UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ENSINO DE CIÊNCIAS EVOLUÇÃO CONCEITUAL DE ESTUDANTE DE ENGENHARIA SOBRE SUBSTÂNCIA QUÍMICA SUELY DE MEDEIROS ONOFRIO GAMA Orientador: Prof. Dr. Tomás Noel Herrera Vasconcelos Dissertação apresentada ao Mestrado em Ensino de Ciências, da Universidade Cruzeiro do Sul, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências. SÃO PAULO 2014 AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL G178e Gama, Suely de Medeiros Onofrio. Evolução conceitual de estudante de engenharia sobre substância química / Suely de Medeiros Onofrio Gama. -- São Paulo; SP: [s.n], 2014. 75 p. : il. ; 30 cm. Orientador: Tomás Noel Herrera Vasconcelos. Dissertação (mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências, Universidade Cruzeiro do Sul. Acompanha CD com anexos. 1. Educação em engenharia 2. Ensino de química 3. Processo de ensino-aprendizagem. I. Vasconcelos, Tomás Noel Herrera. II. Universidade Cruzeiro do Sul. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências. III. Título. CDU: 37:62(043.3) UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EVOLUÇÃO CONCEITUAL DE ESTUDANTE DE ENGENHARIA SOBRE SUBSTÂNCIA QUÍMICA SUELY DE MEDEIROS ONOFRIO GAMA Dissertação de mestrado defendida e aprovada pela Banca Examinadora em 20/02/2014. BANCA EXAMINADORA: Prof. Dr. Tomás Noel Herrera Vasconcelos Universidade Cruzeiro do Sul Presidente Profa. Dra. Carmem Lúcia Costa Amaral Universidade Cruzeiro do Sul Profa. Dra. Silvia Maria de Paula Universidade São Judas Tadeu A ARTE DE PENSAR Pensei um pensamento, Voltei no tempo. Voltei! Não para buscar o momento, Mas para sentir o vento. Encontrei! E lá estava eu... Lá estava tudo. Pensei! Pasmo, quase mudo eu percebi. Pois nem boca eu tinha para falar, Que meu pensamento lá estava. E eu aqui! Notei não pensar com meu corpo, Estranho, mas não precisava dele, E que nele, também eu podia Pensar! Meu corpo ficou na cama. Eu vaguei em pensamento. Então o próprio vento, Fui novamente sentir! Como? Sem corpo? Sentir? Bem, foi só em pensamento! Eu acho... Celito Medeiros DEDICATÓRIA Dedico este trabalho àqueles que mesmo estando longe, estão tão próximos e presentes na minha vida. Àquele que soube me compreender e soube esperar pelos poucos momentos, que juro, foram de muita dedicação, meu filho. Dedico também ao meu marido que me ajudou me apoiando nesta jornada. Dedico à minha amiga Profa. Dra. Silvia Maria de Paula que além de me auxiliar nas horas que estava mais perdida, sempre se mostrou leal a mim. Dedico à minha grande amiga Profa. Dra. Marise de Barros Miranda, que além de uma excepcional profissional, como minha chefe soube me compreender e permitir que me ausentasse durante alguns períodos para conseguir finalizar minha dissertação. Especialmente à minha amiga, que cuidou da casa, da minha família e de mim mesma, a grande Luísa, pois sem ela jamais poderia estudar e pôr em prática toda minha aprendizagem e passar por todas as dificuldades que tenho passado. Dedico também aos Professores Dr. Fabio Jose Esper e M. Carlindo Baeta de Oliveira, por serem meus amigos e me apoiarem sempre que precisei. Por fim e não de menor importância, pois sem ela eu não existiria, dedico este trabalho à minha mãe. AGRADECIMENTOS Ao meu querido orientador, Prof. Dr. Tomás Noel Herrera Vasconcelos, que apesar de tão alto conhecimento teve uma atenção exemplar para com minha pessoa, sabendo me entender e compreender meu tempo e ter toda paciência pelos meus erros e sempre ter uma palavra de esperança e carinho para me dar. Por ser uma das pessoas mais capazes e ao mesmo tempo mais simples e educada que já conheci em toda minha vida. Agradeço à minha grande amiga Prof. Dra. Marise de Barros Miranda, simplesmente por ser minha melhor amiga e sempre confiar em mim, me apoiando. Agradeço ao Prof. Dr. Leonardo André Testoni e a Profa. Dra. Silvia Maria de Paula por me ajudarem nesta dissertação. A todos os meus amigos do programa de mestrado em ensino de ciências e matemática da Universidade Cruzeiro do Sul em especial aos meus parceiros da química, Alexandre De Souza e Jobert De Oliveira Neves. A todos os meus amigos do Centro Universitário Estácio Radial e do Centro Universitário FMU. GAMA, S. M. O. Evolução conceitual de estudante de engenharia sobre substância química. 2014. 75 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências)– Universidade Cruzeiro de Sul, São Paulo, 2014. RESUMO Esta pesquisa teve como objetivo identificar as concepções dos estudantes de engenharia sobre o conceito de substância e mistura, com o propósito de originar uma possível mudança das mesmas e sua utilização no processo de ensinoaprendizagem de química. Nasceu das dificuldades dos alunos em relacionar conceitos químicos ao dia a dia do profissional da engenharia sem perder a motivação de seguirem em frente. O trabalho tem como alicerce a análise de observações feitas ao longo de um trabalho de 10 meses com duas turmas de engenharia, uma de civil e outra de ambiental em um tradicional Centro Universitário da região central da cidade de São Paulo. Para isso foram desenvolvidas, atividades que compõem uma proposta de sequência didática que auxiliou alunos a passarem da zona atual de conhecimentos para um nível superior conhecido como zona de desenvolvimento proximal, onde, segundo Vygotsky, altera seus conceitos prévios, servindo de recursos durante o processo de ensino-aprendizagem de química. Como ferramenta de coleta de dados, utilizamos questionários antes e depois do desenvolvimento da sequência didática. Os resultados mostraram que houve uma mudança na significação dos conceitos sobre ‘substância’ e ‘mistura’ após a aplicação da sequência didática. Essa alteração favoreceu a compreensão e desenvolvimento da disciplina de Química Geral nos cursos de engenharia. Palavras-chave: Educação em engenharia, Ensino de química, Conceito de substância, Concepção de ciência, Processo de ensino-aprendizagem. GAMA, S. M. O. Conceptual evolution of engineering student on chemical. 2014. 75 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências)–Universidade Cruzeiro de Sul, São Paulo, 2014. ABSTRACT This research aims to identify the conceptions of engineering students on the concept of substance and mixture, in order to give a possible change to them and their application in chemistry teaching-learning process. It originated of students have in relating chemical concepts to the engineering professionals routine without losing the motivation to move forward. The research is based on analysis of observations made over a 10-month working with two groups of engineering a civil and environmental another in a traditional University Center in the central region of São Paulo. For that activities that compose a proposed instructional sequence that helps students to pass the current area of knowledge to a higher level known as zone of proximal development were developed as a methodology which according to Vygotsky change their preconceptions, serving as a resource for chemistry teaching and learning. As a data collection tool, we used questionnaires before and after the development of a didactic sequence. The results showed that there was a shift in the significance of the concepts of 'substance' and 'mix' after applying the instructional sequence. This modification attempts to be favorable in understanding and development of the general chemistry discipline in engineering courses. Keywords: Engineering education, Chemistry teaching, Concept of substance, Conception of science, Teaching-learning process. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 Esquema mostrando os tipos de materiais – Adaptado: Fundamentos de Química Geral – Hein e Arena (1998). ................... 19 Quadro 1 Relação de Temas da Disciplina de Química Geral Correlacionadas às Subáreas da Engenharia Civil. Fonte: adaptado de Alencar et al (2006). .................................................................................................... 17 Quadro 2 Descrições das categorias para o conceito de Substância. Fonte: Tavares (2009, p. 1010) ........................................................................ 35 Quadro 3 Modelo de Questionário Prévio. .......................................................... 42 Quadro 4 Modelo do primeiro Questionário Posterior. ..................................... 44 Quadro 5 a Modelo do Segundo Questionário Posterior ..................................... 45 Quadro 5 bModelo do Segundo Questionário Posterior ..................................... 46 Quadro 6 Tabulação da 1ª questão do 2º Questionário Posterior dos alunos do curso de Engenharia Civil. ............................................................. 58 Quadro 7 Tabulação da 1ª questão do 2º questionário posterior aplicados aos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária. .................... 60 Quadro 8 Tabulação da 2ª questão do 2º Questionário Posterior dos alunos do curso de Engenharia Civil. ............................................................. 61 Quadro 9 Tabulação da 2ª questão do 2º Questionário Posterior dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária. ................................ 62 Quadro 10 Tabulação da 3ª questão do 2º Questionário Posterior dos alunos do curso de Engenharia Civil. ............................................................. 64 Quadro 11 Tabulação da 3ª questão do 2º Questionário Posterior dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária. ................................ 64 Quadro 12 Tabulação da 4ª questão do 2º Questionário Posterior dos alunos do curso de Engenharia Civil. ............................................................. 65 Quadro 13 Tabulação da 4ª questão do 2º Questionário Posterior dos alunos de Engenharia Ambiental e Sanitária. ................................................ 65 Quadro 14 Tabulação da 5ª questão do 2º Questionário Posterior dos alunos do curso de Engenharia Civil. ............................................................. 66 Quadro 15 Tabulação da 5ª questão do 2º Questionário Posterior dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária. ................................ 67 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Distribuição dos alunos do curso de Engenharia Civil quanto à faixa etária ...................................................................................................... 39 Tabela 2 Distribuição dos alunos do curso de Engenharia Civil quanto ao sexo ....................................................................................................... 39 Tabela 3 Distribuição dos alunos do curso de Engenharia Civil quanto ao estado civil ............................................................................................ 39 Tabela 4 Distribuição dos alunos do curso de Engenharia Civil quanto à renda familiar ........................................................................................ 39 Tabela 5 Distribuição dos alunos do curso de Engenharia Civil quanto ao tipo de escola onde realizou o ensino médio .................................... 40 Tabela 6 Distribuição dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária quanto à faixa etária. ............................................................ 40 Tabela 7 Distribuição dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária quanto ao sexo. .................................................................... 41 Tabela 8 Distribuição dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária quanto ao estado civil. ......................................................... 41 Tabela 9 Distribuição dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária quanto à renda familiar. ....................................................... 41 Tabela 10 Distribuição dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária quanto ao tipo de escola onde realizou o ensino médio. . 41 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 Relação aos conceitos prévios sobre substância e mistura dos alunos do curso de Engenharia Civil.................................................. 49 Gráfico 2 Categorização das justificativas dos alunos do curso de Engenharia Civil ........................................................................................................ 50 Gráfico 3 Relação aos conceitos prévios sobre substância e mistura dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária. .................... 51 Gráfico 4 Categorização das justificativas dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária. .......................................................................... 51 Gráfico 5 Resultados da classificação de substância e mistura referentes à aplicação do 1º Questionário Posterior dos alunos do curso de Engenharia Civil. .................................................................................. 56 Gráfico 6 Resultados da classificação de substância e misturas referentes à aplicação do 1º Questionário Posterior dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária. ..................................................... 57 Gráfico 7 Categorias encontradas na análise dos dados dos alunos do curso de Engenharia Civil. ............................................................................. 59 Gráfico 8 Categorias encontradas na análise dos dados dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária referentes à 1ª questão. ........ 60 Gráfico 9 Categorias encontradas na análise dos dados dos alunos do curso de Engenharia Civil referentes à 2ª questão. ..................................... 61 Gráfico 10 Categorias encontradas na análise dos dados dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária referentes à 2ª questão. ........ 63 SUMÁRIO 1 ORIGEM DO TRABALHO E SUA ESTRUTURAÇÃO ................................. 15 1.1 Objetivos ..................................................................................................... 20 1.2 Organização da dissertação ...................................................................... 20 2 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E INTERAÇÃO ALUNO-PROFESSOR .. ...................................................................................................................... 22 3 SEQUÊNCIA PARA CONSTRUÇÃO DOS CONCEITOS CIENTÍFICOS EM SALA DE AULA ........................................................................................... 31 3.1 Conceito de Elemento, Molécula, Substância e Mistura ......................... 33 4 METODOLOGIA DA PESQUISA E CONTEXTO DA APLICAÇÃO ............ 37 4.1 Desenvolvimento da sequência didática .................................................. 37 4.2 Sujeitos da pesquisa .................................................................................. 38 4.2.1 Engenharia Civil.......................................................................................... 38 4.2.2 Engenharia Ambiental e Sanitária ............................................................. 40 4.3 Questionário Prévio.................................................................................... 42 4.3.1 Aplicação do Primeiro Questionário Pósterior após Sequência Didática . ...................................................................................................................... 43 4.3.2 Aplicação do Segundo Questionário Posterior após final do teste ....... 44 5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................. 47 5.1 Análises Preliminares ................................................................................ 47 5.1.1 Análises dos resultados dos alunos do curso de Engenharia Civil ...... 48 5.1.2 Análises dos resultados dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária ................................................................................................... 50 5.2 Desenvolvimento da Sequência Didática ................................................. 52 5.3 Análise dos resultados do questionário após aplicação da sequência didática ........................................................................................................ 56 5.4 Análise dos resultados do 2º Questionário Posterior aplicado .............. 58 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 69 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 72 ANEXOS ................................................................................................................... 75 15 1 ORIGEM DO TRABALHO E SUA ESTRUTURAÇÃO Comecei meus estudos aos seis anos de idade e, desde as brincadeiras até a realização das atividades escolares, sempre mexendo com a Química e tentando criar novas substâncias. Escolhi que iria fazer Engenharia Química e em junho de 1982 entrei na Fundação Educacional Inaciana. Foi muito difícil, mas as aulas de laboratório de Química me deixavam tão feliz que esquecia as dificuldades e estudava cada vez mais no intuito de diminuí-las. Antes de terminar a faculdade comecei a estagiar na multinacional Kodak Brasileira, empresa onde trabalhei por 10 anos. Nesse período fiz uma PósGraduação em Administração e Marketing na Anhembi-Morumbi, finalizei o curso em 1993 para trabalhar na supervisão da área de vendas técnicas dos produtos químicos da área de revelação fotográfica. Após 10 anos trabalhando na Kodak, montei um laboratório fotográfico que revelava em torno de 200 rolos de filme por dia e nas épocas especiais chegavam a mais de 300 rolos por dia. Durante mais 10 anos trabalhei com diversos produtos químicos tentando escolher quais produtos geravam mais qualidade no processo fotográfico, garantindo também a marca que possibilitasse o melhor custo-benefício. Como o resíduo do processo continha muito prata desenvolvi técnicas de recuperação da mesma antes do descarte final. Em uma sociedade em que é constante a presença da Química, torna-se necessário que ela seja incorporada à vida do cidadão, podendo contribuir de forma significativa no desenvolvimento de uma sociedade melhor. Pensando no tripé, técnica, meio ambiente e sociedade, resolvi fazer licenciatura em Química em 2005 na Faculdade Oswaldo Cruz e passar para outras pessoas a paixão que sempre tive por essa ciência e em 2006 comecei a lecionar Química Geral para alunos de um curso técnico de farmácia onde trabalhei até 2011. Me apaixonei pela educação e resolvi cursar Pedagogia. Em 2008, terminei o curso na Faculdade Magister e decidi me dedicar integralmente à área de Educação, trabalhando além da escola técnica, em duas escolas da regional sul 3 do estado de 16 São Paulo, onde também ministrava Química Geral para os três anos do Ensino Médio. Permaneci por mais três anos até ser aprovada em um concurso para atuar no Ensino Superior na Estácio Radial, trabalhando com diversas vertentes da Química nos cursos de engenharia. Alguns comportamentos de alunos e professores me inquietavam muito e precisava me aprofundar mais no processo ensino-aprendizagem para entender melhor essas reações e optei por fazer um mestrado na área da educação e escolhi a Universidade Cruzeiro do Sul, já com a proposta de trabalhar algum conteúdo de Química que fosse fundamental para os estudantes de engenharia, pensando na importância que esta disciplina tinha na vida pessoal e profissional dos mesmos. A escolha do tema foi por acreditar no conceito de ‘Substância’ como sendo o coração da Química, logo o desenvolvimento da Química está intimamente ligado a ele e às questões relacionadas. Também pela relação do tema com a engenharia na necessidade de uma aplicação criativa e prática de uma gama de princípios científicos intimamente ligados à ciência dos materiais. Por se tratar de uma temática bastante complexa, esse embate entre ‘substância’ e ‘reação química’, gerou um artigo “Substância X Reações Químicas” de Schummer (1999) e diversos autores se dividem nessa escolha até os dias atuais. Contrapondo a esse pensamento, o Governo do Estado de São Paulo lançou um novo processo de capacitação de seus alunos utilizando em 2010 cadernos de estudos para disciplina de Química Geral com um enfoque nas transformações químicas. Segundo Baccan et al. (1991), encontra-se no enfoque da importância nas transformações químicas, o Prêmio Nobel de Química de 1983 – Henry Taube, um químico canadense que alcançou esse prêmio pelo seu trabalho nos mecanismos de reações de transferência de elétrons, especialmente em complexos metálicos. Com base nesta discussão e acreditando que ‘substância’ é um conceito estruturante da Química, optamos pelo conceito de que a mesma é o coração da Química. 17 De acordo com Gagliardi (1988), os conceitos básicos de substância simples, elemento, substância composta e misturas são considerados estruturantes para Química. Lacerda et al. (2012) ressaltam que eles impulsionaram o desenvolvimento da Química, relacionando-se direta ou indiretamente aos demais conceitos químicos e a diferentes questões a eles vinculados e mostram a relevância desse tema nas abordagens diferenciadas para tratarem o conhecimento de forma contextualizada em sala de aula, provocando mobilização, motivação e a aprendizagem dos alunos. A partir dos conceitos estruturantes, é possível estudar, em particular nos cursos de engenharia, outros conceitos relacionados com a estrutura, propriedades e aplicações das substâncias, intimamente ligados às ciências dos materiais, utilizadas no cotidiano e nas áreas de engenharia. Afinal, cada ano que se passa, a humanidade vem sendo forçada a desenvolver novos materiais como alternativas à escassez de matéria-prima e também a produtos que degradam o meio ambiente e afetam a nossa saúde. Alencar et al. (2006) buscaram aliar a visão geral dos objetivos da disciplina de Química, relacionando-a ao cotidiano do futuro engenheiro civil. Inicialmente, esses autores indicaram os principais conteúdos de Química que fornecem subsídios para as subáreas de atuação na Engenharia Civil, conforme o quadro 1. Subárea Subsídios Subsistemas de conceitos químicos Estrutura Estequiometria Oxidação e Redução Estrutura das substâncias e reações químicas (transformações químicas da substância) Classificação periódica dos elementos, ligações químicas, estrutura e ligações em sólidos Estrutura das substâncias e reações químicas (transformações químicas da substância) Estrutura das substâncias e reações químicas (transformações químicas da substância) Metálicas Infraestrutura em transporte Materiais Recursos Hídricos e Saneamento Medidas em química, estequiometria, classificação periódica dos elementos, ligações químicas, estrutura e ligações em sólido, cinética e equilíbrio químico Medidas em química, estequiometria, cinética e equilíbrio químico, ácidos e bases Estrutura das substâncias e reações químicas (transformações químicas da substância) Quadro 1 – Relação de Temas da Disciplina de Química Geral Correlacionadas às Subáreas da Engenharia Civil. Fonte: adaptado de Alencar et al. (2006). 18 Analisando o Quadro 1, pode-se notar que o conceito de ‘substância’ permeia todas as atividades das subáreas apontadas pelos autores. Por exemplo, na subárea Estruturas Metálicas, é importante conhecer profundamente as substâncias trabalhadas, para acompanhar os processos de oxirredução evitando desgastes nos materiais, acima do permitido, diminuindo a resistência do mesmo. Na subárea Infraestrutura em transporte, tanto em relação aos materiais transportados para as obras, quanto nos descartados ao final da mesma, faz-se necessário um severo acompanhamento que tem uma normalização para transporte e descarte e caso seja descumprido esse regulamento, penas, desde multas até paralização da obra poderão ser observadas. Reforça-se ainda, que para esta tarefa é necessário pleno conhecimento na classificação de cada composto, que será transportado, utilizado e descartado nas obras. Com relação à terceira subárea do quadro 1, Materiais, ressalta-se a necessidade do conhecimento dos elementos da tabela periódica que formam as substâncias e misturas que serão utilizadas na obra. Cada elemento possui propriedades físicas e químicas que norteiam sua utilização, o seu uso incorreto poderá provocar desgastes indesejáveis dos materiais utilizados, diminuindo a resistência, provocando desastres incalculáveis. Para a subárea Recursos Hídricos e Saneamento, as medidas químicas são fundamentais para evitar contaminações nos lençóis freáticos pelos esgotos, evitando problemas de saúde pública. Mais uma vez, precisa-se conhecer a substância, a fim de conhecer qual sua função química para poder tratá-la antes de descartá-la no meio ambiente. A partir do quadro 1, é possível compreender melhor como esses conceitos abordados nas aulas de química geral passam a se relacionar no dia a dia do trabalho do engenheiro. Abordar esses conceitos e suas aplicações facilita a fixação dos conteúdos, criando uma motivação, que é fator fundamental para um aproveitamento maior dos estudantes do curso de engenharia. Ainda analisando o quadro 1 e as concepções fundamentais da química, encontramos em Peña et al. (1979) algumas considerações que devem ser ponderadas: 19 “El concepto de substancia es uno de los más importantes de la Química. La substancia es uma de las variedades cualitativas fundamentales de la matéria, la outra es el campo. El objeto principal de la Química es el estúdio de las substancias y de sus diversas transformaciones y propriedades. Así, uma de las definiciones contemporâneas de este concepto es la seguiente: La substancia es la mateia que se caracteriza em determinadas condiciones por poseer propriedades físicas y químicas constantes”. (PEÑA et al., 1979, p. 245) Segundo Peña (1979), os conceitos fundamentais da Química podem ser divididos em três subsistemas, que são: Conceitos sobre a estrutura da substância: elemento químico, orbital, valência, ligação química, etc. Conceitos de reações químicas: tipos de reações químicas, velocidade da reação, equilíbrio químico, outros. Conceitos termodinâmicos: entalpia, entropia, energia livre, etc. No intuito de esclarecer melhor a importância desse conceito na disciplina de Química Geral dos cursos de engenharia, pode-se citar um esquema adaptado, descrito por Hein & Arena (1998) que mostra como se ligam esses conceitos (figura 1), sobre os tipos de materiais. Figura 1: Esquema mostrando os tipos de materiais – Adaptado: Fundamentos de Química Geral – Hein e Arena (1998). De acordo com a figura 1, os materiais se dividem em Substância e Mistura. Substância foi definida por Composta ou Simples. Mistura divide-se em Mistura Homogênea, que possui uma única fase, como exemplo encontramos as Soluções, e Mistura Heterogênea, constituída de duas ou mais fases. 20 Segundo Giordan e Vecchi: “As pesquisas realizadas no Brasil e no exterior, relatam que há um descontentamento crescente que vem atingindo vários professores no ensino da Química quando efetuam medidas mais precisas de avaliação de conceitos básicos que os alunos deveriam conhecer perfeitamente”. (1994, apud MAINIER, 2001, p. 2) Pode-se pensar que esta falta de motivação, devida à não compreensão da importância dos conceitos fundamentais da química seja um dos principais fatores para o aproveitamento da disciplina e consequentemente a falha na formação do futuro profissional. Acredita-se que o planejamento do conteúdo, com o desenvolvimento de uma sequência didática baseada nos elementos da teoria psicológica de Vygotsky, possa contribuir positivamente na aquisição desse conhecimento. Segundo Oliveira (1992): “Falar de Vygotsky é falar da dimensão social do desenvolvimento humano... Ele tem como um de seus pressupostos básicos a ideia de que o ser humano constitui-se enquanto tal na sua relação com o outro social. A cultura torna-se parte da natureza humana num processo histórico que, ao longo do desenvolvimento da espécie e do indivíduo, molda o funcionamento psicológico do homem. (OLIVEIRA et al., 1992, p. 24) 1. 1 Objetivos Esta pesquisa teve como objetivos: a) Identificar as concepções dos estudantes de engenharia sobre o conceito de substância e; b) Analisar a evolução do mesmo a partir da aplicação de uma sequência didática. 1.2 Organização da dissertação Para uma melhor abordagem dessa pesquisa, que é parte integrante de um projeto maior desenvolvido pela área de Ensino de Ciências da Universidade Cruzeiro do Sul (São Paulo / Brasil), serão abordados, em um primeiro momento, os referenciais teóricos de origem sócio histórica que alicerçam o entendimento acerca da evolução conceitual do graduando em engenharia quando exposto a condições 21 específicas de ensino e aprendizagem. Para isto, foi utilizado a teoria de aquisição de conhecimentos de Vygotsky. Na sequência, a metodologia de pesquisa empregada será exposta, em que se apoiará em uma sequência didática adaptada de Gasparin e os resultados e discussões de todos os questionários aplicados. 22 2 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E INTERAÇÃO ALUNO-PROFESSOR No viés sociocultural, o desenvolvimento humano encontra uma profunda análise na teoria de Vygotsky, a qual tem como base a evolução do indivíduo como resultado de um processo histórico e social, dando ênfase ao papel da linguagem como mediador no processo de aprendizagem, prevendo a aquisição de conhecimentos na interação do sujeito com o meio. Segundo Oliveira et al. (1992), para Vygotsky, o processo de formação de conceitos remete às relações entre pensamento e linguagem, à questão cultural no processo de construção de significados pelos indivíduos, ao processo de internalização e ao papel da escola na transmissão de conhecimentos, diferentemente daqueles aprendidos na vida cotidiana. Ou seja, o conhecimento é visto como uma ação entre sujeitos sociais através de instrumentos mediadores “Para Vygotsky a Mediação é uma ideia central para a compreensão de suas concepções sobre o desenvolvimento humano como sendo um processo sócio histórico, enquanto sujeito do conhecimento o homem não tem acesso direto aos objetos, mas acesso mediado, através de recortes do real, operados pelos sistemas simbólicos de que dispõe, portanto enfatiza a construção do conhecimento como uma interação mediada por várias relações” (OLIVEIRA et al., 1992, p. 30). A introdução da linguagem tem seu papel fundamental na evolução da espécie humana, pois é ela que fornece os conceitos, as formas de organização do real, a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento e, por meio dela, as funções mentais superiores são socialmente formadas e culturalmente transmitidas. Consequentemente, sociedades e culturas diferentes produzem aprendizagens diferentes, ou seja, um universo de significações que permitem ao indivíduo construir sua interpretação particular do mundo real, que é diferente em cada um, mas compartilhada no coletivo, interpretando, recriando e dando novos significados aos conceitos. De acordo com a psicologia, cada palavra é uma generalização ou um conceito e como as generalizações e conceitos são atos de pensamento, pode-se 23 considerar o significado das palavras como um fenômeno do pensamento. Não uma simples questão de associação, mas uma questão de estrutura. Para Vygotsky (2008), “O significado de uma palavra representa um amálgama tão estreito do pensamento e da linguagem, que fica difícil dizer quando se trata de um fenômeno da fala ou de um fenômeno do pensamento. Uma palavra sem significado é um som vazio; o significado, portanto, é um critério da ‘palavra’, seu componente indispensável”. (VYGOTSKY, 2008, p. 150) Neste processo faz-se necessária a internalização do desenvolvimento funcional psicológico humano, envolvendo uma atividade externa que deve ser modificada para tornar-se uma atividade interna, atingindo, a partir do nível interpessoal, um patamar intrapessoal. A partir dessa linha de pensamento, de acordo com Costa (2004), existem três teorias de aquisição do conhecimento que norteiam os processos de ensino e de aprendizagem: a) o subjetivismo, também denominado como inatista, b) o objetivismo, também denominado empirismo e, por fim, c) a teoria interacionista. Segundo Misukami (1986, apud COSTA, 2004), essas teorias são definidas entre a relação do sujeito (que representa o indivíduo), com o meio externo (que representa o objeto). Da relação do indivíduo com o meio externo, por meio de sua individualidade, nasce a teoria subjetivista, aquela que provém do sujeito, por meio da introspecção. Nesta concepção, o conhecimento procede do sujeito, ou seja, a realidade de fato é pouco relevante, sua execução é feita principalmente pelo sujeito em um processo introspectivo baseado nas crenças e referências internas do sujeito. De acordo com essa concepção, o sucesso ou insucesso escolar seria determinado pela inteligência nata de cada indivíduo e concebe-se que o aprendizado está relacionado com o grau de inteligência entre os mesmos e, portanto, professores não seriam responsáveis pelo sucesso ou pelo fracasso de seus alunos, ou melhor dizendo, tanto faz o professor se esmerar em produzir sua aula, atingir as metas independe de seu trabalho e sim do estágio cognitivo de seu alunado. 24 Segundo Borges (2000, apud COSTA, 2004) a visão subjetivista não tem uma popularidade entre os professores de ciências, pois por mais tradicional que seja sua concepção de ensino com aulas predominantemente expositivas, o professor acredita que o conhecimento pode se dar mediante a transmissão e assim o alunado absorveria as informações ao ouvi-las. Santos (2010) diz que Descartes e Kant, foram os principais defensores da corrente subjetivista, onde o sujeito é ponto de convergência de toda significação. Segundo Santos (2010), Descartes, por meio de cogito1, estabelece o sujeito como autodeterminante de si mesmo, sendo ele, autossuficiente, excluindo qualquer condicionante alheio. De acordo com Kaufmann (2007), Kant prolonga essa concepção na moralidade, no imperativo categórico “age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal”. Segundo Costa (2004) na concepção objetivista ou empirista, o estudo se decorre no meio, onde a importância está relacionada ao conhecimento já presente na realidade do sistema, necessitando apenas, ser incorporado ao sujeito. A aquisição do conhecimento se faz pelo processo de descoberta, realizado na troca de experiências com o mundo exterior. Nesta concepção, o uso de experimentos pode ser considerado uma ferramenta fundamental para o ensino e a ciência pressupõe a objetividade e neutralidade das observações, de maneira que as ideias e conhecimentos prévios não determinem as observações realizadas, levando ao caminho do particular para o geral. A aquisição de conhecimento é resultado de um processo de descoberta pela experimentação do mundo exterior. Para Celeti (2011): “Na teoria empirista, a escola do pensamento filosófico relaciona a teoria do conhecimento na experiência a origem de todas as ideias. O conhecimento se encontra presente na realidade, necessitando apenas passar pelos sentidos para ser incorporado pelo indivíduo”. (CELETI, 2011, p. 1) 1 Cogito: Argumento utilizado por Descartes para fundamentar sua Teoria do Conhecimento com o objetivo que seja o mais evidente e verdadeiro possível 25 Costa (2004) relata que no empirismo experiências científicas são desenvolvidas e testadas por meios de métodos empíricos consistindo da observação de experimentos, que uma vez produzidos repetidamente, a informação conta como evidência para a comunidade científica, que se propõe por meio delas explicar fatos ocorridos no mundo. De acordo com Teruya, Carvalho e Luz (2010), o principal defensor do empirismo foi John Locke (1632-1704), filósofo inglês, que defendia que a experiência formava as ideias em nossa mente. No seu livro Ensaios acerca do entendimento humano (1690), é descrito que “só a experiência preenche o espírito com ideias”. Assim, Locke fez crítica ao conhecimento inato, aquele que já existe na mente das pessoas, nenhuma ideia que se tem nasce na pessoa, ela é fruto da experimentação dos cinco sentidos: audição, visão, tato, gustativo e olfato e cada um desses sentidos leva informações ao cérebro. Segundo esse autor, quando nascemos somos uma folha em branco e nossos cinco sentidos são responsáveis pelo seu preenchimento. Ainda de acordo com esses autores, a proposição de que o ser humano vem ao mundo sem qualquer tipo de conhecimento é a base da teoria da tabula rasa, um conceito lockeano que compara a criança ao papel em branco, ambos sem experiências anteriores, portanto, vazios no que se refere ao pensamento. Mas, ao mesmo tempo, ambos estão aptos a aprender, a serem preenchidos por saberes que serão as mais importantes impressões de toda sua vida. Finalmente, no interacionismo, a base do conhecimento não estaria situada somente no sujeito, ou relacionada exclusivamente com o meio, e sim, desenvolvida pela interação entre os meios interno (sujeito) e externo (ambiente), corroborando com as ideias de Vygotsky. Nesse ponto de vista, os pensamentos marcam o entendimento da interatividade como um processo individual, porém sociocultural. Esses pensamentos permeiam as pesquisas de dois grandes pesquisadores, Piaget e Vygotsky, e tendem a influenciar as pesquisas em Educação em Ciências. Ambos defendem a ideia da construção pela interação do indivíduo com o meio e são reconhecidos pelas Teorias Construtivistas, em que a aquisição do 26 conhecimento pelo sujeito humano é explicada pelo modo como esse sujeito se relaciona com o objeto. Para Costa (2004): “Na sala de aula, como espaço formal voltado para possibilitar a aquisição de conhecimentos pelos sujeitos, consequentemente, as diferentes vertentes resultam em formas distintas de conceber as relações entre professor, alunos e conteúdos escolares a serem apreendidos”. (COSTA, 2004, p. 17) No panorama atual, diversas pesquisas estão apoiadas em pontos de vista mais contemporâneos das ciências e da aquisição do conhecimento. Elas foram desenvolvidas no intuito da obtenção da informação e na mudança em função da instrução, propondo estratégias e modelos que favorecem a evolução conceitual discente. Ao serem estabelecidas relações entre a aprendizagem escolar e o processo de elaboração do conhecimento nas ciências, é observado que os alunos tendem a rejeitar ideias do seu cotidiano. Costa (2004) acredita que mediante as condições de insatisfação com suas ideias originais, nasce a contradição, fazendo com que o aluno duvide de suas próprias concepções. Nessa linha, Silveira (2003) sugere que o docente crie situações-problema significativas para o aluno desenvolver uma nova rede de conhecimentos, ao confrontar as diversas concepções que vão surgir com os conceitos atuais. Desse modo, ao considerarmos o processo de ensino-aprendizagem como interativo e sociocultural, tratamos a instituição de ensino como local destinado a auxiliar os alunos em sua tomada de consciência, facilitando a compreensão de novas ideias e sua validação. Essas situações-problema ao confrontar com as antigas crenças do indivíduo vão gerar desequilíbrios e vão sendo desenvolvidas novas estruturas cognitivas. Oliveira (1992) mostra no texto a seguir as proposições de Vygotsky a respeito do processo de desenvolvimento da formação de conceitos sob o prisma da mediação cultural do processo de construção de significados. 27 “As proposições de Vygotsky acerca do processo de formação de conceitos nos remetem à discussão das relações entre pensamento e linguagem, à questão da mediação cultural no processo de construção de significados desenvolvidos por parte do indivíduo, ao processo de internalização e ao papel da escola na transmissão de conhecimentos de natureza diferente daqueles apreendidos na vida cotidiana”. (OLIVEIRA, 1992, p. 23) Nesta perspectiva, vê-se a importância da linguagem permitindo a comunicação e a representação do pensamento através da palavra e se as mesmas se modificam ao longo dos tempos, a relação entre o pensamento e a palavra também se alteram, fazendo com que cada pensamento, por tender-se a estabelecer relações entre as coisas. Se desenvolve, desempenhando uma função necessária para solução de um determinado problema. Essas relações se alternam entre as pessoas, assumindo um significado diferente para cada uma, portanto pensamentos diferentes para coisas iguais. De acordo com Schnetzler (1996): “Mudança conceitual tem sido o termo usualmente empregado para designar a transformação ou substituição de crenças e ideias ingênuas (concepções prévias ou esquemas alternativos) de alunos sobre fenômenos sociais e naturais por outras ideias, mas sofisticadas (cientificamente ‘corretas’) no curso do processo de ensino-aprendizagem de ciências”. (SCHNETZLER,1992, apud COSTA, 2004, p. 20). Mortimer e Machado (1997), apoiados em revisões de estratégias de ensino de ciências, apontam uso frequente desse conflito cognitivo, sempre visando o aprendizado de conceitos científicos por meio da mudança conceitual. O conflito cognitivo é baseado na teoria da equilibração, com origem na teoria de Piaget, sobre os Estágios cognitivos do Processo de Aquisição do Conhecimento, o que não se opõe aos elementos de Vygotsky, pois, demonstram-se como possíveis análises envolvendo um contexto cognitivo e social, fundamental para compreender as intervenções inovadoras, criativas na elaboração de um conhecimento de conteúdo durante os processos de ensino e aprendizagem. (OLIVEIRA, 1992, p. 14). Ao considerarem o ensino-aprendizagem como processo interativo sociocultural, os interesses dos pesquisadores crescem a respeito dos processos 28 sociais que decorrem das situações formais de educação e focam suas práticas na teoria de Vygotsky. Considerando que os indivíduos possivelmente dependam de diferentes formas de atividade mental, se comportando diferentemente nas diversas situações das quais vivenciam no seu dia a dia, o papel da escola é ajudar os alunos na tomada de consciência, facilitando a compreensão de ideias e sua validação. Esse processo denomina-se internalização e envolve um movimento de construção e reconstrução da cultura do sujeito aprendente, mediado pelos signos 2 criados da interação com o outro. O outro nesta concepção exerce papel fundamental na construção do conhecimento, pois guiando e auxiliando o aprendiz nesse processo Vygotsky define o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) que contribui para esclarecer a importância da influência do outro ao possibilitar esse desenvolvimento. Desse modo, Freitas (2001, p.1) relata “A perspectiva histórico-cultural, entende o desenvolvimento humano como um processo dinâmico, repleto de momentos de avanço e recuo.” Dessa forma, no ambiente de aprendizagem, encontra-se de um lado o professor, representando a cultura científica na sala de aula, do outro lado, os alunos, juntos na perspectiva da aquisição de novos significados, fazendo com que a ZDP leve ao reconhecimento da importância das ações conjuntas desenvolvidas nos discursos entre os professores e alunos. Segundo Freitas (2001, p. 17) “Sobre essa questão da ‘fala para os outros’, ‘fala para si’, vale ressaltar que Vygotsky, inúmeras vezes, em seus textos, enfatizou o papel do outro na constituição do homem.” Segundo 2000, apud FREITAS (2001, p. 65), reflete-se sobre tal questão em texto que busca problematizar o sentido do social e do cultural na obra de Vygotsky, salientando que a mediação do outro é condição para o desenvolvimento: “Segundo Vygotsky, o desenvolvimento em si, para os outros e para si”. Segundo Rey (2000): “Ao assumir o tema do desenvolvimento como central, Vygotsky introduziu um conceito pouco citado entre os estudiosos atuais, que foi o de ‘situação social do desenvolvimento’. Este conceito nos evidencia a preocupação do autor por integrar a riqueza dos processos internos constituídos na história 2 Signo, de modo geral é aquilo que representa algo diferente de si mesmo e que substitui e expressa eventos, ideias, situações e objetos, servindo como auxílio da memória e da atenção humana. 29 do sujeito, com as influências que caracterizam cada um dos momentos sociais do desenvolvimento. Cada nova situação social que o sujeito enfrenta se converte em uma via de desenvolvimento para novas formações psicológicas, termo que não aparece elaborado de forma consistente na obra de Vygotsky.” (REY, 2000, apud FREITAS, 2001, p. 23) Avaliando o conhecimento atual dos alunos, por meio do levantamento das ideias prévias que eles possuem sobre o assunto a ser trabalhado, decidindo qual será o lugar onde se deseja chegar, ‘zona de desenvolvimento proximal’, utilizandose como ferramenta, trabalhos desenvolvidos no coletivo, pode-se verificar a aquisição de conhecimento, destacando-se as teorias baseadas em Vygotsky sobre a transformação da ZDP na atual zona real. O professor pode avaliar as deficiências dos alunos, ver o que foi apreendido por eles, poderá escolher olhar para frente e valorizar seu potencial e assim criar novas estratégias pois as diferenças encontradas no coletivo são muito mais ricas para o aprendizado do que as semelhanças e mais fácil de serem encontradas uma vez que cada indivíduo é um ser único e possuidor de habilidades e competências distintas. Para Vygotsky, o convívio na sala de aula cria atores diversos no desenvolvimento, pois cada um se encontra em níveis diferentes e com a ajuda dos mais desenvolvidos, os que apresentam mais dificuldades sentem-se mais seguros durante a caminhada. Assim ele define em toda sua obra a ideia de dois níveis de desenvolvimento, o primeiro, aquele em que o indivíduo se encontra, com todas as habilidades e conhecimentos adquiridos por ele, geralmente alcançados pelo seu esforço. Essa avaliação, não leva em conta o que a criança conseguiria alcançar com a ajuda de um colega ou do próprio professor. Aí é justamente, na distância entre o que ela já sabe e o que poderá saber com alguma assistência, que reside o segundo nível de desenvolvimento descrito e batizado por Vygotsky. Para Oliveira (2007), “As postulações de Vygotsky sobre os fatores biológicos e sociais no desenvolvimento psicológico apontam para dois caminhos complementares de investigação: de um lado, o conhecimento do cérebro como substrato material da atividade psicológica e, de outro lado, a cultura como parte essencial da constituição do ser humano, num processo em que o biológico transforma-se no sócio histórico”. (OLIVEIRA, 2007, p. 33) 30 Dessa maneira, Oliveira (2007) deixa claro que durante o processo ensinoaprendizagem existe o indivíduo com as informações adquiridas ao longo de sua vida, o meio onde tudo acontece e as interações entre as concepções prévias desse indivíduo se relacionando com as demais concepções prévias de outros indivíduos e também as mediações do professor, propiciando uma construção de novos significados. 31 3 SEQUÊNCIA PARA CONSTRUÇÃO DOS CONCEITOS CIENTÍFICOS EM SALA DE AULA Abordaremos nesse capítulo uma sequência didática que irá explorar os conceitos de Vygotsky (1992) e que embasará a sequência planejada para ser trabalhada com os alunos de engenharia na disciplina de Química Geral que ocorreram no 1º semestre de 2013. Entretanto, é importante destacar que, como descreve Gasparin (2007): “O esforço e a dedicação do professor em suas aulas, mesmo com um bom planejamento, conhecimento científico da matéria que ministra e métodos adequados de ensino-aprendizagem não são garantias plenas do que e quanto os alunos aprenderão. Muitas outras são as variáveis que interferem no processo de desenvolvimento do educando”. (GASPARIN, 2007, p. 1) A tarefa do professor durante o processo de ensino-aprendizagem é mediar, devendo se lembrar de que o aluno vem com informações anteriores, adquiridas ao longo de sua vida, aprendizados alcançados em outras escolas e séries anteriores, o que tem como concepções sobre o assunto e como lida com isso no seu dia a dia, segundo Vygotsky, é o nível de desenvolvimento atual do educando. Inicialmente, o professor deverá fazer um brainstorm, informalmente conhecido como tormenta de ideias, onde os alunos irão expor tudo que sabem sobre um determinado tema e caberá ao educador anotar todo o conhecimento prévio. Após estas primeiras anotações, os educandos deverão pesquisar em materiais didáticos, tais como livros, apostilas, artigos, ábacos e materiais das áreas em questão. Para isso, o professor poderá acompanhar os alunos em visitas a bibliotecas, ou fornecer o material necessário para estas pesquisas. Poderá utilizar ferramentas mais modernas como bibliotecas virtuais, sites de informações confiáveis, revistas técnicas entre outras ferramentas. Importante consideração dessa etapa será a construção no coletivo com posterior apresentação das ideias como fechamento da pesquisa em confronto com as ideias prévias. 32 Após as apresentações dos alunos, o professor deverá desenvolver o tema como fonte de vivência social, trabalhando as concepções metodológicas que adota como diretriz de sua prática docente. Após esta etapa, será necessária a formulação do saber geral da sala. Juntos eles irão adquirir conhecimentos que permitirá uma estruturação do processo, visando à compreensão das atividades humanas. Como etapa final eles irão atingir conceitos prováveis, no limite, respeitando seu grau de desenvolvimento, pois este é sempre gradativo. De acordo com Gasparin (2007): “Em todo o processo de trabalho docente, a primeira tarefa do professor deveria ser definir o limiar inferior da aprendizagem – o nível atual de conhecimento que os educandos já possuem sobre o tema a ser estudado. O passo seguinte consistiria em especificar o limiar superior da mesma aprendizagem – o que se espera e deseja que os alunos alcancem. Entre esses dois extremos situam-se os demais níveis e todas as ações didáticas do professor, sua mediação necessária.” (GASPARIN, 2007, p. 15) O mesmo autor propõe 9 passos para a construção dos conceitos científicos em sala de aula: 1) Ouvir os educandos nas suas informações espontâneas – conceitos deverão ser anotados. 2) Transcrever o conceito que os materiais didáticos trazem. 3) Escrever o conceito cotidiano que o educador tem sobre o tema selecionado. 4) Escrever o conceito científico com que vai trabalhar. 5) Formular o novo conceito possível / provável que o educando poderá chegar após o trabalho de sala de aula. 6) Elaborar um objetivo específico para o ensino do conceito científico escolhido – o aluno aprende o quê? Para quê? 33 7) Determinar e escrever as ações mentais ou físicas – as do professor e as dos alunos – necessárias para construção do conceito em análise. 8) Distribuir as ações escolhidas nas três fases do processo, explicitando quais são do professor e quais pertencem aos alunos: a. Prática social inicial – nível de desenvolvimento atual do educando, (Zona Atual). b. Teoria da construção do conceito científico cultural – Zona de desenvolvimento imediato (ZDP). c. Prática do novo conceito – novo nível de desenvolvimento atual (Zona Real que se converte em Zona Atual). 9) Na elaboração do projeto (Prática – Teórica – Prática) é necessário anunciar as ações do professor e dos alunos, especificando as operações mentais ou físicas necessárias para realização das ações. 3.1 Conceito de Elemento, Molécula, Substância e Mistura Existem várias formas de se estudar os conceitos que norteiam a química, uma delas é a que parte da origem dos conhecimentos, da construção dos conceitos ao longo dos tempos e da fixação nos dias atuais. O conceito de Elemento vem da antiguidade e desde então vários deles vêm sendo utilizados pelos professores e pesquisadores da área de Química. Para Boyle (1789 apud OKI 2002), elementos seriam certos corpos primitivos e simples, puros. Mendeleiev, (1871 apud OKI 2002), pontuava a confusão conceitual envolvendo os termos “elementos” e “substância simples” e até hoje, livros atuais apontam para o mesmo erro. Segundo Gagliardi (1988), o conceito de elemento químico é sem dúvida o conceito estruturante mais importante da química, podendo ser equiparado a outros conceitos como o átomo, a molécula, substância, ligação química entre outros. 34 Neste caso, o seu conceito, torna-se imprescindível para o conhecimento e desenvolvimento dos conceitos científicos no desenvolvimento da química. “Os conceitos estruturantes são aqueles que permitiram e impulsionaram a transformação de uma ciência, a elaboração de novas teorias, a utilização de novos métodos e novos instrumentos Conceituais”. (GAGLIARDI, 1988, apud OKI, 2002, p. 1) Segundo Tunes et al. (1989): “O elemento químico constitui uma classe de átomos formada pelos diferentes nuclídeos ou “tipo de átomo caracterizado por um número atômico específico.” (TUNES et al., 1989, apud OKI, 2002, p. 1) Segundo Russel (1994, apud OKI, 2002, p. 1), “Um elemento não pode ser separado ou decomposto em substância mais simples” e segundo Brown et al. (1999 apud Oki, 2002) “Cada elemento é constituído por apenas uma espécie de átomo.” Para Oki (2002, p. 1): “Um elemento é uma substância simples, fundamental e elementar. Não pode ser separado ou decomposto em substâncias mais simples”. A origem do nome elemento nasceu na Grécia e por volta de 300 a.C. Aristóteles o conceituou sobre o céu (Brody, 2007): “Primeiro precisamos indagar se os elementos (terra, fogo, água e ar), são eternos ou sujeitos a geração ou destruição. [...] É impossível que os elementos sejam gerados por algum tipo de corpo. Isso implicaria um corpo distinto dos elementos a anterior a eles”. (BRODY, 2007, p. 84) Tomando como base o conceito estruturante, as duas definições de Russel e Brown são referências histórico-epistemológicas que revelam relações importantes com demais conceitos fundamentais para o ensino de Química. Para Oki (2002, p. 1): “Um elemento é uma substância simples, fundamental e elementar. Não pode ser separado ou decomposto em substâncias mais simples”. Comparando as definições de Aristóteles, Brown, Russel e Tunes, observa-se que com relação ao conceito de elementos todos apresentam pontos em comum como fundamental e elementar. Não podendo ser separado ou decomposto em substâncias mais simples’ e estes conceitos remetem ao conceito de substância. 35 Devido à diversidade de conceitos de substância, Tavares (2009) realizou pesquisas em vários livros didáticos, pois esse recurso mais utilizado no ensino de ciências, e classificou-os em quatro categorias conforme exemplificado no quadro 2. Categorias Descrições Substancialista Imagem da substância como possuidora de propriedades que não se alteram. Determina à substância característica de imutabilidade. Empirista Designação da substância por uma visão concreta, macroscópica e quantificável. Atômico-Molecular As substâncias e suas propriedades são remetidas para o nível microscópico: o arranjo e a interação dos átomos, moléculas e íons é responsável pelas características/propriedades das substâncias. Animista A substância é visualizada por possuir ações voluntárias, como as humanas, a fim de estabelecer relações por vontade própria. Quadro 2: Descrições das categorias para o conceito de Substância. Fonte: Tavares (2009, p. 1010) Segundo o autor, tanto na visão substancialista quanto na animista existem grandes equívocos, tais como um poder de propriedades inalteradas nas visões substancialistas e na visão animista, a substância, possuidoras de vontade própria, embora existam alguns pontos a serem considerados. As categorias empirista e atômico-molecular são as que apresentam definições melhor fundamentadas, pois mostram na visão empirista uma visão concreta da substância e na visão atômicomolecular, mostram por meio de arranjos e interações entre os átomos, moléculas e íons, propriedades das substâncias. Atualmente a identificação de um elemento químico é feita pelo seu número atômico e sua configuração eletrônica dada pela camada de valência, ou seja, a última camada da eletrosfera do átomo nos elementos representativos. Esses conceitos são introduzidos na fase inicial dos planos de ensino de Química Geral. A abordagem das propriedades e transformações dos elementos permite entendimentos sobre uma substância em termos conceituais, e isto constitui um processo de significação conceitual desta substância, mantendo a diversidade da matéria, diferenciando-a, por exemplo, nos alimentos, tais como substâncias (sacarose) e elementos (cálcio e ferro). 36 Quanto ao conceito de substância, Silveira (2003), trabalha com a definição operacional de substância simples e composta, enfocando trabalhos de Lavoisier, onde se estabelece que a água não era um elemento, pois a mesma pode ser decomposta em elementos (H, O), descrevendo assim o conceito de substância simples (pela não decomposição) e composta (decomposição de elementos ou substâncias elementares). Para Kotz (2009): “Cada substância apresenta um conjunto de propriedades únicas, por meio das quais ela pode ser reconhecida. A água pura, por exemplo, é incolor, inodora e certamente não contém sólidos em suspensão. Se você quisesse identificar uma substância como água de forma conclusiva, teria de examinar com cuidado suas propriedades e compará-las com as propriedades conhecidas da água pura. Os pontos de fusão e de ebulição, nesse caso, servem bem a esse propósito.” (KOTZ, 2009, p. 13) Segundo Kotz (2009), a substância elementar ou simples, é aquela constituída de apenas um tipo de elemento e ainda define como elemento, sendo um tipo de átomo e mistura, como homogênea e heterogênea, diferenciando-as pelo número de fases que podem ser visualizadas a olho nu. 37 4 METODOLOGIA DA PESQUISA E CONTEXTO DA APLICAÇÃO A metodologia de pesquisa utilizada neste trabalho é do tipo qualitativa e quantitativa (BOGDAN; BIKLEN, 1998). 4.1 Desenvolvimento da sequência didática Para esse estudo, propôs-se as seguintes etapas, como uma adaptação da sequência idealizada por Gasparin (2007): 1) Contextualização da Química envolvendo o cotidiano e as necessidades dos conhecimentos para formação do profissional da engenharia. 2) Aplicação de um questionário prévio, para levantamento das ideias espontâneas do conceito de substância trazidas pelos alunos para sala de aula. 3) Pesquisa em materiais didáticos sobre os conceitos em questão, provocando assim o embate entre o conceito prévio dos envolvidos e as novas informações verificadas. 4) Atividade prática demonstrativa com utilização de materiais alternativos (uso do clipes, lego, quebra-cabeça e outros materiais alternativos). 5) Discussão e reconstrução do conceito no coletivo, fazendo assim a ressignificação do conceito. 6) Aplicação de um novo questionário posterior, para verificação da evolução atingida. No primeiro dia de aula dessas duas turmas, foi trabalhado por 4h-aula o programa da disciplina de acordo com o plano de ensino e plano de aula da disciplina, e em seguida, leituras compartilhadas de dois textos sobre a química. O primeiro, um texto de Medeiros (2003) sobre o estudo da química e o segundo, sobre a importância da química no cotidiano e na engenharia (Soares, 2004). 38 Estas atividades foram realizadas com as salas interagindo com a professora numa leitura compartilhada e conversas a respeito dos temas da leitura. Foram planejadas em função do plano de aula implementado no início do semestre e baseadas no plano de ensino da disciplina, proposto pela instituição. Em seguida, ainda na mesma aula, foi aplicado o questionário inicial. 4.2 Sujeitos da pesquisa Os sujeitos analisados eram estudantes que cursavam regularmente, no período diurno, a disciplina de Química Geral, relativa à grade curricular básica do curso de Engenharia Civil e Ambiental. No início do 1º semestre de 2012, foram selecionadas duas turmas, uma de Engenharia Civil e outra de Ambiental e Sanitária, pois facilitaria o trabalho da professora-pesquisadora por tê-las na sua atribuição de aulas do semestre. Participaram dessa pesquisa 37 alunos das duas turmas. Para explicar melhor os dados dos alunos pesquisados nas duas amostras estudadas, foram feitas algumas pesquisas aos documentos da CPA (Comissão Permanente de Avaliação) e aos Dados Socioeconômicos da Região e dos Projetos Pedagógicos dos cursos de Bacharelado em Engenharia Ambiental e Sanitária e Engenharia Civil da instituição trabalhada. Esses dados ajudarão a compreender melhor o perfil dos alunos dessas amostras. 4.2.1 Engenharia Civil A turma de 2º período de Engenharia Civil era composta por 28 alunos de faixa etária e social diversas, sendo 16 homens e 12 mulheres, do turno da manhã. Das Tabelas de 1 a 5, apresenta-se a seguinte situação para a Engenharia Civil: as informações foram preenchidas por 25,06% dos alunos do curso, e o perfil dos mesmos foram retirados do documento da CPA da instituição em questão, referentes ao 1º semestre de 2012, estão contidos nas tabelas referentes à faixa etária, sexo, estado civil, renda familiar e tipo de escola onde realizou o ensino médio. 39 Tabela 1: Distribuição dos alunos do curso de Engenharia Civil quanto à faixa etária Faixa etária % De 16 a 20 anos 57,14 De 21 a 25 anos 32,15 De 26 a 30 anos 3,57 De 31 a 35 anos 3,57 Superior a 35 anos 3,57 Tabela 2: Distribuição dos alunos do curso de Engenharia Civil quanto ao sexo Sexo % Feminino 50 Masculino 50 Tabela 3: Distribuição dos alunos do curso de Engenharia Civil quanto ao estado civil Estado Civil % Solteiro 85,71 Casado 7,14 Separado 0,04 Viúvo 0 Outros 7,11 Tabela 4: Distribuição dos alunos do curso de Engenharia Civil quanto à renda familiar Renda Familiar % Nenhuma Até R$ 1.000,00 3,56 17,86 Entre R$ 1.000,00 e R$ 3.000,00 64,29 Entre R$ 3.000,00 e R$ 6.000,00 10,71 Acima de R$ 6.000,00 3,57 40 Tabela 5: Distribuição dos alunos do curso de Engenharia Civil quanto ao tipo de escola onde realizou o ensino médio Tipo de escola que fez o ensino médio Todo em escola pública Todo em escola particular % 67,86 14,29 A maior parte em escola pública 3,57 A maior parte em escola particular 14,29 Metade em escola pública e metade em escola particular 0 4.2.2 Engenharia Ambiental e Sanitária Nas Tabelas de 6 a 10, apresenta-se a seguinte situação para a turma de 2º período de Engenharia Ambiental e Sanitária: era composta por 9 alunos de faixa etária e social diversas, sendo 3 homens e 6 mulheres, também alunos do período da manhã. As informações retiradas da CPA foram preenchidas por 15,57% dos alunos do curso e o perfil dos mesmos estão contidos nas tabelas referentes a faixa etária, sexo, estado civil, renda familiar e tipo de escola onde realizou o ensino médio. Tabela 6: Distribuição dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária quanto à faixa etária. Faixa etária % De 16 a 20 anos 80 De 21 a 25 anos 10 De 26 a 30 anos 0 De 31 a 35 anos 0 Superior a 35 anos 10 41 Tabela 7: Distribuição dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária quanto ao sexo. Sexo % Feminino 70 Masculino 30 Tabela 8: Distribuição dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária quanto ao estado civil. Estado Civil % Solteiro 90 Casado 0 Separado 10 Viúvo 0 Outros 0 Tabela 9: Distribuição dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária quanto à renda familiar. Renda Familiar % Nenhuma 0 Até R$ 1.000,00 20 Entre R$ 1.000,00 e R$ 3.000,00 30 Entre R$ 3.000,00 e R$ 6.000,00 40 Acima de R$ 6.000,00 10 Tabela 10: Distribuição dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária quanto ao tipo de escola onde realizou o ensino médio. Tipo de escola que fez o ensino médio % Todo em escola pública 80 Todo em escola particular 10 A maior parte em escola pública 10 A maior parte em escola particular 0 Metade em escola pública e metade em escola particular 0 42 4.3 Questionário Prévio Para identificar as concepções prévias dos alunos sobre substâncias e misturas, foi aplicado um teste com 11 tipos de materiais diferentes, em que os alunos deveriam classificá-los em substância ou mistura e justificar suas respostas de maneira escrita e individual (Quadro 3). Nessa etapa, pôde-se identificar, com base na teoria de Vygotsky, a Zona Atual, referente ao nível de conhecimento que o estudante possuía. Da lista abaixo diga quais materiais são substância e quais são misturas. Justifique suas respostas: Material Mistura Substância Justificativa Bronze Cimento Madeira Pisos e Azulejos Vidro Aço Inoxidável Papel Latão Ouro Solda de Chumbo LCD Água Ferro Quadro 3: Modelo de Questionário Prévio. 43 Na semana seguinte, a aula foi dividida em duas partes, nas duas primeiras aulas os alunos foram para a biblioteca, onde tiveram acesso a recursos extras, como livros, manuais, revistas técnicas e recursos tecnológicos, para realizarem pesquisas envolvendo os conceitos propostos. Nas duas aulas após o intervalo, foram realizadas atividades práticas demonstrativas que geraram novas informações para que na próxima aula fosse realizada uma discussão coletiva, em que seria reescrita uma nova definição para os conceitos estudados. Na atividade demonstrativa, clipes foram utilizados como modelo de partícula para desenvolvimento da ideia de átomo, molécula, elemento químico e substância. Foram colocados sobre a mesa da professora, dois conjuntos com 10 clipes de duas cores diferentes (prateado convencional e o preto). Um clipe foi retirado de cada conjunto, com isso foram determinados átomo A e átomo B, gerando ferramentas para pensarem no conceito de átomo e de elemento. Foi feito até a separação do último clipe de cada conjunto, criando um novo conjunto, substância AB, ao retirar um membro desse novo conjunto novamente foram gerados subsídios para definir substância e moléculas. Durante toda a atividade, os alunos foram convidados a criarem anotações para suas futuras discussões. No encontro seguinte, foi realizada uma discussão coletiva, onde discutiram todas as anotações realizadas durante as etapas anteriores e puderam elaborar novas definições para os temas propostos no início da sequência didática. No último encontro, foi aplicado um novo questionário para verificação da compreensão dos conceitos, visando a possíveis alterações na internalização do conteúdo e assim uma ressignificação. 4.3.1 Aplicação do Primeiro Questionário Posterior após Sequência Didática Após a aplicação da sequência didática, ao final do semestre, foi aplicado novamente um questionário (Quadro 5), para verificar se houve alterações nos conceitos iniciais dos alunos. Nesse novo questionário agora com 13 outros 44 materiais, os alunos precisavam realizar a identificação de substâncias simples, composta e misturas. Da lista abaixo diga quais materiais são substância simples ou composta e quais são misturas. Justifique suas respostas: Material Substância Simples Substância Composta Mistura Ozônio Amônia Água Grafite Água Gasosa Fósforo Glicose Ferro Petróleo Gás Carbônico Álcool hidratado GLP Ar atmosférico Quadro 4: Modelo do primeiro Questionário Posterior. 4.3.2 Aplicação do Segundo Questionário Posterior após final do teste Após a aplicação desse novo teste, no final do semestre, garantindo 4 meses desde a aplicação do primeiro teste para se conhecer as ideias prévias dos alunos da amostra, houve subsídios para verificar se ocorreram alterações dos conceitos iniciais dos alunos, cumprindo o objetivo inicial dessa pesquisa. 45 Após 10 meses da aplicação do questionário prévio, 6 meses depois da aplicação do primeiro questionário posterior, foi aplicado o segundo questionário posterior, no quadro 5a e 5b, que se trata de uma ampla contextualização do conceito trabalhado na sequência didática aplicada: 1. Foram separados no laboratório, em determinadas condições, dois materiais com as seguintes propriedades. Material 1 2 Temperatura de fusão 0 -15,0 a -19,0 C 0 - 63,2 C Temperatura de ebulição 0 85,0 a 91,0 C 0 61,2 C A densidade do material 2 foi determinada experimentalmente e corresponde ao valor de 1,48 3 g/cm . Consultando tabelas das propriedades físicas em livros de Química, você descobriu que se tratava de clorofórmio. Este material tem alto grau de toxicidade. Sua principal aplicação é como solvente. A presença do mesmo é controlada no ar, solo e na água para consumo humano. Os materiais 1 e 2 são misturas ou substâncias? Justificar a resposta. Fonte: SANTOS e MOL (2010). Química cidadão-adaptado 2. Foram separados no laboratório, em determinadas condições, dois materiais com as seguintes propriedades. Propriedades físicas dos materiais Material Temperatura fusão 0 1 0 C 0 2 -117 C de Temperatura ebulição 0 100 C 0 78,3 C de Densidade 3 1,0 g/cm 3 0,79 g/cm Consultando a tabela de propriedades físicas das substâncias, em livros de Química, verificou-se que o material 2 se tratava de álcool etílico. Os materiais 1 e 2 são substâncias ou misturas? Justificar a resposta. Fonte: SANTOS e MOL (2010). Química cidadão-adaptado 3. O cloreto de sódio, ou sal de cozinha tem sempre uma composição de 39,3% de sódio e 60,7% 0 de cloro e em determinadas condições, temperatura de fusão igual a 801 C e temperatura de 0 ebulição de 1465 C. Ele não conduz a eletricidade no estado sólido; dissolve-se em água, produzindo uma solução que conduz a eletricidade. Passando uma corrente elétrica através de cloreto de sódio fundido, produzem-se sódio e cloro, os quais não podem ser decompostos em outros materiais mais simples. Os materiais cloreto de sódio, sódio e cloro são substâncias simples, substâncias compostas ou Quadro misturas?5a: Modelo do Segundo Questionário Posterior 46 Justificar a resposta Fontes: HEIN e ARENA(1998). Fundamentos de Química Geral(adaptado) 4. (UFSM-RS-adaptado). O amianto comercial, conhecido também como asbesto, é um material de origem mineral, constituído por fibras incombustíveis. É empregado como matériaprima na fabricação de materiais isolantes usados na construção civil, como o fibrocimento. O uso dessas fibras vem tendo uma queda desde a década de 60, quando estudos confirmaram os efeitos cancerígenos desse material, principalmente sobre o aparelho respiratório. Indique se o amianto comercial, cimento e o fibrocimento são substâncias ou misturas. Justificar a resposta. 5. Classifique cada um dos Quadro seguintes substância simples, substância composta 6: materiais Modelo docomo segundo Questionário Posterior ou mistura: a) Aço comum b) Aço inoxidável c) Ferro d) Concreto e) Bronze f) Grafite g) Esgoto Doméstico h) GLP i) Ozônio j) Amônia k) Chumbo l) Sangue m) Petróleo Quadro 6: Modelo do segundo Questionário Posterior. Justificar a resposta. Quadro 5b: Questões aplicadas Quadro 5b: Modelo do Segundo Questionário Posterior 47 5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 5.1 Análises Preliminares Os resultados iniciais da pesquisa cobrem as ideias espontâneas dos alunos, sobre o tema: “substância”, mostrando que existem diferenças entre suas respostas, mas evidenciam que ao relacioná-las com o modo científico de se trabalhar as ideias, tomam uma proporção de diferença bem maior. Essas diferenças possivelmente possam ser explicadas pelos diferentes perfis socioeconômico de cada turma mostrados nas tabelas construídas com base nos dados da CPA descritas no capítulo da metodologia. De acordo com as teorias de Vygotsky, cada indivíduo apresenta uma forma de relacionar as palavras ao pensamento, pois, cada um fornece um significado diferente para cada coisa, mas ele menciona que a troca desses pensamentos com o grupo, geram novas significações e consequentemente novos pensamentos, ressaltando que o pensamento se modifica ao longo da vida do indivíduo. Com relação aos resultados da aplicação do questionário prévio, com o levantamento das ideias espontâneas, com relação às justificativas das respostas quanto à classificação dos materiais, os alunos evidenciaram na maioria deles, somente o recurso referente ao número de elementos existentes, pois identificaram substância como sendo somente um elemento e os mesmos presentes na natureza. Já mistura, como sendo composta de dois ou mais elementos e fabricados. O que mostra uma incoerência nas próprias observações, pois, muitos indicavam a água como substância e não mistura, porém a água contém H e O, o que é de conhecimento geral de todos. Somente dois alunos dos 37 participantes da pesquisa, mencionaram sua composição, isso garante 8% com uma ideia de propriedades relativa à definição. Após a análise dos questionários respondidos pelos alunos, referentes às justificativas das escolhas, separamos as concepções em quatro categorias: Substância estaria ligado a materiais que se encontravam no estado natural, ou seja, na natureza; 48 Substância estaria ligado a um único elemento químico; Mistura estaria relacionado a produtos fabricados, não sendo portanto encontradas na natureza; e Substância estaria relacionado a propriedades físicas, ou seja, não variavam quando a pressão e temperatura fossem constantes. Um resultado semelhante foi observado por Costa (2004). Essa autora classificou as concepções de seus alunos em duas categorias: Substância associada a origem natural; Substância associada a algo formado por uma coisa só. Com relação à mistura, a autora ainda relata que foi associado somente a uma categoria: a algo formado por ‘mais de uma coisa’. Os estudantes que compunham a amostra do trabalho de Costa (2004), vinham na maioria de Ensino Fundamental de escolas públicas, eram alunos com idade entre 15 a 17 anos, estudantes do curso do primeiro ano de habilitação ao magistério de uma escola pública no interior do Estado de São Paulo. Quanto aos dados socioeconômicos, os alunos do nosso estudo também na maioria provém de ensino médio realizados em escolas públicas. Com relação às respostas, no nosso estudo, com exceção de um aluno da amostra que relacionou ‘substância’ a algo que apresenta propriedades químicas constantes a uma dada temperatura e pressão, os demais apresentaram pouca variação, porém ainda observa-se entre os questionários a identificação de elemento químico e origem natural das coisas, respostas bem semelhantes as encontradas por Costa (2004). 5.1.1 Análises dos resultados dos alunos do curso de Engenharia Civil Conforme análise dos questionários da turma de 2º período de Engenharia Civil, os resultados apontados no gráfico 1 mostram as concepções inicial que os alunos têm sobre os conceitos de ‘substância’ e ‘mistura’. 49 Gráfico 1: Relação aos conceitos prévios sobre substância e mistura dos alunos do curso de Engenharia Civil. Pode-se observar nesse gráfico que os alunos apresentam alguns equívocos, pois mesmo aqueles que associavam o conceito de ‘substância’ a um elemento químico (43% dos respondentes), acabam entrando em contradição, pois, quase 90% apontou a água como substância, mesmo possuindo dois elementos. É possível entender que apesar de vários alunos afirmarem corretamente que a água é uma substância, e sabendo que é composta por 2 átomos de hidrogênio e 1 de oxigênio deram justificativa de substância erroneamente, foi uma resposta de senso comum, sem uma reflexão, ou vícios adquiridos pela trajetória acadêmica, uma vez que de maneira geral, a maioria dos alunos provém de um ensino médio em escolas públicas e é sabido que muitas escolas públicas apresentam diversas deficiências em relação à disciplina de química, devido à falta de profissionais nesta área, muitos saem das escolas com uma séria falta de conteúdo básico, dificultando o papel do professor do ensino superior. 50 O gráfico 2 mostra quatro categorias utilizadas pelos alunos de Engenharia Civil, para justificar suas respostas em relação aos conceitos de ‘substância’ e ‘mistura’. Não tem variação com temperatura e pressão 3% Estado natural 25% Produto fabricado 29% Ligado ao elemento químico 43% Estado natural Ligado ao elemento químico Produto fabricado Não tem variação com temperatura e pressão Gráfico 2: Categorização das justificativas dos alunos do curso de Engenharia Civil. 5.1.2 Análises dos resultados dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária Fazendo o mesmo processo, com relação aos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, foi aplicado o mesmo questionário e os resultados estão apresentadas no gráfico 3. 51 Gráfico 3: Relação aos conceitos prévios sobre substância e mistura dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária. Observa-se a partir do gráfico 3, que esses alunos apresentaram os mesmos equívocos encontrados na turma de Engenharia Civil. O percentual de alunos que relacionam substância como sendo o material que contém um único elemento químico e mistura como sendo o material com mais de um elemento, estão apresentados no gráfico 4. [NOME DA CATEGORIA] [PORCENTAGEM] Estado natural 33% Ligado ao elemento químico 56% Estado natural Ligado ao elemento químico Produto fabricado Não tem variação com temperatura e pressão Gráfico 4: Categorização das justificativas dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária. 52 De acordo com o gráfico 4, vê-se que a identificação da água como substância, apesar das diferenças entre as turmas, foi como na Engenharia Civil, identificando substância como tendo um elemento, um percentual ainda maior. 5.2 Desenvolvimento da Sequência Didática Na semana seguinte, a professora iniciou a sequência didática e trabalhou 4 aulas (4h-aula). Com relação a esta segunda parte, os educandos discutiram em grupos suas ideias iniciais e após pesquisarem em livros, revistas técnicas, artigos e Internet na biblioteca da instituição, montaram estratégias para chegarem a uma nova definição para os conceitos estudados. Nesta etapa, foi verificado que os materiais consultados serviram de estímulo para que novas informações contrapôs-se com as já existentes, gerando o desconforto da tormenta de ideias, causando uma desejada tormenta mental. A escolha da atividade em grupo foi pensada nas interações socioculturais dos participantes, pois de acordo com Vygotsky (2008), além do professor como provocador e motivador, alguns alunos se destacam, devido às experiências anteriores que possuem, auxiliando o professor, ocupando o papel de mediadores, ajudando os demais integrantes do grupo. Enquanto os alunos pesquisavam as definições levantadas na aula anterior, a professora circulava entre as mesas e ouvia os comentários: “Nossa, errei no exercício da semana passada” “Professora, podemos refazer o questionário?” “Nossa! Acertei a maioria dos materiais, que bom sou fera”. Os integrantes dos grupos foram fazendo anotações para prepararem o debate da próxima aula. Ainda no mesmo dia, na sala de aula, foi realizada uma atividade prática demonstrativa. Com relação à sequência desenvolvida, observamos três etapas: Seção Início (contextualização da química na vida pessoal e profissional do profissional da engenharia e aplicação do questionário prévio), Seção Desenvolvimento (atividade 53 de pesquisa na biblioteca, atividade prática demonstrativa e a discussão em grupo) e Seção Encerramento (aplicação dos questionários posteriores). O tempo entre estas seções foram do primeiro dia de aula com a aplicação do primeiro questionário para a antepenúltima aula do semestre, o que forneceu 4 meses de distância entre os questionários mais 6 meses até a aplicação do segundo questionário posterior. Garantindo 10 meses da primeira para última aplicação. Após o intervalo, a aula foi iniciada com a atividade demonstrativa adaptada de Sanjuan (2010), com o objetivo de desenvolver a elaboração conceitual de átomos, moléculas, elemento químico e substância, utilizando clipes como modelo de partícula. Com esta atividade, os alunos foram apontando suas observações e assim os conceitos foram reforçados em um processo de elaboração conceitual remodelando os conceitos de elemento químico. Durante a aplicação da parte prática demonstrativa, pôde-se observar que mesmo gerando brincadeiras no início, pois tratava-se de uma atividade lúdica, aparentemente infantil, da montagem dos conjuntos de clipes, foi tomando outra proporção ao longo de seu desenvolvimento e questões com relação as associações do conceito de elemento, átomo, substância e mistura foram facilmente relacionadas aos clipes, facilitando a compreensão. Mais uma vez, foi constatado que o trabalho desenvolvido na sala toda como um único grupo, facilitou a demonstração, pois os alunos mediadores auxiliaram a atividade e a interação com os demais, destacando que o ser humano é um indivíduo social e interage com facilidade com seus pares, facilitando a aprendizagem, questão destacada por Vygotsky (2008). Na semana seguinte, iniciou-se uma discussão a respeito dos conceitos, confrontando a concepção prévia de ‘substância’ e ‘mistura’ e as novas adquiridas após realizarem pesquisas na biblioteca, entraram em contato com as ideias de outros autores e participaram da prática demonstrativa com os clipes, ou seja, partindo da Zona atual – real de conhecimento, para a zona desejada de conhecimento, conhecida como ZDP na teoria de Vygotsky, já abordada no capítulo 2. 54 Durante todas essas etapas foram solicitadas anotações das informações colhidas e das dúvidas encontradas, para servirem de argumentos na discussão sobre os conceitos fundamentais da química, em estudo. À medida que a discussão ocorria, os alunos eram instigados a relatarem suas observações. Algumas falas dos alunos foram anotadas e transcritas para esta dissertação. “Elemento é formado por vários átomos iguais”. “Elemento é um conjunto de átomos”. “Substância é um conjunto de moléculas”. “Substância é um conjunto de moléculas formadas por átomos iguais ou diferentes”. Essas ponderações foram todas realizadas no coletivo e tentamos construir novas definições que abarcassem o maior número de colocações, dúvidas e divergências que surgiram. A cada nova observação, a professora anotava na lousa e refazendo o texto conforme apareciam os pontos, até chegarem no conceito que todos os alunos acreditaram ser o que melhor definiam os temas em estudo. Ressalta-se que o objetivo deste experimento foi obter do aluno o conceito que ele tinha sobre os conhecimentos a respeito de: elementos, substância e mistura. Notou-se que os alunos não tinham uma formação conceitual correta o que evidenciava respostas erradas ou incompletas sobre os conceitos testados, porém a atividade não tinha o objetivo de obter respostas perfeitas, mas obter a parametrização dos conceitos internalizados pelos alunos, para em momento posterior, em sala de aula, serem trabalhados, evitando falhas na aprendizagem. O resultado final da construção coletiva, naquele momento, sobre os conceitos foram anotados no caderno de notas para constarem como relatos nessa dissertação. “Elemento Químico: Um tipo particular de átomos, com algumas características específicas.” “Substância: Qualquer material que apresente propriedades definidas e pouco variáveis em determinadas condições, geralmente a mesma pressão e temperatura “. 55 “Mistura: “Qualquer material constituídos por mais de uma substância e com propriedades variáveis dependendo de cada amostra mesmo mantendo a mesma pressão e temperatura”. Cabe aqui ressaltar que para realizar esta construção foi necessário também trabalhar o conceito de ‘materiais’ como sendo tudo aquilo que o homem utiliza na vida e na indústria, pois seria muito difícil trabalhar o conceito de ‘substância’ sem que esse tema fosse consolidado. Mais uma vez, pensando em Vygotsky, a reconstrução dos conceitos feita no coletivo foi importante, pois, ao estarem todos juntos, com um foco único, fez com que os alunos mais experientes, com mais domínio do assunto, e que já se encontravam em um nível real superior, ajudassem os demais a alcançarem a ZDP proposta e transformarem-na na nova Zona Real. É importante ressaltar que o “outro” nessa situação auxiliou a docente a atingir as metas desejadas, servindo também como mediadores conforme descrito por Bruner (1961) na introdução do livro ‘Pensamento e Linguagem’, Vygotsky (2008) “... Seu ponto de vista é o da atividade mediadora. Os conceitos e a linguagem que infunde dão força e estratégia à atividade cognitiva. A capacidade de impor estruturas superiores no interesse de ver as coisas de modo mais simples é tida como um dos poderosos instrumentos da inteligência humana. (VYGOTSKY, 2008, p. 12) Para finalizar a sequência, as duas turmas responderam novamente o questionário e os resultados apresentaram significativas diferenças em relação à assertividade das respostas em comparação com as ideias iniciais apontadas no primeiro questionário, cerca de 80% das questões foram respondidas corretamente na turma de Engenharia Civil e na Engenharia Ambiental e Sanitária, esse número foi ainda maior, cerca de 90%, o que leva a pensar que quanto mais tempo para atividades práticas, ao invés de somente a parte teórica, ganha-se ao final do trabalho, com o rendimento dos alunos. 56 5.3 Análise dos resultados do questionário após aplicação da sequência didática Na gráfico 5, a turma de 2º período de Engenharia Civil, agora com 22 alunos respondentes, ficaram evidenciadas algumas alterações conceituais importantes. Novos materiais foram trabalhados e somente dois se repetiram (água e o ferro), o número de questionário aplicados diminuiu, pois alguns alunos do início do semestre já tinham trancado sua matrícula ou não compareceram no dia do questionário final. Gráfico 5: Resultados da classificação de substância e mistura referentes à aplicação do 1º Questionário Posterior dos alunos do curso de Engenharia Civil. A confusão inicial feita em relação à água, sobre a definição de substância e mistura, já não acontece mais nesta etapa, o resultado pode ser evidenciado pelo gráfico 6, que avalia as evoluções do conceito inicial em que houve alteração dos conceitos iniciais e que a ZDP foi alcançada e transformada em nova zona real. Outro aspecto a ser apontado é o conceito de mistura verificado nos materiais: petróleo, álcool hidratado e ar atmosférico. Algumas confusões ainda com relação à substância composta e mistura, conceitos estes que deverão ainda ser melhorados com novos estudos para aplicações de outras sequências didáticas para novas turmas, pois o processo de ensino-aprendizagem é muito complexo, devendo o professor estar sempre atento aos sinais que indicam dificuldades. 57 O gráfico 6 apresenta os resultados da Turma de 2º período de Engenharia Ambiental, agora com 8 alunos presentes em relação às suas respostas sobre substância e mistura realizadas na aplicação do primeiro questionário posterior à sequência didática. Gráfico 6: Resultados da classificação de substância e misturas referentes à aplicação do 1º Questionário Posterior dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária. Também nesta turma houve menor redução no número de estudantes, neste caso, somente um aluno fez o trancamento da matrícula. Pode-se observar, nesse gráfico, pontos em comum como os encontrados na turma de Engenharia Civil, com relação ao conceito de substância e mistura. Por exemplo em relação à água, também não acontece mais a sua associação ao conceito de mistura, somente à substância composta. Por outro lado, pode-se apontar equívocos com relação à substância composta e mistura, como no caso do GLP, em que alguns estudantes associaram à substância composta e não uma mistura de hidrocarbonetos, entretanto, esses enganos aconteceram em menor porcentagem que na turma de Engenharia Civil. Por fim, o processo pareceu ter contribuído para evolução conceitual dos futuros engenheiros, favorecendo a existência de modelos mais próximos dos estabelecidos pela comunidade científica. 58 5.4 Análise dos resultados do 2º Questionário Posterior aplicado Após um espaço de 10 meses da aplicação da sequência didática, utilizado para verificação dos conhecimentos prévios dos alunos, foi aplicado um novo questionário (Quadro 5), só que dessa vez com questões significativamente contextualizadas, que exigiram uma dedicação maior de 10 alunos da Engenharia Civil e 5 alunos da Engenharia Ambiental e Sanitária. Realizou-se também uma discussão, a qual foi gravada e foi analisada para compor parte dessa dissertação. Analisando as respostas dos alunos do curso de Engenharia Civil referentes à primeira questão, pode-se observar no quadro 6: ALUNO SUBSTÂNCIA 1 1e2 2 2 3 1e2 4 2 5 1e2 6 2 7 MISTURA CATEGORIA REAÇÃO 1 ELEMENTOS QUÍMICOS COMPOSIÇÃO 1 ELEMENTOS QUÍMICOS PROPRIEDADES FÍSICAS 1 ELEMENTOS QUÍMICOS 1e2 NATUREZA 8 1e2 PROPRIEDADES FÍSICAS 9 2 1 ELEMENTOS QUÍMICOS 10 2 1 PROPRIEDADES FÍSICAS Quadro 6: Tabulação da 1ª questão do 2º Questionário Posterior dos alunos do curso de Engenharia Civil. Observa-se, nesse quadro, que os alunos mantiveram algumas categorias encontradas no questionário prévio, mas surgiram diferenças em relação as propriedades e composição dos materiais, em que relacionavam o conceito de ‘substância’ e ‘mistura’ em: Reações Químicas, Composição, Propriedades Física, Elementos Químicos e A natureza – produtos naturais. O gráfico 7 mostra a porcentagem de alunos e as categorias usadas como justificativa das respostas sobre substâncias e misturas. 59 Natureza 10% Reação 10% Propriedades Físicas 30% Elementos Químicos 40% Composição 10% Reação Elementos Químicos Composição Propriedades Físicas Natureza Gráfico 7: Categorias encontradas na análise dos dados dos alunos do curso de Engenharia Civil. Nesta nova análise, observam-se alterações nas categorias, conforme gráfico 7. Um aluno dessa amostra, ou seja, 10% introduziu o conceito de reação, ao falar que os materiais 1 e 2 são substâncias pois não apresentam reações químicas, ainda se nota que 40% da amostra (4 alunos) associam substâncias a composições químicas e propriedades físicas, mas ainda restam 4 alunos, que correspondem a 40%, associando substância à quantidade de elementos químicos, o que nos permite concluir que após 10 meses de aplicação da sequência didática, ainda continuam com ideias errôneas com relação aos conceitos. Mas se as respostas fornecidas no questionário prévio forem verificadas, em que somente 2% da amostra associou substância corretamente, houve uma evolução significativa do conceito em relação a aplicação do primeiro questionário posterior, ressaltando o tempo entre a aplicação dos mesmos, pois tivemos 6 meses entre eles na tentativa de evitarmos uma aprendizagem mecânica. Ao aplicar o questionário na turma de Engenharia Ambiental e Sanitária, observou-se a semelhança das escolhas quando comparadas à pesquisa aplicada para a turma de Engenharia Civil, com relação às categorias indicadas na 1ª questão, conforme mostra no quadro 7. 60 ALUNO SUBSTÂNCIA MISTURA CATEGORIA 1 1E2 2 2 1 PROPRIEDADES FÍSICAS 3 2 1 PROPRIEDADES FÍSICAS 4 2 1 PROPRIEDADES FÍSICAS 5 1E2 COMPOSIÇÃO COMPOSIÇÃO Quadro 7: Tabulação da 1ª questão do 2º questionário posterior aplicados aos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária. Entretanto, percebe-se que os alunos apresentaram como justificativa para as definições conceituais, somente duas categorias: composição e propriedades físicas da matéria, conforme mostrado mais detalhadamente no gráfico 9, que dividem em duas categorias, deixando de lado a concepção inicial, em que relacionavam a materiais encontrados na natureza e a quantidade de elementos encontradas na formulação. Composição 40% Propriedades físicas 60% Composição Propriedades físicas Gráfico 8: Categorias encontradas na análise dos dados dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária referentes à 1ª questão. Portanto, para esse grupo de alunos observou-se que houve uma alteração total dos conceitos prévios. 61 Com relação à segunda questão, o quadro 8 mostra que os alunos de Engenharia Civil escolheram três categorias para justificar suas respostas. ALUNO SUBSTÂNCIA MISTURA 1 1e2 COMPOSIÇÃO 2 1e2 ELEMENTOS QUÍMICOS 3 1e2 ELEMENTOS QUÍMICOS 4 1e2 ELEMENTOS QUÍMICOS 5 CATEGORIA 1e2 PROPRIEDADES FÍSICAS 6 2 1 ELEMENTOS QUÍMICOS 7 2 1 OUTRAS 8 1e2 PROPRIEDADES FÍSICAS 9 1e2 ELEMENTOS QUÍMICOS 10 1e2 PROPRIEDADES FÍSICAS Quadro 8: Tabulação da 2ª questão do 2º Questionário Posterior dos alunos do curso de Engenharia Civil. A seguir, no gráfico 9, são apresentadas as categorias apontadas pelos alunos da Engenharia Civil com relação à 2ª questão. Propriedades físicas 30% Composição 10% Outros Elementos Químicos Outros 10% Elementos Químicos 50% Composição Propriedades físicas Gráfico 9: Categorias encontradas na análise dos dados dos alunos do curso de Engenharia Civil referentes à 2ª questão. 62 Nesta questão, pode-se ainda verificar que 50% dos alunos mantiveram a associação do conceito ‘substância’ à quantidade de elementos químicos, porém 50% já conseguiu pensar em composição e propriedades físicas. A mesma análise foi feita com as respostas dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária e as considerações apontadas no quadro 9. ALUNO SUBSTÂNCIA MISTURA CATEGORIA 1 1e2 COMPOSIÇÃO 2 1e2 PROPRIEDADES FÍSICAS 3 1e2 OUTRAS 4 1e2 PROPRIEDADES FÍSICAS 5 1e2 COMPOSIÇÃO Quadro 9: Tabulação da 2ª questão do 2º Questionário Posterior dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária. Com relação às categorias encontradas nessa análise, vê-se mais uma vez que a esses alunos de Engenharia Ambiental e Sanitária, isto é, 100% dos alunos já associam ‘substância’ às suas composições e propriedades físicas, mostrando que compreenderam seus conceitos. Ainda em relação à Engenharia Ambiental e Sanitária e a escolha das categorias com relação à 2ª questão, pode-se ver no gráfico 10 que 80% dos estudantes justificam a escolha das categorias em composição e propriedades físicas da matéria. 63 Outros 20% Propriedades físicas 40% Composição 40% Outros Composição Propriedades físicas Gráfico 10: Categorias encontradas na análise dos dados dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária referentes à 2ª questão. Já na terceira questão, é citado um sal de conhecimento geral de todos (sal de cozinha) e mais uma vez foi solicitado o conceito de substância, mas dessa vez foi incorporado o conceito de ‘substância simples e substância composta’. O quadro 10 mostra quase uma unanimidade pela escolha da categoria ‘elemento químico’ como sendo a justificativa apontada para as definições, somente um dos alunos não deixou claro sua fundamentação, apontando NaCl como uma mistura, o que mostra que neste caso não houve alteração do conceito inicial, mas voltando aos demais alunos, nenhum associou o conceito de ‘substância’ a somente um elemento e mistura à junção de 2 ou mais elementos, o que nos mostra uma alteração na conceituação. SUBSTÂNCIA SIMPLES SUBSTÂNCIA COMPOSTA 1 Na e Cl NaCl ELEMENTOS QUÍMICOS 2 Na e Cl NaCl ELEMENTOS QUÍMICOS 3 Na e Cl NaCl ELEMENTOS QUÍMICOS 4 Na e Cl NaCl ELEMENTOS QUÍMICOS 5 Na e Cl NaCl ELEMENTOS QUÍMICOS 6 Na e Cl NaCl ELEMENTOS QUÍMICOS 7 Na e Cl ALUNO MISTURA NaCl CATEGORIA REAÇÃO QUÍMICA 64 8 Na e Cl NaCl ELEMENTOS QUÍMICOS 9 Na e Cl NaCl ELEMENTOS QUÍMICOS 10 Na e Cl NaCl ELEMENTOS QUÍMICOS Quadro 10: Tabulação da 3ª questão do 2º Questionário Posterior dos alunos do curso de Engenharia Civil. Já no caso dos alunos da Engenharia Ambiental e Sanitária, a justificativa apontada por todos para subsidiar o conceito de ‘substância’ foi a de ‘elemento químico’, conforme mostrado no quadro 11, porém neste caso a fundamentação foi feita em função da tabela periódica e o conceito de elemento e não no conceito de substância sendo aquela que apresenta 1 elemento e mistura dois ou mais, conforme quadro a seguir: ALUNO SUBST. SIMPLES SUBST. COMPOSTA MISTURA CATEGORIA 1 Na e Cl NaCl ELEMENTOS QUÍMICOS 2 Na e Cl NaCl ELEMENTOS QUÍMICOS 3 Na e Cl NaCl ELEMENTOS QUÍMICOS 4 Na e Cl NaCl ELEMENTOS QUÍMICOS 5 Na e Cl NaCl ELEMENTOS QUÍMICOS Quadro 11: Tabulação da 3ª questão do 2º Questionário Posterior dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária. Com relação à 4ª questão, o quadro 12 apresenta os resultados obtidos pelos alunos de Engenharia Civil, mostrando novamente o conceito de diferenciação entre ‘substância simples’ e ‘substância composta’, o mesmo retrato da questão anterior foi verificado, o conceito de ‘substância’ está intimamente ligado a ‘elemento químico’. AMIANTO COMERCIAL CIMENTO FIBROCIMENTO CATEGORIA 1 SUBSTÂNCIA SUBSTÂNCIA SUBSTÂNCIA REAÇÃO 2 MISTURA MISTURA MISTURA ELEMENTOS ALUNO 65 QUÍMICOS 3 MISTURA MISTURA MISTURA ELEMENTOS QUÍMICOS 4 SUBSTÂNCIA COMPOSTA MISTURA MISTURA ELEMENTOS QUÍMICOS 5 SUBSTÂNCIA MISTURA MISTURA ELEMENTOS QUÍMICOS 6 SUBSTÂNCIA MISTURA MISTURA ELEMENTOS QUÍMICOS 7 SUBSTÂNCIA MISTURA MISTURA ELEMENTOS QUÍMICOS 8 SUBSTÂNCIA SUBSTÂNCIA SUBSTÂNCIA ELEMENTOS QUÍMICOS 9 MISTURA MISTURA MISTURA ELEMENTOS QUÍMICOS 10 SUBSTÂNCIA COMPOSTA MISTURA MISTURA ELEMENTOS QUÍMICOS Quadro 12: Tabulação da 4ª questão do 2º Questionário Posterior dos alunos do curso de Engenharia Civil. O mesmo se repetiu para os alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da amostra, 100% deles relacionam os conceitos de ‘substância’ e ‘mistura’ a ‘elementos químicos’, como pode ser observado no quadro 13. AMIANTO COMERCIAL CIMENTO FIBROCIMENTO CATEGORIA 1 MISTURA MISTURA MISTURA ELEMENTOS QUÍMICOS 2 SUBSTÂNCIA COMPOSTA MISTURA MISTURA ELEMENTOS QUÍMICOS 3 SUBSTÂNCIA MISTURA MISTURA ELEMENTOS QUÍMICOS 4 SUBSTÂNCIA COMPOSTA MISTURA MISTURA ELEMENTOS QUÍMICOS 5 MISTURA MISTURA MISTURA ELEMENTOS QUÍMICOS ALUNO Quadro 13: Tabulação da 4ª questão do 2º Questionário Posterior dos alunos de Engenharia Ambiental e Sanitária. 66 Observando estas respostas, verificou-se que a maioria dos erros na classificação se deram pelo desconhecimento do material Amianto, pois somente 3 alunos da Engenharia Civil (30%) associaram corretamente, no caso da Engenharia Ambiental e Sanitária somente 2 alunos dos 5 responderam corretamente. Apesar do equívoco, observamos o interesse dos alunos que desconheciam o que seria amianto, em perguntar sobre o material. Porém, o mineral é encontrado na natureza basicamente na forma de silicato de magnésio, mas contém outros materiais como impureza o que caracterizar como uma mistura. O quadro 14 mostra os resultados das respostas dadas pelos alunos que compunham o curso de Engenharia Civil, referentes à 5ª questão, apresentada no quadro 5b. AÇO COMUM SUBSTÃNCIA SIMPLES SUBSTÃNCIA COMPOSTA MISTURA % ACERTOS 1 6 3 30 6 4 40 AÇO INOXIDÁVEL FERRO 10 100 CONCRETO 10 100 BRONZE 5 5 0 GRAFITE 4 6 40 ESGOTO DOMÉSTICO 10 100 3 30 GLP 1 6 OZÔNIO 1 9 10 AMÔNIA 2 8 80 CHUMBO 10 SANGUE PETRÓLEO 1 100 4 6 60 7 2 20 Quadro 14: Tabulação da 5ª questão do 2º Questionário Posterior dos alunos do curso de Engenharia Civil. 67 Analisando os acertos, pode-se observar uma média de 71% do resultado encontrado anteriormente (cerca de 80%), mas percebe-se deficiência na identificação das ligas metálicas, em que há somente 23% de acerto, sendo a liga de bronze o pior caso com nenhum acerto. Outro ponto importante a ser considerado foi que persiste a confusão entre substância simples e substância composta e mistura, mas trata-se de um resultado satisfatório considerando o fator tempo entre o preenchimento dos questionários pelos alunos. No caso dos alunos de Engenharia Ambiental e Sanitária, o quadro 15 apresenta resultados diferentes dos encontrados no gráfico referentes aos alunos de Engenharia Civil, conforme vemos a seguir: AÇO COMUM SUBSTÂNCIA SIMPLES SUBSTÂNCIA COMPOSTA MISTURA % ACERTOS 2 1 2 40 1 4 80 AÇO INOXIDÁVEL FERRO 5 100 CONCRETO BRONZE 3 GRAFITE 5 1 5 100 1 20 100 ESGOTO DOMÉSTICO 5 100 GLP 5 100 OZÔNIO 5 AMÔNIA CHUMBO 100 5 5 100 SANGUE PETRÓLEO 100 1 5 100 4 80 Quadro 15: Tabulação da 5ª questão do 2º Questionário Posterior dos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária. 68 Para esta turma, pode-se observar uma média de 86% de acertos, o que está próximo do resultado encontrado anteriormente, cerca de 90% e, diferente da turma de Engenharia Civil, os resultados não apresentaram uma discrepância em relação a um dos materiais, somente as ligas de bronze e aço tiveram um número de acertos bem abaixo do esperado, devido ao fato de serem tão conhecidas no mercado, pois tem grande uso nos dois campos de atuação. Após um semestre, os alunos se dispuseram a realizar novamente a pesquisa e que muitos conceitos foram mantidos. Outro fator que deve ser ressaltado é que passados 10 meses entre a aplicação do questionário prévio e a aplicação do 2º questionário posterior, pode-se notar a evolução dos acertos encontrados: Engenharia Civil de 63% acertos no questionário prévio, para 71% de acerto após aplicação da sequência didática; Engenharia Ambiental e Sanitária de 52% acertos no questionário prévio, para 86% de acerto após aplicação da sequência didática. Pode-se observar que 11% de evolução na turma de Engenharia Civil, mas nos alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária a evolução chegou em 34%, um número bastante significativo. Comparando o perfil de alunos dos dois cursos verificou-se que o curso de Engenharia Civil possui alunos com maior faixa etária e de um poder aquisitivo menor, está dividido pela metade entre homens e mulheres e tem alunos que vieram de diferentes escolas, mas predominantemente escola pública. Já o aluno do curso de ambiental é mais jovem, predominância do sexo feminino, e com poder aquisitivo maior, mas em relação à escola que cursaram o ensino médio também existe uma predominância da escola pública. Acredita-se que as diferenças existentes entre as duas turmas possa ser um ponto importante para justificar a diferença nos resultados obtidos por ambas as turmas. 69 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O processo de ensino-aprendizagem, como descrito neste trabalho, mostra ser bem complexo, em particular na mudança conceitual dos alunos, em que o professor ocupa uma posição mediadora, direcionando-os e motivando-os durante este processo. Existem diversas abordagens que poderiam ser feitas no auxílio do alcance aos objetivos formulados nesta dissertação, na tentativa de identificar as concepções dos estudantes de engenharia sobre o conceito de substância e na evolução do mesmo a partir da aplicação de uma sequência didática. Dentre as diversas possibilidades, apoiadas nas teorias do processo de ensino-aprendizagem, foram escolhidas aquelas relacionadas à teoria sociocultural de Vygotsky, em que se fez um reconhecimento prévio das informações dos alunos, para verificação do estágio real em que se encontravam – para que no decorrer das atividades fossem criadas diversas ideias que poderiam gerar instrumentos de transformação para passar do degrau atual para a ZDP e transformá-la na nova zona atual de conhecimento. Isso só foi possível porque existe mais de um ator no processo da construção desses conceitos, pois, além do professor, existe outro elemento mediador, alguns alunos se destacaram, ajudando os demais no alcance das metas. Nesse processo, a palavra foi o ponto principal de contato social e fundamental para a formação de novos conceitos. Ao término da sequência e análise dos dados obtidos, notou-se que os resultados alcançados só foram possíveis porque em sala de aula existem diversos atores, cada um com uma história de vida como ser social e com experiências e conhecimentos diversos. Quando são direcionados a buscarem conceitos fundamentais da Química e trocarem entre si informações e experiências, poderão alicerçar a base para o andamento da disciplina, contribuindo para as futuras disciplinas que necessitam dessa base e que virão ao longo do curso. De forma geral, trabalhar com o conhecimento dos conceitos abordados desde a antiguidade até os dias de hoje foi surpreendente, pois parecia algo cansativo e impróprio de ser abordado na disciplina de Química Geral em um curso de engenharia, porém a participação dos alunos mostrou que era pertinente esta 70 escolha, quebrando o primeiro paradigma, pois não foi observado, em momento algum, por nenhum dos alunos, aborrecimentos ou impaciência, pelo contrário, vários alunos fizeram essa reflexão quando pesquisaram e depois trouxeram-na para as discussões coletivas, podendo dizer que a noção dessa construção entendida como constituição de saberes determinada historicamente mostrou-se oportuna nessa premissa. Outro paradigma quebrado durante esta sequência foi a atividade lúdica da aquisição dos conceitos elementares, por meio da associação dos ‘clipes’, anteriormente à aplicação da mesma, não poderia pensar que o comportamento dos alunos diante da atividade aparentemente “infantil” pudesse motivá-los a seguir em frente e participarem com entusiasmo, como pôde ser constatado posteriormente. A aplicação do segundo questionário posterior foi favorável, fornecendo um rico material que poderá ser desenvolvido após essa dissertação, em vistas que na área de ensino, a melhoria contínua é uma busca eterna. Mesmo com as observações diferentes do segundo questionário posterior aplicado em relação ao primeiro questionário posterior, com resultados um pouco inferiores em relação aos acertos, foi extremamente pertinente e gratificante, pois constatou-se que mesmo após um semestre os alunos estavam predispostos a prosseguir com a análise e, melhor ainda, saber que os resultados alcançados no final do semestre anterior não foram fixados por algum processo de memorização mecânica do conceito e sim de compreensão da importância do tema e da Química como uma ciência na formação do profissional de engenharia. Um fator que possibilitou fazer o levantamento dos dados relativos às informações socioeconômicas da amostra foi a facilidade no acesso aos documentos da instituição, pois conforme apontado no referencial teórico, Vygotsky se apoia em uma premissa sociocultural e seria muito difícil abordá-lo sem fazer menção aos aspectos sociais das amostras e fazer as análises encontradas nos resultados descritos no capítulo anterior. Como dito no início das considerações finais, o processo ensinoaprendizagem é bastante complexo e existem inúmeras variáveis que devem ser levadas em consideração, tais como: diferenças na quantidade de alunos em sala, 71 diferenças no percentual de mulheres, devido a maior concentração das mesmas durante as aulas, diferenças na faixa etária, tipo de escola onde cursou o ensino médio, identificação da professora com o curso de engenharia ambiental pelo fato de ser engenheira química e ter vivenciado mais os exemplos trabalhados e, por fim, o fato de alguns não trabalharem e possuírem mais tempo para estudarem os conteúdos trabalhados em sala de aula. De maneira geral, os alunos em questão são jovens, acabaram o Ensino Médio há pouco tempo, a maioria em escolas públicas, vêm de uma classe social variada e estudam no período da manhã, muitos não trabalham e alguns estão estagiando. A partir dessas pesquisas, foi possível observar uma evolução dos conceitos prévios dos alunos com relação à ‘substância’, mais próxima ao modelo científico, porém será necessário aprimorar mais as atividades realizadas ao longo do semestre, pois vários alunos ainda persistem em associar o conceito de substância e mistura à ‘quantidade de elementos químicos’ e sua origem em natural ou não natural, como pôde ser observado no caso da questão referente ao amianto comercial e de maneira geral nas ligas metálicas com destaque à liga de bronze. Deixa-se sugerida a relação “problema – observação – conclusão”, propondo dentre as atividades realizadas na sequência, a utilização de aulas de laboratórios, em que poderão ser levados diversos materiais com desenvolvimento de estudos e análises das suas composições e das propriedades físicas dos mesmos e pesquisas em outros materiais didáticos sobre as propriedades determinadas, ressaltando a importância de um ensino adequado, feito de maneira crítica e com ferramentas diversas que irão auxiliar professores e alunos na construção do conhecimento, a partir de uma abordagem empírico-analitica /atômico-molecular. Outra possibilidade de pesquisa futura é a análise das interações discursivas na mudança conceitual do conceito de substância e o aprimoramento dos padrões dialógicos utilizado numa abordagem vygotskyana. A mesma poderia contribuir para um melhor esclarecimento sobre as dificuldades que ainda apresentam os alunos depois da aplicação da sequência didática. 72 REFERÊNCIAS ALENCAR, T. L. et al. Química geral para engenharia civil: a busca de uma nova identidade. In: 32ª REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE QUÍMICA, 32, 2006, Ceará. Anais... Ceará: Universidade Federal do Ceará, 2006. BACCAN, N. et al. Introdução à semi micro análise qualitativa. 4. ed. Campinas: UNICAMP, 1991. BOGDAN, R. C.; BIKLEN, S. K. Qualitative research for education: an introduction to theories and methods. 4th ed. New York: Pearson Education group, 2003. BRODY, D. E.; BRODY, A. R. As sete maiores descobertas científicas da história. São Paulo: Editora Schawarcz, 2007. BROWN, T. L.; LE MAY Jr, H. E.; BURSTEN, B. E. Química: ciência central. Trad. H. Macedo. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1999. CELETI, F. R. Empirismo. Mídia Digital: mundo educação, p. 1, 2011. 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