CAPTAR ÁGUA DE CHUVA É VIÁVEL TEIXEIRA, TADEU (1); DE OLIVEIRA , VICENTE DE PAULO SANTOS (2) 1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense. Mestrando em Engenharia 2 Ambiental. [email protected]. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense. Orientador do trabalho e Diretor do campus Rio Paraíba do Sul, Unidade de Pesquisa e Extensão Agroambiental. [email protected] RESUMO Nunca houve crescimento nem desenvolvimento dentro do paradigma vigente de produção e consumo, sem pressão do homem sobre os recursos a sua disposição no planeta. Os seus usos cada vez mais intenso, veloz e irresponsável inviabilizam a reposição ou recomposição ao estado original. A água é um desses recursos mais ameaçados devido ao crescimento demográfico, poluição, demanda por mais alimento e energia, etc., sem perspectiva de reversão, no curto prazo, devido aos parcos investimentos denunciados no último Forum Mundial da Água em Marselha, em 2012. Os rios Tietê e Pinheiros em São Paulo, o Maracanã e Guandu no Rio de Janeiro e o Rio Paraíba do Sul que o digam. Com a demanda crescente nessas condições, a tendência será a redução do uso per capita, forçado pelo custo da água e pela redução da disponibilidade. Atores dessa tragédia se debatem em soluções na tentativa de sensibilização para redução do uso da água, alternâncias no abastecimento, transposição de rios devido à má gestão doméstica, como o Rio de Janeiro, que retira 2/3 da vazão do Rio Paraíba do Sul. Contudo, passa por falta d’água. E nessas transposições não foram considerados possíveis efeitos a jusante, como concentração de poluentes, redução de sedimentos carreados para o mar, etc. Embora a captação da água da chuva seja economicamente viável e alternativa à redução do consumo de água do sistema centralizado, o esmorecimento quanto às soluções para os estragos que se impõem aos recursos hídricos pode levar as sociedades, notadamente as urbanas, ao caos hídrico. A certeza da crise hídrica no Brasil e no mundo A crise hídrica é grave na região Sudeste, de acordo com a mídia e literatura especializada e gravíssima em outras regiões do Brasil e do Planeta. No Oriente Médio os interesses pela água extrapolam as negociações civilizadas, culminando em agressões bélicas e avanço de fronteiras (Caubet, 2006). O Rio Paraíba do Sul atende a milhões de pessoas em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. A crise hídrica na bacia é grave devido aos históricos de poluição por esgotos, por contaminações da indústria e da agropecuária, hidrelétricas e transposição de suas águas. A polêmica mais recente envolve os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, devido ao pleito do primeiro para a transposição do Rio Paraíba do Sul para abastecimento público. No histórico das agressões ao Rio Paraíba do Sul, tem-se: 1950 e 1970 transposições de 2/3 de sua vazão para a cidade do Rio de Janeiro; 1982 a Paraibuna Metais despeja rejeitos em seu leito; em 1984, 30.000 litros de ácido sulfúrico são despejados no Rio Piabanha, seu afluente; em 1988, 3.000 litros de óleo ascarel são despejados pela Thyssen Fundições; em 1989, metanol é derramado no Rio Paraíba do Sul; em 2003, o mais grave, 20 milhões de litros de soda cáustica vazam de um reservatório no Rio Pomba, seu afluente; Em 2012, nova hidrelétrica é construída em Queluz/SP; Em 2013 a Gazeta de Muriaé denuncia 12 barragens com riscos ao Rio Paraíba do Sul, com 22 bilhões de litros de rejeitos. Em 2014, nova transposição é pleiteada. Eis a crise hídrica instalada! Economias que impressionam A Economia é a ciência da escassez. O que é escasso é caro. As ações antrópicas estão levando a água a se tornar um recurso crescentemente escasso e dispendioso, a ponto de despertar, há décadas, o interesse econômico de grandes corporações por todo o planeta, muitas delas, poderosíssimas (Caubet, 2006). Portanto, a busca de alternativas é válida a esse sistema intrincado de fornecimento centralizado de água, cultural, passiva e inexplicavelmente absorvido pelas sociedades, como fonte majoritária, pelas facilidades oferecidas em domicílio, embora a custos não tão atrativos e encarecidos pelo uso das águas minerais. Grandes consumidores culminam em grandes contas a pagar ou em grandes economias. Depende da gestão do consumo da água. Economia possível consta de análises realizadas pela SABESP/SP, com base em estimativas de consumo por serviços com a água, como à limpeza geral, lavagem de louça, das mãos, roupas, etc., concluindo que o uso da água da chuva proporciona uma economia em torno de 41% com um sistema de 10.000 litros para uma família com cinco pessoas. Grandes consumidores de água não potável, escolas, ginásios de esportes, estádios, como o Maracanã, Nacional de Brasília, projetaram mais de 50% de economia (Portal da Copa, 2014). A escola SENAI-Mario Dedini, em Piracicaba/SP, sai de um consumo de 6.030 m3 para 2.145 m3 ou ainda a Coca-Cola Brasil que em seus processos já realiza uma economia de US$ 345.000/ano. Outros usos da chuva são possíveis devido à qualidade superior a outras águas disponíveis. Mas, há fatos a lamentar: A EACH/USP manda para o ralo R$ 1.530.599,30 de economia possível com a captação pluvial em seu sistema para 270.000 litros devido à má gestão. (Barroso et. al. IBEAS 2012. Vol. 3, I-012). Ficariam as perguntas: E as famílias, também grandes consumidoras? E as famílias sem recursos financeiros para a instalação do sistema? A resposta é simples: financiamento a baixo custo, conforme anunciado pelo Japão e Austrália no 3º Fórum Mundial da Água em 2003, ou Hamburgo, na Alemanha, que concede até 2.000 dólares de incentivo à captação, (Tomaz, 2003). É questão de vontade política a solução de problemas com tantas nuances, envolvendo poder e dominação (Petrella, 2001). Sendo a água essencial aos seres vivos, incentivo à captação de água da chuva, pelo valor que representa para o meio ambiente, para a economia, e para o social, daria um belo e útil programa governamental, promovendo a emancipação das sociedades em relação aos sistemas centralizados, alguns perversos às famílias mais carentes, por não oferecerem uma tarifa social; como faz a SANEPAR no Paraná e DEMAE em Porto Alegre, que possuem tarifa diferenciada. Palavras chave: Crise hídrica. Água da chuva. Paradigma. Emancipação. Referências BARROSO, Mariana R. Análise e funcionalidade do sistema de captação de água pluvial da Escola de Artes, Ciências e Humanidades de Universidade de São Paulo. In: IBEAS. III Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental. Vol. 3 (2012). CAUBET, C. G. A Água Doce nas Relações Internacionais. Barueri, SP: Manole, 2006. PETRELLA, R. Manifesto da Água: Argumentos para um contrato mundial. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. SENAI. Serviço Nacional da Indústria- Captação de Água das Chuvas, em www.PortalSenai.com.br. Acessado em 19/04/2014. TOMAZ, P. Aproveitamento de água de chuva. São Paulo: Navegar, 2003.