O enigma de Gaspar
Esta história apresenta a importância da
Geometria Descritiva, como ela surgiu e
seu principal conceito.
Conto principal/p.01
Na época da Revolução Francesa, em meados de
1789, havia um menino chamado Gaspar, que
sobrevivia pelas ruas. Era um tempo de
necessidades para o povo, faltava comida e, como
todos os garotos pobres, Gaspar, que era filho de um
amolador de facas, não podia esperar melhor futuro
que o do pai.
Ilustração do menino
Conto principal/p.02
Mas ele tinha algo diferente dos demais
garotos de sua idade: podia ver além das
formas aparentes. Quando olhava um objeto
não o via só de frente, mas logo o imaginava
por suas faces , em três dimensões. A única
coisa que ele precisava fazer era fechar os
olhos e se concentrar na figura que, então,
como num passe de mágica, aparecia em sua
mente em 3D .
Pop-up 01 – Hiperlink - 3D
Gaspar via as figuras assim, com
uma vista de frente (VF), uma
vista lateral esquerda (VLE) e uma
vista superior (VS). Ele aprimorou
uma técnica já iniciada pelos
egípcios.
Hiperlink faces
remete para H1
Conto principal/p.03
Ver sob o ângulo da geometria era um dom, um
presente que a natureza lhe havia dado por um sopro
de inspiração divina. O dom deu a Gaspar muitas
oportunidades. Certa vez, muito jovem, desenhou a
maquete de sua cidade e isso despertou a atenção do
diretor de um grande colégio, que o convidou para
estudar.
Ele foi então estudar nesse colégio, que ficava em um
prédio escuro, de paredes cinzas e disciplina rígida.
Seus professores o chamavam de “menino de ouro”.
Seu quarto, no sótão, tinha uma janela de vidro que
deixava um foco de luz entrar, às vezes, em uma
escrivaninha, às vezes, na cama de colcha branca.
Hiperlink geometria remete para H 2
Conto principal/p.04
Um dia, encontrou um garoto moreno, sentado
embaixo da escada do quarto:
- “Sabe fazer uma pipa?”, perguntou o garoto.
Gaspar sabia.
Napoleão não devia ter mais que 10 anos, baixote,
ainda conservava traços de bebê, mas já se via a cara
de homem que ele haveria de ter. Estava acuado,
ainda não tinha esquecido os carrinhos de
bombeiros e os pais já haviam decidido deixá-lo
interno no colégio.
Aqueles olhos castanhos amendoados e o rosto
assustado de um menino longe de casa causaram a
Gaspar profunda impressão .
Conto principal/p.05
Com o tempo, o menino de olhos tristes
cresceu e perdeu o medo. Gaspar começou a
dar aulas de matemática e desenho no
colégio, ensinando a seus alunos a verem da
mesma forma que ele via. Ajudava-os a
desvendar o mistério das três dimensões, que
logo os estudantes começaram a chamar pelo
nome do professor: “o enigma de Gaspar ”.
Ilustração Monge
Pop up – hiperlink
Gaspar Monge nasceu em 1746 e morreu em 1818. Ele é o criador da
chamada Geometria Descritiva, que tem como objetivo representar objetos
de três dimensões em um plano de duas dimensões (o desenho no papel,
por exemplo). A GD teve grande impacto no desenvolvimento tecnológico
de máquinas e da própria Revolução Industrial.
Conto principal/p.06
Não demorou muito para os diretores
perceberem que o toque mágico de
Gaspar poderia causar uma revolução,
principalmente em caso de guerra.
Com os novos desenhos, era possível
traçar planos de defesa, construir
fortificações e localizar o ponto de
encontro preciso entre duas superfícies,
causando drástica redução do
desperdício na fabricação de armas.
Em mãos inimigas, o enigma tiraria do
país qualquer vantagem de batalha.
Conto principal/p.07
Assim, trataram de proibir a divulgação do
enigma nas escolas para o povo e por 15
longos anos Gaspar permaneceu em uma
torre sem torre, pois só podia falar sobre sua
forma de ver as coisas aos alunos daquele
colégio cinza. E o dom era tão maravilhoso,
que todos queriam aprender o “O enigma de
Gaspar”.
Conto principal /p.08
Em uma manhã ensolarada, ele fixou a atenção em um
de seus alunos e reconheceu os mesmos olhos
castanhos de amêndoa.
O olhar de tristeza tinha adquirido um tom de
coragem.
Febril de inteligência, Napoleão destacava-se na
matemática e sua aptidão para liderar demonstrava
um caráter forte e determinado.
Hiperlink
Napoleão Bonaparte , que nasceu
em 1769 e morreu em 1821, foi o
imperador francês que na juventude
se tornou amigo de Gaspar Monge.
Espaço para
ilustração Napoleão
Conto principal/p.09
Uma empatia imediata marcada pelo encontro
naquele dia da pipa, fez com que os laços entre ambos
se estreitassem. Tornaram-se grandes amigos.
Passavam horas inteiras na biblioteca cheia de
prateleiras cor de madeira e ferros retorcidos em
flores das luminárias que desciam pela parede.
Corriam por bosques, perto de árvores altas e verdes
em todos os tons.
Tornaram-se amigos inseparáveis e Gaspar ensinou
seu dom a Napoleão.
Conto principal/p.10
O garoto que queria uma pipa tornouse um grande soldado. Por desenvolver
planos de guerra com astúcia e liderar
tropas, ele se tornou um homem de
tanto poder que virou general e depois
imperador. Napoleão mandou chamar
o mestre para ser seu conselheiro,
nomeando-o para um alto cargo na
corte.
Conto principal/p.11
O dia em que viu Josefine , de boca pequena e fresca
como um morango, nariz arrebitado, longos cabelos
sedosos e olhos castanhos, entrou por um caminho
sem volta e fez dela sua imperatriz.
Mas as guerras o chamavam, porque Napoleão
queria ser o dono do mundo.
Josefine não tinha ilusões. Já tinha casado e tido
filhos, sabia de cor as dores de parto e as artimanhas
do amor, e abriu seu coração a Gaspar, que já
entrava na maturidade
dos cabelos brancos
“
despontando.
Hiperlink – pop up
Josephine de Beauharnais (nasceu em 1763morreu em 1814), a primeira mulher de
Napoleão.
Ilustração de Josefine
Conto principal/p.12
Josefine amava Napoleão pela sensação de poder que a
relação lhe dava.
E amava Gaspar pelos anos de harmonia e paz que seu
amor lhe acenava.
Napoleão amava Josefine pela proteção que sentia vir dela.
O conquistador do mundo precisava de colo.
Gaspar a amava por afinidades que tinham.
E ela amava o poder de ambos.
Conto principal/p.13
Porém, quando no amor há um terceiro que chora,
Napoleão e Gaspar romperam a amizade, embora a
admiração recíproca se mantivesse no íntimo de
cada um.
Josefine permaneceu ao lado de Napoleão, mas em
pouco tempo a realidade bateu à porta. O fantasma
apareceu quando Josefine caiu de uma bancada e
não pôde mais ter filhos.
Ao dar-se conta de que precisava de um herdeiro
para continuar a dinastia, Napoleão divorciou-se
dela para se casar com uma princesa austríaca.
Conto principal/p.14
Depois de vencer muitas batalhas, o grande conquistador foi
derrotado por um general inglês na “Batalha de Waterloo”,
cidade mais próxima do enfrentamento.
Ao saber da derrota do amigo e ver-se perseguido por
revolucionários, Gaspar refugiou-se no interior da França,
em uma lavoura de vinhedos.
Ele não sobreviveu ao sentimento de culpa pela traição, nem
ao infarto provocado pela notícia da derrota de Napoleão.
Seus discípulos e alunos quiseram prestar-lhe uma última
homenagem, levando coroas de flores a seu túmulo.
Entretanto, o rei, que havia voltado ao poder, decidiu
proibir qualquer manifestação de apreço ao “amigo do
ditador”.
Conto principal/p.15
Gaspar morreu sem título de nobreza, mas com o nome
inscrito na história, pois não há como falar em desenho
sem citar seu dom mágico de ver as formas. Napoleão
foi exilado em uma ilha e ainda hoje se suspeita de que
tenha sido envenenado por arsênico. Josefine viveu até o
fim de seus dias em um palácio nas redondezas de Paris,
cuidando das flores que amava.
E, como todo segredo que é para ser guardado a sete
chaves, o “enigma de Gaspar” espalhou-se pelo mundo.
FIM
Hiperlink
Enigma de Gaspar remete para H3
O sistema de Gaspar Monge, ou mongeano, utiliza a
planificação do que foi projetado em um dos 4 diedros
formados a partir do cruzamento de dois planos, um
horizontal e outro vertical.
Conto principal/p.16
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versão final O enigma de Gaspar