Jornal do Brasil - RJ
01/09/2005 - 06:23
Fundos de Pensão negam ligação com Valério e caixa 2
Presidentes dos fundos admitem influência de Gushiken nas instituições
Hugo Marques
Os presidentes dos fundos de pensão do Banco do Brasil (Previ), Sérgio Rosa, da
Petrobras (Petros), Wagner Oliveira, e da Caixa Econômica (Funcef), Guilherme Lacerda,
negaram ontem a possibilidade de uso de dinheiro destas instituições no pagamento do
mensalão ou a sustentação do esquema de recursos de caixa dois montado pelo PT e o
publicitário Marcos Valério.
Eles foram ouvidos pela CPI do Mensalão, que apura se os bancos Rural e BMG foram
supostamente beneficiados com aplicações dos fundos.
Em depoimento conjunto, os presidentes admitiram influência do chefe do Núcleo de
Assuntos Estratégicos da Presidência, Luiz Gushiken, responsável pela indicação de
Wagner de Oliveira para a presidência da Petros. Os três confirmaram que todos têm
contratos com a empresa Globalprevi, que já teve Gushiken como um de seus
proprietários.
Sérgio Rosa, da Previ, procurou explicar com números que os investimentos do fundo não
permitiriam a criação de um excedente para financiar campanhas ou o mensalão.
Rosa justificou que os últimos investimentos da Previ nos bancos BMG e Rural - onde o
empresário Marcos Valério adquiriu empréstimos - foram todos resgatados, com lucro
para a instituição.
A suspeita é de que a operação seja uma espécie de compensação pelos empréstimos
concedidos às empresas do publicitário e depois repassados ao PT.
- É tudo absoluta mentira - reagiu Wagner Oliveira, sobre o uso ilícito do dinheiro.
Guilherme Lacerda entregou aos deputados um gráfico com a posição da Funcef em
aplicações nos bancos BMG e Rural. As últimas aplicações são de novembro de 1999.
O mensalão do PT teria sido pago pago em 2003 e 2004. A Petros mantém um total de
R$ 80 milhões de aplicações no BMG e no Rural, em fundos de direitos creditórios, e
outros R 10,5 milhões em CDB's. No Rural, são R$ 5 milhões em CDB's. Wagner Oliveira
explicou que são aplicações feitas por gestores terceirizados, que seguem os parâmetros
do mercado.
A CPI dos Correios quebrou o sigilo das aplicações de dez fundos de pensão nos bancos
BMG e Rural, incluindo os três institutos à procura de rastros do pagamento do
'valerioduto'.
A CPI do Mensalão quebrou o sigilo dos mesmos fundos, para efeito de transferência
obrigatória do sigilo obtido pela CPI dos Correios, mas as informações não chegaram às
duas comissões.
Sergio Rosa disse ainda que, se os três fundos de pensão tiverem de comprar a
participação do Citigroup na Brasil Telecom, isso ''não será um problema''.
É a primeira vez que um dos dirigentes dos três grandes fundos admite a possibilidade de
assumir a gestão da empresa. Durante o depoimento, os parlamentares procuraram
esclarecer dúvidas sobre o acordo com a instituição financeira americana.
Rosa explicou que o contrato prevê a posterior compra da parte do Citibank na
BrasilTelecom. Rosa afirmou que era necessário negociar as ações que asseguravam o
controle das telefônicas e que os fundos tiveram de pagar um ''prêmio de controle''.
No dia 14, está marcado o depoimento do banqueiro Daniel Dantas, dono do Grupo
Opportunity, que disputa o controle da telefônica e é suspeito de ser um dos financiadores
do mensalão.
O relator da CPI do Mensalão, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), considerou
''evasivas'' algumas respostas de Rosa. O presidente da Previ admitiu a dificuldade de
debater um assunto tão técnico em um ambiente político, enquanto os parlamentares
demonstravam pouco conhecimento sobre o funcionamento dos fundos de pensão.
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