15. “Depois de nos termos detido sobre a Palavra última e definitiva de Deus ao mundo,
é necessário recordar agora a missão do Espírito Santo relativamente à Palavra divina.
De fato, não é possível uma compreensão autêntica da revelação cristã fora da ação do
Paráclito. Isto deve-se ao fato de a comunicação que Deus faz de Si mesmo implicar
sempre a relação entre o Filho e o Espírito Santo, a quem Ireneu de Lião realmente
chama «as duas mãos do Pai».
Aliás, é a Sagrada Escritura que nos indica a presença do Espírito Santo na história da
salvação e, particularmente, na vida de Jesus, o Qual é concebido no seio da Virgem
Maria por obra do Espírito Santo (cf. Mt 1, 18; L c 1, 35); ao iniciar a sua missão pública
nas margens do Jordão, vê-O descer sobre Si em forma de pomba (cf. Mt 3, 16); neste
mesmo Espírito, Jesus age, fala e exulta (cf. L c 10, 21); é no Espírito que Se oferece a
Si mesmo (cf. Hb 9, 14).
Quando está para terminar a sua missão – segundo narra o evangelista São João –, o
próprio Jesus relaciona claramente o dom da sua vida com o envio do Espírito aos
seus (cf. Jo 16, 7). Depois Jesus ressuscitado, trazendo na sua carne os sinais da
paixão, derrama o Espírito (cf. Jo 20, 22), tornando os discípulos participantes da sua
própria missão (cf. Jo 20, 21).
O Espírito Santo ensinará aos discípulos todas as coisas, recordando-lhes tudo o que
Cristo disse (cf. Jo 14, 26), porque será Ele, o Espírito da Verdade (cf. Jo 15, 26), a guiar
os discípulos para a Verdade inteira (cf. Jo 16, 13). Por fim, como se lê nos Atos dos
Apóstolos, o Espírito desce sobre os Doze reunidos em oração com Maria no dia de
Pentecostes (cf. 2, 1-4) e anima-os na missão de anunciar a Boa Nova a todos os povos.
Por conseguinte, a Palavra de Deus exprime-se em palavras humanas graças à obra do
Espírito Santo. A missão do Filho e a do Espírito Santo são inseparáveis e constituem
uma única economia da salvação.
O mesmo Espírito, que atua na encarnação do Verbo no seio da Virgem Maria, guia
Jesus ao longo de toda a sua missão e é prometido aos discípulos. O mesmo Espírito
que falou por meio dos profetas, sustenta e inspira a Igreja no dever de anunciar a
Palavra de Deus e na pregação dos Apóstolos; e, enfim, é este Espírito que inspira os
autores das Sagradas Escrituras.
16. Conscientes deste horizonte pneumatológico, os Padres sinodais quiseram
lembrar a importância da ação do Espírito Santo na vida da Igreja e no coração dos
fiéis relativamente à Sagrada Escritura: sem a ação eficaz do «Espírito da Verdade»
(Jo 14, 16), não se podem compreender as palavras do Senhor.
Como recorda ainda Santo Ireneu: «Aqueles que não participam do Espírito não recebem
do peito da sua mãe [a Igreja] o alimento da vida; nada recebem da fonte mais pura que
brota do corpo de Cristo». Tal como a Palavra de Deus vem até nós no corpo de Cristo, no
corpo Eucarístico e no corpo das Escrituras por meio do Espírito Santo, assim também só
pode ser acolhida e compreendida verdadeiramente graças ao mesmo Espírito.
Os grandes escritores da tradição cristã são unânimes ao considerar o papel do Espírito
Santo na relação que os fiéis devem ter com as Escrituras. São João Crisóstomo afirma
que a Escritura «tem necessidade da revelação do Espírito, a fim de que, descobrindo o
verdadeiro sentido das coisas que nela se encerram, disso mesmo tiremos abundante
proveito». Também São Jerônimo está firmemente convencido de que «não podemos
chegar a compreender a Escritura sem a ajuda do Espírito Santo que a inspirou».
Depois, São Gregório Magno sublinha, de modo sugestivo, a obra do mesmo Espírito
na formação e na interpretação da Bíblia: «Ele mesmo criou as palavras dos
Testamentos Sagrados, Ele mesmo as desvendou». Ricardo de São Víctor recorda que
são necessários «olhos de pomba», iluminados e instruídos pelo Espírito, para
compreender o texto sagrado.
Desejaria ainda sublinhar como é significativo o testemunho a respeito da relação
entre o Espírito Santo e a Escritura que encontramos nos textos litúrgicos, onde a
Palavra de Deus é proclamada, escutada e explicada aos fiéis.
É o caso de antigas orações que, em forma de epiclese ("invocação sobre"), invocam o
Espírito antes da proclamação das leituras: «Mandai o vosso Espírito Santo Paráclito às
nossas almas e fazei-nos compreender as Escrituras por Ele inspiradas; e concedei-me
interpretá-las de maneira digna, para que os fiéis aqui reunidos delas tirem proveito».
De igual modo, encontramos orações que, no fim da homilia, novamente invocam de Deus
o dom do Espírito sobre os fiéis: «Deus salvador (…), nós Vos pedimos por este povo:
Mandai sobre ele o Espírito Santo; o Senhor Jesus venha visitá-lo, fale à mente de todos e
abra os corações à fé e conduza para Vós as nossas almas, Deus das Misericórdias».Por
tudo isto bem podemos compreender que não é possível alcançar o sentido da Palavra, se
não se acolhe a ação do Paráclito na Igreja e nos corações dos fiéis”.
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