MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL-MI
SECRETARIA ESPECIAL
SECRETARIA GERAL DA ORGANIZAÇÃO DOS
ESTADOS AMERICANOS
UNIDADE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
E MEIO AMBIENTE
SUDAM
OEA
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE – MMA
SECRETARIA DE COORDENAÇÃO DA AMAZÔNIA – SCA
PROGRAMA DE AÇÕES ESTRATÉGICAS PARA A AMAZÔNIA BRASILEIRA
PRODEAM
BELÉM
2002
MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL-MI
SUDAM
SECRETARIA GERAL DA ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS OEA
UNIDADE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MEIO AMBIENTE
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE – MMA
SECRETARIA DE COORDENAÇÃO DA AMAZÔNIA – SCA
PROGRAMA DE AÇÕES ESTRATÉGICAS PARA A AMAZÔNIA BRASILEIRA
PRODEAM
DESEMPENHO DA CADEIA PRODUTIVA DO DENDÊ NA
AMAZÔNIA LEGAL
Suzana Maria Valle Lima(1)
Antônio de Freitas Filho(2)
Antônio Maria Gomes de Castro(3)
Hermino Ramos de Souza(4)
Trabalho realizado no âmbito do Acordo de Cooperação Técnica SUDAM/OEA, mediante
contrato de consultoria com a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da Universidade
Federal de Pernambuco-FADE e cooperação técnica da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária-EMBRAPA
BELÉM
2002
(1) PhD em Sociologia das Organizações, Universidade de Wisconsin-Madison (EUA), Pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA)
(1) MSc em Economia Agroalimentar, Instituto Agronômico Mediterrâneo de Montpellier (França), Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA)
(3) PhD em Análise de Sistemas Agrícolas, Universidade de Reading (Inglaterra), Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA). E.mail [email protected]
(4) Mestre em Economia, Universidade de Wisconsin-Madison (EUA), Doutor em Economia, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e
Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL
JOSÉ LUCIANO BARBOSA DA SILVA
SECRETARIA DE INTEGRAÇÃO NACIONAL E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
JOSÉ ROBERTO BORGES DA ROCHA LEÃO - SECRETÁRIO
SUPERINTENDÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA- SUDAM (EXTINTA)
Alberto Canosa Filgueiras- Inventariante Extrajudicial
COORDENAÇÃO NACIONAL DO PRODEAM
ELIANA FRANÇA DOS SANTOS ZACCA - COORDENADORA
C. 1999
SUPERINTENDÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA – SUDAM (EXTINTA)
AV. ALMIRANTE BARROSO, 426
BELÉM – PARÁ – BRASIL
CEP: 66.090-900
HOME PAGE: www.sudam.gov.br
FUNDAÇÃO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO DA UFPE – FADE
RUA ACADÊMICO HÉLIO RAMOS, 336 – CIDADE UNIVERSITÁRIA
RECIFE – PERNAMBUCO – BRASIL
CEP: 50.740-530
FONE: (0XX-81) 3453-4646
SUDAM(extinta)/Fundação de Apoio ao
Desenvolvimento da UFPE. Desempenho da
Cadeia Produtiva do Dendê na Amazônia Legal.
Belém, 2002.
Os posicionamentos e opiniões contidos no
presente trabalho são de inteira responsabilidade dos
autores, não representando necessariamente a posição
institucional das organizações envolvidas.
Agradecimentos
Colaboraram com esse estudo, prestando ou recuperando valiosas
informações sobre a cadeia produtiva do dendê, na Amazônia Legal,
os seguintes especialistas:
Acilino do Carmo Canto, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio ExteriorSuperintendência da Zona Franca de Manaus-SUFRAMA
Alexandre Sanz Veiga, Diretor Presidente, DENPASA- Dendê do Pará S.A.
Antônio Agostinho Muller, Pesquisador, Embrapa Amazônia Oriental
Antônio Couto, Secretaria de Agricultura do Pará-SAGRI
Armando Yoso Sasaki, Banco do Brasil, Superintendência Estadual
Dinaldo Rodrigues Trindade, Pesquisador, Embrapa Amazônia Oriental
Dorremi Oliveira, Chefe Adjunto de Apoio Técnico, Embrapa Amazônia Ocidental
Edson Barcelos, Pesquisador, Embrapa, Amazônia Ocidental
Eugênio Arima, IMAZON-Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia
Francisco S. Mitraud, Diretor Operacional, Grupo AGROPALMA
Franz Josef Kaltner, PROMAK Tecnopalma, Indústrias Mecânicas Ltda.
Imar César de Araújo, Diretor do Departamento de Promoção de Investimentos, Ministério
do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Superintendência da Zona
Franca de Manaus-SUFRAMA
João Batista da Costa Vaz, Gerente. Grupo AGROPALMA
João Ferdinando Barreto, Pesquisador, Embrapa Amazônia Ocidental
José Furlan Júnior, Pesquisador, Embrapa Amazônia Oriental, PALMASA
Odilon Antônio S. Picanço,Secretário Municipal de Agricultura, Secretaria Municipal de
Agricultura de Belém
Rinaldo Ribeiro Moraes, Ministério da Integração Nacional,
Desenvolvimento da Amazônia
Rubens Cardoso da Silva, Diretor Técnico, EMATER-Pará
SUDAM-Sup.
do
Rudi Den Hartog, Assistente da Diretoria, Grupo AGROPALMA
Samuel Rodrigues Cardoso Neto, Gerente
Superintendência Estadual
Sandra Borges da Costa, Diretora, BANPARÁ
de
Negócios,
Banco
do
Brasil,
Soila Maria Brilhante de Sousa, Diretora Geral do Departamento do Setor Produtivo,
Ministério da Integração Nacional, SUDAM-Sup. do Desenvolvimento da Amazônia
Walter Cassiano Ferreira, Consultor Especial, Banco da Amazônia
Weber Medeiros de Souza, Diretor do Departamento de Análise e Acompanhamento de
Projetos Agropecuários, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior, Superintendência da Zona Franca de Manaus-SUFRAMA
Wigner Sander M. Rezende, Diretor, Caiaué Agroindustrial S.A.
APRESENTAÇÃO
O presente trabalho é uma iniciativa da extinta- Superintendência do
Desenvolvimento da Amazônia - SUDAM, realizado no âmbito do Acordo de Cooperação
Técnica SUDAM/OEA, em contrato de consultoria com a Fundação da Universidade
Federal do Pernambuco - FDE, contando ainda com a cooperação técnica da EMBRAPA e
do IPEA, e tem como objetivo aprofundar o conhecimento da cadeia produtiva do dendê, na
Amazônia Legal.
Desta forma, o referido estudo vem contemplar uma antiga preocupação da
SUDAM, em identificar e incentivar uma alternativa agrícola recomendável para a
Amazônia Legal, quando, em 1968, iniciou o primeiro cultivo planejado de dendê na
Amazônia, em projeto-piloto de 1500 hectares, no estado do Pará, a partir da qual o cultivo
do dendê pode ser difundido, em escala comercial, na Região.
Utilizando como técnicas de estudo, a revisão da informação secundária disponível
e o levantamento, processamento e síntese de informações primárias sobre o desempenho e
a competitividade dos componentes da cadeia produtiva e de seus competidores, foi
possível alcançar um resultado que permite subsidiar a avaliação do desempenho,
identificando os fatores críticos que a influenciam, bem como as restrições e facilidades a
elas impostas pelos ambientes institucional e organizacional.
Nesse sentido, observado o contexto atual, com a crescente participação do óleo de
palma no mercado mundial, ocupando o dendê a posição de segundo óleo vegetal mais
produzido no mundo, o estudo ora apresentado vem contribuir para a superação de fatores
impeditivos do máximo aproveitamento das oportunidades representadas pela cultura, na
Amazônia.
É com essa perspectiva, portanto, que a SUDAM traz a público o presente
documento, enaltecendo a sua importância para o desenvolvimento da cadeia produtiva do
dendê na Região.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
TABELAS
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
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17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
Principais etapas para a análise de demandas da cadeia produtiva de dendê na
Amazônia............................................................................................................
Produção, exportação, importação, consumo e estoques finais dos principais
tipos de óleos vegetais 1996-2000......................................................................
Variação percentual de indicadores de oferta e demanda dos principais óleos
vegetais, no mundo, no período 1996-2000 ...........................................................
Indicadores de oferta e demanda de óleo de palma e derivados, no Brasil, de
1992 a 1998 ............................................................................................................
Área, produção de óleo de palma e produtividade nos Estados do PA,AP,BA e
AM – 1992-99 ........................................................................................................
Produção (em toneladas de óleo de palma) por Estado e empresa, 1992-2000 .....
Área plantada, em hectares, por empresa e Estado, 1992-1999 .............................
Fornecedores de sementes para cada uma das empresas produtoras dendê ...........
Preços da unidade e semente de dendê, conforme tipo de semente e destino ,
praticados por dois dos maiores fornecedores .......................................................
Área e capital imobilizado em sementes, atualmente e em 2005 ...........................
Custos de fertilizantes para a área de produção atual e para previsões de
aumento da produção de óleo, em 2012 .................................................................
Nº de empregos diretos gerados, por estado produtor de dendê , situação atual e
prevista em 2005 ....................................................................................................
Variáveis descritoras de produção agrícola e industrial de dendê no Brasil ..........
Indicadores para segmentação das empresas de óleo de palma na Amazônia .......
Empresas do grupo AGROPALMA – 2000 ...........................................................
Exigências ambientais para a cultura do dendê ......................................................
Potencial estimado para a dendeicultura na Amazônia Legal ................................
Níveis de exigência de diferentes nutrientes , pela palma africana .......................
Impacto sobre a produtividade (em ton cff/há) das operações do processo
produtivo agrícola ..................................................................................................
Custo de produção de dendê (US$/há) ...................................................................
Custo de produção de dendê (US$/há) ...................................................................
Operações com maior impacto sobre produtividade e custos, segundo avaliações
qualitativas das empresas e análises de custos da produção .................................
Produção brasileira de óleo de palma (toneladas métricas) por Estado e
Empresa, 1992-2000 ..............................................................................................
Avaliação sobre a contribuição de cada operação ao custo total do processo
extrativo primário e sobre seu impacto sobre a qualidade da torta ou óleo
resultante ................................................................................................................
Gastos totais(operações & imobilizado) no processo de óleo na Agropalma, em
1996 ........................................................................................................................
Características do óleo de palma bruto e do óleo de palmiste bruto, métodos
AOCS & PORIM ...................................................................................................
23
26
31
46
49
51
52
63
64
65
67
69
73
75
76
80
80
85
90
91
92
104
106
111
114
115
27 Características do óleo de palma refinado, e de estearinas e oleinas refinadas,
métodos AOCS & PORIM , comparadas com o padrão internacional
PORAM...................................................................................................................
28 Resultados de avaliações qualitativas e análise de custos, sobre o impacto de
operações de processamentos ................................................................................
29 Destino dos produtos da palma africana. por tipo de produto, empresas
selecionadas , 1999 .................................................................................................
30 Comparação entre os mercados, interno e externo, n a comercialização de óleo
de palma e derivados ..............................................................................................
31 Processos dos óleos de palma, respectivos produtos e usos ...................................
32 Novas necessidades em relação a produtos agroalimentares e características de
consumidores finais ................................................................................................
33 Número de técnicos de dendê vinculados a algumas empresas .............................
34 Área total (ha) e destino das terras nos Estados da Amazônia Legal (%) ..............
35 Condições de juro do PROAGRIN (BASA), conforme o porte da empresa .........
36 Comparação entre as cadeias produtivas de dendê na Amazônia e na Bahia,
indicadores selecionados ........................................................................................
37 Produtividades obtidas na Malásia, na produção de dendê e processamento de
óleo, 1975-1999 ......................................................................................................
38 Metas de desenvolvimento da cadeia produtiva do dendê na Colômbia ...............
39 Atribuições de produtores , governo e iniciativa privada , em pólos de dendê na
Amazônia ...............................................................................................................
40 Proposta de condições de financiamento para pequenos e médios produtores, em
pólos de dendê ........................................................................................................
118
119
125
127
132
135
137
140
141
147
149
150
154
155
FIGURAS
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
Modelo de agronegócio ........................................................................................
Modelo geral da cadeia produtiva .........................................................................
Produção mundial dos 17 principais óleos e gorduras, 1997-1998.......................
Variação na produção mundial dos principais óleos vegetais, 1996-2000 ...........
Variação da exportação mundial dos principais óleos vegetais, 1996-2000 ........
Variação de importação mundial dos principais óleos vegetais, 1996-2000 ........
Variação no consumo mundial dos principais óleos vegetais, 1996-2000 .........
Variação nos estoques finais mundiais dos principais óleos vegetais, 1996-2000
Variação de indicadores de oferta e demanda ,em nível mundial, dos óleos de
soja, palma e palmiste , 1996-2000 ......................................................................
Preços médios, no mundo, óleos comestíveis selecionados, 1988-2000 ..............
Variação percentual anual de preços de óleos vegetais selecionados, 1988-2000
Produção mundial dos principais óleos vegetais,1993-2012 ................................
Exportação de óleos e gorduras no mundo, 1980-2010 ........................................
Consumo de óleos e gorduras per capita no mundo, principais países, 19632012.......................................................................................................................
Consumo de óleo de palma, países selecionados, 1992-2002 .............................
16
16
24
25
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
44
45
46
47
Exportação mundial de óleo de palma, principais países, 1992-2000 .................
Estoque final, países selecionados, 1992-2000 .....................................................
Produção mundial de óleo de palma, principais países produtores 1993 a 2012 .
Importação de óleo de palma, principais países importadores, 1993-2012 ..........
Preços do óleo de palma, no porto de Rotterdam, por mês , de 1990 a 1999 .......
Médias anuais de preços de óleo de palma no porto de Rotterdam, 1990-1999.
Médias deflacionadas segundo índice de preços no varejo ..................................
Médias de preços nominais no porto de Rotterdam, por mês, 1990-1999 ...........
Área e produção do óleo de palma , na região amazônica, de 1992 a 1999 .........
Produtividade das empresas de óleo de palma, na Amazônia, 1992-1998 ...........
Brasil – preços médios anuais do óleo de palma, 1990-1999. Média anual
deflacionada segundo índice de preços no varejo .................................................
Brasil, preços médios mensais nominais de óleo de palma, 1990-1999 ...............
Projeção do balanço brasileiro de óleos comestíveis, 1998-2012 ........................
Produção e consumo de óleo de palma e derivados, no Brasil, de 1998 a 2012 ..
Cadeia produtiva do dendê na Amazônia .............................................................
Produtividade (em t de cff/há), por anos de produção, Agropalma e Denpasa ....
Composição percentual do custo total em cada etapa do ciclo produtivo, por
categoria de despesa (operações agrícolas, infraestrutura ...) ..............................
Custos de operações agrícolas, em percentual de participação ao custo de cada
etapa do ciclo produtivo, e em US$/há/ano, para empresas selecionadas ............
Custos de insumos, em percentual de participação ao custo de cada etapa do
ciclo produtivo, e em US$/há/ano, para empresas selecionadas .........................
Custos de industrialização , em percentual de participação ao custo de cada
etapa do ciclo produtivo, e em US$/há/ano, para empresas selecionadas ...........
Custos de infraestrutura , em percentual de participação ao custo de cada etapa
do ciclo produtivo, e em US$/há/ano, para empresas selecionadas ....................
Custos de administração, em percentual de participação ao custo de cada etapa
do ciclo produtivo, e em US$/há/ano, para empresas selecionadas .....................
Custos das operações agrícolas que ocorrem apenas na etapa N2-1 do ciclo
produtivo ...............................................................................................................
Custos das operações agrícolas que ocorrem em todas as fases do ciclo
produtivo................................................................................................................
Custos de insumos em todas as fases do ciclo produtivo .....................................
Operações ou etapas do processo de transformação primário do dendê, com
respectivos subprodutos e usos .............................................................................
Produtividade das empresas da Amazônia, 1992-1998 .......................................
Contribuição % ao custo total do processamento primário, de diversas
categorias de despesas .........................................................................................
% Participação em custos totais das operações, de cada operação do
processamento ......................................................................................................
Processo de refino e fracionamento dos óleos de palma brutos ..........................
Custos e receitas de duas empresas, ao longo do ciclo produtivo do dendê ........
Desempenho econômico da cultura do dendê, para duas empresas, em termos
de receitas e despesas acumuladas ......................................................................
Comercialização de óleos derivados de palma (em toneladas), no exterior,
empresas selecionadas .........................................................................................
38
39
40
41
42
43
44
50
53
54
55
56
57
62
88
93
94
96
97
98
99
101
102
105
109
110
113
113
117
120
123
128
48
49
50
Comercialização de produtos derivados da palma (em toneladas), no país
(exceto Região Norte) empresas selecionadas , 1999..........................................
Comercialização de produtos derivados da palma (em toneladas), na Região
Norte , empresas selecionadas .............................................................................
Área plantada com dendê, na Malásia, de 1975 a 1999 ........................................
129
130
148
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS .............................................................................................................. 4
APRESENTAÇÃO ..................................................................................................................... 5
LISTA DE ILUTRAÇÕES ........................................................................................................ 6
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................ 12
2 MARCO CONCEITUAL E METODOLOGIA ADOTADA
2.1 CONCEITO DE AGRONEGÓCIO E CADEIAS PRODUTIVAS ......................................
2.2 ANÁLISE DE CADEIAS PRODUTIVAS ............................................................................
2.3 COMPETITIVIDADE, EFICIÊNCIA E QUALIDADE EM CADEIAS PRODUTIVAS ....
2.4 DEMANDAS TECNOLÓGICAS E NÃO TECNOLÓGICAS ............................................
2.5 ESTRATÉGIA DE INTERVENÇÃO ...................................................................................
2.6 METODOLOGIA DE ESTUDOS DE CADEIAS PRODUTIVAS ......................................
14
17
18
21
21
21
3 O AGRONEGÓCIO DO DENDÊ
3.1 NO MUNDO........................................................................................................................... 24
3.2 PRINCIPAIS PAÍSES ENVOLVIDOS NO NEGÓCIO DO ÓLEO DE PALMA ................ 37
3.3 O AGRONEGÓCIO DO DENDÊ NO BRASIL .................................................................... 46
4 ANÁLISE DA CADEIA PRODUTIVA DO DENDÊ NA AMAZÔNIA LEGAL
4.1 CARACTERIZAÇÃO GERAL DA CADEIA PRODUTIVA...............................................
4.2 INSUMOS ..............................................................................................................................
4.3 SISTEMA INTEGRADO DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA E PROCESSAMENTO .............
4.4 COMERCIALIZAÇÃO..........................................................................................................
4.5 MERCADO CONSUMIDOR.................................................................................................
4.6 AMBIENTES ORGANIZACIONAL E INSTITUCIONAL..................................................
59
61
71
124
131
136
5 FATORES CRÍTICOS ATUAIS DE COMPETITIVIDADE ............................................. 144
6 ESTRATÉGIA PARA COMPETITIVIDADE ..................................................................... 152
FONTES BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................. 159
11
“A cultura do dendê, duma forma racional, é muito vantajosa, assim, basta
compararmos com outras oleaginosas a produção por hectare plantado, que é
de 12 vezes maior que a da soja e 5 maior do que a do amendoim e do côco da
Bahia... O óleo de dendê tem inúmeras aplicações. Ao natural e purificado é
usado como condimento. Hidrogenado é usado em alimentação como gordura
sólida ... enumeração de suas aplicações: 1) em alimentação; 2) na fabricação
de sabonetes; 3) na fabricação de velas; 4) na fabricação de verniz (sic), lacas,
tintas; 5) como combustível (nos motores de combustão interna tipo diesel; 6)
como lubrificante; 7) na indústria têxtil; 8) em curtição; 9) como
impermeabilizante, para telas e madeiras; 10) em pavimentação, de mistura
com cimento, cal, etc.; 11) na fabricação de resinas sintéticas... 12) em
perfumaria e cosméticos; 13) em farmácia e medicina...; 14) como vetores de
vitaminas dos óleos de certos peixes...; 15) em metalurgia...”
Enio N. Labatut. O Cultivo do Dendezeiro, “Bahia Rural”, 18,5,1950.
“Assim, não só os países da África, já tradicionais na produção de dendê, estão
promovendo a expansão de seus programas de produção, como também a
Ásia, sobretudo na Malásia, que tem em execução um amplo plano de
produção, com uma tendência contínua para a substituição de seringueiras e
de coqueiros por dendezeiros... Na América Latina, a Colômbia deverá atingir
24.000 hectares em 1970 e 60.000 em 1980. .. Não obstante o aumento de
produção, que resultará de todos esses programas de expansão, outros fatores
influirão, no futuro, as disponibilidades exportáveis, sobretudo se
considerarmos o aumento da demanda interna dos países produtores... Por
tudo o que fica exposto, é altamente recomendável que a Amazônia –
favorecida pela natureza com condições privilegiadas para a oleicultura –
organize a sua produção visando a contribuir, futuramente, para suprir a
demanda crescente de corpos graxos do mercado mundial.”
Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia. Plantação –Piloto
Dendê/SUDAM. Belém, 1968.
12
1 INTRODUÇÃO
Não obstante toda a informação disponível desde a década de 50, sobre
as oportunidades associadas à cultura, seja para a Bahia, a Amazônia Legal ou
o Brasil mesmo, a cadeia produtiva do dendê, no país, continua com uma
produção incipiente e apresentando reduzido interesse, por parte dos
empreendedores brasileiros, tanto na Bahia como na Amazônia Legal (Pará,
Amazonas e Amapá, com alguma experiência produtiva).
O presente trabalho resulta da preocupação da Superintendência para o
Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), em continuação ao seu esforço
pioneiro de 1968, em identificar e incentivar uma alternativa agrícola
recomendável, para a Amazônia Legal, região em que exerce o seu mandato.
O objetivo desse trabalho é aprofundar o conhecimento da cadeia
produtiva do dendê, na Amazônia Legal, modelando-a e avaliando seu
desempenho e os fatores críticos que a influenciam, bem como as restrições e
facilidades a ela impostas pelos ambiente institucional e organizacional que a
envolvem.
Como objetivos específicos, tem-se o propósito de:
1.
Analisar essa cadeia, identificando fatores críticos à sua
competitividade, eficiência e qualidade. A competitividade será
analisada em relação às cadeias competidoras. O foco principal
do estudo será o sistema integrado de produção agrícola e
processamento industrial.
2.
Oferecer subsídios à elaboração de estratégias para a
competitividade da cadeia, com base nos fatores críticos
identificados;
3.
Oferecer subsídios aos vários grupos sociais envolvidos ou
participando da cadeia, para realizar a gestão da competitividade
da cadeia, com base em uma firme análise de dados;
4.
Apontar oportunidades para melhoria da competitividade da
cadeia produtiva.
Os seguintes produtos serão oferecidos, nesse relatório:
!
Análise do agronegócio do dendê, no Mundo e no Brasil;
!
Modelagem da cadeia produtiva do dendê na Amazônia Legal,
com seus principais elos e componentes segmentados;
!
Análise de eficiência, de processos produtivos e seus custos, de
qualidade de produtos do sistema integrado de produção agrícola
e processamento industrial;
!
Análise dos ambientes institucional e organizacional e
identificação das restrições e facilidades que esses oferecem à
cadeia;
!
Identificação de fatores críticos para a competitividade da cadeia;
!
Proposta de estratégia para superação de fatores críticos à
competitividade.
Espera-se que o presente trabalho possa contribuir para que os fatores
que têm impedido o máximo aproveitamento das oportunidades representadas
13
pela cultura, até o presente, sejam melhor compreendidos e finalmente
superados.
14
2 MARCO CONCEITUAL E METODOLOGIA ADOTADA
2.1
CONCEITO
PRODUTIVAS
DE
AGRONEGÓCIO
E
DE
CADEIAS
A agricultura como um todo compreende componentes e processos
interligados que propiciam a oferta de produtos aos seus consumidores finais,
através da transformação de insumos pelos seus componentes. Este conjunto
de processos e instituições ligadas por objetivos comuns constitui um sistema
que, por sua vez, engloba outros sistemas menores, ou subsistemas. O
sistema maior é o chamado negócio agrícola, agronegócio ou “agribusiness”.
O agronegócio compõe-se de cadeias produtivas, e estas possuem entre
seus componentes os sistemas produtivos, que operam em diferentes
ecossistemas ou sistemas naturais. No ambiente ou contexto, existe um
conglomerado de instituições de apoio, composto de instituições de crédito,
pesquisa, assistência técnica, entre outras, e um aparato legal e normativo,
exercendo forte influência no desempenho do agronegócio.
Consequentemente, a política agrícola busca mobilizar conceitos e
instrumentos de intervenção nas cadeias produtivas, como o crédito agrícola, a
pesquisa agropecuária, as normas de taxação, serviços de apoio, etc.. para
melhorar o desempenho em relação a algum indicador específico. Estas
intervenções entretanto,
só se tornam eficazes quando é possível
compreender sistematicamente, não só o que ocorre nos limites das
propriedades rurais mas em todos os sistemas em que a produção
agropecuária se insere.
O negócio agrícola é definido como um conjunto de operações de
produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização de
insumos e de produtos agropecuários e agroflorestais. Inclui serviços de apoio
e objetiva suprir o consumidor final de produtos de origem agropecuária e
florestal. (Figura 1)
A cadeia produtiva é o conjunto de componentes interativos, incluindo os
sistemas produtivos, fornecedores de insumos e serviços, industriais de
processamento e transformação, agentes de distribuição e comercialização,
além de consumidores finais.
A Figura 2 ilustra uma típica cadeia produtiva agrícola, com os seus
principais componentes e fluxos. Distinguem-se os seus componentes mais
comuns, ou sejam, o mercado consumidor, composto pelos indivíduos que
consomem o produto final (e pagam por ele), a rede de atacadistas e varejistas,
a indústria de processamento e/ou transformação do produto, as propriedades
agrícolas, com seus diversos sistemas produtivos agropecuários ou
agroflorestais e os fornecedores de insumos (adubos, defensivos, máquinas,
implementos e outros serviços). Esses componentes estão relacionados a um
ambiente institucional (leis, normas, instituições normativas) e a um ambiente
organizacional (instituições de governo, de crédito etc.), que em conjunto
exercem influência sobre os componentes da cadeia.
15
As cadeias produtivas agrícolas devem suprir o consumidor final de
produtos em qualidade e quantidade compatíveis com as suas necessidades e
a preços competitivos. Por esta razão, é muito forte a influência do consumidor
final sobre os demais componentes da cadeia e é importante conhecer as
demandas desse mercado consumidor.
O sistema produtivo é um conjunto de componentes interativos que
objetiva a produção de alimentos, fibras, energéticos e outras matérias-primas
de origem animal e vegetal. É um subsistema da cadeia produtiva, referindo-se
às atividades produtivas, chamadas como “dentro da porteira da fazenda”.
No gerenciamento dos sistemas produtivos, busca-se, em geral: a)
maximizar a produção biológica e/ou econômica; b) minimizar custos; c)
maximizar a eficiência do sistema produtivo para determinado cenário sócioeconômico; d) atingir determinados padrões de qualidade; e) proporcionar
sustentabilidade ao sistema produtivo; f) garantir competitividade ao produto.
Dessa forma, pode-se ampliar a definição de sistema produtivo como sendo um
conjunto de conhecimentos e tecnologias, aplicado a uma população de
vegetais ou animais em determinado meio ambiente, de utilidade para o
mercado consumidor, buscando atingir os objetivos descritos nos itens de a a f
(Castro et al. 1995).
O sistema natural é um conjunto de elementos bióticos e abióticos em
interação, mediante um fluxo de energia em permanente troca com seu
ambiente. Este sistema natural, ou meio ambiente, exerce forte influência sobre
os sistemas produtivos e sobre os demais componentes das cadeias que lhe
são relacionadas (Goedert et al., 1996) e por isso precisam ser incluídos como
entorno nas análises de desempenho das cadeias produtivas.
Os conceitos de agronegócio (ou negócio agrícola), de cadeia produtiva,
sistema produtivo e sistema natural constituem aplicações da teoria geral dos
sistemas, ou enfoque sistêmico. Um sistema é, na definição de Sppeding
(1975), “um conjunto de componentes interativos”. A caracterização de um
sistema (ou sua análise) inicia-se com o estabelecimento de seus objetivos,
seguida da definição de seus limites, subsistemas componentes e contexto
externo. Ao definir limites e hierarquias, estabelecem-se as interações de seus
subsistemas componentes, mensuram-se suas entradas e saídas e respectivos
desempenhos intermediários (subsistemas) e final (sistema) .
Ao se analisar como um sistema opera, é necessário conhecer seus
elementos, qualificando e quantificando-os. Esta análise permite a gestão do
sistema, modificando-o para melhorar seu desempenho. A segunda fase
denomina-se de síntese e o conjunto de análise-síntese corresponde ao
enfoque sistêmico.
16
E le m e n to s d o N e g ó cio A g ríco la
Forn ecedor
de in su m o
S e m e n te s
C o rre tiv o s
Fe rtilizan te s
R a ç ão
D e fe n sivo s
P ro d.v e te r.
T ra to re s
C o lh eita
M á q u in a s
M o to re s
Produ ção
agrícola
P rocessam ento
e
transform ação
D istrib uição
e
consum o
P ro d.a n im a l
C u lt.p e rm a n.
C u lt.te m p o r.
H o rticu ltu ra
S ilv ic u ltu ra
E x tra ç ão
v e g e tal
A lim e n to s
T ec id o s
Roupas
C a lç ad o s
M ad e ira s
B e bid a s
Á lco o l
Papel
Fu m o
A zeite
R e sta u ra n te s
H o té is
B a re s
P a d a ria s
Feira s
S u p e rm e rc.
C o m é rcio
A tac a d ista
E x p o rtaç ã o
C
O
N
S
U
M
I
D
O
R
E
S
S e rv iç o s de a p o io
V eterinários, agronôm icos, P & D , bancários, m arketing, vendas, transporte ,
arm azéns, portos, assistência técnica, bolsas, seguros,
Figura 1: Modelo de Agronegócio
Ambiente Institucional
PROPRIEDADE AGRÍCOLA
AGRO-INDÚSTRIA
FORNECEDORES DE
INSUMOS
COMÉRCIO
(Atacado)
COMÉRCIO
(Varejo)
SIST
PROD
1,2,3, n
Ambiente Organizacional
Figura 2: Modelo Geral da Cadeia Produtiva
Fonte : Castro et al., 1995, adaptado de Zylbersztajn, 1994
CONSUMIDOR
FINAL
17
A oferta adequada de tecnologia à clientela requer a antecipação de suas
necessidades e aspirações futuras. Trata-se de desenvolver visão prospectiva,
utilizando-se os métodos correspondentes (Johnson & Marcovitch, 1994) . A
análise prospectiva é o conjunto de conceitos e técnicas para a previsão de
comportamento de variáveis sócio-econômicas, políticas, culturais e
tecnológicas. Um tipo especial de análise prospectiva, a prospecção
tecnológica, objetiva identificar demandas atuais, potenciais e futuras, de uma
cadeia produtiva
A previsão tradicional constrói o futuro à imagem do passado, enquanto a
análise prospectiva focaliza futuros com possibilidades alternativas de serem
diferentes do passado. É importante destacar que a visão prospectiva objetiva
orientar a tomada de decisões presentes, tendo como premissa a existência de
turbulências que provocam modificação de tendências do comportamento de
variáveis - os fatores críticos - consideradas relevantes.
O mercado pode ser entendido como um conjunto de indivíduos e
empresas que apresentam interesse, renda e acesso a produtos disponíveis.
Embora esta definição tenha caráter amplo, pode ser aplicada ao “produto”
especial que é a tecnologia. O potencial de adoção de tecnologia depende do
interesse que desperte entre os adotantes. É necessário que a cultura e a
renda do adotante sejam compatíveis com a tecnologia proposta e que o
mesmo seja posto em contato com a tecnologia, tendo acesso à informação e
aos insumos associados a sua adoção.
Mas, em última instância, será o mercado consumidor final que irá
determinar as características dos produtos a serem oferecidos. Essas
preferências afetam os demais componentes da cadeia produtiva, inclusive os
sistemas produtivos e correspondentes sistemas naturais. Desta forma, o
mercado consumidor torna-se fonte primária das demandas para uma cadeia
produtiva.
Outro conceito importante é o de segmentação, que divide esses
mercados em conjuntos homogêneos, de forma que qualquer um possa ser
selecionado como mercado-alvo, atingível por um “marketing “ distinto e
adequado às suas características comuns. A segmentação de mercado é
fundamental porque não é possível uma organização ser eficiente se não for
capaz de distinguir as necessidades e aspirações de vários segmentos de seu
mercado, especialmente se o produto pode (e deve) ser apresentado em
múltiplas formas, como é o caso da tecnologia.
2.2 ANÁLISE DE CADEIAS PRODUTIVAS
Para constituir-se num guia metodológico orientador da análise de
cadeias produtivas e da prospecção de suas demandas, foi produzido um
documento (Castro et al., 1995), com conceitos e instrumentos aplicáveis a
esta finalidade.
Nesse documento são apresentados conjuntos metodológicos (CM) onde
se agrupam procedimentos, conteúdos, métodos e técnicas sugeridas para
18
executar a análise da cadeia produtiva e a prospecção de demandas
tecnológica e não tecnológicas, dos diversos componentes da cadeia.
A base comum das etapas na metodologia são as mesmas dos
elementos necessários à caracterização de um sistema: a) explicitação de
objetivos e limites do sistema; b) caracterização do contexto ou ambiente
externo do sistema; c) definição de componentes do sistema e seus
respectivos fluxos ou interações; d) especificação dos insumos, produtos e
pontos de estrangulamento, considerados críticos ou relevantes ao
desempenho do sistema.
Sob a ótica de análise proposta, os pontos de estrangulamento, ou fatores
críticos ao desempenho, atuais, potenciais e futuros, constituem-se demandas
tecnológicas e não tecnológicas, que passam a orientar as intervenções para a
gestão da cadeia produtiva.
2.3 COMPETITIVIDADE,
CADEIAS PRODUTIVAS
EFICIÊNCIA
E
QUALIDADE
EM
O processo produtivo agropecuário e florestal deve ter seu desempenho
orientado e aferido por um conjunto de critérios. De forma geral, os principais
marcos de referência para valorar demandas de uma cadeia produtiva podem
considerar
como
critérios:
competitividade,
eficiência,
qualidade,
sustentabilidade e/ou equidade (Castro et al.,1996).
Em 1985, foi lançado um novo conceito para a competitividade das
empresas, o conceito de vantagem competitiva (Porter, 1985). Por este
conceito, distinguem-se apenas duas formas de empresas se diferenciarem de
suas concorrentes, apresentando uma vantagem competitiva: a diferenciação
ou os baixos custos. Uma terceira dimensão a ser considerada, afetando a
diferenciação ou os baixos custos é o escopo, ou seja, a gama de segmentos
de mercado visados pela empresa. A função deste modelo conceitual é o
fornecimento de elementos para a formulação de estratégias de gestão da
competitividade das empresas.
Juntamente com o conceito de competitividade industrial,
Porter
desenvolveu o conceito de cadeia de valor na Empresa, um modelo de análise
competitiva e um conjunto de estratégias genéricas, capazes de orientar a
formulação de estratégias específicas de competitividade. Isto se constituiu
numa base teórica para o planejamento de competitividade industrial, tornandose uma referência para o planejamento da competitividade nos meios
acadêmicos e empresariais (Mintzberg et al., 1998).
O conceito de competitividade em cadeias produtivas agropecuárias pode
ser derivado a partir do conceito estabelecido por Porter, considerando os
produtos ou subprodutos da cadeia competindo no mercado consumidor de
produtos agropecuários. Há que distinguir-se, entretanto, produtos com valor
agregado ou diferenciados por algum tipo de característica distintiva e produtos
do tipo commodities. O estabelecimento de vantagem competitiva será
diferente em cada caso.
19
Para o caso de cadeias produtivas produtoras de commodities, face a não
diferenciação do produto final, a competitividade é principalmente estabelecida
por baixos custos, que permite uma lucratividade para a cadeia produtiva
mesmo quando os preços dos produtos são baixos. Isto significa uma eficiência
produtiva maior, ao longo de toda a cadeia produtiva. Notar que a análise neste
caso é comparativa, abrangendo as cadeias produtivas concorrentes, e deve
englobar tudo o que ocorre antes, dentro e fora da porteira da fazenda e não
apenas o que se passa dentro da fazenda, nos sistemas produtivos.
Uma outra situação específica de competitividade de cadeias produtivas
é a que envolve produtos com valor agregado, ou seja produtos diferenciados,
onde a vantagem competitiva será estabelecida a partir de um desempenho
maior em qualidade de produtos ou seja, no estabelecimento de uma imagem
de diferenciação, produtos que são reconhecidos pelos seus consumidores
como possuindo características diferenciadas.
Cadeias produtivas de determinadas frutas, hortaliças, especiarias e
outros produtos similares são exemplos de competitividade por diferenciação.
Neste caso, características de qualidade e marca podem ser muito mais
importante na determinação da competitividade na cadeia do que fatores de
eficiência produtiva. A exploração de nichos de mercado também pode se
constituir em um fator a mais, na determinação de competitividade para estas
cadeias.
Na sua formulação mais geral, eficiência de um sistema é mensurada
pela relação entre insumos (I) necessários à formação do produto do sistema e
este produto ou "output" (O). Insumos e produtos devem ser mensurados num
mesmo elemento de fluxo (capital, energia, materiais, informações), sendo por
isso a eficiência uma medida sem dimensão (Spedding, 1975). Para a análise
de uma cadeia produtiva (ou de seus respectivos sistemas produtivos), o
elemento de fluxo mais apropriado para a mensuração é o de capital, traduzido
em uma determinada moeda (Dólares americanos, Reais etc.).
Qualidade é a totalidade das propriedades e características de um
produto, serviço ou processo, que contribuem para satisfazer necessidades
explícitas ou implícitas dos clientes intermediários e finais de uma cadeia
produtiva e de seus componentes.
Usualmente, qualidade é traduzida por um conjunto de normas e padrões
a serem atingidos por produtos e serviços, ofertados pelas cadeias e sistemas
produtivos. O conceito abrange, também, as entradas e saídas de processos
administrativos no contexto das cadeias produtivas.
Velazquez et al.(1998) informam que os produtos finais – porém com
segurança também os intermediários – devem ter suas propriedades
intrínsecas e extrínsecas identificadas. Estas propriedades, no caso de cadeias
produtivas agropecuárias, podem se referir:
20
a) qualquer atributo necessário para o uso adequado do produto e seu
manejo;
b) propriedades físicas (cor, peso, integridade, tamanho, grau de
maturação, características para
empacotamento, método de
conservação, forma de uso, perenidade, etc);
c) propriedades químicas tais como pureza (em oposição a presença de
resíduos químicos) contribuições nutricionais e estabilidade do
produto;
d) propriedades organolépticas, ou avaliação sensorial sobre odor,
apresentação visual, sabor, sensação recebida pela utilização:
e) atributos especiais: produtos saudáveis, ecologicamente corretos,
com propriedades nutricionais específicas.
A qualidade de produtos e processos na cadeia produtiva deve ser
avaliada por indicadores de qualidade, preferencialmente quantitativos, cujo
conjunto irá compor uma norma de qualidade para determinado produto ou
processo produtivo. Um exemplo de indicador poderia ser a percentagem de
umidade de uma semente comercial. Este indicador, juntamente com outros,
tais como percentagem de germinação, grau de pureza podem constituir em
um padrão de qualidade para sementes certificadas, a medida que os níveis
mínimos a serem atingidos por um lote de sementes são estabelecidos.
A sustentabilidade ambiental é a capacidade de um sistema produtivo
(SP) agropecuário ou agroflorestal, em manter determinado padrão de
eficiência e qualidade no tempo. A influência antrópica no ecossistema,
quebrando o seu equilíbrio original em favor da exploração econômica do
mesmo, é neutralizada por tecnologias que evitam a degeneração do
ecossistema onde a produção ocorre. É, dessa forma, um critério de
mensuração mais específico de um dos componentes da cadeia produtiva, os
sistemas produtivos agropecuários. Tal componente, entretanto, representa a
clientela preferencial para a pesquisa agropecuária - os produtores rurais. Eles
são os principais segmentos do mercado de tecnologia para a maioria dos
centros de P&D em agropecuária.
Equidade é definida como equilíbrio na apropriação dos benefícios
econômicos gerados ao longo da cadeia produtiva pelos seus componentes ou,
internamente, entre os indivíduos e organizações de um segmento da cadeia
produtiva.
A equidade de uma cadeia pode ser analisada através da quantificação
do fluxo de capital, iniciando-se no consumidor final e verificando-se a
acumulação entre os demais componentes. Historicamente, as organizações
de comercialização têm acumulado a maior parte dos capitais circulantes na
cadeia, como foi demonstrado no trabalho de Leite & Pessoa (1994), na cadeia
produtiva do caju. Os sistemas produtivos e os produtores rurais geralmente
21
têm recebido a menor fração relativa dos benefícios, salvo em situações
extraordinárias.
2.4 DEMANDAS TECNOLÓGICAS E NÃO TECNOLÓGICAS
As demandas tecnológicas de uma cadeia produtiva podem ser definidas
em função dos sistemas que lhes dão origem e classificadas em três tipos
básicos: Demandas tipo I, para problemas dependentes de ações de
adaptação/difusão de tecnologias; Demandas tipo II, para problemas
necessitando de ações de geração de tecnologias; Demandas tipo III, para
problemas não dependentes de solução tecnológica, ligados a fatores
conjunturais, infra-estrutura de apoio, etc. mas com impacto indireto nos
resultados da pesquisa.
No caso das cadeias e sistemas produtivos, as demandas são
necessidades de conhecimentos e tecnologias, visando reduzir o impacto de
limitações identificadas nos componentes da cadeia produtiva, para a melhoria
da qualidade de seus produtos, eficiência produtiva, competitividade,
sustentabilidade e equidade de benefícios entre os seus componentes.
2.5 ESTRATÉGIA DE INTERVENÇÃO
Os objetivos dos estudos de cadeias produtivas podem ser múltiplos,
embora o conhecimento adquirido sobre gargalos e oportunidades, sob a forma
de demandas tecnológicas e não-tecnológicas, seja de alto valor para a
formulação de estratégias.
Várias agências públicas e privadas podem utilizar os resultados dos
estudos para orientar sua atuação. Demandas tecnológicas podem orientar a
pesquisa pública e privada na formulação de bons projetos de P&D. Agências
de desenvolvimento regional podem formular políticas para incrementar a
competitividade das cadeias estudadas, seja na solução de fatores limitantes
da competitividade, ou no aproveitamento de oportunidades. Gerentes de
organizações participantes da cadeia podem aprimorar as suas estratégias de
competitividade, buscando uma posição mais favorável na cadeia produtiva.
2.6 METODOLOGIA DE ESTUDOS DE CADEIAS PRODUTIVAS
A estratégia metodológica adotada nos estudos de cadeias produtivas
compreende:
1. Aplicação de conceitos e técnicas de análise de cadeias produtivas, visando
a determinação de fatores críticos de competitividade.
2. Modelagem e análise de fluxos de materiais e capitais na cadeia produtiva.
3. Análise preliminar de mercado para os principais produtos da CP e para
produtos competidores, em busca de oportunidades e fatores críticos de
competitividade.
22
4. Análise preliminar comparativa de ambientes organizacional e institucional
(impostos, transportes, armazenagem, crédito, normas e leis) da CP e de
CPs competidoras em busca de fatores críticos de competitividade.
5. Análise preliminar de processo, comparativa, para a estrutura de
comercialização varejista e atacadista. Determinação de fatores críticos de
competitividade.
6. Análise comparativa de processo produtivo agro-industrial e agrícola, em
busca de fatores críticos de competitividade.
7. Análise comparativa preliminar da estrutura de fornecimento de insumos.
As etapas para análise de cadeia produtiva estão contidas na Tabela 1.
A análise se inicia pela caracterização dos consumidores da cadeia produtiva e
pela definição das necessidades e aspirações desse mercado consumidor em
relação ao(s) produto(s) da cadeia produtiva (CP). A posição relativa da cadeia
produtiva no negócio agrícola é examinada, e os limites e relações com o
ambiente externo da cadeia são definidos.
As etapas iniciais da metodologia de análise do sistema produtivo são
muito similares às do estudo da cadeia produtiva. Isto se justifica porque o
desempenho dos sistemas produtivos é fortemente influenciado
pelo
comportamento da cadeia produtiva em que se insere.
De uma forma geral, os principais objetivos de desempenho perseguidos
pelas cadeias produtivas, ou pelos seus componentes individualmente, são a
eficiência, qualidade, competitividade, sustentabilidade e a equidade. A
metodologia de análise das cadeias produtivas deve responder quais desses
objetivos são mais apropriados para a situação em análise, quais os padrões a
atingir e respectivos instrumentos e mecanismos de mensuração.
No presente trabalho, a hipótese adotada foi a de competitividade, com
ênfase em fatores críticos de eficiência produtiva.
A partir do modelo geral, os componentes da cadeia produtiva de dendê
foram qualificados e quantificados, bem como as relações, sob a forma de
transações, entre os componentes. Definiram-se os critérios de mensuração de
desempenho da cadeia produtiva, pondo-se ênfase nos de eficiência produtiva,
qualidade e competitividade. O desempenho foi analisado principalmente em
relação a eficiência e competitividade. As entradas e saídas de capital em
cada componente foram quantificadas, para estudo individual da eficiência,
qualidade e competitividade da cadeia.
Definido o desempenho dos principais componentes, o passo seguinte foi
o de explicar o seu comportamento. O comportamento da cadeia produtiva foi
identificado examinando-se os processos produtivos desses principais
componentes. Neste exame, identificaram-se as variáveis críticas, aquelas de
maior impacto no(s) critério(s) de desempenho eleitos, e que explicam o
funcionamento atual e passado da cadeia.
23
As demandas foram definidas a partir da determinação de fatores críticos
de maior impacto sobre a melhoria de eficiência, qualidade e da
competitividade da cadeia produtiva do dendê, na Amazônia Legal.
Tabela 1
Principais etapas para a análise de demandas da cadeia produtiva de
dendê na Amazônia.
ETAPAS
DIAGNÓSTICO
CADEIA PRODUTIVA
Definição de objetivos
Hierarquia e relações com o
agronegócio
Modelagem, limites e
segmentação
Análise quantitativa (eficiência,
qualidade, competitividade)
Fatores críticos
PROGNÓSTICO
Análise prospectiva (projeções
extrapolativas)
Demandas atuais e potenciais
SISTEMA PRODUTIVO
Definição de objetivos
Hierarquia e relações com a cadeia
produtiva
Limites e segmentação (tipologia)
Análise quantitativa (eficiência,
qualidade, competitividade)
Fatores críticos
Análise prospectiva (cenários,
projeções extrapolativas)
Demandas atuais e potenciais
Foram aplicadas, como técnicas de estudo, a revisão da informação
secundária disponível e o levantamento, processamento e síntese de
informações primárias sobre o desempenho e a competitividade dos
componentes da cadeia produtiva e dos seus competidores. Os levantamentos
de dados primários foram realizados aplicando-se técnicas de Rapid Rural
Appraisal.
Foram aplicadas técnicas prospectivas extrapolativas, para reflexão sobre
desempenhos futuros de alguns dos fatores críticos de competitividade das CP.
Além do trabalho de coleta de dados secundários, realizado por processo
de pesquisa bibliográfica e busca na internet, realizou-se um amplo
levantamento de campo na região alvo do estudo. Foram visitadas áreas
produtivas nos Estados do Pará e Amazonas, sendo entrevistados
pesquisadores, extensionistas, gerentes de agências de crédito, de
desenvolvimento, cooperativas, empresários e comerciantes de insumos e
produtos. Este trabalho de campo permitiu à equipe coletar um grande acervo
de informações, de grande utilidade para a análise de desempenho das
cadeias produtivas estudadas.
24
3
O AGRONEGÓCIO DE DENDÊ
3.1
NO MUNDO
3.1.1 Mercado mundial de oleaginosas
Segundo informações do Departamento de Agricultura americano, em
agosto de 2000 o mercado mundial de óleos vegetais negociou cerca de 86
milhões de toneladas métricas desses óleos. Considerando-se um preço médio
de US$ 354.00 por tonelada, é facilmente perceptível a importância desse
mercado, o qual movimentou, nesse ano, até o mês de agosto, a razoável
quantia de 30,6 bilhões de dólares. Esse número serve como um indicador
inicial de um mercado dinâmico e com clara tendência a expandir-se, como se
tentará mostrar abaixo.
Se além das oleaginosas se considera o quadro mais amplo dos óleos e
gorduras, o quadro também é surpreendente. Nesse caso, está-se falando de
uma produção de 101 milhões de toneladas desses produtos, no período 19971998. A participação dos diferentes óleos e gorduras, nessa produção, é
apresentada na Figura 3.
Óleo de Soja
Óleo de Palma
Óleo de Canola (Colza)
Óleo de Girassol
Sebo
Banha
Manteiga
Óleo de Amendoim
Óleo de Caroço de Algodão
Óleo de Côco
Óleo de Oliva
Óleo de Palmiste
Óleo de Milho
Óleo de Peixe
Óleo de Gergelim
Óleo de Linhaça
Óleo de Mamona
25,00
Milhões de toneladas
20,00
15,00
10,00
5,00
1
Tipos de óleos
Figura 3: Produção Mundial dos 17 Principais Óleos e Gorduras, 1997-1998 (Fonte: Oil World)
25
Como a Figura deixa claro, os óleos mais importantes, para o consumo
mundial de óleos e gorduras, são o óleo de soja, o de palma, o de canela ou
colza, o óleo de girassol. Depois desses óleos, aparecem o sebo, a banha e a
manteiga, nessa ordem. Óleos derivados de outras oleaginosas e óleo de peixe
apresentam contribuição menor à produção mundial desses produtos.
Como tem evoluído esse mercado, na última década? Os indicadores de
oferta e demanda de oleaginosas (produção, exportação, importação, consumo
e estoques finais) mostram que, apesar do dinamismo geral do mercado, nem
todos os óleos vegetais têm apresentado um mesmo perfil de oferta e
demanda. Esses indicadores são analisados a seguir, com base nos dados da
Tabela 2.
A Figura 4 apresenta a variação percentual da produção mundial dos
nove principais óleos vegetais, no período de 1996 a 2000.
30
25
20
Soja
Palma
Girassol
Colza
Algodão
Amendoim
Côco
Oliva
Palmiste
Percentual de variação
15
10
5
0
-5
-10
-15
-20
1
Tipos de óleo
Figura 4: Variação na produção mundial dos principais óleos vegetais, 1996-2000 (previsão).
Fonte:USDA, 2000
26
Tabela 2
Produção, exportação, importação, consumo e estoques finais (em
milhões de toneladas métricas) dos principais tipos de óleos vegetais,
1996-2000 (previsão).
TIPO DE ÓLEO
1996/97
1997/98
1998/99
1999/00
Variação %
1996-2000
Variação
(milhões TM)
1996-2000
PRODUÇÃO
Soja
Palma
Girassol
Colza
Algodão
Amendoim
Côco
Oliva
Palmiste
20,50
17,64
8,59
10,86
3,71
4,40
3,69
2,46
2,22
22,58
16,97
8,26
11,25
3,70
4,20
3,29
2,53
2,20
Soja
Palma
Girassol
Colza
Algodão
Amendoim
Côco
Oliva
Palmiste
6,11
11,43
3,77
2,63
0,24
0,22
1,78
1,02
1,02
7,21
11,16
3,56
3,02
0,24
0,28
2,17
1,01
1,09
Soja
Palma
Girassol
Colza
Algodão
Amendoim
Côco
Oliva
Palmiste
5,93
10,71
3,64
2,58
0,29
0,27
1,65
1,00
0,89
6,68
10,82
3,39
2,70
0,23
0,28
1,99
0,99
0,93
Soja
Palma
Girassol
Colza
Algodão
Amendoim
Côco
Oliva
Palmiste
20,59
16,88
8,81
10,87
3,78
4,45
3,39
2,14
2,10
22,10
17,02
8,27
10,87
3,70
4,23
3,15
2,29
2,05
Soja
Palma
Girassol
Colza
Algodão
Amendoim
Côco
Oliva
Palmiste
2,41
1,91
0,78
0,39
0,09
0,07
0,36
0,74
0,21
24,64
19,20
9,17
12,00
3,57
4,47
2,66
2,49
2,40
24,71
21,27
9,53
13,84
3,62
4,18
2,96
2,19
2,67
21
21
11
27
-2
-5
-20
-11
20
4,21
3,62
0,94
2,98
-0,09
-0,22
-0,74
-0,28
0,45
7,38
13,63
3,72
2,96
0,19
0,32
1,59
1,04
1,20
21
19
-1
13
-23
47
-11
3
18
1,27
2,20
-0,05
0,34
-0,06
0,10
-0,19
0,03
0,18
7,03
12,87
3,60
2,60
0,19
0,23
1,55
1,01
1,06
19
20
-1
1
-34
-13
-6
1
18
1,10
2,16
-0,04
0,02
-0,10
-0,04
-0,10
0,01
0,16
24,24
20,14
9,31
13,28
3,63
4,10
2,94
2,37
2,50
18
19
6
22
-4
-8
-13
10
19
3,65
3,26
0,50
2,40
-0,16
-0,35
-0,45
0,23
0,40
2,34
3,08
0,74
0,65
0,07
0,04
0,15
0,94
0,21
-3
61
-5
65
-26
-49
-59
27
2
-0,06
1,17
-0,04
0,26
-0,02
-0,03
-0,21
0,20
0,00
EXPORTAÇÃO
8,19
12,71
3,84
2,91
0,18
0,26
1,39
1,02
1,12
IMPORTAÇÃO
7,84
12,47
3,68
2,69
0,19
0,26
1,35
1,05
1,02
CONSUMO
24,43
18,25
8,97
11,79
3,59
4,47
2,77
2,33
2,32
ESTOQUES FINAIS
Fonte: USDA, 2000
2,37
1,67
0,60
0,45
0,08
0,04
0,32
0,96
0,21
2,23
2,49
0,64
0,45
0,07
0,04
0,17
1,15
0,19
27
A Figura 4 deixa claro que os óleos de girassol, soja, palma, palmiste e
colza tiveram um crescimento positivo no período. Os óleos de algodão,
amendoim, côco e de oliva, por sua vez, tiveram uma produção reduzida,
nesses anos. Em milhões de toneladas métricas, cresceram mais: soja e palma
(cada um com um acréscimo de 4 milhões de TM), colza, girassol e palmiste
(cada um desses com um acréscimo de 3, 1 e 0,5 milhões de TM,
respectivamente). Interessante observar também que os óleos de palma e
palmiste – derivados da palma africana - mostraram tendência de crescimento
na produção, de 1996 a 2000.
Quando se olha para os dados referentes à exportação mundial,
apresentados na Figura 5, observa-se um padrão diferente daquele visto para o
caso da produção. Embora soja, palma, colza e palmiste apresentem também
50
Soja
Palma
Girassol
Colza
Algodão
Amendoim
Côco
Oliva
40
Palmiste
Percentual de variação
30
20
10
0
-10
-20
-30
1
Tipos de óleo
Figura 5: Variação da exportação mundial dos principais óleos vegetais, 1996-2000 (previsão).
Fonte: USDA, 2000.
um crescimento de suas exportações, no período, o óleo de amendoim e o óleo
de oliva também demonstram acréscimo nesse indicador. Os óleos de algodão
e côco, além do já comentado para a produção, apresentaram também
exportação decrescente, de 1996 a 2000. O maior crescimento em
exportações, quando se considera o aumento de milhões de toneladas
métricas no período, foi do óleo de palma (2,2 milhões), seguido pelo óleo de
soja (1,27 milhão). Todos os demais óleos com crescimento, no período,
tiveram acréscimos menores do que 0,5 milhões de toneladas métricas, em
suas exportações.
28
No que se refere agora às importações mundiais desses óleos, no período
1996 a 2000, a Figura 6 apresenta sua variação percentual. Observa-se agora
que os óleos de palma, soja, palmiste, colza e oliva foram os que tiveram
crescimento, no período. Os demais óleos tiveram sua importação reduzida,
nesses anos.
O consumo desses óleos é outro indicador de oferta e demanda a
30
Soja
Palma
Girassol
Colza
Algodão
Amendoim
Côco
Oliva
Palmiste
20
Percentual de variação
10
0
-10
-20
-30
-40
1
Tipos de óleo
Figura 6: Variação de importação mundial dos principais óleos vegetais, 1996-2000 (previsão).
Fonte: USDA, 2000
considerar. Na Figura 7, é apresentada a variação percentual do consumo
mundial, no período de 1996 a 2000. Os óleos que tiveram maior crescimento
percentual, no período, são os óleos de colza, palma, palmiste, soja e oliva,
nessa ordem. Os demais apresentam variação negativa. Em milhões de
toneladas métricas, os óleos que apresentaram maior crescimento foram: soja
(3,6 milhões), palma (3,3 milhões) e colza (2,40 milhões). Os demais óleos
tiveram acréscimos menores do que um milhão de toneladas métricas. Vale
observar, no entanto, que os óleos de palma e palmiste tiveram um mesmo
percentual de crescimento, no período, correspondente a 19%, em 2000, da
produção observada em 1996.
29
25
20
Soja
Palma
Girassol
Colza
Algodão
Amendoim
Côco
Oliva
Palmiste
15
Percentual de variação
10
5
0
-5
-10
-15
1
Tipos de óleo
Figura 7: Variação no consumo mundial dos principais óleos vegetais, 1996-2000(previsão).
(Fonte:USDA, 2000)
A Figura 8 apresenta dados relativos aos estoques finais mundiais,
desses óleos vegetais, no período 1996-2000. Nesse período, apresentam
variação positiva os óleos de colza, palma, oliva e palmiste, nessa ordem. O
único óleo que apresenta estoques finais maiores do que um milhão de
toneladas métricas, no entanto, é o óleo de palma, com 1,2 milhão. Dado o
total de toneladas métricas que é produzido no agronegócio de oleaginosas
(86,26 milhões de toneladas métricas), esse estoque é bastante reduzido.
30
Soja
Palma
Girassol
Colza
Algodão
Amendoim
Côco
Oliva
Palmiste
80
60
Percentual de variação
40
20
0
-20
-40
-60
1
Tipos de óleos
Figura 8: Variação nos estoques finais mundiais dos principais óleos vegetais, 1996-2000 (previsão).
Fonte: USDA, 2000
A Tabela 3 abaixo resume os principais achados para os indicadores de
oferta e demanda, dos principais óleos vegetais. Observa-se aí um aumento
dos indicadores de oferta (produção, exportação e estoques finais), bem como
dos indicadores de demanda (importação e consumo), para palma, soja, colza,
oliva e palmiste. Os óleos de algodão, amendoim e côco apresentam
decréscimos, para a maioria (ou todos) os indicadores, nesse período. Para os
óleos de maior interesse nesse trabalho – os de palma e palmiste, por serem o
tema do estudo, e o de soja, por ser o óleo vegetal de maior consumo, no
mundo – esses indicadores (com exceção do referente a estoques finais),
cresceram na mesma proporção, no período. Quanto aos estoques finais,
esses não tiveram um crescimento, nesses anos, ou quando tiveram, foi um
crescimento reduzido.
31
Tabela 3
Variação percentual de indicadores de oferta e demanda dos principais
óleos vegetais, no mundo, no período 1996-2000 (previsão).
Óleo
Variação Percentual no Período 1996-2000
Produção
Soja
Palma
Girassol
Colza
Algodão
Amendoim
Côco
Oliva
Palmiste
Fonte: USDA, 2000.
Exportação
21
21
11
27
-2
-5
-20
-11
20
21
19
-1
13
-23
47
-11
3
18
Importação
19
20
-1
1
-34
-13
-6
1
18
Consumo
Estoque
18
19
6
22
-4
-8
-13
10
19
-3
61
-5
65
-26
-49
-59
27
2
A Figura 9 apresenta dados relativos ao comportamento dos indicadores
de oferta e demanda, para os óleos de soja, palma e palmiste, de 1996-2000.
Em termos de produção, esses óleos atingem quantidades semelhantes (4,2 e
3,6 milhões de TM, respectivamente). O óleo de soja apresenta maior produção
e consumo que os demais óleos. Por outro lado, a produção de soja, nesses
anos, cresceu bem mais do que o consumo mundial desse óleo, enquanto que
a de palma se situou bem próxima ao nível de consumo. Exportação e
importação de óleo de palma cresceram mais, no período, que os mesmos
indicadores, para soja ou palmiste. Quanto a estoques finais, apenas o óleo de
palma e o de palmiste apresentaram crescimento, no período.
4,5
Soja
Palm a
4
3,5
Milhões de TM
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
-0,5
Produção
Exportação
Im portaç ão
C onsum o
Estoq ue
Indicadores
Figura 9:V ariação de indicadores de oferta e dem
anda, em nível m undial, dos óleos de soja, palm a
e palm iste, 1996-2000 (previsão).
Fonte: US DA, 2000
Palm iste
32
3.1.2 Preço dos Óleos Comestíveis no Mundo
Outra variável que se pode analisar, para entender o agronegócio do
dendê, no mundo, é a situação de preços, para o óleo de palma e similares. A
Figura 10 , abaixo, apresenta os preços médios de alguns dos principais óleos
vegetais, no período 1988-2000.
800
700
600
US$/TM
500
400
300
200
Óleo de
Palma
Soja
(Rotterdam)
Algodão
(Rotterdam)
Girassol
Rotterdam
100
0
88/89
89/90
90/91
91/92
92/93
93/94
94/95
95/96
96/97
97/98
98/99
99/00
Biênios
Figura 10: Preços Médios, no Mundo, Óleos Comestíveis Selecionados, 1988-2000. Fonte:USDA
A Figura 10 indica o comportamento dos preços, no período. Os preços
dos óleos de soja, algodão e girassol são aqueles cobrados no porto de
Rotterdam. O preço do óleo de palma é o que se verifica na Malásia, o principal
produtor. Assim, é possível que o preço desse último óleo esteja um pouco
subestimado, em comparação com os demais, na Figura. No entanto, as
relações de preço permanecem as mesmas, e por isso se pode ainda tirar
lições, dos dados apresentados.
De modo geral, o óleo de algodão aparece aí como o de maiores preços,
durante os anos considerados. Também se observa, para todos os óleos, uma
tendência de crescimento, no período 88 a 95, uma oscilação de 95 a 98, e
uma tendência de queda, nos últimos anos. Nesses, também tem diminuído a
distância entre os preços desses óleos, os quais tem se aproximado de uma
média comum. Essa é uma indicação de que esses óleos tem se tornado
33
substituíveis, um pelo outro, no mercado internacional e que portanto, a
competição entre eles tem aumentado, nesse mercado.
A Figura 11 apresenta a variação percentual anual de preços, dos
mesmos óleos (soja, palma, girassol e algodão), no período 1988-2000. Foi
elaborado sobre a mesma base de dados da Figura anterior, como uma forma
de tentar entender melhor o que tem se passado com esses preços, nos
últimos anos.
60,00
50,00
40,00
% de variação anual
30,00
20,00
10,00
0,00
89/90
90/91
91/92
92/93
93/94
94/95
95/96
96/97
97/98
98/99
99/00
-10,00
-20,00
-30,00
Óleo de
Palma
Soja
(Rotterdam)
Algodão
(Rotterdam)
Girassol
Rotterdam
-40,00
Biênios
Figura 11: Variação percentual anual de preços de óleos vegetais selecionados, 1988-2000.
Fonte: USDA
Aí se pode verificar que os óleos de girassol e soja apresentam variações
de preço muito semelhantes, durante todo o período, indicando que esses
óleos se destinam a um mesmo mercado e que são fortes competidores. Um
comportamento similar também é apresentado pelo óleo de algodão. Os óleos
de palma e soja, por outro lado, são os que mais apresentam variações anuais
positivas de preços, em comparação com os demais óleos. Isso significa que
foram mais consistentes, em direção a um aumento de preços, que os óleos de
girassol e algodão. Fica de novo evidenciada, na Figura, a tendência de queda
nos preços, para todos os óleos, nos últimos dois a três anos.
34
3.1.3 O óleo de palma e o mercado de oleaginosas: futuro tendencial
A projeção de alguns desses indicadores, para o futuro, feita pela Oil
World é um ponto de partida para que se possa estabelecer uma base de
informação que permita o desenho de estratégias adequadas, de governo, em
relação à cultura da palma africana. Alguns dos indicadores analisados
anteriormente são discutidos abaixo, em termos do que se projeta (futuro
tendencial) a partir do seu comportamento no passado e no presente.
A projeção da produção mundial de alguns dos principais óleos vegetais,
analisados até agora, até o ano de 2012, é apresentada na Figura 12. Como se
esperaria, está óbvia, na Figura, uma tendência geral de crescimento das
produções dos diversos óleos. A Figura também torna claro que, mantidas as
atuais condições de crescimento dos óleos de palma e soja, o primeiro deverá
superar o segundo, em produção, no quadriênio 1998-2002.
60,00
Palma
Soja
Canola
Girassol
Outros
50,00
Milhões de TM
40,00
30,00
20,00
10,00
1993/97
1998/02
2003/07
2008/12
Quadriênios
Figura 12: Produção mundial dos principais óleos vegetais, 1993-2012 (projeção).
Fonte: Oil World
Além disso, o óleo de palma será, segundo a projeção, o que apresentará
maior crescimento relativo, no período. Enquanto a produção de óleo de palma
crescerá cerca de 93%, no período, a dos óleos de soja, colza ou canola e
girassol crescerá em 41%, 53% e 46%, quando se considera os anos de 1993
a 2012. Outros óleos crescerão apenas 28%, nesse período, embora a soma
de suas produções, em milhões de toneladas métricas, ultrapasse as
produções isoladas de cada óleo, como mostrado na Figura.
35
Em relação à exportação dos diferentes tipos de óleo, na próxima década,
uma projeção feita pela organização Oil World está apresentada na Figura 13
abaixo. Nessa Figura, fica claro que o óleo de palma, em termos de
exportação, já supera os demais óleos, em 1995. A previsão feita com base na
série histórica, no entanto, é que ela será quase o dobro em 2010, do que se
verificava em 1995. Nenhum dos demais óleos possui previsão tão otimista, de
crescimento de sua exportação.
O segundo óleo, em termos desse
crescimento, é o de girassol, seguido pelo de canola ou colza e, em último
lugar, o de soja.
.
20
milhões de toneladas
18
1995
2010*
13
10,5
10
8,6
7,2
5,6
5
5
3,8
3,3
3
1,9
0,7
0
Milhões de TM
15
1980
Palma
Soja
Girassol
Colza/canola
Tipos de óleo
Figura 13: Exportação de Óleos e Gorduras no Mundo, 1980-2010 (previsão)
Fonte: Oil World
36
O consumo de óleos e gorduras no mundo, nas últimas quatro décadas,
tem também crescido de modo surpreendente e espera-se que continue em
ascensão pelos anos vindouros. Assim, segundo projeções do Oil World, a
China, no período entre 1963 a 2012, terá um crescimento, no consumo de
óleos e gorduras per capita, da ordem de 392%, seguida pelo Brasil (325%),
pelo Japão (174%), pela Índia (86,5%), pela União Européia (67%) e pelos
Estados Unidos (52%).
A Figura 14 apresenta a projeção de óleos e gorduras no mundo, nos
principais países consumidores, considerando o período de 1963 a 2012.
60,00
EU
USA
JAPÃO
ÍNDIA
CHINA
BRASIL
MUNDIAL
50,00
Kg/ano
40,00
30,00
20,00
10,00
1963/67
1968/72
1973/77
1978/82
1983/87
1988/92
1993/97
1998/02
2003/07
2008/12
Quadriênios
Figura 14: Consumo de óleos e gorduras per capita no mundo, principais países, 1963-2012
Fonte: Oil World
Observa-se, na Figura, que todos os países terão um crescimento de
consumo expressivo, no período. Estados Unidos, União Européia, Japão e
Brasil apresentarão padrões de consumo bem superiores à média mundial. No
entanto, Estados Unidos e União Européia continuarão a apresentar o maior
consumo individual (cerca de 48 Kg/ano/habitante). Brasil e Japão terão níveis
similares de consumo per capita (26 e 25 Kg/ano/habitante). China e Índia
crescerão, segundo esse projeção, até níveis de 12 e 10 kg/ano/habitante, em
2012. Portanto, existe um amplo espaço para expansão do agronegócio
mundial de óleos e gorduras, entre eles, os de derivados da palma africana.
Isto é ainda mais verdadeiro se considera o aumento previsto de população e
de renda, nesses países.
37
3.2 PRINCIPAIS PAÍSES ENVOLVIDOS NO NEGÓCIO DO ÓLEO
DE PALMA
3.2.1 Principais países consumidores
O consumo mundial de óleo de palma passou de 12291 mil TM, em
1992/1993, para 20.524 mil TM, em 1999-2000. Isso significa um crescimento
do consumo mundial da ordem de 66%, nessa década. Indonésia, India, China,
Malásia, Paquistão e Nigéria estão entre os maiores consumidores de óleo de
palma, no mundo. O Brasil está em 13º lugar, entre os países consumidores,
abaixo inclusive de alguns que não o produzem, como o Reino Unido, Egito e
Alemanha. Os seis principais países consumidores, em 1999/2000, vão abarcar
cerca de 60% do consumo mundial de óleo de palma.
A Figura 15 abaixo apresenta o comportamento de consumo dos
principais países consumidores, na última década. O consumo brasileiro
também pode ser observado, na Figura. Não são apresentados os consumos
de outros países, que apresentaram níveis inferiores a 900 mil TM, em
1999/2000.
4000
Indonésia
India
China
Malásia
Paquistão
Nigéria
Reino Unido
Tailândia
Egito
3500
3000
2500
Mil
TM
2000
1500
1000
500
0
92/93
93/94
94/95
95/96
96/97
97/98
98/99
99/00
Anos
Figura 15: Consumo de óleo de palma, países selecionados, 1992-2000.
Fonte: USDA
Entre os principais países consumidores, alguns apresentaram um
crescimento espantoso de consumo, na última década. Esse é o caso de India ,
Tailândia e China, que apresentaram um crescimento de consumo de óleo de
palma de 9900%, 160% e 71%, respectivamente. A Índia assumiu o posto de
maior consumidor mundial, em 2000, seguida pela Indonésia, que
experimentou um crescimento de 65%, no período considerado. A Indonésia é
também o segundo maior produtor mundial. A Malásia, o primeiro produtor
mundial, aparece em terceiro lugar, em termos de consumo, o qual cresceu
apenas 25%, nesses anos, para esse país. O Brasil não é apresentado na
38
Figura, mas o consumo brasileiro de óleo de palma, até 1999, aumentou
apenas 18%, passando de 93 mil TM para 110 mil TM, entre 1992 e 1999.
3.2.2 Principais países exportadores
A exportação de óleo de palma atingiu 15.203 mil TM, em 2000, segundo
o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Essa exportação foi
realizada por poucos países, entre eles alguns que não produzem esse óleo
(Cingapura, Holanda, Hong Kong). A participação brasileira, nesse mercado, é
irrisória.
A Figura 16 abaixo apresenta o comportamento das exportações
mundiais, dos principais países exportadores, de 1992 a 2000.
10000
Malásia
Indonésia
Cingapura
Holanda
Outros
9000
8000
7000
6000
Mil
TM
5000
4000
3000
2000
1000
0
92/93
93/94
94/95
95/96
96/97
97/98
98/99
99/00
Anos
Figura 16: Exportação mundial de óleo de palma, principais países, 1992-2000. Fonte: USDA
No período considerado, os maiores exportadores foram a Malásia (8845
mil TM), a Indonésia (4000 mil TM), Cingapura (900 mil TM) e a Holanda (286
mil TM). Por outro lado, esses países tiveram taxas diferenciadas de
crescimento de suas exportações de óleo de palma: a Indonésia foi o país que
apresentou o maior crescimento, no período (132%), seguida por Malásia
(54%), e Holanda (36%).
Embora não sejam apresentados isoladamente, na Figura 3.2.2.1, vale
ressaltar o expressivo crescimento de exportação pela Papua Nova-Guiné
(33%, no período) e a retirada progressiva de Hong Kong, como exportador de
óleo de palma (crescimento negativo de 49%, no período).
39
3.2.3 Estoques finais, principais países
Como já foi mencionado, são reduzidos os estoques finais de óleo de
palma, no mundo. Em 2000, verificou-se um estoque final total de cerca de
3000 TM. A maior parte desse estoque pertence aos maiores produtores do
óleo (Malásia e Indonésia), como seria de esperar. No entanto, alguns países,
inclusive não-produtores, também detêm uma parte desse estoque, como se
pode observar na Figura 17 abaixo.
1600
Malásia
Indonésia
Paquistão
Cingapura
Alemanha
Holanda
Outros
1400
1200
1000
Mil
TM
800
600
400
200
0
92/93
93/94
94/95
95/96
96/97
97/98
98/99
99/00
Anos
Figura 17: Estoque final, países selecionados, 1992-2000.
Fonte: USDA
No período considerado na Figura, alguns países apresentaram um
crescimento marcante de estoque final de óleo de palma. A Indonésia, segundo
produtor mundial, teve um crescimento de seu estoque final da ordem de
533%, seguida por Paquistão (431%), Alemanha (421%) e Holanda (276%).
Com exceção da Indonésia, os países com maior crescimento em estoques
finais, no período, estão entre os maiores consumidores e importadores
mundiais (não produzem o óleo de palma). No Brasil, os empresários do setor
indicaram que não existem estoques, uma vez que a produção nacional não
logra atender a toda a demanda interna de óleo de palma.
40
3.2.4 Principais países produtores de óleo de palma
A
Figura 18 abaixo apresenta a produção dos principais países
produtores de óleo de palma, por quadriênio, incluindo a série histórica até
1998, e as projeções de crescimento de produção, por país, até o ano de 2012.
12,0
Malásia Indonésia Nigéria Costa do Marfim Colômbia Brasil
Outros
10,0
Milhões de TM
8,0
6,0
4,0
2,0
1993/97
1998/02
2003/07
2008/12
Quadriênios
Figura 18: Produção Mundial de Óleo de Palma, Principais Países Produtores, 1993 a 2012
Segundo os dados apresentados nessa Figura, a produção mundial
deverá duplicar, nesse período, passando de 15,5 milhões de toneladas
métricas, em 1993, para cerca de 30 milhões de toneladas métricas, em 2012.
Os maiores produtores mundiais continuarão a ser Malásia e Indonésia. No
entanto, uma modificação importante também está indicada na Figura: a
Indonésia vai igualar-se, em 2012, à Malásia, em termos de produção de óleo
de palma. Isso vai acontecer porque, embora os dois países apresentem altas
taxas de crescimento de produção, no período, a taxa da Malásia tende a ser
menor do que a da Indonésia. Um dos fatores limitantes para a expansão da
produção, naquele país, é a impossibilidade de realizar esse objetivo via
41
expansão de área plantada. Por outro lado, a produtividade obtida pela
Malásia, até o momento, já atingiu a assíntota de evolução tecnológica
permitida pelo paradigma de produção atualmente disponível.
A produtividade mundial, em relação ao dendê, apresenta uma média de
2,41 toneladas/hectare, no período 1994-1998. O Brasil apresenta uma média
levemente superior a essa: 2,49 toneladas/hectare, no mesmo período. O
maior produtor, a Malásia, apresenta uma média de 3,01 toneladas/ hectare,
nesses anos.
3.2.5 Maiores importadores de óleo de palma
Os maiores importadores de óleo de palma são a China, Índia, Paquistão,
União Européia e Japão. Na Figura abaixo, apresenta-se a série histórica de
importação de óleo de palma, por esses países, de 1993 a 1998, bem como a
projeção desse indicador, até o ano de 2012.
Segundo a projeção apresentada na Figura 19, os maiores importadores
3.000
2.500
Mil TM
2.000
1.500
1.000
500
China
Índia
Paquistão
União
Européia
Japão
1993/97
1998/02
2003/07
2008/12
Q uadriênios
Figura 19: Importação de óleo de Palma, Principais Países Importadores, 1993-2012
Fonte: Oll World
de óleo de palma, em 2012, serão a China (2700 mil TM), Paquistão (2600 mil
TM), União Européia (2450 mil TM), India (1960 mil TM) e Japão (675 mil TM),
nessa ordem. Nesse ano, a importação mundial de óleo de palma atingirá um
total de 10.385.000 TM. Os países que experimentarão um maior crescimento
de importação, segundo os dados da Figura, são, respectivamente: India
(137%), Paquistão (127%), Japão (89%), China (74%) e União Européia (35%).
42
A análise de produção, consumo, importação e exportação e estoques
finais, por países, permite verificar que :
1. Os principais países produtores (Malásia e Indonésia), consomem 17 e 47%
de sua produção, enquanto que a produção brasileira não logra atender a
demanda interna, tendo que complementá-la em cerca de 20% do óleo
produzido no país;
2. Malásia e Indonésia exportam 83% e 51% de sua produção, indicando que,
para a Indonésia, existe um forte mercado interno; o Brasil, por sua vez,
exporta apenas 11% de sua produção, direcionando 89% para o próprio
país;
3. Malásia e Indonésia apresentam estoques finais, em 2000, de cerca de 12%
e 7%, respectivamente, de sua produção, naquele ano. O Brasil não tem
apresentado estoques finais, destinando a maior parte de sua produção
seja ao consumo interno e o restante, ao mercado externo;
4. India, China, Paquistão e Reino Unido consomem cerca de 100% do que
importam, de óleo de palma. Em contraposição, a Holanda exporta cerca de
58% de suas importações.
3.2.6 Preços mundiais do óleo de palma
A Figura 20 abaixo apresenta o comportamento de preços do óleo de
800
Ja n
Fev
Mar
Abr
Mai
Ju n
Ju l
Ago
Set
Out
Nov
Dez
700
600
US$/TM
500
400
300
200
100
0
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
Ano s
F ig u ra 20 : P reç o s d o ó le o d e p a lm a , n o P o rto d e R o tterd am , p o r m ê s , d e 19 9 0 a 19 9 9 .
F o n te: O ilW o rld /A B IO V E
palma, no Porto de Rotterdam, por mês, durante os anos de 1990-1999. Podese observar aí uma tendência geral de crescimento dos preços do óleo de
palma, nesses anos, com uma variabilidade grande entre os meses do ano. O
43
maior crescimento de preços ocorre nos anos de 1994,1995 e 1998. No último
ano, verifica-se uma tendência de queda desses preços.
Analisando agora as médias anuais (e, portanto, desconsiderando os
preços por mês) é possível observar melhor o comportamento dos preços, na
última década. Essas médias (assim como as correspondentes médias
deflacionadas) são apresentadas na Figura 21 abaixo.
700
Média
Média
Deflacionada
600
500
US$/TM
400
300
200
100
0
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
Anos
Figura 21 : MédiasAnuais de Preços do Óleo de Palma no Porto de Rotterdam, 1990-1999. Médias
deflacionadas segundo Índice de Preços no Varejo (CPI-U)
Fonte: Oil World/ABIOVE
De 1994 a 1998, verifica-se que as médias de preços tem se conservado
sempre acima de 500 dólares por tonelada. Para o ano de 1999, está indicada
uma queda nesses preços médios , que caem para menos que 350 dólares (ou
de 450 dólares, se considera a média deflacionada). Nesse último ano, por
outro lado, a média não inclui os preços dos três últimos meses. Isso pode
significar que essa média seria um pouco mais elevada, se existir uma
tendência a que os preços se elevem, no último trimestre de cada ano.
44
Na Figura 22, são apresentadas as médias de preços, por mês.
Realmente, o que se verifica é um decréscimo inicial dos preços, ao longo do
ano, que culmina com preços mais baixos nos meses de junho, julho e agosto.
Os meses em que o óleo de palma alcança melhores preços correspondem ao
último semestre de cada ano.
520
500
US$/TM
480
460
440
420
400
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Meses
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Figura 22: Médias de preços nominais no Porto de Rotterdam, por mês, 1990-1999
Fonte: Oil World/ABIOVE
45
Em 2000, o preço médio anual chegou a US$ 327,00 por TM.
Considerada a produção, nesse ano, desse óleo (24,74 milhões de TM), o
agronegócio do dendê, no mundo, representava, no final do milênio, a
expressiva quantia de 8 bilhões de dólares.
3.2.7. O agronegócio do dendê no mundo
A análise acima indica que o mercado mundial de óleos derivados da
palma africana é um mercado extremamente promissor, que oferece várias
oportunidades. Assim, tanto os indicadores de oferta como de demanda,
desses óleos, são positivos e apresentaram crescimento, nos últimos anos.
A relação entre consumo e produção mundial, por outro lado, tem sido tal
que essa última tem em geral “empatado” com aquele. Nos últimos anos
verifica-se mesmo uma situação em que o consumo tem superado a produção.
Consistente com esse resultado, os baixos estoques finais mundiais indicam
que existe espaço para aumentar a produção mundial desses óleos, para
atender a uma demanda reprimida.
Essa demanda deve continuar a crescer, como resultado do aumento
previsto para a população mundial, nos próximos anos, para a renda per capita,
bem como pelas características especiais do óleo de palma. Por essas razões,
prevê-se que a produção de óleo de palma deverá superar a de óleo de soja,
chegando ao nível de 30 Milhões de TM, em 2012.
Dados sobre o consumo de óleos e gorduras, indicando um crescimento
do consumo per capita, até 2012, para 48 kg/habitante/ano, nos Estados
Unidos e União Européia, e para cerca de 10kg/habitante/ano, para China e
Índia, representam em si uma oportunidade. Isso porque indicam que ainda há
potencial para crescimento de consumo per capita, nesses países, de óleos e
gorduras, entre eles o óleo de palma, que já se caracteriza como um produto
cujo mercado é exatamente o de países em desenvolvimento, como é o caso
dos dois aqui considerados.
O consumo mundial total de óleo de palma é mais um indicador da
oportunidade representada por esse óleo. No período 1992-2000, Índia e China
apresentaram espantosas taxas de crescimento de consumo desse óleo
(6629% e 157%, respectivamente). O Brasil, por outro lado, cresceu apenas
18%, no consumo desse óleo, no mesmo período, embora ainda não tenha
capacidade para atender satisfatoriamente a essa demanda interna, e tendo
que importar o óleo, nos períodos de baixa de safra.
46
3.3 O AGRONEGÓCIO DO DENDÊ NO BRASIL
3.3.1 Indicadores de oferta e demanda, para o óleo de palma
O comportamento dos indicadores de oferta e demanda por óleo de palma,
no período 1992-1998, é mostrado na Tabela 4.
Tabela 4
Indicadores de Oferta e Demanda de Óleo de Palma e Derivados, no
Brasil, de 1992 a 1998 (Mil TM)
Anos
Produção Exportação Importação Consumo
1992
60
8
83
135
1993
53
0
70
123
1994
70
4
61
127
1995
75
25
40
90
1996
77
33
46
90
1997
83
34
93
142
21
70
129
1998
80
Fonte: Oil World.
Nesse período, como se pode observar, a produção foi sempre inferior ao
consumo, e o país teve que importar o óleo de palma, muitas vezes em proporção
superior à própria produção. Por outro lado, observa-se que existe uma tendência
de aumento das exportações desses óleos. No período, houve um variação de
33% para a produção, 162,5%, para as exportações, -15,6% para as importações
e –4,4% para o consumo.
Embora atenda preferencialmente o mercado interno, e seja insuficiente
para o consumo nesse mercado, observa-se um crescimento das exportações.
Isso ocorre devido ao fato de que, nos períodos de baixa de safra, a oferta de óleo
é insuficiente para atender a demanda. Nos meses de maior produção, por outro
lado, a oferta se torna maior que a demanda, obrigando os produtores a exportar.
Segundo um dos entrevistados, é também motivado por um comportamento
“oportunista” dos produtores brasileiros, mais interessados em obter preços
melhores do que em garantir uma clientela mais fiel.
Um dos segmentos em que o óleo de palma tem encontrado um amplo
mercado no Brasil é o da indústria de margarina e cremes. No processo de
fabricação desses produtos, são utilizados vários tipos de óleos vegetais. Estes
últimos são naturalmente líquidos e para adquirir a consistência típica da
margarina, eles são submetidos ao processo de hidrogenação, transformando
gorduras insaturadas em saturadas.
47
O óleo de palma é naturalmente semi-sólido, podendo entrar na composição
da margarina, com vantagens técnicas e de menor custo, por não necessitar de
hidrogenação.
Estimativas do setor indicam que o consumo de margarinas e cremes
vegetais no Brasil atualmente, é da ordem de 350 mil toneladas. Admitindo-se na
composição da margarina, uma participação de 20% do óleo de palma, a
demanda por esse óleo, somente nesse segmento alimentício industrial,
representaria cerca de 70.000 t anuais, correspondendo a 76% da produção
nacional de óleo de palma (quando se considera a produção de cerca de 91 mil
TM, observada em 1999). Essa estimativa, no entanto, é extremamente
conservadora, quando se considera que a demanda por produtos industrializados,
como a margarina, cresce em uma proporção de 10% ao ano (Agropalma, 1999).
3.3.2 Produção brasileira, por estado
O dendê atualmente é cultivado nos Estados do Pará, Amapá, Bahia e
Amazonas. A Tabela 5 apresenta a evolução da área (ha), da produção (t) e da
produtividade (t de óleo/ha) nos principais Estados produtores brasileiros, no
período de 1992 a 1999. A Tabela 5 permite que se façam as seguintes
observações:
1. No Estado do Pará, embora a área em produção tivesse
permanecido praticamente constante no período analisado, a produção de óleo
teve uma variação de 90%, passando de 42,2 mil toneladas para cerca de 80
mil toneladas;
2. A produtividade do óleo paraense, em t/ha, no mesmo período foi
sistematicamente crescente, elevando-se de 1,55 t/ha, em 1992, para 2,91
t/ha, em 1999, totalizando um aumento de 87,5%. Essa produtividade, que é a
maior observada, entre todos os Estados, ainda é bastante inferior à dos
maiores produtores mundiais;
3. No Estado do Amapá, a área em produção ficou estagnada em cerca
de 3.500 ha e a produção e produtividade têm decrescido significativamente ao
longo do período;
4. No Estado da Bahia, a área em produção decresceu cerca de 50%, a
produção de óleo no período mostrou-se bastante irregular e a produtividade
do óleo em t/ha, teve um crescimento de cerca de 74%, no período;
5. No Estado do Amazonas, o comportamento da produção, área e
produtividade, no período analisado, foi bastante irregular.
48
Percebe-se, também, a partir da Tabela acima, que a área brasileira com
dendê em produção, no ano de 1999, era de cerca de 35,8 mil hectares, dos quais
77% situados no Estado do Pará. A produção brasileira de óleo de palma no
mesmo ano foi de 92,7 mil toneladas, dos quais 86,5% produzidos no Estado do
Pará.
A Figura 23 mostra o crescimento em área e produção, considerando-se os
três Estados da região Amazônica. A Figura deixa claro que a expansão da
produção tem-se dado por aumentos de produtividade. Nesse período, a área
produtiva permaneceu praticamente constante. De 2000 em diante, no entanto,
observa-se expansão também em área, embora a crescimento dessa última
continue ainda muito inferior ao da produção. É uma estratégia claramente
diferente da observada para o caso da Malásia, apresentado na seção anterior
(Agronegócio do dendê no Mundo). Aquele país apresenta expansão sistemática
e planejada de área de produção, ademais de contar com ótima produtividade.
Tanto a área em produção quanto a produção total de óleo de palma estão
muito aquém das reais potencialidades brasileiras. O nível de produção alcançado
pelo Brasil equivale a apenas 0,5% da produção mundial de óleo de dendê.
A maior parte da área em produção no Estado do Pará está concentrada na
região Norte do Estado, onde foi criado um parque industrial que está em plena
expansão.
Obviamente, está localizada no Pará a maior capacidade instalada de
extração de óleo de dendê, com uma capacidade de processamento de 155 t/cff/h,
representando cerca de 80% da capacidade total de processamento de palma no
Brasil. Em geral, essa capacidade é determinada principalmente pelo volume de
cachos que é esterilizado e pela capacidade de esmagamento das prensas.
Também estão localizadas no Pará, duas refinaria de óleo de palma, com
capacidade de refino de 200 e 50 t/dia, pertencentes aso Grupos Agropalma e
Kabacznic, respectivamente. Essas refinarias permitem a produção de produtos
com maior valor agregado.
O adequado dimensionamento da capacidade de processamento do óleo é
de grande relevância, pois a palma produz cachos o ano inteiro, com grandes
variações na produção de um mês para o outro. Tal variação pode atingir no mês
de maior produção, 12% do total produzido anualmente, enquanto que o mês de
menor produção pode chegar a 4,5% da produção total (Müller & Alves, 1997). Em
conseqüência, o inadequado dimensionamento dessa capacidade, pode afetar
diretamente a qualidade do produto obtido, já que os cachos de dendê, após a
maturação, têm que ser beneficiados no máximo até 24 horas após a colheita. Por
essa razão, concomitantemente à implantação do plantio da palma deve ser
prevista a instalação da usina de processamento dos cachos de frutos frescos, em
local próximo ao plantio.
49
Tabela 5
Área , Produção de Óleo de Palma e Produtividade nos Estados do PA, AP, BA e AM – 1992-99
PARÁ
Ano
AMAPÁ
BAHIA
AMAZONAS
Área
Produção
Produtiv.
Área
Produção
Produtiv.
Área
(ha)
(t)
(t/ha)
(ha)
(t)
(t/ha)
(ha)
1992
27.200
42.200
1,55
n.d.
n.d.
n.d.
7.000
7.800
1,11
2.000
n.d.
n.d.
1993
24.200
46.605
1,88
3.650
n.d.
n.d.
n.d.
3.700
n.d.
n.d.
n.d.
n.d.
1994
21.754
63.501
2,92
3.650
1.200
0,33
4.400
4.936
1,12
1.250
632
0,51
1995
24.078
63.670
2,64
3.500
5.400
1,54
3.300
4.616
1,40
1.000
316
0,32
1996
24.601
65.883
2,68
3.500
6.300
1,80
3.400
5.338
1,57
n.d.
n.d.
n.d.
1997
25.455
70.654
2,78
3.500
4.960
1,42
2.000
2.673
1,34
n.d.
n.d.
n.d.
1998
27.683
74.690
2,70
3.500
2.900
0,83
2.500
4.400
1,76
1.200
2.200
1,83
1999
27.586
80.248
2,91
3.500
2.900
0,83
3.500
6.784
1,94
1.200
2.800
2,33
Var. %
92/99
1,42
90,16
Fontes: 92 a 93 (Pará, 1997)
94 a 98 (Agrianual, 2000)
99 (Veiga, 2000)
87,50
(50,00)
Produção Produtiv.
(t)
(13,03)
(t/ha)
73,95
Área
Produção
Produtiv.
(ha)
(t)
(t/ha)
50
90000
Area
Produção
80000
70000
Hectares - Ton/Hectares
60000
50000
40000
30000
20000
10000
0
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
Anos
Figura 23: Área e Produção de óleo de palma, na região Amazônica, de 1992 a 1999.
Fonte: AgriAnual, 2000
Toda a produção brasileira de óleo de palma e derivados é realizada por uma
dúzia de empresas que verticalizam produção de matéria-prima e processamento.
Na Figura 3.3.1.2 abaixo, apresenta-se a produtividade obtida por essas
empresas, somente na região amazônica, no período de 1992 a 1998. Os dados
foram extraídos das Tabelas 6 e 7.
Verifica-se aí que algumas das empresas (Crai-Agropalma, Denpasa e
Coacará) atingem níveis de produtividade semelhantes aos observados nos
grandes produtores mundiais de óleo de palma (Malásia e Indonésia). O
crescimento em produtividade obtido pela Coacará, no período, é notável. As
demais empresas apresentam um desempenho mais irregular, no período, embora
todas tenham apresentado também algum crescimento em produtividade.
51
Tabela 6
Produção (em toneladas de óleo de palma), por Estado e Empresa, 1992-2000.
ESTADO/EMPRESA
PRODUÇÃO (TON DE ÓLEO DE PALMA)
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
CRAI-AGROPALMA
20.120
24.252
32.000
30.000
31.420
35.805
39015
43.489
66.000
DENPASA
14.380
11.388
12.681
9.506
9.843
10.439
8092
4.697
2.000
COACARA
-
106
3.323
6.916
6.395
7.182
10190
12.152
2.832
CODENPA
3.850
3.034
5.200
5.570
5.985
5.302
4979
5.000
5.000
DENTAUA
2.650
3.034
4.397
4.668
4.880
4.400
3700
5.050
6.200
PALMASA
1.200
1.991
3.900
4.530
4.100
4.106
4514
5.265
6.050
MARBORGES-RMA
-
1.800
2.000
2.480
3.260
3.420
4200
4.860
5.700
SUBTOTAL - PARÁ
42.200
45.605
63.501
63.670
65.883
70.654
74690
80.513
93.782
COPALMA
-
-
1.200
5.400
6.300
4.960
2900
-
-
SUBTOTAL - AMAPÁ
-
-
1.200
5.400
6.300
4.960
2900
-
-
OLDESA
4.000
2.200
3.378
3.180
4.304
2.673
4400
5.634
3.700
OPALMA
3.800
1.500
1.558
1.436
1.034
1.200
1.360
SUBTOTAL - BAHIA
7.800
3.700
4.936
4.616
5.338
4400
6.834
5.060
CAIAUE
-
-
632
316
2200
2.800
2.300
SUBTOTAL -
-
-
632
316
2200
2.800
2.300
AMAZONAS
Fonte: Agrianual, 2001
2.673
52
Tabela 7
Área plantada, em hectares, por Empresa e Estado, 1992-2000.
ESTADO/EMPRESA
ÁREA (HECTARES)
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
10.000
8.000
7.800
9.000
9.067
9.739
11.799
13.891
18.000
DENPASA
6.200
3.500
3.286
3.068
3.103
3.075
2.000
1.726
1.106
COACARA
-
2.100
2.568
2.560
2.570
2.570
2.560
2.560
-
CODENPA
3.000
2.800
3.000
3.100
3.200
3.400
3.200
3.200
2.500
DENTAUA
3.000
3.700
1.800
2.150
2.201
2.201
-
2.201
2.200
PALMASA
3.000
3.000
1.850
2.500
2.560
2.560
3.514
2.514
2.544
MARBORGES-RMA
2.000
1.100
1.450
1.700
1.900
1.910
1.910
1.910
1.890
SUBTOTAL - PARÁ
27.200
24.200
21.754
24.078
24.601
25.455
24.983
28.002
28.240
COPALMA
-
3.650
3.650
3.500
3.500
3.500
-
2.000
2.000
SUBTOTAL - AMAPÁ
-
3.650
3.650
3.500
3.500
3.500
-
2.000
2.000
CRAI-AGROPALMA
OLDESA
4.000
2.000
2.000
2.000
2.000
2.500
4.000
4.000
OPALMA
3.000
2.400
1.300
1.400
-
-
1.000
1.450
SUBTOTAL - BAHIA
7.000
-
4.400
3.300
3.400
2.000
2.500
5.000
5.450
CAIAUE
2.000
-
1.250
1.000
-
-
1.200
1.200
1.200
SUBTOTAL AMAZONAS
2.000
-
1.250
1.000
-
-
1.200
1.200
1.200
Fonte: Agrianual, 2001.
53
CRAI-AGROPALMA
DENPASA
COACARA
CODENPA
DENTAUA
MARBORGES-RMA
COPALMA
CAIAUE
OLDESA
OPALMA
PALMASA
5,00
4,50
4,00
3,50
3,00
2,50
2,00
1,50
1,00
0,50
0,00
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
Anos
Figura 24: Produtividade de empresas de óleo de palma, na Amazônia, 1992 a 2000.
(F t
Fonte: Agrianual, 2001.
A Agropalma aumentou sua área de produção em 28000 hectares, a partir de
2000. Mantida sua atual produtividade, isto significará um aumento de sua
produção de cerca de 103 mil TM, na próxima década. Somente essa adição de
área, portanto, seria suficiente para praticamente dobrar a produção de óleo de
palma, nos anos vindouros.
3.3.3 Preços do óleo de palma, no Brasil
A Figura 25 mostra os preços médios anuais pagos pelo óleo de palma
brasileiro, no período de 1990 a 1999. De 1990 a 1999, o preço médio da
tonelada desse óleo esteve sempre acima de US$ 300,00. Observa-se um
crescimento desse preço, no período de 1994 a 1998, e um decréscimo, no ano
de 1999. Esse decréscimo continou nos anos seguintes. Em 2000, o preço médio
do óleo de palma, no Brasil, foi de US$ 378,00/ton (Agrianual, 2001).
54
600
Média anual
Média anual
deflacionada
500
US$/T
400
300
200
100
0
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
Anos
Figura 25: BRASIL-Preços Médios Anuais do Óleo de Palma, 1990-1999. Média anual deflacionada segundo
Índice de Preços no Varejo (CPI-U)
Fonte:Agrianual, 2000
Os preços médios mensais do óleo de palma, no Brasil, nos anos de 1990 a
1999 são apresentados na Figura 26. De setembro a fevereiro de cada ano, os
preços desse óleo se apresentam mais elevados. Há uma queda razoável de
preços, no mês de julho. As diferenças entre os preços mensais, no entanto, não
são tão elevadas como as observadas para os preços médios mensais, no mundo,
desse óleo.
Mantido o preço médio anual verificado em 2000 (US$ 378.00 por TM), e
considerada a produção de cerca de 105.000 TM, desse ano, o agronegócio do
dendê, no Brasil, está gerando atualmente um capital correspondente a 39,7
milhões de dólares anuais.
55
390,00
380,00
370,00
US$/T
360,00
350,00
340,00
330,00
320,00
310,00
JAN
FEV
MAR
ABR
MAIO
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
DEZ
MESES
Figura 26 - Brasil, preços médios mensais nominais de óleo de palma, 1990 - 1999
Fonte: Agrianual, 2000
Embora fuja ao escopo do presente trabalho, a análise de cenários possíveis
para os preços do óleo é uma questão importante, que deve merecer investigação
mais aprofundada.
3.3.4 O agronegócio de dendê no Brasil: futuro tendencial
O agronegócio de oleaginosas, no Brasil, tem-se mostrado um setor de alto
desempenho, nos últimos anos, especialmente devido ao fantástico crescimento,
em todos os indicadores, observado na cultura da soja. Em relação ao dendê,
produção e consumo apresentam-se ainda incipientes, com o primeiro bastante
inferior ao segundo. No entanto, quando se olha para o futuro, encontra-se
projeções de crescimento, para a produção de óleo de palma e derivados, de
150%, em oposição aos 40% que o total de óleos e gorduras deve crescer, no
mesmo período (1998-2012). O consumo interno dos óleos de palma também
deve experimentar sensível crescimento, nesses anos (103%), acompanhado por
um crescimento mais reduzido do setor de óleos e gorduras (30%) como um todo.
Em 2012, se considera um mesmo preço médio de US$ 354.00, tanto para óleos e
gorduras como para os óleos de palma e derivados, o setor, em geral, irá
movimentar 2 bilhões de dólares, enquanto que o óleo de palma será responsável
por cerca de 5 % desse valor (106 milhões de dólares).
56
A Figura 27 abaixo apresenta a projeção do balanço brasileiro de óleos
comestíveis, de 1998 a 2012. Nesse período, a participação do óleo de soja, na
5.000
Ó leo de Soja
Ó leo de Algodão
Ó leo de Palm a
O utros
Ó leo de Milho
4.500
4.000
3.500
Mil TM
3.000
2.500
2.000
1.500
1.000
500
1998/2002
2003/2007
An os
2008/2012
Fig ura 27: Projeção do balanço brasileiro de óleos com estíveis, 1998-2012.
Fo nte: O il W orld
produção total de óleos e gorduras, deverá manter-se estável (75%), o mesmo
acontecendo com o óleo de milho (2,8%). O óleo de algodão deverá ter sua
participação reduzida de 5% da produção total de óleos e gorduras, em 1998, para
4%, em 2012; o mesmo se observa para outros óleos, que decrescem sua
participação de 14 para 13%, nesse período. O óleo de palma, por sua vez, vai
quase dobrar sua participação, nesses anos, passando de 2,55%, em 1998, para
4,55%, em 2012.
Ainda assim, o consumo brasileiro de óleo de palma, em 2012, deve
continuar superior à produção desse óleo: para as 300 mil TM produzidas, esperase um consumo de 372 mil TM, nesse ano. A projeção indica que o Brasil
continuará dependendo de importações para atender o consumo interno de óleo
de palma. Como mostrado na Figura 28 abaixo, embora a diferença entre
produção e consumo (a primeira atendendo a apenas 66% das necessidades do
mercado interno, em 1998, e a 81% dessas necessidades, em 2012) tenda a
reduzir-se.
57
Produção
Consumo
400
350
300
Mil TM
250
200
150
100
50
1998/2002
2003/2007
Quadriênios
2008/2012
Figura 28: Produção e consumo de óleo de palma e derivados, no Brasil, de 1998 a 2012.
Fonte:Oil World
58
Em conclusão, pode-se afirmar, em relação ao agronegócio de dendê, no
Brasil:
1. Existe possibilidade de expansão do mercado interno, já que o mercado
brasileiro não tem sido atendido em suas necessidades de consumo. Há
espaço para crescimento de oferta, mesmo mantida a demanda atual. Essa
demanda, no entanto, também apresenta tendência de crescimento,
acompanhando a taxa prevista para alimentos industrializados (10% ao ano),
segmento mais atendido pelo óleo de palma e derivados. Por essa razão,
acredita-se que um programa de expansão de oferta deve considerar esse
aumento previsto na demanda. Essa necessidade de expansão da oferta
interna é fundamentada por:
!
Espera-se um aumento do consumo de óleo de palma e derivados, no
Brasil, em 2012, da ordem de 150%, em comparação com o verificado em
1998;
!
Por outro lado, mantidas as atuais tendências de crescimento da produção,
em 2012 ela ainda será insuficiente para atendimento do nível de consumo
(300 mil TM produzidas, em face de 372 mil TM consumidas).
2. A expansão da produção brasileira tem sido lenta, baseada mais em ganhos
de produtividade do que de expansão de área. Algumas empresas já atingiram
níveis de produtividade semelhante aos dos maiores produtores mundiais;
3. Poucas empresas apresentam comportamento regular, em termos de
produção. Essas empresas encontram-se no norte do Pará. Amapá, Amazonas
e Bahia apresentam desempenho bastante instável.
4. Os preços no mercado interno apresentam maior estabilidade, durante o ano,
que os preços do mercado externo.
59
4.
ANÁLISE DA CADEIA PRODUTIVA DE DENDÊ NA
AMAZÔNIA LEGAL
4.1
CARACTERIZAÇÃO GERAL DA CADEIA PRODUTIVA
Acredita-se que o dendezeiro (Elaeis guineensis) tenha sido introduzido no
Brasil por escravos africanos, por volta de 1616, dando origem aos dendezais
subespontâneos do litoral baiano (Valois, 1997).
O primeiro cultivo planejado de dendê foi iniciado em 1966-1968, em projeto
piloto de 1500 hectares,
no Estado do Pará, promovido pela antiga
Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia, atual
Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), em convênio com
o Institut de Recherches pour les Huiles et Oleagineux (IRHO). Essa plantação
pioneira foi depois repassada para a Dendê do Pará S. A. Havia ainda plantações
satélites a essa, financiadas com recursos da Secretaria de Estado da Agricultura
(SAGRI), SUDAM, Banco do Brasil, Banco do Estado do Pará e Banco Nacional
de Crédito Cooperativo (Müller e Alves, 1997).
A iniciativa da SUDAM teve um bom efeito demonstrativo, sobre os
produtores locais, e o cultivo do dendê se espalhou pela Amazônia, em alguns
casos ainda incentivada pelo setor público (como no caso do Amazonas), outras
pelo emprendedorismo privado.
Como já mencionado, os Estados do Pará, Amazonas e Amapá são os que
apresentam alguma experiência e conhecimento sobre a cultura do dendê. Em
particular, o Pará apresenta-se hoje como o grande produtor nacional,
responsabilizando-se por quase 90% da produção interna. No entanto, o
desempenho das próprias empresas paraenses, que fazem parte da cadeia, tem
sido desigual. Nos demais Estados, esse desempenho é marcado pela
irregularidade, com alguns anos mesmo de interrupção da produção de cachos e
óleo de dendê.
Essa irregularidade tem sido causada por diversos fatores. No levantamento
primário realizado junto a diversos atores sociais da cadeia produtiva do dendê na
Amazônia, foram identificados os seguintes:
1. Instâncias de má gestão do projeto de implantação da cultura: esse foi o
caso do projeto EMADE, no Amazonas, que apresentou problemas
relacionados à infra-estrutura para processamento, altos custos (mencionase que teria sido o projeto mais caro do mundo ) e viabilidade econômica.
Em virtude desses fatos, não foi realizada, por exemplo, a drenagem
necessária dos solos para cultivo. Ocorreram focos de amarelecimento
fatal, no projeto, talvez como consequência da má gestão descrita;
2. Descontinuidade na gestão de empresas particulares, como foi o caso da
Caiaué, também no Amazonas: nesse caso, pelo falecimento do
proprietário original, houve disputas entre os herdeiros que inviabilizaram a
60
continuidade do cultivo. Atualmente, esse empresa foi comprada por outros
empresários privados, que estão tentando recuperar o cultivo e
processamento do dendê;
3. Ainda problemas relacionados à gestão ocorreram no caso da Copalma, no
Amapá. Aconteceram denúncias em relação à administração de pessoal,
nessa empresa, que resultaram na interrupção de suas atividades;
4. Perda da produção, como resultado de ocorrência de amarelecimento fatal,
por outro lado, foi o fator causador de prejuízos para parte dos
investimentos da DENPASA, que culminaram com a aquisição do controle
de sua subsidiária, a Coacará, pela Agropalma, em 2000.
Apesar desses problemas, como já mencionado, algumas empresas têm
conseguido resultados extremamente favoráveis, em termos de produtividade, ao
longo da última década.
Considerando esses dados iniciais, e os desejos e aspirações dos principais
atores sociais da cadeia, pode-se inferir que o objetivo desse sistema seria a
produção sustentável e eficiente de óleo de palma e seus derivados, com
qualidade e quantidade suficiente para atender, prioritariamente, o mercado
interno. Considera-se que fazem parte da cadeia, atualmente, os fornecedores de
insumo (internos e externos as empresas integradas de produção e
processamento, nos Estados do Pará e do Amazonas, empresas de
processamento secundário (locais, nacionais e internacionais), comércio
atacadista e varejista e consumidores finais de produtos industrializados que
utilizam, em maior proporção, o óleo de palma e seus derivados.
A Figura 29 apresenta um modelo para a cadeia produtiva do dendê na
Amazônia, incluindo o fluxo de materiais que se inicia pelo fornecimento de
insumos e termina com a entrega de alimentos industrializados que utilizam a
matéria-prima produzida pelo processamento primário.
De acordo com o modelo proposto, existem quatro segmentos de
fornecedores de insumos, nessa cadeia: os de sementes e mudas, os de
fertilizantes, os de defensivos e os de equipamentos. Esses fornecedores provêm
insumos para dois segmentos de sistemas integrados de produção e
processamento primário: empresas de grande porte e de médio porte. As
empresas de grande porte comercializam o óleo de palma e derivados no mercado
externo e no mercado interno (indústria de alimentos, de sabões, de lubrificantes e
de rações). As empresas de médio porte, por sua vez, destinam parte de sua
produção de óleo para as empresas de grande porte e para o mesmo mercado
interno. Os produtos da indústria de rações são utilizados por cadeias integradas
(por exemplo, de aves). As demais indústrias, após processamento secundário,
assim como as cadeias integradas, destinam seus produtos para o comércio
atacadista e varejista, e esse o entrega para os consumidores finais.
61
Observe-se que, embora estejam indicados na cadeia, o comércio exterior e
as cadeias integradas estão fora dos limites da cadeia estudada, pelo reduzido
aporte que hoje representam, para a cadeia produtiva do dendê na Amazônia.
A cadeia apresenta ainda um ambiente organizacional, representado por
aquelas organizações que apoiam a cadeia, mas não fazem parte direta da
mesma: Esse ambiente organizacional é composto, principalmente, por
instituições de pesquisa, de assistência técnica, de crédito e transporte.
O ambiente institucional da cadeia, por sua vez, é composto pelo conjunto de
leis e normas que condicionam seu desempenho, entre as quais se destacam a
legislação ambiental, impostos e taxações.
Nas próximas seções, cada um dos componentes da cadeia são descritos e
analisados.
4.2
INSUMOS
Os sistemas produtivos agrícolas e a agroindústria dependem dos seguintes
insumos, para produzir a matéria-prima: a) sementes; b) fertilizantes; c) raticidas;
d) equipamentos para a colheita e o processamento do fruto.
A seguir, são descritas as condições de fornecimento de cada um desses
insumos, na Amazônia.
4.2.1 Sementes:
As sementes de dendê, em produção comercial, podem ser divididas em
duas categorias, conforme a base genética dos genitores masculinos (La Mé,
Yangambi). Os genitores femininos têm a mesma origem (Deli). As sementes
produzidas pelos programas de melhoramento ligados aos franceses são do tipo
Deli x La Mé, enquanto as oriundas de programas ingleses são do tipo Deli x
Yangambi.
As principais diferenças entre os dois tipos de semente indicam uma
superioridade da Deli X La Mé nos seguintes atributos: a)crescimento em altura
(menor do que a Deli x Yangambi); b) produção durante o ano; c) uniformidade de
produção durante o ano.
6262
Ambiente organizacional
Forn.
Comércio
!
Objetivos,
Sementes/
exterior
Mudas!! Limites,
Entradas e saídas,
!
Modelo, componentes
Empree-segmentos, fluxo
sas de
Forn.
grande
Fertiliporte
zantes
(SP/AG)
Forn. de
Defensivos
Empresas
de porte
médio
(SP/AG)
Ind. alimentos
Ind.
sabões
Ind.
Lubrif.
Com.ataca
dista
Com.
varejista
Consumidor final
Ind.
rações
Forn. de
Equipamentos
Cadeias
integrad as
Ambiente institucional
FIGURA 29: CADEIA PRODUTIVA DO DENDÊ NA AMAZÕNIA
63
Um dos principais fornecedores de sementes às empresas brasileiras, é a
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Esse fornecedor
produz, na Estação Experimental do Rio Urubu (AM), sementes comerciais
híbridas Tenera, oriundas do cruzamento Dura x Pisifera, de diferentes categorias
do tipo Deli x La Mé, as quais, além dos atributos acima, apresentam resistência à
fusariose, excelente produção de cacho e alta qualidade do óleo produzido.
Outros fornecedores (Costa Rica, Malásia, Papua Nova Guiné e Zaire)
utilizam sementes oriundas dos genitores Deli x Yangambi. A Costa Rica é
também um importante fornecedor de sementes, às empresas de dendê na
Amazônia.
Segundo um dos produtores entrevistados, a semente produzida pela
Embrapa apresenta melhor qualidade que as demais. No entanto, esse
empresário recorre também a outros fornecedores de sementes. A razão para isso
está no fato de que, embora a semente da Embrapa realmente apresente maior
uniformidade de produção durante o ano, ainda se caracteriza por concentrá-la em
determinados meses do ano. As sementes fornecidas pela Costa Rica, por outro
lado, tem seus picos de produção concentrados em outros meses . A utilização
conjunta dos dois tipos de sementes, portanto, é estratégia utilizada por esse
empresário para aumentar sua produção durante os meses em que uma espécie
de semente é menos produtiva que a outra. Outra razão é a limitada capacidade
de atendimento, desse fornecedor.
Essa estratégia parece ser seguida pela maioria dos produtores, os quais,
via de regra, relataram utilizar mais de um fornecedor desse insumo. A Tabela 8
apresenta os fornecedores indicados pelos produtores entrevistados.
Tabela 8
Fornecedores de sementes para cada uma das empresas produtoras
de dendê
Empresa
Fornecedores de sementes
AGROPALMA
Papua Nova Guiné, Embrapa (Brasil), Agricultural
Service Development -ASD (Costa Rica), Costa do
Marfim, Tailândia, Colômbia, Zaire
DENPASA
Embrapa (BR), ASD (Costa Rica), IRHO, Papua Nova
Guiné, Camarões, Zaire
PALMASA
Embrapa (BR), ASD (Costa Rica), OPALMA (Brasil) e
CEPLAC (Brasil)
CAIAUÉ
Embrapa (Brasil) e ASD (Costa Rica)
64
Quanto à oferta de sementes, atualmente a Embrapa produz cerca de 1,5
milhões de unidades/ano, comercializando cerca de 1 milhão de sementes prégerminadas por ano. Essa quantidade é suficiente para implantar uma área de
cerca de 6 mil ha/ano e para atender a demanda brasileira atual de sementes,
estimada pela Embrapa em cerca de 800 mil sementes/ano. Esse fornecedor, por
outro lado, tem planos para duplicar sua produção de sementes e, nesse caso,
poderia possivelmente atender o mercado interno, mesmo com aumento em sua
demanda. O Agricultural Service Development (ASD) da Costa Rica, por sua vez,
tem atualmente uma capacidade de produção quinze vezes maior do que a da
Embrapa. Assim, pode atender, sem maiores problemas, uma expansão de área
de dendê da ordem de 90 mil ha/ano.
A Embrapa tem atendido, no entanto, não somente a demanda brasileira,
mas tem também fornecido sementes a empresas do Equador, Colômbia, Peru e
Guatemala. Considerando-se a América Latina como um todo, estima-se que
existiria uma demanda por sementes da ordem de 7 milhões de unidades/ano.
Nos últimos três anos, a Embrapa atendeu, em maior proporção, o mercado
interno (especialmente empresas do Estado do Pará: Industria Yossan Ltda.,
Amapalma, Codenpa, Palmasa, Dentauá, Denpasa e Secretaria de Agricultura do
Pará). Os compradores externos, nesse período, são empresas colombianas,
equatorianas e guatemaltecas. Até junho de 2000, os compradores externos
haviam consumido cerca de 40% das sementes produzidas por esse fornecedor.
Uma variável importante, na determinação de qual é o fornecedor a utilizar,
consiste no preço da semente. Na Tabela 9, apresenta-se os preços praticados
pela Embrapa, em comparação com os que se verifica na Costa Rica.
Tabela 9
Preços da unidade de semente de dendê, conforme tipo de semente e
destino, praticados por dois dos maiores fornecedores (em US $).
FORNECEDOR
Embrapa
ASD (Costa
Rica)
TIPO DE
SEMENTE
DESTINO
Brasil
Exterior
1999
2000
2000
Germinada
0,77 a 0,79*
1,00
0,70
Seca
-
-
0,50
Germinada
Sem
informação
0,60 a 0,65**
0,60 a 0,65**
*Preço variável, dependendo da quantidade de sementes comprada
**Preço variável, dependendo do potencial apresentado pelo cliente.
Os dados apresentados na Tabela 9 indicam que a Embrapa tem praticado
preços mais elevados do que os da Costa Rica. Além disso, mostra que esse
fornecedor tem estabelecido preços inferiores, para compradores do exterior que
65
para compradores brasileiros. Essa é, provavelmente, uma razão a mais para que
os produtores diversifiquem os provedores desse insumo, conforme se tem
observado.
A proximidade física entre a Estação Experimental do Rio Urubu e as
empresas produtoras de dendê, no Amazonas e no Pará, reduz os custos de
aquisição desse insumo. Em contraposição, o preço praticado pelos fornecedores
externos é mais barato.
A Tabela 10 apresenta o total de capital imobilizado em sementes, pela
cadeia do dendê na Amazônia, e os totais que seriam demandados para atender
o consumo de 372.000 Toneladas, em 2012, se a previsão do Oil World se
confirmasse. Hipotetizam-se dois cenários: no primeiro, a produtividade é igual à
produtividade média atual do Pará: 3,4 Toneladas/hectare. No segundo cenário,
essa produtividade alcança 4 Toneladas/Hectare. O preço médio da semente é
estabelecido como sendo igual a US$ 0,80 para todos os cenários. Assume-se
também a premissa, na Tabela, de que a proporção de área existente em 2000,
nos três Estados, será mantida, em qualquer cenário.
Tabela 10
Área e capital imobilizado em sementes*, em 2000 e em 2005, para atender a
projeção de consumo de 372.000 T/ano em 2012.
SITUAÇÃO
ATUAL
CENÁRIO 1:
CENÁRIO 2:
Produtividade=3,4 T/ha Produtividade=4,0 T/ha
ESTADOS
Pará
Área
(1999)
28240
Total (US$)
3.230.656,00
Área (2005) Total (US$) Área (2005)
98470,8 11265059,52
Total (US$)
83700
9.575.280,00
Amapá
2000
228.800,00
6564,72
751003,968
5580
638.352,00
Amazonas
1200
137.280,00
43764,8
5006693,12
37200
4.255.680,00
Total
31440
3.596.736,00
109412
12516732,8
93000 10.639.200,00
*Assumiu-se 143 sementes por hectare, preço médio de US$ 0,80 por unidade de semente.
No primeiro cenário, seriam necessárias cerca de 16 milhões de unidades de
sementes, para atender à área prevista. No segundo cenário, com produtividade
mais elevada, 13 milhões de unidades de sementes seriam suficientes. Em termos
de suprimento, seria mantida a necessidade de contar com mais de um fornecedor
de sementes. Entrevista realizada com Embrapa e ASD, por outro lado, revelou
que o suprimento de sementes para essa demanda aumentada não seria um
problema, já que os dois fornecedores, juntos, tem hoje a capacidade para prover
sementes para uma expansão de cerca de 100.000 ha/ano. Haveria problemas, no
entanto, caso houvessem barreiras à importação de sementes, já que os
fornecedores locais (Embrapa e CEPLAC) não conseguiriam atender à essa
demanda expandida.
66
4.2.2 Fertilizantes
A palma africana é altamente exigente em relação a fertilizantes. Desses
depende, de forma vital, para a geração de frutos sadios, com boa qualidade de
óleo e rendimento satisfatório. Segundo Botelho (1996), por essa razão, o
dendezeiro “é considerado como tendo, provavelmente, a maior porcentagem de
área cultivada sob fertilização intensiva, entre culturas perenes”.
Os elementos nutricionais mais requeridos, pela palma africana, são
Nitrogênio (N), Fósforo (P), K (Potássio), Magnésio e Boro (B). Esses elementos
tem sua exigência aumentada com o avançar da idade da planta, como
consequência da produção de cachos.
Esses fertilizantes são comprados, pelos produtores, em Belém, de dois
principais fornecedores: FERTIMAR e TAKENAKA. São em geral trazidos de
navio, com economia de 30 a 40% em relação ao frete rodoviário. Os preços dos
adubos são cerca de 10 a 15 % mais caros, via de regra, dos verificados no sul do
País. Segundo alguns entrevistados, ficam mais ou menos equivalentes àqueles
do sul, quando se compra em grandes quantidades, se utiliza transporte de
cabotagem e se considera o incentivo de ICM (7%) para compensar transporte
desses fertilizantes.
A distância entre os fornecedores desses insumos, e as empresas de dendê,
é uma das dificuldades para sua obtenção no tempo desejado. Essa distância
obriga os empresários e produtores a realizarem uma programação e alocação de
recursos bastante antecipada (de pelo menos dois meses).
Na Tabela 11, apresentam-se os custos de fertilizantes para a área em
produção atual e para previsões de expansão de área, de modo a atender o
consumo interno, em 2012. No primeiro cenário, pressupõe-se uma produtividade
de 3,4 T de óleo/hectare, contra 4, no segundo cenário. A participação dos
Estados na produção de óleo é assumida como continuando igual à atual. Para os
custos de fertilizantes da área expandida, o cálculo efetuado considerou a
exigência da área atual, mais a da nova área, para os primeiros seis anos de
plantio.
67
Tabela 11
Custos de fertilizantes* para a área de produção atual e para previsões
de aumento da produção de óleo, em 2012, para 372 mil toneladas.
Área em Custos de
ESTADOS produção Fertilizantes
1999
(US$)
28240
25.980,80
Pará
2000
1.840,00
Amapá
1200
1.104,00
Amazonas
31440
28.924,80
Total
Área 1**
(2005)
98470,8
6564,72
43764,8
109412
Custos de Área 2 *** Custos de
Fertilizantes (2005) Fertilizantes
(US$)
(US$)
90.593,14
6.039,54
40.263,62
100.659,04
83700
5580
37200
93000
77.004,00
5.133,60
34.224,00
85.560,00
* Para os custos de fertilizantes, foram adotados os seguintes preços (US$/kg): Fertilizante formulado
16-18-20: 0,40; Cloreto de potássio: 0,20; Sulfato de amônia: 0,12; Óxido de magnésio: 0,25; Fosfato=0.19.
Preços e quantidades são os descritos por Agrianual (2000).
** Essa expansão de área é a prevista se produtividade = 3,4 T óleo/hectare
*** Essa expansão de área é a prevista se produtividade = 4,0 T óleo/hectare
4.2.3 Equipamentos
Esse tipo de insumos é requerido tanto pela produção agrícola da matériaprima, como pela indústria de processamento.
Nos sistemas produtivos agrícolas, são necessárias peças, tratores, veículos
e outros equipamentos, que em média – segundo um dos produtores
entrevistados – apresentam preço em média 40 % superior aos que se pode obter
no sul do País. Esses equipamentos destinam-se ao plantio, colheita e transporte
dos frutos e são obtidos no comércio local ou em compras diretas com
revendedores no Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais. A maior
dificuldade, na obtenção desses insumos, é provocada pela grande distância entre
esses Estados e os produtores, e pela existência de poucos fornecedores.
Outros equipamentos são necessários para a extração do óleo. Segundo
Menezes (1995),
a tecnologia para essa extração difere das de outras
oleaginosas e é, portanto, uma tecnologia produto-específica.
Para o
processamento primário (obtenção do óleo de palma bruto), existem dois
fornecedores com tecnologia estrangeira, no País: Máquinas Piratininga
(licenciada da Stork, firma holandesa) e Asvotec (licenciada da Dewecker, firma
belga), ambas sediadas em São Paulo.
Próximo a Belém (Castanhal) encontra-se uma das empresas de tecnologia
nacional que fornecem esse tipo de equipamento para empresas de pequeno e
médio porte: a Promak Tecnopalma. Esse fornecedor relatava, em 1996, ter
implantado cinco agroindústrias com capacidade de processamento variando entre
1,5 e 12 toneladas de cachos de frutos frescos por hora, cuja produção de óleo
corresponderia a 25 % da produção nacional, naquele ano (Kaltner, 1996).
Há ainda uma outra fábrica de maquinaria de pequeno e médio porte, para o
processamento de dendê, a Masieiro, situada em Jaú, SP. No passado recente,
68
essa companhia fez uma associação com a DENPASA, para produção desses
equipamentos.
As próprias empresas processadoras têm atuado proativamente no
desenvolvimento e melhoramento da tecnologia industrial. Assim, segundo Souza
(1996), quando em atividade a DENPASA adaptou o uso da Mesa de Gravidade
para separação das cascas das amêndoas, substituindo a tecnologia de
Hidrociclone, tecnologia essa difundida para as outras empresas. Por outro lado, a
AGROPALMA desenvolveu um sistema de transporte e outro de esterilização de
cachos, aumentando a eficiência fabril.
Os empresários entrevistados não relataram dificuldades muito grandes, seja
em relação a preços desses equipamentos ou à tecnologia utilizada. Nas palavras
de um deles: “ processamento não exige muita tecnologia. A [fornecedora] provê
equipamento que funciona bem, a um preço bom”. Esse mesmo entrevistado, no
entanto, indicou que melhorias nos decantadores e debulhadores seriam bemvindas, para maior rendimento no processamento.
Segundo um dos fornecedores, orientado para plantas de pequeno a médio
porte, um dos principais problemas para os fornecedores é a falta de novos
plantios e, consequentemente, de novas encomendas. Somente esse fornecedor
teria capacidade para atender projetos de 5000 ha de médio porte/ano. No total,
entretanto, os fornecedores brasileiros teriam capacidade para atender 20.000
ha/ano. Em cinco anos, portanto, seria possível, sem maiores investimentos por
parte dos fornecedores, atender a uma expansão de 100.000 ha, suficiente para
garantir o fornecimento de 372.000 toneladas de óleo para o mercado interno,
projetada pela Oil World, para 2012. Considerando-se ainda o tempo decorrido
entre a implantação de novas áreas de plantio e a instalação de plantas de
extração (mínimo de dois anos), a indústria de equipamentos estaria capacitada,
atualmente, para atender a uma expansão significativa da cultura do dendê.
4.2.4 Mão-de-obra
A mão-de-obra é sabidamente um recurso escasso, na Amazônia, e isso
não é diferente nos Estados com maior tradição com a cultura (Pará, Amazonas e
Amapá). Quase 50% da população da Amazônia, considerando-se os Estados
que possuem experiência na produção de dendê, concentram-se no Pará. Nesses
Estados, a densidade demográfica corresponde a 4,7 habitantes por quilômetro
quadrado, no Pará, 3,07 no Amapá e 1,64 no Amazonas.
Segundo um dos entrevistados, no Amapá e no Amazonas, só se teria mãode-obra, para novas áreas de produção de dendê, dentro de assentamentos do
INCRA. A alternativa à utilização dessa mão-de-obra seria a importação de mãode-obra de outros Estados.
Embora a produção e o processamento de dendê sejam bastante
dependentes de mão-de-obra, a exigência é menor, quando se considera a
69
especialização requerida nas várias operações. No entanto, Veiga et al. (2000)
afirmam que já se verifica um elevado índice de mecanização, no campo, como
consequência da baixa densidade populacional combinada com legislação
trabalhista onerosa para os empresários. A Tabela 12 apresenta dados sobre a
geração de empregos diretos, atual e em 2005, conforme esses autores.
Tabela 12
N.º de empregos diretos gerados, por Estado produtor de dendê, situação
em 2000 e prevista em 2005 (Fonte: Veiga et al. 2000)
ESTADO
N.º de empregos diretos
2000
2005
Pará
3822
6985
Bahia
557
978
Amazonas
118
147
Total
4497
8140
4.2.5 Outros insumos
Tanto a produção agrícola como a etapa de processamento industrial
primário demandam ainda outros insumos, que só serão aqui indicados, por não
se constituírem em dificuldades ou gargalos para a cadeia produtiva.
Os sistemas produtivos agrícolas necessitam, além dos já mencionados, de
formicidas e raticidas, usualmente comprados no comércio local. A agroindústria,
por sua vez, necessita ainda dos seguintes insumos: óleo diesel; energia elétrica;
cachos de frutos frescos; e terra para branqueamento (no processo de refino).
Os primeiros dois insumos (óleo diesel e energia elétrica) podem ser
substituídos, em parte, pelo próprio óleo de dendê, conforme Menezes(1995). Os
cachos de frutos frescos são, em geral, fornecidos pela própria empresa
processadora, já que a maioria delas integra produção de matéria-prima e
processamento. Entre as empresas entrevistadas, duas delas, além de produzirem
seus próprios cachos, também compram de outros produtores.
4.2.6 Limitações e oportunidades originadas no componente
Em conclusão, o componente de fornecedores de insumo apresenta as
seguintes limitações:
!
De modo geral, a distância entre o fornecedor e o produtor aumenta os preços
desses insumos, e obriga o produtor a um planejamento de compras bastante
antecipado, com a conseqüente imobilização de recursos financeiros com esse
finalidade, e o fornecedor a arcar com os custos da logística envolvida em levar
seus produtos aos mercados da Amazônia;
70
!
Uma importante limitação relaciona-se à instabilidade de funcionamento da
cadeia produtiva, pela elevada soma de recursos – a maior parte proveniente
de financiamento/crédito externo – que ela demanda. Essa instabilidade é
repassada ao fornecedor (especialmente os de sementes e de equipamentos
específicos da cadeia) que não tem garantias sobre a demanda, mesma a
curto prazo, de seus clientes.
71
4.3.
SISTEMA INTEGRADO
PROCESSAMENTO
DE
PRODUÇÃO
AGRÍCOLA
E
O agronegócio do dendê na região amazônica é assegurado,
essencialmente, por nove empresas agroindustriais, sete das quais localizadas no
Estado do Pará, uma no Estado do Amapá e outra no Amazonas.
Esse reduzido número de empresas na atividade se explica, em parte,
devido aos altos investimentos demandados para implantação do projeto
agroindustrial, incluindo-se aqui tanto os investimentos agrícolas como os
industriais até o processamento primário de óleo, bem como a infra-estrutura
social requerida.
Uma característica peculiar do agronegócio do dendê é a necessidade de
integração da produção agrícola com o processamento industrial. Devido à rápida
acidificação dos frutos, esses necessitam ser processados em, no máximo, 24
horas após a colheita, para que a qualidade do óleo não seja comprometida. Tal
fato obriga que a instalação da indústria de processamento primário seja feita o
mais próximo possível do local de plantio. Essa característica da cultura faz com
que a geração de renda e emprego se concentrem na própria região do plantio. A
lógica de economicidade, em relação ao transporte da colheita, também
recomenda essa proximidade entre a região de cultivo e a de transformação da
matéria-prima.
Em decorrência dessas peculiaridades, o agronegócio do dendê se
caracteriza pelo surgimento de grandes empreendimentos agroindustriais,
compreendendo extensas áreas de cultivo integradas a plantas industriais de
processamento primário.
4.3.1 Segmentação
processamento
do
sistema
integrado
de
produção
agrícola
e
A segmentação de um mercado – nesse caso, o mercado intermediário
representado pelo sistema integrado de produção agrícola e processamento
primário – é extremamente importante, na análise de uma cadeia produtiva,
porque:
• Permite identificar os relacionamentos diferenciados, desse
mercado, com seus fornecedores e seus clientes;
• Permite quantificar o desempenho dos diferentes segmentos
identificados, bem como as possíveis causas de diferenças nesse
desempenho;
• Permite identificar demandas diversas, para os diversos
segmentos, assim como a formulação adequada de estratégias, para a
superação dessas demandas.
72
No caso do sistema integrado de produção e óleo de dendê, algumas
alternativas de segmentação, várias delas indicadas pela literatura sobre o
assunto, foram consideradas. Inicialmente, e pelo fato de que não existem
metodologias de segmentação para sistemas integrados como os que
caracterizam a cadeia de dendê, optou-se por considerar, em separado, apenas
os sistemas agrícolas, comparando-os a tipologias de classificação de unidades
produtivas dessa natureza, como aquela proposta por Molina (1993).
Esse autor propõe uma metodologia de segmentação baseada nas variáveis:
a) residência dos produtores; b) área da fazenda; c) mão-de-obra utilizada; d) nível
tecnológico; e) especialização; f) participação no mercado; g) uso de capital de
exploração e crédito. Com base nessas variáveis, o autor propõe a existência, no
Brasil, de quatro segmentos produtivos agrícolas: 1. Unidade camponesa; 2.
Empresa familiar; 3. Empresa capitalista; e 4. Latifúndio.
Adotando-se a tipologia proposta por Molina, as empresas produtoras de
dendê seriam classificadas como empresas capitalistas, que se caracterizam por :
a) produtores não-residentes na fazenda, constituindo-se por médios e
grandes proprietários, sociedades familiares, cooperativas anônimas e
arrendatários capitalistas;
b) área da fazenda multimodular, totalmente aproveitada;
c) mão-de-obra assalariada contratada individualmente, geralmente nãoresidente e temporária;
d) nível tecnológico industrial, grande uso de insumos e máquinas modernos;
e) especializada em uma ou poucas linhas de exploração, complementares e
integradas;
f) total participação no mercado, autoconsumo inexistente;
g) grande uso de capital de exploração e de crédito bancário.
Por outro lado, enquanto empresas processadoras de dendê, poder-se-ia
considerar uma segmentação com base em características demográficas
organizacionais (como propõe Mahin, 1991) ou, como propõe Porter (1985),
identificando-se as relações entre consumidores (inclusive os intermediários) e
variedades de produtos.
Adotou-se, nesse trabalho, uma segmentação que combinasse essas duas
propostas, e que incluísse variáveis descritoras dos processos produtivos agrícola
e industrial primário. Além disso, a segmentação foi realizada em duas etapas: na
primeira, considerou-se indicadores mais gerais, para todas as empresas
existentes na Amazônia; em uma segunda etapa, a segmentação indicada na
primeira foi reconfirmada, com a utilização de dados coletados em levantamento
primário, junto a uma amostra daquelas empresas.
A Tabela 13 apresenta as variáveis de segmentação – tanto para a produção
agrícola como para o processamento de óleo – para cada uma das empresas hoje
existentes no Brasil.
73
Tabela 13
Variáveis descritoras de produção agrícola e industrial de dendê no Brasil,
setembro de 2000
Área (ha)
ESTADO/EMPRESA
Plantada
(A)
Produção (ton)
Em
Produção
(B)
1999
(C)
Capacidade
Instalada
2000
de Extração
(Estimativa)
(Ton de
FFB/h)
37.385
27.586
80.248
89.396
155
30.000
15.000
43.489
51.046
72
Denpasa
1.900
700
4.697
1.600
15
Coacará
3.170
3.170
12.152
13.300
20
Codenpa
3.200
3.200
5.000
5.500
12
Dentauá
2.500
2.201
5.050
6.200
12
Palmasa
2.705
2.514
5.000
6.050
12
Marborges-RMA
1.910
1.910
4.860
5.700
12
4.000
3.300
*
-
12
4.000
3.300
*
-
12
7.000
3.500
7.984
9.300
28
4.000
2.500
5.634
6.000
10
-
-
1.200
1.800
Pindorama
2.000
-
Opalma
1000
1000
1150
1500
18
2.000
1.200
2.800
-
6
2.000
1.200
2.800
-
6
50.385
35.586
91.032
98.696
201
PARÁ/
SUB-TOTAL
Grupo Agropalma
AMAPÁ/
SUB-TOTAL
Copalma
BAHIA/
SUB-TOTAL
Oldesa
Jaguaribe
AMAZONAS/
SUB-TOTAL
Caiaué
TOTAL BRASIL
Fonte: Veiga, 2000 (adaptada).
(*).Não houve atividade
As variáveis utilizadas para a segmentação, nessa etapa, foram: área
plantada e em produção (ha), produção de óleo (ton) em 1999, produção de óleo
(ton) em 2000, e capacidade instalada de extração de óleo (em ton de cachos de
frutos frescos/hora).
74
1.
2.
3.
4.
5.
Os dados apresentados na Tabela 13 indicam que:
O Grupo Agropalma diferencia-se de forma notável de todas as demais
empresas, independente da variável de segmentação considerada.
A empresa Coacará pode ser considerada a segunda empresa, em termos de
produção de óleo, tanto em 1999 como em 2000.
A única empresa do Amapá não está, presentemente, em atividade, apesar de
haver apresentado notável crescimento de produção, de 1994 a 1997, da
ordem de 483 % (Dendê do Pará S.A. - DENPASA), apud Freitas et al. (1998).
A única empresa do Amazonas apresenta o menor total de produção de óleo,
entre todas as empresas consideradas.
As empresas do Estado do Pará são as que apresentam maiores valores, para
todas as variáveis consideradas. Apresentam também maior regularidade em
produção, tanto de cachos de frutos frescos como de óleo, como vai se mostrar
adiante.
Para efeito de segmentação, essas variáveis indicam que apesar de serem
todas empresas capitalistas, na definição de Molina (1993), essas empresas
poderiam ser separadas em dois grupos: o primeiro, constituído de uma única
empresa, o Grupo Agropalma, que apresenta valores muito superiores, nesses
indicadores; o segundo grupo, constituído pelas demais empresas produtoras e
processadoras de dendê na Amazônia.
Essa segmentação foi confirmada através de levantamento de dados
primários, junto a quatro dessas empresas. Nesse levantamento, obtiveram-se
dados relacionados ao processo industrial.
As empresas geralmente utilizam tecnologia de extração muito similar.
Diferem, no entanto, em termos de escala de produção, capacidade de
processamento, mão-de-obra utilizada no processamento e mercado atendido. A
Tabela 14 apresenta esses indicadores para algumas das empresas
processadoras de dendê.
75
Tabela 14
Indicadores para segmentação das empresas de óleo de palma na
Amazônia
EMPRESA/ ESTADO
Capacidade de
processamento
Mão-deobra
Capacidade de
refino (ton de
óleo por dia)
Mercado atendido
(ton cff/hora) *
Pará
AGROPALMA
36 e 36
330
170
Externo/ interno
DENPASA/
COACARA
16 e 24
55
-
Externo/ interno
PALMASA
12
28
-
Interno
6
13
-
Interno
Amazonas
CAIAUÉ
* Por planta de extração
Os dados apresentados na Tabela 14 confirmam a segmentação
anteriormente proposta. A empresa com maior escala de produção é mesmo o
Grupo Agropalma, que se diferencia bastante das demais. A empresa mais
semelhante, em termos de todos os indicadores considerados, seria a
Denpasa/Coacará. O Grupo Agropalma, no entanto, adquiriu em 2000 o controle
acionário sobre a parte correspondente à Coacará, nessa empresa, aumentando
assim sua capacidade, na produção e processamento de dendê e distanciando-se
ainda mais das demais concorrentes. Por essa razão, considera-se nesse trabalho
que as empresas componentes do grupo Agropalma podem ser consideradas
como empresas industriais de grande porte, em oposição às demais, que se
constituem em empresas industriais de médio porte.
Na próxima seção, faz-se uma caracterização mais detalhada desses dois
segmentos produtivos.
A análise dos sistemas produtivos agrícolas e industriais será realizada,
portanto, com base nessa segmentação. Além disso, apesar de serem sistemas
integrados (de produção agrícola e de processamento industrial), essa análise
será feita em separado, para cada sistema, para que melhor se possa identificar
as dificuldades e oportunidades presentes nesse componente da cadeia.
Segmento I: Empresas Agroindustriais de Grande Porte
Nesta categoria de sistema produtivo estão incluídas as empresas do grupo
AGROPALMA, criado em 1982, que atualmente detém área total de 78.000 ha
entre reservas florestais e plantios localizados entre os municípios de Moju e
Tailândia. Desse total, 30.000 ha correspondem à área plantada com dendê, dos
quais, 15.000 ha se encontram em produção (Tabela 15 ).
76
Tabela 15
Empresas do Grupo AGROPALMA – 2000
Empresa
Área Total
(ha)
Área Plantada Área em produção
(ha)
(ha)
CRAI Agroindustial
10.000
5.000
5.000
AGROPALMA
12.000
6.000
4.000
AGROPAR
14.000
7.000
3.000
AMAPALMA
14.000
7.000
-
PALMARES
28.000
5.000
3.000
CRA
-
-
TOTAL
78.000
30.000
15.000
Fonte: AGROPALMA
Nesse segmento de sistema produtivo, a gestão do empreendimento é de
grande complexidade, com o tamanho das explorações ultrapassando a mais de
dez mil hectares. A tecnologia de produção é intensiva, com um sistema de
gerenciamento profissional. A logística de apoio estabelece uma clara divisão de
trabalho, envolvendo tarefas especializadas, que vão desde o preparo de mudas
para o plantio, tratos culturais e rondas fitossanitárias, até a colheita dos cachos
para a produção. Conta ainda com um eficiente sistema de comunicação
interligando o projeto e permitindo maior eficiência na execução das operações.
Nesse segmento de sistema produtivo as empresas são proprietárias das
áreas de exploração e contratam toda a mão-de-obra e serviços necessários ao
estabelecimento e manutenção dos plantios.
Segundo as informações fornecidas na entrevista, mais de 1.500
empregados se dedicam às atividades de produção. Estes e suas famílias moram
nas proximidades do plantio em agrovilas especialmente construídas pelo projeto.
A agrovila conta com infra-estrutura social constando de escolas, centro de
recreação, supermercados, correios e centros de atendimento médico.
Para ampliar a capacidade produtiva das unidades de produção desse
segmento, as empresas estabelecem parcerias com produtores independentes,
residentes próximos aos locais dos plantios. Desse modo, são fornecidas mudas,
sementes e treinamentos específicos para esses produtores que têm assegurado
o escoamento de seus produtos e preços garantidos.
Segundo informações obtidas durante as entrevistas, as empresas desse
segmento de sistema produtivo utilizam modernas tecnologias produzidas nos
mais avançados centros de pesquisa do mundo. Além disso, as empresas
participam do esforço de pesquisa, mediante a celebração de convênios com a
Embrapa, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ-SP), a
77
UNICAMP, etc., objetivando a solução de problemas específicos que limitam a
produção do dendê.
A assistência técnica é proporcionada pelas próprias empresas que contam
com um corpo técnico de dez engenheiros e trinta técnicos, os quais têm a
responsabilidade de orientar o manejo e os tratos culturais do dendê, atuar no
controle das pragas e doenças, de modo a manter o palmar saudável e em boas
condições produtivas.
As empresas desse segmento de sistema produtivo, acompanhando as
tendências mundiais de produtos ecologicamente corretos, praticam a agricultura
orgânica. Segundo o técnico entrevistado, em uma das áreas do projeto, são
reutilizados no palmar todos os subprodutos da usina de extração de óleo. Tal
prática garantiu à AGROPALMA o recebimento do “Selo Verde”, um certificado
emitido pelo Instituto Biodinâmico.
Segmento II: Empresas Agroindustriais de Porte Médio
As empresas pertencentes a esse segmento de sistema produtivo são as
seguintes: DENPASA, COACARÁ, CODENPA, DENTAUÁ, PALMASA,
MARBORGES (todas estabelecidas no Estado do Pará), a COPALMA (do Amapá,
inativa desde 1998), e a CAIAUÉ (com base no Estado do Amazonas). Para o
presente estudo, foram coletados dados secundários de todas as empresas,
quando disponíveis, e levantados dados primários, por meio de rapid rural
appraisal,
de quatro delas: a DENPASA/COACARÁ, a PALMASA, todas
localizadas no Estado do Pará e a CAIAUÉ, situada no Amazonas.
Conforme a Tabela 13 (anteriormente apresentada), as empresas de porte
médio se caracterizam por possuírem uma área plantada com dendê variando de
2.000 a 4.000 ha, produção anual de óleo variando de 2.800 a 12.000 toneladas e
capacidade instalada de extração de óleo de 6 a 20 toneladas de cachos de frutos
frescos por hora.
Nesse segmento de sistema produtivo, as atividades das etapas do processo
produtivo agrícola, tanto na fase de implantação como na de produção, não
diferem substancialmente daquelas utilizadas pelas empresas do segmento
Empresas Agroindustriais de Grande Porte.
As próximas seções são dedicadas aos processos produtivos agrícola e
agroindustrial do sistema integrado de produção de óleo de palma.
4.3.2 Sistemas Produtivos Agrícolas: caracterização geral
O dendezeiro (Elaeis guineensis) é uma palmeira oleaginosa de origem
africana que se desenvolve no clima quente e úmido das regiões tropicais. A sua
78
dispersão geográfica de cultivo abrange a faixa de 10º abaixo e acima da linha do
Equador. É uma planta alógama e monóica, cujas inflorescências masculinas e
femininas são produzidas em ciclos alternados.
A espécie mais comum para a produção econômica de óleo é a Elaeis
guineensis, denominada dendê africano, em virtude de sua origem. Essa planta
possui porte alto, podendo atingir cerca de 25 metros de altura aos 25 anos de
idade, quando a exploração torna-se antieconômica.
De grande interesse também é a espécie Elaeis oleifera, denominada Caiaué
ou dendê amazônico em virtude de sua ocorrência natural nessa região da
América do Sul. O caiaué, embora não apresente grande produtividade de óleo,
tem características desejáveis para programas de melhoramento genético. Entre
essas vantagens citam-se: maior resistência a doenças, crescimento mais lento
em relação ao dendê africano e maior teor de ácidos graxos insaturados. Estas
vantagens podem ser transferidas para híbridos interespecíficos resultantes do
cruzamento entre as duas variedades mencionadas.
O plantio em escala comercial deve ser realizado com o uso de material de
alto potencial de produção, face ao longo período de exploração da cultura. Este é
um fator de grande relevância no estabelecimento dos plantios comerciais.
As sementes utilizadas no Brasil são da variedade Tenera obtidas por
cruzamento intraespecífico entre plantas selecionadas das variedades Dura e
Pisífera, esta sempre funcionando como pai masculino em virtude da esterilidade
feminina que apresenta (Valois, 1997).
O fruto da palmeira é classificado de acordo com a espessura do endocarpo.
A espessura da Tenera se situa entre 0,5 a 2mm e a Dura tem endocarpo entre 2
a 6mm. A variedade Pisifera não tem endocarpo, mas apresenta grande taxa de
infertilidade nas inflorescências femininas.
A produção de cachos da palma tem início aos 3 anos após o plantio,
crescendo gradativamente, até alcançar rendimentos máximos que se prolongam
por toda faixa etária de 7 a 15 anos. Após essa fase decresce paulatinamente até
o 25º ano de exploração econômica.
A importância econômica da palmeira Elaeis guineensis deve-se
fundamentalmente, ao seu fruto. Dos cachos são extraídos o óleo de palma
integral, obtido da extração da polpa dos frutos, e o óleo de palmiste, extraído da
amêndoa do fruto.
O dendê é considerado a oleaginosa de maior produtividade no mundo (53 a
56% de teor de óleo), com rendimento de 4 a 6 toneladas de óleo/ha, quase dez
vezes mais que a soja, que produz cerca de 600 kg/ha.
79
Tanto o óleo de palma como o de palmiste são amplamente utilizados na
alimentação, entrando na composição de margarinas, cremes vegetais, gorduras
industriais e óleo de cozinha. Também são importantes fontes de matérias-primas
na indústria saboeira, tintas e óleoquímica.
4.3.3 Exigências ambientais da cultura
A palma de dendê é planta de clima equatorial, quente e úmido, podendo
sobreviver em condições adversas, com queda acentuada de produtividade. A
Amazônia brasileira, com mais de 5,0 milhões de km2 de área e uma grande
diversidade de ecossistemas, possui condições privilegiadas para a expansão
dessa cultura.
Na Tabela 16
são descritas as principais exigências ambientais,
mencionadas na literatura, consideradas fundamentais para a plena expressão da
capacidade produtiva da cultura (Valois, 1997; Pará, 1997; Nunes & Cunha, 1997).
No Brasil, apenas a Região Amazônica e uma estreita faixa do litoral da
Bahia respondem favoravelmente às exigências ecológicas da cultura do dendê.
Estima-se que a Amazônia brasileira tenha cerca de 70 milhões de hectares com
potencial para a exploração da dendeicultura (Tabela 17).
Os dados revelam que as regiões com maior potencialidade ecológica estão
localizadas nos Estados do Amazonas e Pará, com cerca de 71% e 14%,
respectivamente, da área total.
Evidentemente, estas informações devem ser encaradas como uma primeira
aproximação, havendo necessidade de realização de zoneamento detalhado,
especificando áreas sob aspectos agroeconômicos e ecológicos, para identificar e
quantificar pólos de expansão para agroindústria do dendê.
Além disso, outros aspectos importantes deverão ser levados em conta como
acesso, disponibilidade de mão-de-obra, infra-estrutura, que devem ser
considerados como fatores limitantes à expansão da cultura.
Do ponto de vista de aptidão climática, distingue-se na Amazônia três
classes de áreas (PARÁ, 1997): a) áreas climaticamente aptas, onde a planta
encontra todas as possibilidades para um desenvolvimento satisfatório; b) áreas
80
Tabela 16
Exigências ambientais para a cultura do dendê
Variável
ambiental
Temperatura
Exigência Ambiental
Efeito sobre a cultura do dendê
• Baixas temperaturas acarretam redução
do ritmo de crescimento de plantas jovens e
de produção das mais velhas
24°-28°, 24º Mínima
• Baixa temperatura associada a estiagem
provoca redução de emissão foliar e de
número de cachos produzidos
Insolação
Ótima: >1800 horas anuais,
Mínima de 1500 horas, bem
distribuídas
• Efeito
sobre
a
maturidade
e
uniformidade de maturação dos cachos, com
consequências para a proporção de flores
emitidas e a qualidade do óleo produzido.
Pluviosidade
1800 a 2000 mm anuais, com
boa distribuição, sem estação
seca pronunciada
• Efeito sobre o crescimento da palmeira,
afetando a emissão foliar, o número e o
peso médio dos cachos, e o rendimento do
óleo.
Solos
Solos profundos, permeáveis,
sem impedimento físico para
as raízes; terreno plano ou de
moderada declividade.
• Efeito sobre o crescimento da palmeira e
sobre o rendimento da cultura.
Solos lavados, com
saturação de bases
baixa
Tabela 17
Potencial estimado para a dendeicultura na Amazônia Legal
Estado
Potencial de cultivo
(1.000 ha)
%
Acre
2.500
3,6
Amapá
1.500
2,2
Amazonas
50.000
71,4
Maranhão
-
Mato Grosso
-
500
0,7
10.000
14,3
Rondônia
1.000
1,4
Roraima
4.000
5,7
500
0,7
Pará
Tocantins
Total
70.000
Fonte: Adaptado de OEA, 1997
100,0
81
com pequenas limitações climáticas, onde um ou mais fatores climáticos oferecem
restrições ao desenvolvimento da cultura e; c) áreas climaticamente inaptas, onde
os fatores climáticos adversos desaconselham a implantação da cultura. As áreas
climaticamente aptas são encontradas na Amazônia, na região do estuário
compreendendo Belém e adjacências, pequena parte do Estado do Amapá e uma
vasta área da Amazônia Ocidental.
Estima-se que exista atualmente na Amazônia, uma área de cerca de 40 a
60 milhões de hectares de área degradada, sendo que parte desta se encontra
abandonada após um ciclo de exploração dos recursos florestais. Essas áreas,
sem nenhuma atividade econômica, podem representar grande oportunidade para
o desenvolvimento da agroindústria do dendê nas regiões com clima apropriado
para o cultivo.
Segundo um dos entrevistados, ao redor de Belém existem cerca de 4
milhões de áreas degradadas, próximas ao porto de Barcarena, que se
caracterizam pela presença de minifúndios; nessa área, considerada apta para a
cultura do dendê, existem cerca de 2.000.000 de hectares de assentamentos do
INCRA. Essa zona não seria propícia para a implantação de empresas de grande
porte, mas possui condições de aptidão climática e infraestrutura adequadas para
a produção e o escoamento do óleo de palma, em projetos de menor porte.
No Estado do Amazonas, o Distrito Agropecuário da Superintendência da
Zona Franca de Manaus (SUFRAMA), nas proximidades de Manaus, apresenta-se
com condições propícias ao desenvolvimento do agronegócio do dendê. O Distrito
tem 560 mil hectares, com grandes áreas já desmatadas, facilidades de infraestrutura para escoamento da produção e transporte de insumos e grande
disponibilidade de mão-de-obra na região. Além disso, existe nas proximidades a
Estação Experimental do Rio Urubu, maior fonte produtora de sementes
melhoradas de dendê no País.
Também apresentando potencialidade para o cultivo de dendê, existem
certas áreas da Região Norte, grande parte do Nordeste e Centro-Oeste, que
atendem às exigências da cultura, exceto no que diz respeito ao regime
pluviométrico. É o caso dos perímetros irrigados do Norte de Minas Gerais,
Espírito Santo, Bahia, Tocantins, Maranhão, Pernambuco e áreas de cerrados da
Amazônia (Barcelos, 1999). Nessas regiões, a utilização de técnicas de irrigação
permitem a viabilização da cultura com expectativas de ótimas produtividades.
Segundo informações de um dos entrevistados, em experimento conduzido
sob irrigação pela COACARÁ-PA, foi possível a obtenção de excelentes
rendimentos de óleo de palma por hectare. Segundo essa mesma fonte, as
informações obtidas permitem inferir ser possível o cultivo, em condições de
rentabilidade econômica nas áreas não tradicionais, com pluviosidade de cerca de
900 mm anualmente, como por exemplo, nos Estados de Tocantins e Maranhão.
82
Embora seja fundamental a realização de zoneamentos agroeconômico e
ecológico detalhados, pode-se concluir, do exposto anteriormente, que existem
grandes disponibilidades de áreas com aptidão ecológica apropriada ao
desenvolvimento do agronegócio do dendê na Amazônia.
Apesar de toda essa potencialidade, a área cultivada com a palma de dendê
tem crescido em ritmo extremamente modesto, desde a implantação dos primeiros
plantios comerciais na região Norte.
4.3.4 Sustentabilidade ambiental e a cultura do dendê
Quando se trata de ocupação da Amazônia, os critérios ecológico e social
são de grande relevância e não podem deixar de ser levados em consideração. A
dendeicultura tem um forte apelo ecológico, por apresentar baixos níveis de
agressão ambiental, adaptando-se bem aos solos pobres da Amazônia,
protegendo-o contra lixiviação e erosão ao imitar a floresta tropical. Tem ainda a
capacidade de ajudar na restauração do balanço hídrico e climatológico,
contribuindo de forma expressiva para a reciclagem e “seqüestro de carbono” e
para a liberação de O2 (Barcelos, 1999; Veiga, Smit e Fúria, 2000).
O dendê, sendo uma planta de grande porte, quando na fase adulta
apresenta boa capacidade de cobertura do solo e baixos impactos negativos ao
ambiente.
Do ponto de vista social, como planta perene, o dendê utiliza mão-de-obra
intensivamente, sem piques de produção na entressafra, permitindo a fixação do
homem ao campo. A palmeira começa a produzir 3 anos após o plantio, sendo a
produção distribuída ao longo do ano, por cerca de 25 anos consecutivos. Estimase que, em média, cada sete hectares de dendê representa trabalho digno para
uma família, durante esse período.
4.3.5 Processo Produtivo Agrícola: Caracterização geral
O dendê é uma cultura perene que começa a produzir, em escala comercial,
aos 3 anos após o plantio e atinge a produtividade máxima entre os 7 e 12 anos.
Tem capacidade econômica de produção de 20 a 25 anos, quando a coleta dos
frutos torna-se antieconômica, devido à altura alcançada pela palma.
Para que a cultura alcance um bom desempenho produtivo, é necessário
que, ao lado das condições apropriadas de clima e solo, sejam fornecidos
adequados tratos culturais, como a utilização de material genético de boa
procedência, preparo do solo, plantio, tratos fitossanitários, adubação e colheita,
que têm influência decisiva sobre o rendimento e a qualidade dos produtos.
83
As principais etapas cronológicas para implantação e manutenção da cultura
de dendê, são distribuídas da seguinte forma:
Ano -1: Aquisição de sementes e pré-viveiro
Ano 0: Viveiro e preparo da área
Ano 1: Plantio e manutenção
Ano 2: Manutenção
Ano 3: Manutenção
Ano 4: Manutenção e início da colheita.
Toma-se como ponto de partida o Ano 1 para o ano de plantio. Os anos 1, 2,
3 e 4, correspondem ao período de manutenção não-produtiva (PNP). O período
produtivo (PP), começa ao redor do ano 4, estendendo-se até o ano 25
(Agropalma, 1998).
O cultivo caracteriza-se por duas fases principais: a de implantação e a de
produção. A fase de implantação caracteriza-se pelas seguintes atividades: a)
preparo de mudas; b) pré-viveiro; c) viveiro; d) desmatamento e preparo do
terreno; e) plantio definitivo; e f) manutenção do período não-produtivo (PNP). A
fase de produção compreende as operações de manutenção do período produtivo
(PP).
Em relação aos segmentos dos sistemas produtivos agrícolas identificados,
as etapas do processo produtivo são basicamente as mesmas. Estas etapas serão
descritas a seguir, buscando-se identificar os fatores limitantes ao desempenho da
cadeia produtiva do dendê.
Fase de implantação
a) Preparo de Mudas: são as operações relativas à obtenção de mudas aptas ao
plantio, partindo-se de sementes de boa procedência. Os cultivos são
estabelecidos utilizando-se sementes selecionadas, oriundas de matrizes que
ofereçam garantia de boa produtividade. São utilizadas cerca de 220 sementes
pré-aquecidas para um hectare de plantio. São operações dessa etapa:
• Pré-viveiro: nessa etapa, as sementes germinadas são repicadas para
sacos plásticos e expedidas para o pré-viveiro. No pré-viveiro as plântulas
permanecem por um período médio de 4 meses, onde recebem tratos
culturais adequados. No quarto mês de pré-viveiro, é realizada minuciosa
seleção, onde as plantas afiladas, raquíticas, tortas ou com anomalias
genéticas, são descartadas. Nesta seleção admite-se um descarte de 10%.
• Viveiro: após a seleção no pré-viveiro, as plantas são transferidas para o
viveiro. Nesta fase as mudas permanecem por um período de 14 a 18
meses. Um hectare de viveiro comporta cerca de 18.000 mudas. Os tratos
normais de manutenção dessa fase são: capina manual nos sacos e
química nas entrelinhas do viveiro, drenagem, irrigação por aspersão, tratos
84
fitossanitários e adubação. O índice de perdas de mudas no viveiro é de
cerca de 15-20%.
b) Preparo do terreno: deve coincidir com o preparo de mudas. Este preparo inclui
as seguintes operações: abertura de estradas, desmatamento, empilhamento e
semeio de leguminosa de cobertura.
• A abertura de estradas realizada antes do desmatamento tem as vantagens
de facilitar o acesso à área, proporcionar uma melhor fiscalização e
racionalizar os serviços de desmatamento. O preparo da área é em geral
realizado mecanicamente, utilizando trator de esteira, cuja potência vai
variar com o tipo de vegetação.
• O empilhamento é feito de modo alternado, após a queimada das
vegetações. Preferencialmente o preparo do terreno deve ser feito com
destoca total, para permitir completa mecanização. A destoca e limpeza é
também um fator importante no controle dos ratos. O fator limitante dessa
operação é o elevado custo da mão-de-obra, segundo um dos
entrevistados.
• O semeio da leguminosa de cobertura é feito utilizando a Pueraria
phaseoloides, após a queima dos empilhamentos. Segundo os técnicos
entrevistados, o semeio da leguminosa apresenta as seguintes vantagens:
fixa o nitrogênio do ar, evita o desenvolvimento de ervas daninhas, cobre
totalmente o solo formando uma capa de proteção, diminui os custos de
manutenção e incorpora grande quantidade de matéria orgânica da própria
leguminosa. A implantação de uma leguminosa como cobertura do solo
pode contribuir com mais de 300 kg N/ha/ano, por meio da fixação
simbiótica de nitrogênio do ar (Botelho, 1996). Há também boas
perspectivas para utilização do capim quicuio em substituição à puerária,
com bons efeitos sobre a produtividade da palma .
c) Plantio definitivo: O plantio definitivo é feito em triângulo equilátero, com 9
metros de lado, proporcionando uma densidade de 143 plantas por hectare. As
linhas de plantio tem alinhamento norte-sul para um melhor aproveitamento da
insolação. O plantio é realizado manualmente e feito durante o período
chuvoso, de dezembro a janeiro.
d) Manutenção do período Não-Produtivo (PNP): Corresponde à fase de
crescimento vegetativo da palma, indo desde o ano de plantio (N1) até a idade
de 2,5 a 3 anos (N3), quando se inicia a primeira colheita. Nesta fase são
realizados tratos culturais e fitossanitários, periodicamente, constando
basicamente das seguintes operações: coroamento, rebaixamento da
cobertura de leguminosa, adubação, vigilância e tratos fitossanitários e
preparação para a colheita.
Quanto aos tratos culturais, devem merecer atenção especial, na opinião dos
entrevistados, pelo alto impacto que podem ter na produtividade do dendê, as
seguintes operações principais:
85
•
•
•
Coroamento, consiste na limpeza ao redor do pé da palmeira,
possibilitando melhores condições de seu desenvolvimento e impedindo
a concorrência com invasoras.
Rebaixo, é a operação de controle do desenvolvimento da puerária
quando ela já se encontra consolidada e o controle de plantas invasoras
quando a leguminosa não se encontra ainda consolidada.
Adubação, inicia-se desde o plantio e se estende por toda vida útil da
cultura.
A palma requer quantidades consideráveis de fertilizantes. Dessa maneira, é
assegurado o vigor vegetativo das palmeiras, evitando o surgimento de doenças
por carências nutricionais e possibilitando maior rendimento em cachos e em
porcentagem de óleo.
A Tabela 18 apresenta, de uma maneira geral, os níveis de exigência da
palma africana, para cada um dos nutrientes acima. Essa exigência vai variar com
o nível de deficiência do nutriente e a idade do plantio. Como se pode observar, o
potássio é o nutriente exigido em maior quantidade pelo dendezeiro.
Tabela 18
Níveis de exigência de diferentes nutrientes, pela palma africana
Nutriente
Dose recomendada
Produto comercial
(gramas/planta/ano)
Nitrogênio
500 a 2000
Uréia ou outro nitrogenado
Fósforo
500 a 2000
STF
Potássio
800 a 3500
KCl
Magnésio
500 a 1800
MgSO4
Boro
50 a 200
(Fonte: Botelho, 1996, adaptado).
Bórax
Os roedores e as saúvas são as pragas mais importantes nos dois primeiros
anos após o plantio, segundo os entrevistados. Por essa razão, devem ser
controladas, para evitar prejuízos à plantação.
Fase de Produção
Manutenção do período Produtivo (PP)
Corresponde às práticas culturais realizadas após a entrada em produção
aos 3,5 a 4 anos após o plantio, até o final do ciclo produtivo econômico, em torno
de 25 anos. As operações são basicamente as mesmas do período Não Produtivo,
ou seja, tratos culturais e fitossanitários, acrescidos da colheita.
86
Durante o Período Produtivo, as principais operações com impacto sobre a
produtividade do dendê, nesse segmento do sistema produtivo, são as seguintes,
segundo os técnicos entrevistados: controle fitossanitário, coroamento manual,
rebaixo manual e bordadura, poda e adubação.
a) O controle fitossanitário, deve ser efetuado preventivamente por ser mais
econômico e eficiente, mantendo o palmar sadio e produtivo. Os principais
problemas são queda de raio, podridão de flecha e estipe, anel vermelho, brocas
do estipe e desfolhadores. Estas atividades representam um custo aproximado de
3% da tonelada de óleo produzida (Agropalma, 1998).
Como principais limitações não atendidas pela pesquisa até o momento,
foram destacadas pelo técnico entrevistado, as seguintes:
• Ataques de Castnia, uma lagarta que na fase larval penetra no tronco matando
a planta, sendo difícil o seu controle;
• Amarelecimento Fatal (AF): Ocorre em vários países da América do Sul e
Central, notadamente na Colômbia, Suriname, Equador, Brasil e Honduras. No
Brasil há registros de ocorrência na EMADE (Tefé, AM), COPALMA (MacapáAP), DENPASA (Belém, PA) e outras plantações no Pará. A disseminação da
doença compromete a expansão da cultura, em particular, próximo às áreas
afetadas Desde 1986, a Embrapa vem desenvolvendo pesquisas sobre o
problema, mas apesar do esforço realizado com várias hipóteses e parceiros,
ainda não se identificou seu agente causal, e por isso, ainda não se tem
métodos adequados para sua eliminação. (Trindade e Furlan Jr., 2000).
b) O coroamento manual é outra operação desta fase destinada a facilitar a
coleta dos frutos destacados, caídos no chão. É realizada 2 a 3 vezes por ano.
c) Rebaixo manual e a bordadura, quando realizados adequadamente impedem
a concorrência com invasoras, favorecendo um crescimento adequado da planta e
permitindo um melhor controle da colheita.
d) Poda é uma operação feita com a finalidade de limpar as palmeiras de folhas
secas, proporcionando melhor área foliar e, em conseqüência, maior eficiência na
fotossíntese e facilitando as atividades de colheita.
e) Adubação, no período produtivo, compreende uma adubação básica e outra
complementar. A adubação básica, teoricamente, restitui ao solo parte dos
elementos minerais extraídos pela palma, em função da produção. A
complementar, deve ser feita de acordo com os resultados de diagnósticos de
análises foliares e com base em experimentos.
A adubação é uma das atividades mais onerosas do manejo, tendo uma
participação significativa no custo de produção do sistema produtivo agrícola.
Segundo os técnicos entrevistados, o consumo de adubo da palma na fase adulta
é de cerca de 6 a 8 kg/planta/ano .
87
O início da colheita, em geral, ocorre do terceiro para o quarto ano,
variando de acordo com o potencial genético e condições do solo, clima e nutrição
da planta. É uma operação que demanda observações individuais frequentes de
cada planta.
A colheita é efetuada durante todo ano, usando-se os instrumentos
adequados de acordo com a idade da planta. A maneira como é conduzida e
organizada tem grande impacto sobre o rendimento e a qualidade do óleo obtido.
A palmeira tem produção contínua e o ponto de maturação dos cachos ocorre num
intervalo de tempo muito curto. Os cachos, se colhidos verdes têm pouco teor de
óleo e, se colhidos maduros demais aumentam a acidez do óleo.
Embora a colheita seja realizada durante o ano inteiro, ela se concentra nos
meses de outubro a janeiro, sendo feita numa periodicidade de 12 a 15 dias. É
uma operação que tem grande impacto no desempenho do sistema produtivo,
influenciando tanto no rendimento como na qualidade do produto obtido.
Segundo um dos entrevistados, quando ocorre a compra de cachos de frutos
frescos de terceiros, esta é efetuada segundo um padrão previamente
estabelecido. Tal padrão é estabelecido em função das percentagens de cachos
sobremaduros e de cachos verdes existentes na partida. Quem estiver fora do
padrão recebe um preço diferenciado.
Após colhidos, os cachos são transportados por tratores basculantes, em
seguida descarregados em containers, que acoplados a caminhões, são levados
para o processamento. A distância média das áreas de plantio até a usina de
processamento é de cerca de 20 km.
A tecnologia utilizada na colheita e agilidade no processamento, garantem
um baixo índice de acidez dos frutos, fator importante na qualidade do óleo de
palma produzido. Segundo o técnico entrevistado, enquanto para os mercados
internacionais o padrão é óleo bruto com 5% de ácidos graxos livres aquele
produzido pelas empresa do grupo AGROPALMA tem em média 2%, o que faz
com que o óleo tenha ótima aceitação no mercado internacional.
As perdas resultantes da colheita, são estimadas em 5% de frutos soltos,
não havendo praticamente perdas no transporte da produção até a usina de
processamento, segundo o técnico entrevistado.
4.3.6 Processo Produtivo Agrícola: Análise de Produtividade e Custos
O agronegócio de dendê é um empreendimento que demanda grandes
investimentos nos primeiros anos de implantação da cultura, antes de alcançar a
fase produtiva.
88
A produtividade (em cachos de frutos frescos por hectare) é pequena no
primeiro ano de produção, subindo gradativamente e se estabilizando do sétimo
ao décimo oitavo ano. A partir daí, tende a decrescer até o fim do ciclo de vida
econômica, como mostrado na Figura 30.
O que afeta essa produtividade? As empresas entrevistadas concordam que
as variedades de palma africana utilizadas são um primeiro fator a considerar. Por
outro lado, as operações realizadas durante todo o processo produtivo também
têm impacto sobre essa produtividade. A Tabela 19 apresenta as avaliações
relativas ao impacto sobre a produtividade, de cada uma dessas operações. As
avaliações foram feitas com base em uma escala, em que o ponto 1 correspondia
a um pequeno impacto e 3 a um alto impacto. Na Tabela, são também
apresentadas as médias das avaliações de todas as empresas entrevistadas,
como também a média correspondente às três empresas (Denpasa, Palmasa e
Caiaué) do segmento II. O outro segmento corresponde ao Grupo Agropalma, cuja
avaliação também é apresentada na Tabela).
25
Produtividade (cff/ha)
20
15
10
t
5
A gropalm a
D enpasa
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
A n o s do perío d o p ro d u tiv o
F ig u ra 3 0 : P ro d u tiv id a d e (e m t de c ff/ha ), p o r an o s d o p e río d o p ro d u tiv o , A g ro p a lm a e D e np a s a
F o n te : A g ro p alm a (2 0 0 0) e D e n pa s a (1 9 9 9)
23
89
Considerando-se a avaliação feita por todas as empresas, têm maior impacto
sobre a produtividade os tratos culturais do período não-produtivo (rebaixo
manual, preparação para a colheita, adubação), e do período produtivo (adubação
e colheita), bem como o transporte do cacho até a indústria. A maioria das
operações para preparo do terreno e plantio definitivo, por outro lado, tem baixo a
médio impacto sobre a produtividade da palmeira.
Comparando-se agora os dois segmentos produtivos (Grupo Agropalma e
demais empresas), verifica-se que ambos concordam com a importância das
seguintes operações: adubação (tanto no período não-produtivo como no
produtivo), poda, colheita, transporte até a indústria
Observando-se o extremo positivo das avaliações, verifica-se que o Grupo
Agropalma também incluiu, como altamente relevantes, as operações de
coroamento, rebaixo manual, preparação para a colheita e poda, consideradas
pelas demais empresas como tendo de baixo a médio impacto. A operação de
plantio, por outro lado, foi considerada como tendo pequeno impacto, na avaliação
da Agropalma, e alto impacto, na avaliação das demais.
As operações avaliadas como tendo alto impacto sobre a produtividade são
as que devem ser objeto de aperfeiçoamentos, com a finalidade de aumentar a
eficiência produtiva do segmento.
A seguir serão analisados os custos de produção com base na segmentação
realizada.
Custos de produção
As Tabelas 20 e 21 apresentam os custos de produção e composição do
custo total, por etapa do ciclo produtivo, e por categoria e ítem de custo, para duas
empresas da região amazônica (chamadas de Empresas I e II).
A partir das Tabelas 20 e 21, foi elaborada a Figura 31, apresentando a
composição do custo de produção do dendê em porcentagem, segundo as
diversas etapas do ciclo de vida econômico da cultura, para ambas as empresas.
Observa-se que a categoria de custo “operações agrícolas” representa o
maior percentual dos custos totais de produção em praticamente todas as fases
do ciclo da vida da palma nesse segmento do sistema produtivo. Essa categoria
contribui com o custo total na proporção de 27 a 67%, conforme a etapa produtiva.
A Figura 4.3.5.3 apresenta a variação de contribuição ao custo total, dessa
categoria, conforme a etapa do ciclo produtivo, para ambas as empresas.
90
Tabela 19
Impacto sobre a produtividade (em ton cff/ha) das operações do processo
produtivo agrícola
OPERAÇÕES
IMPACTO SOBRE A
PRODUTIVIDADE
A*
B
C
D
(A+B+C+D)/4
(Média geral)
(B+C+D)/3
(Média
Segmento II)
Coroamento com nivelamento
Coroamento manual
Rebaixo manual
Rebaixo das áreas de baixada
Preparação para a colheita
PREPARO DE MUDAS
3
3
2,3
2,3
3
3
2,3
2,3
PREPARO DO TERRENO
1
2
3
1,5
1,7
1
2
3
1,5
1,7
1
2
3
1,5
1,7
2
2
3
1,8
1,7
PLANTIO DEFINITIVO
1
1
1
3
1,5
1,7
1
1
1
3
1,5
1,7
1
1
1
3
1,5
1,7
1
1
1
3
1,5
1,7
1
2
3
3
2,3
2,7
1
2
3
1,5
1,7
MANUTENÇÃO DO PNP
2
1
1
3
1,8
1,7
2
2
1
3
2,0
2,0
TRATOS CULTURAIS DO PERÍODO NÃO-PRODUTIVO
3
2
1
3
2,3
2,0
3
2
1
3
2,3
2,0
3
3
1
3
2,5
2,3
2
2
1
3
2,0
2,0
3
1
3
3
2,5
2,3
Adubação
3
Controle fitossanitário
Coroamento manual
Rebaixo manual
Bordadura
Poda
Adubação
Colheita
3
3
3
2
3
3
3
Transporte do cacho até a
indústria
2
Viveiro
Pré-viveiro
Abertura de estradas
Desmatamento
Empilhamento
Semeio leguminosa
Piqueteamento de eixos
Piqueteamento de linhas
Transporte de mudas
Distribuição de mudas
Plantio
Replantio
Controle de saúvas
Controle de ratos
2
2
1
1
3
3
3
3,0
3,0
TRATOS CULTURAIS DO PERÍODO PRODUTIVO
3
3
2,3
2,0
1
3
1,8
1,3
1
3
1,8
1,3
2
1
3
2,0
2,0
3
1
3
2,5
2,3
3
3
3
3,0
3,0
3
3
3
3,0
3,0
TRANSPORTE
2
3
3
2,5
2,7
91
TABELA 20 Custo de Produção de Dendê ( US$/ha): Composição dos Custos ( em %) em relação a cada fase do ciclo de vida econômica da cultura - 1999
DESCRIÇÃO
ESPECIFICAÇÃO
V.U.
FORMAÇÃO
VALOR
ANO
N-2 ao 1
QUANT.
A - OPERAÇÕES
Viveiro e Pré-viveiro
Topogradia e loc. Covas
Abertura de Estradas
Preparo Área de Viveiro
Preparo Área de Cultura
Semeadura de Puerária
Plantio
Rebaixo
Coroamento de Covas
Coroamento Químico
Adubação
Contlole de Roedores
Rondas Fitossant. (*)
Trat. Fitossanitários
Poda Sanitária
Poda de Ratificação
Manut. Estradas
Transp. Cachos Vazios
Aplic. Cachos Vazios
Colheita
Transporte de FFB
Contigência ( 10 % )
Subtotal A
US$/Ha
US$/Ha
US$/Ha
US$/Ha
US$/Ha
US$/Ha
US$/Ha
US$/Ha
US$/Ha
US$/Ha
US$/Ha
US$/Ha
US$/Ha
US$/Ha
US$/Ha
US$/Ha
US$/Ha
US$/Ton
US$/Ton
US$/Ton
US$/Ton
US$/Ha
US$/Ha
C - INSUMOS
Sementes Híbridas
Fert. Formulado 18-18-18
Cloreto de Potássio
Sulfato de Amônia
Óxido de Magnésio
Fosfato
Herbicida
Ferramentas/Veículos
Subtotal C
US$/Unid
US$/Kg
US$/Kg
US$/Kg
US$/Kg
US$/Kg
US$/L
US$/Ha
D - INDUSTRIALIZAÇÃO
Subtotal D
E - ADMINISTRAÇÃO
Viagens
Assistência Técnica
M. O . Administrativa
Contábil./Escritório
Conserv. / Deprec. Benf.
Comercialização
Impostos
Subtotal E
CUSTO TOTAL (US$/Ha)
RECEITA (US$/ano)
143
143
1
143
1
1
143
1
1
193,05
14,30
88,00
5,72
227,00
12,00
67,21
60,00
98,00
-
21,28
1,58
9,70
0,63
25,03
1,32
7,41
6,62
10,80
0,00
5,00
36,00
17,20
15,00
26,34
20,32
13,00
1,57
1,57
14,73
1,33
1
1
1
5,00
36,00
17,20
0,55
3,97
1,90
25
120
0,95
0,4
0,21
0,11
0,25
0,19
7,2
25
1,00
0,12
220
286
25,00
14,40
39,40
209,00
114,40
323,40
US$/t de FFB
% CUSTOS A+B
% CUSTOS A+B
% CUSTOS A+B
% CUSTOS A+B
% CUSTOS A+B
% DA RECEITA
% DA RECEITA
QUANT.
1,35
0,10
88,00
0,04
227,00
12,00
0,47
60,00
98,00
9,00
83,52
907,00
B- INFRAESTRUTURA
Alojamento
Estradas e Pontes
Subtotal B
%
1
1
1
1
1
38,09
12,70
31,74
25,39
38,09
0,5
0,5
1
63,45
36,55
100,00
64,63
35,37
7,89
12,89
2,37
0,15
0,15
1,0
10,00
8,60
8,10
5,27
20,32
13,00
7,85
7,85
162,03
14,63
34,35
380,00
2,63
2,26
2,13
1,39
5,35
3,42
2,07
2,07
42,64
3,85
9,04
100,00
2,0
0,5
1,0
25,00
105,60
130,60
19,14
80,86
100,00
572
286
72
72
286
4
1
228,80
60,06
7,92
18,00
54,34
28,80
25,00
422,92
54,10
14,20
1,87
4,26
12,85
6,81
5,91
100,00
11
121,00
121,00
100,00
100,00
28,3
9,43
23,58
18,87
28,3
12,1
12,1
132,68
21,33
7,11
17,77
14,22
21,33
9,12
9,12
100,00
2
0,5
0,5
1
1
1
5
5
11
11
1,00
0,88
100,00
26,09
8,70
21,74
17,39
26,09
146,01
100,00
1.415,81
100,00
%
PRODUÇÃO
ESTÁVEL
QUANT.
VALOR
ANO
7 ao 18
30,00
49,00
9,00
9,21
100,00
11
3,00%
1,00%
2,50%
2,00%
3,00%
1,00%
1,00%
CRESCENTE
VALOR
ANO
2 ao 6
1
1
1
1
1
1
1
1.187,20
1.210,00
100,00
9,00
14,70
9,00
10,00
8,60
15,00
20,32
13,00
15,70
15,70
220,95
26,60
42,38
420,95
1,0
1,0
10
10
15
20
%
QUANT.
ANOVALOR
19 ao 22
2,14
3,49
2,14
0,15
0,10
1
9,00
9,80
9,00
2,70
2,94
2,70
2,38
2,04
3,56
4,83
3,09
3,73
3,73
52,49
6,32
10,07
100,00
2
10,00
0,50
1
8,60
15,00
1
1
7,5
7,5
11,20
15,0
20,32
13,00
11,77
11,77
164,97
19,95
30,31
333,49
3,00
2,58
4,50
6,09
3,90
3,53
3,53
49,47
5,98
9,09
100,00
0,00
572
143
72
358
4
1
1
1
1
1
1
1
1
15
0,10
1
0,50
1,00
1,00
7,50
7,50
7,50
10,00
0,00
120,12
15,73
18
68,02
28,8
25
275,67
43,57
5,71
6,53
24,67
10,45
9,07
100,00
220,00
220,00
100,00
100,00
20,89
6,96
17,41
13,93
20,89
22,00
22,00
124,08
16,84
5,61
14,03
11,23
16,84
17,73
17,73
100,00
1.040,70
DECRESCENTE
%
QUANT.
572
143
72
358
2
1
100,00
2.200,00
Fonte : Cálculos efetuados a partir de dados fornecidos pela Empresa I.
1
1
1
1
1
1
1
120,12
15,73
18,00
68,02
14,40
25,00
261,27
45,98
6,02
6,89
26,03
5,51
9,57
100,00
165,00
165,00
100,00
100,00
17,84
5,94
14,86
11,89
17,84
16,50
16,50
101,37
17,60
5,86
14,66
11,73
17,60
16,28
16,28
100,00
861,13
100,00
1.650,00
1
1
1
1
1
1
1
1
92
Tabela 21: Custo de produção de dendê (US$/ha): Participação de cada atividade ( em %) em relação ao custo total da operação - 1999
DESCRIÇÃO
A - OPERAÇÕES
Viveiro e Pré-viveiro
Topogradia e loc. Covas
Abertura de Estradas
Preparo Área de Viveiro
Preparo Área de Cultura
Semeadura de Puerária
Plantio
Rebaixo
Coroamento de Covas
Coroamento Químico
Adubação
Contlole de Roedores
Rondas Fitossant. (*)
Trat. Fitossanitários
Poda Sanitária
Poda de Ratificação
Manut. Estradas
Transp. Cachos Vazios
Aplic. Cachos Vazios
Colheita
Transporte de FFB
Contigência ( 10 % )
Subtotal A
B- INFRAESTRUTURA
Alojamento
Estradas e Pontes
Subtotal B
C - INSUMOS
Sementes Híbridas
Fert. Formulado 18-18-18
Cloreto de Potássio
Sulfato de Amônia
Óxido de Magnésio
Fosfato
Herbicida
Ferramentas/Veículos
Subtotal C
D - INDUSTRIALIZAÇÃO
Subtotal D
E - ADMINISTRAÇÃO
Viagens
Assistência Técnica
M. O . Administrativa
Contábil./Escritório
Conserv. / Deprec. Benf.
Comercialização
Impostos
Subtotal E
CUSTO TOTAL (US$/Ha)
RECEITA (US$/ha/ano)
HM=Hora Máquina
Te=Trator de Esteira
Fonte: Agrianual, 1999; Empresa II
ESPECIFICAÇÃO
V.U.
US$/Ha
65,00
US$/Ha
4,00
HM Te 137 cv
33,13
Homem-dia
9,43
HM Te 137 cv
33,13
Homem-dia
9,43
Homem-dia
9,43
Homem-dia
9,43
Homem-dia
9,43
Homem-dia
9,43
Homem-dia
9,43
Homem-dia
9,43
Homem-dia
9,43
US$/ha
15,00
Homem-dia
9,43
Homem-dia
9,43
HM Te 61cv.4.2+carr.4t
12,43
US$/t
1,00
US$/t
1,22
Homem-dia
9,43
US$/t
2,50
FORMAÇÃO
ANO N-2 ao 1
QUANT.
VALOR
1,77
1,5
3,5
0,5
4
2
7
12,5
20
2
3,7
1,8
%
115,05
24,00
115,96
4,72
132,52
18,87
66,03
117,91
188,65
18,87
34,90
16,98
12,24
2,55
12,34
0,50
14,10
2,01
7,03
12,54
20,07
0,00
2,01
3,71
1,81
85,44
939,90
2 ud 200m2/1000 ha50,00
40 Km / 1000 ha 280,00
US$/Unid
US$/Kg
US$/Kg
US$/Kg
US$/Kg
US$/Kg
US$/L
US$/Ha
0,75
0,40
0,21
0,11
0,25
0,19
5,63
25,00
0,50
0,13
220,00
377,50
11,00
% CUSTOS A+B
% CUSTOS A+B
% CUSTOS A+B
% CUSTOS A+B
% CUSTOS A+B
% RECEITA
% RECEITA
3,0%
1,0%
2,5%
2,0%
3,0%
1,0%
1,00%
25,00
35,00
60,00
41,67
58,33
100,00
165,00
604,00
0,80
0,80
5,00
0,80
1,00
11,00
11,00
17,80
11,00
21,46
78,54
0,50
0,88
900,00
286,00
88,00
44,00
462,00
4,00
1,00
100,00
0
1,00
1,00
1,00
1,00
1,00
51,27
17,09
42,72
34,18
34,18
179
1.948
V.U.= Valor Unitário
4,00
4,20
0,40
1,20
9,09
100,00
769,00
US$/t de FFB
CRESCENTE
ANO 2 ao 6
QUANT.
VALOR
28,57
9,52
23,81
19,05
19,05
0,00
0,00
100,00
1,00
1,00
1,00
1,00
1,00
1,00
1,00
(*) Computado o controle biológico de pragas
%
37,73
39,62
3,77
11,32
7,55
12,00
47,16
7,55
12,43
11,00
13,42
167,90
27,50
20,35
419,30
9,00
9,45
0,90
2,70
0,00
1,80
2,86
11,25
1,80
2,96
2,62
3,20
40,04
6,56
4,85
100,00
25,00
245,00
270,00
9,26
90,74
100,00
360,00
59,80
9,84
11,00
87,78
22,53
25,00
575,95
121,00
121,00
62,51
10,38
1,71
1,91
15,24
3,91
4,34
100,00
100,00
100,00
29,86
9,95
24,88
19,91
29,86
12,35
12,35
139
1.525
1.235,00
21,46
7,15
17,88
14,31
21,46
8,87
8,87
100,00
PRODUÇÃO
ESTÁVEL
ANO 7 ao 12
QUANT.
VALOR
2,50
2,90
0,65
1,60
0,78
1,00
0,95
0,90
20,00
20,00
18,50
20,00
440,00
110,00
55,00
572,00
3,00
1,00
1,00
1,00
1,00
1,00
1,00
1,00
1,00
23,58
27,35
6,13
15,09
7,36
15,00
8,96
11,19
20,00
24,40
174,50
50,00
15,91
399,47
92
12,3
13,75
108,68
16,9
25
268,63
220,00
220,00
20,04
6,68
16,70
13,36
20,04
22,45
22,45
122
1.010
2.245,00
DECRESCENTE
%
ANO 13 ao 22
QUANT.
VALOR
%
5,90
6,85
1,53
3,78
1,50
1,80
0,60
1,22
14,15
16,98
5,66
11,51
4,45
5,33
1,78
3,62
1,84
3,75
0,80
1,00
7,55
15,00
2,24
2,80
5,01
6,11
43,68
12,52
3,98
100,00
0,84
1,00
14,90
14,90
15,30
14,90
7,92
12,43
14,90
18,18
144,32
37,25
12,43
318,28
2,37
4,71
0,00
2,49
3,91
4,68
5,71
45,34
11,70
3,91
100
34,25
4,58
5,12
40,46
6,29
9,31
100,00
100,00
100,00
300,00
44,00
44,00
383,00
2,50
1,00
62,73
4,92
11,00
72,77
14,08
25,00
190,50
158,40
158,40
32,93
2,58
5,77
38,20
7,39
13,12
100,00
100,00
100,00
16,46
5,49
13,72
10,98
16,46
18,44
18,44
100,00
1,00
1,00
1,00
1,00
1,00
1,00
1,00
15,26
5,09
12,72
10,18
15,26
16,16
16,16
91
758
1.616,00
16,80
5,60
14,00
11,21
16,80
17,79
17,79
100,00
QUANT.
2,00
0,40
0,80
1,00
1,00
1,00
10,00
1,00
1,00
1,00
1,00
1,00
1,00
1,00
1,00
1,00
70
93
60
% do custo total da etapa
50
40
30
20
10
0
E m p re s a I
O p e ra ç õ e s
E m p re s a II
O p e ra ç õ e s
E m p re s a I
In fra e s tru tu ra
E m p re s a II
In fra e s tru tu ra
E m p re s a I
In s u m o s
E m p re s a II
In s u m o s
E m p re s a I
E m p re s a II
In d u s tria liz a ç ã o In d u s tria liz a ç ã o
E m p re s a I
A d m in s tra ç ã o
E m p re s a II
A d m in s tra ç ã o
E m p r e s a /c a te g o ria
N 2 -1
2 a 6
7 a 18 ou
7 a 12
19 a 22 ou
13 a 22
23
Figura 31: Composição percentual do custo total em cada etapa do ciclo produtivo, por categoria de despesa
(operações agrícolas, infraestrutura, insumos, industrialização, administração), em empresas selecionadas.
Fonte: Agrianual, 1999, 2000; informações fornecidas pelas empresas aos autores
94
1000
70
900
60
800
700
600
40
US$/ha/ano
Participação % custo total
50
30
500
400
300
20
200
10
100
0
0
N2-1
2a6
7 a 18 ou
7 a 12
19 a 22 ou
13 a 22
Etapas do ciclo produtivo
Empresa I
Empresa II
23
N2-1
2 a6
7 a 18 ou
7 a 12
19 a 22 ou
13 a 22
Etapas do ciclo produtivo
Empresa I
Empresa II
Figura 32: Custos de operações agrícolas, em percentual de participação ao custo de cada etapa do ciclo
produtivo, e em US$/ha/ano, para empresas selecionadas.
Fonte: Agrianual, 1999, 2000; informações fornecidas pelas empresas.
23
95
Quando se considera a contribuição percentual das operações agrícolas ao
custo total de cada etapa, observa-se um padrão em que essa contribuição é
maior, relativamente aos outros custos, na etapa inicial e nas etapas finais. O
custo em US$/ha/ano, no entanto, mostra um padrão decrescente, ao longo do
ciclo produtivo. As operações agrícolas tem um custo maior, por esses dados, nas
primeiras três etapas da cultura.
A segunda categoria de despesa, em termos de contribuição ao custo total, é
a de “insumos”. Esses representam de 6 a 40 % do custo total, conforme a etapa.
Na Figura 33, observa-se também um padrão semelhante, para as Empresas I e
II, pelo qual essa contribuição é mais elevada nas duas primeiras etapas,
decrescendo consideravelmente à medida que avança o ciclo produtivo. Uma
diferença, entre as duas empresas, que vale a pena ser enfatizada, diz respeito a
um custo significativamente maior, para a Empresa II, na primeira etapa produtiva.
Há também uma diferença importante na segunda etapa, também indicando
maiores despesas com insumos por parte da Empresa II, nessa etapa, em
comparação com a Empresa I.
A categoria de “industrialização” apresenta custos crescentes com o
desenvolvimento do ciclo produtivo, quando se considera a contribuição dessa
categoria, em cada etapa. A Figura 34 apresenta a contribuição dessa categoria
aos custos totais de produção de óleo de palma, por etapa, e em US$/ha/ano. Aí
se pode observar também que a industrialização implica em maiores custos nas
etapas do ciclo em que a cultura apresenta maior produtividade (terceira e quarta
etapas).
A Figura 35 apresenta os custos em infraestrutura, nas duas etapas iniciais.
São apresentados os percentuais de contribuição ao custo total de cada etapa,
bem como os custos em US$/ha/ano. Para ambas as empresas, os custos são
notavelmente maiores na segunda etapa. Nota-se aí também uma diferença
importante: a Empresa II tem custos (em US$) bem maiores do que a Empresa I,
na segunda etapa.
Os custos relativos e em US$/ha/ano, em cada etapa, são apresentados na
Figura 36. Aí se observa que, em termos relativos, a administração apresenta uma
certa estabilidade nas várias etapas, variando de 8 a 12%. Quando se observa os
custos em US$, por outro lado, constata-se um valor decrescente para a
administração, ao longo do ciclo da cultura. Esse padrão é provavelmente devido
ao fato de que as exigências de supervisão de operações agrícolas e aplicação de
insumos, assim como as demandas de infraestrutura também decrescem, ao
longo desse ciclo.
96
900
40
800
35
700
Participação % custo total
45
600
US$/ha/ano
30
25
500
20
400
15
300
10
200
5
100
0
N2-1
2a6
7a18ou
7a12
19a22ou
13a22
Etapasdocicloprodutivo
EmpresaI
23
0
N2-1
2a6
7a18ou
7a12
19a22ou
13a22
Etapasdocicloprodutivo
EmpresaII
EmpresaI
EmpresaII
Figura 33 - Custos de insumos, em percentual de participação ao custo de cada etapa do ciclo produtivo, e em
US$/ha/ano, para empresas selecionadas.
Fonte: Agrianual, 1999,2000; informações fornecidas pelas empresas.
23
97
40
250
35
200
Participação % custo total
30
25
US$/ha/ano
150
20
100
15
10
50
5
0
2a6
7a18ou
7a12
19a22ou
13a22
Etapasdocicloprodutivo
EmpresaI
23
0
2a6
7a18ou
7a12
19a22ou
13a22
23
Etapasdocicloprodutivo
EmpresaII
EmpresaI
EmpresaII
Figura 34 - Custos de industrialização, em percentual de participação ao custo de cada etapa do ciclo produtivo, e
em US$/ha/ano, para empresas selecionadas.
Fonte: Agrianual, 1999,2000; informações fornecidas pelas empresas.
98
20
300
18
250
16
200
12
US$/ha/ano
Participação % custo total
14
10
150
8
100
6
4
50
2
0
0
N2-1
2a6
Etapas do cicloprodutivo
Empresa I
Empresa II
N2-1
2a6
Etapas do cicloprodutivos
Empresa I
Empresa II
Figura 35 - Custos de infraestrutura, em percentual de participação ao custo de cada etapa do ciclo produtivo, e
em US$/ha/ano, para empresas selecionadas.
Fonte: Agrianual, 1999,2000; informações fornecidas pelas empresas.
99
200
14
180
12
160
140
120
8
US$/ha/ano
Participação % custo total
10
100
6
80
4
60
40
2
20
0
N2-1
2a6
7a18ou
7a12
19a22ou
13a22
Etapasdocicloprodutivo
23
0
N2-1
2a6
7a18ou
7a12
19a22ou
13a22
23
Etapasdocicloprodutivo
EmpresaI
EmpresaII
EmpresaI
EmpresaII
Figura 36 - Custos de administração, em percentual de participação ao custo de cada etapa do ciclo produtivo, e em
US$/ha/ano, para empresas selecionadas.
Fonte: Agrianual, 1999,2000; informações fornecidas pelas empresas.
100
Analisando-se o interior de cada categoria de despesa, pode-se identificar
quais ítens específicos mais contribuem aos custos, em cada etapa. Esses
resultados serão agora comentados, considerando-se as duas categorias de
despesas que apresentam maior impacto sobre o custo total, no sistema agrícola
(operações agrícolas e insumos
Operações Agrícolas
Novamente, as duas empresas apresentam um comportamento bastante
similar, quando se analisa os ítens específicos dessa categoria, que mais
contribuem para custos. Para essa análise, as operações foram separadas em
dois conjuntos: 1) as que só ocorrem durante a primeira etapa, cujos custos em
US$/ha/ano são apresentadas na Figura 37; e 2) as operações que ocorrem em
todas as etapas, apresentadas na Figura 38.
Na etapa n2-1 (Figura 37), para ambas as empresas, os maiores puxadores
do custo são as operações de preparo da área de cultura, viveiro e pré-viveiro, e
abertura de estradas. Observa-se, no entanto, uma diferença relevante nos custos
das duas empresas, no que se refere às duas primeiras operações mencionadas,
para as quais a Empresa II tem custos notavelmente maiores do que a Empresa I.
Nas demais etapas, apresentadas na Figura 38, a colheita é a operação que
apresenta custos mais elevados, seguida pela operação de coroamento de covas.
A colheita apresenta maiores custos nas etapas mais produtivas da cultura,
enquanto que o custo do coroamento de covas vai decrescendo, ao longo do ciclo
produtivo. Padrão semelhante é encontrado para a operação de rebaixo, a
terceira operação em custos. O transporte de cachos até a indústria, que é o
quarto item em custos, apresenta padrão similar ao da colheita, sendo maior nas
etapas mais produtivas.
Quanto à operação de colheita, as duas Empresas apresentam custos
bastante semelhantes, com exceção da etapa que se inicia nos sete anos da
cultura, para a qual a Empresa I apresenta custos bem maiores do que as da
Empresa II, talvez devido à diferenças na produtividade (também maior para a
Empresa I, quando comparada com a Empresa II).
Para as operações de coroamento de covas e rebaixo, a Empresa II
apresenta custos marcadamente maiores do que a Empresa I, na primeira etapa,
e um padrão semelhante, nas demais.
101
P la n tio
Operações agrícolas
S e m e a d u ra d e P u e rá ria
P re p a ro Á re a d e C u ltu ra
P re p a ro Á re a d e V iv e iro
A b e rtu ra d e E s tra d a s
T o p o g ra d ia e lo c . C o v a s
V iv e iro e P ré -v iv e iro
0
50
100
150
200
U S $ /h a /a n o
N 2 -1 E m p re s a I
N 2 -1 E m p re s a II
Figura 37: Custos das operações agrícolas que ocorrem apenas na etapa N2-1 do ciclo produtivo.
Fonte: Agrianual, 1999, 2000; informações fornecidas pelas empresas).
250
102
C on tig ênc ia ( 1 0 % )
T rans porte de F F B
C olheita
A plic . C ac ho s V az io s
T rans p. C a ch os V az ios
Operações agrícolas
M anut. E s tradas
P oda de R atifica çã o
P oda S anitária
T rat. F itos s anitários
R on das F itoss an t. (*)
C on tlo le d e R oed ores
A duba ção
C oroa m ento Q uím ic o
C oroa m ento de C ova s
R eb aix o
0
50
100
150
200
250
U S $/h a/an o
N 2 -1 E m p re sa I
N 2 -1 E m p re sa II
2 a 6 E m p re sa I
2 a 6 E m p re sa II
7 a 1 8 o u 7 a 1 2 E m p re sa I
7 a 1 8 o u 7 a 1 2 E m p re sa II
1 9 a 2 2 o u 1 3 a 2 2 E m p re sa I
1 9 a 2 2 o u 1 3 a 2 2 E m p re sa II
2 3 E m p re sa I
2 3 E m p re sa II
Figura 38 – Custos das operações agrícolas que ocorrem em todas as fases do ciclo produtivo.
Fonte: Agrianual, 1999,2000; informações fornecidas pelas empresas).
103
Nas etapas produtivas, a colheita é a operação com maiores custos relativos
(contribuição ao custo total da etapa) , variando entre 11 a 41% do custo total.
Esses custos relativos são crescentes, ao longo do ciclo produtivo. A colheita é
realmente operação crucial, porque deve ser realizada em um momento crítico,
em que os frutos não estejam verdes ou maduros demais; também porque após a
colheita, o fruto deve ser imediatamente transportado até a usina de extração. Os
custos da colheita aumentam também, com o ciclo produtivo, porque plantas mais
velhas são também mais altas, dificultando e onerando essa operação.
Insumos
A segunda categoria, em contribuição para o custo total, corresponde a de
insumos. Os seguintes insumos são os que mais pesam, nessa contribuição: na
fase inicial (n2-1) sementes e fertilizantes formulados. Nas demais etapas, esses
fertilizantes continuam a representar um custo relevante, mas o cloreto de
potássio e o fosfato também se apresentam como insumos de maior custo,
conforme apresentado na Figura 4.3.5.10.
Uma diferença digna de nota, entre as duas empresas, diz respeito ao
fertilizante formulado, para o qual a Empresa II apresenta custos
consideravelmente maiores do que a Empresa I, nas duas etapas em que esse
insumo é utilizado.
As diferenças no custos desses insumos relacionam-se às quantidades
aplicadas, já que fertilizantes formulados, cloreto de potássio e fosfato apresentam
mesmo valor unitário, para ambas as empresas. Quanto às sementes híbridas, a
Empresa I declarou um valor unitário de US$ 0,95, enquanto que a Empresa II
comprou suas sementes a US$ 0,75 a unidade.
4.3.7 Limitações dos sistemas produtivos agrícolas
A Tabela 22 sintetiza os achados a respeito de impactos das operações
agrícolas. Todas as operações indicadas na Tabela são consideradas limitações
geradas no componente. Destaque deve ser dado para as operações de rebaixo,
colheita e transporte de frutos até a indústria, que apareceram como mais
importantes, tanto na avaliação qualitativa como na análise de custos.
Quanto a insumos, os seguintes ítens devem ser considerados,
objetivo de reduzir seus custos e aumentar a eficiência do componente:
!
Fertilizante formulado
!
Sementes híbridas
!
Cloreto de potássio
!
Fosfato
com o
104
Soluções tecnológicas para precisar a necessidade correta desses insumos,
em cada etapa do ciclo produtivo, ou para reduzir essa necessidade, devem ser
buscadas, pela pesquisa agropecuária.
Tabela 22
Operações com maior impacto sobre produtividade e custos, segundo
avaliações qualitativas das empresas e análise de custos da produção.
Operação
Impacto sobre
produtividade?
Impacto sobre
Custos?
Viveiro e pré-viveiro
!
Abertura de estradas
!
Preparo da área de cultura
!
Coroamento de covas
!
Rebaixo
!
!
Poda
!
Adubação
!
Preparação para a colheita
!
Colheita
!
!
Transporte dos frutos até a indústria
!
!
Pelos riscos que representa, para a cadeia produtiva do dendê, a
ocorrência de amarelecimento fatal deve também ser considerada como uma
limitação importante para essa cadeia, na Amazônia Legal.
105
Herbicida
Fosfato
Insumos
Ó xido de M agnésio
Sulfato de Am ônia
Cloreto de Potássio
Fert. Form ulado 18-18-18
Sem entes Híbridas
0
100
200
300
400
500
600
US$/ha/ano
N2-1 Em presa I
7 a 18 ou 7 a 12 Em presa I
N2-1 Em presa II
7 a 18 ou 7 a 12 Em presa II
2 a 6 Em presa I
18 a 22 ou 13 a 22 Em presa I
2 a 6 Em presa II
18 a 22 ou 13 a 22 Em presa II
Figura 39: Custos de insumos em todas as fases do ciclo produtivo. . (Fonte: Agrianual, 1999, 2000;
informações fornecidas pelas empresas.
700
106
4.3.8 Agroindústria
A agroindústria de dendê no Brasil, da mesma forma que os sistemas
produtivos agrícolas, é altamente concentrada. Em 1997, essa indústria
concentrava-se em dez empresas atuando em três Estados (Pará, Amapá e
Bahia). Por ocasião do levantamento de dados primários, realizado para esse
estudo, essa concentração tinha aumentado, com a aquisição do controle
acionário da COACARÁ pela AGROPALMA.
A Tabela 23 apresenta a produção brasileira de óleo de palma, por
Empresa e Estado, no período 1994-1999. O grande produtor é o Pará, com
mais de 80% da produção. Amapá e Bahia detêm cerca de 15 % dessa
produção, seguidos por uma produção incipiente e irregular no Amazonas. A
CAIAUE, empresa que havia sofrido reveses, em 1996 e 1997, foi vendida, por
seus antigos donos, e encontra-se agora em uma fase de recuperação.
Tabela 23
Produção brasileira de óleo de palma (toneladas métricas)
por Estado e Empresa, 1992-2000.
ESTADO/
EMPRESA
PRODUÇÃO (TON DE ÓLEO DE PALMA)
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
CRAIAGROPALMA
20.120 24.252 32.000 30.000 31.420 35.805 39015 43.489 51.046
DENPASA
14.380 11.388 12.681
9.506
9.843 10.439
8092
4.697
Var. 9200(%)*
153,71
1.600
-88,87
12447,17
COACARA
-
106
3.323
6.916
6.395
7.182 10190 12.152 13.300
CODENPA
3.850
3.034
5.200
5.570
5.985
5.302
4979
5.000
5.500
42,86
DENTAUA
2.650
3.034
4.397
4.668
4.880
4.400
3700
5.050
6.200
133,96
PALMASA
1.200
1.991
3.900
4.530
4.100
4.106
4514
5.000
6.050
404,17
-
1.800
2.000
2.480
3.260
3.420
4200
4.860
5.700
216,67
42.200 45.605 63.501 63.670 65.883 70.654 74690 80.248 89.396
111,84
MARBORGES
-RMA
SUBTOTAL PARÁ
COPALMA
-
-
1.200
5.400
6.300
4.960
2900
SUBTOTAL AMAPÁ
-
-
1.200
5.400
6.300
4.960
2900
141,67
5.634
6.000
50,00
1.150
1.500
-60,53
4400
6.784
7.500
-3,85
316
2200
2.800 -
316
2200
2.800
OLDESA
4.000
2.200
3.378
3.180
4.304
OPALMA
3.800
1.500
1.558
1.436
1.034
SUBTOTAL BAHIA
7.800
3.700
4.936
4.616
5.338
CAIAUE
-
-
632
SUBTOTAL -
-
-
632
AMAZONAS
141,67
-
2.673
2.673
4400
248,10
248,10
-
Fonte: Agrianual, 2000
*Nos casos sem produção em 1992, utilizou-se o primeiro ano de produção
107
A produção de óleo, no período considerado na Tabela 23 é, de modo
geral, crescente. Verificam-se desempenhos notáveis, como as observadas
para a COACARA e a COPALMA, essa última desativada a partir de 1998, por
problemas trabalhistas. Algumas empresas, tais como a DENPASA – por
causa do amarelecimento fatal– apresentaram produção decrescente no
período. Observa-se ainda a irregularidade da produção de algumas dessas
empresas, especialmente as localizadas fora do Pará.
Na próxima seção, o processamento (primário e de refino) do dendê é
descrito, como base para que se possa analisar produtividade, qualidade de
produto e custos, desse componente da cadeia produtiva.
4.3.9 Processo agroindustrial: caracterização geral
O processo agroindustrial utilizado pela maioria das empresas na
Amazônia corresponde ao processo de transformação primária, pelo qual são
obtidos o óleo de palma bruto, o óleo de palmiste e a torta de palmiste. Apenas
uma das empresas (o Grupo Agropalma) realiza também a etapa de refino e
fracionamento do óleo de palma bruto e do óleo de palmiste, tendo como
produtos o óleo RBD, oleínas e estearinas. O processo de transformação
primária é descrito na próxima seção. Na seção seguinte, as operações de
refino e fracionamento são analisadas.
Processo extrativo primário
Na planta de extração, os cachos de frutos são submetidos inicialmente a
uma pesagem, na etapa de recepção. O processo industrial propriamente dito
se inicia pela esterilização dos cachos de frutos colhidos, com a finalidade de
desativar as enzimas responsáveis pelo desdobramento do óleo em ácidos
graxos livres, de separar os frutos dos cachos, de amolecer a polpa e coagular
a mucilagem no sentido de recuperar o óleo. Nessa etapa, ocorre ainda o
encolhimento da amêndoa.
Em seguida, os cachos esterilizados são submetidos a um debulhamento,
para separar os frutos do cacho. Esses últimos passam então por um digestor,
extraindo-se por alta pressão o óleo de palma bruto, em uma etapa de
prensagem, da qual também resultam, como subprodutos, fibras e amêndoas.
O óleo de palma bruto passa em seguida por um processo de clarificação
e purificação, no qual é separado de suas impurezas mais densas. Nesse
processo também se retira a umidade do óleo, até um máximo de 0,1% . O
óleo de palma integral, que se obtém aí, está pronto para seguir para o refino e
fracionamento.
As fibras e amêndoas obtidas por meio da prensagem, anteriormente
descrita, são por sua vez submetidas a uma operação de separação. As
amêndoas passam então por uma recuperação, no qual são separadas de
suas cascas e preparadas para a próxima etapa. Ocorre aí também a quebra e
108
secagem da torta de prensagem. As amêndoas recuperadas são submetidas a
operações de trituração, laminação, cozimento e prensagem, daí resultando o
óleo de palmiste e a torta de palmiste.
A Figura 40 mostra uma representação desse processo, com suas
operações, subprodutos e usos dados para cada um desses subprodutos.
Como se pode observar aí, todos os subprodutos são utilizados, seja em
adubação orgânica, como combustível, como ração animal ou como insumo
para indústrias de processamento secundário, aí incluído o refino e
fracionamento. São também apresentados os percentuais obtidos para cada
produto ou subproduto, nas diversas etapas (esses percentuais são médias e
podem variar entre empresas).
O óleo de palma e o óleo de palmiste são os produtos mais nobres e de
maior lucratividade resultantes do processamento primário. Ao final desse,
correspondem a uma fração pequena da matéria-prima inicial (21 e 2.1 %,
respectivamente). Essa é, aparentemente, uma limitação do processo
agroindustrial. Se considera todas as operações, o aproveitamento da matériaprima, em cada uma delas, é desigual, e supostamente se poderia melhorar a
taxa de aproveitamento, seja por alterações na própria matéria-prima, seja por
aperfeiçoamentos do processo.
Na Figura 41 é apresentada a produtividade (em toneladas de óleo de
palma por hectare), das empresas da Amazônia, no período de 1994 a 1998.
Pode-se observar aí dois grupos de empresas: o primeiro, formado por
Agropalma, Denpasa e Coacara, alcançaram em 1998 produtividades médias
variando entre 3,31 (Agropalma) e 4,05 toneladas de óleo por hectare
(Denpasa). O segundo grupo é formado pelas empresas Codenpa, Dentaua,
Palmasa, Marborges, Copalma e Caiaué. Esse segundo grupo apresenta
produtividades médias variando entre 1,28 (Palmasa) e 2,20 toneladas de óleo
de palma por hectare (Marborges).
Essa Figura também aponta para um dos possíveis limitantes à cadeia
produtiva do dendê: pelas características da cultura (planta perene, que exige
grandes áreas de cultivo, grande quantidade de insumos, retorno a médio
prazo) se requer também um elevado grau de planejamento e constante gestão
da cultura. A irregularidade na produtividade de algumas dessas empresas
pode estar ligada a fatores gerenciais. Essa suposição é reforçada por
informações sobre algumas das empresas que apresentam comportamento
irregular, em produção e produtividade.
109
Recepção
Cachos de frutos
frescos (100 %)
Esterilização
Efluentes
( 1 0 .7 3 % )
Adubação
orgânica
Cachos esterilizados
( 8 9 .2 7 % )
Debulhamento
Cachos vazios
( 2 4 .6 3 % )
Adubação
orgânica
Frutos esterilizados
( 6 4 .6 4 % )
Prensagem
Fibras e amêndoas
( 3 1 .0 4 % )
Óleo de palma bruto
( 3 3 .6 % )
Clarificação
Óleo de palma integral
( 21% )
Indústrias
Efluentes (12.6%)
Adubação
orgânica
Fibras
( 1 1 .2 1 % )
Separação
Combustível
Amêndoas (19.83%)
Recuperação de
amêndoas
Casca
( 1 4 .5 8 % )
Combustível
Amêndoas (5.25%)
Trituração,
laminação,
cozimento
prensagem
Torta de palmiste
( 2 .6 % )
Adubação
e
ração animal
Óleo de palmiste
( 2 .1 % )
Indústrias
e
Figura 40: Operações ou etapas do processo de transformação primário
do dendê, com respectivos subprodutos e usos.
110
CRAIAGROPALMA
DENTA
DENPA
SA
PALMA
COACA
RA
MARBORGES
CODEN
PA
COPAL
UA
CAIA
5,0
UE
0
4,5
0
4,0
0
3,5
0
3,0
0
2,5
0
2,0
0
1,5
0
1,0
0
0,5
0
0,0
0
SA
OLDE
SA
RMA
OPAL
MA
MA
199
4
199
5
199
6
199
7
Ano
s
199
8
199
9
200
0
Figura 41: Produtividade de empresas de óleo de palma, na Amazônia,
1992 a 2000.
Fonte: Agrianual, 2001
Análise de qualidade e custos, no processo agroindustrial primário
Com a finalidade de identificar pontos de estrangulamento, no processo
extrativo primário, foram levantados dados sobre a contribuição de cada etapa
ou operação ao custo total e de seu impacto sobre a qualidade do óleo ou torta
dela resultante. Os dados levantados, junto a quatro empresas consultadas,
são apresentados na Tabela 24.
Tendo como base essa Tabela e atribuindo-se o valor 3 a avaliações
correspondentes a alta contribuição ou alto impacto, 2 a média contribuição ou
médio impacto, 1 a baixa contribuição ou baixo impacto e zero a avaliações do
tipo “não se aplica”, e calculando-se o somatório dessas avaliações, verifica-se
que são mais relevantes para todas as empresas: em primeiro lugar, as
operações de cozimento; em segundo, as de prensagem (palmisteria) e
clarificação; em terceiro lugar, as de esterilização e laminação; em quarto lugar,
a operação de trituração e, finalmente, em quinto lugar, a de prensagem. Três
dessas operações – esterilização, clarificação e prensagem – estão
relacionadas à obtenção de óleo de palma; quatro delas – trituração,
laminação, cozimento e prensagem – são utilizadas para obtenção de óleo e
torta de palmiste. O grupo Agropalma discrepa um pouco desse resultado
geral, por não considerar tão importante as operações de clarificação e
prensagem, nem em sua contribuição para custos nem em seu impacto sobre
111
qualidade de produto. Observe-se que a Agropalma conta com centrífugas de
purificação de três fases, únicas no Brasil.
Tabela 24
Avaliações sobre a contribuição de cada operação ao custo total do
processo extrativo primário e sobre seu impacto sobre a qualidade da
torta ou óleo resultante (A=alta=3, M=média=2, B=baixa=1, N=nenhuma=0)
Operação
Contribuição da operação ao
custo total
Empres
a A*
Recepção
B
Esterilização
A
Debullhamento
B
Empres
a B*
Empres
a C*
B
B
B
A
B
M
A
B
B
B
Prensagem
M
Clarificação
M
A
Armazenamento
do óleo bruto
Separação
B
N
M
-
Empresa
D*
Impacto da operação sobre
qualidade da torta ou óleo
Empres
a A*
Empres
a B*
Empresa
C*
Empres
a D*
N
-
A
N
N
B
M
M
A
N
M
M
M
A
A
M
B
B
B
N
A
A
B
M
M
-
N
B
M
M
N
N
A
B
Recuperação de
amêndoas
Trituração
M
A
A
B
B
N
A
Laminação
Cozimento
A
A
A
A
B
M
M
A
A
A
A
N
A
A
A
Prensagem
(palmisteria)
Armazenamento
do óleo de
palmiste
Armazenamento
da torta de
palmiste
A
A
A
M
A
A
N
A
B
N
B
B
B
N
B
N
B
B
B
N
A
A
M
M
Empresas: A=Agropalma, B=Palmasa, C=Caiaué; D=Denpasa
Aparentemente, as operações de armazenamento não têm efeito sobre
custos, e pouco efeito sobre a qualidade de produto (somente uma das
empresas consultadas apontou impactos dessas operações sobre a qualidade
do óleo ou torta produzidos). Não apresentam, portanto, dificuldades para o
desempenho do processo extrativo primário.
As empresas consultadas também indicaram as razões para suas
avaliações em relação a cada uma das operações. Especialmente em
referência às etapas mais relevantes do processo, acima identificadas, as
empresas indicaram que:
• A operação de esterilização contribui para cerca de 11% do custo total do
processo primário. Também é a operação que vai definir o percentual de
debulhamento, na próxima etapa e a adequação da extração de óleo de
palma.
• A operação de clarificação deve ser cuidadosamente conduzida, porque de
outro modo haverá perda de óleo de palma e redução de eficiência
produtiva. Por outro lado, se o excesso de água não for eliminado, nessa
etapa, a qualidade do óleo é prejudicada, não se conseguindo o percentual
de umidade exigido pelo mercado, com consequente queda nos preços.
• A operação de prensagem é extremamente importante na definição da
eficiência produtiva do processamento, pois é por meio dela que se extrai o
112
•
óleo de palma bruto (matéria-prima para o refino) e uma noz ou amêndoa
de boa qualidade, para a palmisteria.
Trituração, laminação, cozimento e prensagem (palmisteria): essas
operações devem ser realizadas de modo a garantir que a torta obtida não
tenha um excesso de óleo, o que reduziria a extração do óleo de palmiste.
Excesso de óleo, nessa torta, também contribui para acelerar sua
rancificação. Além disso, o cozimento deve ser realizado no ponto certo, por
sua influência sobre a redução (desejável) da acidez do óleo de palmiste
obtido.
Custos do processamento extrativo primário
Os custos fixos e variáveis do processo extrativo primário foram
identificados, com o fim de se calcular sua participação no custo total desse
processo. Os dados referentes a esses custos são apresentados na Tabela 25.
A contribuição de cada categoria de custo ao custo total é apresentada na
Figura 42.
Verifica-se aí que os gastos com a administração e gerência do processo,
com a oficina de manutenção, com a geração da energia necessária e com a
operação de esterilização, correspondem aos custos mais elevados, somando
cerca de 70 % do custo total.
Com exceção dos gastos para geração de energia, que são compostos
principalmente por gastos com materiais, os demais são derivados de custos
com mão-de-obra permanente e temporária.
Com o fim de identificar melhor como as operações de processamento
contribuem para os custos finais, todas elas foram consideradas
separadamente dos demais custos. Construiu-se, a partir desses dados, a
Figura 43, mostrando a participação de cada operação no processamento
extrativo primário.
As operações de esterilização (41%), processos de extração de óleo e
torta de palmiste (20%), prensagem (17%) e clarificação (8%) são as que
apresentam maior custo, de acordo com a Figura. Comparando-se esses
dados com os da Tabela 25, verifica-se que a maior parte desses gastos
relaciona-se a custos com mão-de-obra (permanente ou temporária). A
exceção é para a operação de prensagem, onde contribuem de modo mais
relevante as despesas com materiais.
113
Processo Palmíste
Recuperação Amendoas
Administração/Gerência
Oficina Manutenção
Oficina Elétrica/Instrum.
Categorias de custo
Laboratório
Limpeza
Outros apoios
Balança
Esterilização
Desfibr./Prensagem
Clarificação
Debulhamento
Recepção
Outros processos
Geração Energia
0
5
10
15
20
25
% Contribuição ao custo total
Figura 42: Contribuição % ao custo total do processamento primário, de
diversas categorias de despesa. (Fonte: Agropalma)
3%
20%
7%
41%
8%
17%
4%
Recepção
Esterilização
Debrulhamento
Clarificação
Recuperação Amendoas
Processo Palmíste
Desfibr./Prensagem
Figura 43: % Participação em custos totais das operações, de cada
operação de processamento (Fonte: Agropalma)
114
Tabela 25
Gastos totais (operações & imobilizado) no processamento de óleo na Agropalma, em 1996.
SETOR/
PROCESSO
Subsetor/Operação
Energia
Geração Energia
Processo Óleo Recepção
Palma
Esterilização
Debulhamento
Desfibr./Prensagem
Clarificação
Outros
Serviços De
Laboratório
Apoio
Oficina Manutenção
Oficina
Elétrica/Instrum.
Administração/Gerênci
a
Limpeza
Balança
Outros
SUBTOTAL ÓLEO PALMA
Palmisteria
Recuperação
Amêndoas
Processo Palmíste
SUBTOTAL PALMÍSTE
TOTAL
Fonte: Agropalma
Mão de Obra
Temporários
Materiais
Alimentação Outros
Totais
67.776
7.642
188.798
5.069
1.342
%
participaçã
o
270.627
13,47
92.567
419
36.692
27.135
76.764
333.560
136.686
13.530
103.032
7.642
7.642
7.642
0
0
0
5.661
27.864
16.056
51.842
9.612
113
18.104
94.467
29.353
1.665
1.528
1.103
6.616
21.286
5.140
-40
114
960
987
3.074
484
19.191
225.088
24.117
97.818
46.452
113
102.471
452.387
171.663
0,95
11,21
1,20
4,87
2,31
0,01
5,10
22,52
8,55
391.636
0
56.029
15.635
40.574
503.874
25,08
48.882
11.788
0
1.223.905
0
1.839
0
1.839
9.601
660
17.555
525.715
2.250
344
60.636
-34
2.063
49.524
60.69
16.694
17.555
2.008.749
3,02
0,83
0,87
100,00
19.667
7.642
9.206
2.448
172
39.135
25,90
82.684
102.351
9.908
17.550
14.120
23.326
5.216
7.664
47
219
111.975
151.110
74,10
100,00
1.326.256
166.519
549.041
68.300
49.743
2.159.859
-
115
Qualidade dos produtos obtidos no processo produtivo primário
Quanto à qualidade dos produtos obtidos, um dos indicadores exigidos
pelo mercado corresponde ao índice da acidez do óleo (de palma ou palmiste).
O padrão estabelecido corresponde a um nível máximo de 5% de acidez. O
preço do óleo vai depender, em parte, do nível de acidez que apresenta. O
preço do óleo cai proporcionalmente ao aumento da acidez verificada acima do
padrão. O nível de acidez do óleo de palma bruto é elevado, sendo essa uma
das desvantagens do óleo de palma em relação a outros óleos vegetais. O
refino, relatado na próxima seção, reduz a acidez do óleo.
A Tabela 26 apresenta a especificação técnica dos óleos (de palma e
palmiste) resultantes do processo produtivo primário, conforme informado pela
principal empresa da região amazônica (Grupo Agropalma).
Tabela 26
Características do óleo de palma bruto e do óleo de palmiste bruto,
métodos AOCS & PORIM
Característica
Óleo de palma bruto
Óleo de palmiste bruto
Índice de iodo (Wijs)
52-55
17-19
Ácidos graxos livres (%)
1.5-3.0
0.3-1.0
Umidade e impurezas
0.5 max.
0.5 max
Carotenos (ppm)
650-880
Tocoferóis
600-800
Índice de peróxido (meq/Kg)
3-6
Ferro (ppm)
3-6
Cobre (ppm)
0.08 max.
Dobi
3 max.
3-3.6
Extinção: 233 nm
269 nm
1.5-1.6
0.2
Fonte: Agropalma, 2000
Em relação ao indicador de qualidade mais requerido pelo mercado – o
teor de ácidos graxos livres – tanto os óleos brutos produzidos pela Agropalma
como pelas demais empresas da região, apresentam índices semelhantes, isto
é, abaixo do máximo de 5% definido no padrão internacional.
Processo de refino e fracionamento do óleo de palma
O processo de refino que se segue ao que se chamou processo extrativo
primário é necessário devido ao fato de que os óleos obtidos nesse último
contem impurezas (pigmentos, traços de metais, ácidos graxos livres e material
odorífero). Especialmente quando os óleos são utilizados para a indústria
alimentícia, devem ser removidos os constituintes que conferem sabor, cor e
odor indesejável aos alimentos, ou que reduzam sua conservação em
prateleira (os traços de metais) (Menezes, 1995)
116
O refino do óleo pode ser realizado por meio de processos químicos ou
físicos. A refinadora com maior capacidade na região (a Companhia Refinadora
da Amazônia, do grupo Agropalma) utiliza o refino físico. Esse processo,
segundo Menezes, tem a vantagem, em relação ao refino químico, de melhorar
o rendimento, baixar o custo e o tempo de processamento, imediata
recuperação de óleos de alta pureza, produzindo menos resíduos e problemas
ambientais.
Segundo Veiga et al. (2000), foi construída recentemente, em Santa
Isabel (PA), uma pequena unidade para o refino físico dos óleos de palma e
palmiste, com capacidade para 50 toneladas dia. Essa unidade pertence ao
Grupo Yossam.
Segundo Freitas et al. (1998), existem ainda duas outras refinarias, fora
da Amazônia, que além do óleo de palma refinam também óleo de algodão e
de soja: a DUREINO, localizada no Piauí, com capacidade instalada para 120
ton de óleo/dia, e a MAEDA, em Goiás, com 150 ton de óleo/dia.
O refino físico envolve as seguintes operações ou etapas:
1. Pré-tratamento: nessa etapa, o óleo de palma ou palmiste bruto é tratado
com ácido fosfórico a uma temperatura de 90-1300 C, em um processo
simples de destilação a vapor, para remoção de todas as ceras, traços de
metais, impurezas, etc.
2. Branqueamento e filtragem: o óleo pré-tratado é a seguir branqueado sob
vácuo, com 1-2% de argila branqueadora, e então filtrado.
3. Desodorização: nessa etapa, o óleo degomizado e branqueado nas etapas
anteriores, é vaporizado no vácuo (temperatura de 250-2600 C, para
remoção dos ácidos graxos voláteis, substâncias odoríferas e pigmentos
carotenóides instáveis. O óleo assim desodorizado é o óleo de palma
refinado, branqueado e desodorizado (ou óleo RBD)
Os óleos obtidos no processo produtivo primário (óleo de palma bruto e
óleo de palmiste bruto), ou os óleos obtidos através do processo de refino
podem ser também fracionados. Pelo fracionamento do óleo, obtém-se como
produtos óleo líquido ou gordura sólida, que podem então ser combinados de
acordo com seu uso final. Esse fracionamento implica em sua cristalização por
meio de resfriamento controlado, separando-se então em oleína, a fração
líquida do óleo (baixo ponto de fusão) e estearina, a fração sólida (alto ponto de
fusão).
A combinação de processos de refino e fracionamento geram vários
subprodutos dos óleos brutos obtidos no processo produtivo primário. A Figura
44 apresenta as possíveis combinações desses dois processos, e os
subprodutos gerados.
117
ÓLEO DE PALMA BRUTO (PO)
ÓLEO DE PALMISTE BRUTO
FRACIONAMENTO
Estearina
bruta
Oleina
bruta
REFINO FÍSICO
OU QUÍMICO
REFINO FÍSICO
Destilados
de ácidos
graxos
palmíticos
PO/PKO
Refinado
Branqueado
Desodorizado
FRACIONAMENTO
Estearina
RBD
Oleina
RBD
REFINO
QUÍMICO
Sabão
PO/PKO
Neutralizado
Branqueado
Desodorizado
FRACIONAMENTO
Estearina
NBD
Oleina
NBD
Legenda: PO=óleo de palma bruto, PKO=óleo de palmiste bruto, RBD=refinado, branqueado,desodorizado;
NBD=neutralizado, branqueado, desodorizado
Figura 44: Processos de refino e fracionamento dos óleos de palma brutos
Fonte: Ahmad, 1995 (adaptado).
As informações sobre os processos de refino e fracionamento, levantadas
junto à Agropalma, indicam que, novamente, os custos embutidos nesse
processamento são, em sua maior parte, derivados de manutenção e gerência.
As operações de refino e fracionamento, em si, têm pouca contribuição para os
custos totais do processo. Por outro lado, as operações de refino tem um alto
impacto sobre a qualidade dos óleos obtidos. Cerca de 90 a 95% da qualidade
obtida, na opinião dos entrevistados, deriva-se dessas operações.
A Tabela 27 apresenta três dos principais óleos refinados pela
Agropalma, com suas especificações técnica, comparados aos padrões
internacionais estabelecidos pelo PORAM.
118
Tabela 27
Características do óleo de palma refinado, e de estearinas e oleínas
refinadas, métodos AOCS & PORIM, comparados com o padrão
internacional PORAM(Fonte: Agropalma, 2000 e MPOPC (Malaysian Palm
Oil Promotion Council), 2000
Característica
Óleo de
palma
refinado
Padrão
PORAM
Oleína
refinada
Padrão
PORAM
Estearina
refinado
Padrão
PORAM
Índice de iodo
(Wijs)
52-55
50-55
60-62
56
30-32
48
Ácidos graxos
livres (%)
0.05
0.10
0.05
0.10
0.05
0.20
Umidade e
impurezas
Ponto de fusão
(AOCS Cc 3-25)
0.10 max
0.10
0.15
?
33-39
16+/-2
24
55+/-2
44
Cor (Lovibond Red
1/4
5 )
2-4
3-6
2-4
3-6
2-4
3-6
Índice de peróxido
(meq/Kg)
1
1
1
0.2
0.2
0.2
3 max.
3 max
3max
Ferro (ppm)
Fósforo (ppm)
Como se pode verificar na Tabela acima, os óleos de palma processados
na Amazônia apresentam alta qualidade, quando comparados aos padrões
internacionais.
Limitantes do componente de processamento
A Tabela 28 apresenta uma síntese dos principais resultados
encontrados, seja por meio de avaliações qualitativas dos entrevistados, ou
pela análise dos custos de produção, sobre as operações de processamento
de maior impacto em custos e qualidade.
119
Tabela 28
Resultados de avaliações qualitativas e análise de custos, sobre o
impacto de operações de processamento.
OPERAÇÕES
Esterilização
Clarificação
Armazenamento do
óleo bruto
Trituração
Laminação
Cozimento
Prensagem
AVALIAÇÕES QUALITATIVAS
(% de avaliações apontando
alto impacto)
Impacto sobre
Impacto sobre
custos
qualidade
CONTRIBUIÇÃO AO
CUSTO TOTAL (%) DA
CATEGORIA DE
OPERAÇÕES DE
PROCESSAMENTO
50
25
0
50
25
50
41
8
-
50
50
50
75
25
75
75
75
20
17
(Fonte: Agrianual, 2000; Empresas)
As operações indicadas acima devem ser analisadas com o objetivo de
redução de custos e melhora da qualidade. Os maiores contribuidores para os
custos do processamento, no entanto, não são as operações (essas
contribuem com 19% dos custos totais), e sim atividades ligadas à
administração e apoio ao processo e a geração de energia.
Quanto à qualidade de produto, o óleo brasileiro equipara-se aos padrões
internacionais.
4.3.10
Desempenho econômico do Sistema Integrado de Produção
Agrícola e Processamento
Na Figura 45 se apresentam receitas e despesas, para o ciclo produtivo
da cultura, para as Empresas I e II. Observa-se que na primeira fase desse
ciclo são efetuados os investimentos iniciais, não ocorrendo receitas. No
segundo período, do ano 2 ao 6, as despesas e receitas praticamente ficam
empatadas. No período de estabilização da cultura a receita supera largamente
a despesa, o mesmo ocorrendo nas etapas seguintes, porém com redução
relativa de receitas e despesas
120
2500
2000
US$/ha/ano
1500
1000
500
0
N-2
2a6
Empresa I Custo
7 a 18 ou
7 a 12
Etapas do ciclo produtivo
Empresa I Receita
Empresa II Custo
19 a 22 ou
13 a 22
23
Empresa II Receita
Figura 45: Custos e receitas de duas empresas, ao longo do ciclo produtivo do
dendê.
Fonte: Agrianual, 1999,2000; Empresas
!
!
!
Analisando-se os dados apresentados na Figura 45, pode-se concluir que:
A Empresa II apresenta maiores custos totais nas fases n2-1 e 2 a 6;
A Empresa I apresenta maiores custos totais nas demais fases;
As receitas das duas empresas são bastante similares, em todas as fases,
mas há uma diferença importante na última etapa, quando as receitas da
Empresa I são maiores do que as da Empresa II.
A Empresa I investe mais recursos (US$/ha) do que a II, nos seguintes
ítens:
!
Fase N2-1: viveiro e pré-viveiro, preparo da área de cultura, sementes
híbridas
!
Fase 7 a 12 ou 7 a 18: colheita, cloreto de potássio
!
Fase 13 a 22 ou 19 a 22:colheita; cloreto de potássio
!
Fase 23: colheita
A Empresa I apresenta maior produtividade média que a Empresa II, ao
longo do ciclo, em termos de toneladas de cachos de frutos frescos por
hectare; por outro lado, a Empresa II parece ser mais eficiente na extração do
óleo, pois há indicações de que apresenta maior produtividade em termos de
toneladas de óleo por hectare.
121
A Figura 46 apresenta o desempenho econômico observado durante o
ciclo da cultura, pela relação entre custos e receitas acumulados ao longo
desse ciclo. Observa-se uma receita crescente, à medida em que o ciclo
produtivo avança e a partir do segundo ano da cultura. Receitas acumuladas e
custos acumulados só se igualam no final da terceira etapa (de 7 a 18 anos),
sendo o ponto de equilíbrio alcançado ao redor do nono ano, quando a receita
acumulada se torna maior do que os custos acumulados. Para a Empresa I, o
ponto de equilíbrio entre receitas e despesas acumuladas é alcançado entre o
nono e o décimo ano da cultura, enquanto que para a Empresa II isso acontece
mais tarde, entre o 12º e o 13º ano. As maiores diferenças ocorrem em relação
a receitas acumuladas: enquanto a Empresa I aufere receitas acumuladas da
ordem de US$ 40,150.00 por hectare, a Empresa II consegue alcançar US$
36,703.00 por hectare, ao final do ciclo produtivo. Em relação a custos
acumulados, por outro lado, as duas empresas são semelhantes: para a
Empresa I, o custo acumulado corresponde a US$26,512.00 por hectare,
enquanto a Empresa II tem custo acumulado de 27,437.00 por hectare, ao final
do ciclo.
A Figura 46 torna claro, por outro lado, um dos maiores limitantes ao
desenvolvimento da cadeia produtiva de dendê: o tempo que transcorre entre a
implantação da cultura e a obtenção dos primeiros retornos positivos. Mesmo
na fase compreendida entre os dois e os seis anos da implantação, a receita
apenas empata com as despesas.
Por esse motivo, a obtenção de variedades capazes de apresentar maior
produtividade, em menor tempo, contribuiria para que os empresários
enfrentassem os desafios apresentados pela cultura.
O desempenho econômico pode ser também alterado se aumentam as
receitas ou se reduzem os custos. As receitas são altamente dependentes da
produtividade. Essa, como indicam as empresas, é afetada principalmente por:
!
Tratos culturais no período não-produtivo (rebaixo manual, preparação para
a colheita, adubação)
!
Operações do período produtivo (adubação, colheita, transporte até a
indústria).
!
Controle da emergência de amarelecimento fatal.
Os custos, por outro lado, estão relacionados:
!
Às operações de viveiro, pré-viveiro, preparo da área de cultura, coroamento
de covas, nos períodos de implantação e não-produtivo;
!
à colheita, no período produtivo;
!
ao preço das sementes, no período de implantação;
122
ao preço de fertilizantes formulados, cloreto de potássio e fosfato, nos
períodos não-produtivos e produtivos.
!
Às operações (relativas ao processamento), de esterilização, de extração de
óleo e torta de palmiste, de prensagem e clarificação.
!
A maioria das operações acima são dependentes da mão-de-obra
utilizada na cultura. Esse é o caso, por exemplo, do rebaixo manual,
coroamento de covas e das operações de processamento. Por outro lado, há
limitações que tem solução tecnológica, como é o caso da adubação (por meio
de tecnologias poupa-insumo ou de ferramentas de agricultura de precisão),
da colheita (pela obtenção de plantas de menor porte, que facilitem a colheita)
e do transporte até a indústria, que poderia ter seu impacto minimizado se
conseguissem variedades com maior prazo para acidificação dos frutos. A
produtividade, em si, também é afetada pelas variedades utilizadas: observase, pelos resultados encontrados em relação à produtividade, que essa está
ainda aquém do encontrado mundialmente (4 a 6 toneladas de óleo por
hectare), indicando que ainda há espaços para melhoria, também no que se
relaciona à obtenção de cultivares mais produtivas, e, de preferência, com
menor tempo de maturidade.
Finalmente, no que se refere à qualidade dos produtos (óleos e tortas),
esses apresentam boa qualidade, inclusive em comparação com padrões
internacionais. As operações que têm maior impacto sobre a qualidade desses
produtos são as seguintes:
!
No sistema agrícola: colheita e transporte. A primeira, porque deve ser
realizada no momento adequado; os frutos não devem estar verdes nem
podem ser considerados sobremaduros; a segunda, porque os frutos se
acidificam rapidamente, após a colheita;
!
No processamento industrial : esterilização, clarificação, prensagem, e as
operações de trituração, laminação, cozimento e prensagem (palmisteria).
Essas operações garantem um produto mais livre de impurezas e com
menores teores de umidade e acidez, como demanda o mercado
123
45000
40000
40000
35000
35000
30000
30000
25000
25000
US$/ha
US$/ha
20000
20000
15000
15000
10000
10000
5000
5000
0
0
N-2 N-1 1
2
3
4
5
6
7
8
9
N-2 N-1 1
10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23
-5000
-5000
-10000
-10000
2
3
4
5
6
7
8
9
Anos
Anos
Custo
acumulado
Receita
acumulada
EMPRESA I
10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23
Receitadespesa
Custo
acumulado
Receita
acumulada
Receitadespesa
EMPRESA II
Figura 46: Desempenho econômico da cultura do dendê, para duas empresas, em termos de receitas e despesas
acumuladas.
Fonte: Agrianual, 1999, 2000; informações fornecidas pelas empresas.
124
4.4 COMERCIALIZAÇÃO
O óleo de dendê, entre os óleos vegetais, é o segundo mais produzido no
mundo, perdendo apenas para a soja. Tanto a sua produção como o consumo
tem crescido rapidamente. Segundo os especialistas do setor, estima-se que
até 2015 ele supere a soja como óleo vegetal comestível de maior utilização no
mundo.
O aumento da participação do óleo de palma no mercado mundial se
deve principalmente a sua ampla e crescente oferta, a grande versatilidade
apresentada por este óleo, à tendência crescente a substituir óleos e gorduras
animais por produtos de origem vegetal e à suas qualidade e características
benéficas para a saúde humana.
Por outro lado, devem ser destacadas também a sua excepcional
produtividade e rentabilidade. A produtividade chega a alcançar 4-6 toneladas
por hectare e segundo estimativas do setor, o custo de produção de óleo de
palma situa-se na faixa de US$ 250 a US$ 300 por tonelada, enquanto que o
preço médio do mercado mundial, em anos recentes, tem se situado em US$
450 (Agrianual, 2000).
No Brasil, o óleo de palma tem encontrado um amplo mercado nas
indústrias de margarinas, gorduras especiais, saboarias, siderurgia, rações e
na emergente indústria dos óleos químicos. Apresenta ainda grande potencial
para substituir o óleo diesel, por sua semelhança física e química com aquele
óleo.
A produção brasileira em 1999 foi de cerca de 95.000 toneladas de óleo
de palma. O consumo estimado é de aproximadamente 150.000 toneladas de
óleo de palma e derivados, sendo o País importador líquido desses produtos.
Tais importações podem vir a ser substituídas caso haja aumento da oferta da
produção nacional da palma e seus derivados.
A Tabela 29 apresenta as principais destinações (região, País e
exportações) do óleo de palma e seus derivados produzidos e comercializados
pelas quatro empresas entrevistadas, em 1999. Nessa Tabela estão
relacionados os principais compradores desses produtos nos destinos
considerados.
125
Tabela 29
Destino dos produtos da palma africana, por tipo de produto, empresas selecionadas, 1999.
EMPRESA
ÓLEO DE
PALMA
ÓLEO DE
PALMISTE
TORTA DE
PALMISTE
OLEÍNA
ESTEARINA
ÓLEO RBD
AGROPALMA
Região
CRA (PA)
CRA (PA)
-
Pepsi, Quaker,
Yushiro
Medeiros
Sadia, Pepsi, Kolinos
No País
-
Colgate, Palmolive,
Sadia, Harold
Chocolates
GECOSA-PE
-
-
-
CARE-Alemanha
CARE-Alemanha
-
CARE-Alemanha
CARE-Alemanha
CARE-Alemanha
No Exterior
DENPASA
Na Região
No País
Pequenas Indústrias
engarrafadoras
-
Pequenos granjeiros
e indústrias de ração
CRA
Amparo
GECOSA
MAEDA
CRA
Pequenos Moinhos
Gessy Lever
RECOU
Santista
No Exterior
NIDERA (Holanda)
SOFIC-ALCAN
SOGESCOL
(Bélgica)
PALMASA
Na Região
CRA
CRA
GECOSA
CAIAUÉ
Na Região
No País
Pequenas Indústrias
Engarrafadoras
CRA
Pequenas Indústrias
de Rações
MAEDA & SP
Fonte: Informações fornecidas pelas empresas
126
Os maiores compradores do óleo de palma e seus derivados são
indústrias das regiões Norte, Sudeste e Sul do País. A torta de palmiste é
destinada principalmente para o Nordeste e para a própria região, para uso
como ração animal. Observa-se também a presença da Companhia Refinadora
da Amazônia (CRA) como um grande comprador do óleo produzido pelas
demais empresas, no país.
A Tabela 30 apresenta uma comparação entre os mercados interno e
externo, em relação à comercialização do óleo de dendê. Por essa
comparação, percebe-se uma superioridade do mercado externo, em
comparação com o interno, em relação às variáveis consideradas. A
preferência para comercialização, no entanto, é claramente pelo mercado
interno. Um dos entrevistados explicou essa preferência como uma estratégia,
adotada pelas empresas, e relacionada com:
• Capacidade de produção, já que para a exportação são necessários
no mínimo 4000 T (correspondente à capacidade de um navio);
• Regularidade de oferta para o mercado interno vis-a-vis o mercado
externo: o primeiro já tem uma tradição de compra de óleo de palma,
em maiores quantidades que o segundo; assim, as empresas
preferem perder certas vantagens, oferecidas por um incerto
mercado externo, a quebrar o compromisso com o mercado interno.
A comercialização do dendê, para o mercado interno, é realizada por
venda direta às indústrias de alimentos, sabões, lubrificantes e rações. No
caso de mercado externo, forma-se um pool de empresas, capitaneadas pela
Agropalma, as quais vendem o óleo para brokers estrangeiros que compram
em grandes quantidades e o revendem em quantidades menores. As
exportações são feitas para Alemanha, Holanda, Reino Unido. No passado,
dois grandes compradores eram México e Venezuela. Segundo um dos
entrevistados, esses compradores são hoje atendidos por outros produtores de
óleo de palma.
O pool de empresas para comercialização no mercado externo é hoje
formado apenas pelas empresas Agropalma e Denpasa. No passado, outras
empresas participaram desse pool, mas não conseguiram manter regularidade
na entrega do óleo de modo a garantir sua participação continuada, segundo
um dos entrevistados.
A análise que se segue utiliza os dados fornecidos pelas quatro empresas
como representativos do agronegócio do dendê na Amazônia. Assim, o óleo
comercializado aos compradores indicados na Tabela anterior corresponde a
um total de 94234 toneladas (aí incluídos os diferentes tipos de óleo). 89%
desse total é destinado ao mercado interno (na própria região ou no país).
Apenas 11 % dos óleos foi exportado, em 1999. Toda a torta de palmiste
produzida foi consumida no mercado interno (5262 toneladas).
O tipo de óleo mais comercializado corresponde ainda ao óleo de palma
bruto (68% do total de óleos vendido), seguido pelos óleos de palma RBD
(15%), pelo óleo de palmiste (11%), oleína (5%) e estearina (2%). Isso significa
127
que a cadeia está orientada para a produção de óleo como commodity, e não
como produto de valor agregado.
Tabela 30
Comparação entre os mercados, interno e externo. na comercialização de
óleo de palma e derivados, 1999
Variável de comparação
Mercado interno
Total comercializado em 99
(toneladas)
Tipo de óleo comercializado
83869
10365
Óleo de palma (85% do
total comercializado nesse
mercado), óleo de
palmiste, torta de
palmiste, oleína,
estearina, óleo RBD
Agropalma, DENPASA e
todas as demais
Rodoviário
373 (média simples)
458 (média deflacionada)
Óleo de palma (90% do
total comercializado nesse
mercado),óleo de palmiste,
oleína, estearina, óleo RBD
ICMS (12% - 17%)
PIS e COFINS (3,65%)
Não existem
Não existem
Distância dos centros
consumidores, condições
das rodovias,
pontualidade da entrega
CRA, Colgate, Palmolive,
Sadia, Harold Chocolates,
Maeda, Gessy Lever,
Santista, Pepsi, Quaker,
Yushiro, Medeiros,
Kolinos, Pequenas
Indústrias
Não existem
Alto custo dos fretes e
condições portuárias
Empresas comercializando
no mercado
Tipo de transporte utilizado
Preço médio FOB por
tonelada de óleo de palma
(em US$) (1990-1999)
Tributos
Perdas por transporte
Problemas relatados na
comercialização
Compradores
Mercado externo
Agropalma, Denpasa
Marítimo
484 (média simples)
Care (Alemanha), Nidera,
Sofic-Alcan, Sogescol
* A esse custo deve ser adicionado o custo de transporte (rodoviário ou fluvial), entre as
empresas e o terminal de Belém, no caso do Pará.
4.4.1 Exportação
A Figura 47 apresenta as quantidades (em toneladas) de cada tipo de
óleo vendidas no exterior, por empresa, em 1999.
Observa-se que, de um total de 64,3 mil toneladas de óleo de palma
comercializado em 1999, apenas 10 mil foram destinados à exportação. Com
relação aos demais derivados da palma, são irrisórias as suas exportações.
Apenas as empresas do Grupo AGROPALMA e a DENPASA efetuavam
exportações, até o ano 2000.
128
O óleo de palma integral é uma commodity, cuja comercialização é feita
em grandes quantidades. Em geral, os produtos são embarcados em naviostanque para Roterdã, na Holanda, e de lá distribuídos para os demais países
da Europa. O preço do transporte relatado foi de R$ 83,00 por tonelada.
Foi mencionado por um dos entrevistados que um dos principais
problemas enfrentados na comercialização externa é o custo dos fretes e a
deficiência nas instalações portuárias de embarque. As perdas decorrentes de
transportes e as alterações na qualidade da matéria-prima foram consideradas
mínimas pelos entrevistados.
Não há existência de tributos incidentes sobre os produtos exportados.
8000
AGROPALMA
DENPASA
7000
6000
Toneladas
5000
4000
3000
2000
1000
0
Óleo de palma
Óleo de palmiste
Oleína
Tipo de óleo
Estearina
Óleo RBD
Figura 47: Comercialização de óleos derivados da palma (em toneladas), no exterior, empresas
selecionadas
4.4.2 Comercialização no País (Exceto região Norte)
Razoável parte da produção nacional de óleo de palma e seus derivados
é comercializada no mercado interno. Dos dois produtos mais comercializados,
o óleo de palma e o óleo de palmiste, as outras regiões do Brasil compram
28% do primeiro e 55% do segundo (Figura 48). A venda do óleo de palma
integral no mercado interno é realizada o ano inteiro, geralmente com preço
FOB Agroindústria do Pará, 30 dias para pagamento.
O transporte utilizado é o rodoviário, com custo variando de R$ 157,00/t
para Pernambuco, R$ 231,00/t para o Rio de Janeiro e R$ 212,00/t para São
Paulo.
Os principais problemas na comercialização mencionados pelos
entrevistados foram: distância dos centros consumidores, condições das
129
rodovias e pontualidade de entrega. Para o caso da torta de palmiste,
comercializada no Nordeste, o principal problema mencionado foi a existência
de poucos compradores de porte. Foi mencionado ainda pelos entrevistados
que tanto a perda de transporte quanto a alteração nos produtos devido ao
transporte são mínimas.
16000
14000
AG R O PALM A
DENPASA
12000
PALM ASA
C A IA U É
Toneladas
10000
8000
6000
4000
2000
0
Ó le o d e P a lm a
Ó le o d e p a lm is t e
O le í n a
E s t e a r in a
P r o d u to s c o m e r c ia liz a d o s
Ó le o R B D
T o r t a d e p a lm is t e
F ig u ra 4 8 : C o m e rc ia liz a ç ã o d e p ro d u t o s d e riv a d o s d a p a lm a (e m t o n e la d a s ) , n o p a ís ( e x c e to R e g iã o N o rt e ),
e m p re s a s s e le c io n a d a s , 1 9 9 9
4.4.3 Comercialização na Região Norte
A Figura 49 apresenta a quantidade de produtos derivados da palma
comercializados na região Norte, pelas empresas entrevistadas, em 1999.
A região Norte absorve cerca de 57% do óleo de palma e 46% do óleo de
palmiste produzido por suas empresas. Isto é, a produção de óleos brutos
dessas empresas é comercializada, em sua maior parte, na própria região.
Produtos de refino e fracionamento não são destinados, por outro lado, à
Amazônia. O maior volume de aquisição do óleo de palma bruto é feito pela
CRA – Companhia de Refinação da Amazônia, pertencente ao Grupo
AGROPALMA.
O transporte do óleo bruto das empresas pertencentes ao Grupo
Agropalma, é feito em balsas pelo Rio Moju até o terminal em Belém, onde é
processado. Outras empresas, como a PALMASA, efetuam o transporte do
óleo por meio rodoviário.
130
35000
30000
AGROPALMA
25000
DENPASA
Toneladas
PALMASA
20000
CAIAUÉ
15000
10000
5000
0
Óleo de palma
Óleo de palmiste
Torta de palm iste
Produtos comercializados
Figura 49: Comercialização de produtos derivados da palma (em toneladas), na região
Norte, empresas selecionadas, 1999.
4.4.4 Determinação do Preço do óleo
Vários fatores têm relevância, na determinação do preço do óleo. Em
princípio, os preços são regulados pelos mercados internacionais e variam
segundo alguns fatores, como previsões de safras e entressafras de palma e
alterações climáticas.
Além desses fatores, comuns ao processo de determinação de preços em
qualquer cadeia produtiva, outros fatores, específicos para o dendê e para o
Brasil devem ser considerados. Um desses fatores é a qualidade do óleo
ofertado: óleos com acidez e umidade superiores aos padrões definidos pelo
mercado sofrem uma redução de seu preço de comercialização.
A oferta mundial de outros óleos e gorduras também afeta o preço do
óleo de palma. Como exemplo, a oferta mundial de farelo de soja, que tem
como subproduto o óleo de soja, tem um impacto sobre o preço do óleo de
palma. Quanto maior essa oferta, menor o preço alcançado pelo óleo de palma.
Na composição do preço (no país) incidem os seguintes tributos: 12% de
ICMS e 3,65% de PIS e COFINS. Sobre os preços do óleo de palma e de
palmiste incidem 17% de ICMS e 3,65% de PIS/COFINS, quando a
comercialização é feita dentro do Estado do Pará. Sobre a torta de palmiste, há
131
incidência de 3,65% de PIS/COFINS. O ICMS de 17% incidente sobre a
comercialização de óleo de palma, na região Norte, foi mencionado como um
dos fatores limitantes para a expansão da palma, por um dos entrevistados.
Um dos fatores que contribuía, até pouco tempo atrás, para a fragilidade
das empresas, no momento de negociação do preço, era o fato de que não
havia uma refinaria na região Norte. A criação da CRA, segundo alguns dos
representantes das empresas que comercializam óleo para esse comprador,
serviu como um fator facilitador da negociação de preços.
4.5 MERCADO CONSUMIDOR
4.5.1 Usos dos óleos brutos e processados da palma
A combinação de produtos derivados do processo produtivo primário, do
refino e do fracionamento dá origem a inúmeros subprodutos, que se
constituem em insumos para a indústria alimentícia. A Tabela 31 apresenta os
principais usos dos vários produtos da palma africana.
A maior parte do óleo de palma (bruto ou processado) – cerca de 90% destina-se à indústria alimentícia (Ahmad, 1995). Os 10% restantes tem
aplicação em outras indústrias, onde se agrega valor aos óleos originais, por
meio de novos processamentos. As aplicações nessas últimas indústrias
constituem, portanto, uma oportunidade para diversificação industrial.
Os usos para essas outras indústrias são os seguintes:
a) Substituto do óleo diesel: o óleo de palma bruto pode ser usado diretamente
como combustível para automóveis com motores modificados (motores
Elsbett) (Menezes, 1995; Ahmad, 1995). É um óleo menos poluidor,
econômico e mais seguro que o diesel. Os custos envolvidos na
substituição ainda são os limitantes para que essa alternativa seja tentada
em larga escala.
b) Lama de perfuração: também em substituição ao diesel, é menos tóxico e
mais adequado que aquele, com maior estabilidade de emulsão e melhores
propriedades reológicas.
c) Sabões: a oleína de palma e a estearina de palmiste obtidas por
fracionamento, subprodutos mais baratos do processamento, podem ser
utilizadas para o fabrico de sabões. Embora os sabões assim obtidos
tenham propriedades de limpeza, solubilidade e formação de espuma
adequadas, e embora o consumo de sabões esteja crescendo a uma taxa
de 2.2% ao ano, a côr do sabão obtido ainda é um limitante.
d) Óleo de palma e produtos do óleo de palma epoxidados (EPOP): são
usados na fabricação de plástico e como estabilizadores para plásticos,
especialmente PVC. Tradicionalmente, o óleo de soja é utilizado com esta
finalidade.
132
Tabela 31
Processos dos óleos de palma, respectivos produtos e usos.
Insumo
Cachos de frutos
frescos
Processo
Extração primária
Produto
•
•
•
•
Óleo de palma bruto
Refino
Refino e
fracionamento
Cisão
Estearina RBD
Cisão
Óleo de palmiste
Refino e
fracionamento
Oleína (de óleo de
palmiste)
Hidrogenação
Óleo de palma
bruto
Óleo de palmiste
bruto
Torta de palmiste
Resíduos
Usos
•
•
Sabões
Insumo para
outros produtos
Ração animal
• Adubação
orgânica
• Combustível
Óleo de palma RBD
• Margarinas
• “Shortenings”
• Gordura para
sorvetes
• Oleína RBD
• Gorduras para
frituras
• Estearina RBD
• “Shortenings”
• Margarinas
• Sabões
• Ácidos graxos
• Álcoois, aminas e
amidos
• Glicerol
• Emulsificantes,
Umectantes,
explosivos
• Ácidos graxos
• Sabões
• Emulsificantes
para alimentos
• Oleína refinada
• Margarinas
• Estearina refinada • Gorduras
especiais
• Insumo para
outros produtos
• Oleína
• Produtos de
hidrogenada
confeitaria
• Gorduras de
cobertura
Fonte: MPOPC, 2000
e) Indústria oleoquímica: o óleo de palma, hidrolizado, dá origem a químicos
(álcoois e gliceróis graxos), que podem ser utilizados em produtos de
confeitaria, indústria de perfumes e cosméticos, fabrico de velas,
processamento da borracha, sabões, emulsificantes,etc.
O óleo de palma produzido na Amazônia tem se destinado, em sua maior
parte, à indústria alimentícia. Em segundo lugar como destino aparece a
indústria de sabões. No entanto esse último mercado, segundo um dos
entrevistados, foi perdido, recentemente, para a cadeia de sebo bovino.
No que se refere aos usos na alimentação humana, os produtos da palma
africana se caracterizam por serem, em termos de custo, altamente acessíveis
133
para todas as camadas da população. Desse modo, o atributo “preço” não
afeta a demanda, para o consumidor desses produtos, seja sob a forma de
margarinas ou gorduras de várias naturezas e usos. Na próxima seção,
analisa-se a questão da qualidade nutricional desses produtos, e sua relação
com os consumidores finais.
4.5.2 Indústria alimentícia: qualidades do óleo e demandas dos
consumidores
Os vários óleos derivados da palma enquadram-se na categoria de
gorduras, e como tal, podem ter suas qualidades técnicas e nutricionais
analisadas. No que se refere às funções técnicas, pode-se mencionar (Berger
(1992)) que a gordura:
!
Age como um condutor de calor, nas frituras; além disso, suas interações
com o alimento resulta na côr e sabor característicos dessa técnica
culinária;
!
Em produtos assados, a gordura se incorpora (por exemplo, ao pão) e
aumenta sua vida-de-prateleira;
!
Na produção de bolos, a gordura permite a incorporação de finas bolhas de
ar, resultando na estrutura delicada desses;
!
Na pastelaria, a gordura previne o endurecimento de proteínas do trigo e o
escape de vapor para o forno;
!
Em produtos de confeitaria (por exemplo, chocolates), a gordura é
responsável pela textura e baixo ponto de fusão;
!
A gordura é importante também para conferir às margarinas sua capacidade
de espalhar-se por outras superfícies.
Do ponto de vista de saúde e nutrição, o óleo de palma apresenta
também inúmeras vantagens.
A elevada concentração de carotenóides (principalmente α-carotenos e βcarotenos) encontrada no óleo de palma bruto é uma dessas vantagens. Na
variedade Tenera a concentração encontrada é de cerca de 500-700 ppm
(May, 1995, citando Goh et al., 1985). Por isso, é considerada a fonte natural
mais rica em pró-vitamina A .
Uma dificuldade para utilização dessa característica em forma mais
extensa, na indústria alimentícia, é o fato de que, se por um lado o óleo de
palma bruto (o popular azeite de dendê) é utilizado em pequena escala, na
culinária étnica – e considerado, pelo consumidor, como inadequado para
outros usos, devido ao seu alto teor de ácidos graxos livres - por outra parte o
processo de refino elimina os carotenos do óleo RBD. No entanto, May (1995)
descreve um processo de desacidificação e desodorização do óleo de palma
bruto que permite a retenção dos carotenóides, no óleo resultante .
O óleo de palma bruto é também fonte de vitamina E, uma gordura solúvel
que tem a propriedade de, primeiro, proteger os alimentos de processos de
oxidação e, segundo, como um anti-oxidante e redutor de radicais livres,
134
reduzir os riscos de doenças degenerativas, tais como as cardiovasculares,
câncer, catarata e diabetes.
O óleo RDB contém ainda cerca de 560 ppm de vitamina E, isto é, cerca
de 70 % do teor encontrado no óleo de palma bruto (Top, 1995).
Uma propriedade interessante do óleo de palma, do ponto de vista da
saúde humana, é que, por ser um produto saturado, sua transformação em
margarinas e shortenings não requer hidrogenação (embora essa seja
necessária, como já mencionado, para a produção de produtos de confeitaria e
gorduras de cobertura). Ao lado do óleo de côco, os óleos da palma africana
são os únicos, entre os óleos vegetais, que não requerem hidrogenação.
A hidrogenação é indesejável porque tem, como subprodutos, ácidos
graxos saturados e isômeros trans. Existe atualmente evidência científica
relacionando esses últimos elementos com o aumento de colesterol “mau”
(colesterol LDL) e, por outro lado, com a redução do colesterol “bom”
(colesterol HDL), aumentando assim o risco de doenças cardíacas. (MPOPC,
2000, HP).
Rocca (1996) e Menezes (1995) mencionam ainda, como vantagens do
óleo de palma:
! É extraído por processo físico, sem necessidade de adição de agentes
químicos;
! Não possui colesterol, encontrado em gorduras de origem animal;
! O balanço de ácidos graxos não saturados e saturados, na composição
do óleo de palma – 40% de ácido oleíco, 44% ácido palmítico e 5% de ácido
esteárico – é semelhante ao encontrado nos tecidos humanos;
! O óleo de palma parece ter um efeito anti-trombótico, reduzindo os
riscos de acidentes vasculares.
Essas propriedades são altamente desejáveis, em primeiro lugar, do
ponto de vista dos benefícios nutricionais implícitos, para o consumidor de
dendê. Deficiências nutricionais e doenças relacionadas com a pobreza urbana
(Pinazza e Araújo, 1993) podem ter seus efeitos reduzidos por meio de
produtos como o óleo de palma. Produtos como a margarina, tendo em sua
composição os ácidos graxos do óleo de palma, podem aumentar a segurança
alimentar das camadas mais carentes da população. Essa é também a opinião
da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), que defende seu uso
como fonte de calorias para as populações de baixa renda da América Latina e
África (Natali, 1996).
Do ponto de vista de mercado, essas propriedades também são
interessantes, considerando a mudança atualmente em curso, entre os
consumidores, de modo geral, para demandar produtos alimentícios com
atributos especiais. A Tabela 32 apresenta algumas dessas novas
necessidades, bem como as características demográficas de consumidores
que estão mais provavelmente associados a elas.
135
As novas demandas identificadas por Archambeaud e seus colaboradores
são atendidas plenamente pelos derivados da palma africana. Assim, também
do ponto de vista da demanda dos consumidores finais, pode-se afirmar que os
óleos da palma apresentam atratividade.
A grande limitação, do ponto de vista do consumidor final, é o seu
desconhecimento sobre o óleo de palma. Quando se fala em dendê, no Brasil,
faz-se imediatamente uma associação com a muqueca e o indispensável azeite
de dendê, tradicionais na culinária baiana. Esse uso do óleo de palma bruto, no
entanto é extremamente restrito – corresponde a apenas 6% do total – sendo
inúmeras, por outro lado, as alternativas de uso de subprodutos da palma
africana.
Apesar de começar a consumir óleo de dendê ao tomar o seu café da
manhã, o brasileiro não sabe que o está consumindo. O desconhecimento, da
população brasileira, dos vários usos possíveis para o óleo de palma, e das
suas vantagens, para a saúde e nutrição, faz com que a oportunidade
representada pela coerência entre as propriedades nutricionais e técnicas do
óleo e as novas demandas do consumidor seja desperdiçada.
O componente de consumidores finais, dessa forma, se encontra
totalmente alienado e distante da questão do consumo de dendê, e não tem
voz, por essa razão, na escolha de produtos industrializados que tenham essa
matéria-prima em sua composição. Essa situação é bastante diferente à da
indústria de óleo de milho, por exemplo, que hoje tem seu segmento fiel de
consumidores finais, graças às alardeadas propriedades desse óleo, em
comparação com os demais disponíveis no mercado.
Tabela 32
Novas necessidades em relação a produtos agro-alimentares e
características de consumidores finais (adaptado de Archambeaud et al.,
1991)
NECESSIDADES
SEGMENTOS DE CONSUMIDORES
FINAIS
Produtos gerados por tecnologias
“limpas”, que resultem em menos
resíduos ou agressões ao meioambiente.
Adultos com residência em grandes
centros urbanos, com alto nível de
educação formal
Produtos com maior durabilidade
Adultos com residência em centros
urbanos e que trabalham fora de casa
Produtos com menos risco para a
saúde
Adultos mais velhos, com maior
educação formal
Produtos que demandam menor tempo
de preparação
Donas de casa que trabalham fora
136
4.6 AMBIENTES ORGANIZACIONAL E INSTITUCIONAL
O ambiente institucional da cadeia produtiva do dendê é composto pelo
conjunto de leis e normas que afetam o desempenho dos componentes da
cadeia. Entre o conjunto de normas e leis destacam-se a legislação ambiental,
tributação, taxas, importação e exportações, etc. Essas leis e normas podem
facilitar ou restringir as transações e o modo de funcionamento da cadeia
produtiva.
O ambiente organizacional, por sua vez, é constituído pelo conjunto de
organizações públicas e privadas, que oferecem apoio, serviços e informações
às organizações componentes da cadeia produtiva. Nesse sentido, merecem
destaque a estrutura de pesquisa e assistência técnica e a de crédito agrícola.
No que concerne à pesquisa agrícola, ela é crucial para o futuro da
atividade e para manter e mesmo aumentar a competitividade e a
sustentabilidade da cadeia produtiva.
A obtenção de materiais genéticos mais produtivos e tolerantes à doenças
que atacam a cultura e melhores técnicas de manejo, somente serão
viabilizados com aportes tecnológicos e gerenciais. Isto só será possível com a
expansão das atividades de pesquisa e assistência técnica gerando, adaptando
e difundindo tecnologias de produção em sintonia com as demandas dos
segmentos do setor produtivo.
A pesquisa pública com dendê no Brasil adquiriu maior importância a
partir da criação do Programa Nacional de Pesquisa de Dendê, pela Embrapa,
em 1980, tendo como justificativa principal a formação de uma competência
tecnológica para apoiar o desenvolvimento da cultura no País. Na época o País
era totalmente dependente do exterior para a aquisição de sementes e
orientações técnicas para a cultura.
A estratégia brasileira foi buscar parceria com o então IRHO (atual
CIRAD), instituição francesa dedicada à pesquisa de óleos e oleaginosas.
Mediante acordo de cooperação técnicas com aquela instituição, a Embrapa
teve acesso a mais de 40 anos de experiência com a cultura, a todo material
genético em avançado estágio de melhoramento e assessoramento para
formação de equipe técnica para iniciar as pesquisas no Brasil (Barcelos,
1996).
Em 1982, foi criada pela Embrapa a Estação Experimental de Dendê do
Rio Urubu, no Distrito Agropecuário da SUFRAMA, em Manaus, AM, vinculada
ao Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Ocidental (CPAA), com os
objetivos principais de adaptar e gerar tecnologias e produzir sementes de alta
qualidade.
Além da programação de pesquisa conduzida pelo CPPA, em Manaus, a
Embrapa tem também o Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia
137
Oriental (CPATU), com sede em Belém-PA, executando atividades de pesquisa
em apoio ao desenvolvimento da cultura do dendê.
Os principais temas e demandas de pesquisa na opinião dos técnicos
entrevistados, de interesse de todos os segmentos do sistema produtivo, são:
•
Identificação do agente causal e controle do Amarelecimento
Fatal, doença que tem causado grandes prejuízos econômicos aos países
produtores dessa oleaginosa, inclusive o Brasil;
•
Melhoramento genético;
•
Controle de pragas e doenças;
•
Pesquisa em processamento do óleo;
•
Nutrição mineral;
•
Densidade de plantio, etc.
Alguns desses temas são objeto dos seis projetos de pesquisa, da
Embrapa, atualmente em andamento, sobre a cultura do dendê.
Apesar do esforço da Embrapa em atender as necessidades da pesquisa
sobre dendê, o número de técnicos atualmente disponíveis e atuando
diretamente com a cultura é bastante reduzido (quatro pesquisadores, para
toda a Amazônia).
Para responder de modo adequado às demandas
tecnológicas, esse quadro terá necessariamente de ser aumentado.
Para suprir parte de suas necessidades tecnológicas, três das empresas
visitadas mencionaram realizar investimentos anuais em pesquisa, na
execução de experimentos de interesse específico.
Com essa finalidade, as empresas mantêm em seus quadros técnicos
especializados (Tabela 33), incumbidos de prestar assistência técnica em todas
as fases da cultura, visando manter o plantio em boas condições de
produtividade.
Tabela 33
Número de técnicos de dendê vinculados a algumas empresas
Número de Técnicos
Empresa
Engenheiros
Técnico Agrícola
AGROPALMA
10
30
DENPASA
4
8
PALMASA
1
1
CAIAUÉ
TOTAL
15
39
Fonte: Dados fornecidos pelas próprias empresas.
Há convergência de opinião entre os técnicos entrevistados de que
melhores técnicas de manejo da cultura, controle das pragas e doenças e
aumento da produtividade do dendê só serão possíveis mediante aportes
tecnológicos e gerenciais.
138
No que concerne a assistência técnica, os órgãos públicos ligados ao
setor agrícola da região Norte, em geral, não se encontram capacitados para
apoiar a expansão da cultura na região. Por essa razão, e, em face às
peculiaridades da cultura, essa tarefa fica a cargo das próprias empresas
produtoras.
No que concerne aos aspectos ambientais há um consenso hoje no País
de que quando se trata de ocupação da Amazônia, o critério ambiental é de
alta relevância. A cultura se adapta muito bem ao solo e clima da região,
obtendo excelentes índices de produtividade, gerando emprego e renda na
região.
Adicionalmente, a agroindústria do dendê tem a particularidade de
aproveitar integralmente os efluentes sólidos e líquidos, resultantes do
processamento dos cachos de frutos frescos. Estes efluentes são utilizados na
adubação orgânica, melhorando a produtividade agrícola e proporcionando
melhorias à estrutura do solo.
Por outro lado, as estimativas indicam que existem atualmente 40 milhões
de hectares desmatados na região amazônica, sendo que uma grande parte foi
abandonada após um breve período de exploração. Estas áreas hoje
encontram-se degradadas, sem nenhuma atividade econômica. O cultivo do
dendê apresenta-se como uma das culturas mais indicadas para recuperação
dessas áreas, nas regiões com clima apropriado para o plantio.
A legislação ambiental vigente regulamenta a ocupação de terras para
fins de exploração agrícola e estabelece as reservas legais, isto é, a área de
floresta da propriedade rural que não pode ser desmatada, podendo ser usada
apenas sob regime de manejo florestal sustentável.
Atualmente, está em vigor a Medida Provisória 1956-50, editada em 26
de maio de 2000, alterando a Lei n.º 4771, de 15 de setembro de 1965, que
institui o Código Florestal. Tal Medida Provisória estabelece que as florestas e
outras formas de vegetação nativa, ressalvadas as situadas em áreas de
preservação permanente, assim como aquelas não sujeitas ao regime de
utilização limitada ou objeto de legislação específica, são suscetíveis de
supressão, desde que sejam mantidas, a título de reserva legal, no mínimo
80%, na propriedade rural situada em área de floresta localizada na Amazônia
Legal.
Isto significa dizer que para a implantação de um empreendimento de
5.000 hectares de dendê, seriam necessários 25.000 ha de área de mata
(80%), com condições climáticas e edáficas para o estabelecimento da cultura.
Essa Medida também estabelece que, na propriedade rural situada em
área de cerrado localizada na Amazônia Legal, a área de reserva legal deve
ser no mínimo de 35%, sendo no mínimo 20% na propriedade e 15% na forma
de compensação em outra área, desde que localizada na mesma microbacia.
139
Outra definição importante refere-se ao artigo 44, estabelecendo que o
proprietário ou possuidor de imóvel rural com área de floresta nativa, natural,
primitiva ou regenerada, ou outra forma de vegetação nativa, em extensão
inferior ao estabelecido na Medida Provisória, deve adotar as seguintes
alternativas, isoladas ou conjuntamente:
!
Recompor a reserva legal de sua propriedade mediante o plantio,
a cada três anos, de no mínimo 1/10 da área total necessária à sua
complementação, com espécies nativas, de acordo com critérios
estabelecidos pelo órgão ambiental estadual competente;
!
Conduzir a regeneração natural da reserva legal; e
!
Compensar a reserva legal por outra área equivalente em
importância ecológica e extensão, desde que pertença ao mesmo
ecossistema e esteja localizada na mesma microbacia, conforme critérios
estabelecidos em regulamento.
O disposto na lei ambiental causa grande impacto no desempenho da
cadeia produtiva de dendê no País. Restringe sobremaneira a expansão da
cultura, que exige amplas áreas para seu cultivo. A maior dificuldade está,
segundo um dos entrevistados, em encontrar áreas contínuas de tamanho
suficiente (no caso, no Estado do Pará) para possibilitar a implantação de
plantio de dendê acrescidos da reserva legal exigida em lei.
Desse modo, é de grande relevância a realização de zoneamento
agroclimático e ecológico, identificando as áreas alteradas ou de florestas
potencialmente adequadas, ao cultivo da planta na região amazônica.
Um agravante para esse quadro é representado pelos sérios problemas
fundiários com os quais se deparam os estados da região Norte, com uma
legislação agrária complexa, convivendo com as áreas sem demarcação, falta
de titulação das terras, etc. Um panorama sobre a destinação das terras nos
estados integrantes da Amazônia Legal é apresentado na Tabela 34.
140
Tabela 34
Área Total (ha) e Destino das Terras nos Estados da Amazônia Legal (%)
UF
Área Total
Áreas Indígenas +
(Milhões ha)
Unidades de
Conservação (%)
Acre
Amazonas
Amapá
Terras da União,
Públicas,
Arrecadadas pelo
INCRA e outras (%)
Imóveis
Rurais
(%)
15,4
30,3
39,6
30,9
156,8
38,5
53,7
7,8
14,2
21,8
66,2
12,3
124,7
31,9
43,9
24,2
Rondônia
23,8
51,5
24,4
24,0
Roraima
22,5
71,4
17,8
10,6
Maranhão
25,9
nd
nd
nd
Mato Grosso
90,7
14,0
33,4
52,6
27,8
16,6
21,2
62,3
501,8
32,3
42,1
25,6
Pará
(1)
Tocantins
Total
(2)
Fontes: Sindicato Rural de Campo Grande. Informe Agropecuário n.º 172, Campo
Grande, MS, junho de 2000, IBAMA (1994): INCRA (1996); (1) Dados atualizados
pela equipe técnica do GESR/IDESP, Pará (1997); (2) Plano Diretor de
Desenvolvimento Integrado da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins –
JAICA, Relatório Final (1998).
Nd=Informação não disponível.
As informações da Tabela 34 indicam que 74,4% da superfície da região
são ocupados por terras indígenas, unidades de conservação (parques
nacionais, reservas biológicas, reservas extrativistas etc.), terras do Patrimônio
da União ou terras públicas em geral.
A área ocupada pelos imóveis rurais representa 25,6% da superfície da
região, sendo que 80% do total são reservas legais (20,48%) , isto é, áreas que
não podem ser desmatadas, mantidas por particulares. Os dois percentuais
somados, indicam que mais de 80% da região se encontram protegidos por
força de lei.
Os dados da Tabela 34 mostram ainda que as áreas ocupadas pelos
imóveis rurais da Amazônia Legal, com exceção dos Estados de Mato Grosso
e Tocantins, representam percentuais pouco significativos em relação aqueles
abrangidos pelas áreas protegidas e as terras públicas integrantes do
Patrimônio da União.
Na opinião de quase todos os entrevistados, a legislação ambiental
restritiva e a complexidade dos problemas fundiários, ao lado de outros
aspectos, figuram como fatores limitantes à competitividade da cadeia
produtiva do dendê na região Amazônica.
A questão ambiental poderia ser minimizada com a utilização de áreas
degradadas. Contudo, segundo um dos técnicos entrevistados, o problema é a
falta de contiguidade dessas áreas. Os milhões de hectares de áreas
degradadas não são contíguos, constituindo “buracos” dentro da floresta.
141
Afirma ainda o entrevistado que no Pará, a superfície média dessas áreas não
é superior a 600 ha, valor considerada muito pequeno em se tratando de
dendê.
No que concerne agora à disponibilidade de crédito, essa pode ser
analisada tanto sob a ótica do ambiente organizacional como do ambiente
institucional. No primeiro caso, se examina a adequação das instituições de
crédito e a disponibilidade de recursos para suporte à cultura. No aspecto
institucional, se analisa a adequação das normas de crédito, relativamente às
necessidades e peculiaridades da agroindústria de dendê.
Não existe no âmbito do governo federal ou dos governos estaduais da
região Norte, políticas de crédito, fiscal ou monetária que apoiem
especificamente o desenvolvimento do agronegócio do dendê. No entanto,
existem instrumentos de caráter geral destinados ao desenvolvimento do
agronegócio regional ou local e que também se aplicam ao plantio de dendê.
Entre estes, figuravam, até o ano 2000, os recursos oriundos da
Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), para
financiamento de projetos agroindustriais de interesse da região (Lei 8.167/91)..
Vale registrar que o plantio de dendê em escala comercial no Estado do
Pará deve-se à iniciativa da Superintendência do Plano de Valorização
Econômica da Amazônia (SUDAM), que em 1967, mediante convênio com o
Instituto de Pesquisas em Oleaginosas (IRHO), da, França, efetuou plantio de
1.500 ha em Benevides (PA), como parte de um projeto de 3.000 hectares
(PARÁ, 1997).
As fontes públicas são principalmente recursos alocados em fundos de
desenvolvimento regional, como o Fundo de Investimento da Amazônia
(FINAM), que são alocados ao BNDES e operados pelos bancos estatais
(Banco do Brasil, Banco da Amazônia S.A, e Banco do Pará). Nesse caso, os
bancos repassadores são responsáveis pela seleção e análise dos projetos,
assumindo também o risco do crédito. Essa norma induz o processo de
seleção a seguir critérios de mercado.
De acordo com Veiga et al. (2000), um dos programas de crédito mais
adequados à agroindústria de óleo de palma é o PROAGRIN, oferecido pelo
Banco da Amazônia, com recursos provenientes do Fundo Constitucional de
Financiamento do Norte – FNO. Esse programa financia aquisição de ativos
fixos, capital de giro ou investimento misto, nas condições de juro apresentadas
na Tabela 35. Os financiamentos tem um prazo máxima de dez anos, com
carência de até dois anos.
Tabela 35
Condições de juro do PROAGRIN (BASA), conforme o porte da Empresa
Porte da Empresa
Juros ao ano
Micro
Pequena
Média
Grande
9%
11%
15%
16%
142
De acordo ainda com Veiga et al (2000),. esta linha de financiamento
apresenta a grande vantagem de não incluir a incidência de correção monetária
sobre o financiamento. No entanto, suas desvantagens são:
!
juros (especialmente para médias e grandes empresas)
incompatíveis com a atividade produtiva, pois a agroindústria do óleo de
palma nem sempre apresenta taxas internas de retorno superiores a 12 %.
!
prazo de carência inadequado, já que a palma só inicia a
produção após três anos do plantio.
O BNDES apresenta uma linha de financiamento com prazos de duração
e carência mais flexíveis, mas com um nível de encargos financeiros variável.
Os encargos são calculados somando-se custo financeiro, spread básico e
spread do Agente.
O custo financeiro pode corresponder à taxa de juros de longo prazo
(TJLP), ou à variação da unidade monetária do BNDES – UMBNDES,
acrescida dos encargos da cesta de moedas.
O spread básico oscila entre 1% a 2,5% ao ano. O spread do Agente
pode chegar até 4% ao ano, mas pode ser negociado diretamente com a
instituição financeira credenciada.
Na análise da opção a ser escolhida devem-se levar em consideração as
características da atividade econômica em questão, como taxa interna de
retorno e capacidade de pagamento.
Os recursos provenientes do
financiamento podem cobrir até 100 % do montante total de inversões,
dependendo do caso.
Os incentivos fiscais de maior importância para o setor, de acordo com
Veiga et al. (2000), são aqueles gerados pelos mecanismos do FINAM. Os
recursos financeiros são originados por pessoas jurídicas que optam por aplicar
18% do seu imposto devido em investimentos na região amazônica, via FINAM.
Estes recursos podem ser aplicados em projetos previamente aprovados pela
Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia-SUDAM, ou aprovar
projetos próprios com esta finalidade.
Os recursos FINAM podem participar em até 50% do montante de
inversões totais necessárias para a implantação do empreendimento, havendo
portanto a necessidade de uma contrapartida de recursos próprios.
De maneira geral, na opinião de Veiga et al., as empresas de médio ou
grande porte são as mais adequadas a receberem estes recursos, devido às
exigências burocráticas envolvidas. Somente sociedades anônimas, as SA,
podem ser beneficiadas pelos recursos do FINAM.
As empresas beneficiadas estão aptas a requerer a isenção do imposto
de renda por um período de dez anos.
143
As empresas entrevistadas, em sua maioria, afirmaram que atualmente
não têm utilizado financiamentos bancários para expansão de suas atividades.
Segundo os entrevistados, as maiores limitações referentes ao crédito são os
prazos, períodos de carência e juros para financiamento, tanto das atividades
agrícolas como industriais, considerados inadequados para desenvolvimento
do agronegócio do dendê.
Desde a formação das mudas, até o início da produção, são necessários
5 anos de investimentos na parte agrícola, até a entrada em produção do
dendezal. Neste período, o produtor somente faz inversões sem obter receitas.
Nestas condições, a capacidade do pagamento de créditos é baixa,
inviabilizando os financiamentos bancários.
Como as normas dos financiamentos bancários existentes são restritivas
com relação aos prazos de carência e reembolsos, as expansões do cultivo de
dendê nos últimos anos, em geral, têm sido feitas com recursos dos próprios
produtores.
Para os segmentos de pequenos produtores do sistema produtivo, as
condições de financiamentos são ainda mais restritivas. Em geral, as normas
de crédito exigem documentação legal da terra e garantias reais para créditos
de investimento. Se a estas condições forem adicionadas aquelas referentes á
prazos, carência e juros, praticamente se inviabiliza a possibilidade de
utilização de linhas de créditos existentes para esse segmento do sistema
produtivo.
No entanto, durante as visitas efetuadas à Secretaria de Estado de
Agricultura do Pará (SAGRI) e ao Banco do Estado do Pará, foi dada a
informação que está em andamento um programa para plantio de dendê
dirigido ao segmento de pequenos produtores. Os objetivos, as metas e as
condições gerais de funcionamento do programa são as seguintes (Pará,
1998):
•
O objetivo geral do programa é apoiar a implantação da cultura do dendê a
nível de agricultura familiar, visando o aproveitamento de áreas degradadas,
promovendo a geração de emprego e renda no campo;
144
•
Um dos objetivos específicos é introduzir o modelo de parceria entre os
pequenos produtores e grandes empresários da agroindústria de dendê já
estabelecidos no Vale do Acará-Mojú e de Igarapé-Açu, no Nordeste
Paraense, que tenham interesse em terceirizar a parte agrícola do
processo;
•
A meta é expandir a área de produção de dendê em 5.000 ha num prazo de
3 anos, beneficiando 500 famílias (10 ha/família);
•
Serão financiados R$ 2.000,00/ha. Os agentes financeiros do programa são
o BASA, que utilizará recursos do FNO-Especial e o BANPARA, que aplicará
recursos do FDE – Fundo de Desenvolvimento Econômico do Estado.
•
a)
b)
c)
As condições do financiamento são as seguintes:
Plano de desembolso do financiamento: 6 anos
Fim de carência: ano N + 6
Plano de amortização do principal e dos juros: N+ 6 a N + 16 (11 anos),
uma parcela de 5% e 10% para as subsequentes;
d) Taxa de juros: 6% ao ano no caso do FDE e 5,65% no do FNO-Especial.
Sintetizando as considerações gerais a respeito das disponibilidades de
crédito, pode-se afirmar que a inexistência de linhas de financiamento
adequadas ao agronegócio do dendê, tem se constituído em limitação de alto
impacto à expansão dessa cadeia produtiva no País, em que pese a sua
condição de apresentar o maior potencial de áreas aptas ao cultivo da palma.
Limitações e oportunidades originadas no componente
•
•
•
•
•
•
Legislação ambiental considerada muito restritiva;
Ausência de linhas de crédito adequadas para a expansão do cultivo de
dendê no País;
Inexistência de zoneamento agroeconômico e ecológico que identifique
áreas para expansão da agroindústria de dendê;
Limitada capacidade institucional para realização das pesquisas
necessárias sobre a cultura do dendê;
Reduzida capacidade de assistência técnica aos produtores,
especialmente a pequenos e médios;
Complexidade dos problemas fundiários na região de produção, em
particular no Estado do Pará.
5. FATORES CRÍTICOS ATUAIS DE COMPETITIVIDADE
Competitividade de uma cadeia produtiva pode ser definida como a sua
capacidade de colocar seus produtos em determinado mercado consumidor,
em vantagem comparativa com relação a produtos similares provenientes de
outras cadeias produtivas. A vantagem comparativa é indicada por:
a) uma maior eficiencia produtiva de uma cadeia em relação a outra
(competidora);
145
b) uma maior qualidade de produto, em relação a produtos similares
produzidos por uma cadeia competidora.
A mensuração de competitividade, portanto, vai sempre requerer
comparações entre indicadores de eficiência e qualidade de pelos menos duas
cadeias cujos produtos buscam atender um mesmo mercado. Por essa razão,
duas questões importantes, para a análise da competitividade da cadeia de
dendê na Amazônia, consistem em determinar qual a cadeia competidora com
a qual deve ser comparada, e em qual mercado competem.
Começando pela questão do mercado, demonstrou-se anteriormente que
a produção brasileira de óleo de palma ainda é insuficiente para atender o
mercado interno. Nesse mercado, existem duas cadeias de dendê, que podem
ser consideradas competidores diretos: a cadeia de dendê da Amazônia e a
cadeia de dendê da Bahia. A Tabela 36 apresenta uma comparação das duas
cadeias, considerando vários indicadores, originados nos diversos
componentes das cadeias, destacando em negrito os indicadores em que a
Bahia apresenta uma vantagem comparativa, em relação à Amazônia.
A Tabela 36 torna bastante clara a maior competitividade atual da cadeia
de dendê na Amazônia, quando comparada à cadeia de dendê bahiana. Nos
últimos anos, a produção de óleo na Bahia manteve-se estacionária, enquanto
crescia de forma marcante a produção de óleo de palma da Amazônia. O perfil
da produção brasileira, na última década, acompanha claramente o da
produção amazônica. Portanto, pode-se afirmar que o negócio de dendê
bahiano é ainda incipiente e bastante dificultado pela tradição extrativista do
Estado, devida à existência de dendezais subespontâneos e dos chamados
“roldões” de extração de azeite de dendê (Veiga et al., 2000).
No entanto, isso não significa que a cadeia bahiana não apresente
vantagens comparativas, em relação à da Amazônia. Essas vantagens, como
assinala a Tabela 36, dizem respeito à: melhor situação fundiária, na Bahia,
legislação ambiental menos restritiva, melhor infra-estrutura de transporte,
maior proximidade de fornecedores de equipamentos e de fertilizantes e
também dos principais centros consumidores, maior disponibilidade de mãode-obra, poucos problemas fitossanitários.
Esses indicadores podem ser considerados como fatores de
competitividade para a cadeia do dendê na Amazônia, e governo e empresas
devem procurar alterá-los, quando possível, para garantir sua continuada
vantagem competitiva sobre a cadeia bahiana, no mercado interno. Desse
grupo de fatores, considera-se como críticos, por seu impacto sobre o
desempenho da cadeia: a) a questão da situação fundiária; b) a legislação
ambiental; c) a existência de problemas fitossanitários.
Conforme informam Veiga et al. (2000), a Bahia já tem iniciado um
programa de expansão de área, principalmente junto a pequenos e médios
produtores, com planos de plantar 12 mil ha até 2003. O Estado oferece
estímulos e incentivos fiscais aos investidores interessados, através do
Programa de Desenvolvimento da Dendeicultura bahiana. Esse programa
146
contratou à CEPLAC o fornecimento de 2, 4 milhões de sementes, cujo
primeiro lote (600 mil sementes deveriam ser entregues aos produtores no
início de 2001). Essas sementes serão adquiridas pelas quatro empresas em
operação, a R$0,20 a Unidade, e essas repassarão mudas a outros produtores
(R$1,60 por muda). Planeja-se ainda a modernização dos “roldões de dendê”,
dentro desse Programa.
Esses autores também apresentam as intenções de expansão de área,
nos Estados amazônicos e na Bahia, até o ano de 2005. Segundo essas
informações, em 2005, previa-se que:
• Pará e Bahia duplicassem as áreas plantadas de dendê;
• Amazonas crescesse em 10 vêzes a sua área atual;
• A Agropalma continuasse como um grupo bastante poderoso,
crescendo, nesse período, o equivalente a um terço de todas as
áreas de novos plantios, até 2005;
• Os Estados da Amazônia fossem responsáveis por cerca de 70% dos
novos plantios.
Essa expansão de área, acompanhada de uma produtividade de 3,0 ton
de óleo por hectare, seria suficiente para atender a previsão de consumo
interno desse óleo, em 2012 (372.000 ton de óleo).
As intenções de expansão de área, no Brasil, constituem mais um
indicador de que a competitividade da cadeia de dendê, na Amazônia, não
deverá ser ameaçada, pela cadeia bahiana, em futuro próximo.
Essas intenções de plantio, no entanto, não estão sendo realizadas. No
total, previa-se cerca de 40.000 ha de novos plantios no Pará e cerca de
71.000, em todo o País. Mas novas estimativas indicam que serão realizadas
apenas 60% e 40% dessas previsões, respectivamente. Considerando-se
ainda a necessidade de reposição de plantios antigos, em final de período
produtivo, tem-se como resultado que a área total em produção, em 2005,
poderá ser inferior à existente em 2000.
Embora o mercado externo ainda não seja uma alternativa relevante, para
a cadeia do dendê na Amazônia, a comparação com alguns produtores
externos pode ser útil, para ajudar a identificação de fatores críticos para a
competitividade que deverão ser trabalhados, no futuro, no sentido de viabilizar
essa alternativa de mercado. Algumas comparações serão feitas, nesse
trabalho, em relação à Malásia, o maior produtor mundial, e à Colômbia, um
produtor importante no mercado latino-americano.
Ao contrário de seu maior competidor mundial, a Indonésia, e também de
modo oposto ao Brasil, a Malásia privilegiou fortemente o mercado externo, ao
construir sua estratégia de conquista de mercados, lá por meados dos anos 70.
Assim, é impressionante analisar as séries históricas sobre a cadeia de dendê,
na Malásia, as quais mostram claramente essa estratégia.
147
Tabela 36
Comparação entre as cadeias produtivas de dendê na Amazônia e na
Bahia, indicadores selecionados.
INDICADOR
CADEIA PRODUTIVA DE DENDÊ
AMAZÔNIA
BAHIA
Insumos: sementes
Fornecedor local: Embrapa
Fornecedor local: CEPLAC
Insumos: Fertilizantes
Fornecedores distantes da
região
Maior proximidade a fornecedores
do Sul
Insumos: Equipamentos
Fornecedores locais para
pequeno e médio
Proximidade de fornecedores do
Sul
Insumos: Mão-de-obra
Pequena
Farta
Preço da terra (US$/ha)
Média=208
372
Área plantada em 2000 (ha)
43.385
7.000
Area em produção, 2000 (ha)
32.086
3.500
Produção, previsão 2000 (ton de
óleo)
89.396
9.300 (excluída a empresa
Mutupiranga, para a Qual não se
tem dados sobre área)
2,78
2,67
Verticalização, cultivo de dendê
Existência de extrativismo,
produtos artesanais, “roldões”
173
42
CRA (Pará): 170
Refinadores mais próximos:
GRUPO YOSSAM (Pará): 50
DUREINO (Piauí): 120
Produtividade, previsão 2000 (ton de
óleo /ha)
Características dos sistemas
produtivos agrícolas
Capacidade de extração de OP (ton
de cff/hora)
Capacidade de refino (ton de óleo
/dia)
MAEDA (Goiás): 150
Incidência de doenças
Pará (DENPASA), Amazonas
(EMADE)
Sem incidência de doenças sérias
70.000
854 (estreita faixa litorânea do Sul
do Estado)
Reserva legal mínima:
Reserva legal mínima: 20%
Áreas aptas para a cultura (mil ha)
Legislação ambiental
Área de floresta: 80%
Área de cerrado: 35%
Qualidade do óleo produzido
Atende padrões internacionais
•
Situação fundiária
•
Infra-estrutura de transporte
•
42,1 terras públicas ou
assentamentos do INCRA,
32, 3% reservas indigenas,
ou áreasde proteção
ambiental,
•
Informação não disponível;
qualidade baixa de óleo de
“roldões” (azeite de dendê)
25,6 % imóveis rurais
Restrita, grande distância dos
centros consumidores
•
1,4% assentamentos do
INCRA,
1,22% reservas indígenas ou
Unidades de conservação
natureza,
•
59,4% imóveis rurais
Adequada, proximidade dos
centros consumidores
Fontes: Agrianual, 2000; Veiga, 2000 ; Veiga et al, 2000; Freitas et.al, 1998; Governo
do Estado da Bahia, 2000;Entrevistas com empresas produtoras de dendê.
148
A Figura 50 apresenta o crescimento de área plantada com dendê, na
Malásia, de 1975 a 1999. Observa-se uma expansão linear quase perfeita, da
área plantada, nesse período, fruto de planejamento de longa duração, como
seria adequado para uma cultura permanente como o dendê. Nesse momento,
no entanto, há sinais de esgotamento da estratégia de expansão de área
plantada, e os empresários malaios têm inclusive procurado negociar aumento
de área com outros países, como forma de superar esse gargalo.
3500000
y = 105472x + 384475
2
R = 0,9839
3000000
Área plantada (ha)
2500000
2000000
1500000
1000000
500000
0
1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
Anos
Figura 50: Área plantada com dendê, na Malásia, de 1975 a 1999.
Fonte: Malasian Palm Oil Industry, 2000.
Ao lado do crescimento de área plantada, a Malásia também incentivou o
estabelecimento de plantas de extração e de refino. Atualmente, existem no
país 387 plantas de extração e 61 plantas de refino, com capacidades de
processar 69, 2 milhões de toneladas de cff/ano e 10,7 milhões de toneladas
de óleo/ano, respectivamente. Para se ter uma idéia de crescimento desses
indicadores, no período de 1985 a 1996, enquanto a área plantada cresceu
76,4%, a capacidade de extração aumentou 50%, e a capacidade de refino
89,7% (Malaysian Palm Oil Industry, 2000).
A estratégia do governo malaio, em relação ao dendê, envolveu uma
integração de vários componentes da cadeia, desde fornecedores de insumos,
incentivos a pequenos e médios produtores (Projeto Felda) e uma ação
intensiva de pesquisa sobre melhoramento genético, sistemas de produção e
processamento primário e secundário. Não se descuidou, inclusive, de
intervenções no mercado, para garantir equilíbrio entre oferta e demanda.
149
Recentemente, o Ministro de Indústrias Primárias exortou os produtores a
diminuírem a oferta de óleo de palma mundial, de modo a equilibrar a
tendência de queda nos preços desse óleo e de seus derivados, sugerindo que
a Malásia se dedicasse ao replantio de suas lavouras de dendê, nesse mesmo
sentido.
A Malásia atingiu elevados níveis de produtividade, como mostra a Tabela
5.2, para o período de 1975-1999. Observe-se que esses são dados bastante
agregados (médias nacionais anuais). Empresas isoladas provavelmente são
capazes de obter produtividades ainda maiores do que as mencionadas na
Tabela.
Tabela 37
Produtividades obtidas na Malásia, na produção de dendê
processamento de óleo, 1975-1999.
Produtividade Ton cff/ha Ton óleo de palma/ha
Ton óleo de
palmiste/ha
Média
18,60
3,63
0,96
Mínima
16,00
2,95
0,68
Máxima
22,00
4,30
1,28
e
(Fonte: Malaysian Oil Palm Industry, 2000).
Apesar do sucesso alcançado ao longo dos anos, a Malásia não tem se
descuidado de reorientar-se para garantir competitividade continuada à sua
cadeia. Recentemente, por exemplo, o Ministro de Indústrias Primárias fez a
seguinte análise crítica, do desempenho malaio: “Malaysia is already
recognized as the leading nation in oil palm production, being the largest
producer and exporter of palm oil in the world. However, we recognize that the
critical success factors of yesterday which made us the top producer are no
longer evident today - land and labour are getting scarce and production costs
are increasing. We have to change from being just a volume producer to focus
on aspects such as quality, value addition, optimal use of resources and
development in indigenous intellectual property.” (Malasian Palm Oil Industry,
2000).
Outra situação que se irá analisar aqui é a da vizinha Colômbia, que tem
se firmado, recentemente, como um importante produtor na América Latina,
com base especialmente no relato de Mesa (2000), sobre a situação do dendê
naquele país.
As exportações colombianas de dendê foram iniciadas em 1990. Nessa
década, a participação do dendê no PIB colombiano cresceu de 2,8%, em
1990, para 4%, em 1999.
Existem 141.000 ha plantados em 4 zonas do país. Essa área teve um
crescimento de 15,7%, no período 1980 a 1989, e de 3,7 %, na última década.
A alta taxa de crescimento, na década de oitenta, deveu-se a que dois fatores
macroeconômicos (a taxa de juros interna, vis-a-via a taxa de juros americana,
150
e a taxa de câmbio) eram bastante favoráveis, nesse período. Mesa menciona
ainda, como causas do crescimento: facilidades de financiamento, taxas de
mercado e de câmbio favoráveis, prazos de financiamento adequados. Na
última década, algumas dessas condições não foram tão favoráveis e,
atualmente, não existem boas condições de financiamento no país.
Na Colômbia, existem 2054 Unidades produtivas trabalhando com dendê.
Desse total, 70 possuem área maior ou igual a 500 ha; 1984 unidades
trabalham com áreas menores que 500 ha. A produção de óleo de palma está
em 516.000 toneladas por ano. A produtividade está em 3,9, similar à
produtividade média de Indonésia, Malásia, Costa Rica e Papua Nova Guiné. A
capacidade de extração de óleo de palma média é de 15,3 ton cff/hora, em 50
plantas de extração. Há uma ociosidade no entanto, já que a utilização média é
de 50%.
O país realiza pouca exportação com valor agregado. A maior parte do
óleo exportado é o óleo de palma bruto. Esse óleo participa com 85% da
produção nacional de óleos e gorduras, enquanto que o óleo de palmiste tem
uma participação de 7%.Exportam o óleo para Inglaterra (58,8%), Holanda
(17,4%) e Venezuela (12,8%).
Existem 15 empresas refinadoras de óleos comestíveis e 8 de sabões.
Esses são mais importantes que o uso alimentício do dendê, correspondendo a
um capital de 1.327 milhões de dólares.
A Colômbia também tem claramente delineada uma estratégia de longo
prazo, para a sua cadeia de dendê. A Tabela 5.3 apresenta as metas propostas
para 2020:
Tabela 38
Metas de desenvolvimento da cadeia produtiva do dendê na Colômbia.
METAS
2000
2020
!
Área plantada (mil ha)
141
636
!
Produção (mil T)
520
3.498
!
Consumo
Participação mundial (%)
2,6
9,2
Interno (mil T)
373
781
147
28
2.718
78
Ton óleo/há
3,9
5,5
Coeficiente extração óleo
21
24
Empregos gerados (mil postos)
16
42
!
Exportação
Mil T
Exportação/produção %
!
Produtividade
Fonte: Mesa, 2000
151
Do que foi descrito, sobre esses dois países, sobressaem como fatores
importantes para a sua competitividade:
!
Existência de uma política de governo que garantiu sustentação, ao
longo dos anos, à implantação e manutenção da cadeia, em
elevados níveis de competitividade;
!
Existência de uma estratégia de longo prazo, para a cadeia,
envolvendo definição de mercado preferencial (externo), expansão
de área, solução de problemas tecnológicos, arranjos organizacionais
para pequenos e médios produtores e garantia de insumos;
!
Monitoramento do desempenho da cadeia, ao longo dos anos, para
corrigir rumos, solucionar problemas e garantir o continuado sucesso
da cadeia; esse monitoramento também implica em ações para
estabilização de oferta e demanda, como mostrado no caso da
Malásia;
!
Atuação do governo como um regulador e coordenador dos
componentes da cadeia, de modo a garantir seu desenvolvimento
integrado;
!
Garantias de financiamento e crédito com prazos adequados para os
diferentes tipos de produtores (e considerando que o dendê é cultura
permanente);
Alguns fatores de natureza externa à cadeia – como a taxa interna de
juros e a taxa de câmbio, no caso da Colômbia, e o preço mundial do óleo de
palma, nos dois casos – são relevantes, quando o mercado externo é o
preferencial. Observa-se, no entanto, que existem alternativas de ação, ainda
assim, no âmbito da própria cadeia, que podem reduzir o impacto desses
fatores sobre o desempenho da cadeia (como a redução de oferta malaia).
Outro fator externo importante, existente no Brasil, diz respeito à legislação
ambiental restritiva, que não tem, aparentemente, paralelo nos dois países
considerados.
Aponta-se ainda como oportunidade, no caso do mercado externo, a
exportação de produtos com valor agregado, que ainda não são relevantes,
nas pautas de exportação brasileira e colombiana.
As análises sobre eficiência e qualidade da cadeia produtiva do dendê na
Amazônia permitiram identificar ainda, como fatores que devem ser objeto de
ação, por parte de empresas e governos:
!
Necessidade de aperfeiçoar a capacidade gerencial dos atores
sociais envolvidos na cadeia, de vez que, por ser cultura permanente,
o dendê vai requerer investimentos, infra-estrutura e cuidados de
longo prazo, o que implica em planejamento cuidadoso da logística
do empreendimento;
!
Obtenção de variedades capazes de apresentar maior produtividade,
em menor tempo, permitindo que os empresários tenham um
incentivo para realizar o investimento de longo prazo, requerido por
uma cultura permanente;
!
Redução de custos com adubação, pelo uso de tecnologias poupainsumo ou de ferramentas de agricultura de precisão;
152
!
!
!
!
Redução de custos com colheita, pela obtenção de plantas de menor
porte;
Redução de custos com transporte até a indústria, pela obtenção de
variedades com maior tempo para acidificação dos frutos.
Necessidade de realização de zoneamento agroclimático e ecológico,
em toda a Amazônia, para identificar de modo mais adequado as
áreas mais recomendadas para expansão de área;
Reestruturação e fortalecimento da pesquisa agrícola e da
assistência técnica, essa última em especial como apoio a pequenos
e médios produtores.
A inexistência, até recentemente, de política e estratégia de longo prazo,
em nível de governo federal e estadual, para a cadeia produtiva do dendê na
Amazônia é, na opinião dos autores, o gargalo de maior impacto sobre o
desempenho da cadeia. A próxima seção, no entanto, pretende sugerir uma
estratégia para essa cadeia, com base nos gargalos mais relevantes
identificados.
6. ESTRATÉGIA PARA A COMPETITIVIDADE
Inicialmente, é preciso deixar claro que a proposta de estratégia que se
vai delinear aqui diz respeito à auto-suficiência da cadeia produtiva do dendê
na Amazônia, para o atendimento do mercado interno. A definição por esse
mercado é feita com base nas seguintes considerações:
1. Esse tem sido o mercado atendido, preferencialmente, pela cadeia
produtiva do dendê na Amazônia: isso significa dizer que, para esse
mercado, já estão identificados os consumidores atuais e potenciais,
e já existe uma logística de comercialização, distribuição e entrega
dos produtos da cadeia, para esses consumidores. Deslocar o foco
para o mercado externo, nesse momento, iria demandar uma nova
estratégia de identificação de consumidores, bem como a
necessidade de elaborar e executar uma nova logística, com riscos
maiores de erros, devido ao desconhecimento mais aprofundado
desse mercado;
2. A cadeia produtiva do dendê na Amazônia, nesse momento, ainda
não apresenta escala suficiente para atender o mercado interno,
especialmente se considera todos os usos potenciais do óleo de
palma. Assim, se por um lado não existe ainda a regularidade de
oferta no atendimento da cadeia, para o segmento de indústrias
alimentícias, ela perdeu, recentemente, o mercado de indústrias de
sabões, para a cadeia de sebo bovino (Veiga et al., 2000). Uma
produção maior e regular, para atender ao mercado interno, em um
dado horizonte temporal, vai requerer uma organização, da cadeia,
que certamente terá efeitos de spillover sobre a sua capacidade em
atender outros mercados. Assim, considera-se que a orientação
inicial para o mercado interno é uma estratégia adequada para que
se possa garantir, aos atores da cadeia do dendê na Amazônia, o
domínio necessário sobre todos os aspectos relativos à essa cultura.
153
O objetivo da estratégia que se vai descrever, portanto, é o atendimento
adequado e em tempo hábil, das necessidades do mercado interno pela cadeia
produtiva do dendê na Amazônia. O horizonte temporal em que se espere que
essa estratégia atinja esse objetivo corresponde ao período de doze anos. O
ano de 2012, portanto, é o ano em que se espera que a cadeia consiga atender
às necessidades previstas para o consumo interno.
Uma estratégia com esse objetivo requer um aumento da oferta atual de
óleo de dendê. Esse aumento de produção, por sua vez, pode ser logrado via
aumento de área plantada ou via aumentos de produtividade. O aumento de
expansão de área, como se viu, se por um lado é uma necessidade urgente da
cadeia – que só tem aumentado produção via aumento de produtividade – por
outro é extremamente dificultada pelos seguintes fatores, por ordem de
importância:
1. Inexistência de linhas de crédito apropriadas para a cultura;
2. Situação fundiária extremamente complexa, nos vários estados, com
grandes extensões de terra pertencentes à União, destinadas à
reservas indígenas ou ambientais, ou ainda parte de assentamentos
do INCRA, e problemas de titulação de terras;
3. Legislação
ambiental
extremamente
restritiva,
dificultando
especialmente a implantação de grandes áreas de expansão.
4. Inexistência de zoneamento agroclimático e ecológico, que
possibilitasse uma definição mais precisa das áreas de expansão
preferenciais para a cultura.
Em resposta a esses gargalos, sugere-se que os órgãos de
desenvolvimento da região iniciem uma ação articulada para incentivar a
implantação de novas áreas de dendê, em pólos definidos como preferenciais
para a cultura, estabelecidos com base em zoneamento agroclimático, os quais
deveriam atender os seguintes critérios:
!
Existência de condições de clima e solos adequados para a cultura;
!
Existência de áreas desmatadas;
!
Existência ou possibilidade de implantação de assentamentos, com
base nas condições descritas abaixo (opcional);
!
Existência de rotas de escoamento da produção.
Esses pólos poderiam ser estabelecidos através de contratos formais
entre Governo (INCRA, em alguns casos), médios ou pequenos produtores e
iniciativa privada. A Tabela 39 apresenta uma proposta para as atribuições das
várias partes envolvidas no processo.
154
Tabela 39
Atribuições de produtores, governo e iniciativa privada, em pólos de
dendê na Amazônia.
Participante
Produtores
Atribuição proposta
!
!
!
Governo (ou INCRA)
!
!
!
!
!
!
!
Empresa privada (ou cooperativa)
!
!
!
!
Atendimento a critérios para entrada no Programa
Compromisso formal com as exigências da cultura,
e com as condições de venda dos produtos, às
empresas privadas ou cooperativa, estabelecidas
em contrato;
Compromisso com o pagamento de parte do
investimento feito pelo Governo
Definição de áreas prioritárias para cultura, com
base em zoneamento agroclimático;
Seleção dos participantes
Compra ou disponibilização de terras
Financiamento de infraestrutura (casas, estradas,
etc.)
Financiamento da implantação da cultura (cinco
anos), incluindo os custos de manutenção de
pequenos produtores
Prestação de assistência técnica e administrativa
aos participantes
Fiscalização do cumprimento do contrato pelas
partes
(produtores,
empresas
privadas,
cooperativas;
Exclusão de participantes faltosos do Programa.
Fornecimento de sementes e mudas, a preços
mínimos estabelecidos em contrato
Compra de frutos frescos e/ou óleo a preços
mínimos ajustados em contrato
Processamento de frutos frescos e comercialização
do óleo (somente cooperativas)
Os pólos não devem incluir apenas pequenos produtores. É salutar que
se incentive também a instalação de firmas de pequeno porte, as quais
inclusive poderiam fazer parte dos contratos de participação nos pólos. A esses
médios produtores se poderia incentivar com linhas de crédito especiais,
particularmente orientadas para extração e refino.
As definições de áreas aptas para a cultura nos vários Estados,
atualmente existentes, embora não sejam as mais precisas, podem ser
utilizadas para identificação de áreas, enquanto não se conclui um zoneamento
agroclimático e ecológico mais aprofundado. Esse zoneamento já foi iniciado,
havendo resultados preliminares para o Estado do Pará (Bastos et al, 2000).
Algumas áreas já podem ser aqui apontadas: inicialmente, as áreas próximas a
Belém se adequam perfeitamente aos critérios anteriormente delineados: há
ali uma grande extensão de terras já alteradas por anos de extrativismo (alguns
entrevistados estimam essa área em um total de 4.000.000 há), com excelente
aptidão para a cultura, próximas ao porto de Barcarena, e com grande número
de assentamentos.
No Estado do Amazonas, o Distrito Agropecuário da Superintendência da
Zona Franca de Manaus (SUFRAMA), nas proximidades de Manaus,
155
apresenta-se com condições propícias ao desenvolvimento do agronegócio do
dendê. O Distrito tem 560 mil hectares, com grandes áreas já desmatadas,
facilidades de infra-estrutura para escoamento da produção e transporte de
insumos e grande disponibilidade de mão-de-obra na região. Além disso, existe
nas proximidades a Estação Experimental do Rio Urubu, maior fonte produtora
de sementes melhoradas de dendê no País.
É importante mencionar que, tão logo a Embrapa conclua o zoneamento
agroclimático atualmente em andamento, caberá aos Governos Estaduais e
Federais, nessa proposta, definir áreas prioritárias para a cultura do dendê.
Essa definição deve servir como subsídio básico para as decisões sobre
crédito e estabelecimento dos pólos.
Quanto à essa última questão (crédito), sugere-se o estabelecimento de
linhas especiais de financiamento para a cultura, com juros e prazos
apropriados para pequenos, médios e grandes produtores. O custo de
financiamento de uma área correspondente a 5000 ha, para pequenos
produtores, nas condições descritas na Tabela anterior, ficaria por volta de US$
10.000.000,00. A Tabela 42 apresenta alternativas de financiamento para
pequenos (módulos de 10 a 20 ha) e médios produtores.
Tabela 40
Proposta de condições de financiamento para pequenos e médios
produtores, em pólos de dendê
Características do financiamento
Plano de desembolso
Período de amortização
Fim da carência
Taxa de juros
Pequenos produtores
!
Médios produtores
!
Condição
7 anos
10 anos, do 7º ao 17º
7 anos
6% aa
10% aa.*
* Há informações de que as taxas internas de retorno raramente são superiores a 12% (Veiga
et al. 2000).
Para incentivar a expansão de área, mas também a produção de produtos
com maior valor agregado, sugere-se a criação de linhas especiais de
financiamento para implantação de plantas de extração e de refino.
A proposta de aumento da oferta, da cadeia do dendê na Amazônia, visa
inicialmente o atendimento da demanda do mercado de indústrias alimentícias.
No entanto, propõe-se também aqui o incentivo a um novo uso do dendê,
anteriormente mencionado, e que já foi descrito como boa alternativa de
solução para os problemas energéticos da Amazônia. Trata-se do uso do
dendê como alternativa para o óleo diesel, na região. Segundo um dos
entrevistados, são várias as alternativas tecnológicas para permitir essa
substituição: já existe motor diesel com pré-câmara de combustão; é possível
modificar um motor para funcionar com 100% de óleo de palma, a um custo de
US$ 1,000.00; há pesquisas do CENPES (Petrobrás) mostrando que é possível
utilizar até 30% de derivado de palma (oleína refinada)
em motor
156
convencional, sem alteração de desempenho. O uso dos óleos de palma, em
substituição ao diesel, é uma alternativa atraente para a solução do problema
energético, em primeira instância, das propriedades rurais e pequenas cidades
da região, mas poderia ser estendido, no futuro, para outros Estados da
Amazônia Legal e de outras regiões do Brasil, reduzindo a importação de óleo
diesel brasileira. Assim, o que se propõe aqui é a formação de um novo
mercado, para essa commodity, que garantiria a sustentabilidade da cadeia, ao
mesmo tempo em que consiste em uma solução conveniente para um velho
problema amazônico e brasileiro. A ação que se sugere é que se crie
incentivos para o uso de motores movidos a dendê, seja para geração de
energia elétrica, seja para outros usos (combustíveis, de modo geral).
Comunidades rurais, cooperativas, agroindústrias e agrovilas, desde que
tenham fácil acesso ao óleo de palma, podem se tornar energeticamente autosuficientes, dessa forma.
Outra ação se refere ao fortalecimento dos mercados que já utilizam os
óleos de palma como matéria-prima, notadamente os da indústria alimentícia.
As empresas da região amazônica devem ser estimuladas a formar
associações visando essencialmente o marketing do produto, junto aos
consumidores finais de margarinas, gorduras vegetais, gorduras especiais e
sorvetes. Espera-se, com uma ação agressiva de marketing, aumentar a
participação dos óleos de palma no balanço de óleos e gorduras brasileiro:
atualmente, o consumo de óleo de palma está por volta de 2,5% do consumo
total de óleos e gorduras no país (Veiga et al., 2000). Isso significaria um
aumento da demanda pelo óleo, acima da prevista pelas extrapolações de
tendências atuais, como as feitas pelo Oil World para 2012 ou 2020.
Parte do problema referente à legislação ambiental seria resolvido pela
utilização preferencial de áreas desmatadas, na expansão da cultura. Outra
alternativa, que faz parte dessa proposta, é a articulação dos órgãos de
desenvolvimento regional, e dos governos estaduais, junto ao Governo Federal
e Congresso Nacional, para que o dendê possa ser considerado como uma
alternativa de reflorestamento, permitindo assim a utilização de 100% das
áreas desmatadas.
Para finalizar a proposta no que se refere à expansão de área, vale
comentar que as intenções de plantio de dendê nos Estados da Amazônia
Legal, até 2005, já descritas nesse trabalho, se concretizadas serão suficientes
para atender ao consumo previsto no Brasil pela Oil World até 2012. A
estratégia aqui proposta, envolvendo pólos, linhas de crédito especiais, usos
alternativos do dendê, flexibilização na legislação ambiental e ofensiva de
marketing, aumentará em muito a probabilidade de que aquelas intenções se
realizem e inclusive de que se superem as próprias demandas consideradas
naquela previsão, tornando a cadeia produtiva realmente sustentável.
A ação para a competitividade da cadeia do dendê na Amazônia deve
objetivar também o aumento da produtividade e eficiência da cadeia. Para isso,
essa ação deve incluir a reestruturação de duas redes importantes de apoio à
cadeia: a pesquisa agrícola, por meio da qual se pode obter soluções
tecnológicas para aumento de competitividade e redução de custos, e a
157
assistência técnica, que tem o importante papel de fazer com que essas
soluções ( e outras soluções, dependentes de capacitação dos produtores)
cheguem aos interessados.
Os órgãos de desenvolvimento regional e os governos estaduais devem
articular-se com a Embrapa para estimular o fortalecimento da pesquisa sobre
dendê na região, pela contratação de novos pesquisadores e capacitação dos
que já trabalham com o dendê, quando for o caso. Já a assistência técnica
necessita de ação mais vigorosa, junto às Secretarias de Agricultura Estaduais,
para reorganização desse serviço, essencial para garantir produtividade a
pequenos e médios produtores.
A pesquisa agrícola deve tentar solucionar, prioritariamente, os seguintes
problemas:
1. Produtividades atuais menores do que as produtividades potenciais
para a cultura e/ou custos elevados de algumas operações agrícolas:
esses problemas podem ser solucionados:
!
pela obtenção de variedades de dendê com características tais
como: maiores produtividades (em cacho e óleo); menor prazo
para início da produção; menor porte, para facilitar a colheita,
maior prazo para acidificação dos frutos; menores exigências de
nutrientes;
! desenvolvimento
de tecnologias poupa-insumo e/ou de
tecnologias mais precisas de adubação, com base em agricultura
de precisão;
2. Solução dos problemas fitossanitários verificados na região: por meio
de variedades tolerantes/resistentes ao amarelecimento fatal, ou por
meio de metodologias de controle e/ou eliminação do problema;
3. Zoneamento agroclimático e ecológico, para definir com maior
precisão as áreas de expansão da cultura.
É necessário também que a pesquisa agrícola aprofunde os estudos
sobre a viabilidade da cultura, sob irrigação, especialmente em Estados da
Amazônia Legal com maiores facilidades para escoamento da produção e
maior proximidade dos centros consumidores, inclusive aqueles que não
possuem tradição na cultura.
A pesquisa agrícola deve apoiar a reestruturação da assistência técnica
na região, promovida pelo Governo Estadual. Assim, ações com o objetivo de
formação de um quadro de extensionistas, com domínio das principais
recomendações técnicas para a cultura, também devem ser executadas.
A assistência técnica, por sua vez, uma vez que tenha sido reestruturada,
deve orientar-se para o apoio de pequenos e médios produtores.
A
capacitação desses, nas práticas culturais adequadas, é prioritária. Destaca-se
aqui como ponto importante, no entanto, que somente esse tipo de habilidade
não será suficiente para garantir eficiência e competitividade para os sistemas
produtivos da região. Dadas as características peculiares da cultura, é
essencial que os produtores recebam também capacitação gerencial,
envolvendo planejamento e logística, mercado e controle de custos.
158
Finalmente, os órgãos de desenvolvimento regional responsáveis pela
execução dessa estratégia devem também encarregar-se do monitoramento
continuado do desempenho da cadeia e do impacto da estratégia sobre esse
desempenho, ao longo do período. O objetivo do monitoramento é a correção
de rumos ou de desvios, na estratégia, garantindo assim maior probabilidade
de sucesso, no alcance dos objetivos pretendidos. O monitoramento servirá
também para a identificação de situações em que o apoio à cadeia (ou a
determinados grupos sociais, da cadeia) possa ser descontinuado.
159
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