GEMEOS Um conto de JORGE PALMA Ele era bonito, logicamente com feições masculinas. Andava como se estivesse nas nuvens. Não com as mãos viradas para cima. Flutuava,com braços abertos, mas a mãos viradas para baixo, como se fossem asas fazendo um esforço mínimo para voar, ou melhor, flutuar. Ele não voava, flutuava. Olhos azuis, pele branca, barba rasa, bons dentes, sorriso constante, como se a vida fosse uma eterna alegria. Era como se estivesse sob o efeito constante das drogas, que diziam que ele usava. Não sei se realmente usava, mas tentei imaginar. Deviam ser drogas muito boas para viver sorrindo e flutuando daquele jeito. Trabalhava? Não sei. Como vivia? Não sei. Eu era o balconista de bar e sempre o via daquele jeito. Só notava que as coisas que ele dizia, não faziam muito sentido. Soube um dia que ele era gêmeo, mas nunca pensei seriamente sobre isso. Numa noite,entre as muitas do trabalho, uma loira linda entrou no bar. A primeira coisa que notei, era que ela não andava. Flutuava. Era como se fosse ele, mas estava na cara. Tudo demonstrava que era ela. Os cabelos mais loiros, mais compridos, mais finos, esvoaçantes. Os mesmos olhos azuis, mas os labios mais sensuais. Cintura fina, seios proporcionais ao corpo. Se houvesse gêmeos nesta história ela só poderia ser a irmã gêmea dele. Nunca tive certeza. Ao servir o que ela pediu no balcão, procurei iniciar uma conversa: -Eu não a conheço, mas acho que conheço seu irmão! Ela me olhou diretamente nos olhos e eu fiquei desnorteado. E a conversa desnorteada continuou: -Voce conhece o meu irmão? -Sim, às vezes ele aparece por aqui. -E você gosta dele? -Gosto muito, ele é gente boa, respondi. Mas fiquei aturdido com o que ele disse a seguir: -Então não fale mais comigo. E ela pagou a conta e foi embora. Nunca mais a vi.