COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. Resistência ao Cisalhamento de Misturas Caulim-Bentonita Através de Ensaio de Palheta Miniatura Antônio Marcos de Lima Alves Escola de Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande, Brasil, [email protected] Suzi Cristina Kenne da Costa Engenheira Civil, Dom Feliciano, Brasil, [email protected] Cezar Augusto Burkert Bastos Escola de Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande, Brasil, [email protected] RESUMO: Relatam-se no artigo resultados de um projeto de pesquisa que visou investigar alguns aspectos do comportamento geotécnico de argilas confeccionadas artificialmente em laboratório, através de misturas de caulim, bentonita e água destilada. Foram testados três traços para a mistura, variando-se o teor de bentonita em 0%, 5% e 20%. Após a mistura, as amostras foram vertidas em moldes cilíndricos e adensadas a tensões de 12,5 , 25 e 50 kPa. Após o tempo necessário para o adensamento, as amostras foram submetidas a ensaios de palheta miniatura. Os resultados dos ensaios de palheta demonstram o aspecto não-linear da relação entre a resistência ao cisalhamento não-drenada su (e também entre a razão de resistência su/σ’vo) e a tensão de adensamento. Ficou evidente o importante papel da mineralogia da argila no seu comportamento mecânico, uma vez que a adição de bentonita às amostras de caulim afetou sobremaneira sua capacidade de resistência ao cisalhamento. Demonstrou-se a grande utilidade do ensaio de palheta miniatura na determinação da resistência ao cisalhamento não-drenada de solos argilosos, especialmente em solos extremamente moles, onde a obtenção de corpos de prova indeformados para realização de outros tipos de ensaio torna-se inviável. PALAVRAS-CHAVE: Ensaio de Palheta Miniatura, Solos Artificiais, Resistência ao Cisalhamento. 1 INTRODUÇÃO • Ensaios in-situ – ensaios de campo realizados no local, sem a necessidade de obtenção de amostras de solo. Alguns ensaios permitem a obtenção direta ou indireta de su: ensaio de palheta (“vane-test”), ensaio de penetração de cone (CPT e CPTU), ensaio pressiométrico (pressiômetro de Ménard) e ensaio dilatométrico (dilatômetro de Marchetti) (Schnaid, 2000). A estimativa da resistência ao cisalhamento não-drenada de solos argilosos – usualmente representada pelo símbolo su – é de fundamental importância para o projeto de diversas obras geotécnicas, tais como aterros, fundações superficiais e profundas, e análises de estabilidade de taludes. É conhecido o esforço da comunidade técnico-científica no sentido de desenvolver técnicas experimentais para a determinação do parâmetro su (Dias, 1985). Os métodos para determinação experimental de su estão divididos basicamente em dois grandes grupos: • Ensaios de laboratório – ensaios realizados em laboratório, com amostras indeformadas de solo. Destacam-se: ensaios triaxiais e ensaio de cisalhamento direto (Pinto, 2002). Outra alternativa é o ensaio de palheta miniatura (Head, 1982). 1 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. com a NBR 6508, 1984), limite de liquidez (NBR 6459, 1984) e limite de plasticidade (NBR 7180, 1984). Para confecção das amostras, primeiramente a pré-mistura era selecionada através da peneira de no 40 (abertura de 0,42 mm), visando eliminar grumos e eventuais partículas de maior tamanho. Cerca de 3 kg do material passante na peneira no 40 eram então depositados no recipiente de um misturador elétrico (argamassadeira), juntamente com água destilada. O volume do recipiente da argamassadeira do Laboratório de Geotecnia da FURG é da ordem de 6 litros (Figura 1). Dentre os ensaios de laboratório, o de palheta miniatura apresenta uma grande vantagem: a possibilidade de realização do ensaio dentro de tubos de amostragem. Esta vantagem é particularmente importante no caso de solos muito moles, quando a moldagem de corpos de prova indeformados é praticamente impossível. Este artigo tem por objetivo o relato de alguns dos resultados de um projeto de pesquisa, conduzido no Laboratório de Geotecnia da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), que visou investigar o comportamento geotécnico de argilas artificiais, confeccionadas em laboratório. A confecção se deu através da mistura de caulim, bentonita e água destilada em misturador elétrico. Após o seu adensamento, as amostras foram submetidas a vários ensaios, dentre eles o ensaio de palheta miniatura, com o objetivo de medir sua resistência ao cisalhamento. 2 METODOLOGIA 2.1 Confecção Artificial das Amostras de Solo Figura 1. Misturador elétrico (argamassadeira). A quantidade de água destilada acrescentada à pré-mistura conduziu a uma umidade de moldagem cerca de duas vezes maior do que o limite de liquidez para o traço T0, e uma vez e meia o limite de liquidez das misturas nos traços T5 e T20. O material era posto para bater durante quatro períodos de 30 minutos cada, buscando-se a melhor homogeneização possível do material, bem como a sua completa saturação. O molde utilizado para confecção das amostras é o mesmo utilizado em ensaios tradicionais de compactação e CBR. É constituído por um tubo cilíndrico de aço, com diâmetro em torno de 15 cm e altura em torno de 17 cm. O tubo pode ser prolongado através de um colarinho, com altura em torno de 8 cm. Completou o conjunto uma placa circular perfurada, dotada de haste vertical, com diâmetro ligeiramente menor que o tubo, que é colocado no topo da amostra. A Figura 2 mostra o conjunto desmontado. Os solos utilizados na pesquisa foram produzidos artificialmente em laboratório, confeccionados a partir da mistura de caulim, bentonita e água destilada. O caulim utilizado, de cor creme, é da marca Raabelim, produzido pela empresa Raabe Calcários, da cidade de Pantano Grande (RS). A bentonita utilizada é cálcica, de coloração bege escuro, produzida na região de Mendoza (Argentina). Foram definidos três traços para as misturas caulim + bentonita: 100% caulim (T0), 95% caulim + 5% bentonita (T5) e 80% caulim + 20% bentonita (T20). A pré-mistura dos materiais era realizada a seco, manualmente, em uma bacia, até que se atingisse o maior grau de homogeneidade possível. A proporção de cada material foi medida em peso, desprezando-se as umidades higroscópicas. Quantidades padronizadas dos três traços foram submetidas a ensaios de caracterização simples: determinação do peso específico real dos grãos (de acordo 2 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. instalar a placa circular perfurada, dotada de um disco de papel-filtro umedecido, na parte superior da amostra (Figura 4). Cilindro de aço Papel filtro Colarinho Placa perfurada Base perfurada Figura 2. Molde utilizado para confecção das amostras. Figura 4. Instalação da placa perfurada superior, munida de papel-filtro. As paredes internas do molde, depois de limpas, eram lubrificadas com vaselina para minimizar o atrito com o solo. O cilindro era então fixado à base, e tinha seu diâmetro e altura internos medidos. O conjunto cilindro + base tinha ainda seu peso próprio medido, para posterior desconto no cálculo do peso específico do solo já adensado. Um filtro de papel circular, pré-umedecido, era colocado sobre a base perfurada para facilitar a saída de água do corpo de prova durante o processo de adensamento. Após duas horas de homogeneização no misturador, o material, com consistência bastante mole, era vertido dentro do molde cilíndrico (Figura 3a). A Figura 3b mostra o aspecto final do material já contido pelo molde cilíndrico. Uma pequena porção da mistura era utilizada para verificação da umidade de moldagem. As amostras eram então submetidas a carregamento vertical, visando o seu adensamento. Foram definidas 3 tensões de adensamento para as amostras: 12,5 kPa, 25 kPa e 50 kPa. Assim, a combinação de 3 traços (T0, T5 e T20) com 3 tensões de adensamento conduziu ao total de 9 amostras de solo artificial moldadas e ensaiadas durante a pesquisa, que foram chamadas genericamente de TX-Y (onde X é o percentual de bentonita e Y é a tensão de adensamento em kPa). Observase que a amostra T20-12,5 sofreu uma sobrecarga acidental estimada em 4,5 kg durante os últimos dias de adensamento, o que elevou a tensão de adensamento para 15 kPa. O carregamento era realizado através da colocação de discos sobre o topo da amostra, cuidadosamente centralizados (Figuras 5a e 5b). (a) (a) (b) (b) Figura 5. Amostras sendo adensadas com aplicação de pesos. Figura 3. Material misturado sendo vertido dentro do molde. O peso da placa perfurada superior contribuiu na carga aplicada. O carregamento A fase final de moldagem consistia em 3 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. amostras, e então era iniciada a fase de ensaios. A Figura 7 ilustra a posição dos pontos de ensaio em relação à área total da amostra. 2.2 Plano de corte era feito em estágios, com intervalos de dois dias, sendo a carga de cada estágio aproximadamente igual ao dobro da carga do estágio anterior. Sobre a placa perfurada superior, era colocado um chumaço de algodão ou de estopa umedecido, para evitar o ressecamento da parte superior da amostra. A partir dos resultados de um ensaio de adensamento, realizado com uma amostra moldada no traço T20 e pré-adensada a 25 kPa, o coeficiente de adensamento estimado (média entre os valores obtidos pelos métodos de Casagrande e Taylor) foi de 1,40 x 10-8 m2/s. Este coeficiente de adensamento é bastante próximo do encontrado por Guimarães (2000) para misturas de 80% de caulim + 20% de bentonita, adensadas a 50 kPa (1,25 x 10-8 m2/s) Assim, buscando-se uma porcentagem de adensamento não inferior a 90%, e adotando-se um coeficiente de segurança, foi definido o tempo mínimo de 2 semanas entre o último estágio de carregamento e o final do processo de adensamento para os traços T0 e T5. Para o traço T20, o tempo mínimo foi de 3 semanas. Plano de corte 30 mm Palheta φ = 12,7 mm Diâmetro total da amostra ≅ 150 mm Figura 7. Posição dos ensaios de palheta miniatura. Os ensaios de palheta miniatura seguiram o roteiro descrito em Head (1982). A distância de 30 mm entre os eixos dos furos visa eliminar os possíveis efeitos de um ensaio sobre o outro. A profundidade da base da palheta em relação ao topo da amostra foi de 63,5 mm (5 vezes o diâmetro da palheta). Após zeradas as escalas angulares do equipamento e posicionada a palheta sobre o ponto do ensaio (Figuras 8a e 8b), a manivela superior do equipamento era girada, movendo o conjunto para baixo e fazendo a palheta penetrar lentamente na amostra até a profundidade desejada. Ensaios de Palheta Miniatura O equipamento para ensaio de palheta miniatura do Laboratório de Geotecnia da FURG é da marca Viatest®, operado manualmente (Figura 6). A palheta tem as dimensões de 12,7 mm de altura e 12,7 mm de largura. (a) (b) Figura 6. Equipamento para ensaio de palheta miniatura (“mini-vane”). Figura 8. Posição da amostra e do equipamento de ensaio na bancada de testes. Após o período de adensamento, os pesos e o papel-filtro superior eram retirados de sobre as O ensaio era realizado imprimindo-se rotação à palheta, através do giro da manivela 4 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. inferior, até que se verificasse a ruptura do solo através da constância do torque na mola. A velocidade de rotação da manivela, fixada em 1 giro por segundo, foi controlada através de cronômetro (Figura 9). Tmáx – torque máximo medido no ensaio = K φf K – constante de calibração da mola de torção φf – máximo ângulo de torção da mola (correspondente à ruptura do solo) D – diâmetro do círculo circunscrito à palheta H – altura da palheta Finalizado o ensaio, a palheta era lentamente retirada do solo, girando-se novamente a manivela superior do equipamento. A palheta era então retirada do equipamento para limpeza e recolocada, e o equipamento era reposicionado no próximo ponto de ensaio. Foram realizados 5 ensaios de palheta em cada uma das 9 amostras, e a resistência ao cisalhamento foi definida através da média aritmética dos 5 ensaios. Após os ensaios de palheta miniatura, a amostra era cuidadosamente extraída do molde de aço, com o auxílio de pequena pressão aplicada através da placa perfurada na superfície superior da amostra. O disco de papel-filtro inferior era retirado, e a amostra era repousada sobre uma placa de vidro lubrificada com vaselina, conforme mostra a Figura 11a. Após a extração, as amostras foram divididas em quatro fatias. Os planos de corte (Figura 7) passaram pelos 5 pontos de ensaio, permitindo a retirada de uma pequena porção de material na profundidade de penetração da palheta, para determinação da umidade. A Figura 11a ilustra a operação de corte da amostra com um arco dotado de corda de violão, e a Figura 11b mostra uma amostra já dividida em 4 fatias. A umidade do solo foi medida em cada um dos cinco pontos de ensaio, na profundidade de penetração da palheta. Figura 9. Realização do ensaio de palheta miniatura. A Figura 10 mostra o aspecto das escalas angulares do equipamento, logo após o final de um ensaio. A leitura do ponteiro na escala mais interna indica a rotação da mola, e por correlação, o torque; a leitura do ponteiro na escala mais externa indica a rotação da palheta. Figura 10. Vista superior das escalas angulares. Admitindo-se isotropia em relação à mobilização de resistência no solo, e uma distribuição uniforme de tensões ao redor da palheta, a resistência ao cisalhamento nãodrenada (su) é obtida a partir da Equação (1): su = Tmáx ⎛H D⎞ π ⋅ D2 ⋅ ⎜ + ⎟ ⎝2 6⎠ (a) (1) (b) Figura 11. Extração da amostra e divisão em 4 fatias. onde: 5 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. 60 Linha B 3 RESULTADOS 3.1 Ensaios de Caracterização Básica IP (%) 50 Linha A 40 T20 30 20 A Tabela 1 mostra os resultados dos ensaios para determinação do peso específico real dos grãos (γs), limite de liquidez (LL) e limite de plasticidade (LP), obtidos para os 3 traços utilizados na pesquisa. A tabela mostra ainda os valores de índice de plasticidade (IP), obtidos pela subtração entre os limites de liquidez e de plasticidade. 10 T5 T0 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 LL (%) Figura 12. Carta de Plasticidade de Casagrande. 3.2 Ensaios de Palheta Miniatura A Figura 13 resume os resultados obtidos nos ensaio de palheta miniatura, realizados em cada uma das 9 amostras de solo artificial. Tabela 1. Ensaios de caracterização básica dos solos artificiais. Traço LL LP IP γs (%) (%) (%) (kN/m3) T0 25,0 39 32 7 T5 24,9 48 35 13 T20 24,9 84 38 46 su (palheta) (kPa) 14,0 Os graus de saturação, calculados com os índices físicos médios das amostras, indicaram valores próximos a 100%, evidenciando a eficiência do processo de homogeneização das amostras no misturador. A Figura 12 mostra o traçado da Carta de Plasticidade de Casagrande, relacionando LL com IP. Os pontos que recaem abaixo da linha A são típicos de solos finos com predominância da fração silte; acima da linha A, solos com predominância da fração argila. Além disso, os pontos à esquerda da linha B são ditos de baixa e média plasticidade; à direita da linha B, solos de alta plasticidade e alta compressibilidade. Observa-se a grande influência do teor de bentonita na plasticidade das misturas. Com apenas 5% de bentonita, o IP praticamente dobrou em relação ao caulim puro; com 20% de bentonita, o IP aumentou mais de 6 vezes. O aumento no teor de bentonita torna o material muito mais plástico e compressível, o que permite antever uma diferença marcante no comportamento mecânico das misturas nos diferentes traços. 12,0 10,0 8,0 6,0 T0 4,0 T5 2,0 T20 0,0 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 Tensão de adensamento (kPa) Figura 13. Variação de su com a tensão de adensamento. O aspecto das curvas indica uma relação não-linear entre a resistência ao cisalhamento não-drenada su e a tensão de adensamento, pelo menos na faixa de tensões estudada. O aumento no teor de bentonita promoveu um crescimento na resistência ao cisalhamento do solo, para uma mesma tensão de adensamento. Na Figura 14 constam os resultados da razão de resistência (relação entre su e a tensão de adensamento) em função da tensão de adensamento. Observa-se nos 3 traços um crescimento da razão de resistência entre as tensões de 12,5 e 25 kPa, e um decréscimo entre as tensões de 25 e 50 kPa. O aumento no teor de bentonita promove um crescimento na razão de resistência, para uma mesma tensão de adensamento, em concordância com o comportamento observado para a resistência ao cisalhamento isoladamente. 6 su (palheta) / σ'v0 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. 0,45 0,40 0,35 entre os pontos obtidos com as amostras adensadas a 50 kPa e a correlação empírica de Skempton. Esta comparação, em conjunto com o aspecto dos gráficos das Figuras 13 e 14, sugere que as razões de resistência das amostras possam atingir valores mínimos, relativamente constantes, para tensões de adensamento superiores a 50 kPa. Esta hipotese, contudo, não pôde ser verificada experimentalmente, já que tensões de adensamento superiores a 50 kPa não foram testadas na presente pesquisa. Na Figura 16 estão representadas graficamente as relações entre resistência ao cisalhamento não-drenada su (em escala logarítmica) e a umidade medida na profundidade de realização do ensaio de palheta e logo após seu término, de acordo com o traço da mistura. Observa-se o aspecto nitidamente linear entre as duas grandezas medidas, um comportamento típico das argilas naturais normalmente adensadas (Hvorslev, 1960, Lambe e Whitman, 1969). T0 T5 T20 0,30 0,25 0,20 0,15 0,10 0,05 0,00 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 Tensão de adensamento (kPa) Figura 14. Variação da razão de resistência com a tensão de adensamento. Na Figura 15 estão desenhados os pontos representativos da razão de resistência versus índice de plasticidade. su (palheta) / σ'v0 0,50 T20-25 0,40 T20-15 su/σ'v0 = 0,004 IP + 0,16 0,30 T5-25 T0-25 T0-12,5 0,20 T5-50 T0-50 0,10 T20-50 T5-12,5 su/σ'v0 = 0,0037 IP + 0,11 (Skempton, 1957) 100 0 10 20 30 40 50 Umidade (%) 0,00 60 IP (%) Figura 15. Relações entre razão de resistência e IP. 90 T0 80 T5 70 T20 60 50 40 30 A linha contínua mais acima na Figura 15 representa o ajuste linear médio aos 9 pontos de ensaio realizados. Apesar da dispersão observada em relação à reta de ajuste médio, existe a clara tendência de crescimento da razão de resistência em função do aumento de IP. A dispersão é fruto da variação da razão de resistência em relação à tensão de adensamento, já mostrada na Figura 14. A linha contínua mais abaixo representa a correlação empírica obtida por Skempton (1957), relacionando a razão de resistência com o IP de diversas argilas naturais normalmente adensadas. Para obtenção desta correlação, foram utilizados resultados de ensaios de palheta de campo. As inclinações das duas retas são praticamente iguais, apenas a reta de ajuste a todos os pontos é deslocada para cima em relação à reta de correlação de Skempton. Observa-se ainda a excelente concordância 20 1,0 10,0 100,0 su (palheta) (kPa) Figura 16. Relação entre su e umidade das amostras. Em cada um dos três conjuntos de dados, o ponto de menor resistência ao cisalhamento, normalmente adensado a 12,5 kPa, apresenta umidade superior ao limite de liquidez encontrado para o traço correspondente. A consistência destas três amostras (T0-12,5, T512,5 e T20-12,5) tornaria impraticável a operação de confecção de amostras indeformadas, para a realização de outros tipos de ensaios (triaxial ou cisalhamemento direto). Ainda assim, a realização do ensaio de palheta miniatura foi possível, demonstrando a sua grande potencialidade e utilidade na caracterização de solos extremamente moles. 7 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. AGRADECIMENTOS 4 DISCUSSÃO E CONCLUSÕES À Fundação de Amparo á Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS), pelo apoio financeiro através da concessão de uma bolsa de iniciação científica à segunda autora. O projeto de pesquisa que deu origem a este trabalho visou investigar alguns aspectos do comportamento das argilas, utilizando para isto solos artificialmente preparados em laboratório. O presente artigo deu ênfase aos resultados de ensaio de palheta miniatura. Os valores dos índices físicos, medidos após o adensamento das amostras (umidade, peso específico natural e grau de saturação), e analisados à luz dos ensaios de caracterização básica (γs, LL, LP, IP), indicam que o processo de preparo e adensamento das amostras foi adequado. Ficou evidente o importante papel da mineralogia das argilas em seu comportamento geomecânico, uma vez que a adição de bentonita às amostras de caulim modificou sobremaneira seus índices físicos e sua plasticidade, bem como a sua capacidade de resistência ao cisalhamento. Os ensaios de palheta demonstram o aspecto não-linear da relação entre a resistência ao cisalhamento não-drenada su e a tensão de adensamento, pelo menos na faixa de tensões analisada. A razão de resistência teve uma tendência de crescimento inicial, entre as tensões de adensamento de 12,5 kPa e 25 kPa, e decrescimento entre 25 kPa e 50 kPa, comportamento observado nos três traços testados. O aumento no teor de bentonita promoveu um crescimento na resistência ao cisalhamento do solo. Observou-se uma excelente concordância entre as razões de resistência medidas nas amostras adensadas a 50 kPa, e a correlação empírica obtida por Skempton (1957), a partir de ensaios de palheta de campo em argilas normalmente adensadas. Demonstrou-se a grande utilidade do ensaio de palheta miniatura na determinação, em laboratório, da resistência ao cisalhamento nãodrenada de solos argilosos. O ensaio ganha importância especial na caracterização de solos extremamente moles, quando a moldagem de corpos de prova indeformados torna-se inviável. REFERÊNCIAS Dias, C.R.R. (1985). Resistência ao Cisalhamento NãoDrenada de Argilas, Seminário de Qualificação ao Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 62 p. Guimarães, P.F. (2000). Estudo da Influência de uma Parcela Viscosa na Resistência das Argilas Saturadas, Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Head, K.H. (1982). Manual of Soil Laboratory Testing, Vol. 2, Pentech Press, London, 440 p. Hvorslev, M.J. (1960). Physical Components of the Shear Strength of Saturated Clays”, Research Conference on Shear Strength of Cohesive Soils, ASCE, p. 169273. Lambe, T.H., Whitman, R.V. (1969). Soil Mechanics, John Wiley and Sons, New York, 553 p. NBR 6459 (1984). Solo – Determinação do Limite de Liquidez, Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 6 p. NBR 6508 (1984). Grãos de Solo que Passam na Peneira de 4,8 mm – Determinação da Massa Específica, Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 8 p. NBR 7180 (1984). Solo – Determinação do Limite de Plasticidade, Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 4 p. Pinto, C.S. (2002). Curso Básico de Mecânica dos Solos, 2ª. Edição, Oficina de Textos, São Paulo, 355 p. Schnaid, F. (2000). Ensaios de Campo e Suas Aplicações à Engenharia de Fundações, Oficina de Textos, São Paulo, 189 p. Skempton, A.W. (1957). Discussion on “Planning and Design of New Hong Kong Airport”, Proceedings of the Institution of Civil Engineers, Vol. 7, p. 305-307. 8