COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.
Resistência ao Cisalhamento de Misturas Caulim-Bentonita
Através de Ensaio de Palheta Miniatura
Antônio Marcos de Lima Alves
Escola de Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande, Brasil,
[email protected]
Suzi Cristina Kenne da Costa
Engenheira Civil, Dom Feliciano, Brasil, [email protected]
Cezar Augusto Burkert Bastos
Escola de Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande, Brasil,
[email protected]
RESUMO: Relatam-se no artigo resultados de um projeto de pesquisa que visou investigar alguns
aspectos do comportamento geotécnico de argilas confeccionadas artificialmente em laboratório,
através de misturas de caulim, bentonita e água destilada. Foram testados três traços para a mistura,
variando-se o teor de bentonita em 0%, 5% e 20%. Após a mistura, as amostras foram vertidas em
moldes cilíndricos e adensadas a tensões de 12,5 , 25 e 50 kPa. Após o tempo necessário para o
adensamento, as amostras foram submetidas a ensaios de palheta miniatura. Os resultados dos
ensaios de palheta demonstram o aspecto não-linear da relação entre a resistência ao cisalhamento
não-drenada su (e também entre a razão de resistência su/σ’vo) e a tensão de adensamento. Ficou
evidente o importante papel da mineralogia da argila no seu comportamento mecânico, uma vez que
a adição de bentonita às amostras de caulim afetou sobremaneira sua capacidade de resistência ao
cisalhamento. Demonstrou-se a grande utilidade do ensaio de palheta miniatura na determinação da
resistência ao cisalhamento não-drenada de solos argilosos, especialmente em solos extremamente
moles, onde a obtenção de corpos de prova indeformados para realização de outros tipos de ensaio
torna-se inviável.
PALAVRAS-CHAVE: Ensaio de Palheta Miniatura, Solos Artificiais, Resistência ao Cisalhamento.
1
INTRODUÇÃO
• Ensaios in-situ – ensaios de campo
realizados no local, sem a necessidade de
obtenção de amostras de solo. Alguns ensaios
permitem a obtenção direta ou indireta de su:
ensaio de palheta (“vane-test”), ensaio de
penetração de cone (CPT e CPTU), ensaio
pressiométrico (pressiômetro de Ménard) e
ensaio dilatométrico (dilatômetro de Marchetti)
(Schnaid, 2000).
A estimativa da resistência ao cisalhamento
não-drenada de solos argilosos – usualmente
representada pelo símbolo su – é de
fundamental importância para o projeto de
diversas obras geotécnicas, tais como aterros,
fundações superficiais e profundas, e análises
de estabilidade de taludes. É conhecido o
esforço da comunidade técnico-científica no
sentido de desenvolver técnicas experimentais
para a determinação do parâmetro su (Dias,
1985). Os métodos para determinação
experimental de su estão divididos basicamente
em dois grandes grupos:
• Ensaios de laboratório – ensaios realizados
em laboratório, com amostras indeformadas de
solo. Destacam-se: ensaios triaxiais e ensaio de
cisalhamento direto (Pinto, 2002). Outra
alternativa é o ensaio de palheta miniatura
(Head, 1982).
1
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.
com a NBR 6508, 1984), limite de liquidez
(NBR 6459, 1984) e limite de plasticidade
(NBR 7180, 1984).
Para confecção das amostras, primeiramente
a pré-mistura era selecionada através da peneira
de no 40 (abertura de 0,42 mm), visando
eliminar grumos e eventuais partículas de maior
tamanho. Cerca de 3 kg do material passante na
peneira no 40 eram então depositados no
recipiente de um misturador elétrico
(argamassadeira), juntamente com água
destilada. O volume do recipiente da
argamassadeira do Laboratório de Geotecnia da
FURG é da ordem de 6 litros (Figura 1).
Dentre os ensaios de laboratório, o de
palheta miniatura apresenta uma grande
vantagem: a possibilidade de realização do
ensaio dentro de tubos de amostragem. Esta
vantagem é particularmente importante no caso
de solos muito moles, quando a moldagem de
corpos de prova indeformados é praticamente
impossível.
Este artigo tem por objetivo o relato de
alguns dos resultados de um projeto de
pesquisa, conduzido no Laboratório de
Geotecnia da Universidade Federal do Rio
Grande (FURG), que visou investigar o
comportamento geotécnico de argilas artificiais,
confeccionadas em laboratório. A confecção se
deu através da mistura de caulim, bentonita e
água destilada em misturador elétrico. Após o
seu adensamento, as amostras foram submetidas
a vários ensaios, dentre eles o ensaio de palheta
miniatura, com o objetivo de medir sua
resistência ao cisalhamento.
2
METODOLOGIA
2.1 Confecção
Artificial
das
Amostras
de
Solo
Figura 1. Misturador elétrico (argamassadeira).
A quantidade de água destilada acrescentada
à pré-mistura conduziu a uma umidade de
moldagem cerca de duas vezes maior do que o
limite de liquidez para o traço T0, e uma vez e
meia o limite de liquidez das misturas nos
traços T5 e T20. O material era posto para bater
durante quatro períodos de 30 minutos cada,
buscando-se a melhor homogeneização possível
do material, bem como a sua completa
saturação.
O molde utilizado para confecção das
amostras é o mesmo utilizado em ensaios
tradicionais de compactação e CBR. É
constituído por um tubo cilíndrico de aço, com
diâmetro em torno de 15 cm e altura em torno
de 17 cm. O tubo pode ser prolongado através
de um colarinho, com altura em torno de 8 cm.
Completou o conjunto uma placa circular
perfurada, dotada de haste vertical, com
diâmetro ligeiramente menor que o tubo, que é
colocado no topo da amostra. A Figura 2 mostra
o conjunto desmontado.
Os solos utilizados na pesquisa foram
produzidos artificialmente em laboratório,
confeccionados a partir da mistura de caulim,
bentonita e água destilada. O caulim utilizado,
de cor creme, é da marca Raabelim, produzido
pela empresa Raabe Calcários, da cidade de
Pantano Grande (RS). A bentonita utilizada é
cálcica, de coloração bege escuro, produzida na
região de Mendoza (Argentina).
Foram definidos três traços para as misturas
caulim + bentonita: 100% caulim (T0), 95%
caulim + 5% bentonita (T5) e 80% caulim +
20% bentonita (T20). A pré-mistura dos
materiais era realizada a seco, manualmente, em
uma bacia, até que se atingisse o maior grau de
homogeneidade possível. A proporção de cada
material foi medida em peso, desprezando-se as
umidades
higroscópicas.
Quantidades
padronizadas dos três traços foram submetidas a
ensaios de caracterização simples: determinação
do peso específico real dos grãos (de acordo
2
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.
instalar a placa circular perfurada, dotada de um
disco de papel-filtro umedecido, na parte
superior da amostra (Figura 4).
Cilindro de aço
Papel
filtro
Colarinho
Placa
perfurada
Base
perfurada
Figura 2. Molde utilizado para confecção das amostras.
Figura 4. Instalação da placa perfurada superior, munida
de papel-filtro.
As paredes internas do molde, depois de
limpas, eram lubrificadas com vaselina para
minimizar o atrito com o solo. O cilindro era
então fixado à base, e tinha seu diâmetro e
altura internos medidos. O conjunto cilindro +
base tinha ainda seu peso próprio medido, para
posterior desconto no cálculo do peso
específico do solo já adensado. Um filtro de
papel circular, pré-umedecido, era colocado
sobre a base perfurada para facilitar a saída de
água do corpo de prova durante o processo de
adensamento.
Após duas horas de homogeneização no
misturador, o material, com consistência
bastante mole, era vertido dentro do molde
cilíndrico (Figura 3a). A Figura 3b mostra o
aspecto final do material já contido pelo molde
cilíndrico. Uma pequena porção da mistura era
utilizada para verificação da umidade de
moldagem.
As amostras eram então submetidas a
carregamento vertical, visando o seu
adensamento. Foram definidas 3 tensões de
adensamento para as amostras: 12,5 kPa, 25
kPa e 50 kPa. Assim, a combinação de 3 traços
(T0, T5 e T20) com 3 tensões de adensamento
conduziu ao total de 9 amostras de solo
artificial moldadas e ensaiadas durante a
pesquisa, que foram chamadas genericamente
de TX-Y (onde X é o percentual de bentonita e
Y é a tensão de adensamento em kPa). Observase que a amostra T20-12,5 sofreu uma
sobrecarga acidental estimada em 4,5 kg
durante os últimos dias de adensamento, o que
elevou a tensão de adensamento para 15 kPa.
O carregamento era realizado através da
colocação de discos sobre o topo da amostra,
cuidadosamente centralizados (Figuras 5a e 5b).
(a)
(a)
(b)
(b)
Figura 5. Amostras sendo adensadas com aplicação de
pesos.
Figura 3. Material misturado sendo vertido dentro do
molde.
O peso da placa perfurada superior
contribuiu na carga aplicada. O carregamento
A fase final de moldagem consistia em
3
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.
amostras, e então era iniciada a fase de ensaios.
A Figura 7 ilustra a posição dos pontos de
ensaio em relação à área total da amostra.
2.2
Plano de corte
era feito em estágios, com intervalos de dois
dias, sendo a carga de cada estágio
aproximadamente igual ao dobro da carga do
estágio anterior. Sobre a placa perfurada
superior, era colocado um chumaço de algodão
ou de estopa umedecido, para evitar o
ressecamento da parte superior da amostra.
A partir dos resultados de um ensaio de
adensamento, realizado com uma amostra
moldada no traço T20 e pré-adensada a 25 kPa,
o coeficiente de adensamento estimado (média
entre os valores obtidos pelos métodos de
Casagrande e Taylor) foi de 1,40 x 10-8 m2/s.
Este coeficiente de adensamento é bastante
próximo do encontrado por Guimarães (2000)
para misturas de 80% de caulim + 20% de
bentonita, adensadas a 50 kPa (1,25 x 10-8 m2/s)
Assim, buscando-se uma porcentagem de
adensamento não inferior a 90%, e adotando-se
um coeficiente de segurança, foi definido o
tempo mínimo de 2 semanas entre o último
estágio de carregamento e o final do processo
de adensamento para os traços T0 e T5. Para o
traço T20, o tempo mínimo foi de 3 semanas.
Plano de corte
30 mm
Palheta
φ = 12,7 mm
Diâmetro total da amostra ≅ 150 mm
Figura 7. Posição dos ensaios de palheta miniatura.
Os ensaios de palheta miniatura seguiram o
roteiro descrito em Head (1982). A distância de
30 mm entre os eixos dos furos visa eliminar os
possíveis efeitos de um ensaio sobre o outro. A
profundidade da base da palheta em relação ao
topo da amostra foi de 63,5 mm (5 vezes o
diâmetro da palheta).
Após zeradas as escalas angulares do
equipamento e posicionada a palheta sobre o
ponto do ensaio (Figuras 8a e 8b), a manivela
superior do equipamento era girada, movendo o
conjunto para baixo e fazendo a palheta
penetrar lentamente na amostra até a
profundidade desejada.
Ensaios de Palheta Miniatura
O equipamento para ensaio de palheta miniatura
do Laboratório de Geotecnia da FURG é da
marca Viatest®, operado manualmente (Figura
6). A palheta tem as dimensões de 12,7 mm de
altura e 12,7 mm de largura.
(a)
(b)
Figura 6. Equipamento para ensaio de palheta miniatura
(“mini-vane”).
Figura 8. Posição da amostra e do equipamento de ensaio
na bancada de testes.
Após o período de adensamento, os pesos e o
papel-filtro superior eram retirados de sobre as
O ensaio era realizado imprimindo-se
rotação à palheta, através do giro da manivela
4
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.
inferior, até que se verificasse a ruptura do solo
através da constância do torque na mola. A
velocidade de rotação da manivela, fixada em 1
giro por segundo, foi controlada através de
cronômetro (Figura 9).
Tmáx – torque máximo medido no ensaio = K φf
K – constante de calibração da mola de torção
φf – máximo ângulo de torção da mola
(correspondente à ruptura do solo)
D – diâmetro do círculo circunscrito à palheta
H – altura da palheta
Finalizado o ensaio, a palheta era lentamente
retirada do solo, girando-se novamente a
manivela superior do equipamento. A palheta
era então retirada do equipamento para limpeza
e recolocada, e o equipamento era
reposicionado no próximo ponto de ensaio.
Foram realizados 5 ensaios de palheta em cada
uma das 9 amostras, e a resistência ao
cisalhamento foi definida através da média
aritmética dos 5 ensaios.
Após os ensaios de palheta miniatura, a
amostra era cuidadosamente extraída do molde
de aço, com o auxílio de pequena pressão
aplicada através da placa perfurada na
superfície superior da amostra. O disco de
papel-filtro inferior era retirado, e a amostra era
repousada sobre uma placa de vidro lubrificada
com vaselina, conforme mostra a Figura 11a.
Após a extração, as amostras foram divididas
em quatro fatias. Os planos de corte (Figura 7)
passaram pelos 5 pontos de ensaio, permitindo a
retirada de uma pequena porção de material na
profundidade de penetração da palheta, para
determinação da umidade. A Figura 11a ilustra
a operação de corte da amostra com um arco
dotado de corda de violão, e a Figura 11b
mostra uma amostra já dividida em 4 fatias. A
umidade do solo foi medida em cada um dos
cinco pontos de ensaio, na profundidade de
penetração da palheta.
Figura 9. Realização do ensaio de palheta miniatura.
A Figura 10 mostra o aspecto das escalas
angulares do equipamento, logo após o final de
um ensaio. A leitura do ponteiro na escala mais
interna indica a rotação da mola, e por
correlação, o torque; a leitura do ponteiro na
escala mais externa indica a rotação da palheta.
Figura 10. Vista superior das escalas angulares.
Admitindo-se isotropia em relação à
mobilização de resistência no solo, e uma
distribuição uniforme de tensões ao redor da
palheta, a resistência ao cisalhamento nãodrenada (su) é obtida a partir da Equação (1):
su =
Tmáx
⎛H D⎞
π ⋅ D2 ⋅ ⎜ + ⎟
⎝2 6⎠
(a)
(1)
(b)
Figura 11. Extração da amostra e divisão em 4 fatias.
onde:
5
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.
60
Linha B
3
RESULTADOS
3.1
Ensaios de Caracterização Básica
IP (%)
50
Linha A
40
T20
30
20
A Tabela 1 mostra os resultados dos ensaios
para determinação do peso específico real dos
grãos (γs), limite de liquidez (LL) e limite de
plasticidade (LP), obtidos para os 3 traços
utilizados na pesquisa. A tabela mostra ainda os
valores de índice de plasticidade (IP), obtidos
pela subtração entre os limites de liquidez e de
plasticidade.
10
T5
T0
0
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
LL (%)
Figura 12. Carta de Plasticidade de Casagrande.
3.2
Ensaios de Palheta Miniatura
A Figura 13 resume os resultados obtidos nos
ensaio de palheta miniatura, realizados em cada
uma das 9 amostras de solo artificial.
Tabela 1. Ensaios de caracterização básica dos solos
artificiais.
Traço
LL
LP
IP
γs
(%)
(%)
(%)
(kN/m3)
T0
25,0
39
32
7
T5
24,9
48
35
13
T20
24,9
84
38
46
su (palheta) (kPa)
14,0
Os graus de saturação, calculados com os
índices físicos médios das amostras, indicaram
valores próximos a 100%, evidenciando a
eficiência do processo de homogeneização das
amostras no misturador.
A Figura 12 mostra o traçado da Carta de
Plasticidade de Casagrande, relacionando LL
com IP. Os pontos que recaem abaixo da linha
A são típicos de solos finos com predominância
da fração silte; acima da linha A, solos com
predominância da fração argila. Além disso, os
pontos à esquerda da linha B são ditos de baixa
e média plasticidade; à direita da linha B, solos
de alta plasticidade e alta compressibilidade.
Observa-se a grande influência do teor de
bentonita na plasticidade das misturas. Com
apenas 5% de bentonita, o IP praticamente
dobrou em relação ao caulim puro; com 20% de
bentonita, o IP aumentou mais de 6 vezes. O
aumento no teor de bentonita torna o material
muito mais plástico e compressível, o que
permite antever uma diferença marcante no
comportamento mecânico das misturas nos
diferentes traços.
12,0
10,0
8,0
6,0
T0
4,0
T5
2,0
T20
0,0
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
Tensão de adensamento (kPa)
Figura 13. Variação de su com a tensão de adensamento.
O aspecto das curvas indica uma relação
não-linear entre a resistência ao cisalhamento
não-drenada su e a tensão de adensamento, pelo
menos na faixa de tensões estudada. O aumento
no teor de bentonita promoveu um crescimento
na resistência ao cisalhamento do solo, para
uma mesma tensão de adensamento.
Na Figura 14 constam os resultados da razão
de resistência (relação entre su e a tensão de
adensamento) em função da tensão de
adensamento. Observa-se nos 3 traços um
crescimento da razão de resistência entre as
tensões de 12,5 e 25 kPa, e um decréscimo
entre as tensões de 25 e 50 kPa. O aumento no
teor de bentonita promove um crescimento na
razão de resistência, para uma mesma tensão de
adensamento, em concordância com o
comportamento observado para a resistência ao
cisalhamento isoladamente.
6
su (palheta) / σ'v0
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.
0,45
0,40
0,35
entre os pontos obtidos com as amostras
adensadas a 50 kPa e a correlação empírica de
Skempton. Esta comparação, em conjunto com
o aspecto dos gráficos das Figuras 13 e 14,
sugere que as razões de resistência das amostras
possam atingir valores mínimos, relativamente
constantes, para tensões de adensamento
superiores a 50 kPa. Esta hipotese, contudo, não
pôde ser verificada experimentalmente, já que
tensões de adensamento superiores a 50 kPa
não foram testadas na presente pesquisa.
Na Figura 16 estão representadas
graficamente as relações entre resistência ao
cisalhamento não-drenada su (em escala
logarítmica) e a umidade medida na
profundidade de realização do ensaio de palheta
e logo após seu término, de acordo com o traço
da mistura. Observa-se o aspecto nitidamente
linear entre as duas grandezas medidas, um
comportamento típico das argilas naturais
normalmente adensadas (Hvorslev, 1960,
Lambe e Whitman, 1969).
T0
T5
T20
0,30
0,25
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
Tensão de adensamento (kPa)
Figura 14. Variação da razão de resistência com a tensão
de adensamento.
Na Figura 15 estão desenhados os pontos
representativos da razão de resistência versus
índice de plasticidade.
su (palheta) / σ'v0
0,50
T20-25
0,40
T20-15
su/σ'v0 = 0,004 IP + 0,16
0,30
T5-25
T0-25
T0-12,5
0,20
T5-50
T0-50
0,10
T20-50
T5-12,5
su/σ'v0 = 0,0037 IP + 0,11
(Skempton, 1957)
100
0
10
20
30
40
50
Umidade (%)
0,00
60
IP (%)
Figura 15. Relações entre razão de resistência e IP.
90
T0
80
T5
70
T20
60
50
40
30
A linha contínua mais acima na Figura 15
representa o ajuste linear médio aos 9 pontos de
ensaio realizados. Apesar da dispersão
observada em relação à reta de ajuste médio,
existe a clara tendência de crescimento da razão
de resistência em função do aumento de IP. A
dispersão é fruto da variação da razão de
resistência em relação à tensão de adensamento,
já mostrada na Figura 14.
A linha contínua mais abaixo representa a
correlação empírica obtida por Skempton
(1957), relacionando a razão de resistência com
o IP de diversas argilas naturais normalmente
adensadas. Para obtenção desta correlação,
foram utilizados resultados de ensaios de
palheta de campo. As inclinações das duas retas
são praticamente iguais, apenas a reta de ajuste
a todos os pontos é deslocada para cima em
relação à reta de correlação de Skempton.
Observa-se ainda a excelente concordância
20
1,0
10,0
100,0
su (palheta) (kPa)
Figura 16. Relação entre su e umidade das amostras.
Em cada um dos três conjuntos de dados, o
ponto de menor resistência ao cisalhamento,
normalmente adensado a 12,5 kPa, apresenta
umidade superior ao limite de liquidez
encontrado para o traço correspondente. A
consistência destas três amostras (T0-12,5, T512,5 e T20-12,5) tornaria impraticável a
operação
de
confecção
de
amostras
indeformadas, para a realização de outros tipos
de ensaios (triaxial ou cisalhamemento direto).
Ainda assim, a realização do ensaio de palheta
miniatura foi possível, demonstrando a sua
grande potencialidade e utilidade na
caracterização de solos extremamente moles.
7
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.
AGRADECIMENTOS
4 DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
À Fundação de Amparo á Pesquisa do Estado
do Rio Grande do Sul (FAPERGS), pelo apoio
financeiro através da concessão de uma bolsa
de iniciação científica à segunda autora.
O projeto de pesquisa que deu origem a este
trabalho visou investigar alguns aspectos do
comportamento das argilas, utilizando para isto
solos artificialmente preparados em laboratório.
O presente artigo deu ênfase aos resultados de
ensaio de palheta miniatura.
Os valores dos índices físicos, medidos após
o adensamento das amostras (umidade, peso
específico natural e grau de saturação), e
analisados à luz dos ensaios de caracterização
básica (γs, LL, LP, IP), indicam que o processo
de preparo e adensamento das amostras foi
adequado.
Ficou evidente o importante papel da
mineralogia das argilas em seu comportamento
geomecânico, uma vez que a adição de
bentonita às amostras de caulim modificou
sobremaneira seus índices físicos e sua
plasticidade, bem como a sua capacidade de
resistência ao cisalhamento.
Os ensaios de palheta demonstram o aspecto
não-linear da relação entre a resistência ao
cisalhamento não-drenada su e a tensão de
adensamento, pelo menos na faixa de tensões
analisada. A razão de resistência teve uma
tendência de crescimento inicial, entre as
tensões de adensamento de 12,5 kPa e 25 kPa, e
decrescimento entre 25 kPa e 50 kPa,
comportamento observado nos três traços
testados. O aumento no teor de bentonita
promoveu um crescimento na resistência ao
cisalhamento do solo.
Observou-se uma excelente concordância
entre as razões de resistência medidas nas
amostras adensadas a 50 kPa, e a correlação
empírica obtida por Skempton (1957), a partir
de ensaios de palheta de campo em argilas
normalmente adensadas.
Demonstrou-se a grande utilidade do ensaio
de palheta miniatura na determinação, em
laboratório, da resistência ao cisalhamento nãodrenada de solos argilosos. O ensaio ganha
importância especial na caracterização de solos
extremamente moles, quando a moldagem de
corpos de prova indeformados torna-se inviável.
REFERÊNCIAS
Dias, C.R.R. (1985). Resistência ao Cisalhamento NãoDrenada de Argilas, Seminário de Qualificação ao
Doutorado, Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, 62 p.
Guimarães, P.F. (2000). Estudo da Influência de uma
Parcela Viscosa na Resistência das Argilas
Saturadas, Dissertação de Mestrado, Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
Head, K.H. (1982). Manual of Soil Laboratory Testing,
Vol. 2, Pentech Press, London, 440 p.
Hvorslev, M.J. (1960). Physical Components of the Shear
Strength of Saturated Clays”, Research Conference
on Shear Strength of Cohesive Soils, ASCE, p. 169273.
Lambe, T.H., Whitman, R.V. (1969). Soil Mechanics,
John Wiley and Sons, New York, 553 p.
NBR 6459 (1984). Solo – Determinação do Limite de
Liquidez, Associação Brasileira de Normas Técnicas,
Rio de Janeiro, 6 p.
NBR 6508 (1984). Grãos de Solo que Passam na
Peneira de 4,8 mm – Determinação da Massa
Específica, Associação Brasileira de Normas
Técnicas, Rio de Janeiro, 8 p.
NBR 7180 (1984). Solo – Determinação do Limite de
Plasticidade, Associação Brasileira de Normas
Técnicas, Rio de Janeiro, 4 p.
Pinto, C.S. (2002). Curso Básico de Mecânica dos Solos,
2ª. Edição, Oficina de Textos, São Paulo, 355 p.
Schnaid, F. (2000). Ensaios de Campo e Suas Aplicações
à Engenharia de Fundações, Oficina de Textos, São
Paulo, 189 p.
Skempton, A.W. (1957). Discussion on “Planning and
Design of New Hong Kong Airport”, Proceedings of
the Institution of Civil Engineers, Vol. 7, p. 305-307.
8
Download

resistência ao cisalhamento de misturas caulim