CAPÍTULO UM
Jonell McLain, a visionária
Transformando uma ideia em realidade
S
entada à sua mesa, Jonell McLain olhava para as
pilhas de papel que a rodeavam, esforçando-se para não se deixar abater. Procurava saber por que nunca conseguia limpar
sua mesa, nunca conseguia riscar os 45 itens de sua lista de
afazeres. As 45 pendências sempre estiveram ali? Era o que
parecia. Sentia-se como o lendário rei Sísifo, da mitologia grega, condenado a carregar uma enorme rocha até o cume da
montanha, repetidas vezes, eternamente. Havia dias em que
ela tinha a impressão de que tudo o que havia feito fora mover
as pilhas de lugar. Alguns papéis, poderia jurar, ela havia trocado de lugar uma centena de vezes. Em parte, o problema era
porque ela vivia cheia de ideias e, por isso, vivia acrescentando
novos projetos à lista. Executá-los, bem, essa era uma habilidade que ainda não havia adquirido.
Hoje, a lista não a deixou tão ansiosa quanto de costume.
Acabara de fechar a venda de uma casa e experimentava a euforia que todo corretor de imóveis sente quando finalmente
recebe a sua parcela de uma grande comissão. Esta venda lhe
custara três meses de trabalho e gerara grande desgaste emocional. As pessoas costumam comprar a casa própria em um
momento de grande mudança e, naturalmente, estão quase
sempre muito tensas. A queda dos preços no mercado imobiliário da costa oeste dos Estados Unidos fez com que os clien-
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tes que estavam se mudando para a Califórnia ficassem particularmente ansiosos. Justamente porque o trabalho era tão
estressante, após cada negócio concluído, Jonell presenteava-se com um mimo.
Desta vez, ainda não decidira o que daria a si mesma e
dirigiu-se ao shopping apenas para comprar uma caixa de doces para seus clientes, um dos itens da cesta de boas-vindas que
ela costumava presentear os novos moradores.
O Pacific View Mall era o único shopping de Ventura,
cidade litorânea da Califórnia, cerca de 96 quilômetros ao
norte de Los Angeles. Jonell passou voando pelos corredores
rosa-chá do shopping, parando apenas para dar uma olhadinha na vitrine da Van Gundy & Sons, uma joalheria familiar
e antiquíssima — a Tiffany’s de Ventura. Geralmente, as espiadas de Jonell eram tão rápidas quanto seus passos, porém dessa
vez ela parou e ali ficou.
No centro da vitrine, um colar de diamantes cintilava
sobre o veludo preto. Alguns anos antes, ela havia procurado,
sem sucesso, um simples colar de strass para usar em um evento social. Agora, ali estava exatamente o que ela havia imaginado na época. Ela reconheceu o estilo, uma versão em colar da
“pulseira de tênis”, assim chamado depois do episódio em que
a consagrada tenista Chris Evert perdeu sua pulseira de diamantes durante uma partida do US Open de 1987 e interrompeu o jogo para procurar pela joia. Os diamantes encontravam-se delicadamente alinhados em um único fio de ponta
a ponta. A pedra mais ao centro era a mais larga e os dois menores diamantes eram os mais próximos ao fecho. A gradação
era minúscula; o resultado, de tirar o fôlego.
Mas esse colar estava na vitrine da Van Gundy’s. Não
havia a menor chance de que o colar fosse feito de strass.
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Jonell raramente usava joias de qualidade, apesar de já
ter ganho lá seu quinhão — anéis de diamante de dois casamentos, brincos de ouro de 14 quilates e relógios caros. Contudo, joias de luxo eram outra história. Nossa, ela pensou,
alguma vez vira uma joia de tamanho valor de tão perto?
Qual seria a sensação de experimentar algo tão belo e
extravagante?
Tomada pelo impulso, ela adentrou na loja.
— Posso ver o colar que está na vitrine? — perguntou
Jonell, com um tom casual, como se fizesse aquilo todos os
dias.
Ela tocou a singela corrente de ouro que usava ao redor
do pescoço. Em 1972, um namorado a presenteara com um
colar com um pingente do símbolo da paz. Em 2003, quando
irrompeu a guerra do Iraque, ela voltou a usá-lo. Ela acomodou o deslumbrante colar de diamantes por cima de seu antigo pingentinho dourado. Era simplesmente formidável — e
formidavelmente simples.
Ela respirou fundo e, ao expirar, perguntou o preço.
— Trinta e sete mil dólares.
Jonell não soube disfarçar o espanto. Não lhe saía da cabeça a pergunta: Quem compra um colar de 37 mil dólares?
Voltou a olhar para o espelho. Não pôde evitar pensar
sobre as escolhas que fizera na vida, aquelas que acabaram por
lhe garantir que nunca teria condições de comprar um colar
como este. Imaginou como sua vida teria sido diferente se tivesse se casado com um homem rico ou se dedicado mais à
carreira. Se tivesse se esforçado mais, teria a renda necessária
para que pudesse se dar ao luxo de comprar tamanho esplendor. No final das contas, nada daquilo importava muito. Num
mundo tomado pela miséria, a ideia de ter um colar de 37 mil
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dólares era moralmente injustificável para Jonell, que havia
seis anos dava aulas particulares para crianças carentes. Absorta em tais pensamentos, ela ouviu apenas fragmentos da descrição da vendedora: 118 diamantes... em corte de brilhante...
extraídos de regiões legalizadas, sem conflito... 15,24
quilates.
Quinze quilates soava excessivo e Jonell não gostava de
excessos nem de exibicionismo. Voltou a olhar a joia. Não havia nada de excessivo ou exibicionista naquele colar. Os diamantes eram muito delicados, no tamanho ideal para o seu
corpo mignon de 1,58 metro e, no entanto, o círculo ao redor
de seu pescoço tinha um peso real. Mas o que prendia o olhar
era o brilho intenso do colar. Nunca vira diamantes com um
fulgor daquele antes.
Jonell hesitou em retirar o colar. Após admirá-lo por mais
um minuto, colocou-o na bancada e agradeceu a vendedora.
Passaram-se três semanas e Jonell se surpreendeu com a
frequência com que ainda pensava no colar de diamantes.
Quando voltou ao shopping para passear com sua mãe de 86
anos, ela reparou que o colar permanecia na vitrine.
— Mãe, quero lhe mostrar uma coisa — disse Jonell,
conduzindo a mãe para dentro da loja, com a excitação de
uma menina de 7 anos de idade prestes a ganhar sua primeira
Barbie.
— Experimenta, mãe.
Bastou que Jonell fechasse a presilha para que a mãe arregalasse os olhos.
— É lindo — sussurrou ela.
A mãe de Jonell tinha um olho para objetos de boa qualidade, e sua admiração confirmava que se tratava de um modelo clássico, eterno.
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Quando Jonell por fim conseguiu tirar os olhos dos diamantes que brilhavam no pescoço da mãe, avistou a etiqueta
com o preço: 22 mil dólares. No balcão, uma placa informava
que todos os itens expostos na loja estavam em promoção e
que a loja estava aberta a ouvir contrapropostas.
Jonell se lembrou de quando tinha 30 anos e precisou
dar uma pausa em sua vida. Cansada de seu trabalho como
fonoaudióloga, em Santa Cruz, e entediada com seu namoro
de longa data, ela partiu para Nova York para morar com sua
melhor amiga da época da faculdade. Jonell viu a amiga lavar
o rosto com água Perrier e cobrir-se com um casaco de pele
de lince. Foi ali que Jonell começou a considerar a possibilidade de se permitir certas extravagâncias. Aquela situação
não lhe causara inveja, apenas curiosidade: por que luxos
pessoais eram acessíveis a tão poucos? Seis meses depois, Jonell deixou Nova York e voltou para a Califórnia, mas a pergunta permaneceu com ela. E agora parecia mais presente do
que nunca.
Pensou: por que será que ficamos lado a lado para apreciar
suntuosas obras-primas em museus? Por que um bando de gente
admira magníficas paisagens em parques nacionais lado a lado?
Por que não podemos compartilhar luxos pessoais da mesma
forma?
E surgiu uma ideia: eu poderia usar um objeto de luxo se o
comprasse com outra mulher, pensou. Ninguém usa um colar de
diamantes de 15 quilates o tempo todo. No entanto, e então ela
fez uma pausa para concluir o argumento, não seria maravilhoso ter um colar de diamantes para usar de vez em quando?
Não posso gastar 22 mil dólares, mas posso gastar mil... Mil
dólares não seria nenhum sacrifício para a maioria de minhas
amigas... Se conseguisse convencer 11 mulheres a entrar nessa co-
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migo, poderia fazer um lance de 12 mil... já baixaram 15 mil.
Por que não baixariam mais dez?
Jonell começou a ligar para amigas e conhecidas. Conversou com algumas mulheres do grupo de caminhadas e do
clube de investimento, mulheres que conhecera em seminários, festas, eventos beneficentes. A maioria das mulheres com
quem conversou disse não. Não tinham dinheiro. Não tinham
tempo. Não se interessavam por diamantes. Respondiam na
lata: “É uma ideia fadada ao fracasso. Vão acabar todas brigando pelo colar.” “Qual o propósito em comprar diamantes?”
“Consigo um preço melhor comprando uma joia usada.”
“Você nunca vai conseguir convencer 12 mulheres a entrar
nessa.” “Se vou gastar mil dólares em algo, quero que seja só
meu.”
Até a mãe agourou:
— Vai acabar perdendo amigas por conta disso.
Alguns comentários incomodaram Jonell, deixando-a insegura. Alguns a incitaram a argumentar. Outros, ela apenas
ignorou. Mas em nenhum momento ela fraquejou em seu objetivo. Voltou a conversar com mulheres que haviam dito não.
Perguntou para novas mulheres. Em dois meses, já tinha um
grupo de sete mulheres. Não faltava muito, decidiu ela. Conseguiria o restante antes que sua conta de cartão de crédito
chegasse.
Havia três gerações da família Van Gundy na loja no
sábado em que ocorreu a venda: Kent Van Gundy, um senhor
de 80 anos, que abrira a loja em 1957 e já se encontrava aposentado; seu filho Tom Van Gundy, de 54 anos, que tomara as
rédeas do negócio; e Sean, o neto de 29 anos, que gerenciava
o estabelecimento.
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Tom diz que nunca esquecerá aquele dia. Sean também
não será capaz de esquecê-lo. Aquelas mulheres eram diferentes
daquelas que os Van Gundy estavam acostumados a atender. São
tantas mulheres infelizes que entram na loja, diz Sean. Seus olhos
demonstram ansiedade, há uma expressão tensa em seus rostos.
Algumas têm lágrimas nos olhos. São solitárias e procuram alguém com quem conversar. Falta alguma coisa em suas vidas,
estão em busca de algo para preencher o vazio que sentem.
Mas aquelas mulheres entraram na loja sorrindo, assim
que as portas da joalheria se abriram, ansiosas por serem as
primeiras clientes, para não correrem o risco de perder a oportunidade a outro comprador. Jonell mostrou o colar para quatro mulheres que a acompanhavam. Duas que já haviam aceitado a proposta; duas que a haviam recusado, mas não queriam
perder a diversão. Mary Karrh, que era bem mais alta que Jonell, sentia-se tão distante da sua rotina como contadora que
estava maravilhada. Se antes ela tinha algum receio por ter
comprometido parte de seu dinheiro, o medo sumiu quando
se viu frente a frente com o colar de diamantes.
— Uau, esse colar é digno de um rei — disse ela.
— Experimente, Mary — rogou Jonell. As outras mulheres se amontoaram ao redor de Mary, que por sua vez sentia-se ainda mais alta.
Sua reação foi surpreendente até para ela própria.
— Consigo me imaginar usando esse colar.
Maggie Hood representava a quinta-essência da mulher
californiana; loura, de corpo sarado. Ela não parava quieta,
não sabia se admirava o colar ou flertava com o vendedor
bonitão.
— Precisamos registrar esse momento! — exclamou
Jonell.
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Uma das mulheres que estava lá por camaradagem
saiu correndo pelo shopping para comprar uma câmera
descartável.
Cada uma das mulheres — Jonell, Mary, Maggie, as duas
amigas — posou para a foto com o colar de diamantes. Elas
davam risadinhas e faziam pose. Não acreditavam que, entre
as cincos, três estavam cogitando a ideia de comprar uma joia
assim, mesmo que fosse “compartilhada”. Era bastante óbvio
que aquelas mulheres frenéticas não compravam diamantes
com tanta frequência. Durante a sessão de fotos, a sensação era
de deslumbre.
— É tão lindo! — disseram.
O comentário foi repetido inúmeras vezes. Disseram-no
ao ver o colar nas outras e disseram-no ao admirá-lo em si
mesmas. Foi dito quando Mary o experimentou, vestida de
camiseta e short cáqui. A reação foi a mesma ao verem Maggie
colocar o colar com seu tope e calça jeans. E entoaram a frase
quando os diamantes pousaram sobre o pingente com o símbolo da paz de Jonell.
— Esse colar é lindo demais!
As mulheres contagiavam a todos com seus risos e comentários entusiasmados, e aguardavam ansiosas a hora da
verdade.
Finalmente chegou a hora de Jonell entregar a Tom Van
Gundy um envelope. Era uma folha de papel A4 escrita à mão
por ela, com a oferta e o nome de 12 mulheres — sendo que
quatro nomes vinham com um ponto de interrogação ao lado.
Ao proferir a oferta, sua atitude era confiante e seu sorriso,
maroto. Mas, na verdade, estava nervosíssima. Afinal, estava
pedindo a ele que baixasse o valor do colar em quase 50%.
Sentia-se segura por conta da experiência que havia adquirido
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como corretora negociando com os clientes, mas tinha plena
consciência de que entrar de cara com uma oferta muito baixa
era arriscado.
Os três homens da família Van Gundy pareciam hipnotizados por aquela cena. Nada semelhante ocorrera até então
naquela loja. Não era apenas pelo burburinho. Em um quarto
de século trabalhando no ramo, Tom Van Gundy não se recordava de haver visto uma única mulher comprar uma joia de
luxo para si mesma. As mulheres alentavam o desejo por joias,
porém esperavam que seus maridos ou namorados fizessem a
compra.
Tom desviou com relutância o olhar das mulheres espirituosas para contemplar a oferta: 12 mil dólares. Estremeceu,
mas não deixou transparecer. Joalherias costumam exagerar na
margem de lucro — e é por isso que muitas oferecem descontos de até 70%. Atuar no mercado joalheiro significa ser um
negociador, e era Tom quem geralmente assumia esse papel
em sua loja. No entanto, quando se tratava de um produto de
grande valor — e este era sem dúvida um produto de grande
valor —, ele precisava de autorização. E esta seria difícil de
conseguir. Ainda assim, ele olhou para as mulheres e procurou
o tom mais agradável para dizer a Jonell:
— Vou precisar fazer umas contas.
Ele foi para os fundos da loja. Priscilla Van Gundy, sua
esposa e responsável pela administração financeira da loja,
encontrava-se curvada sobre as planilhas, em concentração absoluta, tentando filtrar o barulho da loja. Geralmente, ela trabalhava em um escritório do outro lado da rua, mas, por causa
da liquidação, agora estava espremida em uma pequena sala
onde estocavam mercadorias, entre estantes com inventários e
uma escrivaninha que servia também como mesa de cozinha.
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Priscilla escutara a comoção. Imaginou que fosse o grupo
de mulheres sobre quem ela ouvira os vendedores comentar,
mas não saiu de sua mesa para averiguar. Evitava conhecer os
clientes. Era uma forma de não deixar que a emoção interferisse nas negociações.
— Tem um grupo de mulheres que deseja um preço especial para o colar de diamantes — disse Tom para sua mulher, que estava escondida por trás de sua cabeleira ruiva. —
Quanto podemos aceitar?
Priscilla digitou alguns valores na calculadora: o valor
real do custo do colar, outro valor baseado na quantidade de
meses que a joia ficara exposta na loja e um terceiro número
para descobrir por quanto deveriam vender a joia para obter
algum lucro.
— Dezoito mil.
Tom sabia que as mulheres não iam aceitar esse valor,
mas estava acostumado a longas negociações. Ele voltou para
a entrada da loja e contrapôs a oferta de Jonell.
— Precisaria ser menos que isso. Não podemos gastar
mais do que mil dólares por pessoa.
Tom antevira a resposta. Assentiu e voltou para os fundos da loja.
— Dá para baixarmos um pouco mais o preço? — perguntou a Priscilla.
Ela sentiu a apreensão no marido. Casada havia 33 anos,
ela conseguia ler os sentimentos dele como se estivesse estudando uma planilha. Ela digitou os números na calculadora.
— Dezessete mil.
Tom riscou o valor de 12 mil que estava escrito na folha
de papel que Jonell lhe dera, escreveu em seu lugar “15 mil” e
mostrou-a para Priscilla.
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— Esse valor seria possível? — perguntou ele.
— Você não está falando sério.
— Pode ser bom para o negócio.
— Se vendermos por esse preço não teremos um negócio.
Tom ficou em silêncio. Priscilla foi mais enfática:
— Não há a menor chance.
Tom fitou a esposa. Recordou como estava mais relaxado desde que ela começara a trabalhar com ele, havia seis
anos. Ela cuidava de cada centavo da loja e era boa nisso. Os
negócios iam bem, em grande parte, por causa dela. E não
havia ninguém em quem ele confiasse mais do que em sua
mulher.
Mas, naquele momento, nada disso tinha muita importância. Nesse dia, Tom apenas gostaria que ela fosse mais
flexível.
— Não sei, minha intuição me diz que vale a pena arriscar — disse a ela.
— Se vendermos por 15 mil, não teremos lucro.
Tom Van Gundy percebeu, ali, que estava disposto a
abrir mão do lucro. Em parte, porque não queria desapontar
tantas mulheres ao mesmo tempo. Era a mesma sensação da
época da escola, quando jogava no time de futebol americano
e não queria decepcionar as fãs. Sabia que frustrar o desejo de
12 mulheres também não seria bom para os negócios. Mas
acima de tudo, a verdade era que, no fundo, o que ele queria
mesmo era ver sua esposa sorrir da forma como aquelas mulheres estavam sorrindo, um sorriso que não via em Priscilla
desde a morte da irmã, Doreen, havia seis meses.
Algo mais importante do que ganhar dinheiro estava
acontecendo ali, algo tão importante que acabou lhe dando
uma ideia.
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Tom Van Gundy raramente tomava decisões sem consultar a esposa, e ele sabia que se continuasse a argumentar com
ela acabaria perdendo a batalha. Preferiu seguir o dito popular
de que é melhor implorar pelo perdão depois do que pedir
permissão antes, e decidiu que aguentaria as consequências
depois. Saiu do escritório para entregar a Jonell o papel com a
oferta que havia rabiscado.
— Posso lhe oferecer este preço. Mas com uma condição.
Quero que minha mulher faça parte do grupo.
Ele não tinha ideia de qual seria a reação de Priscilla ou
mesmo se ela aceitaria participar. Apenas sabia que gostaria de
ter aquelas mulheres na vida da esposa.
Jonell encarou o homem atraente e gentil que lhe dirigia
a palavra. Não conseguia entender por que ele queria a esposa
no grupo, não fazia ideia de como era a tal esposa e muito
menos se gostaria dela ou se alguma das outras integrantes iria
com a cara dela. No entanto, a proposta era justamente de
inclusão e comunhão. Portanto, ela não hesitou.
— Está fechado.
Jonell não estava preocupada com a esposa de Tom. O
que ela temia era que as mulheres que havia conseguido reunir
após tanto sacrifício fossem se recusar a pagar mais duzentos
dólares. O que faria se isso acontecesse? Ela disfarçou a preocupação com seu sorriso mais radiante.
Tom retornou à sala nos fundos da loja.
— Vendi o colar por 15 mil — disse ele para a esposa,
que permanecia com a cabeça abaixada. — Mas você terá que
fazer parte do grupo.
Priscilla ergueu os olhos na direção dele.
— Do que está falando?
— Do grupo de mulheres. Você vai poder fazer parte do
grupo.
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Ela sabia que ele se sentira culpado por causa do preço e se
segurou para não o repreender com críticas rabugentas. Ele havia perdido a razão? Esquecido que o shopping tem direito a 7%
e o vendedor a 3% de comissão? Não teriam o suficiente nem
para cobrir os gastos com o valor da venda. Como sempre, ela
era o buldogue, ele o golden retriever. As coisas nunca mudariam. Para que discutir? O negócio já estava fechado mesmo.
— Então tá — respondeu. E não disse mais nada.
Priscilla permaneceu na sala dos fundos. Ela não tinha
nenhuma curiosidade a respeito das mulheres. Não tinha nenhum interesse em fazer parte daquele grupo. Não tinha nenhum interesse em ter um colar que poderia ter pegado emprestado sempre que quisesse. Tudo o que sabia era que, se o
marido continuasse a fazer negócios como aquele, acabariam
indo à falência. Ela voltou para os livros de contabilidade para
buscar uma forma de compensar o prejuízo.
No entanto, Tom Van Gundy conseguiu ver algo que sua
mulher não vira. Ele enxergou um grupo de mulheres diferente de qualquer outro, nos seus 25 anos vendendo para o universo feminino, conversando com elas, entendendo-as. Ele viu
uma vitalidade coletiva, uma oportunidade inesperada. Ele
enxergou uma possibilidade.
Possibilidade era a palavra-chave por trás da visão de Jonell. Não se tratava de um colar sob o ponto de vista de um
acessório ou um objeto de arte. Não se tratava de diamantes
como símbolo de status ou como um investimento. O colar,
neste contexto, representava uma experiência cultural. Uma
forma de unir 13 mulheres aventureiras que pagariam para ver
o que aconteceria depois. Será que o colar seria capaz de se
tornar mais valioso do que a soma de seus elos, 13 vozes mais
fortes que uma?
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A perseverança de Jonell não fora em vão. Três semanas
depois, quando chegou a conta de seu cartão de crédito, ela já
havia convencido as quatro mulheres que faltavam. Além da
desanimada esposa do joalheiro, havia amigas de longa data,
amigas recentes, amigas de amigas. As idades variavam entre
50 e 62 anos; com exceção de uma mulher, todas faziam parte
da eclética geração dos baby boomers. Algumas eram fielmente
casadas com um único homem há trinta e tantos anos, outras
haviam se casado umas três vezes e tido uma dúzia de amantes.
Havia mulheres que não tiveram filhos e mulheres que foram
mães de quatro, mães cujos filhos já saíram de casa e mães que
levavam os filhos para a escola. Havia solteiras buscando namorado e as avós corujas, conservadoras de carteirinha e liberais da vida toda. Algumas têm diplomas universitários, outras
concluíram apenas o ensino médio. Algumas tiveram três carreiras, outras mudaram de profissão várias vezes ou só tiveram
um único emprego; trabalhavam em finanças e agricultura,
medicina e magistério, administração e venda de imóveis, comunicação e direito. Algumas vieram de famílias ricas, outras
subiram na vida sozinhas. Católicas e judias, feministas e tradicionalistas, louras e grisalhas.
Nenhuma dessas mulheres disse sim para a proposta de
Jonell por um simples amor a joias ou diamantes. Nenhuma
mulher disse sim ao colar pelo simples desejo de usá-lo. Algumas assinaram o cheque sem nunca ter visto a joia. Cada uma
delas aceitou pagar sua parte, como intuíra Tom, porque ela
representava uma possibilidade.
O que as mulheres não sabiam era que, pelos próximos
três anos, o colar traria uma energia a suas vidas de formas
nunca antes imaginadas. E o mais importante: ele desencadearia importantes reflexões. Sobre materialismo e consumismo
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desenfreado; propriedade e desprendimento. Sobre o significado de ser mulher na faixa dos 50 anos, com perspectivas de
viver mais trinta ou quarenta anos. Sobre os vínculos que criamos e os legados que deixamos, sobre como tirar o melhor
proveito dos longos anos que vivemos.
Esta é uma história sobre um colar, mas não é a história
de um cordão de pedras. Esta é a história de 13 mulheres que
transformaram um símbolo de exclusividade em um símbolo
de inclusão e, neste intervalo de tempo, recriaram a jornada da
segunda metade de suas vidas.
Esta é uma história de transcendência.
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