2075 X Salão de Iniciação Científica PUCRS Conselhos gestores de Políticas Públicas em Saúde: Um instrumento de democracia? Estéfani Sandmann de Deus1,Victoria Figueira da Silva1, Gabriela de Abreu Oliveira1, Aragon Erico Dasso Junior1 (orientador) 1 Faculdade de Administração, foco: Sistemas e Serviços de Saúde,UERGS Resumo Introdução O conceito atual de democracia é principalmente associado ao direito de votar. O que é totalmente aceitável, uma vez que a principal característica da Teoria Hegemônica é a democracia por representação. Modelo este sustentado por teóricos como, Sartori (1994), Schumpeter (1961), Dahl (2005) e Bobbio (1986). Todavia, este modelo de teoria afasta-se cada vez mais do ideal de democracia grega que é defendido pela Teoria Contra-hegemônica, onde democracia significa literalmente o “povo no poder” e o voto é apenas um instrumento, a própria representação é um instrumento. Os teóricos que defendem este modelo, como Wood (2003) e Coutinho (1980), criticam a teoria atual por entenderem que de fato, os países ditos democráticos estão cada vez mais afastados da idéia de povo no poder. Além disso, alguns teóricos que defendem o conceito de democracia associada ao socialismo são mais radicais e defendem uma ruptura total com o sistema capitalista e neoliberal atual. Na atualidade, com base nestes autores, conclui-se que nenhuma nação é democrática, porque mesmo onde o capitalismo e a livre concorrência de mercado não estejam presentes, o socialismo – travestido de autoritarismo, logo, não é um socialismo verdadeiro, – que existe também não configura como democracia. Alguns teóricos – chamados de autores de transição – apontam sugestões para não romper totalmente com o modelo hegemônico e nem precisar instaurar o socialismo como forma de governo. Santos & Avritzer (2003) propõem como instrumentos de participação o orçamento participativo (o que já acontece aqui em Porto Alegre), os conselhos (e aqui X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 2076 abordaremos com ênfase especial na saúde), pois acreditam que estes podem aumentar a participação cidadã e o controle social. Controle social aqui neste artigo é entendido como a forma da sociedade interferir, controlar e fiscalizar as ações do governo. Um controle social efetivo faz parte de uma democracia real. Neste sentido a saúde no Brasil tem os Conselhos de Saúde no âmbito Nacional, Estadual e Municipal, como um diferencial no aumento do envolvimento da sociedade no controle das políticas públicas de saúde. O objetivo deste trabalho é buscar junto à sociedade porto-alegrense o que eles entendem por democracia e se possuem conhecimento sobre controle social na área da saúde. Serão feitas entrevistas no Parque Farroupilha, que está localizado em Porto Alegre, capital do Estado do Rio Grande do Sul. O parque, que é conhecido também como "Redenção", fica bem próximo ao centro da cidade, entre os bairros Bom Fim e Cidade Baixa, no polígono formado pelas avenidas José Bonifácio, João Pessoa, Eng. Luiz Englert, Setembrina e Osvaldo Aranha. Metodologia Para efetuar o trabalho os autores utilizaram como instrumento de pesquisa a entrevista semi-estruturada, com perguntas referentes à democracia em âmbito geral com base no Questionário Latinobarometro1. As perguntas específicas de controle social em saúde foram formuladas pelas próprias integrantes com base em conceitos estudados em sala de aula2 e de leituras complementares. A pesquisa é qualitativa, de maneira que o total de entrevistados não visa generalizar o estudo como consenso, nossa proposta é saber se os freqüentadores da Redenção conhecem o verdadeiro significado de democracia e os seus instrumentos de participação na saúde pública. Resultados As perguntas iniciais do trabalho eram relacionadas à democracia. Os respondentes foram questionados quanto as suas preferências entre um regime democrático ou um regime autoritário; como definem democracia e como classificam o Brasil, em uma escala que vai do 1 Fonte: www.latinobarometro.org 2 Nas aulas de Controle Social em Saúde, do curso de Administração da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, ministradas pelo prof. Aragon Erico Dasso Junior X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 2077 não democrático ao totalmente democrático. Apesar de preferirem um regime democrático, os respondentes, em sua maioria, não conseguem conceituar democracia e a maioria não considera o Brasil totalmente democrático. Além disso, tiveram uma imensa dificuldade de conceituar controle social, que eram as últimas questões. A maior parte dos entrevistados não conhecia os Conselhos de saúde (Nacional, estadual e Municipal) e aqueles que conheciam é porque participavam destes. Conclusão Os resultados encontrados pelos autores ao efetuarem a pesquisa confirmam a hipótese pré-determinada de que os entrevistados pouco conhecem os conceitos de democracia e controle social, pois visualizam democracia com o conceito hegemônico de votar, que não considera um controle social efetivo, no entanto, identificam que falta consistência nessa democracia, pois não veem o Brasil como um lugar democrático. O que reafirma a hipótese de que o tipo de democracia que o sistema neoliberal atual tolera que não passa de uma democracia de “fachada” sem controle social efetivo, já que a população não conhece e nem sabe de sua existência, além do fato da transparência quase não existir, pois, entre outros motivos o acesso é tão difícil que é impossível verificar os fatos reais. Referências BOBBIO, NORBERTO. O Futuro da democracia: Uma defesa das regras do jogo. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. COUTINHO, CARLOS NELSON. A Democracia como Valor Universal: Notas sobre a questão democrática no Brasil. São Paulo: Humanas, 1980. DAHL, ROBERT A. Poliarquia: Participação e Oposição. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2005. DAHL, ROBERT A. Sobre a Democracia. Brasília: Universidade de Brasília, 2005. SANTOS, BOAVENTURA DE SOUZA & AVRITZER, LEONARDO. Para Ampliar o Cânone Democrático. Revista eletrônica: Eurozine, 2003. SHUMPETER, JOSEPH A. Capitalismo, Socialismo e Democracia. 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