AVALIAÇÃO TOXICOLÓGICA DE ÓLEO DE PALMA BRUTO APÓS A FRITURA DE ACARAJÉS Alessandra Quirino Gonçalves Rio de Janeiro 2012 ALESSANDRA QUIRINO GONÇALVES Aluna do Curso de Ciências Biológicas Matrícula 0913800225 AVALIAÇÃO TOXICOLÓGICA DE ÓLEO DE PALMA BRUTO APÓS A FRITURA DE ACARAJÉS Trabalho de Conclusão de Curso, TCC, apresentado ao Curso de Graduação em Ciências Biológicas da UEZO como parte dos requisitos para a obtenção de grau de Bacharel em Ciências Biológicas, sob a orientação do Prof. Dr. Israel Felzenszwalb. Rio de Janeiro Dezembro de 2012 ii AVALIAÇÃO TOXICOLÓGICA DE ÓLEO DE PALMA BRUTO APÓS A FRITURA DE ACARAJÉS Elaborado por Alessandra Quirino Gonçalves Aluna do Curso de Ciências Biológicas da UEZO Este trabalho de graduação foi analisado e aprovado com Grau: Rio de Janeiro, 14 de Dezembro de 2012 ______________________________________________ Andréia da Silva Fernandes Campos, Doutoranda em Biologia (Biociências) ______________________________________________ Cristiane Pimentel Victorio, Doutora em Ciências Biológicas (Biofísica) ______________________________________________ Israel Felzenszwalb, Doutor em Ciências da Vida (Biofísica) Professor Orientador ______________________________________________ Adriano Arnóbio José da Silva e Silva, Doutorando em Ciências Médicas Presidente da Banca RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL DEZEMBRO DE 2012 iii AGRADECIMENTOS A Deus, por ter me sustentado em todos os momentos. Por ter sido meu auxiliador e grande amigo. Agradeço porque sem Ele eu não faria nada. A minha família, que me apoiou desde o início da minha graduação e que tentou de todas as maneiras possíveis me ajudar na realização deste trabalho, nem que fosse me comprando um acarajé. Aos meus grandes amigos Carlos e Joalmir que foram fundamentais para manter minha sanidade durante esses anos e principalmente durante esse trabalho. Agradeço à Célula – Marcelle, Rafael, Pedro, Yasmin, Agatha, Felipe e Rômulo – pelo amor e amizade que compartilhamos durante esse período que será inesquecível. E também pela ajuda e apoio em momentos essenciais. Tenho certeza que não conseguiria chegar até aqui sem vocês. Aos professores Israel Felzenszwalb e Claudia Aiub, agradeço pela dedicação, esforços e orientação conferida. Agradeço também pela oportunidade de desenvolver esse projeto e pela experiência adquirida durante esse período de iniciação científica. À professora Deusdélia Almeida, pelo fornecimento das amostras de azeite e pela ajuda concedida, sem a qual, não poderia realizar esse trabalho. Ao pessoal da pós do Labmut - Andréia, Carlos, Felipe, Vanessa, Francisco, Claudia e Raphael -, agradeço pela ajuda e amizade que recebi desde meu primeiro dia de estágio. Pelos conhecimentos passados, pelos puxões de orelha e pela convivência mais que agradável. Aos meus Irmãos Científicos, guerreiros da pia, mestres autoclavadores, dominadores do Ames e senhores do micronúcleo, agradeço pela companhia que foi essencial. Ao Marcos e a Juliana, pelos momentos compartilhados, mesmo que raros. Pela ajuda que ofereceram sempre que possível e pelo companheirismo que sempre existiu. Ao Rafael, meu Irmão Científico mais velho e companheiro de muitas horas. Obrigada por me fazer rir mesmo nos dias que eu só queria chorar. Aos Namekuseijins serei eternamente grata por me fornecerem toda informação necessária sobre o Dendê. iv RESUMO O acarajé é um alimento comumente comercializado nas ruas de diversas cidades do Brasil, sendo frito por imersão em óleo de palma bruto (OPB). Diversos pratos típicos da cultura brasileira utilizam esse óleo como elemento fundamental na fritura por imersão, em especial o acarajé. Sabe-se que a presença alimentos durante o processo de fritura afeta significantemente a degradação do óleo. Tendo em vista o grande consumo brasileiro do acarajé, avaliações toxicológicas foram realizadas no óleo utilizado em sua fritura, para determinar se esse processo acrescenta ao óleo algum risco à saúde da população consumidora. O OPB utilizado em 25 horas de fritura foi analisado pelo ensaio Salmonella/ microssoma utilizando as linhagens de Salmonella typhimurium TA97, TA98, TA100 e TA102 na presença e ausência de ativação metabólica (S9 mix) e pelo ensaio de indução de micronúcleo em macrófagos da linhagem RAW 264,7. Não foi identificada atividade mutagênica no óleo, na presença e ausência de S9, pelo ensaio Salmonella/microssoma e também não foi observada atividade genotóxica através do ensaio de indução de micronúcleo em macrófagos, assim como nenhuma indução significativa de necrose e apoptose. Os resultados sugerem que o óleo de palma bruto após o processo de fritura de acarajés não oferece risco genotóxico à população consumidora desses alimentos. Palavras-chave: óleo de palma, toxicologia, mutagenicidade, micronúcleo v ABSTRACT The akara is a dish commonly commercialized in streets of various cities in Brazil, being deep fried in crude palm oil (OPB). Several typical dishes from Brazilian culture utilize this oil as a fundamental element in deep frying, in special the akara. It is known that the presence of some food during this cooking process affects significantly the oil degradation. In view of the great consumption of this dish in Brazil, toxicological evaluations have been carried out on the oil used in its deep frying process to determine whether this process makes the oil unsafe for human consumption. The OPB utilized in 25 hours of frying was analyzed by the Salmonella/microssome assay using Salmonella typhimurium strains TA97, TA98, TA100 and TA102 with and without exogenous metabolic activation (S-9 mix). It was also performed the micronucleus induction assay with macrophages RAW 264.7. No mutagenic activity induced by OPB was observed in the Salmonella/microssome assay both in the presence and absence of S-9 mix. It was also observed no genotoxic activity in the micronucleus induction assay, as well as no significant induction of cell necrosis and apoptosis. The results of this study suggest that crude palm oil after the deep frying of akaras does not offer genotoxical risks to the consuming population. Keywords: palm oil, toxicology, mutagenicity, micronucleus SUMÁRIO Resumo ............................................................................................................................iv Abstract............................................................................................................................v 1. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 1 1.1. A ORIGEM DO ÓLEO DE PALMA...................................................................... 1 1.2. CARACTERÍSTICAS DO ÓLEO DE PALMA ..................................................... 2 1.3. A FRITURA POR IMERSÃO................................................................................ 2 1.4. ESTUDOS CITOTÓXICOS, MUTAGÊNICOS E GENOTÓXICOS ..................... 4 2. OBJETIVOS ............................................................................................................... 6 2.1. OBJETIVO GERAL............................................................................................... 6 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS.................................................................................. 6 3. MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................ 7 3.1. PREPARO DO ÓLEO DE PALMA BRUTO (OPB) .............................................. 7 3.1.2. O Processo De Fritura Do OPB..................................................................... 7 3.2. LINHAGENS BACTERIANAS ............................................................................. 9 3.2.1. Características Genéticas .............................................................................10 3.3. METABOLIZAÇÃO EXÓGENA (S9 MIX) .........................................................11 3.4. ENSAIO DE MUTAGENICIDADE......................................................................11 3.5. ENSAIO DE SOBREVIVÊNCIA..........................................................................12 3.6. CULTURA DE CÉLULAS RAW 264,7................................................................13 3.7. ENSAIO DO MICRONÚCLEO ............................................................................13 4. RESULTADOS ..........................................................................................................16 4.1. MUTAGENICIDADE...........................................................................................16 4.2. AVALIAÇÃO DE MICRONÚCLEO....................................................................20 5. DISCUSSÃO ..............................................................................................................22 6. CONCLUSÃO............................................................................................................24 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................25 1 1.1 INTRODUÇÃO A ORIGEM DO ÓLEO DE PALMA O óleo de palma ou, como é conhecido no Brasil, azeite de dendê é derivado do mesocarpo do fruto da palmeira comumente chamada de Dendezeiro (Eleais guineensis). (Figura 1). Possui, quando bruto, uma coloração avermelhada e se apresenta com consistência semi-sólida em temperatura ambiente nos países de clima tropical e sólida em países de clima temperado. Apenas no Brasil e na África, tal óleo é consumido no estado natural (LODY, 2009). O Dendezeiro tem sua origem atribuída à região da floresta tropical no oeste africano, onde o óleo de palma se constitui em um ingrediente essencial de grande parte da culinária tradicional da região. (POKU, 2002) No século XVII, frutos dessa palmeira foram transportados para as Américas, no contexto da escravidão africana, e assim, tanto o cultivo do dendezeiro quanto o processo de extração do azeite foram introduzidos no Brasil (VAINSENCHER, 2012). As regiões produtoras do país são encontradas no Pará, Amazonas, Amapá e Bahia, áreas em que a temperatura moderadamente alta, a distribuição das chuvas no decorrer do ano e adequada insolação média anual viabilizam a produção do dendezeiro visando o mercado consumidor (BASIRON, 2005; AGROPALMA, 2012). Figura 1: Imagem de frutos do dendezeiro (Fonte: EMBRAPA) 2 1.2 CARACTERÍSTICAS DO ÓLEO DE PALMA Igualmente a todos os óleos e gorduras, o azeite de dendê é composto majoritariamente por materiais glicídicos, sendo que aproximadamente 50% dos ácidos graxos nele presentes são saturados e 50% são insaturados. Os principais ácidos são o palmítico, o mirístico, esteárico, oléico e linoléico (SAMBANTHAMURTHI et al., 2000; BORA et al., 2003). O azeite também possui componentes minoritários, que, apesar de constituírem uma pequena porcentagem do óleo de palma, tem um papel significante na sua estabilidade e no aumento de seu valor nutritivo. Grande parte desses componentes minoritários possui atividade antioxidante, a saber, os triterpenos (GOVIND, 1968; GOH, 1986), ubiquinonas (HAZURA, 1996), compostos fenólicos (AUDLEY, 1986), esteróis (GORDON, 1983), carotenóides (YAP, 1991), de onde advém a cor avermelhada do azeite de dendê e tocoferóis e tocotrienóis (GAPOR, 1981). O efeito combinado de suas propriedades, juntamente com 50% de insaturação dos ácidos graxos, confere ao óleo de palma uma maior estabilidade oxidativa em comparação aos outros óleos vegetais (WATTANAPENPAIBOON e WAHLQVIST, 2003; BERGER, 2005; BASIRON, 2005; MALASIAN PALM OIL COUNCIL, 2008). O conteúdo de tocoferóis, tocotrienóis e carotenóides é maior no óleo de palma bruto (OPB), pois parte é degradada no processo de refino, devido às altas temperaturas utilizadas (RODRIGUEZ-AMAYA, 1996). 1.3 A FRITURA POR IMERSÃO No Brasil, principalmente na Bahia, o azeite de dendê é fundamental no preparo de bolinhos de acarajé, uma iguaria largamente comercializada nas ruas das cidades não só da Bahia, mas também em diversas regiões do país pelas chamadas baianas de acarajé. Os acarajés são fritos por imersão no OPB, processo que se constitui no aquecimento de uma grande quantidade de óleo em um recipiente apropriado e, imersão dos alimentos a serem fritos, quando a temperatura ideal é atingida. A fritura é um procedimento muito eficiente no preparo de alimentos. Isso é devido à maior facilidade que os óleos possuem em transferir calor e às elevadas temperaturas que podem alcançar, bem acima da atingida pela água usada no cozimento (BASIRON, 2005). A temperatura de fritura permite que alterações químicas ocorram tornando o alimento mais saboroso e deixando-o mais atrativo ao consumo, o que faz com que esse processo seja aceito e apreciado por diferentes grupos 3 populacionais no mundo (STEVENSON et al., 1984; DAMY e JORGE, 2003; CORSINI e JORGE, 2006; REDA e CARNEIRO, 2007). Há dois tipos de fritura por imersão: contínua e descontínua. A fritura contínua é normalmente utilizada pelo mercado industrial para fritura de snacks extrusados, massas fritas, pré-fritura e fritura de batatas. A descontínua é utilizada principalmente, pelo mercado institucional que compreende as redes de fast-food, restaurantes e pastelarias, assim como a fritura dos acarajés (McSAVAGE e TREVISAN, 2001; SANIBAL e MANCINI-FILHO, 2002). Durante esse processo de fritura por imersão, o óleo está propenso a alterações provenientes de (1) reações térmicas, devido à elevada temperatura atingida pelo óleo de palma; (2) hidrolíticas, devido à exposição à água, proveniente do próprio alimento; e (3) oxidativas, a partir do contato da superfície do óleo com o ar (REDA e CARNEIRO, 2007; VELASCO et al., 2008). Assim, mudanças físicas ocorrem com o óleo, entre os quais escurecimento, aumento na viscosidade, diminuição do ponto de fumaça e formação de espuma. Alterações químicas também acontecem, a saber, a formação de ácidos graxos livres, monoacilgliceróis e diacilgliceróis originados da hidrólise do óleo (GERTZ, 2000). Além disso, o óleo pode oxidar formando peróxidos, hidroperóxidos, dienos conjugados, epóxidos, hidróxidos e cetonas; pode também se decompor em pequenos fragmentos ou ainda manter-se na molécula do triacilglicerol e se associar, conduzindo a triacilgliceróis diméricos e poliméricos (SANIBAL e MANCINI-FILHO, 2002). Estas alterações são afetadas por diversos fatores como tempo e temperatura de fritura, composição de ácidos graxos e componentes minoritários do óleo, além da composição do alimento submetido à fritura (FEDELI, 1988; HOUHOULA et al., 2003; TYAGI e VASISHTHA, 1996). Sabe-se que a presença de determinados alimentos durante o processo de fritura afeta significantemente a degradação do óleo utilizado (BELITZ et al., 2004). Estudos realizados com a fritura por imersão de batatas investigaram o efeito da adição desse alimento ao processo, utilizando óleo de oliva extra virgem (KALOGIANNI et al., 2010) e óleo de palma (KALOGIANNI et al., 2009). Os autores demonstraram que a presença das batatas acelerou o aparecimento de compostos de degradação no óleo de oliva e aumentou a velocidade de polimerização no óleo de palma, o que não ocorreu quando o óleo foi apenas aquecido à mesma temperatura sem a adição das batatas. O conjunto das substâncias de degradação formadas a partir das reações químicas originadas pela fritura é denominado quantitativamente de compostos polares (CP) e a 4 formação destes está intimamente ligada à estabilidade oxidativa dos óleos e gorduras (AOAC, 2003). Tais reações foram esboçadas por Gertz (2000) e podem ser observadas no esquema apresentado na figura 2. Sabe-se que os compostos de degradação afetam a qualidade funcional, sensorial e nutricional não apenas do óleo, mas também dos alimentos, pois devido a absorção do óleo, esses compostos se tornam ingrediente do produto (FREITAS et al., 2009). Processo de fritura por imersão – Mudanças em elevada temperatura Fenômenos físicos Aeração Vaporização Vapor Espuma Fumaça Solubilização Coloração Mudanças em: Viscosidade Densidade Tensão superficial Constante dielétrica Condutividade Meio Alimento (proteínas, água, gordura, carboidratos, sais, ácidos (pH)) Gordura de Fritura Reações Químicas Hidrólise Autoxidação Oxidação Desidratação Di-Polimerização Ciclização Reação de Maillard Antioxidantes Aditivos Gás protetivo Antiespumante Oxigênio Calor (Temperatura) Produzindo: "Compostos polares" como Aldeídos, Cetonas, Compostos diméricos e poliméricos, Ácidos Graxos livres, etc. Figura 2: Transformações físicas e químicas no processo de fritura (Fonte: GERTZ, 2000) 1.4 ESTUDOS CITOTÓXICOS, MUTAGÊNICOS E GENOTÓXICOS Através da realização de estudos genotóxicos sobre determinada amostra é possível que haja a detecção de agentes químicos ou físicos que possuem a capacidade de gerar danos ao DNA de forma direta ou indireta. O ensaio Salmonella/microssoma é uma metodologia rápida, segura e largamente utilizada para detectar substâncias mutagênicas. O teste utiliza organismos procariotos como ferramenta e avalia possível atividade mutagênica ou citotóxica de uma determinada 5 amostra. Por isso, devido a ausência de estudos na literatura com o óleo de palma não processado, uma avaliação mutagênica e citotóxica desse óleo torna-se necessária, devido ao cuidado com a saúde dos consumidores de azeite de dendê em seu estado natural. 6 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Avaliar possível atividade mutagênica e genotóxica de óleo de palma bruto antes e após o tradicional processo de fritura das baianas de acarajé. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Investigar a indução de mutações pontuais da cadeia de DNA pelo óleo de palma bruto. Investigar a indução genotóxica pelo óleo de palma bruto na formação de micronúcleo e outros eventos celulares como necrose, apoptose e divisão celular. 7 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 PREPARO DO ÓLEO DE PALMA BRUTO (OPB) As amostras de OPB foram fornecidas pela professora Dra Deusdélia Teixeira de Almeida - Departamento de Ciências dos Alimentos da Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia. Foram adquiridos 30 litros de OPB integral (uma mistura da fase líquida e sólida do óleo), industrializado na cidade Nazaré, no estado da Bahia, Brasil. O óleo foi acondicionado em duas latas de folha de flandres com capacidade de 16 litros, posteriormente colocado em um recipiente de inox com capacidade para 50 litros e aquecido a 45ºC, para que houvesse a fusão da fração sólida do óleo, possibilitando sua homogeneização. Filtrou-se 20 mL do óleo em lã de vidro, para obtenção da amostra antes da fritura ou óleo de palma cru (OPC). A amostra foi armazenada em frasco âmbar à temperatura de –20 ºC evitando alterações oxidativas (JORGE E GONÇALVES, 1998). 3.1.1 O Processo de Fritura do OPB A fritura foi efetuada por uma baiana de acarajé respeitando sua prática no processo. O tempo total de fritura foi de 25 horas, sendo a fritura conduzida durante 5 dias por 5 horas/dia. Iniciou-se a fritura, a céu aberto, em uma panela específica chamada tacho, sempre com 5 litros de OPB (Tabela 1) e uma cebola submersa no óleo, visando diminuir a temperatura do óleo e retardar seu escurecimento. Após 12 minutos de aquecimento do óleo, adicionaram-se os acarajés. Após 5 horas de fritura intermitente obteve-se 110 acarajés fritos/dia. Após o término do processo de fritura, esperou-se decantar os resíduos de alimentos e procedeu-se a filtragem do óleo em peneira de alumínio, sendo o mesmo armazenado no tacho com tampa, em temperatura ambiente, aguardando a próxima fritura. Os procedimentos citados acima foram seguidos nos quatro dias subseqüentes, diferenciandose apenas na forma de reposição (Tabela 1). Ocorreu reaproveitamento de óleo usado misturado a novo, de acordo com as técnicas de fritura da baiana de acarajé. A cebola foi 8 reposta sempre que apresentava aspecto de queimada, utilizando-se em média 3 cebolas/dia. Além disso, a temperatura do óleo foi monitorada no inicio do procedimento (após 12 minutos) e a cada hora, com termômetro tipo espeto (Incoterm). Após as 25 horas totais do processo de fritura, uma nova alíquota de 20 mL do óleo foi filtrada em lã de vidro, obtendo-se a segunda amostra, ou o óleo de palma frito (OPF). Tabela 1. Óleo de palma, quantidades inicial, final e a reposição durante o experimento de fritura contínua de acarajés, durante 5 dias, com 5h/dia OPB Óleo inicial Reposição inicial Reposição durante o processo TOTAL Óleo novo Óleo misturado Óleo novo Óleo misturado Óleo final DIA 1 DIA 2 DIA 3 DIA 4 DIA 5 5h 10h 15h 20h 25h 5L 4 L* 3,5 L** 3,5 L*** 4 L**** ------- 1,0 L 1,5 L ------- ------- ------- ------- 1,5 L a 1,0 L b 2L 2L ------ ------ ------ ------ ------ 1,3 L a 0,7 L b 1,3 L b 4 L* 5,6 L** 4,8 L*** 4 L**** 5,2 L ------ *óleo usado do DIA 1; **óleo usado do DIA 2; ***óleo usado do DIA 3; ****óleo usado do DIA 4; óleo novo + 2,1 L**); b (1 L óleo novo + 1,3 L usado*** + 2,2 La). a (3 L 9 3.2 LINHAGENS BACTERIANAS Quatro linhagens de Salmonella typhimurium foram utilizadas: TA97, TA98, TA100 e TA102. Quadro 1: Características genotípicas e fenotípicas das quatro cepas utilizadas derivadas de Salmonella typhimurium LT2 sugeridas para o Teste de Ames Cepas Mutação his1 TA97 hisD6610 TA98 hisD3052 TA100 hisG46 TA102 hisG428 Tipo de mutação/alvo de mutação Deslocamento do quadro de leitura / GC Deslocamento do quadro de leitura / GC Substituição de pares de bases / GC:TA Substituição de pares de bases / AT:GC bio / uvrB Plasmídio bio - /Δ uvrB pKM101 (Apr) bio - /Δ uvrB pKM101 (Apr) bio - /Δ uvrB pKM101 (Apr) + pKM101 (Apr) pAQ1 (Ttr) As linhagens auxotróficas para histidina são derivadas da linhagem parental LT2 de Salmonella typhimurium apresentando diferentes mutações no operon da histidina. A mutação rfa causa perda parcial da barreira de lipossacarídeos que envolve a superfície da bactérica e aumenta a permeabilidade da parece celular a moléculas maiores. A mutação uvrB é causada pela deleção de um dos genes responsáveis pelo reparo de excisão, levando a uma maior sensibilidade a agentes mutagênicos. A deleção do gene uvrB se estendeu até o gene bio e as cepas se tornaram auxotróficas para biotina. A cepa TA102 não possui a mutação uvrB pois foi construída para detectar agentes mutagênicos aos quais o sistema de reparo por excisão é necessário. As linhagens TA97, TA98, TA100 e TA102 apresentam o plasmídio fator R, PKM101, que aumenta a mutagênese química e espontânea por aprimorar o sistema de reparo do DNA presente na cepa. A cepa TA102 também possui o plasmídio em multicópia pAQ1 que apresenta a mutação hisG428 e o gene de resistência à tetraciclina. 10 3.2.1 Características Genéticas Os genótipos das cepas foram verificados com o objetivo de assegurar que as características descritas acima são originais das bactérias. Através do crescimento em meio nutriente, analisou-se a sensibilidade à radiação ultravioleta e ao cristal violeta e resistência à ampicilina e à tetraciclina. Os números de colônias revertentes espontâneos por placa para cada cepa estavam dentro da faixa aceitável descrita na literatura por Maron e Ames (1983) e também estavam de acordo com o histórico do laboratório. Os genótipos das linhagens foram confirmados antes dos ensaios através dos seguintes testes (Maron & Ames, 1983): Auxotrofia para histidina (his-): foi confirmado pela ausência de crescimento em placas contendo ágar mínimo sem histidina. Uma alíquota de 100 µL das culturas de célula pernoite e 500 µL de tampão fosfato de sódio pH 7,4 com 2 mL de top ágar são semeados em placas de meio mínimo contendo apenas biotina (placas-teste) ou histidina (0,1 M) e biotina (0,5 mM) (placa controle). Após incubação a 37 oC por uma noite, observou-se ausência de crescimento nas placas-teste; Mutação rfa: Uma alíquota de 100 µL das culturas de célula pernoite em gelose a 45 oC foi semeado em placas de meio nutriente. Um pequeno disco de papel filtro estéril foi colocado no centro da placa e adicionado 10 µL de solução de cristal violeta. Após 12 horas de incubação a 37 oC, observou-se um halo de inibição do crescimento ao redor do disco; Mutação uvrB: Estrias paralelas das culturas de célula pernoite são realizadas em placas de meio nutriente. Metades das placas foram recobertas e as outras metades foram irradiadas com luz ultravioleta em lâmpada germicida de 15W a distância de 33 cm, por 8 segundos. Após incubação de 24 horas a 37oC, obsevou-se crescimento de células bacterianas na metade das placas não irradiadas para as linhagens sensíveis ou em ambos os lados, para a cepa proficiente na reparação por excisão (TA102); Presença do plasmídeo pKM101: Estrias das culturas de célula pernoite foram realizadas em placas de meio nutriente contendo ampicilina (20 µg/mL). Após incubação a 37 oC, observou-se o crescimento das linhagens portadoras do plasmídeo de resistência; Presença do plasmídeo pAQ1: Estrias da cultura de célula pernoite (TA102) foram realizadas em placas de meio nutriente contendo ampicilina (20 µg/mL) e tetraciclina (20 11 µg/mL). Após incubação a 37 oC, observou-se o crescimento na linhagem portadora do plasmídeo de resistência. 3.3 METABOLIZAÇÃO EXÓGENA (S9 MIX) Existe a necessidade de que os testes sejam realizados na presença e ausência de um sistema de ativação metabólica in vitro, visto que algumas substâncias precisam ser metabolizadas para que seus derivados apresentem atividade mutagênica. O mais comumente utilizado é a fração microssomal (S9). A fração S9 é composta por um homogenato de células de fígado de ratos SpragueDawley, pré-tratados com a mistura bifenil policlorinada (Aroclor 1254), que induz um aumento de enzimas (P450) que são envolvidas na biotransformação de vários compostos neste órgão. A fração S9 acrescida de co-fatores conforme descritos a seguir: A preparação da solução de S9 mix (4%) foi realizada de acordo com Mortelmans e Zeiger (2000) em condições de esterilidade e em banho de gelo: 19,75 mL de água destilada; 25,0 mL de tampão fosfato de sódio 0,2M pH 7,4; 2,0 mL de solução NADP 0,1M; 0,25 mL de glicose-6-fosfato 1M, 1 mL de sais MgCl2-KCl e 2,1 mL de água destilada reconstituída com fração S9 liofilizada. 3.4 ENSAIO DE MUTAGENICIDADE A avaliação mutagênica do OPB antes e após a fritura foi realizada pelo método de pré-incubação do ensaio Salmonella/microssoma como descrito por Maron e Ames (1983), com pequenas modificações (MORTELMANS E ZEIGER, 2000). Uma alíquota de 100µl de diferentes concentrações do óleo de palma antes ou após a fritura (todas as diluições foram feitas em DMSO) e 100µl da suspensão bacteriana (2 x 108 células/mL) foram adicionados a 500 µl de tampão fosfato de sódio 0,2M (pH 7,4) ou S9 mix. Após a préincubação da mistura acima por 30 minutos, a 37º C, 2 mL de top ágar foram adicionados e o conteúdo foi incorporado em uma placa de ágar mínimo glicosado. As placas foram incubadas a 37º C e o número de colônias revertentes (his-) foi contado após 72h. O critério utilizado para que a mutagenicidade fosse considerada positiva foi o índice de mutagenicidade ser igual ou superior a dois (I.M. ≥ 2) (MORTELMANS E ZEIGER, 2000) e para confirmação do resultado positivo, a análise de variância apresentar valores 12 de pANOVA < 5% e as concentrações testadas apresentarem uma clara relação concentração-resposta. A figura abaixo esquematiza o ensaio de mutagenicidade. Figura 3: Esquema demonstrando o ensaio de mutagenicidade 3.5 ENSAIO DE SOBREVIVÊNCIA Para a determinação de efeito citotóxico do azeite de dendê, amostras da suspensão do protocolo de pré-incubação do teste de Ames foram diluídas em 0,9% de NaCl (v/v) para obter-se uma suspensão contendo 2x102 células/mL. Uma alíquota de 100µl da suspensão foi incorporada a uma placa contendo meio ágar nutriente. As placas foram então incubadas a 37◦C por 24 horas e as unidades formadoras de colônias foram contadas. Os resultados referentes foram expressos em porcentagem em relação ao controle negativo e, para que esses resultados observados em cada concentração testada fossem considerados positivos, a porcentagem de sobrevivência das células expostas ao óleo deve corresponder a menos de 70%. (AIUB et al., 2003). Abaixo, a figura demonstra o ensaio de sobrevivência. 13 100L 10L 100L 10L 990 mL de solução salina a 0,9% 900 mL de solução salina a 0,9% Meio LB Estufa 37ºC 24h Figura 4: Esquema demonstrando o ensaio de sobrevivência 3.6 CULTURA DE CÉLULAS RAW 264,7 A linhagem de macrófagos de camundongo RAW 264,7 foi utilizada a partir de uma cultura em boa confluência e mantidas em estufa com atmosfera de 5% de CO2, à temperatura de 37ºC. A disjunção celular foi realizada mecanicamente com um scrap, em seguida, a suspensão foi centrifugada a 5000 rpm por 5 minutos e as células foram ressuspensas em meio Minimum Essential Medium (MEM) Eagle Ca++ 1,8 mM (Gibco®) suplementado com 10% de soro fetal bovino, 1,76 g/L de NaHCO3, 0,88 g/L de piruvato, 21,6 mg/L de ácido aspártico e 16,8 mg/L de L-serina. A viabilidade celular foi determinada após coloração com azul de tripan e as células foram adicionadas a placas de microtitulação de 24 poços na densidade de 2 x 105 células/ poço e mantidas em cultura por 24 horas. 3.7 ENSAIO DO MICRONÚCLEO O ensaio foi realizado conforme descrito anteriormente (AIUB et al., 2011), com modificações. As células foram tratadas com 100 µL das diluições das amostras em 14 DMSO, equivalente a 10% do volume total e as placas foram incubadas por 24h. Após esse período, o meio foi retirado e a placa foi rinsada com 1 mL de meio MEM Eagle Ca ++ 1,8 mM. Adicionou-se 1 mL de meio MEM Eagle Ca++ 1,8 mM com soro e incubou-se por 24 horas em estufa com atmosfera de 5% de CO2. O ensaio utilizou como controle positivo Nmetil-N-nitro-N-nitrosoguanosina (MNNG) na concentração de 0,5 µM. O meio MEM Eagle Ca++ 1,8 mM foi substituído pela solução gelada de Carnoy (fixador metanol 3:1 ácido acético glacial) por 15 minutos. As células fixadas foram rinsadas com tampão McIlvaine (MI) (21,01 g/L de ácido cítrico e 35,60 g/L de Na2HPO4, pH 7,5) por 2 minutos e postos para secar a temperatura ambiente. As células fixadas foram coradas com 4'-6-Diamidino-2-fenilindol (DAPI) (0,2 µg/mL), dissolvido em tampão MI, por 40 minutos. Após isso, foram lavadas com tampão MI por 2 minutos, brevemente lavadas com água destilada e postas para secar novamente, a temperatura ambiente. Para determinar-se o índice mitótico e o número de células com micronúcleos, assim como as percentagens de necrose e apoptose, as células por concentração foram analisadas em microscópio de fluorescência (Reichert Univar) com excitação de comprimento de onda de 350 nm. O experimento foi realizado em quintuplicata. Os resultados obtidos no ensaio de micronúcleo foram expostos em valores percentuais após a análise de 1000 células em cada réplica das cinco concentrações, além dos controles positivos e negativos. Para ser considerado positivo, o resultado observado no ensaio deve apresentar a aumento estatisticamente significante na freqüência de micronúcleos em relação ao controle negativo. Abaixo, a figura demonstra o esquema do ensaio de micronúcleo com macrófagos. 15 Figura 5: Esquema demonstrando o ensaio de micronúcleo com macrófagos 16 4 RESULTADOS 4.1 MUTAGENICIDADE Após 72 horas de incubação com as cepas TA97, TA98, TA100 e TA102 na ausência e presença de S9 não foi observado aumento significativo (P < 0,05) do número de revertentes nas doses testadas em todas as cepas testadas após o tratamento com OPB antes e após 25h do processo de fritura (Tabelas 2 a 5). Tabela 2 - Avaliação mutagênica do óleo de palma (azeite de dendê) antes e após a fritura de acarajés na linhagem TA97 de Salmonella typhimurium na ausência e presença de ativação metabólica (S9) -S9 Amostras Concentração a b +S9 Média ±DP I.M % Sobrevivência c a b Média ±DP I.M % Sobrevivência OPC 0 1:128 1:64 1:32 1:16 1:8 CP 132 ± 22 138 ± 38 134 ± 11 115 ± 14 123 ±28 158 ± 66 483 ± 62 1.0 1.0 1.0 0.9 0.9 1.2 3.7 100 97 90 91 90 89 100 107 ± 14 130 ± 19 114 ± 9 119 ± 15 134 ± 11 118 ± 6 1016 ± 418 1.0 1.2 1.1 1.1 1.2 1.1 9.5 100 100 100 100 100 100 100 OPF 0 1:128 1:64 1:32 1:16 1:8 CP 341 ± 41 321 ± 91 319 ± 42 335 ± 15 238 ± 47 233 ± 59 2162 ± 499 1.0 0.9 0.9 1.0 0.7 0.7 6.3 100 100 100 100 100 95 70 202 ± 8 238 ± 7 116 ± 22 265 ± 37 287 ± 22 240 ± 6 2388 ± 399 1.0 1.2 0.6 1.3 1.4 1.2 11.8 100 100 100 100 100 100 78 c a Número de colônias revertentes por placa: valores de média e desvio padrão (DP) de três replicatas. b IM: Índice de mutagenicidade: razão entre o número de colônias revertentes induzidas pela amostra/número espontâneo pelo controle negativo. c Sobrevivência celular em relação com o controle negativo. Positivos para citotoxicidade (sobrevivência < 70%) e mutagenicidade (IM > 2) estão indicados em negrito. A concentração 0 corresponde ao controle negativo (solvente): 100 µl de DMSO. As doses dos controles positivos (CP) por placa na ausência e presença de S9 mix foram 0,5 µg de 4-nitroquinolina-1-óxido e 1µg de 2-Aminoantraceno, respectivamente. 17 Tabela 3 - Avaliação mutagênica do óleo de palma (azeite de dendê) antes e após a fritura de acarajés na linhagem TA98 de Salmonella typhimurium na ausência e presença de ativação metabólica (S9) -S9 Amostras Concentração a b +S9 Média ±DP I.M % Sobrevivência c b Média ±DP I.M % Sobrevivênciac OPC 0 1:128 1:64 1:32 1:16 1:8 CP 27 ± 4 22 ± 2 21 ± 3 20 ± 3 22 ± 12 31 ± 11 145 ± 5 1.0 0.8 0.8 0.8 0.8 1.1 5.4 100 100 100 100 100 100 90 42 ± 3 42 ± 4 45 ± 8 37 ± 4 56 ± 5 64 ± 6 224 ± 16 1.0 1.0 1.1 0.9 1.3 1.5 5.3 100 92 100 90 100 100 86 OPF 0 1:128 1:64 1:32 1:16 1:8 CP 19 ± 3 25 ± 4 35 ± 5 29 ± 2 31 ± 8 13 ± 3 322 ± 146 1.0 1.3 1.9 1.5 1.6 0.7 17.3 100 100 100 97 76 100 94 51 ± 4 59 ± 5 52 ± 0 65 ± 3 53 ± 6 69 ± 1 239 ± 12 1.0 1.1 1.0 1.3 1.0 1.3 4.7 100 100 100 100 100 100 82 a Número de colônias revertentes por placa: valores de média e desvio padrão (DP) de três replicatas. b IM: Índice de mutagenicidade: razão entre o número de colônias revertentes induzidas pela amostra/número espontâneo pelo controle negativo. c Sobrevivência celular em relação com o controle negativo. Positivos para citotoxicidade (sobrevivência < 70%) e mutagenicidade (IM > 2) estão indicados em negrito. A concentração 0 corresponde ao controle negativo (solvente): 100 µl de DMSO. As doses dos controles positivos (CP) por placa, na ausência e presença de S9 mix foram 0,5 µg de 4-nitroquinolina-1-óxido e 20 µg de Benzo[α]pireno, respectivamente. 18 Tabela 4 - Avaliação mutagênica do óleo de palma (azeite de dendê) antes e após a fritura de acarajés na linhagem TA100 de Salmonella typhimurium na ausência e presença de ativação metabólica (S9) -S9 Amostras a Concentração a Média ±DP I.M b +S9 c a % Sobrevivência Média ±DP I.M b c % Sobrevivência OPC 0 1:128 1:64 1:32 1:16 1:8 CP 70 ± 8 68 ± 40 68 ± 47 86 ± 4 99 ± 13 65 ± 9 444 ± 6 1.0 1.0 1.0 1.2 1.4 0.9 6.0 100 100 100 100 100 99 100 186 ± 25 189 ± 17 190 ± 12 216 ± 5 221 ± 1 231 ± 11 2304 ± 153 1.0 1.0 1.0 1.2 1.2 1.2 12.4 100 100 100 99 100 100 100 OPF 0 1:128 1:64 1:32 1:16 1:8 CP 115 ± 15 109 ± 8 137 ± 13 118 ± 15 108 ± 1 111 ± 12 593 ± 214 1.0 1.0 1.2 1.0 0.9 1.0 5.2 100 100 100 100 100 100 86 221 ± 9 228 ± 14 242 ± 31 266 ± 20 281 ± 30 260 ± 0 986 ± 61 1.0 1.0 1.1 1.2 1.3 1.2 4.5 100 100 100 100 100 100 85 Número de colônias revertentes por placa: valores de média e desvio padrão (DP) de três replicatas. b IM: Índice de mutagenicidade: razão entre o número de colônias revertentes induzidas pela amostra/número espontâneo pelo controle negativo. c Sobrevivência celular em relação com o controle negativo. Positivos para citotoxicidade (sobrevivência < 70%) e mutagenicidade (IM > 2) estão indicados em negrito. A concentração 0 corresponde ao controle negativo (solvente): 100 µl de DMSO. As doses dos controles positivos (CP) por placa, na ausência e presença de S9 mix foram 1,0 µg de Azida Sódica e 1µg de 2Aminoantraceno, respectivamente. 19 Tabela 5 - Avaliação mutagênica do óleo de palma (azeite de dendê) antes e após a fritura de acarajés na linhagem TA102 de Salmonella typhimurium na ausência e presença de ativação metabólica (S9) -S9 Amostras a Concentração a Média ±DP b +S9 I.M % Sobrevivência c a Média ±DP I.M b % Sobrevivência OPC 0 1:128 1:64 1:32 1:16 1:8 CP 345 ± 64 356 ± 45 301 ± 15 337 ± 18 312 ± 10 295 ± 39 2207 ± 286 1.0 1.0 0.9 1.0 0.9 0.9 6.4 100 83 84 79 88 87 89 315 ± 31 431 ± 88 374 ± 23 332 ± 74 297 ± 4 416 ± 23 1016 ± 103 1.0 1.4 1.2 1.1 0.9 1.3 3.2 100 100 100 100 92 87 100 OPF 0 1:128 1:64 1:32 1:16 1:8 CP 341 ± 41 374 ± 7 336 ± 30 287 ± 18 264 ± 9 267 ± 4 2163 ± 499 1.0 1.1 1.0 0.8 0.8 0.8 6.3 100 88 90 90 100 100 75 483 ± 87 599 ± 63 639 ± 26 383 ± 49 911 ± 64 859 ± 33 1747 ± 260 1.0 1.2 1.3 0.8 1.9 1.8 3.6 100 100 100 100 100 100 81 c Número de colônias revertentes por placa: valores de média e desvio padrão (DP) de três replicatas. b IM: Índice de mutagenicidade: razão entre o número de colônias revertentes induzidas pela amostra/número espontâneo pelo controle negativo. c Sobrevivência celular em relação com o controle negativo. Positivos para citotoxicidade (sobrevivência < 70%) e mutagenicidade (IM > 2) estão indicados em negrito. A concentração 0 corresponde ao controle negativo (solvente): 100 µl de DMSO. As doses dos controles positivos (CP) por placa, na ausência e presença de S9 mix foram 0,5 µg de Mitomicina C e 20 µg de Benzo[α]pireno, respectivamente. 20 4.2 AVALIAÇÃO DE MICRONÚCLEO Os resultados obtidos no ensaio com OPC e OPF estão apresentados na tabela 6. Ambas as amostras não induziram formação de micronúcleo, apoptose e necrose em células de macrófago. Além disso, OPC e OPF não induziram aumento significativo de divisão mitótica. Não houve diferença significativa entre os resultados obtidos com o óleo antes e depois da fritura (P > 0,05). Tabela 6 - Ensaio de indução de micronúcleo em macrófagos usando as amostras de óleo de palma bruto Amostras OPC Concentração CN 1:128 1:64 1:32 1:16 1:8 CP OPF CN 1:128 1:64 1:32 1:16 1:8 CP ‰ I.Mi.± DP1 7,9 ± 2,8 4,4 ± 1,4 4,5 ± 0,8 11,6 ± 0,4 8,4 ± 0,8 8,9 ± 1,5 6,7 ± 1,9 % Apoptose 3,6 ± 1,2 1,7 ± 0,9 1,4 ± 0,5 2,7 ± 2,8 3,5 ± 0,2 2,8 ± 0,5 4,7 ± 0,8 %Necrose 1,0 ± 0,3 1,0 ± 0,2 0,8 ± 0,3 0,6 ± 0,5 1,2 ± 0,3 0,8 ± 0,2 1,2 ± 0,1 7,9 ± 2,8 5,0 ± 0,9 6,4 ± 0,1 6,0 ± 3,2 5,4 ± 3,4 6,4 ± 3,1 6,7 ± 1,9 3,6 ± 1,2 1,9 ± 0,3 1,9 ± 1,8 1,7 ± 0,9 1,5 ± 0,5 1,5 ± 0,2 4,7 ± 0,8 1,0 ± 0,3 0,9 ± 0,4 0,6 ± 0,4 0,7 ± 0,2 1,0 ± 0,2 0,9 ± 0,4 1,2 ± 0,1 % Micronúcleo ± DP 3,8 ± 1,2 3,2 ± 0,3 3,0 ± 1,5 2,9 ± 1,3 4,4 ± 0,6 4,1 ± 1,3 7,9 ± 1,1 3,8 ± 1,2 3,0 ± 0,6 2,8 ± 1,2 2,6 ± 0,3 1,9 ± 0,6 2,8 ± 1,4 7,9 ± 1,1 1 Índice mitótico por mil. As doses do controle negativo (CN) e controle positivo (CP) foram 10% de DMSO e 0.5 µM de MNNG, respectivamente. O experimento foi realizado em quintuplicata O quadro abaixo apresenta algumas das imagens micrografadas, identificando os casos de micronúcleo, divisão celular, apoptose e necrose. 21 Quadro 2: Micrografias das lamínulas coradas com 4'-6-Diamidino-2-fenilindol (DAPI) do teste de micronúcleo em macrófagos, mostrando as situações de divisão celular, apoptose, necrose e micronúcleo, indicadas pela seta branca A) B) C) D) Legenda :A – Divisão Celular; B – Apoptose; C – Necrose e; D – Micronúcleo. 22 5 DISCUSSÃO O presente trabalho buscou avaliar a segurança do OPB utilizado no processo de fritura por imersão, em condições mais próximas da realidade prática, possibilitando avaliar uma possível existência de riscos à população consumidora. Os resultados obtidos indicam que o óleo de palma bruto nas condições descritas anteriormente não induz citotoxicidade, uma vez que não foi encontrado uma redução abaixo de 70% do número de colônias revertentes e também uma diminuição no número de colônias revertentes no ensaio de Ames. Não se observou mutagenicidade, visto que tanto o óleo antes da fritura quanto o após o processo não induziram um índice de mutagenicidade igual ou acima de 2. Ademais, foi observado que o óleo de palma bruto não induziu resposta genotóxica de acordo com o ensaio do micronúcleo em macrófagos, utilizando a linhagem RAW 264,7. Esses resultados podem ser atribuídos à estabilidade do óleo frente à fritura. Sabe-se que o óleo de palma se deteriora mais lentamente na fritura quando comparado a outros óleos vegetais, devido à razão de ácidos graxos saturados e insaturados de sua composição ser próxima de 1 e também à presença de pequenas quantidades de ácido linoléico, traços de linolênico e de antioxidantes naturais, os tocoferóis, tocotrienóis e carotenóides (EDEM, 2002; MATTHÄUS, 2007; TAVARES et al., 1989). Além disso, o OPB possui um conteúdo maior desses antioxidantes do que no óleo refinado (RODRIGUEZ-AMAYA, 1996) o que contribui ainda mais para manter-se estável mesmo depois de repetidas frituras. Além dos fatores da constituição do OPB, a prática das baianas de reposição do óleo também poderia estar minimizando a sua degradação. Quanto mais rápida a renovação do óleo, mais lenta é a formação de ácidos graxos livres, ao mesmo tempo em que o constante fluxo de óleo fresco acrescenta antioxidantes ao sistema, além de diluir os compostos de degradação formados durante a fritura (MASSON, 1999). Dessa forma, os resultados encontrados nesse trabalho corroboram com outros estudos apontando a ausência de atividade mutagênica em óleos usados em fritura por imersão (VAN GESTEL et al., 1984; SCHEUTWINKEL-REICH et al., 1980; TAYLOR et al.,1982; FONG et al., 1980), em que apenas Fong (1980) observou mutagenicidade no 23 óleo de amendoim, embora essa atividade tenha sido correlacionada a uma contaminação por aflatoxina B1 no óleo, o que era comum nos óleos vendidos no mercado local. 24 6 CONCLUSÃO O óleo de palma bruto antes e após o tradicional processo de fritura de acarajés realizado pelas baianas, não apresentou atividade citotóxica, mutagênica ou genotóxica. 25 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AIUB, C.; RIBEIRO PINTO, L.F.; FELZENSZWALB, I. N-Nitrosodiethylamine mutagenicity at low concentrations. Toxicol. Lett., v.145, 36–45, 2003. AIUB, C.A.F. et al. N-Nitrosodiethylamine genotoxicity in primary rat hepatocytes: Effects of cytochrome P450 induction by Phenobarbital. Toxicol. 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