SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA E A EUCARISTIA E Jesus replicou: “Eu sou o pão da vida: aquele que vem a mim não terá fome, e aquele que crê em mim jamais terá sede 1”. Jesus Cristo apresentava-se como o verdadeiro alimento, não simplesmente como um alimento físico que mata a fome do corpo, mas como um alimento verdadeiro que sacia e mata a fome da alma e do espírito. E, também acrescenta: “Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo 2” Jesus sabia que seria entregue a morte e que daria a sua carne para a salvação do mundo, principalmente aqueles que crêem nele como alimento verdadeiro. Um alimento que confere e dá sentido à vida daqueles e daquelas que acreditam em sua proposta de vida, pois a sua proposta, confere a própria vida àqueles e àquelas que crêem: “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos 3”. Essa vida que Jesus nos confere não é uma vida qualquer, mas sim, uma vida que possui um objetivo eterno. Uma vida que liganos do mundo imanente ao mundo transcendente4, fazendo com que o transcendental aconteça no aqui e agora das nossas existências e transformando já essa vida na vida eterna. “Quem come a minha 1 Cf Jo 6,35 Cf Jo 6,51 3 Cf Jo 6,53 4 Imanente: Que está compreendido na própria essência do todo. Transcendente: Que transcende; muito elevado, superior. Metafísico. Que transcende do sujeito para alguma coisa fora dele. 2 carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia 5”. Assim sendo, a ressurreição e o Reino de Deus já acontecem em nosso meio. Uma ressurreição que vivemos à cada instante de nossas vidas, morrendo para aquilo que não nos humaniza e santifica, para viver aquilo que nos confere a vida eterna, que é a prática da Justiça, do Amor e da Caridade, como proposta do Reino e da prática de uma nova economia que nos faz viver já aqui, o “céu”. Também na santa ceia, na ceia Pascal, Jesus reafirma a entrega do seu Corpo e do seu Sangue: “Durante a refeição, Jesus tomou o pão e, tendo-o abençoado, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai e comei, isto é meu corpo. Tomou depois o cálice, rendeu graças e deu-lho, dizendo: Bebei dele todos, porque isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados 6”. Jesus Cristo não disse: Isso representa o meu Corpo, Isso representa o meu Sangue, mas ele disse: “Isto é o Meu Corpo, Isto é o meu Sangue”. E reafirmou que se fizesse em comunidade em sua memória. Assim sendo, indiretamente nos diz que é necessário haver a Comunhão e a Participação, com Ele e com os irmãos, e participação juntamente n´Ele no Santíssimo Sacramento do Altar. E ainda mais. Nos confere a possibilidade de todos os homens e mulheres, de todas as línguas, raças e nações celebrarem essa unidade através da Eucaristia. E é justamente isso que nosso 5 6 Cf. Jo 6,54 Cf. Mt 26, 26-28 SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA E A EUCARISTIA patrono Santo Inácio de Antioquia vai afirmar como Bispo Apostólico que era. Podemos notar na correspondência de Sto. Inácio de Antioquia, a qual faz um apelo à união fraterna e à união com Deus, e esta união, encontra a sua expressão perfeita na Eucaristia, como nos escreve na carta aos Efésios: “Cuidai, pois, de reunir-vos com mais freqüência, para dar a Deus ação de graças e louvor. Pois, quando vos reunis com freqüência, abatem-se as forças de Satanás e desfaz-se o malefício, pela vossa união na fé7”. Portanto, a participação na Eucaristia é tão necessária, que só ela decide se alguém é cristão ou não é, uma vez que ela só pode ser celebrada dentro da Igreja, será um convite contínuo para não se criar cismas, com simulação de celebrações: “Não se iluda ninguém. Se não se encontrar no interior do recinto do altar, ver-se-á privado do pão de Deus 8”. Santo Inácio de Antioquia nos propõe que a Eucaristia seja penhor de perseverança e renovação, já que Cristo, é sempre novo e o novo como nos diz: “Sendo imitadores de Deus, reanimados no sangue de Deus, levastes a termo a obra que vos é congênita9”. Uma vez que nós, cristãos, já nascemos a partir da entrega, da partilha, da comunhão e participação, Inácio de Antioquia sintetiza toda a aspiração humana que é de viver e sobreviver, tendo um sentido maior: “partindo um mesmo pão, que é o remédio da imortalidade, antídoto contra a morte, mas vida em Jesus Cristo para sempre 10”. A busca pela satisfação momentânea e o prazer, já existiam na época de Santo Inácio de Antioquia, haja vista o estilo de vida que havia em Roma e Antioquia. Porém, Inácio de Antioquia nos revela o verdadeiro sentido e satisfação que a vida terá e deve ter a partir daquilo que é perene e não passageiro; daquilo que é transcendente e não efêmero e transitório como ele mesmo diz: “Não me agradam comida passageira, nem prazeres desta vida. Quero pão de Deus que é carne de Jesus Cristo, da descendência de Davi, e como bebida quero o sangue d’Ele, que é Amor incorruptível 11”. Com isso, Sto. Inácio de Antioquia se torna tão atual quanto possível; já que Jesus é sempre novo e é o novo. Então, nos atualiza este novo sentido de buscar a Jesus numa sociedade consumista e utilitarista, a qual vivemos. Onde se coisifica até mesmo o próprio ser humano, destituindo-o de sua dignidade humana. Santo Inácio de Antioquia justamente vem nos alertar a respeito desse perigo, nos mostrando que temos que nos configurar, seguir, comungar e partilhar aquele que confere um sentido maior à existência do ser humano. Dessa forma, a Eucaristia continuará a ser por todos os séculos, a marca mais profunda da Unidade e da Ortodoxia. Daí o apelo do bispo-mártir: “Correi todos juntos ao único templo de Deus, ao único altar, ao único Jesus Cristo, que procede do único Pai, que está com Ele e a Ele retornou · 12” . 7 10 8 11 Efe 13,1 Efe 5,2 9 Efe 1,1 Efe 20,2 Rom 7,3 12 Mag. 7,2 SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA E A EUCARISTIA Que a exemplo de Jesus Cristo através de seus verdadeiros seguidores, como Santo Inácio de Antioquia, busquemos razões para que nosso mundo seja melhor através do resgate da dignidade do ser humano, fazendo assim, Comunhão e Participação com todos os Homens da face da Terra, e que o Reino de Deus sempre prevaleça em detrimento de tudo aquilo que possa ser contrário. Louvores a Trindade Santa e ao Rei da Glória JESUS CRISTO. 01/09/2006 Sérgio Luís Corradini Noviciado Inaciano