O Modelo de Interação do Multiplicador e Acelerador de Samuelson (1939) Prof. Giácomo Balbinotto Neto UFRGS Bibliografia Chiang (1982, cap. 14) Dowling (1981, cap. 20) Burda & Wyplosz (2005, cap. 14.3.2) Samuelson, P. (1939). Interactions Between the Multiplier Analysis and the Principles of Acceleration. Review of Economics Statistics: 7578. 2 O Modelo de Interação do Multiplicador e Acelerador de Samuelson (1939) Maybe the most famous second-order difference equation in economics is the one associated with Samuelson’s multiplier accelerator model. Thomas Sargent (1979, p. 184) 3 O Modelo de Interação do Multiplicador e Acelerador de Samuelson (1939) O modelo de Samuelson (1939)[Samuelson Oscilator] nos mostra, de modo simples, como a interação entre o multiplicador e o acelerador é capaz de gerar flutuações cíclicas endogenamente. Paul Samuelson credits Alvin Hansen rather than Harrod for the inspiration behind his seminal 1939 contribution. The original Samuelson multiplier-accelerator model (or, as he belatedly baptised it, the "Hansen-Samuelson" model) relies on a multiplier mechanism which is based on a simple Keynesian consumption function with a Robertsonian [http://cepa.newschool.edu/het/essays/multacc/samacc.htm] 4 A Estrutura do Modelo - A renda nacional Yt é composta por três fluxos de gastos: Ct – consumo; It – investimento; Gt – gastos do governo. 5 A Estrutura do Modelo O consumo corrente [Ct] é assumido ser uma função da renda do período anterior [Yt-1]. Aqui assumimos que Ct seja estritamente proporcional a Yt-1. O investimento é assumido ser do tipo induzido, sendo uma função da tendência vigente dos gastos de consumo. É através deste investimento induzido que o princípio da aceleração entra no modelo de Samuelson (1939). Os gastos do governo [Gt] são assumidos serem exógenos. Aqui, por simplificação, supomos que sejam constantes e iguais a Go. 6 A Estrutura do Modelo: As Equações Yt = Ct + It + Go Ct = Yt-1 , 0 < < 1 - propensão marginal a consumir It = (Ct – Ct-1) , > 0 - é o acelerador 7 A Estrutura do Modelo: As Equações Dada a equação do consumo, pode-se expressar a equação do investimento como: It = (Yt-1 – Yt-2) = (Yt-1 – Yt-2) 8 A Estrutura do Modelo: As Equações Substituindo a equação do investimento e a equação do consumo na equação da renda, obtemos: Yt - (1 +) Yt-1 + Yt-2 = Go ou Yt+2 - (1 +) Yt+1 + Yt = Go 9 A Estrutura do Modelo: As Equações Yt+2 - (1 +) Yt+1 + Yt = Go esta é uma equação em diferenças de segunda ordem com termo e coeficientes constantes, que pode ser resolvida encontrado-se a integral particular e a função complementar. [cf. Chiang (1982, cap. 17)] A solução deste modelo consiste em achar a integral particular e a função complementar. 10 A Solução do Modelo A integral particular representa o nível de equilíbrio intertemporal do Yp. A função complementar, Yc, especifica, para cada período de tempo, o desvio em relação ao equilíbrio. 11 A Solução do Modelo: #1 – A Integral Particular A integral particular, que em termos do modelo de Samuelson (1939) equivale ao nível de equilíbrio da renda no longo prazo é resolvido estabelecendo-se que: Yt = Yt+1 = Yt+2 = Yp 12 A Solução do Modelo: #1 – A Integral Particular A integral particular é dada por: Yp = Go/ [1- (1 + ) + ] = Go/(1- ) [1/ /(1- )] é simplesmente o multiplicador keynesiano simples que prevaleceria na ausência do investimento induzido. Assim, [Go/(1- )] – o gasto exógeno vezes o multiplicador da renda, nos dá a renda de equilíbrio do modelo, no sentido de que este nível de renda satisfaz a condição de equilíbrio [renda = demanda agregada]. 13 A Solução do Modelo: #2 – A Função Complementar e a Estabilidade do Equilíbrio A equação [Yt+2 - (1 + ) Yt+1 + Yt = Go] possui a seguinte equação característica: 2 b - (1 + )b + = 0 a qual pode ser resolvida para duas raízes b1 e b2. Contudo, visto que a convergência ou divergência dependem dos valores de b1 e b2, que por sua vez dependem dos valores dos parâmetros e , as condições para convergência ou divergência devem ser expressas em termos dos valores de e . 14 A Solução do Modelo: #2 – A Função Complementar e a Estabilidade do Equilíbrio A resolução da equação de segundo grau é dada pela fórmula de Bhaskara: 2 ½ r1,r2 = b (b – 4ac) /2a 15 A Solução do Modelo: #2 – A Função Complementar e a Estabilidade do Equilíbrio As duas raízes b1 e b2 são sempre relacionadas entre si pelas seguintes equações: b1 + b2 = (1 + ) b1.b2 = 16 A Solução do Modelo: #2 – A Função Complementar e a Estabilidade do Equilíbrio Caso #1 – Raízes Reais e Distintas Dado que e são ambos positivos, isto implica que b1 e b2 são também positivos. Como (1+) > 0, temos que b1 e b2 precisam ser positivos. Isto implica que, no caso #1, a trajetória temporal de Yt não admite oscilações. 17 Caso #1 – Raízes Reais e Distintas combinações possíveis dos valores de b1 e b2 (i) 0 < b2 < b1 < 1 <1 ; < 1; (ii) 0 < b2 < b1 = 1 =1 (iii) 0 < b2 < 1 < b1 > 1 ; (iv) 1 = b2 < b1 <1 ; < 1; (v) 1 < b2 < b1 <1 ; > 1 18 Caso #1 – Raízes Reais e Distintas As combinações possíveis dos valores de b1 e b2 e suas implicações Para a situação (i), onde b1 e b2 têm, ambos, valores fracionários e positivos, o produto (1-b1)(1-b2) é positivo. Isto pode ser escrito como: 1-b1-b2 + b1b2 = 1 - (1+) + = 1 - Isto por sua vez implica que < 1, que é consistente com a especificação do modelo. 19 Caso #1 – Raízes Reais e Distintas As combinações possíveis dos valores de b1 e b2 e suas implicações Contudo, as possibilidades (ii), (iii) e (iv) violam, todas, a especificação do modelo, pois implicam num valor de 1. Assim, elas devem ser eliminadas pois não satisfazem, do ponto de vista teórico, as exigências estabelecidas no modelo. [cf. Chiang (1982,p.516)] 20 Caso #1 – Raízes Reais e Distintas As combinações possíveis dos valores de b1 e b2 e suas implicações Já a possibilidade (v) é admissível do ponto de vista teórico. Neste caso temos que b1 e b2 são ambas maiores do que 1; portanto, o produto (1-b1)(1-b2) = 1- , sendo o produto de dois termos negativos, é novamente positivo, implicando que < 1. Assim, para o caso #1, temos duas possibilidades teóricas plausíveis. 21 Caso #1 – Raízes Reais e Distintas As combinações possíveis dos valores de b1 e b2 e suas implicações Na possibilidade (i) – que envolve raízes fracionárias, temos que a trajetória temporal gerada será convergente em relação a Y. Já na possibilidade (v), onde as raízes são maiores que 1, obtemos uma trajetória temporal divergente. No que se refere aos valores de e , a questão da convergência ou divergência depende de se < 1 ou > 1, pois = b1b2 é menor (maior) do que a unidade quando b1 e b2 são ambos frações positivas (maiores do que 1). 22 Caso #2 – Raízes Repetidas As combinações possíveis dos valores de b1 e b2 e suas implicações As raízes são iguais a b = [(1+)/2] com sinal positivo porque e são positivos. Portanto, temos que, novamente, não são geradas oscilações neste caso. O valor de b gera três possibilidades teóricas: (vi) 0 < b < 1 <1 ; < 1; (vii) b = 1 =1 (viii) b > 1 > 1 ; > 1 23 Caso #2 – Raízes Repetidas As combinações possíveis dos valores de b1 e b2 e suas implicações Na possibilidade (vi), b é uma fração positiva, o que implica que: 2 2 (1-b) = 1 – 2b+ b = 1 - [(1+)] + = 1 - > 0 <1 2 Na possibilidade (viii) temos que (1-b), temos que > 0. Por fim, quando b=1, na possibilidade (vii), temos que: 2 (1-b) = 0 , de modo que =1, o que viola a especificação do modelo, indicado que ela não é teoricamente plausível e deve ser eliminada. 24 Caso #2 – Raízes Repetidas As combinações possíveis dos valores de b1 e b2 e suas implicações O caso # 2 (de raízes repetidas) gera dois casos teoricamente admissíveis – as possibilidades (vi) e (viii). Na possibilidade (vi) é gerada uma trajetória temporal convergente, ao passo que na possibilidade (viii) – gera-se uma trajetória divergente. 25 Caso #3 – Raízes complexas As combinações possíveis dos valores de b1 e b2 e suas implicações No caso de raízes complexas, temos uma flutuação escalonada (visto que estamos lidando com um modelo com equações a diferenças) que apresenta ciclos econômicos endógenos. Neste caso temos que buscar o valor absoluto de: 1/2 R = (a) para verificar se a trajetória é convergente ou divergente. 26 Caso #3 – Raízes complexas As combinações possíveis dos valores de b1 e b2 e suas implicações O modelo gera três possibilidades teóricas para este caso, onde: ½ R = () (ix) R < 1 <1 (x) R = 1 = 1 (xi) R > 1 > 1 27 Resumo dos Casos Caso #1 – raízes reais e distintas 2 > [4/(1+) ] # 2 – raízes reais e repetidas 2 = [4/(1+) ] # 3 - raízes complexas 2 > [4/(1+) ] Subcaso Valor de 1C: 0<b2<b1<1 <1 ID: 1 <b2<b1 > 1 2C: 0 < b < 1 <1 2D: b > 1 > 1 3C: R <1 < 1 3D: R 1 1 Trajetória temporal de Yt Não oscilatória e sem flutuações Não oscilatória se sem flutuações Com flutuação escalonada 28 Resumo dos Casos Se as raízes características forem complexas conjugadas, a trajetória no tempo oscilará, isto é, teremos ciclos econômicos regulares. 29 Resumo Gráfico dos Resultados 2 = [4/(1+) ] = 1 30 Sites Recomendados http://cepa.newschool.edu/het/essays/multacc/samacc.htm http://www.eumed.net/cursecon/textos/samuelson/index.htm http://www.econlib.org/library/Enc/bios/Samuelson.html 31 Curiosidade Bhaskara é o autor de um dos mais importantes livros de história da Matemática que tem o nome de sua única filha Lilavati. Conta a lenda que a única maneira de uma mulher ter uma alma era através do casamento, mas por causa de um incidente isto não foi possível, foi quando Bhaskara resolveu honrar a filha dando-lhe uma segunda chance. Escreveu um livro e deu o nome de Lilavati. Um casamento teria dado a Lilavati uma alma, mas o amor de Bhaskara pela filha deu a ela a eternidade. Este é o mundo que rodeia estes homens, um mundo de mistérios, descobertas, paixões e magia. 32 FIM Prof. Giácomo Balbinotto Neto UFRGS