Mudando a nossa escala de valores poderemos devolver a Deus o que é seu: o ser humano, propriedade sua, onde Ele deixou inscrita e impressa a sua imagem. Mateus, 22, 15-21 29 Tempo Comum –A19-10-08 Naquele tempo, os fariseus reuniram-se para deliberar sobre a maneira de surprender Jesus no que dissesse. Enviaram-Lhe alguns dos seus discípulos, juntamente com os herodianos, e disseram-Lhe: - Mestre, sabemos que és sincero e que ensinas, segundo a verdade, o caminho de Deus, sem te preocupares com ninguém, pois não fazes acepção de pessoas. No Evangelho de Mateus chama “Mestre” a Jesus quem não sabe quem Ele é na realidade. Os que O conhecem chamam-Lhe “Senhor”. Ainda que eles não pensem assim e a sua intenção não seja boa, a descrição que fazem de Jesus é magnífica. Dizem o que pensa o povo. Diz-nos o teu parecer: é lícito ou não pagar tributo a César? Com a pergunta que propõem a Jesus, os fariseus e herodianos não procuram claridade de consciência, mas tirá-lo do seu meio porque molestava e punha em perigo os seus interesses. É uma pergunta-armadilha. Se responde que é lícito pagar o tributo a César, confronta-Se com a fé unânime de Israel que não admitia outra soberania senão a de Javé. Aparecerá como um mau judeu perante os fariseus. Se responde que não é lícito, confronta-Se com o poder político como um agitador, e os partidários de Herodes poderão denunciá-l’O perante a autoridade imperial. Os judeus usavam habitualmente a moeda oficial romana –a mais comum era o denário- . Mas existia moeda propiamente judia que se usava quase únicamente para pagar o imposto ao Templo: a mais comum era o siclo, que valia quatro denários. Nas outras moedas, que às vezes se aceitavam para pagar ao Templo –por exemplo, a dracma-, havia imagens pagãs, inclusive de deuses. Nas moedas romanas, usadas para o tributo, estava a efígie de César. Jesus, conhecendo a sua malícia, respondeu: -Porque me tentais, hipócritas? Jesus não se deixa enganar, põe em evidência as más intenções de quem lhe pergunta, revelando a inacreditável hipocrisia que se esconde na sua atitude. Aparece a palabra hipócritas nos lábios de Jesus, palavra que será a protagonista do capítulo seguinte de Mateus (23), onde Jesus passa a acusar gravemente e com grande valentia os escribas e fariseus. Mostrai-me a moeda do tributo. Eles apresentaram-Lhe um denário, e Jesus perguntou: -De quem é esta imagem e esta inscrição? Eles responderam: -De César. Ao possuir a moeda do tributo estão a demostrar que pagam impostos e têm respondida a pergunta que formulam a Jesus. Que imagens vão marcando a minha vida? Com frequência usamos a expressão “é a viva imagem de seu pai/mãe”. Mostro aos que me rodeiam a viva imagem de meu Pai/Mãe Deus? Disse-lhes Jesus: -Então dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Jesus não responde como esperam, situa a questão num nível mais profundo. Convida a devolver a César o que é próprio de César -o que escraviza e oprime-, para ser mais livres e mais felizes. O convite a dar a Deus o que lhe pertence acrescenta-a Jesus sem Lhe ter sido perguntado. Jesus não fala de uma partilha de poderes: para César o âmbito material e para Deus o espiritual, pelo qual o ser humano estaria submetido a dois senhores. Não há alternativa. Ou faço o jogo da sociedade de consumo, o poder, o dinheiro e as suas possibilidades de exploração dos outros; ou me coloco ao serviço da causa e do projecto de Deus, único Senhor. A única soberania é a de Deus e a sua justiça. Tudo o resto deve subordinar-se a esse supremo critério. Creio que Deus é nosso Pai, e que estamos nas mãos de Deus; que está em nós e connosco. Creio em Jesus, o Filho de Deus, que deu a sua vida por ser fiel ao anúncio do Reino, e por defender a libertacão dos pobres e oprimidos, por se opor ao egoísmo, à injustiça e à exploração. Creio que Deus O ressuscitou, lhe deu razão, que Ele é a verdade e Deus está com Ele Creio no Espírito de Deus, que pode actuar no coração do ser humano, que necessitamos da ajuda do Espírito e tem sentido invocá-l’O para que venha a nós e esteja connosco. Creio que se vivemos, vivemos para Jesus, o Senhor, e se morremos, morremos para o Senhor, que na vida e na morte somos do Senhor. Creio que estamos unidos com todos os irmãos e irmãs de aqui e dali, e que, no Senhor, nos encontraremos um dia. Amén.