cinema A invenção de hugo
Viagem através do (im)possível*
Por Cesarina Sousa, Ilustrações Magda Pedrosa
No filme A Invenção de Hugo um pequeno relojoeiro, empenhado em
consertar um autómato deixado pelo seu pai, transporta-nos até ao
cinema fantástico de Georges Méliès, um mundo onde os sonhos se
tornam realidade.
© Paramont Pictures
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O que é que relógios, autómatos, brinquedos, ilusionismo e cinema
poderão ter em comum? À partida parece que nada, mas na galardoada
longa‑metragem A Invenção de Hugo, de Martin Scorsese, estes elementos
unem‑se para nos transportar para um mundo de sonho que, afinal, está bem
próximo da nossa realidade histórica.
Hugo, um pequeno relojoeiro que, depois de perder o seu pai, passa a viver
escondido numa estação de comboios, anseia consertar um autómato de
caraterísticas muito especiais. Para o fazer, precisa de peças mecânicas e
de uma chave em forma de coração. É com este objetivo que o jovem se vê
envolvido numa fantástica aventura pelos primórdios do cinema e conhece
Georges Méliès, reconhecido como ilustre realizador de filmes mudos e
precursor dos efeitos especiais na sétima arte.
No que diz respeito ao filme em si, podemos, sem dúvida, afirmar que é
uma homenagem fascinante. Georges Méliès existiu mesmo, embora durante
muito tempo tenha caído no esquecimento. Mas para aqui interessa‑nos
a componente de relojoaria e o retrato tão verdadeiro que é feito dos
relojoeiros que, por serem peritos em mecanismos e engrenagens, também
reparavam e construíam autómatos, entre muitos outros engenhos. Da
relojoaria ao ilusionismo a distância acabava, assim, por não ser muita. Nos
finais do século XIX, inícios do século XX, os autómatos e androides, como
máquinas que reproduziam movimentos automaticamente, encantaram
e surpreenderam pela sua aproximação à realidade, tornando-se mesmo
elementos cruciais para tornar mais realistas os truques de ilusionismo e de
prestidigitação. A este propósito, lembramos Robert Houdin (não confundir
com Houdini que viveu posteriormente), um relojoeiro francês que se tornou
ilusionista e que é hoje considerado por muitos como o pai do ilusionismo
moderno. O seu autómato em forma de árvore, capaz de num ápice fazer
nascer laranjas, tornou-se conhecido no mundo inteiro. Curiosamente,
Georges Méliès, que também foi prestidigitador antes de se dedicar ao
cinema, comprou o famoso teatro de Robert-Houdin e fez dele o seu estúdio
de realização. No filme de Scorsese, o autómato de Hugo é a ‘chave’ da
ligação a Georges Méliès.
*Título alusivo ao filme Le voyage à travers l’impossible (1904) de George Méliès.
Para saber mais:
www.europafilmtreasures.eu/
www.imdb.pt/title/tt0970179/
www.hugomovie.com/
www.maisondelamagie.fr/
«Alguma vez pensaste
de onde vêm os teus sonhos?
Olha à tua volta...
Aqui é onde são feitos»
Ben Kingsley
No papel de Georges Meliès
no filme A Invenção de Hugo
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