JORNAL DA associação médica Página 16 • Fevereiro/Março 2010 MINAS Marcelo Rosa Vista aérea do campus da Fundação Comunitária de Ensino Superior de Itabira (Funcesi), que abriga a Faculdade Itabirana de Saúde (Fisa) Interior do Estado atrai escolas Para acompanhar o processo de abertura de novas escolas médicas e as condições oferecidas nos cursos de medicina, os presidentes da Associação Médica de Minas Gerais e do Conselho Regional de Medicina, José Carlos Collares Filho e João Batista Gomes Soares, respectivamente, viajaram pelo interior do Estado. No final de 2009, estiveram em Viçosa e Ouro Preto. Em fevereiro, foram à Itabira, cidade que também pretende abrir um curso de medicina. Em seu sexto vestibular de medicina, a Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) atraiu 158,6 candidatos por vaga – número considerado altíssimo, pois o curso, iniciado em 2007, conta com 40 vagas por semestre. Segundo o coordenador do processo seletivo da Ufop, José Margarida, a universidade tem convênio com diversos hospitais da região para dar conta da demanda “hospital escola”. Os nomes dos hospitais, porém, não foram citados. Ainda sem ter formado a primeira turma, a Ufop já prepara mais de 200 estudantes que daqui a poucos anos serão profissionais de medicina. Situação preocupante, segundo o presidente da AMMG. Collares afirma que além de Ouro Preto há muitas outras escolas que estão prestes a “soltar os primeiros médicos no mercado”. “O número de estudantes de medicina é grande e nos preocupa não apenas em que condições irão trabalhar, mas, principalmente, que tipo de formação eles estão recebendo. Por isso, queremos ver de perto se essas novas escolas atendem às exigências do Ministério da Educação e também se oferecem aos futuros médicos uma grade curricular satisfatória, corpo docente qualificado, laboratórios e vagas de residência suficientes. Vale ressaltar que os hospitais escola devem ter condições de receber os alunos, pois não basta apenas ser um bom hospital”, ressalta. Em dezembro, a Universidade Federal de Viçosa (UFV) realizou seu primeiro vestibular para medicina. Apesar da medida judicial movida pelo CRM com o apoio da AMMG, as provas foram realizadas antes da autorização do Ministério de Educação, que foi publicada no Diário Oficial somente em 15 de janeiro. Foram oferecidas 50 vagas por ano e a relação candidato vaga chegou a 90. A coordenadora do curso, a patologista clínica Cristina Chaves, afirma que os calouros de medicina da UFV vão utilizar os laboratórios comuns dos cursos das áreas biológica e de saúde. “Para as aulas de anatomia, foi construído um novo laboratório”, explica. Chaves esclarece que dois hospitais filantrópicos da cidade, o São Sebastião e o São João Batista, estão sendo preparados, seguindo legislação específica, para atender os alunos. Já são 28 escolas de medicina em Minas Gerais (veja lista no site www.escolasmedicas.com.br). Collares chama atenção para o fato de que em um século, de 1911 a 2000, foram criadas 11 escolas médicas e, em apenas uma década, de 2000 a 2010, outras 17 foram abertas. Valadares e Itabira já se preparam No mês de fevereiro, ao visitar Governador Valadares, região do Vale do Rio Doce, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, propôs a abertura de uma universidade federal no município. O pedido presidencial já está em andamento e será construído um campus da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) em Valadares. Conforme o membro da Diretoria de Comunicação da UFJF, Paulo Soares, a UFJF e a prefeitura valadarense já estão em contato para definir o local de construção do campus. “Não há, no entanto, datas previstas para solicitação de abertura dos cursos pelo MEC e tampouco da inauguração da universidade. Toda a parte burocrática ainda sendo analisada”, afirma. Estão previstos os cursos de medicina, odontologia e direito. Governador Valadares conta com escola de ensino superior privada, a Universidade Vale do Rio Doce (Univale), que em breve deve oferecer um curso de medicina. De acordo com a pró-reitora acadêmica da Univale, Fabíola Reis, em dezembro foi protocolado no MEC o pedido de abertura do novo curso. No final do mesmo mês, o ministério já havia analisado o pedido, dando a documentação como satisfatória, segundo Reis. “O Conselho Nacional de Saúde recebeu os documentos e agora estamos aguardando parecer final da Câmara Técnica de Ensino. Ainda não temos previsão de quando será o primeiro vestibular e quantas vagas iremos oferecer. Planejamos firmar convênio com o Hospital Samaritano e outros da região para nos atender como hospitais escola”, conta. A Faculdade Itabirana de Saúde (Fisa), de ensino privado, no município de Itabira, também pretende abrir um curso de medicina. O presidente do Conselho Executivo da Fundação Comunitária de Ensino Superior de Itabira (Funcesi), mantenedora da Fisa, Nélio Alvarenga, afirma que em abril o pedido de abertura do curso deve ser enviado ao MEC. “Nossa expectativa é ter duas entradas de alunos por semestre, somando 120 vagas. Além dos hospitais do entorno de Itabira, faremos convênio com o Hospital Carlos Chagas, entidade pública que é gerenciada pela Funcesi, para termos vários hospitais escola.” O presidente da Funcesi, o pediatra José Luiz Scaglioni Filho, ressalta que o projeto está seguindo as exigências do MEC: “Não vamos tentar criar uma faculdade de medicina de maneira irresponsável”. As entidades médicas estão atentas à criação e à evolução dos novos cursos de medicina em toda Minas Gerais. “Não é fácil abrir uma escola médica e é enganoso pensar que a simples criação do curso resolve a carência de profissionais numa determinada região. Precisamos de políticas que permitam melhores condições de trabalho para os médicos. Somente condições de trabalho adequadas atrairão a classe médica para os municípios carentes na área de saúde”, sintetiza o presidente da Associação Médica de Minas Gerais, José Carlos Collares Filho.