cinema A invenção de hugo Viagem através do (im)possível* Por Cesarina Sousa, Ilustrações Magda Pedrosa No filme A Invenção de Hugo um pequeno relojoeiro, empenhado em consertar um autómato deixado pelo seu pai, transporta-nos até ao cinema fantástico de Georges Méliès, um mundo onde os sonhos se tornam realidade. © Paramont Pictures 84 O que é que relógios, autómatos, brinquedos, ilusionismo e cinema poderão ter em comum? À partida parece que nada, mas na galardoada longa‑metragem A Invenção de Hugo, de Martin Scorsese, estes elementos unem‑se para nos transportar para um mundo de sonho que, afinal, está bem próximo da nossa realidade histórica. Hugo, um pequeno relojoeiro que, depois de perder o seu pai, passa a viver escondido numa estação de comboios, anseia consertar um autómato de caraterísticas muito especiais. Para o fazer, precisa de peças mecânicas e de uma chave em forma de coração. É com este objetivo que o jovem se vê envolvido numa fantástica aventura pelos primórdios do cinema e conhece Georges Méliès, reconhecido como ilustre realizador de filmes mudos e precursor dos efeitos especiais na sétima arte. No que diz respeito ao filme em si, podemos, sem dúvida, afirmar que é uma homenagem fascinante. Georges Méliès existiu mesmo, embora durante muito tempo tenha caído no esquecimento. Mas para aqui interessa‑nos a componente de relojoaria e o retrato tão verdadeiro que é feito dos relojoeiros que, por serem peritos em mecanismos e engrenagens, também reparavam e construíam autómatos, entre muitos outros engenhos. Da relojoaria ao ilusionismo a distância acabava, assim, por não ser muita. Nos finais do século XIX, inícios do século XX, os autómatos e androides, como máquinas que reproduziam movimentos automaticamente, encantaram e surpreenderam pela sua aproximação à realidade, tornando-se mesmo elementos cruciais para tornar mais realistas os truques de ilusionismo e de prestidigitação. A este propósito, lembramos Robert Houdin (não confundir com Houdini que viveu posteriormente), um relojoeiro francês que se tornou ilusionista e que é hoje considerado por muitos como o pai do ilusionismo moderno. O seu autómato em forma de árvore, capaz de num ápice fazer nascer laranjas, tornou-se conhecido no mundo inteiro. Curiosamente, Georges Méliès, que também foi prestidigitador antes de se dedicar ao cinema, comprou o famoso teatro de Robert-Houdin e fez dele o seu estúdio de realização. No filme de Scorsese, o autómato de Hugo é a ‘chave’ da ligação a Georges Méliès. *Título alusivo ao filme Le voyage à travers l’impossible (1904) de George Méliès. Para saber mais: www.europafilmtreasures.eu/ www.imdb.pt/title/tt0970179/ www.hugomovie.com/ www.maisondelamagie.fr/ «Alguma vez pensaste de onde vêm os teus sonhos? Olha à tua volta... Aqui é onde são feitos» Ben Kingsley No papel de Georges Meliès no filme A Invenção de Hugo