ESCOLA BÍBLICA
(Escola da Fé)
EVANGELHO SEGUNDO
MATEUS
EVANGELHO SEGUNDO MATEUS
O TRIUNFO DA JUSTIÇA (III)
(Mateus 25,31-46)
O último discurso de Jesus, segundo Mateus,
termina com a apresentação do juízo final. É a única
vez, nos quatro evangelhos, que se mostra qual é o
conteúdo do julgamento definitivo. Costumamos
imaginar que ele vá acontecer no final da história,
depois que este mundo acabar. Não é inteiramente
errado, mas talvez parcial. Depois do testemunho
dado por Jesus em sua vida terrestre, o mundo
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inteiro já entrou no juízo final. O seu testemunho
colocou a humanidade em estado de julgamento,
pois ele revelou quem é Deus e quem é o homem,
imagem de Deus. Assim, esta cena do evangelho de
Mateus continua hoje e sempre como o espelho que
reflete para Deus a verdade de todos e de cada um.
O julgamento do rei da justiça
O título de "Filho do Homem" significa, ao mesmo
tempo, a encarnação humana do Filho de Deus, mas
também aquele misterioso homem que vinha entre
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as nuvens do céu para fazer o julgamento e
estabelecer o Reino de Deus (veja Daniel 7,13-27).
Com a vinda de Jesus tudo isso se realizou. Ele é o
Rei glorioso, sentado em seu trono. Isso significa, ao
mesmo tempo, que ele é o rei que governa e o juiz
que julga. Não pensemos, porém, que ele conseguiu
esse trono graças ao poder. Pelo contrário. Jesus
chegou a esse trono porque escolheu a prática da
justiça (veja Mateus 3,15), e sua vida inteira foi a
busca da justiça que Deus quer e todos os
injustiçados também. É a prática dessa justiça que
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qualifica a pessoa para o governo e o julgamento, e
isso acontece a cada momento da história.
O juízo final vem acontecendo sempre, e para todos.
Não há quem não trema de medo ao pensar nele.
Todavia, o que é o julgamento? Nossa fantasia
costuma imaginar sentenças e castigos catastróficos,
as vezes por causa de ninharias morais. E não é isso.
Julgamento na Bíblia é a revelação da verdade onde
todas as coisas perdem sua mascara e se mostram
como realmente são diante de Deus, que é o espelho
perfeito onde tudo pode se refletir e se reconhecer.
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O julgamento do Rei da justiça não é arbitrário. Ele
apenas mostra a verdade. Quem julga e dá a
sentença somos nós mesmos, porque diante da
evidência não há como escapar.
O critério do julgamento é a prática da justiça
Eis aí o nosso medo: diante do quê seremos
julgados? Qual será o critério? O evangelho é muito
simples: o critério é a justiça, e justiça é atender as
necessidades dos que precisam, e não simplesmente
fazer para os outros aquilo que eu acho melhor ou
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aquilo que eu gosto de fazer. Se repararmos no tipo
de pessoas que Jesus menciona, perceberemos que
todas elas são vítimas de um sistema social injusto,
que não sabe repartir a liberdade e a vida: famintos,
sedentos, estrangeiros (naquele tempo), pessoas sem
roupa (e sem casa), doentes e presos. Todos eles
vítimas dos sistemas econômicos e políticos que os
reduziram a esse estado e não tem como dele sair.
Numa só palavra, o critério do julgamento é a nossa
atitude diante dos marginalizados.
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Poderíamos entender, e isso já aconteceu muito, que
a justiça ou a misericórdia é dar um prato de comida
a um faminto, consolar um doente, levar um maço
de cigarros a um preso etc. Muito bom, porque muita
gente poderia até morrer se não fosse o socorro
imediato. Mas é preciso ir além: por que existem
famintos, sedentos, estrangeiros longe do lar,
pessoas desabrigadas, doentes e presos - em suma,
por que existem pessoas (e muitíssimas)
marginalizadas? Por que elas chegaram a isso?
Porque um sistema injusto e perverso as
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marginalizou. Não basta fazer a ação imediata e
urgente, e urgente que também lutemos pela justiça,
capaz de derrotar o sistema injusto e reintegrar os
marginalizados na dignidade da vida. Isso é lutar
pela liberdade e pela vida, para todos.
Surpresa geral
Tanto as ovelhas (justos) como os cabritos (injustos)
ficam surpresos: "Senhor, quando foi que te fizemos
isso? Quando foi que não te fizemos isso?" Pois é.
Aqui caem todas as classificações e denominações
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que usamos para nos proteger. Não importa se nos
classificamos como crentes ou ateus; Deus olha por
trás dos nossos rótulos, e sabe avaliar bem o
produto. E, assim, chegamos ao núcleo da questão: o
cerne da religião bíblica é a prática da justiça. Não
importa se somos cristãos (católicos ou evangélicos),
budistas, candomblistas, espiritistas, ou sei lá o quê.
Deus o justo, quer a justiça, e seu Filho mostrou o
que é a justiça. Podemos dar a Deus o nome que
quisermos, mas a sua vontade e o seu projeto
permanecem: ele quer a justiça, e é diante disso que
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seremos julgados. Na verdade, aí está o verdadeiro
ecumenismo: praticar a justiça. As ovelhas desta
parábola certamente nunca pensaram que praticando
a justiça estavam prestando o maior culto a Deus; os
cabritos certamente pensavam que o culto religioso
era tudo o que Deus queria, mas se enganaram. Deus
não quer nada para Si; além de dar tudo o que tinha,
entregou-se a si mesmo para dar a vida a todas as
criaturas. Pura ilusão pensar que podemos encontrar
a Deus sem trombar com o nosso próximo injustiçado
e marginalizado... E Jesus é o rei dos marginalizados.
Se quisermos encontrá-lo...
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O ápice da encarnação
"Todas as vezes que vocês fizeram (ou não fizeram)
isso a um dos menores dos meus irmãos, foi a mim
que o fizeram (ou não o fizeram)". Aqui está o ponto
mais alto da encarnação do Filho de Deus, espelho
para todos nós. No antigo hino da carta aos
Filipenses está dito que Jesus renunciou a sua
condição divina, assumiu a condição humana e,
dentro desta, foi ao mais fundo, até chegar a morte
de cruz (veja Filipenses 2,6-11). O mais fundo é
assumir a causa dos marginalizados e lutar por ela.
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O resto vem logo: a cruz. Claro. Defender a causa dos
marginalizados e denunciar a ordem injusta que os
produziu. Uma ameaça que a ordem injusta não
perdoa. A morte na cruz era reservada para os
subversivos que lutavam para derrotar a "ordem"
criada pela sede de poder e riqueza do império
romano. Hoje os impérios são outros, mas a sede
continua a mesma, e os marginalizados se
multiplicam.
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Para refletir em grupos
1. Como imaginamos o juízo final? Diante do quê vamos ser
julgados?
2. A prática da justiça é o critério do julgamento. Comente.
3. Praticar a justiça é simplesmente observar a "ordem"
estabelecida? Quem criou essa "ordem", e a quem ela serve?
4. Os marginalizados são pessoas que não encontraram lugar
dentro do sistema de sociedade em que vivemos. Comente.
5. Os marginalizados se multiplicam cada vez mais. Por quê?
Quais só os marginalizados de hoje?
6. A verdadeira religião é praticar a justiça. É essa a religião
que estamos vivendo?
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LUTAR PELA JUSTIÇA LEVA A MORTE (I)
(Mateus 26,1-19)
Toda vida tem um preço caro, seja ele pago em
suaves prestações ou brutalmente, de uma vez só.
Jesus vai pagar esse preço. Sua opção de lutar pela
justiça em favor dos pobres custou-lhe em vida a
incompreensão e difamação. Por ela enfrentou tudo
o que diminui e mata a vida do povo, chegando ao
ponto nevrálgico de desmascarar e acusar diante de
todo o sistema injusto e os seus mantenedores.
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Estes, porém, não se dão por vencidos, e agora
tentam matar o mestre da justiça. Mas, ironia da
vida, e matando o justo que o sistema injusto mostra
a sua verdadeira face: o condenado é reconhecido
como inocente, e os injustos condenam-se a si
próprios. Só não vê quem não quer.
A páscoa fatal e libertadora (ler 26,1-5)
Jesus anuncia que será morto na festa da páscoa
(26,1-5). Desse modo, está insinuando que ele
próprio é o cordeiro pascal. A páscoa no livro do
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Êxodo marcava a noite da libertação do Egito, terra
em que o povo de Deus era explorado e oprimido
(veja Êxodo 12). A morte de Jesus, cordeiro da
páscoa definitiva, marcará a libertação do povo de
Deus para sempre.
Enquanto isso, as maiores autoridades tramam a
morte de Jesus. São os saduceus, formados pela elite
da religião (sacerdotes) e pela elite da sociedade
(anciãos). Pensam usar a esperteza, mas tem medo
do povo. Eles sabem muito bem que a morte de
Jesus, defensor do povo pobre, poderia fazer com
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que o povo tornasse consciência da situação... E,
contra todas as expectativas deles, é o que vai
acontecer. A morte de Jesus abrirá para sempre a
suspeita contra os poderosos.
É hora de adesão e compromisso (ler 26,6-13)
Jesus está em Betânia, perto de Jerusalém, na casa
de um leproso (sempre com os marginalizados), e
uma mulher desconhecida o unge com perfume caro
(26,6-13). Ora, a unção na cabeça era feita para os
reis. Ela está reconhecendo Jesus como o seu rei. Por
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outro lado, o perfume era sinal de amor (veja o
Cântico dos Cânticos 1,12) e, portanto, de relação e
compromisso, justamente na hora em que Jesus vai
ser morto por causa de sua luta pela justiça.
Os discípulos criticam o gesto da mulher. Pensam
que os pobres precisam de esmolas. Ora, os pobres
não precisam de bondade paternalista, que é uma
forma de os doadores se sentirem "bons"; eles
precisam é de justiça. Bondade, na maioria das
vezes, é forma de não praticar a justiça. Em troca,
Jesus faz a grande revelação: "vocês terão sempre os
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pobres com vocês". Em outras palavras, Jesus diz
que a comunidade formada pelos seus seguidores é
aquela que escolheu ser pobre com os pobres,
assumindo a causa deles contra o sistema que gera
pobreza para sustentar a riqueza. E depois elogia o
gesto da mulher: ele será lembrado sempre, porque é
no amor - relação de compromisso com Jesus e com
os pobres - que a comunidade continuará o que
Jesus começou.
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O discípulo traidor (ler 26,17-25)
O mais curioso é que não é exatamente um inimigo
que vai provocar o destino fatal de Jesus. É um
discípulo que o acompanhou o tempo todo (26,1416). Atenção: ele pode ser qualquer um de nós que
não tenha decidido entre o projeto de Deus e o
projeto do dinheiro (reveja 6,24), que gera a riqueza,
que gera a exploração, que gera a miséria, que gera a
doença, que gera a morte...
É, em plena refeição de páscoa (26,17-25), a questão
continua: quem é que vai entregar Jesus? Todos
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perguntam: "Será que sou eu?" Uma pergunta que
também nos devemos fazer. Afinal, as boas intenções
podem sempre esconder interesses nem sempre
bons...
"Pôr a mão no prato" era um gesto de intimidade e
amizade. Jesus vai ser traído por um amigo. Como?
Será que não sou eu? A resposta afirmativa de Jesus
pode ser uma última chance para cada um de nós! E
o pior de tudo é que, traindo o amigo, nos traímos a
nós mesmos.
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(ler 26,26-29).
O limite do amor é entregar a própria vida
É no meio da celebração da páscoa, a festa da
libertação, que Jesus celebra a primeira missa
(26,26-29). Todas as nossas missas são a repetição
comprometedora desse gesto final de Jesus, resumo
e coroa de toda a sua vida, e também um convite a
fazermos o mesmo.
O "corpo" é a parte visível da pessoa. O "sangue" é a
vida misteriosa, dom de Deus que percorre as nossas
veias.
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Pois bem, Jesus anuncia que o sentido supremo de
sua vida de Filho de Deus e filho da humanidade e
entregar-Se a Si mesmo, entregar a própria vida para
que outros tenham a vida. Que outros? Aqueles que
são explorados e oprimidos, perdendo a vida que
receberam como dom de Deus. Não é apenas um
gesto simbólico, mas um gesto muito concreto: Jesus
entregou a si mesmo - seu corpo e seu sangue - para
que os pobres e fracos recuperassem o seu próprio
corpo e sangue, a sua própria vida. Isso foi a luta da
sua vida inteira, e também o sentido da sua morte.
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Mas o corpo e o sangue de Jesus são também o
alimento (pão) e a alegria (o vinho que leva ao
êxtase) para a nossa vida. E ele convida: Comam o
pão que é o meu corpo, bebam o vinho que é o meu
sangue. Aquilo que mais desejamos e tanto
buscamos está no supremo gesto de Jesus, que se
entrega pela causa da justiça, para que todos tenham
vida e alegria. Vida é o mistério da vida que se dá
para produzir mais vida.
Todas as vezes que participamos da missa estamos
entrando nesse supremo gesto de Jesus. Comendo o
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seu corpo e bebendo o seu sangue estamos nos
comprometendo com sua vida e seu projeto, isto é, a
liberdade e a vida para todos. Viver só para si mesmo
é morte que não dá fruto nenhum. É através do
sacrifício de nós mesmos, transformado em dom
para os outros, que a vida se faz. E não adianta
querermos segurá-la com as mãos. Ela sai pelo vão
dos nossos dedos.
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Para refletir em grupos
1. A morte de Jesus é esperança para todos os pobres. Comente.
2. A comunidade dos seguidores de Jesus escolheu ser pobre
entre os pobres, para combater o sistema que gera a pobreza.
Comente.
3. Eucaristia é compromisso com o projeto de Jesus. Como é
que sentimos nossa participação nas missas? A que elas nos
levam?
4. O maior prazer da vida é dar a vida. O que você acha disso? O
que a comunidade poderia fazer para dar mais vida aos que dela
precisam?
5. Jesus foi traído por um amigo. De que forma podemos ser
amigos traidores?
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