se mede tem valor. O que não se pode quantificar passou a ser irrelevante. Valores sérios do passado, valores espirituais e morais, perderam o significado. 4º) Filosofia, arte, poesia, literatura, essas coisas não têm valor em nosso tempo. Não se come flor. Poesia não faz cirurgia. O que tem valor é a informática, a técnica. A secularização minimizou e ridicularizou a religiosidade, mas não a baniu da vida humana. Dotado de uma centelha espiritual, criado à imagem e semelhança de Deus, o homem sentiu falta do sagrado. Assim, a religiosidade se vingou da secularização, retornando, até mesmo de maneira agressiva, em forma de superstições grosseiras como cristais, pirâmides, gnomos, numerologia, florais de Bach, etc. São duas conseqüências danosas para a fé crista. O individualismo tomou corpo e afugentou as preocupações sociais. Isso se vê até no ambiente evangélico. As pessoas estão preocupadas com cura, saúde, riqueza, resolução dos seus problemas e pouco com a transformação do mundo. Para se trabalhar com os jovens é preciso ter isto em mente. Em termos de culto, de vida na igreja as pessoas irão por um mês a uma corrente de cultos para receberem riquezas, mas não terão ânimo para uma vigília de oração para conversão dos perdidos. A igreja evangélica se tornou pós-moderna e se preocupa mais consigo mesma. Aliás, é na igreja que vocês precisam começar a testemunhar. Ela está cheia de pós-modernos que não entenderam o evangelho. Ao A CULTURA PÓS-MODERNA Caminhemos um pouco pela pós-modernidade. Alistemos algumas de suas características. Muitos adolescentes e jovens de nossas igrejas as trazem consigo. E elas afetam, nosso testemunho de Jesus Cristo. 1º) O colapso das crenças. Há uma descrença geral com o conhecimento, seja a educação, seja a cultura afirmada. 2º) A busca do novo e exótico. Uma música espanhola ilustra isso bem: “Cada noite um rolo novo. Ontem o ioga, o tarô, a meditação. Hoje o álcool e a droga. Amanhã a aeróbica e a reencarnação.” Normalmente as novidades são contra o estabelecido, e as drogas, muito mais. A mídia cria mitos e conceitos e projeta o que é contra os estabelecido. 3º) A descrença nas instituições. As instituições sociais falharam em prover um mundo melhor. Os governos, a família, a escola, todos falharam. 4º) A necessidade de escandalizar. É uma forma de agredir e de se defender. Escandalizam com a conduta, com a recusa às regras, na indumentária e no visual. 5º) Um estilo individualista, hedonista e narcisista. O pós-moderno é individualista, embora viva em “tribos”. É hedonista, vivendo em função do prazer, não necessariamente sexual, mas buscando o agradável. É narcisista, no sentido de olhar mais para si que para o mundo. Esta é uma perspectiva da cultura pós-moderna. O social e outro são irrelevantes. O que vale é o próprio indivíduo. 6º) A falta de uma cosmovisão. “Cosmovisão” são os óculos pelos quais lemos o mundo. O pós-moderno não tem uma cosmovisão nem mesmo posturas coerentes. É a pessoa que nega a existência de Deus, mas que crê em energia vinda de um cristal. Nega a historicidade de Jesus, mas crê em duendes. Agem assim porque as cosmovisões são explicações globais do mundo, trazem respostas cabais e últimas. “Nenhuma certeza pode ser imposta a ninguém”, diz o pós-moderno. Recusando uma cosmovisão, uma visão integrada, as pessoas fazem uma crença tipo picadinho. Tudo está bom, tudo está certo. Ao mesmo tempo, isto não faz diferença. Cada um faz sua crença e sua religião. O valor último é a própria pessoa. Foi isto que Raul Seixas cantou: “Eu prefiro ser uma metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo, tudo”. As pessoas não têm mais uma visão determinada do mundo. 7º) A perda do sentido de história. Não existe uma história unificada, produto da visão cristã que impregnou o Ocidente e lhe deu rumo. 8º) A substituição da ética pela estética. O dever cede lugar ao querer. As escolhas são privadas e não mais ligadas à sociedade. O negócio é viver e desfrutar o que se gosta. Nada de responsabilidade. COMO TESTEMUNHAR NESTE CONTEXTO É desvantajoso para nós, que trabalhamos com valores, pregar a um mundo que rejeita valores. Trabalhamos com absolutos e temos que testemunhar a mundo em que tudo é relativo. Como pode um jovem cristão testemunhar numa sociedade pós-moderna? 1º) Lembrando que ele tem uma fé que não pode ser aprisionada por nenhuma cultura. O evangelho pode se expressar em qualquer cultura, mas não pode ser refém dela. Cristo está acima de qualquer cultura. Não cremos em idéias, mas numa pessoa, Jesus Cristo. Você é crente? Então é propriedade de Cristo e esta deve ser sua convicção maior. Santificação começa aqui: “Eu sou de Jesus!”. 2º) Lembrando que é chamado à santidade, e isso implica em imitar a Cristo. “Sede meus imitadores, como também eu o sou de Cristo” (1Co 11.1) e “Irmãos, sede meus imitadores, e atentai para aqueles que andam conforme o exemplo que tendes em nós” (Fp 3.17). É chamado a imitar a Cristo, e não ao mundo. Diz Romanos 12.1-2: “Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus”. Não deve imitar ícones da mídia, deuses de ouro com pés de barro, mas procurar o caráter de Cristo. 3º)Lembrando que, como cristão, tem valores eternos. Há valores temporários, locais e mutáveis. Há valores inegociáveis. Os jovens necessitam ter uma cosmovisão cristã completa, saber de sua fé e de seus valores e vivê-los. Muitos não têm uma visão global do mundo, e, o que pior, muitos não têm sequer uma visão global de sua fé, e não sabem analisar o mundo por ela. Sua fé é atomizada, de pequenos credos, sem uma visão integral do evangelho. É preciso ver o evangelho como algo para reger nossa vida. 4º) Os jovens precisam se ver como trabalhadores da igreja, e não desfrutadores de um ambiente jovem na igreja. Muitos têm compartimentalizado a igreja, transformando um espaço num gueto: é o culto jovem, o louvor jovem, sempre a visão da igreja como algo para seu desfrute. A igreja é a única instituição do mundo que não existe para benefício de seus membros, para os que não são seus membros. Os jovens precisam se ver como quem deve viver o evangelho fora de um prédio chamado igreja e de um momento chamado louvor. 5º) O jovem precisa reconhecer que tem uma palavra de verdade que tem atravessado século e culturas, a palavra de Cristo, que deve habitar ricamente nele: “A palavra de Cristo habite em vós ricamente” (Cl 3.16). Esta palavra ultrapassa a de todos os pensadores em todas as épocas e ele a tem. Ele deve vivê-la, expressá-la e divulgá-la. O mundo precisa desta palavra que ele tem, porque se não o mundo se perderá. Ele pode perder a palavra do mundo porque nada de ruim lhe acontecerá. CONCLUSÃO. Acima de tudo é preciso uma compreensão: o evangelho é imutável. Não corram atrás de redescobertas do evangelho. Podemos defini-lo numa frase: Cristo, e Cristo crucificado, poder de Deus para salvação de todo aquele que crê. O resto é invenção. Há o evangelhos dos homens: riqueza material, poder político, vitória sobre os ímpios, guerrilhas.é o evangelho como uma cultura cristã. E há o da Bíblia: em Cristo, Deus chama os homens a virem ter com ele e consertarem sua vida diante dele. Fiquem com este. Consagrem suas vidas a Deus para batalhar por este evangelho.