ANTECEDENTES DA SEMANA DE ARTE MODERNA 1912 – chegada de OSWALD DE ANDRADE da europa trazendo consigo as idéias Cubistas e Futuristas - escreve, em versos livres, o poema "Passeio de Um Tuberculoso, pela Cidade, de Bonde". A obra foi tão mal recebida pelo público que o autor a jogou fora "Estamos atrasados cinquenta anos em cultura, chafurdados ainda em pleno Parnasianismo." 1913 – Exposição de obras de LASAR SEGALL LASAR SEGALL - pintor russo que fixou-se no Brasil, fez uma exposição de pintura Expressionista. Teve pouca repercussão nos meios artísticos. Algum tempo depois, Mário de Andrade disse o seguinte sobre essa exposição: “é a primeira exposição de pintura não acadêmica em nosso país”. Duas amigas Perfil de Zulmira (1915) publicação da REVISTA ORPHEU, que marca o início do modernismo em portugal. A estudante Nu cubista 1917 - exposição de ANITA MALFATTI, primeiro confronto aberto entre o velho -Monteiro Lobato (Paranóia ou Mistificação?) e o novo - jovens artistas de são paulo. SEMANA DE ARTE MODERNA TEATRO MUNICIPAL – SÃO PAULO DIAS 11 a 18 DE FEVEREIRO DE 1922 CONFERÊNCIAS: 13,15 e 17 Durante os sete dias de exposição, foram expostos quadros e apresentadas poesias, músicas e palestras sobre a modernidade,o que deixou indignados alguns escritores e artistas de renome. Tinha a intenção de colocar a cultura brasileira a par das correntes de vanguarda do pensamento europeu e pregar a tomada de consciência da realidade brasileira. 1ª. Noite Abertura – Graça Aranha Ernani Braga – paródia de Chopin 2ª. Noite Conferência de Menotti Del Picchia - Leitura do poema Os Sapos – Manuel Bandeira Guiomar Novaes 3ª. Noite Musical - Villa Lobos “Nós não sabíamos o que queríamos, mas sabíamos o que não queríamos”. (Mário de Andrade) Os objetivos e preceitos da Semana de Arte Moderna não foram compreendidos pela elite paulista, que era influenciada pelas formas estéticas europeias mais conservadoras. Representavam a pintura: Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Vicente do Rego Montero, Osvaldo Goeldi, John Graz, Zina Aita, Inácio da Costa Ferreira, João Fernando de Almeida Prado, Antonio Paim Vieira e Alberto Martins Ribeiro; A escultura: Vítor Brecheret, Wilhelm Haerberg e Hildegardo Leão Veloso; A arquitetura: Antoni Garcia, Moya e Georg Przyrembel; A música: Villa-Lobos, Guiomar Novais, Ernani Braga, Frutuoso Viana, Paulina d’Ambrosio, Lucília Villa-Lobos, Alfredo Corazza, Pedro Vieira, Antão Soares, Orlando Frederico, além de outros coadjuvantes; E a dança: Yvonne Daumerie. REVISTAS: •KLAXON ( SÃO PAULO) •ESTÉTICA (RIO DE JANEIRO) •FESTA ( RIO DE JANEIRO) •TERRA ROXA E OUTRAS TERRAS ( SÃO PAULO) •VERDE ( CATAGUAZES, MINAS GERAIS) •REVISTA DE ANTROPOFAGIA ( SÃO PAULO) •A REVISTA (BELO HORIZONTE) GRUPOS: •PAU-BRASIL ( SÃO PAULO) •ANTROPÓFAGO (SÃO PAULO) •VERDE-AMARELO ( SÃO PAULO) •GRUPOS DE PORTO ALEGRE( RIO GRANDE DO SUL) •GRUPO MODERNISTA-REGIONALISTA DE RECIFE (PERNAMBUCO) MANIFESTOS: •MANIFESTO DA POESIA PAU-BRASIL Publicado no Correio da Manhã em 18 de março de 1924, foi escrito por Oswald de Andrade em Paris. O título do manifesto prende-se à idéia de que o pau-brasil tinha sido o primeiro produto genuinamente brasileiro “de exportação”. O que Oswald pretendia era uma poesia autenticamente brasileira, e de exportação. O manifesto propunha a valorização dos estados primitivos da cultura brasileira. •MANIFESTO ANTROPÓFAGO Foi o manifesto mais radical de todos os manifestos da primeira fase modernista. Propunha a devoração da cultura e das técnicas importadas, transformando o produto importado em exportável. O nome do manifesto recuperava uma crença indígena:os índios antropófagos comiam o inimigo, supondo que assim estavam assimilando suas qualidades. •MANIFESTO NHENGUAÇU VERDE AMARELO. Tecia severas críticas ao que considerava o “nacionalismo importado” de Oswald de Andrade.Contrapunha a ele um nacionalismo. O grupo elegeu a anta como símbolo nacional e mais tarde autodenominou-se Escola da Anta. •MANIFESTO REGIONALISTA DE 1926 Foram pronunciamentos feitos em 1926, quando se realizou o 1º Congresso Regionalista do Nordeste. O grupo de Recife, pregava a reabilitação da cultura regional nordestina e seu aproveitamento como motivo artístico. AS PROPOSTAS MODERNISTAS 1. Adaptar a arte nacional ao momento futurista e tecnológico: “Queremos luz, ar, ventiladores, aeroplanos, motores, chaminés de fabrica, velocidade... E que o rufo do automóvel, nos trilhos de dois versos, espante da poesia o último deus homérico...”. “Aqui de cima destes edifícios, nós olhamos para o passado e contemplamos sua nulidade.” 2. Combater a cultura formal, gabinetista, acadêmica, livresca Ó poetas de gabinete. Que da vida sabeis apenas a lição dos livros, Vossa poesia é um jogo de palavras. Vossa poesia é toda feita de habilidades de estilo, Sem a marca um pouco suja de experiências vividas. Não sabeis de nenhuma espécie de sofrimento, De nenhum dos aspectos sedutores do mal, Não sabeis de nada que está realmente na vida. Não vos inquieta o desejo de quebrar a monotonia, A exasperada fadiga das coisas iguais, A saborosa audácia do mau gosto. Tudo em vós é correto, frio, sem surpresas. Ah, tudo que sabeis é através dos livros Não sofreis a curiosidade viciosa das aventuras, Nem a mágoa dos meses vividos à toa. (Ribeiro Couto) 3. Destruir os modelos artísticos do Parnasianismo Estou farto do lirismo comedido. Do lirismo bem comportado Do lirismo funcionário público com livros de ponto expediente protocolo [e manifestações de apreço ao sr.diretor. Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho [vernáculo de um vocábulo Abaixo os puristas Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis (. . .) Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbados O lirismo difícil e pungente dos bêbados O lirismo dos clowns de Shakespeare - Não quero mais saber do lirismo que não é libertação (M. Bandeira) 4. Linguagem espontânea, coloquial: “Irene preta Irene boa Irene sempre de bom humor Imagino Irene entrando no céu: -Licença , meu branco! E São Pedro bonachão: -Entra, Irene, você não precisa pedir licença.” 5. Desprezo pelas normas gramaticais : “Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da nação brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada Me dá um cigarro” 6. Uso da paródia como elemento desmitificador: Minha terra tem palmares Onde gorjeia o mar Os passarinhos daqui Não cantam como os de lá. Minha terra tem mais rosas E quase que mais amores Minha terra tem mais ouro Minha terra tem mais terra. Ouro terra amor e rosas Eu quero tudo de lá Não permita Deus que eu morra Sem que volte para lá. Não permita Deus que eu morra Sem que volte pra São Paulo Sem que veja a rua 15 E o progresso de São Paulo. 7. Emprego da ironia e do poema–piada: Moça linda bem tratada, Três séculos de família, Burra como uma porta: Um amor. Grã-fino do despudor, Esporte, ignorância e sexo Burro como porta: Um coió. Mulher gordaça, filó De ouro por todos os poros Burra como uma porta: Paciência... Plutocrata sem consciência, Nada porta, terremoto Que a porta do pobre arromba: Uma bomba. (Mário de Andrade) DESDOBRAMENTO EUROPEIZAÇÃO NACIONALIZAÇÃO 1924 UM OLHAR PARA O BRASIL VANGUARDAS EUROPÉIAS CUBISMO GRUPOS FUTURISMO DADAÍSMO EXPRESSIONISMO SURREALISMO PAU-BRASIL VERDE-AMARELO ANTROPOFÁGICO REGIONALISTA Fases do modernismo • Primeira fase - fase heróica- de 1922 a 1930 • Segunda fase – Regionalismo - de 1930 até 1945 • Terceira fase- Pós-Modernismo - de 1945 até a atualidade. PRIMEIRA FASE - HERÓICA liberdade formal, utilização do verso livre, quase abandono das formas fixas, como o soneto, incorporação da fala coloquial e até de manifestações linguísticas consideradas incultas, ausência de pontuação, infringindo a gramática normativa, simultaneidade de cenas, num procedimento semelhante ao da pintura cubista enumeração caótica de idéias, formando verdadeiras colagens emprego de imagens resultantes da livre associação de idéias, gerando uma aparente falta de lógica no texto. Primeira geração modernista 1922/1930 • A geração de 22, chamada de heróica teve como objetivo a destruição de todo o academicismo importado da Europa. Principais autores: • Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira e Antônio de Alcântara Machado. Mário de Andrade MÁRIO DE ANDRADE (1893 / 1945) folclorista, músico, crítico, ensaísta, poeta, contista, romancista Lutou por uma língua brasileira, próxima do povo (oralizada). Desenvolveu dois temas básicos: A cidade de São Paulo O folclore nacional Sua poesia manifesta-se modernista a partir do livro Paulicéia Desvairada(1922), análise e constatação da cidade de São Paulo (cidade multifacetada). Em seu Prefácio Interessantíssimo cria o manifesto do modernismo, com forte influência das vanguardas. Obras:Há uma gota de sangue em cada poema(1917) => obra de estréia, influências de escolas anteriores (rigor métrico, rima, vocabulário...) Clã do Jabuti(1927) => folclore e lendas regionais Amar, Verbo Intransitivo(1927) => crítica à burguesia paulista e visão freudiana Macunaíma(1928) => o herói sem nenhum caráter. Rapsódia, une o folclore e a cidade de São Paulo. Ficção - Os contos de Belazarte (1934) - Contos novos (1946) Ensaios: - A escrava que não é Isaura (1925) - Aspectos da Literatura brasileira (1943) - O empalhador de passarinho (1944) Poesia: - Losango cáqui (1926) - Remate dos males (1930) - Lira paulistana (1946) Oswald de Andrade Tarsila do Amaral OSWALD DE ANDRADE (1890-1954) Vanguardista e experimentalista Idealizador dos principais manifestos modernistas. Foi militante político. Nacionalismo crítico A paródia como uma forma de repensar a literatura. Poema-piada, poema-pílula (poesia-minuto) Valorização do falar cotidiano. Análise crítica da sociedade burguesa capitalista. Inovação da poesia no aspecto formal Linguagem cinematográfica, fragmentária, sem conectivos Rompeu com os limites prosa/poesia Obras: O Rei da Vela(1937) - Teatro Serafim Ponte Grande(1933) (*) Memórias sentimentais de João Miramar(1924) (*) (*) Há quebra de estrutura dos romances tradicionais: capítulos curtíssimos e semi-independentes, num misto de prosa. As Meninas da Gare Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis Com cabelos mui pretos pelas espáduas E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas Que de nós as muito bem olharmos Não tínhamos nenhuma vergonha. O Capoeira - Qué apanhá sordado? - O quê? - Qué apanhá? Pernas e cabeça na calçada 60. Namoros Vinham motivos como gafanhotos para eu e Célia [comermos amoras e moitas de bocas. Requeijões fartavam mesas de sequilhos. Destinos calmos como vacas quietavam nos campos de sol parado. [...] 61. Casa da Parrarroxa A noite O sapo o cachorro o galo e o grilo Triste tris-tris-tris-te Uberaba aba-aba Ataque aos relógios taque-taque Saias gordas e cigarros Oswald de Andrade Erro de português Quando o português chegou Debaixo de uma bruta chuva Vestiu o índio Que pena! Fosse uma manhã de sol O índio tinha despido O português. Manuel Bandeira MANUEL BANDEIRA - 1886 / 1968 Tuberculoso – tematiza a doença e as privações resultantes dela. As fatalidades da vida deixam em sua obra cicatrizes profundas morte do pai, da mãe e da irmã, convivência e sofrimento com sua própria doença. Intimismo Universal - Buscou na própria vida inspiração para os seus grandes temas: de uma lado a família, a morte, a infância no Recife, o rio Capibaribe; de outro, a constante observação da rua por onde transitam os mendigos, as prostitutas, os meninos carvoeiros, os carregadores das feiras. Início simbolista – musicalidade Linguagem oralizada, cotidiano, temas prosaicos Questionamento social Obras: A Cinza das Horas (0bra de estréia-influência parn./simb.) Carnaval / O Ritmo Dissoluto (engajamento moderno) Libertinagem (Modernismo) Manuel Bandeira Recife, 19/04/1886 – RJ, 13/10/1968 Eu faço versos como quem chora De desalento... de desencanto... Fecha o meu livro, se por agora Não tens motivo nenhum de pranto. Meu verso é sangue. Volúpia ardente... Tristeza esparsa... remorso vão... Dói-me nas veias. Amargo e quente, Cai, gota a gota, do coração. E nestes versos de angústia rouca, Assim dos lábios a vida corre, Deixando um acre sabor na boca. Eu faço versos como quem morre. CONSOADA Quando a Indesejada das gentes chegar (Não sei se dura ou caroável), Talvez eu tenha medo. Talvez sorria, ou diga: - Alô, iniludível! O meu dia foi bom, pode a noite descer. (A noite com seus sortilégios.) Encontrará lavrado o campo, a casa limpa, A mesa posta, Com cada coisa em seu lugar. A ONDA A onda anda Aonde anda A onda? A onda ainda Ainda onda Ainda anda Aonde? Aonde? A onda a onda Porquinho-da-Índia Quando eu tinha seis anos Ganhei um porquinho-da-índia. Que dor de coração eu tinha Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão! Levava ele pra sala Pra os lugares mais bonitos, mais limpinhos, Ele não se importava: Queria era estar debaixo do fogão. Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas... - O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada. TRAGÉDIA BRASILEIRA Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade, conheceu Maria Elvira na Lapa, - prostituída, com sífilis, dermite nos dedos,uma aliança empenhada e o dentes em petição de miséria. Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria. Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado. Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso: mudou de casa. Viveram três anos assim. Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa. Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos... Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul. Vou-me Embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconseqüente Que Joana a Louca de Espanha Rainha falsa e demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive E como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro brabo Subirei no pau-de-sebo Tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado Deito na beira do rio Mando chamar a mãe-d'água Pra me contar as histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar Vou-me embora pra Pasárgada Em Pasárgada tem tudo É outra civilização Tem um processo seguro De impedir a concepção Tem telefone automático Tem alcalóide à vontade Tem prostitutas bonitas Para a gente namorar E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar - Lá sou amigo do rei Terei a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada SEGUNDO TEMPO MODERNISTA – PROSA 1930-1945 - Questão da nacionalidade. Crise cafeeira. Revolução de 30. Intentona Comunista. Estado Novo (1937-45). Ascenção do nazismo e fascismo. - 2ª Guerra Mundial. 2 – CARACTERÍSTICAS GERAIS Trilhou caminhos diferentes que ocasionou no Regionalismo, especialmente no nordeste, através de uma ficção regionalista nordestina. Buscava-se retratar as características sócio-culturais do nordeste brasileiro, em que cada escritor tentou representar sua realidade geográfica, social, cultural e econômica. Temas principais: Denúncia das agruras da seca e da migração; problemas dos trabalhadores rurais; miséria; ignorância. Regionalismo – O romance regionalista de 1930 A Bagaceira, José Américo de Almeida Tema: Seca; miséria e migração – Região: Paraíba O Quinze, Rachel de Queiroz Tema: Seca; miséria; ignorância e migração – Região: Ceará Peronagens: Vicente, Conceição, Chico Bento Vidas Secas, Graciliano Ramos Tema: Seca; miséria; migração e ignorância - Região : Alagoas Fusão do aprofundamento psicológico e da questão social SÃO BERNARDO Personagem: Paulo Honório e Madalena Foco Narrativo: 1ª. pessoa Ausência de sentimentos, brutalizado pelas dificuldades e ambição. Problemas de comunicação levam Madalena ao suicídio. ANGÚSTIA Personagens:Luis da Silva – traumas e delírios Marina (noiva), Julião Tavares(antagonista) Foco Narrativo: 1ª. pessoa Meninos de Engenho, José Lins do Rego Tema: Decadência dos Engenhos de cana de açúcar; coronelismo; luta pela terra; cangaço Região: Paraíba FOGO MORTO três partes: 1ª. – Mestre José Amaro 2ª. – O engenho do Seu Lula 3ª. – Capitão Vitorino Tematiza a decadência dos engenhos, e a consequente decadência social do nordeste, representada pela importância profissional do seleiro José Amaro; pelo declínio econômico e de poder do Coronel Lula de Holanda; e pelo desejo de resolver todos os problemas do nordeste na visão quixotesca do Capitão Vitorino. Carlos Drummond de Andrade Carlos Drummond de Andrade - 1902 / 1987 Dezenas de livros em prosa e verso – predomínio da obra poética Grande variedade temática, mas abordagem constante das dificuldades diárias do homem comum reflexão sobre o impasse existencial Atitudes variadas: amargura, desencanto, ironia, humor Contenção lírica - antilirismo Linguagem direta e “enxuta” – concisão Metalinguagem – poesia é feita por palavras O medo Obras: Alguma poesia / Brejo das almas• : dificuldades cotidianas, a permanência delas na memória; a monotonia; o desajustamento social do indivíduo Sentimento do mundo• : identificação de sua própria consciência e de sua responsabilidade de cidadão, daí lembranças do passado e desenvolvimento de sensibilidade diante do caos social A rosa do povo• : aprofundamento da própria consciência e da sensibilidade quanto ao naufrágio moral da sociedade no pós-guerra, paralelamente a um sentimento de culpa diante dessa realidade Claro enigma/Fazendeiro do ar/Lição de coisas• : preocupação com o metafísico; questionamentos sobre a existência humana, levando, às vezes, a momentos niilistas Os ombros suportam o mundo Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. Tempo de absoluta depuração. Tempo em que não se diz mais: meu amor. Porque o amor resultou inútil. E os olhos não choram. E as mãos tecem apenas o rude trabalho. E o coração está seco. Em vão mulheres batem à porta, não abrirás. Ficaste sozinho, a luz apagou-se, mas na sombra teus olhos resplandecem enormes. És todo certeza, já não sabes sofrer. E nada esperas de teus amigos. Quadrilha João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história. No Meio Do Caminho No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho Procura da poesia Não faças versos sobre acontecimentos. Não há criação nem morte perante a poesia.(...) Não faças poesia com o corpo, esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.(...) Nem me reveles teus sentimentos,(...) Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.(...) A poesia (não tires poesia das coisas) elide sujeito e objeto.(...) Penetra surdamente no reino das palavras. Lá estão os poemas que esperam ser escritos.(...) Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.(...) Espera que cada um se realize e consume com seu poder de palavra e seu poder de silêncio.(...) Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave? ÁPORO Um inseto cava cava sem alarme perfurando a terra sem achar escape. Que fazer, exausto, em país bloqueado, enlace de noite raiz e minério? Eis que o labirinto (oh razão, mistério) presto se desata: em verde, sozinha, antieuclidiana, uma orquídea forma-se. Cecília Meireles CECÍLIA MEIRELES (1901-1964) Participou do grupo Festa – poetas simbolistas Musicalidade, vaguidade, espiritualidade, abstrações Linguagem harmônica: poesia de agradável e suave musicalidade Sensibilidade das mais delicadas em língua portuguesa Intimismo, sentimento de perda Temas mais recorrentes: solidão, desamor, sentimento de perda e a efemeridade da vida Melancolia Eterno e Efêmero – eternidade representada pela natureza (mar); fugacidade e efemeridade da vida (passagem do tempo e a morte) Retrato Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: - Em que espelho ficou perdida a minha face? Motivo Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento. Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, — não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: — mais nada. Vinícius de Moraes VINÍCIUS DE MORAES (1913-1980) Linguagem culta e coloquialismo Retomada de formas e temas clássicos Neorromantismo 1ª. Fase - Poesia transcendental Misticismo cristão Versos livres e longos Linguagem bíblica estilizada (ecos parnasianos) Neossimbolismo Angústia: pureza / pecado; espiritualismo / sensualismo obras: O Caminho para a Distância (1933) Forma e Exegese (1935) Ariana, a Mulher (1936) Novos Poemas (1938) O olhar para trás Nem surgisse um olhar de piedade ou de amor Nem houvesse uma branca mão que apaziguasse minha fronte palpitante... Eu estaria sempre como um círio queimando para o céu a minha fatalidade Sobre o cadáver ainda morno desse passado adolescente. ..................................................................................................................... Alba E eu senti correr em meu corpo palpitações desordenadas de luxúria. Eu sofri, minha amiga, porque aquela rosa me trouxe a lembrança do teu sexo que eu não via Sob a lívida pureza da tua pele aveludada e calma Eu sofri porque de repente senti o vento e vi que estava nu e ardente E porque era teu corpo dormindo que existia diante de meus olhos. Como poderias me perdoar, minha amiga, se soubesses que me aproximei da flor como um perdido E a tive desfolhada entre minhas mãos nervosas e senti escorrer de mim o sêmen da minha volúpia? obras de transição: Ariana, A Mulher (1936) - Alguns Poemas Novos Poemas (1938) -Alguns Poemas Cinco Elegias (1943) Luta contra a carne: “Caminhar ciliciando a carne/sobre o corpo macerado da vida” Busca de novos caminhos (aceitação maior do desejo): “E compreendi que só onde cabia deus cabia Ariana” Experimentalismos formais - poemas em prosa, coloquialismos, neologismos, humor, disposições gráficas inovadoras 2ª. Fase - Poesia popular O COTIDIANO DA VIDA URBANA “Meninas de bicicleta Que fagueiras pedalais Quero ser vosso poeta!” EROTISMO: O AMOR FÍSICO “Essa mulher é um mundo – uma cadela Talvez... – mas na moldura de uma cama Nunca mulher nenhuma foi mais bela!” A NATUREZA ASSOCIADA À SEXUALIDADE HUMORISMO / ANTILIRISMO “As muito feias que me perdoem Mas beleza é fundamental” TEMÁTICA SOCIAL: A guerra, a bomba atômica, a miséria, a exploração... INTERTEXTUALIDADE E METAPOESIA FORMAS TRADICIONAIS (soneto) VERSOS LIVRES Obras: POEMAS, SONETOS E BALADAS (1946) PÁTRIA MINHA (1949) LIVRO DE SONETOS (1957) NOVOS POEMAS II (1959) SONETO DA FIDELIDADE De tudo, meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor ( que tive ) : Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. TERCEIRO TEMPO MODERNISTA 1945- João Guimarães Rosa Biografia do Autor Romancista e Contista •Cordisburgo, Minas Gerais, 27 de junho de 1908 •Cursou medicina em 1925 •Alemão, russo, francês, inglês, húngaro, grego, latim, italiano e espanhol •Participou da Revolução de 32 •Ingressou na carreira diplomática em 1934 •16 de novembro de 1967, assumiu sua cadeira na ABL •19 de novembro de 1967, faleceu de enfarte no Rio de Janeiro OBRAS DO AUTOR • Sagarana, 1946 – Contos • Corpo de Baile, 1956 – Novelas • Grande Sertão: Veredas, 1956 – romance • Primeiras Estórias,1962 - Contos • Tutaméia:Terceiras Estórias, 1967 – Contos • Estas Estórias, 1969 – Contos • Ave, Palavra, 1970 - Contos Pensamentos de Guimarães Rosa • As aventuras não têm tempo, não tem princípio nem fim. E meus livros são aventuras... Escrevendo descubro sempre um novo pedaço de infinito. • A gramática e a chamada filologia, ciência lingüística, foram inventadas pelos inimigos da poesia. • No sertão, o homem é o eu que ainda não encontrou um tu; por ali os anjos e o diabo ainda manuseiam a língua. Pensamentos de Guimarães Rosa • O sertão é do tamanho do mundo • Se todo animal inspira sempre ternura, que houve, então com o homem? • Mestre não é quem ensina, mas quem de repente aprende. • Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães... Pensamentos de Guimarães Rosa • Eu trazia sempre os ouvidos atentos, escutava tudo o que podia e comecei a transformar em lenda o ambiente que me rodeava, porque este, em sua essência, era e continua sendo uma lenda. A prosa de ficção pós-45 • Transreal, insólito, absurdo, mundo mítico, fantástico • Linguagem não-letrada, infantil, experimentalismo, reinvenção do código linguístico • Universalismo do romance nacional • Enredo e suspense Regionalismo Universal – “O Sertão é o mundo” – Violência, amor, loucura, misticismo, religiosidade Linguagem própria – neologismo, arcaísmo, musicalidade, prosa poética. Universalismo do romance nacional Clarice Lispector CLARICE LISPECTOR (1920-1977) Escritora brasileira de origem judia nascida na Ucrânia Introspecção psicológica Fluxo da consciência Privilegia a reflexão sobre o enredo Base da obra: reflexões íntimas das personagens, muitas delas femininas A estrutura de várias de suas narrativas obrigou a uma mudança nos critérios avaliativos da crítica especializada. AC/DC Com frequência, seus textos subvertem a tradicional definição do que era conto, ou novela, ou romance. Subverte os elementos formais da narrativa (tempo/ espaço/narrador/enredo/início/conflito/clímax/desfecho) A ordem cronológica e a sequência começo/meio/fim perdem muito de sua importância no contexto do livro. O emprego de certas imagens e o constante uso de figuras de linguagem como metáforas, antíteses, paradoxos, além de alguns recursos sonoros, acabam por transgredir a fronteira entre poesia e prosa. Metáforas Insólitas Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar. P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilacerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar. Crispei minhas unhas na parede: eu sentia agora o nojento na minha boca, e então comecei a cuspir, a cuspir furiosamente aquele gosto de coisa alguma, gosto de um nada que no entanto me parecia quase adocicado como o de certas pétalas de flor, gosto de mim mesma - eu cuspia a mim mesma, sem chegar jamais ao ponto de sentir que enfim tivesse cuspido minha alma toda. “- - - porque não és nem frio nem quente, porque és morno, eu te vomitarei da minha boca”, era Apocalipse segundo são João, e a frase que devia se referir a outras coisas das quais eu já não me lembrava mais, a frase me veio do fundo da memória, servindo para o insípido do que eu comera - e eu cuspia. O que era difícil: pois a coisa neutra é extremamente enérgica, eu cuspia e ela continuava eu. Só parei na minha fúria quando compreendi com surpresa que estava desfazendo tudo o que laboriosamente havia feito, quando compreendi que estava me renegando. E que, ai de mim, eu não estava à altura senão de minha própria vida.(...) Eu que pensara que a maior prova de transmutação de mim em mim mesma seria botar na boca a massa branca da barata. E que assim me aproximaria do... divino? do que é real? O divino para mim é o real.(...) Entendi que, botando na minha boca a massa da barata, eu não estava me despojando como os santos se despojam, mas estava de novo querendo o acréscimo. O acréscimo é mais fácil de amar. A Paixão Segundo G.H. João Cabral de Melo Neto JOÃO CABRAL DE MELO NETO (1920-1999) Recife, capital do Estado de Pernambuco Visão dos retirantes fugitivos da seca, dos miseráveis habitantes dos manguezais, o contraste entre os casarões e os mocambos construídos dentro da lama,... Cidades de Olinda e de Recife com seus casarões antigos , seus mares e rios importantes como o Beberibe e o Capibaribe, e aos canaviais da zona da mata pernambucana. Mas também remete para a vegetação escassa da caatinga e à dor do agreste brasileiro. Por isso mesmo, dois de seus livros, "Pedra do sono", de 1942 e "A educação pela pedra", de 1966, trazem no título a idéia de pedra, símbolo da secura sertaneja e do solo pedroso da região. Poesia Concreta e visual - poesia não-lírica, não-confessional, presa à realidade e dirigida ao intelecto. Único poeta da geração de 45 que influencia geração posterior, formada pela vanguarda brasileira dos anos 50 e 60 sobretudo a vanguarda concreta. A poesia de João Cabral de Melo Neto pode ser dividida em dois módulos distintos, propostos pelo próprio poeta ao publicar o livro Duas Águas, de 1956. Uma água Construtiva e outra Participante. A Primeira Água seria formada pelos poemas experimentais, arquitetônicos, feitos para poetas e que versam sobre o próprio fazer poético. A Água Participante volta-se para a problemática social do homem do nordeste e é formada por obras como "O cão sem plumas" e "O rio" que são poemas longos sobre os miseráveis habitantes dos manguezais do rio Capibaribe. Pergunta da revista “Isto É Senhor” (n. 1059, de 3 de janeiro de 1990) ao poeta João Cabral de Mello Neto: IstoÉ: O que o senhor diria a um jovem poeta que deseja ‘construir seu objeto’?” JCML: “Essas coisas são muito difíceis. Primeiro, que evite sempre a palavra abstrata e prefira a palavra concreta. Eu acho que a palavra maracujá é muito mais poética do que melancolia, porque maracujá você sabe o que é. Se eu ponho num poema maracujá, estou pondo um objeto diante de sua vista; se ponho melancolia não, porque tenho um conceito de melancolia, você tem outro. Cada pessoa chama tristeza, melancolia, depressão e essa coisa de um estado diferente. Porque usando essas palavras abstratas você não pode ser preciso. Você dilui a poesia porque usa uma palavra que tem dez sentidos, cada pessoa dá o seu sentido a essa palavra, ao passo que maracujá ninguém confunde com manga.” Crônica Rubem Braga Recado ao senhor 903 Vizinho, Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal - devia ser meia-noite - e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e e embaixo pelo 903 - que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão; ao meu número) será convidado a se retirar às 21 :45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois às 8:15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada; e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas - e prometo silêncio. ...Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: "Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou". E o outro respondesse: "Entra, vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela". E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz. Poesia Concreta Décio Pignatari , Haroldo de Campos e Augusto de Campos 1952 - Publicação da Revista Noigandres 1956 - Exposição Nacional de Arte Concreta (MASP) VerbiVocoVisual – significado, som, imagem Coração cabeça Augusto de Campos O Pulsar Augusto de Campos Precursores : Oswald de Andrade e João Cabral Acústico Visual Poema-objeto recursos Carga semântica Espaço tipográfico “crise do verso” Disposição geométrica dos vocábulos na página Poesia Ferreira Gullar Comprometimento político e social NÃO HÁ VAGAS O preço do feijão não cabe no poema. O preço do arroz não cabe no poema. Não cabem no poema o gás a luz o telefone a sonegação do leite da carne do açúcar do pão O funcionário público não cabe no poema com seu salário de fome sua vida fechada em arquivos. Como não cabe no poema o operário que esmerila seu dia de aço e carvão nas oficinas escuras - porque o poema, senhores, está fechado: "não há vagas" Só cabe no poema o homem sem estômago a mulher de nuvens a fruta sem preço O poema, senhores, não fede nem cheira Neoconcretismo mar azul mar azul mar azul mar azul mar azul marco azul marco azul marco azul marco azul barco azul barco azul barco azul arco azul arco azul ar azul