MESA REDONDA No dia 29 de Abril, no âmbito dos Dias de Desenvolvimento organizados pelo IPAD, a INDE – Intercooperação e Desenvolvimento, em pareceria com da LPN – Liga para a Protecção da Natureza, moderou um debate em torno do tema “Alterações Climáticas e a Pobreza no Sul”. Um bom exemplo da transversalidade do tema das Alterações Climáticas e do mediatismo que suscita actualmente é a reunião na mesma mesa de personalidades representantes dos diversos sectores da sociedade portuguesa. A Mesa Redonda Carbon Atitude – As Alterações Climáticas e a Pobreza no Sul teve como objectivo a sensibilização para a relação entre Alterações Climáticas e a Pobreza no Sul e fomentar condições para a criação de uma plataforma transversal para pensar soluções que não tenham efeitos perversos nem para o ambiente nem para as populações, nomeadamente as do Sul, que se encontram numa posição mais vulnerável face as políticas do Norte e às consequências das Alterações Climáticas. O resultado deste primeiro encontro foi um debate rico e dinâmico, com a intervenção dos diversos agentes que em Portugal estão implicados directamente com o fenómeno da Alterações Climáticas e sua mitigação. Encarada como um encontro preliminar, pioneiro em Portugal, esta Mesa Redonda levantou muitas questões que pretendemos desenvolver em encontros futuros. Queremos aproveitar as ideias e esclarecimentos que surgiram da Mesa Redonda. Para isso, procuramos prolongar o espaço de debate, promover a sensibilização a esta temática e criar propostas de Cooperação para o Desenvolvimento Sustentável no Sul, articulados com a responsabilização do Norte na matéria das Alterações Climáticas. Queremos agradecer desde já a colaboração de todos os que compareceram ao debate e apoiaram a sua realização e convidar à participação, sugestão e divulgação de novas iniciativas conjuntas. INTERVENIENTES Nome Entidade Contacto Nuno Lacasta Fundo Português de Carbono [email protected] Mário Parra Silva APEE [email protected] Fernando Prioste Carbono Verde [email protected] Gonçalo Cavalheiro Ecoprogresso [email protected] Sofia Santos Sustentare [email protected] Carlos Teixeira LPN [email protected] Sara Dourado Euronatura [email protected] Francisco Ferreira Quercus [email protected] João Rabaça TESE [email protected] Luís Lucas AMI [email protected] Humberto Vitorino ASP [email protected] Joel Curado Silveirinha Cisco Helena Freitas Centro de Ecologia Funcional U.C. [email protected] Maria Amélia Loução Museu Laboratório Jardim Botânico [email protected] João Lourenço CGTP [email protected] Dionísio Mendes Câmara Municipal de Coruche [email protected] Humberto Marques Câmara Municipal de Óbidos [email protected] Alda Macedo Bloco de Esquerda [email protected] Miguel Tiago PCP [email protected] Francisco M. Lopes PEV [email protected] Luís Sousa MEP [email protected] António Eloy Amnistia Internacional [email protected] Debate Moderado por Arnaud de La Tour, INDE – Intercooperação e Desenvolvimento OUTRAS COLABORAÇÕES CIEJD – Centro de Informação Europeia Jacques Delors http://www.eurocid.pt/pls/wsd/wsdwhom0.inicio GAIA – Grupo de Acção e Intervenção Ambiental http://gaia.org.pt/node/1067 SÍNTESE DA MESA REDONDA Introdução O objectivo deste encontro é alertar como as decisões tomadas aqui, nos Países do Norte, influenciam as pessoas no Sul. As Decisões e as Emissões estão no Norte; No Sul estão as vítimas mais directas dessas emissões e decisões. Paradoxalmente, o Sul não tem presença nos debates em torno das Alterações Climáticas. Como é que podemos ligar estes debates ao Sul? Tópicos das intervenções Carlos Teixeira, LPN – Liga para a Protecção da Natureza • O conceito de “Desenvolvimento Sustentável” é um elemento agregador entre Organizações Não Governamentais para o Desenvolvimento (ONGD) e Organizações Não Governamentais do Ambiente (ONGA). Estas podem trabalhar em conjunto, com base nos paradigmas do Desenvolvimento Sustentável, no sentido de assegurar estratégias que tomem em consideração os factores ambientais, sociais e económicos. Só assim se podem simultaneamente cumprir objectivos como os Objectivos do Milénio – da erradicação da pobreza à resolução dos principais problemas ambientais como as alterações do uso do solo e as alterações climáticas – sem que as soluções entrem em conflito entre si. • Actualmente, estamos perante uma conjuntura interessante ao nível mediático para o tema das Alterações Climáticas e questões relacionadas (redução de emissões de GEE, preservação das florestas ancestrais enquanto reserva de uma considerável parte do carbono presente nas plataformas continentais, mercados de créditos, etc.). Esta conjuntura tem de ser potencializada em acções de sensibilização. • A conservação e recuperação dos ecossistemas e dos serviços que estes providenciam, pode em muitas ocasiões funcionar simultaneamente como mecanismo de mitigação dos efeitos das Alterações Climáticas e do avanço da Desertificação e/ou fenómenos climáticos extremos, e como solução económica, geradora de emprego, em regiões como África; • Para que tal seja possível, é necessário viabilizar à escala global a economia ecológica, à luz da qual os serviços dos ecossistemas poderão ser quantificados de forma justa e a conservação e recuperação dos ecossistemas é remunerável – um sector económico que sempre foi real mas que nunca foi verdadeiramente integrado na economia real. Isto irá requerer uma reforma profunda de instituições como o Banco Mundial ou a Organização Mundial do Comércio, e dos objectivos que as norteiam, bem como também dos principais mecanismos financeiros – assente numa lógica económica, social e ambientalmente sustentável; Nuno Lacasta, Fundo Português de Carbono, Comissão Portuguesa para as Mudanças Climáticas • Mais-valias na constituição de uma Mesa Redonda multifacetada em Portugal; • De que Sul é que falamos? Sobre o Sul da Europa? Portugal e os impactos no país; • Existe uma estratégia nacional de adaptação às Alterações Climáticas: Programa Nacional para as Alterações Climáticas; • No entanto, os impactos aqui não se comparam com os impactos que o verdadeiro Sul vai sofrer: as regiões mais pobres são mais vulneráveis; • Implicações na mobilidade das populações: Os Refugiados Ambientais (ex: Ruanda e Darfur, cujas guerras são devidas à escassez de recursos, nomeadamente água); • O termo “adaptar” é um termo incorrecto. Precisamos de um léxico diferente para trabalhar o impacto das Alterações Climáticas. Estas têm impactos estruturais, é necessária a introdução de dimensões de Cooperação com os países do Sul. Humberto Marques, Vereador do Ambiente da Câmara Municipal de Óbidos. • Empreendimento pelo lado ambiental: redução de índices de emissões de carbono, de construção e consumo de energia no Município. • O Município agilizou o Programa Óbidos Carbono Social. Este aumenta o retorno da energia, contribui para a redução de emissões, permitindo a transacção de créditos de carbono, que pode actualmente vender. • Além da mitigação das emissões, em Óbidos é feita a sequestração de carbono via parques florestais. Aumento do capital através do aumento do parque florestal. Mais informações sobre o programa “Óbidos Carbono Social”: http://www.cm-obidos.pt/custompages/showpage.aspx?pageid=61473d2a-3e48-4e1c90a5-379120cf1972&m=a56 Dionísio Mendes, Presidente da Câmara Municipal de Coruche. • O “Sul” enquanto o Sul de Portugal e a Europa Mediterrânica. • ½ do Concelho é ocupado por uma área florestal, com 700km2. • A Câmara Municipal de Óbidos criou o Observatório do Sobreiro e da Cortiça, enquanto iniciativa inovadora de valorização da floresta mediterrânica e recomposição da sua floresta natural. Este observatório visa a promoção do montado de sobro, um produto autóctone do Sul; • Esta produção associada a culturas tradicionais locais combate a desertificação e o despovoamento: associa o ecossistema com a integração das comunidades mais isoladas/pobres. Gonçalo Cavalheiro, Ecoprogresso. • Alterações Climáticas e a Luta Contra a Pobreza; Alterações Climáticas em situação de Pobreza Extrema. • Os países ricos estão muito longe de atingir os seus objectivos de cooperação e levar dinheiro para o Sul. A luta contra as alterações climáticas e o consumo de CO2 pode ser contraproducente e ter resultados perversos relativamente à luta contra a pobreza no Sul. Por exemplo: o apelo ao consumo de produtos locais, de forma a reduzir a pegada de carbono, retira rendimento aos agricultores do Sul. • A multiplicação de eventos como este tem mais-valias ao proporcionar uma visão integrada, local e global, com políticos, profissionais, peritos e professores, essencial para a construção de novos mecanismos de Luta Contra a Pobreza, emissões de GEE e de combate às Alterações Climáticas. Estes mecanismos têm de ter em conta os efeitos no Sul, com uma visão integrada e transversal dos problemas globais e locais. Francisco Madeira, PEV • As Alterações climáticas e o Ambiente estão integrados na linha mestra do partido; o Ambiente tem de ser uma trave mestra nas políticas do país. Portugal está atrasado, apesar dos 10 anos de políticas ambientais. • Ecologia Política e relações Norte/Sul: articulação entre questões energéticas, economia global, problemas sociais Norte/Sul, pobreza. As Alterações Climáticas podem catalisar conflitos bélicos. • Tal como algumas teses referem que foi um momento crítico de explosão demográfica que deu origem à agricultura (devido à escassez de recursos), hoje em dia estamos num momento crítico que obriga a uma revolução perante a lógica de consumo e dependência de matéria-prima no Norte. • Protocolo de Quioto: mercado de CO2 pode contribuir para a mitigação de GEE. No entanto, o cenário vai cumprir o protocolo pagando multas, direitos de emissão ou, na melhor das hipóteses, apoiando países terceiros. • O paradigma actual do Mercado de Carbono faz do ambiente um negócio; O esquema dos créditos de carbono contempla uma permissividade mediante o pagamento de multas. • Portugal tem de ser um agente activo na Cooperação com os países do Sul. Miguel Tiago, PCP • Preocupação do PCP na sustentabilidade homem-natureza; perspectiva de Cooperação para o Desenvolvimento; relação directa com a pobreza e assimetrias na distribuição da riqueza. • Actualmente, produz-se o dobro do que é necessário para alimentar a humanidade, desperdício que não chega a mais de ½ da população humana. Esta injustiça é um reflexo da economia do mercado, do sistema de produção e do modo de produção. • Há que ter em conta o impacte da actividade humana na natureza e nas relações sociais. • Países do Sul e Potências do Norte: a exploração dos países do Sul e a acumulação de riqueza, através de uma industrialização que sacrifica recursos. • Acumulação é a natureza da matriz do nosso modelo de desenvolvimento. Quanto ao Mercado de Carbono, e à acumulação de créditos de carbono: não será de novo uma base de desigualdade, enquanto mecanismo de acumulação de riqueza e capital que gera novas formas de exploração? • Necessidade urgente de medidas de mitigação e de soluções sustentáveis de forma equilibrada e igualitária. João Rabaça, Tese. • As políticas nacionais e internacionais impactam outros países. Esta macro-discussão está muito distante das práticas das comunidades: políticos e profissionais do ambiente têm pouco conhecimento das realidades do Sul. É essencial re-orientar o tema das Alterações Climáticas para uma micro escala. • O Protocolo de Quioto não resolve o problema da pobreza (não foi desenhado para isso), mas além de uma crise climática, estamos perante uma crise da pobreza. A crise financeira geral, em articulação com a crise da pobreza e do ambiente podem criar sinergias de transferência de capital e de recursos; podem re-equilibrar os impactos das alterações climáticas • Para a concepção de políticas que alavanquem soluções conducentes à mitigação é preciso juntar diferentes actores. Mário Parra da Silva, APEE – Associação Portuguesa de Ética Empresarial • O Carácter inovador desta iniciativa de juntar técnicos e políticos: dois planos distintos de análise; • Políticos e empresas têm que encarar a questão das alterações climáticas e reduzir as emissões. Hoje em dia o ambiente tem mais mediatismo do que as questões de género e direitos de emprego. As empresas portuguesas têm de encarar as questões de redução de emissões de carbono, com políticas éticas além do emprego e da competitividade. • Atenção às atitudes maniqueístas Sul – Pobre: há muitos “Suis” - Índia, China, Angola… Este modelo está ultrapassado; • Nos últimos 20 anos temos sido dominados por uma ditadura do capital financeiro. As empresas não são organismos de solidariedade; existem para criar riqueza; • Um contexto sem barreiras comerciais cria uma competição desigual; • A Luta contra a desigualdade proporcionando um mesmo nível de felicidade. Mas o que é ser feliz no Norte? Não pode continuar a ser o consumo, expresso no hiperconsumismo actual; • Tem de haver um equilíbrio entre as muito más condições de trabalho na China (mas que são muito produtivas e competitivas) e o nosso hiper-consumismo insustentável. • Temos de encontrar um modelo de desenvolvimento baseado em factores imateriais (estes não emitem carbono!) para mitigar a situação de “suicídio colectivo”, causado pela nossa forma de consumir, em que nos encontramos. Sofia Santos, Sustentare. • A Sustentare ajuda empresas a desenvolver estratégias sustentáveis. As mentalidades das empresas portuguesas ainda estão limitadas em relação aos impactos das suas acções no Sul; • Apesar do facto das empresas se debruçarem mais facilmente sobre as questões ambientais e sociais, ainda não sabem lidar com problemas ambientais (como reduzir kilowatt, água, consumo energético, emissões…). No âmbito do Protocolo de Quioto, a política da compensação é mais utilizada, ao invés da redução, o que permite um aumento do consumo; • É de salientar que cabe também ao consumidor a preocupação com éticas sociais. João Lourenço, CGTP. • O movimento sindical está preocupado com a sustentabilidade da sociedade e da reduzida participação da cidadania; • Estamos num contexto de sobre-produção. A produtividade tem limites; Mais competitividade causa desequilíbrios na sustentabilidade social e ambiental; • O Movimento Sindical Europeu, alerta para o impacto negativo das emissões de carbono e das suas consequências que estão a gerar desemprego. Está a preparar propostas para Copenhaga; • Existem casos de empresas que escondem emissões. Outras que se deslocalizam para "paraísos ambientais"para melhor competirem ou sobreviverem deixando para trás conflitos sociais graves; • A sustentabilidade social tem de encontrar mecanismos para a sobrevivência das populações. As empresas devem de criar riquezas, para que as mesmas se multipliquem de forma a serem redistribuídas justa e socialmente. Joel Curado Silveirinha, Cisco. • A Cisco é uma empresa de dimensão internacional que quer fazer parte da solução, no que diz respeito ao problema das alterações climáticas. • Apresentação do Smart 2020 Portugal (www.smart2020.org). É um estudo exaustivo das emissões de Co2 das TIC em Portugal e as áreas chave (Transportes, Gestão Energética e Eficiência Energética) em que as TIC estão a actuar para reduzir as emissões de Co2 em 20% até 2020 seguindo directivas da União Europeia. • A Cisco pretende reduzir até 2012 as suas emissões de Co2 em 25%, de forma a reduzir a sua pegada de carbono e mostrar ao mercado das TI que é possível fazermos parte da solução. Desde 2007 que está a decorrer, em várias cidades por todo o mundo, inclusive em Portugal, um projecto chamado “Connected Urban Development ”, que em conjunto com o Governo Português pretende executar um conjunto de medidas de melhoramento de infra-estruturas, comunicações e eficiência energética, de modo a reduzir a pegada de carbono. Maria Amélia Loução, Museu Laboratório Jardim Botânico de Lisboa • O Jardim conduz uma pesquisa sobre as alterações climáticas no centro biológico ambiental na Universidade. • As Alterações globais são muitas vezes vistas apenas do ponto de vista antropogénico. O Homem como agente e vítima das alterações globais. Abordar também as alterações da dinâmica do nível dos ecossistemas; • Estas alterações estão a fazer subir a temperatura e o nível do mar, mas aqui em Portugal estão também a influenciar as estações: há uma grande imprevisibilidade do clima; • Existe uma métrica de carbono mas não existe uma métrica para medir os ecossitemas e a sua bio-diversidade. • O Jardim Botânico desenvolve trabalhos em torno desta matéria: ao nível científico, na monitorização das espécies e dos habitats para analisar a adaptação das espécies por perante as alterações climáticas; ao nível da mitigação, através da conservação de um banco de sementes; ao nível educativo, através da acção com escolas; • O Jardim Botânico é dotado de uma capacidade de sequestro e de filtro de carbono (relembrar que faz fronteira com a Avenida da liberdade, a rua com maiores índices de emissões de carbono proveniente de veículos automóveis); • O equipa do Jardim Botânico actua ao nível de formação, educação, transmissão de conhecimentos e mudança de comportamentos e sensibilização para a cidadania participativa, através de trabalhos com as escolas. Helena Freitas, Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra • Acompanha as actividades internacionais do ”Grupo de Carbono” e promove a divulgação do conhecimento científico sobre alterações climáticas, nomeadamente através de palestras proferidas em escolas e produção de textos de divulgação.; • Desde 1994 que integra trabalhos científicos no domínio das alterações climáticas, em especial impacto do carbono sobre ecossistemas mediterrânicos; • As emissões de CO2 em resultado da desflorestação maciça na Ásia, América Latina e África triplicaram entre 2000 e 20006 (em relação a década de 1990); • A perda da floresta tropical no hemisfério Sul é muito significativa e com consequências graves para a sustentabilidade económica e social destes países; • É necessário alertar para a ganância violenta na produção de Biodiesel e travar a sua campanha. Para a sustentabilidade, é necessário o respeito pelos recursos endógenos. São necessários planos de longo-prazo para recuperar estas florestas destruídas por causa da produção de combustível. • São precisos planos de gestão para a recuperação e manutenção de biomassa à escala global. • A mitigação passa pela composição das manchas florestais e este aspecto tem que ser contemplado porque é relevante em ambiente florestal e urbano. • Enquanto projecto nacional e em especial da Universidade de Coimbra neste domínio, destaco a base de dados dendrocronológica nacional e a importância das micro-algas e da investigação em torno da maior colecção nacional. Sara Dourado, Euronatura • Na área de Alterações Climáticas e Desenvolvimento a Euronatura tem trabalhado em 3 áreas: • Mitigação: revisão de projectos CDM para a iniciativa Gold Standard; • Adaptação: projectos de investigação sectoriais (recursos hídricos, eventos extremos...) em países de língua oficial Portuguesa; • A Eurontura finalizou recentemente um projecto de investigação sobre "adaptação às Alterações Climáticas no sector dos recursos hídricos, em Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe", com o objectivo de compreender como estava a ser enquadra e integrada a adaptação nas políticas de desenvolvimento destes países. Concluiu que estas medidas se estão a focar no vector da vulnerabilidade e que as medidas são na sua maioria familiares para a comunidade de Cooperação e Desenvolvimento. • Seria interessante a criação de pontes entre os vários agentes (ONGD, ONGA, consultoras, políticos...). Este interesse foi demonstrado por vários membros da Delegação do Clima de países de língua oficial portuguesa. É necessário avançar com estas ideias. Luís Lucas, AMI • A dimensão Norte-Sul é pouco conhecida: dentro de cada país existem vários países (ex. Angola, com maior taxa de crescimento económico do mundo, mas também algumas das piores situações de pobreza); • 12% da população mundial (Europa e EUA) basearam padrão de consumo na exploração e asfixia dos países subdesenvolvidos. Agora, 36% da população mundial (China e Índia) pretendem atingir este padrão de consumismo, o que corresponde a quadriplicar o número de consumidores agressivos; • Relativamente ao consumo de recursos naturais e energia e à produção de resíduos: é preciso fazer um enquadramento deste fenómeno e perceber que o problema está também do lado do consumidor; • A população portuguesa tem que ser mais activa enquanto consumidora, temos que mudar o padrão actual relativamente a recursos naturais, energia e resíduos, pois todos estes representam emissão de carbono para a atmosfera. Francisco Ferreira, Quercus • Falamos de “acção sobre o Sul”, E a Arábia Saudita? • Precisamos de fazer um esforço na contenção de emissões de GEE. Copenhaga não deve ter limites com os países em vias de desenvolvimento; • O Desenvolvimento não deve assentar no paradigma da transferência de tecnologias, mas na Cooperação Tecnológica; • A União Europeia não transfere dinheiro suficiente para a Cooperação; • Existe uma necessidade urgente na redução das emissões dos países desenvolvidos. Mas na lógica do protocolo de Quioto, a tendência tem sido de compensação e não de redução; • As emissões nos EUA são iguais ao carbono que deixa de poder ser retido pela floresta destruída; • Discussões da Rede Climática: qual o papel dos países do Sul no pós 2012, isto é, pósQuioto? • Tem de haver trabalho conjunto entre ONGD, ONGA, empresas, bem como um projecto político: Copenhaga está já aí (Dezembro 2009). Qual é o papel dos países do Sul no protocolo de Copenhaga? • Ter em conta a dimensão Cooperação e Ambiente. Luís Sousa, MEP • O movimento já integra no seu programa questões ambientais: a coesão social e o mundo global estão no programa político do MEP; • Estamos em plena corrida contra o tempo. A questão das energias renováveis tem de ser abordada, procurando uma mudança de estilo com privação de acesso ao carbono; • Em Portugal têm de ser tomadas medidas essencialmente na questão dos transportes, colectivos, dos serviços e do sector doméstico (responsáveis pelo consumo de 65% da energia naional) bem como na sensibilização dos consumidores; • Deveríamos mudar de atitude relativamente ao consumo de forma a dar um melhor exemplo ao Sul também através da inclusão de novas tecnologias e energias renováveis. Alda Macedo, Bloco de Esquerda • Antes de mais é preciso dar atenção o conteúdo das palavras: “Cooperação” e “Desenvolvimento” que podem ter implicações perversas; • Se “Desenvolvimento” implica “crecimento”, tem de ser travado: não podemos continuar a crescer; • Justiça Ecológica e Justiça Social: Dívida Ecológica do Norte perante o Sul; • Entre 2000-2004, houve 326 catástrofes ecológicas, com um total de 262 milhões de vítimas cuja grande maioria se localiza em países fora da OCDE. Os riscos não são iguais para todos. • O contexto actual de Crise Económica pode ser conjugado com a luta contra a Crise Ambienta: encontrar estratégias de redução do consumo e da produção. António Eloy, Amnistia Internacional • A Amnistia Internacional, em torno da questão dos direitos humanos incide há muitos no problema das alterações climáticas, nomeadamente a questão dos Refugiados Ambientais. Actualmente tem vindo a intensificar este trabalho; • Tópicos como os “Refugiados do Clima” e das condições sociais (ex: chineses deslocados para a construção de grandes barragens – um modelo de desenvolvimento, com o problema da gestão ambiental; o caso da Nigéria onde houve uma exploração insensata e descontrolada do petróleo; os dramas ligados às Alterações Climáticas no Darfur; os milhões que chegam à Europa em barcos e os que morrem no caminho também são Refugiados Ambientais; BALANÇO DO DEBATE A Mesa Redonda “Carbon Atitude: Alterações Climáticas e a Pobreza no Sul” beneficiou da visibilidade de um evento mais amplo: os Dias do Desenvolvimento, organizado pelo IPAD. Aproveitando o impacto desta iniciativa, a INDE propôs a reunião de um conjunto de pessoas que dificilmente se teriam disponibilizado para uma tertúlia apenas com a assinatura desta ONGD. De certa forma, fomos vítimas de tamanha visibilidade: com apenas uma única excepção, todos os convidados apareceram… e o facto da organização dos Dias do Desenvolvimento ter alterado o horário da Mesa Redonda para o final deste evento condicionou o tempo disponível para debate. Nem todos os participantes tiveram oportunidade de intervir mas agradecemos igualmente a sua participação, disponibilidade e demonstração de interessa pelo projecto, contando com as suas colaborações futuras. Retivemos as seguintes propostas: • Aprofundar o debate em torno do regime climático pós-2012 e dos impactos que as decisões de Dezembro em Copenhaga têm nos países do Sul; • Encontrar formas de fazer chegar os tópicos do debate aos policy-makers; • A introdução, em futuros debates, de um enquadramento jurídico das questões climáticas no Mundo; • Introduzir nos próximos debates exemplos concretos de Cooperação para o Desenvolvimento nos países do Sul. • No entanto, a reunião foi para nós um momento clarificador para perceber o que está em jogo no nosso desafio. Surgiram-nos as seguintes pistas de trabalho: O Vocabulário. Sugerindo a leitura prévia desta síntese pela parte de todos os intervenientes, verificamos que palavras óbvias para uns são carregadas de significações diferentes para outros. A reunião de pessoas de horizontes muito diferente à volta da mesma mesa permitiu identificar este ponto como um dos símbolos do nosso trabalho. Não pretendemos nenhum consenso, mas sim a percepção mútua do que cada um vê como essencial. Talvez a elaboração de uma listagem de conceitos permita a continuação do cruzamento de caminhos entre técnicos e políticos, activistas do ambiente e da cooperação; O formato do debate. A reunião de pessoas muito diferentes é um terreno fértil para o cruzamento de ideias, permite cada um deparar-se com novos argumentos, facilita contactos inter-institucionais. No entanto, o debate não se pode resumir a uma sucessão de tomadas de posição. Assim, é necessário encontrar formatos de reunião diferentes, talvez menos ambiciosos, onde cada um encontrará espaço para desenvolver de forma mais profunda e levar a debate as ideias enunciadas na Mesa Redonda; A Mudança. A transformação social e a mudança de atitudes fazem parte dos objectivos centrais do trabalho desenvolvido pela INDE. Verificamos que temos um projecto ambicioso: a sensibilização de profissionais da sensibilização. Tentamos aqui falar de ambiente a ambientalistas, de política a deputados, de desenvolvimento local a autarcas. Porque sabemos que é necessário integrar as questões do ambiente com as questões da solidariedade internacional, sabemos que é necessário para cada um de nós integrar mais práticas e hábitos já desenvolvidos por outros actores. O Sul. Há alguma ironia, numa reunião unanimemente referida como interessante e inovadora, não ter participado nenhum representante do Sul geopolítico. Temos de referir que organizamos este evento sem qualquer orçamento, o que nos impossibilitou convidar intervenientes fora de Portugal. No entanto, teremos de encontrar formas de repor no centro do debate os que são, sistematicamente, excluídos dos processos de decisão. E garantir a cada um o direito a ter influência nas decisões que os implicam directamente. É esse o objectivo do projecto Carbon Atitude. Ficaram assinaladas pistas para futuros debates, parcerias entre agentes complementares, projectos de sensibilização ao decisor, consumidor e empreendedor do Norte e de Cooperação com o Sul, com atenção às tensões e articulações entre o Local e o Global, entre o Norte e o Sul. Os tópicos de análise foram introduzidos. Procuramos agora continuar esta iniciativa com outros debates e projectos de sensibilização. INDE – Intercooperação e Desenvolvimento, Abril 2009 http://www.inde.pt/