Sociedade Internacional da Consciência de Krishna
RAMAYANA
Texto: Madhava Priya
Ilustração: Madhava Priya
Tradução: Bhagavan dasa
Dedicado àquele que satisfez o coração de Srila Bhaktisiddhanta
ao pregar a mensagem de Caitanya Mahaprabhu no Ocidente,
livrando-nos da compreensão equivocada de unidade com Deus
e da grande falácia niilista.
O Ramayana é um poema épico antigo e muito amado sobre uma
encarnação do Supremo Senhor Krsna na Terra, cerca de um
milhão de anos atrás, como Ramacandra, o rei ideal. A história é
rica em intrigas, heroísmo, romance e aventura, e também em
monstros aterradores e criaturas estranhas o bastante para acanhar
qualquer ficção científica. Ainda mais estranho para a mente
moderna é que essa história deve ser compreendida como
totalmente real. Aqui, vemos o Senhor Ramacandra, ou Rama, em
compleição esverdeada, acompanhado por Seu irmão Laksmana e
pelo grande herói macaco de nome Hanuman.
A história narra as maravilhosas qualidades de Rama e os
planejamentos para Ele ser coroado rei, planejamentos estes
temporariamente impedidos de concretização, e o Seu
subseqüente exílio na floresta por muitos anos, onde derrotou e
matou muitos demônios perigosos. Próximo ao fim do exílio, Sua
esposa Sita foi raptada pelo mais perigoso de todos os demônios,
Ravana, aquele possuidor de dez cabeças. Rama, exilado de Seu
exército legítimo, encontrou ajuda em uma raça de macacos
inteligentes, e uma grande batalha se sucedeu...
Quando Rama e Laksmana eram jovens recém-chegados à idade
adulta, o sábio Visvamitra solicitou a ajuda deles, pedindo-lhes
que derrotassem poderosos demônios raksasas que estavam
perturbando os sacrifícios realizados pelos sábios para o bem do
mundo. Os sacrifícios tinham início, a noite caía, e os demônios
atacavam, poluindo a arena sacrificial com substâncias impuras,
como sangue e outros constituintes corpóreos. Rama e Laksmana,
tendo sido bem treinados no uso de armas, flecharam os
demônios e atiraram-nos centenas de quilômetros oceano adentro.
O pai dos rapazes, o rei Dasaratha, expressara o desejo de
encontrar para eles esposas adequadas, em razão do que
Visvamrta os levou em seguida ao reino de Mithila. Lá, o rei
Janaka realizaria uma cerimônia a fim de escolher um esposo
para a sua filha Sita. O requerimento estabelecido por ele era
que o homem a se casar com sua filha teria de ser capaz de
erguer e encordoar um grande arco que fora do Senhor Siva. O
arco era misticamente pesado, em virtude do que eram
necessários trezentos homens para puxarem a caixa onde ele era
mantido, e, até então, ninguém havia sido capaz de sequer
erguê-lo. Ninguém exceto a própria Sita, que uma vez foi vista
levantando-o casualmente a fim de remover a poeira acumulada
de baixo do mesmo.
O rei Janaka sentia que Sita devia ser uma personalidade
muitíssimo especial e que, por conseguinte, deveria ter um esposo
igualmente especial. Rama facilmente ergueu o arco e não apenas
o encordoou, senão que puxou para trás a corda e arqueou-o até
que se partisse produzindo um grande estalo, estalo este cuja
força fez com que todos na assembléia cambaleassem para trás.
Sita enguirlandou Rama com uma guirlanda de flores frescas para
indicar tê-lO aceito como seu esposo.
Esposas também foram selecionadas para Laksmana e para os
outros dois filhos do rei Dasaratha. Um casamento foi planejado
para os quatro casais. Rama é a Suprema Personalidade de
Deus, e Sita é a Deusa da Fortuna, Sua contraparte feminina.
Eles têm uma relação eterna; seria completamente impossível
que um deles se casasse com outrem. A ilustração traz um
sacríficio de fogo, tradicional nos casamentos Védicos. Itens
auspiciosos, como grãos, nozes, sementes e frutas, foram
oferecidos ao fogo ao som de mantras Védicos cantados por
sacerdotes brahmanas qualificados.
No caminho de volta a Ayodhya, a cidade do rei Dasaratha, o
grupo foi parado por uma cegante tempestade de poeira. O
Senhor Parasurama, outra encarnação de Krsna, revelou-Se como
a causa daquela tempestade de poeira e adiantou-Se para desafiar
Rama. Ele queria certificar-Se de que Rama era quem Parasurama
pensava que Ele era, para o que portava um outro arco do Senhor
Siva, o arco-irmã daquele quebrado pelo Senhor Rama. Se Rama
fosse capaz de encordoá-lo e atirar uma flecha mágica,
Parasurama O deixaria passar. Obviamente, Rama o fez, provando
ser a Suprema Personalidade de Deus a outra forma da Suprema
Personalidade de Deus. Trata-se de um passatempo do Senhor.
O tempo passou alegremente em Ayodhya. O rei Dasaratha
decidiu aposentar-se e coroar Rama o próximo rei. A cidade
regozijou-se e fez preparações para o grande festival. Uma
pessoa, entretanto, não ficou contente. Manthara era tal pessoa, a
criada corcunda da rainha Kaikeyi, a mais nova das três rainhas
do rei Dasaratha e também a sua favorita. Imaginando o declínio
de sua fortuna pessoal como a criada de uma rainha que não
fosse a mãe do próximo rei, Manthara aproximou-se de Kaikeyi e
a convenceu de que ela, Kaikeyi, agora não tinha mais futuro.
Confabulando em segredo, as duas mulheres tramaram uma
conspiração envolvendo dois favores especiais que Dasaratha
certa vez prometera dar a Kaikeyi muitos anos atrás quando ela o
salvou em um campo de batalha. À época, ela não decidiu o que
queria, e havia deixado os favores para um tempo quando ela
poderia precisar deles.
A rainha Kaikeyi recolheu-se para a sala interior de seus
aposentos, uma sala reservada para a disposição de
descontentamento. Ela soltou seu cabelo, atirou suas jóias pelo
cômodo e deitou-se no chão. Quando Dasaratha a encontrou
lá, ele perguntou a ela o que havia de errado, ao que ela
respondeu desejar então receber os dois favores a ela devidos.
Quando seu preocupado esposo prometeu conceder-lhe
qualquer coisa que ela quisesse, ela lhe disse: “Conceda-me
que meu filho Bharata seja coroado rei ao invés de Rama, e
exile Rama na floresta por 12 anos!”.
Dasaratha não podia voltar atrás em sua promessa, e ninguém
poderia dissuadir Kaikeyi de sua determinação. Dasaratha era um
homem de coração partido. Rama aceitou a ordem de ir para a
floresta como se fosse uma requisição de Seu próprio pai, e tanto
Seu irmão Laksmana como Sua esposa, Sita, insistiram em
acompanhá-lO em tal exílio. Todos eles vestiram trajes de casca de
árvore, os quais foram avidamente providenciados por Kaikeyi.
Um quadrigário os conduziu para fora da cidade. Toda a
população, movida por pesar e por amor ao Senhor Rama,
seguiu-os e dormiu na floresta com eles. Todavia, cedo pela
manhã, antes que os cidadãos acordassem, o grupo exilado
silenciosamente embarcou na quadriga a fim de fugirem do povo.
Afinal, Rama concordara em exilar-Se, e não haveria exílio caso a
cidade fosse junto com eles.
Tendo enviado o quadrigário de volta à cidade, e tendo deixado os
arredores da cidade de Ayodhya e a companhia dos sábios da
floresta que viviam na área; Rama, Laksmana e Sita estavam agora
completamente sozinhos. Aqui, eles encontraram o primeiro de
muitos demônios. Este era Viradha, que tinha cabeças de animais
amarradas em sua lança, e que agarrou Sita. Uma batalha foi
travada, e Rama o matou, libertando-o de uma maldição.
Laksmana construiu um chalé para Rama e Sita, e lá todos eles
viveram uma vida simples e humilde por muitos anos. Os sábios e
eremitas da floresta circundante frequentemente iam visitá-los e
solicitavam proteção contra os demônios raksasas que estavam
atacando e matando sábios. Rama e Laksmana mataram muitos
de tais demônios comedores de pessoas ao longo dos anos.
Um dia, uma demônia chamada Surpanakha passou por acaso
próxima ao chalé. Escondendo-se nas árvores, ficou a contemplar
a beleza da forma de Rama e a desejá-lO sexualmente. Tão
fortemente ela O desejou que se esqueceu de fazer o que era
capaz: ela se esqueceu de transformar-se em uma mulher atrativa.
Em sua própria forma horrenda, ela abordou Rama e solicitouLhe que deixasse Sua esposa “magricela”, Sita, e se casasse com
ela.
Rama havia feito o voto de não aceitar nenhuma outra esposa
senão Sita, muito embora a cultura de seu tempo O permitisse ter
muitas esposas. Ele, por conseguinte, não teria satisfeito o pedido
de Surpanakha mesmo se ela houvesse se apresentado como uma
mulher belíssima e qualificada, mas, como ela apresentou-se
como uma demônia horrenda, Ele a troçou: “Eu sou casado, mas
por que não ficas com meu irmão mais novo, que não tem
nenhuma esposa aqui consigo?”. Ela voltou seu olhar para
Laksmana e o considerou também muito atrativo. Laksmana,
contudo, também entrou no mesmo jogo, oferecendo Rama como
a melhor escolha. Irando-se, Surpanakha repentinamente atacou
Sita, ante o que Laksmana, em um instante, decepou o nariz e as
orelhas de Surpanakha.
Surpanakha primeiramente recorreu ao seu irmão Khara, o qual
possuía um exército à sua disposição. Vendo a desfiguração de sua
irmã e sentindo que sua posição como o senhor demônio da
floresta havia sido insultada, Khara primeiramente enviou
quatorze demônios guerreiros para matarem os três humanos.
Rama, entretanto, matou-os todos, em razão do que Khara reuniu
seu exército e rumou para o ataque. No caminho, maus presságios
se fizeram ver, tais como um abutre sobre sua quadriga, corvos,
chacais uivantes, chamas ao redor do sol e nuvens que choviam
sangue. Em seu orgulho, Khara ignorou os presságios...
Não é uma boa idéia ignorar maus presságios, como esta
ilustração retrata. Rama matou todas as tropas de Khara, e seus
cavalos, quadrigário, quadriga e arco foram todos destruídos.
Após um duelo, o próprio Khara foi morto, e Rama revelou-Se
completamente vitorioso. Laksmana não participou dessa
contenda; ele ficou fazendo a guarda de Sita.
Surpanakha foi, em seguida, ao seu irmão mais velho, de nome
Ravana, o mais perigoso de todos os demônios raksasas, ele que
era possuidor de dez cabeças. Astuciosa em seus métodos de
buscar por vingança, ela não apenas relatou em prantos a Ravana
sobre seu desfiguramento e sobre a morte de seu irmão Khara,
mas também encontrou oportunidade para mencionar a Ravana
que Sita era a mulher mais bela do mundo. Ravana, famoso por
derrotar e aterrorizar os semideuses, era conhecido também por
seu harém, que ele acumulara seqüestrando esposas e princesas
de todo o universo. Agora, tornou-se obcecado pela idéia de
roubar Sita de Rama.
Aqui vemos Ravana buscando pela ajuda do demônio Maricha
para a execução de um plano. Curiosamente, Maricha era um dos
demônios flechados por Rama para dentro do oceano quando
Sua ajuda foi solicitada pelos sábios no começo da história.
Tendo presenciado outras proezas similares por parte de Rama,
Maricha havia decidido abandonar suas atividades demoníacas e
tornar-se um sábio. Desrespeitando a decisão de Maricha,
Ravana solicitou-lhe que se transformasse em um veado dourado
a fim de assistir-lhe na trama. Quando Maricha tentou recusar,
Ravana ameaçou matá-lo, após o que Maricha decidiu que seria
melhor ser morto por Rama do que por Ravana. Maricha então
concordou em ajudar.
A trama era esta: Maricha, como um veado dourado,
místico e belo, apareceria próximo ao chalé de Rama, Sita e
Laksmana, e Sita, enlevando-se com a visão do mesmo,
pediria a Rama para capturar o veadinho como um animal
de estimação. Caso ambos os irmãos, Rama e Laksmana,
pudessem ser afastados desse modo, Sita seria deixada
desprotegida e Ravana poderia se apossar dela.
O que concretamente se sucedeu foi o seguinte: Rama de fato
concordou em adentrar a floresta com o intento de tentar
capturar o veado; todavia, dado que Laksmana suspeitava de
algo por trás daquilo, Rama ordenou que Laksmana
permanecesse no chalé e desse proteção a Sita. Na floresta,
Rama suspeitou do atraiçoamento e atirou uma flecha para
matar o veado místico. Enquanto Maricha agonizava deitado,
esforçou-se para exclamar: “Socorro! Laksmana! Socorro!”, o
que fez com a voz de Rama. Ouvindo isso, Sita implorou a
Laksmana que partisse em auxílio a Rama.
Laksmana tinha conhecimento de que nada poderia ferir Rama
ou lesá-lO de algum modo, mas, quando Sita, perturbada e
agitada devido ao temor que algo acontecesse com Rama,
acusou Laksmana de querer que Rama morresse de sorte que
ele próprio pudesse ficar com Sita para si, Laksmana se
magoou profundamente e concordou em sair em busca de seu
irmão. Ele desenhou um círculo místico de proteção ao redor
de Sita e do chalé e disse a Sita que permanecesse dentro do
círculo. Ele, então, partiu a fim de encontrar Rama. Uma vez
que ele partira, Ravana foi até o chalé disfarçado de um
brahmana idoso e enfraquecido por falta de alimento. Tomada
de compaixão, Sita ofereceu-lhe alimento, dando um passo
para fora do círculo para fazê-lo. Ravana imediatamente
revelou sua natureza verdadeira e agarrou Sita a fim de forçá-la
a entrar em sua quadriga ali próxima, quadriga esta puxada
por asnos com rostos de hobgoblins.
Alto no céu voava a quadriga, com Sita gritando por socorro. Um
heróico empreendimento de socorro se fez por parte de Jatayu, um
abutre ancião amigo do pai de Rama, o rei Dasaratha. Jatayu não
era um pássaro comum, e atacou Ravana, destruindo com o
ataque a quadriga do demônio. Ravana, no entanto, flechou Jatayu
com muitíssimas flechas. Ambos caíram ao solo. Jatayu ficou
caído e mortalmente ferido, e Ravana agarrou Sita e voou embora
com ela sem a ajuda de sua quadriga.
Não encontrando Sita, Rama correu pela floresta lamentando
enquanto exclamava o nome de Sita e perguntava se alguém sabia
de seu paradeiro. Laksmana errara por ter desobedecido à ordem
de seu irmão, em virtude do que mantinha sua cabeça baixa. Os
animais silvestres também estavam de luto.
Enquanto isso, Ravana, tendo transposto o oceano, havia
carregado Sita até o seu reino de Lanka, onde a deixou sob
guarda, rodeada por demônias em um pequeno bosque. Devido a
uma maldição, Ravana, temendo a morte, não ousava forçar-se
sobre uma mulher, mas ele contava que ganharia Sita por seu
considerável charme masculino. Ante o evento do fracasso de seu
encanto masculino, ele disse a Sita que, caso ela não o aceitasse;
ao final de um ano, ele a devoraria como seu desjejum. Sita,
sentindo-se desprovida de alternativa, decidiu jejuar até a morte.
Ao tomarem conhecimento de tal decisão, os semideuses ficaram
ansiosos, receando que a morte de Sita desalentasse Rama e Ele
não matasse Ravana.
Os semideuses temiam Ravana muito fortemente, e contavam
com Rama para livrar o universo dessa ameaça. Portanto, o
semideus Indra foi até Sita com uma tigela de arroz doce, que,
tendo sido oferecido à Suprema Personalidade de Deus, era um
alimento espiritual. O arroz doce carregava a bênção de que
aquele que o comesse jamais sentiria fome. Sita, em respeito ao
alimento espiritual, aceitou-o, abrindo mão de sua idéia de jejuar
até a morte. Acompanhando Indra estava a semideusa Nidra, que,
pela duração do encontro, adormeceu as demônias.
Rama e Laksmana encontraram o agonizante pássaro Jatayu, que,
com sua última exalação, disse-lhes o que havia acontecido. Os
irmãos então partiram pela floresta em direção ao oceano, a
centenas de quilômetros de distância. No caminho, foram
repentinamente capturados por um demônio gigantesco e terrível
chamado Kabandha, demônio este destituído de cabeça e
possuidor de braços de 13 quilômetros de comprimento. Rama e
Laksmana lutaram, ceifando-lhe os grandes braços, e Kabandha
caiu ao chão.
Kabandha contou-lhes então sua história: Ele fora um semideus
que gostava de assumir a forma de um demônio para assustar as
pessoas. Um sábio, enraivecido por essa conduta, amaldiçoara-o a
permanecer um demônio. Tal sábio, contudo, disse-lhe que ele
seria livrado dessa maldição no dia em que fosse morto por Rama
e Laksmana. Posteriormente, em uma luta com Indra, ele foi
atingido pelo raio do semideus, o qual comprimiu sua cabeça para
dentro de seu tronco. Por bondade, Rama e Laksmana
terminaram de matá-lo e cremaram o seu corpo. Enquanto
Kadamba, em seu próprio belíssimo corpo de semideus, ascendia
aos céus, ele disse a Rama que buscasse a ajuda dos grandes
macacos subordinados ao rei macaco Sugriva.
Na selva, Rama e Laksmana encontraram os
macacos Sugriva, Hanuman e seus companheiros.
Um grupo de macacos foi enviado em direção ao sul, rumo ao
oceano. Tendo sido informados por uma testemunha que Sita
havia sido levada por sobre o oceano, os macacos selecionaram
Hanuman como o único capaz de pulá-lo. Destarte, Hanuman
tornou-se imenso e saltou do topo de uma montanha, voando por
sobre as ondas até Lanka em busca de Sita.
Tendo chegado a Lanka, Hanuman fez-se imperceptivelmente
pequeno e rondou a cidade até encontrar Sita no pequeno bosque
rodeada por demônias a dormirem. No primeiro momento, Sita
suspeitou que aquilo poderia se tratar de outro artifício de Ravana
para atormentá-la, mas Hanuman convenceu-a de que não, isso
cantando as glórias de Rama, descrevendo-O corretamente e, por
fim, presenteando-a com o anel de Rama, o qual ela reconheceu.
Hanuman foi capturado pelos soldados de Ravana, que, não
levando um mensageiro-macaco muito a sério, decidiram
humilhá-lo ao invés de matá-lo. Eles incendiaram sua calda, mas
ele retaliou incendiando a cidade. Ele proferiu um aviso de que o
reino de Ravana estava fadado à ruína em decorrência da ofensa
de Sita ter sido raptada, após o que saltou novamente por sobre o
oceano para levar notícias ao Senhor Rama.
Rama tinha um exército de milhões de macacos, mas havia uma
grande extensão de água entre Suas tropas e Seu objetivo. O
semideus do oceano prometeu, entretanto, que pedras boiariam de
modo que uma ponte pudesse ser construída. Os macacos
trabalharam duramente, carregando não apenas pedregulhos, mas
também árvores, para construírem a ponte, que, por fim, foi
concluída. Todo o exército dos macacos marchou por ela.
A cidade de Lanka acordou na manhã seguinte rodeada por
milhões de soldados-macacos. Ravana também tinha vastas
tropas de demônios à sua disposição, e uma grande batalha se
fez acontecer. Em um momento, centenas de flechas-serpentes
foram atiradas contra Rama e Laksmana, que caíram no campo
de batalha aparentemente mortos. A grande águia Garuda
chegou a fim de resgatá-los. Garuda é o transportador do Senhor
Visnu. Ele desejou servir o seu Senhor no passatempo do Senhor
como Sri Ramacandra.
Flechas-serpentes são de fato serpentes, porém misticamente
transformadas em flechas. Garuda, entretanto, come cobras, e as
flechas-serpentes ficaram com medo ao vê-lo. Todas as serpentes
retomaram suas formas originais de cobra e rapidamente
serpearam embora. Garuda então tocou Rama e Laksmana,
curando-os de suas feridas.
A batalha prosseguiu violentamente por dias. Visto que estava
perdendo seus generais mais importantes, Ravana decidiu que era
o momento de despertar Kumbakarna de seu sono. Kumbakarna
era irmão de Ravana. Seu atributo único era o fato dele ser um
gigante. Tempos atrás, ele criou grande caos no universo por
comer muitíssimas pessoas, o que fez com que os semideuses
amaldiçoassem-no a dormir 364 dias ao ano, acordando apenas
um dia para comer.
Kumbakarna dormia em uma caverna subterrânea cuja dimensão,
para comportar sua imensa forma, era de 13 quilômetros. Tropas
de demônios entraram na caverna, tendo de tolerar furacões de
mau hálito vindo da boca aberta do demônio a roncar. Eles
levaram baldes de sangue para alimentá-lo, e fizeram barulhos
altíssimos e galoparam cavalos, camelos, elefantes e burros ao
redor de seu peito. Não foi uma empreitada simples despertar o
gigante adormecido.
Quando Kumbakarna finalmente despertou e juntou-se à
batalha, ele aniquilava milhares de macacos com um mero
brandir de sua maça, e, com sua mão, pegava punhados de
macaco, trinta por vez, e os levava até sua boca para então comêlos. Os macacos arremessavam pedras e topos de montanha
contra ele, mas sem eficácia alguma. Por fim, Rama o matou,
primeiramente cortando um braço, então o outro, então suas
pernas, e, finalmente, sua cabeça.
Furiosamente seguia a batalha, e Rama e Laksmana foram feridos
tão gravemente por flechas especiais que se considerou que
somente uma erva específica de uma montanha do Himalaia
poderia salvá-los. Hanuman novamente saltou aos céus e voou
para o Himalaia; todavia, ao chegar na montanha, ele viu que a
montanha não lhe revelava a erva específica que era necessária.
Ele, devido a isso, ergueu a montanha inteira e a levou consigo
para o campo de batalha, onde peritos puderam encontrar a erva e
tratar Rama e Laksmana, bem como todo o exército de macacos.
Todos os generais de Ravana haviam sido mortos e agora Ravana
pessoalmente desafiava Rama. Para a ocasião, Indra havia dado ao
Senhor Rama uma quadriga de ouro, e os dois se confrontaram em
uma vigorosa e grandessíssima batalha. Rama atirava flechas que
decepavam as cabeças de Ravana, mas, a cada cabeça que caía,
outra crescia enquanto Ravana continuava atirando flechas contra
Rama. Finalmente, Rama fixou uma grandiosa flecha mística em
Seu arco e atingiu Ravana no coração, colocando fim à sua vida.
A grande guerra findou-se. Sita foi devolvida a Rama... mas Rama
fingiu desconfiar-Se dela. Sita havia sido fiel a Ele ou não? Ele
ofereceu liberdade a ela. Com seu coração triturado, Sita preparou
uma pira, acendeu a mesma e entrou nas chamas. No instante
seguinte, o deus do fogo, Agni, devolveu-a completamente ilesa e
disse ao Senhor Rama: “Tendes de aceitá-la, Senhor; ela é
completamente pura”. Rama então a aceitou de volta muito
afetuosamente. Ele disse a ela: “Eu sabia que foras fiel a Mim; Eu
queria, entretanto, provar isso ao mundo inteiro de maneira que
ninguém pudesse dizer algo contra ti”. Deste modo, eles
alegremente se reuniram novamente.
O tempo determinado para o período de exílio então chegou ao
fim, e era chegado o momento do retorno a Ayodhya. Rama,
Laksmana, Sita, Sugriva, Hanuman e muitos outros embarcaram
no maravilhoso aeroplano de flores de Ravana, o qual havia sido
roubado dos semideuses, e nele voaram de volta para Ayodhya.
Bharata, o irmão de Rama em favor de quem o exílio havia sido
tramado, jamais aceitara a posição de rei, senão que havia
governado o reino como representante de Rama. Houve grande
regozijo ante o triunfante retorno de Rama, o rei legítimo, perfeito
e plenamente bem-aventurado.
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