Boletim A ciência e a técnica a ser viço do povo Novo Tempo Informativo da Escola Popular Orocílio Martins Gonçalves Contato: Tel: (31)3011-3286 / email: [email protected] Belo Horizonte - Novembro de 2010 A EPOMG é cada vez mais a Casa da Ciência Editorial 2010 foi um ano de muita lutas e muitas vitórias na Escola Popular. Nosso desafio incansável foi um só: aprofundar o entendimento sobre a realidade para transformá-la e colocar em prática os métodos e concepções científicos para que possamos ir além da alfabetização e nos tornemos cada vez mais a Casa da Ciência. Fazendo um breve balanço do ano, podemos afirmar com segurança que a Escola Popular Orocílio Martins Gonçalves (EPOMG) avançou muito nesse sentido. A coordenação coletiva da Escola se fortaleceu e aumentou sua capacidade de direção, o que nos conduziu a grandes resultados. As 4 turmas da escola mantiveramse sempre cheias e animadas. Além disso, o coletivo de professores seguiu firme e coeso, as festas de autossustentação foram realizadas com sucesso (destaque para a Festa da Bahia), o Curso de Leitura de Projetos formou um total de 40 alunos divididos em 2 turmas, fizemos aulas práticas e visitamos museus da cidade. Ou seja: mais que cumprir um calendário escolar, fizemos de 2010 um ano de fortalecimento e reafirmação de nossa bandeira de colocar a ciência e a técnica a serviço do povo. Para o ano que vem queremos muito mais. Não podemos nos contentar em ser uma escola ‘alternativa’. O que queremos é ser uma escola modelo de educação popular, uma escola que sirva ao processo de luta da nossa classe por uma nova sociedade, por uma Nova Democracia. O museu é do povo A EPOMG visitou o Museu de Artes de Ofício, na Praça da Estação, e teve a oportunidade de ver de perto um vasto acervo de instrumentos utilizados no trabalho e na produção artística. Página 2 Aula de projeto é um exemplo de teoria ligada a prática Curso de informática é um dos avanços esperados para 2011 Costruir uma educação de novo tipo A EPOMG fez um balanço do último período e reafirmou seus princípios e tarefas. Página 3 A Bahia na Escola Uma das melhores festas dos últimos tempos na EPOMG. A Festa da Bahia não poupou esforços em reproduzir poemas, cordéis e imagens da Bahia, além, é claro, de muita comida típica música e gente feliz. Página 4 Excursões Museu de artes e ofícios: um reencontro com o passado Como parte do calendário da Escola Popular, no dia 3 de novembro fomos ao Museu de Artes e Ofícios, localizado na praça da estação, em Belo Horizonte. O Museu apresenta um grande acervo de peças que retratam diversos aspectos da vida do povo, desde ferramentas de trabalho até partes do vestuário. Os trabalhadores da EPOMG ficaram fascinados com objetos que lembravam sua infância no campo: moinhos, rodas d’água, carros de boi, garruchas, etc. A visita foi, de fato, um reencontro com o passado de cada um. Mas sem dúvida o aspecto mais importante da ida ao Museu foi a oportunidade de os alunos se transformarem em professores. Gustavo, professor de Ciências do nível 4, observou bem ao final de tudo: “Aconteceu uma completa inversão dos papéis. Isso porque eu, nascido e criado A curiosidade em cada olhar Na saída, a turma toda reunida na cidade, tive uma verdadeira aula com meus alunos, trabalhadores de origem camponesa. Hoje pude sentir profundamente o significado de aprender com os nossos alunos”. São os trabalhadores que constroem tudo! Essa verdade é válida para o campo e para a cidade, para ontem e para hoje, e também o será para amanhã! Ida ao Museu da UFMG: a importância da investigação científica No dia 02 de setembro de 2010, a Escola Popular organizou uma visita ao Museu de Ciências Morfológicas da UFMG. Participaram da atividade 42 pessoas, entre alunos e professores. Com nossa organização conseguimos resolver todas as dificuldades que envolviam a ida à UFMG, desde os horários até questões como custos e transporte. Esse foi, sem dúvida, um grande acontecimento do segundo semestre, uma oportunidade de investigação científica fora das paredes da escola. Fizemos uma verdadeira viagem através do corpo humano, observando a vida desde sua origem até sua extinção. Vimos também, em detalhes, as estruturas externas e internas do corpo, inclusive algumas anomalias. O aprendizado foi gigantesco. No museu, assim que chegamos, fomos desafiados pelas monitoras a observar dois esqueletos e identificar qual era o masculino e qual era o feminino. Entre erros e acertos, aprendemos que é pela região pélvica que se diferencia um homem de uma mulher. A experimentação científica, juntamente com a luta de classes e a luta pela produção, é uma das 3 formas de prática social. Por isso estamos desenvolvendo uma grande campanha na EPOMG para que ela se torne cada vez mais a “Casa da Ciência”. Logo em seguida, outra polêmica: é verdade que a mulher tem uma costela a mais que o homem? Aqui entrava em discussão a questão religiosa, afinal é a Bíblia que diz que a mulher ‘foi feita da costela do homem’. Após a devida instrução das monitoras, verificamos que o número de costelas de homens e mulheres é exatamente igual. Era o fim, para muitos, de uma crença sem bases científicas. Fazer ciência é transformar o que antes era mistério em explicações materiais claras e verificáveis. Desmentir velhos dogmas, investigar, transformar conceitos distantes e abstratos em objetos e teorias palpáveis, visíveis, concretas: eis nossa tarefa no campo científico! 2 - Novo Tempo Ao lado, um breve relato do aluno José Nilton Barbosa, da turma do nível 4. Vivendo e Aprendendo No último dia 2 de setembro nós, alunos da Escola Popular, vivemos uma experiência única. Tivemos o privilégio de visitar o Museu de Ciências Morfológicas da UFMG. Foi uma experiência enriquecedora. Pude observar em cada olhar de meus colegas a satisfação e o interesse em aprender cada vez mais. Pudemos observar com riqueza de detalhes todas as partes do corpo humano. Quando olhamos para ele, não imaginamos como ele é interessante. O corpo é uma máquina perfeita, que se não for bem cuidada pode parar. Confesso que saí de lá com outra visão do que realmente significa a vida. Educação Seminário interno da escola popular: avançar na politização e na construção de uma educação de novo tipo Nos dias 24 e 25 de setembro realizamos um Seminário interno na EPOMG. A proposta era aprofundar a discussão sobre a linha política da Escola Popular e fazer um balanço do nosso avanço no cumprimento das tarefas centrais da escola, que são: politização, instrução científica e técnica e consciência coletiva. Participaram do Seminário a coordenação da escola, os professores e alguns alunos convidados que ainda não são coordenadores. No primeiro dia estudamos um texto para orientar o debate. Falamos sobre a origem das escolas populares e sobre sua importância enquanto ‘escolas de novo tipo’. Após toda essa discussão, entendemos que tivemos vários avanços mas ainda a compreensão política de nosso processo é pequena. Para sanar essa deficiência, precisamos avançar na formação política da coordenação da escola.. Portanto, como proposta imediata, decidimos que a coordenação deverá se reunir de 15 em 15 dias para estudar textos sobre situação política, analfabetismo e experiências educacionais do proletariado ao longo da história. No segundo dia do Seminário tivemos a presença do professor Fausto Arruda, que além de nos falar sobre escolas populares também discursou sobre o cenário político nacional. A fala do professor motivou muitas perguntas e intervenções. Ao fim, ficou a lição de que fazemos parte de um processo mais geral da luta popular em nosso país e que somos continuadores da luta por uma nova forma de ensinar e aprender, uma verdadeira educação a serviço do povo. O Seminário da EPOMG representou muito para nós. Foi um espaço de discussão aberta, um momento de coesão da coordenação e de reafirmação de nossos princípios: 1 SÃO AS MASSAS QUE FAZEM A HISTÓRIA E SÃO ELAS QUE DECIDEM TUDO COORDENÇÃO COLETIVA, TRABALHO COLETIVO E ENSINO LIGADO À PRÁTICA 3 2 SUSTENTAR-NOS COM NOSSAS PRÓPRIAS FORÇAS VIVA A COORDENÇÃO DA ESCOLA POPULAR OROCÍLIO MARTINS GONÇALVES (EPOMG)! VIVA O SEMINÁRIO INTERNO DA EPOMG! PÔR A CIÊNCIA E A TÉCNICA A SERVIÇO DO POVO! Aconteceu na Escola Popular No mês de setembro a coordenação da Escola Popular organizou um curso para os alunos e para a diretoria do Sindicato Marreta sobre situação política nacional, mais especificamente sobre as eleições. Nesse curso estudamos alguns aspectos sobre o Estado brasileiro e as classes que o compõe. Discutimos como a grande burguesia e os latifundiários oprimem as classes trabalhadoras (o proletariado, os camponeses, a pequena burguesia). Também discutimos como as eleições são uma artimanha para nos ludibriar, um grande teatro sob a capa de ‘democracia’, um jogo de cartas marcadas onde se define apenas qual grupo de poder ocupará a gerência do Estado nos próximos anos. devemos seguir é o do NÃO VOTAR, não participar dessa farsa chamada eleição, repudiar essa máscara de democracia onde o voto apenas legitima a miséria e a exploração dos pobres. Dessa forma, engrossamos a Campanha Nacional de Boicote às Eleições, bandeira levantada pela Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo. Reafirmamos nossa posição: eleição é enganação, é uma estratégia para dizer que a culpa dos baixos salários, da pobreza, do analfabetismo e de toda opressão é nossa, que não sabemos votar. Eleição apenas encobre a relação semicolonial de submissão ao imperialismo e as relações semifeudais impostas pelas oligarquias regionais, dando ares de ‘democracia’ para a mais cruel e descarada ditadura sobre o povo. Nosso caminho não é a ilusão de eleger esse ou aquele candidato, nosso caminho é o de nos organizar para a luta combativa, aumentando a revolta e o protesto popular. Devemos nos preparar para a luta, arregaçar as mangas e destruir esse velho mundo e suas eleições fajutas. REBELAR-SE É JUSTO, essa é a nossa bandeira! EPOMG Após toda esse debate, chegamos à conclusão de que o único caminho que Terminado o 1º turno das eleições, a posição do boicote às eleições se confirmou de forma clara nos 34 milhões de pessoas que não compareceram para votar ou votaram em branco e nulo. O povo, mesmo com toda chantagem do voto obrigatório, disse um grande NÃO ao circo eleitoral. Esta decisão de grande parte do eleitorado reflete um repúdio a esta política podre e à velha ordem burguesa-latifundiária. Novo Tempo -3 Cultural Poesia Canção para os fonemas da alegria Thiago de Mello Peço licença para algumas coisas. Primeiramente para desfraldar este canto de amor publicamente. porque unindo pedaços de palavras aos poucos vai unindo argila e orvalho, tristeza e pão, cambão e beija-flor, Sucede que só sei dizer amor quando reparto o ramo azul de estrelas que em meu peito floresce de menino. e acaba por unir a própria vida no seu peito partida e repartida quando afinal descobre num clarão Peço licença para soletrar, no alfabeto do sol pernambucano a palavra ti-jo-lo, por exemplo, que o mundo é seu também, que o seu trabalho não é a pena paga por ser homem, mas o modo de amar – e de ajudar e poder ver que dentro dela vivem paredes, aconchegos e janelas, e descobrir que todos os fonemas o mundo a ser melhor. Peço licença para avisar que, ao gosto de Jesus, este homem renascido é um homem novo: são mágicos sinais que vão se abrindo constelação de girassóis gerando em círculos de amor que de repente estalam como flor no chão da casa. Às vezes nem há casa: é só o chão. Mas sobre o chão quem reina agora é um homem diferente, que acaba de nascer: ele atravessa os campos espalhando a boa-nova, e chama os companheiros a pelejar no limpo, fronte a fronte contra o bicho de quatrocentos anos, mas cujo fel espesso não resiste a quarenta horas de total ternura. Peço licença para terminar soletrando a canção de rebeldia que existe nos fonemas da alegria: canção de amor geral que eu vi crescer nos olhos do homem que aprendeu a ler. Poema incluído no livro: Faz Escuro Mas Eu Canto Festa da Bahia: atividade cultural, de autossustentação e integração da escola No dia 9 de outubro, a Escola Popular se transformou num cantinho da Bahia, sua comida, sua cultura. 1 ficou encarregado da ornamentação; nível 2, sobremesa; nível 3, parte cultural e nível 4, pratos principais. A festa foi uma decisão tirada na coordenação, acatando uma sugestão do aluno José Nilton, do nível 4, que é baiano e propôs um retorno às suas origens. A Festa da Bahia foi uma das melhores da Escola de todos os tempos. Muita gente feliz, salão enfeitado com poemas, cordéis e imagens da Bahia, boa música ao vivo, roda de capoeira e comidas típicas como cocadas, caruru, sucos naturais e uma deliciosa moqueca baiana. As famílias dos alunos vieram em peso. A festa foi uma vitória. Além de arrecadar recursos para a autossustentação da escola, também cumprimos importantes tarefas: integrar todas as turmas da EPOMG, propagandear a cultura do povo brasileiro e incentivar cada vez mais o trabalho coletivo. Algumas semanas antes da festa, os professores das diversas disciplinas já vinham trabalhando com o tema em sala: nas aulas de Geografia se falou sobre o posição geográfica da Bahia, o clima, relevo, população, etc; já nas aulas de História foram estudadas as lutas do povo baiano contra a opressão, particularmente a Conjuração Baiana e o movimento de Canudos; por sua vez, as aulas de Português trouxeram poemas de Castro Alves e Jorge Amado, dois dos maiores expoentes baianos na literatura. Portanto, o clima antes da festa era o melhor possível. Também antes da festa foram divididas as responsabilidades por turma: o nível 4 - Novo Tempo Roda de capoeira A Cultura Popular é a alma do Povo Brasileiro! Uma nova educação, uma nova cultura, uma nova forma de ensinar e aprender: isso é a Escola Popular! Comida na mesa e música popular ao vivo