Evolução da Área Bruta Locável de Shopping Centers Regionais: um Estudo Exploratório. Autoria: Victor Manoel Cunha de Almeida e Eduardo Saliby RESUMO O acirramento da concorrência, especialmente no cenário varejista das capitais brasileiras, onde os shopping centers iniciaram o seu processo de seu desenvolvimento e expansão, constitui o pano de fundo para o presente estudo. Trata-se de uma pesquisa documental sobre a evolução do porte dos shopping centers filiados a Abrasce – Associação Brasileira de Shopping Centers. O estudo buscou responder à seguinte pergunta: O porte dos shopping centers regionais, filiados a Abrasce, sediados nas capitais de RJ e SP, inaugurados na década de 90, é menor do que o porte dos empreendimentos do mesmo tipo, inaugurados nas décadas de 60 a 80 ? A resposta à pergunta baseou-se fundamentalmente em estatísticas descritivas uni e multivariadas, e no uso da técnica de análise discriminante. A metodologia utilizada permitiu, através da análise dos dados secundários, chegar a resultados que forneceram insights sobre a ocupação de espaços e defesa da área de influência pelos shopping centers regionais. No tocante ao porte dos shopping centers, pode-se constatar uma diferença significativa na área bruta locável dos shopping centers regionais, localizados nas capitais de RJ e SP, inaugurados na década de 90, em relação àqueles inaugurados anteriormente. Uma contribuição adicional do estudo reside na revisão de literatura, onde se procedeu a um levantamento bibliográfico sobre a teoria existente sobre os shopping centers e sua tipologia; localização de centros varejistas e localização de shopping centers, resultando ainda numa série de sugestões para novas pesquisas. 1 ORIGEM, IMPORTÂNCIA E OBJETIVOS DO ESTUDO O estudo do desenvolvimento da indústria brasileira de shopping centers, por si só, já se mostraria relevante na medida em que são raros os estudos desta natureza, talvez por se tratar de um setor relativamente novo no cenário nacional – o primeiro shopping center brasileiro, o Shopping Iguatemi de São Paulo, foi inaugurado em 1966. Entretanto, a indústria brasileira de shopping centers vem ganhando importância a cada dia no cenário de varejo, representando, em 1998, de acordo com a Abrasce – Associação Brasileira de Shopping Centers, um faturamento de 14 bilhões de dólares, ou 18% das vendas a varejo (excluindo o setor automotivo). Em agosto de 1999, o setor empregava 277 mil pessoas e totalizava um universo de 159 unidades filiadas, com uma oferta global de 27.054 lojas satélites e 372 lojas âncoras. O vigoroso crescimento desta indústria no Brasil - nos últimos 5 anos, foram inaugurados 51% dos empreendimentos filiados a Abrasce - tem provocado uma intensificação na rivalidade e competição interna do setor, na medida em que, de um lado, os melhores terrenos nas melhores cidades tem sido rapidamente ocupados e, de outro, o setor varejista não tem apresentado um crescimento tão vigoroso no número de novas marcas de varejo. Isto tem levado os planejadores e desenvolvedores a uma busca de diferenciação para os novos projetos, iniciando-se pela própria vocação comercial do shopping center, diminuindo-se a ênfase nos shopping centers regionais e privilegiando-se as demais tipologias, como é o caso dos shopping centers temáticos, especializados, comunitários e de vizinhança. Esta mudança 1 nos rumos do desenvolvimento dos novos projetos se intensificou na década de 90, especialmente nas capitais brasileiras. Constituiu, portanto, o objetivo deste estudo, analisar a evolução da área bruta locável dos shopping centers regionais localizados nas capitais de São Paulo e Rio de Janeiro. Os resultados obtidos possibilitaram um confronto com a teoria existente no campo da geografia do varejo e, especificamente, com os modelos mais aceitos de planejamento de shopping centers. A principal contribuição do estudo reside neste confronto da prática da indústria brasileira com os conceitos e teorias emprestados da cultura norte-americana, de onde o próprio conceito de shopping center foi importado na década de 60. 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1. Shopping Centers e sua Tipologia Berman e Evans (1986, p.221) definem um shopping center como se segue: “Um shopping center planejado pertence a um grupo empreendedor, é administrado centralmente, é planejado como uma unidade, é baseado num tenant mix balanceado (os grupos de lojas se complementam em termos da qualidade e variedade da sua oferta de produtos), e oferece estacionamento junto ao empreendimento.”. Complementam dizendo que um shopping center planejado contempla uma ou mais lojas âncoras, ou lojas geradoras de tráfego, e uma variedade de lojas menores. De acordo com Burstiner (1986, p.248), um shopping center deve ser projetado para oferecer a conveniência de one-stop shopping para o consumidor e que, portanto, deve ser erguido em terreno acessível a motoristas. O ICSC (1999) define shopping center como sendo “Um grupo de lojas e outros estabelecimentos comerciais que é planejado, desenvolvido, possuído e administrado como uma propriedade individual. Existe oferta de estacionamento junto ao empreendimento. O tamanho do shopping center e sua orientação comercial são determinadas geralmente pelas características do mercado da área de influência servida pelo shopping center.”. Rocha e Christensen (1995, p.163) ensinam que os shopping centers são uma aglomeração de lojas, planejada de forma a atender amplo conjunto de necessidades do consumidor, contrapondo-se desta forma, às aglomerações espontâneas de varejistas. Em 1986, Berman e Evans (1986, p.224-226) e Burstiner (1986, p.248-249) classificavam os shopping centers em três grupos: shopping de vizinhança; shopping de comunidade; e shopping regional. Em 1988, Davidson, Sweeney e Stampfl (1988, p. 242-243) declaravam que os principais fatores que distinguem os shopping centers são o seu tamanho e o número de lojistas. Os autores apontavam quatro tipos de shopping centers, acrescentando o shopping super regional. O ICSC (1999) tipifica e detalha as principais características dos shopping centers, acrescentando os seguintes grupos àqueles já mencionados: a) Fashion/Specialty Center; b) Power Center; c) Theme/Festival Center; e d) Outlet Center. A Abrasce (1998 e 1999) também tipifica os shopping centers associados. Sendo uma organização associada ao ICSC, sua classificação se aproxima daquela oferecida pela instituição norte americana, a saber: a) Shopping Regional; b) Shopping Comunitário; c) Shopping de Vizinhança; d) Shopping Especializado; e) Outlet Center; e f) Festival Center. A Abrasce (1999) caracteriza o Shopping Regional como sendo aquele que fornece mercadorias em geral (uma boa porcentagem de vestuário) e serviços completos e variados. Suas atrações principais são âncoras tradicionais, lojas de departamento de descontos ou hipermercados. Um shopping regional típico é geralmente fechado, com as lojas voltadas para um mall interno. 2 2.2. Localização de Centros Varejistas O estudo da localização de centros varejistas assume particular importância a partir do início da década de sessenta, especialmente com o trabalho de Berry, publicado sob o título de Geography of Market Centers and Retail Distribution. De acordo com Berry e Parr (1988, p.1): “A troca tem lugar nos mercados. Mercados existem onde um número de vendedores e compradores se comunicam, e os preços ofertados pelos vendedores e pagos pelos compradores são afetados pelas decisões de cada grupo. Um mercado, então, é um sistema que produz preços auto regulados; os preços, por sua vez, constituem mecanismos que conectam as ações individuais de escolha ou decisões.”. De acordo com os autores, é justamente nos market-places, locais que se distinguem pelas características sociais, econômicas e culturais de seus vendedores e compradores, que as trocas diárias de bens e serviços aconteceriam, sejam estes feiras de rua, centros tradicionais de comércio de cidades, centros de comércio especializado, ou até shopping centers, nas suas mais variadas formas. Ainda conforme os autores (1988, p.2), a essência da geografia do varejo e de serviços é o agrupamento dos estabelecimentos em market centers, visitados pelos consumidores do entorno; o tamanho e composição do agrupamento depende da demanda agregada dos consumidores da região que percebem o market center como sendo seu ponto focal. 2.2.1. Central-place Theory De acordo com Berry e Parr (1988, p.2), a idéia de centralidade decorre do fato de que os consumidores que necessitam visitar um dado market center regularmente irão preferir aqueles centros que ofereçam uma localização que minimize seus esforços de deslocamento. Os consumidores estariam dispostos a realizar apenas viagens curtas para satisfazer suas necessidades mais freqüentes de bens e serviços, deixando para viagens mais longas as compras de itens menos freqüentes ou que poderiam ser postergados. Essa idéia levou ao desenvolvimento da central-place theory, que tem por objetivo explicar a localização, o tamanho, as características funcionais e disposição espacial das concentrações de varejo e serviços. De acordo com Barry e Parr (1988, p.3), “Central-place theory ... constitui, portanto , a base teórica e descritiva da geografia do varejo e de serviços.”. 2.2.2. Modelo Gravitacional Um aspecto importante na análise da localização de um shopping center num ambiente competitivo de varejo, diz respeito às possibilidades de mensuração do impacto que um novo empreendimento poderia causar num ambiente já estabelecido. Davidson, Sweeney e Stampfl (1988, p.261) abordam o modelo gravitacional: “Modelos gravitacionais são empregados no varejo para estimar as vendas de novas lojas e o impacto potencial nas vendas das lojas pré existentes dos competidores ou nas outras lojas da companhia no mesmo mercado.”. Ainda de acordo com os autores, o modelo foi originalmente aplicado para estudar a atratividade de mercados por Reilly e Converse; subseqüentemente o modelo foi reformado por David Huff, que introduziu conceitos probabilísticos. Davidson, Sweeney e Stampfl (1988, p.262) explicam que o modelo de Huff utiliza a noção básica gravitacional de que a atração exercida sobre um consumidor na área i por um centro varejista na localização j seria diretamente proporcional ao tamanho do centro varejista e inversamente proporcional à distância do consumidor a este centro e, ainda, que o tamanho parece ter mais importância na explicação do poder de atração dos shopping centers. 3 2.3. Localização de Shopping Centers McCollum (1985, p.10-15) sustenta que a pesquisa de mercado envolve o exame detalhado das informações sobre a cidade, distrito, ou áreas metropolitanas. Que a pesquisa deve explorar fatores tais como a economia local, população, crescimento da renda, tendências das vendas no varejo, e situação da concorrência, como um meio de determinar se um mercado específico suporta o desenvolvimento de uma nova operação varejista. Para McCollum (1985, p.17), “O resultado mais importante da análise da área é que esta informa ao analista se a economia é forte e se a área pode suportar um desenvolvimento adicional de varejo.” Mais especificamente, a pesquisa de mercado da região revelará a força e a natureza da base de emprego, os centros geográficos da população e o potencial de crescimento da população, as categorias de varejo mais fortes, e o potencial de vendas projetado para a região. 2.3.1. Análise da Área de Influência McCollum (1985, p.17) define área de influência: “A área de influência é o setor geográfico de onde os clientes regulares que darão suporte a dado shopping center serão obtidos. As fronteiras são determinadas por fatores tais como a natureza do próprio centro, acessibilidade, barreiras físicas, localização de complexos competidores, e limitações de tempo de deslocamento e distância. A área de influência é normalmente dividida em duas ou três zonas de forma a ilustrar as variações do impacto do shopping center proposto.”. Ainda de acordo com McCollum (1985, p.17-18), a área de influência é básica para a determinação da população de clientes a ser atraída e, consequentemente, para a quantidade de vendas que o shopping espera gerar. Uma vez estabelecida a área de influência, o analista a subdivide em zonas. As fronteiras dessas zonas relacionam-se não somente a distância, mas também a dados da população e conhecimento do varejo concorrente. McCollum (1985, p.20-21) explica que os dados sobre a população e renda do local são utilizados para determinar o potencial de vendas da área de influência, utilizando-se os métodos de renda ou gastos per capita, da mesma maneira que foram usados na análise econômica da região. Ainda de acordo com o autor: a) Se a abordagem da renda é usada, o potencial de vendas de artigos de compra comparada é estimado como uma porcentagem da renda total projetada; b) Se a abordagem do gasto per capita é utilizada, o potencial total de vendas de artigos de conveniência e de compra comparada de cada zona é função do crescimento estimado da população e dos gastos per capita projetados para os próximos 10 anos. 2.3.2. Análise da Concorrência De acordo com McCollum (1985, p.23-25), a análise do alinhamento competitivo com a região metropolitana é parte vital da análise da área de influência. A análise da concorrência deve indicar as principais áreas de varejo, existentes ou sob perspectiva de lançamento, sejam shopping centers ou varejistas importantes da região metropolitana, bem como aquelas unidades que irão afetar diretamente o shopping proposto. A análise desses dados indicaria a quantidade de vendas possível para as lojas âncoras do shopping proposto, levando a uma de duas conclusões: a)as unidades de varejo existentes na área de influência não são adequadas para servir ao mercado, portanto, estariam perdendo vendas para outras partes da região metropolitana que oferecem uma maior variedade de mercadorias. Consequentemente, a demanda por um novo shopping existiria; b) as unidades existentes na área de influência analisada são suficientes, eliminando a demanda por um novo shopping pelo menos pelos próximos cinco anos. 4 2.3.3. Potencial de Vendas do Shopping Center McCollum (1985, p.25) sustenta que uma parte vital desta análise preliminar ao desenvolvimento é a determinação do potencial de vendas do shopping center proposto. Explica que tal análise demonstra a eventual lucratividade do centro e quão bom será o seu desempenho no mercado, além de formar a base para os cálculos do tamanho ótimo do shopping center proposto. Ainda de acordo com o autor, existiriam duas abordagens para estimar o potencial de vendas: a abordagem da participação de mercado e a abordagem das vendas residuais. McCollum (1985, p.25-30) detalha como determinar o potencial de vendas do shopping center proposto pelo método da Participação de Mercado: “A abordagem da parcela de mercado essencialmente assume que o shopping center irá obter uma certa percentagem do potencial de vendas da área de influência. Na medida em que as lojas de departamento constituem a principal atração dos shopping centers, a parcela de mercado usualmente é calculada para estas lojas antes de qualquer estudo para as lojas satélites.”. McCollum (1985, p. 30-32) explica como determinar o potencial de vendas do shopping center proposto pelo método da Análise Residual: “Outra forma de verificar as estimativas de potencial de vendas, obtidas através da análise de parcela de mercado, é a chamada análise residual. Neste procedimento analítico, o analista está buscando as vendas que restam depois de deduzir a parcela alocada aos complexos varejistas existentes. Esta venda residual representa o potencial não satisfeito no mercado.”. Ainda de acordo com o autor (1985, p. 32), em casos onde as vendas residuais da área de influência são grandes, a probabilidade é que os gastos dos residentes estejam escoando para unidades fora da área de influência. Isso seria uma boa indicação de que um novo shopping poderia de fato ser bem sucedido. 3. METODOLOGIA 3.1. Perguntas da Pesquisa • O porte dos shopping centers regionais, filiados à Abrasce, sediados nas capitais de RJ e SP, inaugurados na década de 90, é menor do que o porte dos empreendimentos do mesmo tipo, inaugurados nas décadas de 60 a 80 ? 3.2. Variáveis Para responder à pergunta, foram investigadas as seguintes variáveis em relação a cada shopping center: a) Data de Inauguração; b) Localização – cidade e unidade da federação onde se localiza o shopping center; c) Área Bruta Locável – espaço privativo do shopping center, em m2, ocupado ou não, destinado a locação; d) Área Total do Terreno – área total do terreno, em m2, total ou parcialmente ocupada, onde se localiza o shopping center; e) Área Total Construída – área total construída, em m2, contemplando áreas comuns e privativas do shopping center; f) Número de Pisos – número de pisos do edifício, incluindo áreas comuns e privativas do shopping center; g) Vagas de Estacionamento – número de vagas físicas, destinadas a estacionamento de veículos de usuários do shopping center; h) Lojas Satélites – número de lojas satélites do shopping center, ocupadas ou não; i) Lojas Âncoras – número de lojas âncoras do shopping center, ocupadas ou não; j) Tipo de Shopping – classificação do shopping, conforme a tipologia da Abrasce. 5 3.3. Metodologia e População No que diz respeito ao objetivo e grau em que o problema de pesquisa está cristalizado, consideramos este trabalho como sendo de natureza exploratória, na medida em que o tema do presente estudo é praticamente inexplorado na literatura brasileira. Mattar (1997, p. 77), discutindo sobre os propósitos da pesquisa exploratória, registra que “ ... seus propósitos imediatos são o de ganhar maior conhecimento sobre um tema, desenvolver hipóteses para serem testadas e aprofundar questões a serem estudadas.”. Ainda de acordo com Mattar (1997, p. 80), “... a pesquisa exploratória visa prover o pesquisador de um maior conhecimento sobre o tema ou problema de pesquisa em perspectiva. Por isso, é apropriada para os primeiros estágios da investigação quando a familiaridade, o conhecimento e a compreensão do fenômeno por parte do pesquisador são, geralmente, insuficientes ou inexistentes.”. Constituiu objeto do presente estudo a análise de todos os shopping centers filiados a Abrasce – Associação Brasileira de Shopping Centers, inaugurados ou com data de inauguração prevista até o mês de dezembro de 1999. A delimitação do estudo aos empreendimentos filiados a Abrasce objetivou o estabelecimento de um critério objetivo para a seleção dos shopping centers a serem analisados. De acordo com a Abrasce (1998, p. 3), o Conselho Deliberativo da Associação, ao conceder o selo Abrasce a um dado empreendimento, “expressa sua convicção de que o shopping está projetado ou desenvolvido com obediência a preceitos internacionalmente consagrados pela indústria de shopping centers, de aplicação geralmente bem sucedida em empreendimentos anteriores.”. 3.4. Coleta, Análise dos Dados e Limitações Os dados foram obtidos através de levantamentos em fontes secundárias, tais como os relatórios publicados pelas associações de classe da indústria de shopping centers, em publicações internas e sites na internet das já citadas associações. De acordo com Mattar (1997, p. 82), “Os levantamentos em fontes secundárias compreendem: levantamentos bibliográficos, levantamentos documentais, levantamentos de estatísticas e levantamento de pesquisas realizadas.”. Gil (1995, p. 73) ensina que a pesquisa documental vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa.”. Os dados sobre as características dos shopping centers, obtidos para o presente estudo, foram tratados estatisticamente utilizando-se para tal o software SPSS. Elaborou-se uma descrição uni e multivariada das características dos shopping centers em estudo. Também utilizou-se o procedimento estatístico de análise discriminante para para avaliar a diferença entre os shopping centers, localizados nas capitais brasileiras, que foram inaugurados antes ou durante a década de 90. De acordo com Klecka (1981, p. 7-8), a análise discriminante é uma técnica estatística que permite ao pesquisador estudar as diferenças entre dois ou mais grupos de objetos em relação a diversas variáveis ou classificar quaisquer casos nos grupos em que eles mais se assemelham. Gil (1995, p. 72) sustenta que as limitações impostas pela pesquisa documental são praticamente aquelas que se observam também na pesquisa bibliográfica, especialmente quando se trata de documentos de segunda mão, ou seja, aqueles que de alguma forma já foram analisados, sintetizados por terceiros. Argumenta que a maior limitação proporcionada pela pesquisa bibliográfica reside no fato de que as fontes secundárias podem apresentar dados coletados ou processados de forma equivocada. Desta forma, um trabalho fundamentado nessas fontes tenderá a reproduzir ou mesmo a ampliar seus erros. 6 4. RESULTADOS Quando observamos a evolução do número de inaugurações de shopping centers ao longo das últimas décadas (Figura 1), notamos um padrão claro de crescimento nesta indústria. Ano após ano aumenta o número de empreendimentos que abrem suas portas ao mercado. Podemos notar, também, que o crescimento da indústria se inicia nos anos 80 e toma um vigoroso impulso a partir dos anos 90. Os anos 60 e 70 se caracterizaram pela inauguração dos shopping centers pioneiros. Quando examinamos a ABL, área bruta locável, que pode ser considerada o principal indicador do porte de um empreendimento, verificamos que o conjunto de todos os shopping centers apresenta uma média de 23.147 m2 de abl. Entretanto, analisando-se mais detidamente a distribuição da ABL (Figura 2), podemos perceber uma concentração maior de shopping centers com área bruta locável variando entre 5 e 20 mil m2, uma vez que a distribuição apresenta uma assimetria acentuada para direita, originada pelos empreendimentos de grande porte. Figura 1 Figura 2 Shopping Centers filiados à Abrasce Inaugurados nas Décadas de 60 a 90 Distribuição da Área Bruta Locável Shopping Centers filiados à Abrasce 30 20 15 20 10 10 Std. D ev = 1730 7,28 5 Mean = 2 3147 N = 15 3,00 80.000 - 85 .000 75.000 - 80 .000 70.000 - 75 .000 60.000 - 65 .000 65.000 - 70 .000 55.000 - 60 .000 50.000 - 55 .000 45.000 - 50 .000 40.000 - 45 .000 35.000 - 40 .000 30.000 - 35 .000 25.000 - 30 .000 15.000 - 20 .000 20.000 - 25 .000 10.000 - 15 .000 0 - 5 .000 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 0 5.000 - 10 .000 0 Área Bruta Loc ável Tabela 1 Estatísticas Descritivas das Características dos Shopping Centers filiados à Abrasce N Mínimo Máximo Soma Média Desvio Padrão Área Bruta Locável 153 1,415 81,816 3,541,481 23,146.93 17,307.28 Área Total do Terreno 153 1,089 337,155 9,238,854 60,384.67 61,762.08 Área Total Construída 153 3,181 200,528 8,195,125 53,562.91 40,324.92 Quantidade de Pisos do Shopping 153 1 10 395 2,58 1,66 Vagas no Estacionamento 153 0 12,000 254,700 1,664.71 1,649.68 Quantidade de Lojas Satélites 153 31 542 26,300 171.90 102.52 Quantidade de Lojas Âncoras 153 0 11 354 2.31 1.87 Idade do shopping 153 0 33 1269 8,29 6,69 7 4.1. A Evolução da Área Bruta Locável dos Shopping Centers Objetivando analisar mais detidamente a relação existente entre a idade e a área bruta locável dos shopping centers, segregamos a ABL por grupos de shopping centers, em função da década de inauguração (Figura 3). O que se percebe, então, é um padrão decrescente na ABL a cada década. Os shopping centers inaugurados nas décadas de 60 e 70 apresentam uma mediana acima dos 40 mil m2 de abl. Os shopping centers inaugurados na década de 80 apresentam uma mediana em torno de 30 mil m2, embora com uma dispersão bem mais ampla. Finalmente, os shopping centers inaugurados na década de 90 apresentam uma mediana inferior a 20 mil m2, com uma dispersão bem menor, exceção feita a alguns empreendimentos de porte muito grande. Verifica-se, portanto, uma nítida diferença na área bruta locável dos shopping centers. Os shopping centers destacados no boxplot da década de 90 são três grandes shopping centers regionais: Internacional Shopping Guarulhos, Shopping Del Rey e Shopping Leste Avenida Aricanduva, e dois grandes power centers, Shopping SP Market e Vale Desconto Shopping. Figura 3 Figura 4 Evolução da ABL dos S. Centers Inaugurados nas Décadas de 60 a 90 ABL nos S. Centers nas Capitais e no Interior Shopping Centers filiados à Abrasce 100 .000 100000 80 .000 80000 62 65 96 40 .000 20 .000 10 142 60000 13 96 48 40000 20000 0 0 N= Área Bruta Locável 91 60 .000 12 16 142 8 44 101 Década 60 -70 Década d e 80 Década d e 90 -20000 N= Década de inauguração do shopping 89 64 Capital Interior Capital / Interior 4.2. O Efeito da Localização na Área Bruta Locável Um aspecto que merece atenção especial na análise da evolução da área bruta locável dos shopping centers é a localização, especificamente se o shopping center está localizado numa das capitais, mercados preferenciais, ou nas cidades do interior. O boxplot na Figura 4 mostra uma sutil diferença na área bruta locável entre os shopping centers de cada grupo. São 89 empreendimentos localizados nas capitais e 64 nas cidades do interior. Pode-se perceber uma menor dispersão no grupo relativo aos shopping centers do interior. A importância de segregar os shopping centers nestes grupos reside na suposição de que os mercados das capitais se comportariam de forma diferente daqueles das cidades do interior, oferecendo diferentes oportunidades de desenvolvimento para shopping centers, seja pela dimensão e potencial de consumo do mercado, seja pela força da concorrência estabelecida. 8 4.3. O Efeito da Década de Inauguração na Área Bruta Locável As décadas de 60 e 70 oferecem um número muito pequeno de data cases, 6 shopping centers nas capitais e 2 empreendimentos nas cidades do interior, que não se distinguem significativamente em comportamento daqueles empreendimentos inaugurados na década de 80. Assim, agrupamos, para efeito de análise, as décadas de 60, 70 e 80, separando um grupo com aqueles shopping centers inaugurados na década de 90. Quando reunimos numa única análise as três variáveis, área bruta locável, década de inauguração e localização do shopping center, conforme o demonstrado no boxplot na Figura 5, podemos constatar um padrão distinto de comportamento entre os shopping centers localizados nas capitais, inaugurados nas décadas de 60, 70 e 80, em relação aos demais empreendimentos. 4.4. Os Shopping Centers das Capitais do RJ e SP Com a finalidade de estudar mais detidamente o efeito de redução da área bruta locável, focalizamos nossa atenção no grupo dos shopping centers localizados nas capitais, onde este fenômeno se mostra com maior evidência (ver Figura 6), mais especificamente nas capitais dos estados de SP e RJ. A indústria de shopping centers no Brasil floresceu a partir destas capitais. Atualmente existem 40 shopping centers nestas duas cidades, praticamente um quarto do número de shopping centers filiados a Abrasce. O objetivo de se restringir o objeto em estudo às capitais de SP e RJ reside na suposição de que a indústria de shopping centers estaria experimentando uma fase mais madura do seu ciclo de vida, nestes mercados, onde os empreendimentos foram pioneiros. Figura 5 Figura 6 ABL dos S. Centers nas Capitais e no Interior Shopping Centers filiados à Abrasce 100.000 ABL dos S. Centers nas Capitais de SP e RJ Shopping Centers filiados à Abrasce 80000 80.000 35 60000 10 Área Bruta Locável 142 91 60.000 43 13 96 40000 144 40.000 20.000 20000 Décadas 0 Décadas 60, 70 e 80 -20.000 N= 0 Década de 90 31 58 Capital 21 43 Interior -20000 N= Capital / Interior 4.5. 16 24 Décadas 60, 70 e 80 Década de 90 Classificando os grupos através da Análise Discriminante Para confirmar o efeito de redução da área bruta locável, utilizamos a técnica estatística de análise discriminante, objetivando diferenciar os data cases a partir das variáveis estudadas, nos dois grupos originais, ou seja, shopping centers inaugurados antes da década de 90 e na década de 90. Operando-se a análise discriminante, obtivemos que 72,5% de todos os casos foram corretamente classificados a partir da variável discriminante área bruta locável. Examinando os casos que foram inadequadamente classificados, pudemos perceber que o tipo de shopping, possivelmente, poderia ter contribuído para uma classificação inadequada. 9 4.6. Os Shopping Centers Regionais das Capitais do RJ e SP A década de 90, assistiu ao aparecimento de uma série de empreendimentos com propostas distintas dos tradicionais shopping centers regionais. Fez-se necessário, portanto, isolar esse efeito na análise da evolução da área bruta locável, uma vez que, por definição, um shopping regional exigiria mais área bruta locável do que um shopping comunitário ou de vizinhança. Objetivando eliminar a contribuição do efeito do tipo do shopping center na análise da evolução da área bruta locável, restringiu-se o objeto de estudo aos shopping centers regionais localizados nas capitais de SP e RJ. Utilizou-se a análise discriminante para validar a classificação dos data cases em função da área bruta locável. Utilizou-se o método stepwise para encontrar um conjunto adequado de variáveis discriminantes, sendo selecionada, unicamente, a área bruta locável, conforme pode ser observado na Tabela 2. Para distinguir de forma mutuamente exclusiva os grupos de data cases, foi utilizada uma variável nominal com valor igual a 0, para os shopping centers regionais inaugurados nas décadas de 60, 70 e 80; e valor igual a 1, para aqueles inaugurados na década de 90. Uma vez que os grupos em estudo são desiguais - existem 10 shopping centers inaugurados antes da década de 90 e 14 shopping centers inaugurados na década de 90 - fez-se necessário ajustar o modelo em função do conhecimento prévio das probabilidades de pertinência dos data cases a cada grupo. Operando-se a análise discriminante, obtivemos o resultado sintetizado na Tabela 3, com 87,5% de todos os casos corretamente classificados a partir da variável discriminante área bruta locável. Foram corretamente classificados 80% dos casos de shopping centers regionais inaugurados antes da década de 90 e 92,9% dos casos de shopping centers regionais inaugurados na década de 90. Tabela 2 Variáveis Incluídas na Análise Discriminante Shopping Centers Regionais das Capitais do RJ e SP Entered Step 1 Área Bruta Locável Wilks' Lambda Statistic df1 df2 df3 Exact F Statistic df1 df2 Sig. 0,411 1 1 22 31,51 1 22 0,000 At each step, the variable that minimizes the overall Wilks' Lambda is entered. a Maximum number of steps is 14. b Minimum partial F to enter is 3.84. c Maximum partial F to remove is 2.71. d F level, tolerance, or VIN insufficient for further computation. Tabela 3 Resultados da Classificação Décadas Count % Décadas 60, 70 e 80 Década de 90 Décadas 60, 70 e 80 Década de 90 Predicted Group Membership Décadas 60, 70 e 80 Década de 90 8 2 1 13 80 20 92,9 7,1 Total 10 14 100 100 Obs. 87,5% of original grouped cases correctly classified. 10 5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 5.1. Conclusões As conclusões deste estudo, refletem o resultado das análises desenvolvidas para o conjunto dos shopping centers filiados à Abrasce, em outubro de 1999. Não são, portanto, generalizáveis para todos os shopping centers brasileiros. Entretanto, dado a representatividade dos empreendimentos estudados, reconhecidos pelos rigorosos critérios da Abrasce, o presente estudo poderá contribuir significativamente para um melhor entendimento das características da indústria brasileira. 1o Constatação: Evidenciou-se um efeito de decréscimo na área bruta locável, a cada década. Os shopping centers inaugurados nas décadas de 60 e 70 apresentam uma mediana acima dos 40 mil m2 de abl. Os shopping centers inaugurados na década de 80 apresentam uma mediana em torno de 30 mil m2 de abl e os shopping centers inaugurados na década de 90 apresentam uma mediana inferior a 20 mil m2 de abl; 2o Constatação: Evidenciou-se uma nítida diferença na área bruta locável dos shopping centers localizados nas capitais, em função da década de inauguração. Os shopping centers inaugurados nas décadas de 60 e 70 apresentam uma mediana acima dos 50 mil m2 de abl. Os shopping centers inaugurados na década de 80 apresentam uma mediana próxima a 40 mil m2 de abl e os shopping centers inaugurados na década de 90 apresentam uma mediana inferior a 20 mil m2 de abl; 3o Constatação: Concluiu-se, através da análise discriminante, mediante a correta classificação de 87,5% dos casos, pela existência de uma diferença significativa na área bruta locável dos shopping centers regionais localizados nas capitais do RJ e SP, inaugurados antes da década de 90 em relação aos shopping centers regionais localizados nas capitais do RJ e SP, inaugurados na década de 90. 5.2. Discussão dos Resultados O estudo identificou uma clara diferença entre o porte, medido pela área bruta locável, dos shopping centers regionais localizados nas capitais do RJ e SP, inaugurados na década de 90 e o porte daqueles inaugurados nas décadas anteriores. Mediante o confronto das constatações do estudo com a teoria existente, foi possível levantar suposições a respeito do fenômeno observado. 5.2.1. A Ocupação dos Espaços Quando analisamos o fenômeno sob a ótica da geografia do varejo, encontramos alguns dos motivos pelos quais a indústria se desenvolveu a partir do eixo RJ-SP, especialmente nas capitais. De acordo com Berry e Parr (1988, p2), a essência da geografia do varejo e de serviços é o agrupamento dos estabelecimentos em market centers, visitados pelos consumidores do entorno; o tamanho e composição do agrupamento depende da demanda agregada dos consumidores da região que percebem o market center como sendo seu ponto focal. Desta forma, as capitais do RJ e SP se apresentavam, nas décadas de 60 e 70, como os mercados mais promissores para os shopping centers. Estes centros ofereciam aos empreendedores pioneiros uma oportunidade singular: megacidades, com população urbana de classe média com bom poder aquisitivo, boa estrutura viária e virtual inexistência de 11 competição: o varejo estava concentrado no comércio tradicional de rua. Os primeiros empreendimentos, diferentemente do que ocorrera nos EUA, foram localizados na região urbana das capitais. De acordo com Berry e Parr (1988, p.3), os consumidores que necessitam visitar o market center numa base regular gostariam de uma localização que os possibilitassem conduzir seus negócios com um mínimo de esforço. Assim, é possível supor que os melhores (eventualmente, os maiores) terrenos disponíveis pudessem ser incorporados pelos empreendedores mais facilmente no início do desenvolvimento da indústria. Solal (1998, p.13) aborda a questão das restrições ao uso do solo: “Tudo começa com a terra. Sempre foi assim. Ela tem sido nossa matéria-prima básica. Hoje em dia, o direito de construir em uma terra que possuímos é tão valioso e freqüentemente mais difícil de obter do que a terra propriamente dita. Atualmente, nossa matéria-prima não é apenas a terra – é a terra e o direito de construir nela.”. Nos dias de hoje, sob a ótica da viabilidade econômica, os terrenos tornaram-se rarefeitos no cenário urbano das capitais do RJ e SP. Além disso, as políticas de zoneamento e de controle do uso do solo tem se tornado gradualmente mais rigorosas, restringindo as opções para os desenvolvedores. De fato, já na primeira metade da década de 80, os empreendedores buscaram outras capitais para desenvolver seus projetos, entre estas: Recife; Goiânia; Fortaleza; Florianópolis; Porto Alegre; Curitiba e Brasília. A segunda metade da década de 80 testemunhou a interiorização dos shopping centers, principalmente a partir das prósperas cidades do interior paulista. 5.2.2. O Acirramento da Concorrência Quando analisamos o fenômeno sob a ótica dos modelos de dimensionamento de shopping centers, amplamente utilizados nas pesquisas de mercado realizadas no Brasil, deparamo-nos com o evento do acirramento da concorrência e seus desdobramentos no desenvolvimento dos novos empreendimentos. McCollum (1985, p.10) ressalta que à medida em que a indústria de shopping centers amadurecia, os desenvolvedores sentiam uma necessidade crescente de amparar os shopping centers propostos através de análises de mercado. Sustenta ainda que isso tem levado ao uso crescente de sofisticados métodos de análise de mercado. A medida em que os espaços foram sendo ocupados nas capitais do RJ e SP, os limites das áreas de influência dos novos empreendimentos começaram a se sobrepor àquelas dos shopping centers já estabelecidos. Conforme define McCollum (1985, p.17), “A área de influência é o setor geográfico de onde os clientes regulares que darão suporte a dado shopping center serão obtidos. As fronteiras são determinadas por fatores tais como a natureza do próprio centro, acessibilidade, barreiras físicas, localização de complexos competidores, e limitações de tempo de deslocamento e distância. A área de influência é normalmente dividida em duas ou três zonas de forma a ilustrar as variações do impacto do shopping center proposto.”. Ainda de acordo com McCollum (1985, p.23), a análise do alinhamento competitivo dentro de uma área metropolitana é uma parte vital da análise da área de influência. Assim, esta sobreposição de áreas de influência conduziu a um inevitável acirramento da concorrência, uma vez que os diversos equipamentos passaram a disputar a lealdade e por conseqüência, a renda dos mesmos consumidores. 5.2.3. Enfrentando a Concorrência Não se pode afirmar que todos os shopping centers foram adequadamente planejados, entretanto, seria razoável supor que, na maioria dos casos, estudos de mercado tenham sido realizados pelo desenvolvedores. Rocha e Christensen (1995, p. 163) nos ensinam que “No shopping center, o número, o tamanho e os tipos de lojas que irão compor o complexo são cuidadosamente planejados, e não deixados ao acaso como no centro comercial espontâneo.”. 12 Neste caso, os planejadores de novos shopping centers, nas capitais do RJ e SP, teriam se deparado com áreas de influência cada vez mais disputadas. McCollum (1985, p.25) realça que a abordagem da parcela de mercado assume que o shopping center irá capturar certa percentagem do potencial de vendas da área de influência e, ainda, que o shopping center proposto irá obter suas vendas a partir da combinação do crescimento da população e renda da área de influência, bem como da mudança na lealdade dos consumidores – isso em função de fatores tais como conveniência, mix de produto mais sintonizado com suas necessidades ou pela novidade do novo centro. Desta forma, podemos supor que as capitais do RJ e SP assistiram, a partir da segunda metade da década de 80 ao nascimento de shopping centers de vizinhança, comunitários, especializados e outlet centers, como uma forma de resposta à necessidade de ajustamento a um mercado já ocupado por shopping centers regionais de maior porte. 5.2.4. A Defesa dos Shopping Centers Regionais Não obstante o cenário de concorrência intensiva, novos shopping centers regionais foram anunciados ou inaugurados na década de 90, provocando, geralmente, uma ação defensiva de parte dos empreendimentos já estabelecidos. A expansão, acompanhada ou não de revitalização, pode ser apontada como um dos movimentos estratégicos de defesa mais utilizado pelos shopping centers regionais que foram ameaçados por novos projetos. Cilia (1999, p.221-222) sustenta que a expansão de um shopping center usualmente é feita simultaneamente com a adição de uma loja âncora, que tenha força econômica substancial e que ocupe uma grande área. Explica que a nova âncora atrairá novos consumidores e possibilitará o incremento na ABL do shopping center, permitindo a adição de novas lojas satélites ou expansão das lojas já existentes. Ainda de acordo com o autor (1999, p.221), “Durante a vida de todo shopping center haverá um momento em que o empreendimento deverá ser renovado, expandido, reconfigurado ou redesenvolvido.”. A lógica por trás deste movimento encontra respaldo na teoria do Modelo Gravitacional. De acordo com Davidson, Sweeney e Stampfl (1988, p261), o modelo foi originalmente aplicado para estudar a atratividade de mercados por Reilly e Converse; subseqüentemente o modelo foi revisto por David Huff, que introduziu conceitos probabilísticos. Os autores (1988, p.262) explicam que o modelo de Huff utiliza a noção básica gravitacional de que a atração exercida sobre um consumidor na área i por um centro varejista na localização j seria diretamente proporcional ao tamanho do centro varejista e inversamente proporcional à distância do consumidor a este centro. Concluindo, na medida em que novos shopping centers foram inaugurados nas capitais do RJ e SP, os shopping centers regionais em operação foram pressionados no sentido da expansão, porém, tendo que enfrentar as limitações impostas pela: a) dimensão da área de terreno; b) inviabilidade de aquisição de terrenos contíguos (indisponíveis ou sobrevalorizados pela própria existência do shopping); c) restrições à verticalização do empreendimento (código municipal); d) impedimentos de ordem comercial (alta vacância, impossibilitando a comercialização de novos lojas) ou e) impedimentos conjunturais (momento econômico desfavorável à expansão do varejo). Trata-se portanto de um sistema dinâmico, onde os entrantes, cada vez mais diversificados em porte e conceito comercial, forçam uma reação dos players já estabelecidos na indústria, que se expandem, ampliando suas áreas de influência, tornando o cenário a cada dia mais competitivo. 13 5.3. Sugestões para Pesquisas Futuras São inúmeras as possibilidades de pesquisa abordando temas relacionados à indústria brasileira de shopping centers, uma vez que esse assunto até a presente data foi muito pouco explorado. Pesquisas que visem delinear as características desta indústria, especialmente aquelas focadas no estudo dos vetores de expansão e desenvolvimento da indústria, poderão contribuir significativamente para a elaboração de modelos de análise de viabilidade de mercado ajustados à realidade brasileira, reduzindo o grau de subjetividade com que o tema tem sido tratado e facilitando a disseminação do uso de ferramental adequado pelos planejadores e desenvolvedores de shopping centers. Uma possibilidade de estudo residiria na utilização do método de casos para analisar um conjunto de shopping centers, confrontando as previsões do estudo de viabilidade original com os resultados efetivamente alcançados pelo empreendimento. A análise das divergências apuradas e das circunstâncias que as produziram poderia levar a insights interessantes para a revisão dos modelos utilizados. Outra possibilidade de estudo, também utilizando o método de casos, seria a análise do impacto da concorrência nos resultados dos shopping centers que tiveram suas áreas de influência invadidas por novos competidores. O mapeamento dos movimentos estratégicos defensivos seria de grande utilidade para o entendimento da dinâmica dos mercados saturados ou em vias de saturação. Caberia também, aprofundando o presente estudo, examinar em maior detalhe o fenômeno aqui estudado, objetivando estabelecer relações causais entre: a) Expansão da área bruta locável do shopping center estabelecido em função de resposta à ameaças potenciais ou concretas de entrada de novos competidores; b) Invariabilidade da área bruta locável do shopping center estabelecido, mesmo sob ameaça de novos competidores, em função da presença de fatores restritivos, tais como: dimensão da área de terreno; inviabilidade de aquisição de terrenos contíguos (indisponíveis ou sobrevalorizados pela própria existência do shopping); restrições à verticalização do empreendimento (código municipal); impedimentos de ordem comercial (alta vacância, impossibilitando a comercialização de novos lojas) ou impedimentos conjunturais (momento econômico desfavorável à expansão do varejo). 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A ABRASCE e a Indústria de Shopping Centers no Brasil: dados estatísticos 1998. 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