A JUSTIÇA DE DEUS LUIS FERNANDO RITZEL I - Definindo a Justiça e retidão de Deus: • No dicionário internacional de Teologia define a justiça divina como uma palavra que representa aquilo que é a ideia mais importante para uma correta compreensão do governo, seja o governo do homem pelo homem, seja o governo de toda a criação por Deus. Embora muitas vezes traduzida por justiça nas mais de 400 ocorrências de mishpat na Bíblia hebraica. Essa justiça é basicamente um atributo de Deus, todo o mishpat verdadeiro tem a sua fonte no próprio Deus e, por esse motivo traz consigo as exigências divinas. • O mishpat como justiça, ou seja, retidão arraigada no caráter de Deus e Deus exige também dos homens essa verdadeira justiça (Sl. 1. 5-6). O senhor se agrada da justiça. Veja: “Pois o Senhor é justo, e ama a justiça; os retos verão a sua face”(Sl 11. 7). • A retidão denota conformidade a uma norma e com frequência a norma é a aliança. Deus e Israel são retos quando fiéis á aliança. • Mas as palavras justiça e retidão são usadas de tantas maneiras diferentes no Antigo Testamento que cada um deve ser analisado de acordo com seu contexto. • "Justiça significa dar a cada um o que merece." A justiça de Deus é a retidão de sua natureza, aquilo pelo qual faz o que é reto e de igual medida. "E não pagará ele ao homem segundo as suas obras?" (Pv 24.12). Deus é um juiz imparcial. Ele julga a causa. Os homens geralmente julgam a pessoa, mas não a causa. Isso não é justiça, mas malícia. "Descerei e verei se, de fato, o que têm praticado corresponde a esse clamor que é vindo até mim" (Gn 18.21). Quando o Senhor está diante de um ato punitivo, pesa as coisas na balança, não pune de qualquer maneira; não age desordenadamente, mas de maneira lógica contra os ofensores. II - Em relação á justiça de Deus: • a. A justiça de Deus é santa: Deus só pode ser justo. Sua santidade é a causa de sua justiça. A santidade não permitirá que faça outra coisa senão o que é justo. • b. A justiça de Deus é o padrão de justiça: A vontade de Deus é a suprema regra de justiça; é o padrão de equidade. Sua vontade é sábia e boa. Deus deseja somente o que é justo e, portanto, é justo porque deseja ser. • c. A justiça é natural ao ser de Deus: Deus faz justiça voluntariamente. A justiça flui de sua natureza. Os homens podem agir injustamente, pois são forçados ou subornados. A vontade de Deus nunca será subornada, por causa de sua justiça. Não pode ser forçado, por causa de seu poder. Ele pratica a justiça por amor à justiça: "Amas a justiça.." (SI 45.7). • d. A justiça de Deus é perfeita: A justiça é a perfeição da natureza divina. Aristóteles disse: "A justiça engloba em si todas as virtudes". Dizer que Deus é justo é dizer que é tudo o que há de excelente: as perfeições se encontram nele como linhas convergem para um centro. Ele não é somente justo, mas a própria justiça. • e. A justiça de Deus é exata: Deus nunca cometeu nem nunca cometerá o mínimo erro em relação às suas criaturas. A justiça de Deus já foi distorcida, mas nunca distorceu. Deus não segue de acordo com o rigor da lei, ele alivia sua severidade. Pode infligir penas mais pesadas do que impõe: As misericórdias para conosco são mais do que merecemos, e nossas punições são menos do que merecemos. III - O Senhor Deus como um bom juiz: • Segundo Smith, três coisas são essenciais para um bom juiz: autoridade e soberania, decisões justas e imparciais e a capacidade de interpretar corretamente todas as evidências. O Senhor tem todas as qualidades, a sua maior e grande capacidade é que Deus tem a capacidade de olhar dentro das pessoas. O Senhor disse a Samuel: “ O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração” ( 1Sm 16.7). • Em todo o Antigo Testamento, Javé é apresentado como um Deus de justiça, que recompensa o bem e castiga o mal. A Ele pertencem a vingança e a retribuição (Dt32.35), que podem ser coletivas ou individuais. Por isso, há tantas advertências e ameaças, bem como recompensas prometidas e castigos anunciados. Os parâmetros de julgamento, segundo Gerhard von Rad, estão relacionados ao conceito de tzedâkâh, que “constitui o critério das relações entre o ser humano e Deus, dos seres humanos entre si, até nas disputas mais insignificantes, do ser humano com os animais e do ser humano com o ambiente natural em que ele se move” • Essas relações são baseadas na reciprocidade e em um contexto cultural próprio, que evolui continuamente numa multiplicidade de relações de comunicação, cada uma trazendo em si mesma a própria lei. É a ética de resposta. Rad lembra que quando Saul declara que Davi é mais justo do que ele está dizendo que Davi levou mais a sério e respeitou melhor o laço comunitário que os prendia um ao outro (1Sm 24.18). O fato de não ter tocado em Saul, que lhe fora entregue indefeso, é atribuído à justiça de Davi (1 Sm 26.23). • Tzedâkâh foi traduzido para o Ocidente como “justiça”, sugerindo a ideia de um bom comportamento do ser humano em função de uma norma moral absoluta, exigindo que cada um receba o que lhe é devido. Mas Rad mostra que este termo não significa uma norma moral abstrata e absoluta, porém um conceito de relação de comunicação entre dois seres na qual se encontra, a cada momento, aquele que age. • Já Louis Berkhof afirma que “a ideia fundamental de justiça é a de estrito apego à lei. Entre os homens ela pressupõe que há uma lei à qual eles devem ajustar-se”. Às vezes se diz que não podemos falar de justiça em Deus, porque não há lei à qual Ele esteja sujeito. Mas embora não haja lei acima de Deus, certamente há uma lei na própria natureza de Deus, e esta constitui o mais elevado padrão possível, pelo qual todas as outras leis são julgadas. • Javé em vários momentos age como um juiz diante de um tribunal, que investiga, inquire, para então condenar ou absolver. Javé se revelava ao povo em manifestações impressionantes de justiça e dele provinham também as leis vitais, que possibilitavam a existência comunitária entre os seres humanos. • A justiça exige a punição do transgressor, a qual visa a vindicação da própria justiça e a santidade de Deus, que reage contra o pecado através de seu castigo. • No Pentateuco, o tribunal da justiça de Deus surge para julgar a desobediência de Adão e Eva, o assassinato de Caim, a corrupção moral da humanidade nos tempos de Noé, a soberba humana na construção da Torre de Babel e a promiscuidade sexual de Sodoma e Gomorra. Em todas essas situações, Deus julga as pessoas, em alguns casos por seus atos violentos, e aplica sentenças por vezes também violentas. Essas punições fazem parte de um conceito de justiça especial da relação entre esse Deus e o seu povo, que ocorre num contexto cultural específico. IV - A salvação de Deus é genuína: • A salvação de Deus não é “mercadoria contrabandeada”. Deus quer que a nossa salvação venha pela “porta da frente”. Nossa salvação tem de ser correta e adequada. Ele não permitirá que ninguém diga que a nossa salvação é inadequada. Ele não oferece uma salvação fraudulenta. • Uma salvação fraudulenta é rejeitada por Deus. A intenção de Deus é salvar-nos, mas Ele quer fazê-lo de maneira a estar relacionado com Sua natureza, Seu padrão moral, Sua dignidade, Sua lei e Sua justiça. Deus não pode salvar-nos ilegalmente. • Na verdade, Deus não amaldiçoa nem castiga. O seu juízo é apenas de constatação, como se alertasse o ser humano das agruras que sofrerá por consequência de sua escolha. • Quando Ele visita com castigos as infrações morais demonstra retidão, pois julgar o pecado é próprio de um Deus justo, embora possa agir com misericórdia em seguida, principalmente, em relação ao arrependimento. • Evitar a violência, no limite do possível e da infinita misericórdia de Deus, é o objetivo. Todos os povos, todas as nações, estão sob a jurisdição de Javé, estão sujeitos ao seu julgamento, juízo e justiça. Diante dele estamos todos na mesma condição, dependentes de seu amor e sua graça e misericórdia. • E ainda Deus deseja de nós que pratiquemos a justiça (Mq 6.8).