PROCESSOS INFECCIOSOS DE ORIGEM DENTÁRIA Profa.Dra.Cláudia Jordão Silva 1 TRATAMENTO DOS PROCESSOS INFECCIOSOS DE ORIGEM DENTÁRIA: CONCEITO E EVOLUÇÃO DOS PROCESSOS INFECCIOSOS 1) Mecanismo: As bactérias que provocam infecções nos tecidos bucais dispõem de inúmeras portas de entrada, inclusive o trauma cirúrgico, sendo a mais comum a placa bacteriana. Ocasionadas por esta a bolsa periodontal e a cárie dentária, podem constituir-se em caminhos para as lesões endodônticas ou às periodônticas, primárias ou com envolvimento simultâneo secundário ou combinado.Quando os microorganismos encontram tecido conjuntivo altamente vascularizado , são destruídos pela vigorosa ação dos fagócitos. A invasão pode ainda ser dominada em seu inicio pelo processo inflamatório; frequentemente, estas infecções, embora localizadas, são dominadas mais lentamente e após considerável prejuízo para os tecidos. Quando chegam ao tecido ósseo, a situação se complica um pouco mais por não possuir este tecido, eficiente mecanismo de defesa. Os sintomas tóxicos se manifestam pela elevação de temperatura e velocidade de pulso e em alguns casos o ritmo respiratório aumenta. O paciente se desidrata. A dor é evidente e a tumefação do pescoço e da face causam incomodo. 2)Efeitos locais: No inicio, a zona atingida mostra-se hiperêmica, dolorida e endurecida ao toque e os nódulos linfáticos intercalados na rede de drenagem acham-se ingurgitado (palpáveis).A medida que o processo tende a localizar-se aparece cada vez mais uma zona amolecida no centro da inchação, sendo que pelo toque poderemos averiguar a existência do fluido, caracterizando assim, o ponto de flutuação. 3)Efeitos Gerais: • febre • hiperleucocitose • desvio a esquerda no hemograma • aumento da velocidade da hemossedimentação • aumento da freqüência do pulso e dos movimentos respiratórios • aumento da necessidade de volume líquido ingerido 4)Sinais de perigo: • saída de pus em volta do colo de vários dentes Profa.Dra.Cláudia Jordão Silva 2 • dor intensa que somente cede a grandes doses de hipnóticos • tumefação extensa e especialmente quando aumentam em qualquer direção • extensão da infecção para o outro lado da linha média, quando ele era inicialmente unilateral • progressiva elevação da temperatura à medida que transcorrem os dias • aparecimento de sintomas novos, tais como calafrios, vômitos, dor no tórax, dificuldade respiratória, cianose ou convulsões 5)Vias de propagação das infecções dentárias • via linfática: as bactérias de um abscesso dentário podem ser drenadas pelos vasos linfáticos provocando a inflamação dos linfonodos correspondentes. • via venosa: merece atenção especial em vista da gravidade dos quadros nosológicos que pode assumir. Uma tromboflebite, como a do seio cavernoso ou uma embolia da artéria pulmonar ou de seus ramos, tem caráter fatal.Quando a veia é a oftálmica, no quadro clínico aparecem primeiramente perturbações oculares que alertam quanto à gravidade e possibilitam ainda medidas debelatórias • via por contigüidade tecidual: • tecido ósseo: as diferenças de estrutura entre a maxila e a mandíbula determinam a formação de quadros patológicos diversos. Os processos infecciosos periapicais progridem rapidamente no tecido esponjoso. Um abscesso pode exteriorizar-se no vestíbulo, no assoalho da fossa nasal ou no seio maxilar, na abóbada palatina e na pele, região do bucinador. Os abscessos dos molares inferiores geralmente exteriorizam-se no vestíbulo ou então, internamente, para a região do pilar anterior e parede da faringe(resultantes das pericoronarites). • tecido conjuntivo frouxo: espaços faríngeos e fáscias cervicais. O tecido conjuntivo frouxo dos espaços intermusculares é de fácil contaminação e as diversas fáscias da cabeça e do pescoço se continuam sem limite preciso. • Abscessos de Origem dentária: • Periapicais: são os mais freqüentes. Localizados na região apical e confinados dentro das lâminas corticais; inicialmente circunscritos, com dor, sem edema, subitamente agudizam-se; no estado agudo o pus pode escoar-se rapidamente pela abertura dos canais ou pela extração do dente. Profa.Dra.Cláudia Jordão Silva 3 • Pericementários ou Periodontais: surgem ao longo da raiz onde o alvéolo foi destruído e se estendem ao tecido mole subjacente. O escoamento pode ocorrer incisando-se a área flutuante no tecido mole que o recobre. O dente não necessita ser extraído imediatamente, pois é provável que o processo atinja um ou mais dentes na região. • Pericoronários: em volta de um dente parcialmente irrompido ou não irrompido e as vezes completamente impactado. Trismo e/ou linfadenite submandibular podem estar presentes. O pus pode ser drenado levantando-se ou dilatando-se o capuz gengival, com incisão para manter a drenagem. Se a extração for indispensável será feita mais tarde num campo relativamente não infectado. • Subperiósticos: são coleções purulentas confinadas entre o periósteo e o osso; isto acontece comumente à distância. A infecção se estende subperiosticamente seguindo as linhas de menor resistência e estabelece uma bolsa de pus à distância. • Angina de Ludwig: é a denominação dada para uma infecção que compromete os espaços sublingual e submandibular, provocando a elevação da língua. O seu tratamento é feito pela drenagem por via extra bucal. A causa é geralmente um dente infectado que deverá ser eliminado após cessados os efeitos da fase aguda do processo. Em casos mais graves a Angina de Ludwig pode até provocar a morte do paciente por asfixia, por isso a traqueostomia é muito utilizada neste tipo de infecção. 6)Planejamento: • exame e história clínica para diagnosticar se a infecção é de origem dentária ou se é conseqüência de qualquer enfermidade sistêmica. • achados radiográficos: • comprovação das alterações ósseas apicais ou cervicais • forma da raiz, aparência dos canais • região • diagnóstico diferencial como: neoplasias, cistos, edemas angioneuróticos • saúde geral e idade do paciente • valor do dente na arcada em relação a dentística restauradora e a reabilitação • valor dado ao dente pelo paciente • indicações e contra-indicações das cirurgias parendodônticas Profa.Dra.Cláudia Jordão Silva 4 A escolha final deverá recair em uma das hipóteses: • tratamento endodôntico • tratamento endodôntico seguido de curetagem periapical com ou sem apicectomia • extração dentária • extração dentária e estabelecimento de drenagem A decisão de extrair-se um dente com processo infeccioso agudo ou disseminado precisa ser tomada com muito cuidado pelo CD que: • estudo detalhado das radiografias • condições de realização de boa anestesia • avaliar o trauma que será causado aos tecidos moles e ósseos 7)Tratamento geral: Visa proporcionar conforto, aumento de resistência ao paciente e controlar a infecção: • repouso de preferência no leito • aumento forçado do consumo de líquidos • uso adequado de medicação para: • dar maior conforto ao paciente • aumento da capacidade de resistência à infecção pelo uso de antibióticos, vacinas, sulfas e etc. • controlar a infecção - antibióticos e anti-inflamatórios 8)Tratamento local: • localização do processo: emprego de calor úmido e dos emolienntes tende a acelerar as alterações metabólicas e a ação do mecanismo de defesa local, bem como apressar a resolução ou localização do processo. • abertura ampla para permitir a drenagem: a maioria das infecções dentárias inicia-se no interior do osso; o excesso de fluido ou de pus tem que procurar caminho para o exterior através do osso e colecionar-se por debaixo do periósteo e tentar romper as estruturas suprajacentes. A direção seguida pelo pus e o ponto de formação do abscesso dependem quase que inteiramente da anatomia da região. 9)Drenagem: Profa.Dra.Cláudia Jordão Silva 5 • Intra-bucal: Quando se extrai o dente é necessário estabelecer a drenagem. Quando ela não se estabelece espontaneamente, ou quando não vamos realizar a exodontia, devemos realizar uma incisão linear que na maioria das vezes já promove a drenagem.A seguir realiza-se a divulsão, completando a drenagem. Dependendo da extensão do processo, coloca-se um dreno, sendo uma das extremidades colocada profundamente e a outra suturada nos tecidos moles. Deixa-se durante 2 a 4 dias, fazendo a movimentação diária até sua completa remoção. • Extra-Bucal: está indicada quando a infecção se espalhou e atingiu regiões subcutâneas. Conforme o caso pode ser feita no consultório sob anestesia local, todavia é preferível com anestesia geral mantendo um pós-operatório hospitalar. De acordo com o caso duas incisões pequenas deverão ser realizadas. A primeira incisão deverá ter uns 2mm e a profundidade suficiente para atravessar a pele. Com a ponta de uma pinça hemostática fechada força-se a abertura e atingi-se a zona a ser drenada, continuando-se até o ponto onde se praticará a segunda incisão quando a ponta da pinça elevar a pele; a ponta prende o dreno e o traz de volta a incisão inicial. Apara-se o excesso, prende-se as pontas com sutura e protege-se a pele abaixo da incisão com uma gaze encaixada no dreno. Realiza-se a seguir um curativo com gaze furacinada e esparadrapo. 10)Cuidados pós-operatórios: • fisioterapia com calor • troca diária do curativo • controle cotidiano • retirada do dreno dentro de 3 a 4 dias • movimentação diária do dreno • antibioticoterapia imediata 11)Osteomielites Quando a infecção atinge os espaços medulares do osso e este tecido reage hiperplasiando-se, estamos frente às chamadas osteomielites, sendo a sua característica mais evidente a formação de seqüestro. Pelo odor fétido e pela imagem radiográfica mostrando os seqüestros, se estabelece com segurança o diagnóstico deste tipo de infecção. A antibioticoterapia é a medida a ser tomada de imediato. Se o seqüestro estiver aflorando poderá ser retirado sem anestesia, não havendo necessidade de sutura, associado com irrigações contínuas se necessário. A higiene bucal com anti-sépticos é a conduta a ser seguida juntamente com a antibioticoterapia adequada. Profa.Dra.Cláudia Jordão Silva 6 A loja óssea não deve ser curetada para que se evite uma disseminação do processo, processo este que poderá evoluir tragicamente se o seu tratamento não for feito de acordo. 12)Osteítes: Trata-se de uma infecção do osso e se refere mais propriamente aos processos circunscritos ao processo alveolar e geralmente sem repercussão mais séria para o estado geral do paciente. O tratamento é cirúrgico e consiste na retirada do seqüestro e na eliminação das fungosidades inflamatórias que quase sempre estão presentes também, e do dente responsável. O acesso e o tratamento da loja é o mesmo de outros tipos de cirurgia, tais como cistectomia, curetagem periapical. 13)Fístulas Cutâneas: A drenagem espontânea por via extra-bucal de um abscesso, a supressão prematura de uma drenagem cirúrgica, a eliminação insuficiente das secreções, a drenagem excessivamente prolongada ou a permanência de um corpo estranho no fundo da ferida, mantendo a supuração e a fístula, são em linhas gerais as causas de formação destas fístulas. Antes de mais nada, efetiva drenagem ou o dente responsável ser tratado ou extraído, pois somente posteriormente poderá ser realizado o tratamento para eliminação da fístula. Deve ser realizado uma incisão de forma elíptica, previamente demarcada com violeta genciana. Após uma anestesia terminal infiltrativa estrabucal, com uma lâmina 10 faz-se a diérese. Em seguida divulsiona-se a pele juntamente com o conduto fistuloso seccionando-o ao nível do periósteo, retirando assim todo o conjunto. Após uma divulsão subcutânea das bordas da ferida , é realizada a sutura por planos: o plano profundo é suturado com cat-gut 3.0 e depois a pele com fios de algodão, mersilene ou nylon. 14)Infecção focal: Bactérias dos dentes, amídalas, próstata, vesícula, etc podem migrar através da corrente sanguínea e produzir enfermidade crônica nas articulações. GROSMANN: excetuados os casos esporádicos de endocardite bacterina sub-aguda, relacionados com extrações, mormente quando as válvulas do coração já estão enfraquecidas, a relação entre foco dentário e doenças gerais tem sido difícil de estabelecer. Profa.Dra.Cláudia Jordão Silva 7 Entretanto, o foco dentário como a infecção em qualquer outra parte do corpo deve ser eliminado, quer pelo tratamento clínico, ou cirúrgico, de modo a não prejudicar o mecanismo defensivo do corpo. 15)Curso Evolutivo do Abscesso periapical agudo: • Abscesso Periapical Agudo ou fase inicial: • é caracterizado como sendo uma pericementite apical aguda infecciosa, em grau mais adiantado; os sintomas se assemelham a: dor a percussão, extrusão dental, discreta mobilidade, ligeira dor espontânea, púlsatil localizada, congestionamento do sulco gengival e edema mole ou sem edema. • se nesta fase não for instituído o tratamento; antibioticoterapia e drenagem via canal + bochecho água morna ou exodontia; o processo evolui comprometendo o osso alveolar em maior extensão. • Abscesso Periapical Agudo em evolução: • ocorre um aumento dos gânglios linfáticos juntamente com a sensação dolorosa.O pus dirige-se as regiões menos densas do tecido ósseo e rapidamente pelo periósteo. Pode surgir o edema que é conseqüência da transudação plasmática que ocorre em torno da área supurada. • sem o tratamento a coleção purulenta ganha o tecido subcutâneo e aumenta o edema. • os sinais e sintomas descritos anteriormente são os mesmos porém estão agravados, principalmente a sintomatologia dolorosa e a mobilidade podendo se estender a dentes contíguos; surgindo a tumefação dos tecidos moles que recobrem a região periapical. O pus rompe os tecidos moles e drena na cavidade bucal ou se dirige para a pele. • Abscesso Periapical agudo evoluído: • presença de sintomas gerais como: febre, insônia, anorexia, mal-estar e dor de cabeça. • presença de mobilidade dental, gengiva edemaciada e com flutuação, dor dental atenuada e aspecto extra-bucal edema com flutuação. 16)Plano de Tratamento: • Abscesso inicial: • antibioticoterapia Profa.Dra.Cláudia Jordão Silva 8 • • abertura coronária • bochechos água morna e sal • exodontia Abscesso em Evolução: • fisioterapia com calor • antibioticoterapia • se o abscesso tende a drenar intrabucal recomenda-se bochechos + antibiótico • drenar para a pele recomenda-se compressas e infra vermelho até que se tenha ponto de flutuação • Abscesso evoluído: • antibioticoterapia • drenagem (intra ou extra bucal) • exodontia 17)Esquema terapêutico: • • Critério para escolha: • flora bacteriana e estado do paciente • via de administração, absorção, distribuição, metabolismo e eliminação • localização e diagnóstico clínico - etiológico Esquema: INFECÇÃO DENTO ALVEOLAR (STREPTOCOCOS, STAFILOCOCOS GRAM - E BACTÉRIAS ANAERÓBIAS) DOR SEVERA AUSÊNCIA DE DOR INFECÇÃO AGUDA INFECÇÃO CRÔNICA EDEMA PRESENTE STREPTOCOCOS SEM EDEMA DRENAGEM BACTÉRIA GRAM- E STREPT. Ñ DRENAGEM DOR SEVERA DOR STREPTOCO. GRAM- ANAERÓBIOS Profa.Dra.Cláudia Jordão Silva 9 Referências Bibliográficas 1. TOPAZIAN, R.G., GOLBERG, M.H. Infecções maxilo-faciais e Orais. Ed.Santos. São Paulo.1ª ed. 650p.1987. 2. LEONARDO, M.R., LEAL, J.M., SIMÕES-FILHO, A.P. Endodontia: tratamento dos canais radiculares. Ed.Panamericana. Sao Paulo. 1ª ed. 416p.1982. 3. GREGORI, C. Cirurgia Buco-Dento-Alveolar. Savier, São Paulo, 217p.1996. 4. HOWE, G.L. Cirurgia Oral Menor. 3ª ed., São Paulo, ed. Santos, 430p.1990. 5. PETERSON, L.J., ELLIS III, E., TUCKER, M.R. Cirurgia Oral e Maxilofacial Contemporânea. 3ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, 702p. Profa.Dra.Cláudia Jordão Silva 10