INTRODUÇÃO AOS CLÁSSICOS DO PENSAMENTO ECONÔMICO
Karl Marx
Contexto histórico
• A época de Marx foi marcada por perturbações sociais violentas e pela
transformação da estrutura política do período.
1. Movimentos revolucionários;
2. Levantes da classe trabalhadora.
• Tudo isso resultava diretamente da miséria e do sofrimento a que
estava submetido o proletariado, esmagado pela insalubridade de seu
trabalho.
• Ainda era grande a instabilidade política produzida pela inépcia e
despotismo de Estados em que prevalecia o ideário absolutista.
• Itália e Alemanha ainda não unificadas contribuíam para esta situação.
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O socialismo científico
• O Manifesto do Partido Comunista, escrito por Marx e Engels, lança as
bases filosóficas do socialismo científico, convocando o proletariado a
unir-se pela derrubada do capitalismo.
• Marx criticou os socialistas que o precederam, Fourier, Owen, SaintSimon, condenando o idealismo e o sentimentalismo com que
sustentavam seus argumentos contra o capitalismo. Por tudo isso,
chamou-os utópicos.
• Este autor valeu-se então
1. Da pesquisa científica;
2. Do profundo estudo da história humana;
3. Da abstração dedutiva.
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A dialética e o método de Marx
• A doutrina marxista consiste em duas disciplinas :
“O materialismo histórico, ou ciência da história, e o materialismo
dialético, ou filosofia marxista.”
• O materialismo histórico é propriamente o estudo “ dos modos de
produção, sua constituição, funcionamento e suas transformações.”
• O objeto do materialismo dialético está constituído
1. Pelo que Engels chama “a história do pensamento”
2. O que Lênin denomina:
i. a história da transição da ignorância ao conhecimento;
ii. a diferença histórica entre ciência e ideologia;
iii. a teoria da história e da cientificidade e etc.
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A origem da dialética
• A implicação desta lei, a mais imediata, é a manutenção dos salários
em um alto nível, enquanto, paralelamente, a indústria mais importante
da Grã-Bretanha, a algodoeira, necessita de cortar seus gastos para
recuperar a margem de lucro em processo de retração.
• As Corn Laws determinam, portanto, a oposição direta dos capitalista
industriais aos proprietários no que diz respeito aos rendimentos de
cada um.
• “O sistema de Ricardo emergiu diretamente e espontaneamente do
grande debate sobre as Corn Laws em 1814-16”
• “ (...)por motivos analíticos Ricardo sempre emprega ‘cereal’ como um
termo representativo para os salários. Fazendo isso, ele concentrou seu
aparato teórico nas repercussões econômicas das Corn Laws.”
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Ricardo e a controvérsia bulionista
• A Inglaterra, no final do século XVIII envolveu-se em uma série de
guerras que consumiram grandes investimentos bélicos, pago com a
transferência de ouro inglês, às frentes de batalha alocadas em outros
países.
• Dessa forma, a utilização do ouro para cobrir gastos imediatos, levou à
redução das reservas de metais. O banco inglês agiu então, em 1797,
impondo a circulação de papel-moeda, em substituição ao ouro.
• O papel-moeda sofreu desvalorizações sucessivas, passando a possuir
um poder de compra cada vez menor, ou seja, a inflação manifestou-se
em um aumento dos preços.
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Ricardo e a controvérsia bulionista (cont.)
• Ricardo atribuía esta inflação à emissão excessiva de moeda, efetuada
pelo banco da Inglaterra.
• Como solução propôs a redução da moeda circulante numa magnitude
equivalente ao aumento dos preços que desejava-se corrigir.
• Isto é, deveria-se impor a redução da quantidade de moeda até que
cada uma delas atingisse o valor de cunhagem, correspondendo à
quantidade de ouro inicialmente estabelecida.
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O iluminismo e a emancipação da economia
• A revolução francesa em fins do século XVIII faz do liberalismo
filosófico força política e realidade social.
• Esta nova forma de construir o conhecimento humano, deu origem à
especialização intelectual, e à divisão do processo de produção do
conhecimento em estágios independentes.
• Da filosofia, ciência mestra, emancipam-se campos de estudo que
passam a dispor do status de ciências independentes, como a
economia.
• Esta ciência nascente tem seu campo de estudo definido num primeiro
momento quando Adam Smith publica A Riqueza das Nações.
• Ricardo foi muito influenciado pela obra de Smith. Tanto que podemos
afirmar que é da leitura desta que formou-se boa parte de seu interesse
pela consideração teórica das questões econômicas.
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A teoria da renda e do lucro
Significado da teoria da renda e do lucro:
• Ricardo, ao estudar a produção focaliza a “determinação do valor e da
evolução da taxa de lucro.”
• A teoria da renda de Ricardo foi elaborada para dar consistência à sua
teoria dos lucros.
• Ela nasce inspirada no trabalho de Mathus, An Inquiry into the nature
and causes of Rent, de 1815.
• Dobb nos diz que “ A sua teoria dos lucros foi em muitos aspectos mais
importante [do que a teoria da renda] para a estrutura essencial da sua
doutrina.”
• A renda surge no sistema de Ricardo como diferença entre os produtos
brutos obtidos no cultivo de terras de diversos graus de fertilidade.
• Trata-se, portanto, de uma renda diferencial.
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A teoria da renda e do lucro (cont.)
• Para analisar como a renda afeta a taxa de lucro, Ricardo parte
inicialmente de um modelo simples no qual o único produto é o cereal.
• O capital investido é reduzido a cereal, bem como o produto final e o
lucro.
• A partir disso é colocado que “A taxa de lucro e juro deve depender da
proporção de produção destinada ao consumo necessário para essa
produção.”
• Isto é, os lucros são determinados pela proporção entre cereal
produzido(produto bruto) e cereal consumido(salários) na agricultura.
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A teoria da renda e do lucro (cont.)
Dedução da teoria da renda:
• As terras de uma região são limitadas tanto em sua quantidade como
em sua fertilidade.
 Em relação a este último parâmetro, existe uma margem intensiva e
uma margem extensiva.
• A margem intensiva diz respeito à intensidade do cultivo em
determinada terra.
• Indica, portanto, a quantidade de trabalho - e - capital empregada a
partir da qual uma determinada terra passa a gerar produtos brutos
cada vez menores.
• A margem extensiva diz respeito à extensão do cultivo por diversas
terras. É o limite de expansão territorial a partir do qual o produto bruto,
obtido nas novas terras, passa a ser cada vez menor.
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A teoria da renda e do lucro (cont.)
• No início do processo de ocupação, a produção das terras de maior
grau de fertilidade é suficiente para proporcionar a subsistência dos
habitantes.
• Com o aumento populacional terras de grau inferior têm de ser
ocupadas.
• Aplicando-se a mesma intensidade de trabalho em todas as terras, de
acordo com o grau de fertilidade, obterá-se mais ou menos produto
bruto.
• A quantidade de produto bruto obtido é diretamente proporcional à
fertilidade.
• Portanto, como a ocupação dá-se do maior para o menor grau de
fertilidade, o número de terras utilizadas é inversamente proporcional
ao produto bruto adicionado a cada avanço do processo de ocupação.
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A teoria da renda e do lucro (cont.)
• De acordo com o corolário mathusiano o salário conserva-se no nível
de subsistência (independente das condições de cada terra).
• Desta forma, o produto líquido diminui proporcionalmente à redução do
produto bruto.
• É importante perceber que a renda não participa da formação dos
preços, ela é determinada pelos preços.
• Nas palavras de Ricardo:“O cereal não é caro porque paga-se a renda,
mas paga-se a renda porque o cereal é caro.”
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Análise da teoria da renda e do lucro
Implicações da teoria da renda e do lucro:
• A queda do lucro na economia representa decadência para Ricardo,
pois implica em menor acumulação e posterior produção.
• Este raciocínio fundamenta a contestação que Ricardo promoveu
contra a Lei dos Cereais, votada e colocada em vigor pelo parlamento
inglês.
• Esta lei impedia a entrada de cereais na Inglaterra. Ela sobrecarregava
a produção interna, elevando a margem de cultivo e portanto levando à
redução dos lucros.
• Com isso Ricardo prevê que as nações tendem ao estado estacionário
(steady state), no qual os lucros inexistem.
• Como Ricardo acreditava que o lucro é a motivação única da
acumulação, no estado estacionário a acumulação simplesmente não
ocorrerá.
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Análise da teoria da renda e do lucro (cont.)
• O estado estacionário aproxima-se a cada extensão da margem de
cultivo.
• Isto pois cada passo neste sentido implica em nova redução dos lucros.
• A grande conclusão de Ricardo é que :
“Se os salários subirem os lucros terão, necessariamente, de cair.” Daí
deriva a relação antagônica existente entre os interesses dos
capitalistas e dos trabalhadores.
Problemas na teoria do lucro
• A dedução apresentada mostra-se problemática quando são levados
em conta os movimentos dos preços, cotados em moeda.
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Análise da teoria da renda e do lucro (cont.)
• A conclusão de que os lucros agrícolas determinam os lucros do
sistema mostra-se falsa quando fazemos o seguinte raciocínio:
1. O aumento do preço do produto bruto gerado em cada terra - e
portando da receita captada pelo capitalista - é possivelmente capaz de
compensar o aumento do custo em salários, fazendo com que os lucros
se conservem.
2. Isso pois os salários são pagos com a produção da terra, o cereal, que
é tanto o produto como o insumo.
3. Ou seja, com o aumento do valor nominal do cereal, eleva-se tanto o
salário como a receita que será utilizada para pagá-los no período
precedente.
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Análise da teoria da renda e do lucro (cont.)
• Assim os lucros não se reduziriam na agricultura e sim na indústria,
dado que somente os salários dos trabalhadores que contrata
consistem em cereal.
• Neste setor a subida dos salários não é acompanhada pela subida dos
preços- seus produtos são manufaturas e não cereais- e isto resulta
numa queda nos lucros auferidos.
• Dessa forma, “é a taxa de lucro industrial que regula a taxa de lucro
agrícola, e não o inverso.”
• Para facilitar a compreensão deste crucial encadeamento de efeitos,
um pouco de álgebra será introduzida.
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Análise da teoria da renda e do lucro (cont.)
• O preço do produto da terra mais fértil é dado por Xp, ou seja produto
bruto em quilos de cereal (X) multiplicado pelo preço do quilo de
cereal(p).
• O preço do produto da terra menos fértil é dado por X(p+p), devido ao
maior investimento que tem de se fazer nesta terra para obter a mesma
quantidade X de cereal.
• Como o maior preço é o que valerá, pois nenhum capitalista deixará de
desfrutar da possibilidade de lucro extra, o preço do quilo cereal será
agora (p+p).
• Para produzir cereal é necessário investir cereal, na forma de
salário.Então teremos um aumento tanto dos custos da produção como
da receita da produção.
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Análise da teoria da renda e do lucro (cont.)
• Ou seja, quando somente a primeira terra é cultivada, os salários serão
dados por (wT)p, ou seja, a quantidade em quilos de cereal(w)
consumida por cada trabalhador multiplicada pelo número de
trabalhadores (T) e multiplicada pelo preço do quilo do cereal, em
moeda.
• A taxa de lucro será então:
• De onde tiramos que o preço do quilo de cereal realmente não influi na
taxa de lucro,e mesmo com sua elevação, esta última conservar-se-á .
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Análise da teoria da renda e do lucro (cont.)
• Já na indústria a situação será diferente.Supondo que salários,
consistindo em cereal, são pagos no valor de w’T’p, e que a receita de
um dado setor é de X’p’,a taxa de lucro será dada por:
• Mas, com o aumento do preço do cereal, advindo da agricultura, de p
para p+Dp, a nova taxa de lucro será de:
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Análise da teoria da renda e do lucro (cont.)
• Concluímos então, que, com o aumento do preço do cereal, provocado
pela maior dificuldade de obtê-lo, a taxa de lucro é reduzida somente na
indústria,conservando-se na agricultura a mesma taxa de lucro.
A teoria do lucro modificada
• Para tornar rigorosa a teoria Ricardiana do lucro, adaptaremos suas
premissas originais, excluindo a influência do preço.
• Isso será feito expressando-se todos os preços fisicamente como
quantidades de cereal. O lucro passa a ser a quantidade excedente de
cereal sobre os salários(também em cereal).
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Análise da teoria da renda e do lucro (cont.)
• Com isso em mente, a “nova” teoria será introduzida na forma de
exemplo.
• Um capitalista contrata T trabalhadores, pagando a cada um deles w kg
de cereal, para que cultivem suas terras que são , no momento, as de
pior qualidade possível. No final do ano, X kg de cereais são
produzidos. Com isso o lucro será de X- wT (1). Sendo r a taxa de
lucro, ela será dada por:
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Análise da teoria da renda e do lucro (cont.)
• Se chamarmos de a a quantidade de cereal produzida por cada
trabalhador, teremos que:
• Levando (3) em (2):
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Análise da teoria da renda e do lucro (cont.)
 Observado esta equação percebemos que r aproxima-se de 0 quando a
aproxima-se de w ; ou seja, quando o produto por trabalhador for
totalmente gasto em salários não haverá lucro.
 Quando a margem de cultivo se estender a uma terra da qual poderáse retirar um produto bruto suficiente apenas para cobrir os gastos
salariais, o produto por trabalhador a será exatamente igual ao gasto
para manter este trabalhador.

Então, nas condições deste modelo, quanto mais terras são cultivadas,
menor será a taxa de lucro agrícola.
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Análise da teoria da renda e do lucro (cont.)
 Devemos agora atrelar este raciocínio ao aumento da renda.
 Supomos então que:
 Na terra de fertilidade imediatamente superior à primeira a produção
por trabalhador é de a’ kg, sendo T’ a quantidade de trabalhadores
contratados.
 Assim sendo, como a concorrência nivela as taxas de lucro em r, o
lucro obtido aí será de:
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Análise da teoria da renda e do lucro (cont.)
 A renda obtida deduzindo-se do produto bruto a’T’ o lucro (5) e os
salários(wT’):
 De (6) e (4) retiramos que com a conquista de terras de menor
fertilidade, a (produto por trabalhador da terra menos fértil) reduzirá-se
progressivamente.
 De onde concluímos que a renda total aumentará em (6) na mesma
velocidade que o lucro cairá em (4).
 É exatamente por recorrer aos preços que Ricardo encontrou
dificuldades.
26
Análise da teoria da renda e do lucro (cont.)
• Se tivesse expressado todos os parâmetros fisicamente (em
quantidades de cereal), principalmente o lucro, não teria necessidade
de buscar uma explicação para as variações de preço.
• Portanto Ricardo “ teve de introduzir uma teoria do valor para
demonstrar como os preços daqueles outros bens(industriais) se
alteravam quando o custo do cereal aumentava.”
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A Teoria do valor trabalho
• O valor de troca das mercadorias é determinado pela sua escassez e
pela quantidade de trabalho despendido na sua produção.
• A utilidade é um atributo de cada uma das mercadorias, mas não um
determinante do valor destas.
• A escassez é um determinante do valor das mercadorias que não
podem ser livremente produzidas, como obras de arte.
• Todas aquelas não submetidas à esta restrição estão nas condições da
teoria do valor-trabalho.
• O princípio geral da teoria de Ricardo é o de que o valor de troca é
estritamente proporcional ao trabalho incorporado.
• Com este princípio Ricardo observou que a produção de mercadorias
pode ser reduzida a incorporações sucessivas de trabalho à matéria
original.
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A Teoria do valor trabalho (cont.)
• Ou seja, as próprias ferramentas que auxiliam o trabalho são
compostas por trabalho passado.
• Smith abandonou a teoria do valor como trabalho incorporado quando
percebeu que ela não poderia explicar a formação dos preços em uma
situação na qual os setores produtivos tivessem diferentes
composições de capital e trabalho(relação entre os gastos em salários
e os gastos em máquinas).
• Esta constatação de Smith deu origem aquele que ficou conhecido
como o problema da transformação de valores em preços, que
reaparece em Ricardo e Marx.
• Ricardo foi o primeiro a estudar a fundo este problema.
• Mas sua maior contribuição não foi a solução que apresentou para ele,
e sim a formulação rigorosa e clara que deu à esta questão, pois tratase de um problema realmente complexo.
29
A Teoria do valor trabalho (cont.)
• Para que possamos compreender com precisão o nó por trás do
problema da transformação de valores em preços, dois exemplos
explicativos serão desenvolvidos.
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A solução de Ricardo para o problema da transformação de valores em preços
• Como Smith e Ricardo observaram, a teoria do valor-trabalho não se
aplica às situações em que a composição entre capital e trabalho
tomam diversas formas nos setores produtivos.
• Nessas situações, ocorrem distorções nos preços não controladas pela
quantidade de trabalho incorporado.
• Ricardo estudou os efeitos de variações nos salários sobre os preços
de mercadorias com diferentes composições de capital e trabalho, e
concluiu:
1. Aquelas mercadorias que são produzidas mediante maior investimento
em capital (máquinas) do que em trabalho, apresentando uma
composição capital/trabalho maior do que a média social, terão seus
preços aumentados com a queda dos salários.
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A solução de Ricardo para o problema da transformação de valores em preços
2. O que se deve ao fato de que, dado que a queda dos salários significa
aumento dos lucros, tendo estes uma maior participação na formação
dos preços de produtos capital-intensivos do que os salários, os preços
de tais produtos terão de subir.
3. Pelo mesmo motivo, se os salários aumentarem, os referidos preços
cairão.
4. Aquelas mercadorias que possuem uma composição de capital e
trabalho equivalente á composição média de uma economia, não terão
seus preços alterados quando os salários e os lucros oscilarem.
5. Todas as mercadorias com a composição capital/trabalho inferior à
composição média, produzidas mediante maior investimento em
salários do que em capital, terão seus preços diminuídos com a queda
dos salários e acrescido com o aumento destes.
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A medida invariável do valor
• Ao abandonar seu modelo de uma só mercadoria, o grão, Ricardo
percebeu que para expressar os salários e os produtos líquidos, deveria
fazê-lo através de muitas mercadorias.
• Para isso precisava de um padrão invariável, uma mercadoria que
fosse produzida sempre com a mesma quantidade de trabalho.
• Sabia que esta mercadoria só poderia ser aquela que tivesse uma
composição capital/trabalho igual à média, pois dessa forma não estaria
sujeita às flutuações dos salários e lucros.
• Ricardo não pôde encontrar tal mercadoria, e sua teoria do valor
permaneceu incapaz de descrever os preços com exatidão.
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Livre comércio e suas vantagens
Vantagens Absolutas
• Segundo Adam Smith para que o comércio entre dois países seja
mutuamente benéfico, cada um deles deverá possuir vantagem
absoluta na produção de uma mercadoria.
• A vantagem absoluta de que fala Smith, e sua importância podem ser
apresentadas através do seguinte raciocínio:
• Dadas duas mercadorias, supostas idênticas, A e B, produzidas nos
países 1 e 2, pode-se avaliar se um dos países ocupa mais ou menos
sua força de trabalho na produção de cada uma delas, sendo mais ou
menos custoso tal processo em cada um deles.
• Se o país 1 precisar de menos trabalho para produzir A do que o país 2,
diz-se que o primeiro tem uma vantagem absoluta na produção de A em
relação ao segundo, e vice-versa, se empregar menos mão-de-obra
para produzi-la.
34
Livre comércio e suas vantagens (cont.)
• Desta forma cada um deles pode se especializar na produção da
mercadoria que produz mais facilmente, trocando-a por quantidades
daquela que o outro país produz mais facilmente.
• Ricardo elaborou um mecanismo mais aprimorado e de maior alcance
para a operação do comércio internacional.
• O sistema do comércio internacional de Ricardo baseia-se nas
diferenças entre as quantidades de trabalho empregadas em cada setor
de um dado país.
• A inovação de Ricardo está em como ele relaciona estas diferenças.
• De acordo com este sistema, a vantagens absoluta é uma condição
suficiente, mas não necessária para que a transação seja benéfica para
aquele que a possui.
• A condição necessária na interpretação de Ricardo é a vantagem
comparativa.
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TEORIA DAS VANTAGENS COMPARATIVAS
• Comparando a razão dada pelas quantidades de trabalho despendidas
na produção de duas mercadorias em um dado país com a razão obtida
na produção das duas mesmas mercadorias em outro país, pode-se
dizer se o comércio entre eles será capaz de torná-los mais prósperos.
• Se um dos países apresentar uma razão entre os custos menores do
que o outro, diz-se que ele tem uma vantagem comparativa na
produção da mercadoria cujo custo em trabalho ocupa o numerador da
razão.
• Algebricamente teremos:
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TEORIA DAS VANTAGENS COMPARATIVAS (CONT.)
• Algebricamente teremos:
• onde R é a razão de cada um dos países 1 e 2, respectivamente; T (A)
e T (B) são as horas de trabalho necessárias para produzir A e B no
país 1; e T*(A) e T *(B) são as horas de trabalho necessárias para
produzir A e B no país 2.
• Como dissemos acima, se obtivermos R(1)<R(2), o país 1 tem uma
vantagem comparativa na produção de A e desvantagem comparativa
na produção de B.
• Isto pode ser visualizado se tomarmos R(1) e R(2) como a expressão
do preço da mercadoria A em termos da mercadoria B em cada um dos
países.
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TEORIA DAS VANTAGENS COMPARATIVAS (CONT.)
• Se A é mais barata em 1 do que em 2, então B será mais barata em 2
do que em 1.
Vejamos:
• Sai daí que cada se país produzir somente a mercadoria que precisa de
menos trabalho para ser feita, relativamente á outra que produz, cada
um deles poderá trocar com o outro unidades daquela que produz mais
facilmente por unidades da que este produz mais facilmente.
• É importante perceber que as trocas serão lucrativas mesmo que não
existam vantagens absolutas.
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Bibliografia
•
BLAUG, M.Historia do pensamento econômico. Lisboa : Dom Quixote, 1989
•
HUNT, E. K.História do Pensamento Econômico.Rio de Janeiro : Campus,
1987 NAPOLEONI, C.Smith, Ricardo e Marx. Rio de Janeiro : Graal, 1991
•
ELTIS, W.A.The Classical theory of economic growth. New York : St.
Martin's Press, 1984
•
Blaug, M.Ricardian economics. New Haven : Yale University Press, 1958
•
DOBB, M.Teorias de valor e distribuição desde A.Smith.Portugal: Ed
Presenca, 1973
•
FEIJÓ, R. História do pensamento econômico: de Lao tse a Robert
Lucas.São Paulo : Atlas, 2001
•
RICARDO, D. Princípios de Economia Política e Tributação.São Paulo: Abril
Cultural, 1983
39
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A teoria da renda e do lucro (cont.) - Erudito FEA-USP