IV REA / XIII ABANNE
IV Reunião Equatorial de Antropologia
XVIII Reunião de Antropólogos do Norte e Nordeste
FLUXOS MIGRATÓRIOS DE MULHERES NUM BAIRRO POPULAR DE RECIFE:
RELAÇÕES DE GÊNERO, DINÂMICAS FAMILIARES E DE TRABALHO.
Irys Letícia de Oliveira¹- [email protected]
Maria Rafaela Chaves Torres Galindo¹ - [email protected]
Orientador: Prof.° Dr.° Russell Parry Scott² - [email protected]
¹ - Graduandas do curso de Bacharelado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE
²- Professor Adjunto do Programa de Pós-graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE /
Coordenador do FAGES – Núcleo de Estudos Sobre Família Gênero e Sexualidade
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como finalidade apresentar os resultados parciais
da pesquisa “A Família no Meio do Mundo II: mobilidade na negociação
de direitos”, a qual é coordenada pelo professor Russell Parry Scott do
Departamento de Antropologia e Museologia da Universidade Federal de
Pernambuco. Realizada na comunidade do Barbalho, Iputinga, Recife –
PE, considerado um bairro economicamente carente e que está situado
entre bairros de classe média de Recife, tal pesquisa tem como objetivo
examinar as práticas de mobilidade (residência e circulação) de mulheres e
homens entre bairros metropolitanos. Através da delimitação de alguns
pressupostos teórico-metodológicos da pesquisa acima citada, nos
deteremos, neste trabalho, em analisar, através dos resultados parciais, o
fluxo de mulheres entre bairros metropolitanos, atentando para as causas
dessas migrações e ressaltando, sobretudo, as relações de gênero e as
dinâmicas familiares e de trabalho envolvidos nesse processo. É importante
ressaltar que essas relações acabam por se tornarem inerentes ao próprio
mecanismo de migrações intraurbanas. As discussões teóricas desses
resultados, bem como o estudo das dinâmicas migratórias existentes, foram
norteadas através da leitura sobre migrações, relações de gênero, dinâmica
familiar e relações de trabalho.
METODOLOGIA
Esta pesquisa foi realizada por uma equipe de cinco pesquisadores
(Parry Scott, Ana Carolina Silva Cordeiro, Irys Leticia de Oliveira, Martin
Fabreau e Silvia Magnata da Fonte, com a adesão posterior de Maria
Rafaela Chaves Torres Galindo), que se conjuga na observação,
formulários/questionários e entrevistas realizadas com 55 famílias numa
quadra residencial no bairro popular de Barbalho. Além de buscar
conversas informais em convívio e observação com a população e as suas
agentes comunitárias de saúde, empregou-se um formulário-questionário
curto e básico para mapear saídas e entradas de integrantes dos grupos
residenciais nos últimos cinco anos. No final do formulário realizou-se
conversas mais aprofundadas para entender práticas e significados em
casos marcantes de mobilidade intraurbana.
RESULTADOS
Encaminhados para pesquisar numa rua percebida como mais
tranquila pelas agentes comunitárias que trabalhavam na USF – Unidade
de Saúde da Família, do Distrito IV.1., na Vila União, percebemos que,
internamente ao conjunto de comunidades associadas à USF, estávamos
numa rua de condições privilegiadas onde aconteciam estratégias de
melhoramento interno nas quais a mobilidade de membros da família
tinha um papel importante. Ou seja, não somente se emigrava do bairro
para melhorar de vida, mas se promovia a formação de redes familiares
que podiam intensificar a melhora da coletividade no próprio bairro. Nisto
As da Geografia, sendo esta a ciência que estuda as relações desenvolvidas entre a sociedade e a natureza; o maior aproveitamento desta atividade consiste na reprodução do conhecimento com os familiares por
as mulheres mostraram ser bastante polivalentes na sua atuação diante das
OBJETIVOS
parte dos alunos.Ir
estratégias de mobilidade. Entre as ações mais importantes reconhecidas
pela equipe, foram :
A ideia é de examinar como a mobilidade contribui para uma
1. Ações de mães que articulavam uma organização de espaços residenciais
redistribuição de homens e mulheres entre bairros, com atenção especial
contíguas, fazendo com que as suas casas fossem segmentadas numa série
para mobilidade residencial relacionada com trabalho, com casamentos e
de residências relacionadas que pareciam formas incipientes de residências
com estratégias cotidianas associadas às dinâmicas familiares. Neste
em prédios de apartamentos de pessoas aparentadas;
trabalho focaremos o envolvimento de mulheres em estratégias familiares
2. Filhas e jovens mulheres adultas que saíram para morar e trabalhar em
de mobilidade intraurbana.
outros bairros, solteiras ou casadas, normalmente procurando uma
melhora nas suas condições socioeconômicas, e que mantinham contato
com as suas famílias de origem, às quase contribuíam eventualmente com
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
recursos e ações;
3. Noras que vinham de fora e filhas que voltavam para residir próximas
Os dados sobre a composição etária e de sexo de bairros pobres e
as suas mães e sogras, habilitando-se a ter apoio nas suas atividades extraricos no Recife, publicados na coletânea sobre Saúde dos Homens pela
bairro com os cuidados que estas mães e sogras ofereciam a elas;
FIOCRUZ (Scott 2011), são a base para esta pesquisa pontual sobre
4. Mulheres que se negavam a ter mobilidade própria em nome da
mobilidade, circulação e residência de homens e mulheres na Região
formação destas redes de cuidado que habilitavam as outras (e os outros) a
Metropolitana do Recife. As questões subjacentes a este trabalho serão
circularem fora do bairro (e dentro dele);
norteadas a partir da ideia de mobilidade que desafia grupos locais para
5. Eventuais integrantes de casas, especialmente de gerações mais velhas,
re-articularem a sua adesão a espaços de origem e de memórias. As
que haviam realizado migrações para locais mais distantes (São Paulo,
consequências disso para famílias e grupos domésticos, e no caso em tela,
Portugal, etc.) e cuja experiência as tornavam referencias para conversar
especialmente para mulheres, envolvem intensas trocas e negociações onde
sobre a importância da mobilidade na montagem de estratégias para cada
buscas de emancipação e de liberdade se coadunam com a preservação de
pessoa e cada família.
redes sociais e de conectividade que conferem significados permeados por
Embora inicialmente a equipe pensasse focar as emigrações
obrigações e favores. Poderes e direitos estão sempre em jogo. Quais os
intraurbanas das mulheres que melhoravam de vida com a mudança,
fluxos de recursos? Quais as demandas de retribuição?
percebemos, diante das características especificas da parte do bairro
Estamos diante de questões sobre os significados sociais de circulação que
pesquisado, que era necessário concentrar mais nos fluxos multidirecionais
o estudo clássico de Mauss (1997) sobre o Dom situou no cerne das relações
e formação de redes em torno de famílias que elaboravam estratégias de
sociais. A exigência da circulação é uma exigência de mobilidade que
migração, para poder identificar maneiras diferentes pelas quais as
diferencia receptores e doadores em torno do poder entre as coletividades
mulheres se inseriam nessas redes de mobilidade
das quais participam. A hierarquização entre essas coletividades se
REFERÊNCIAS
evidencia na descrição dos contatos realizados entre elas, e a mobilidade de
GODELIER, Maurice 1999
The Enigma of the Gift University of Chicago, Chicago.
pessoas entre os grupos é negociado entre “autoridades” das coletividades.
LÉVI-STRAUSS, Claude. 1967[1947]), Les structures élémentaires de la parenté Haye, Mouton.
O controle da circulação e as conseqüências dele para a construção de
MAUSS, Marcel. (1997 [1950]), Essai sur le don: forme et raison de l'échange dans les sociétés archaïques, in
redes sociais se embasam nas ideias de Levi-Strauss (1967), Meillasoux
_________, Sociologie et anthropologie, Paris, PUF (ed. original: Année Sociologique, seconde série, tome 1, Paris,
(1976), e Godelier (1999) que revelam facetas da construção de poder em
1923-1924).
esferas de trocas desiguais e na construção de subjetividades e de direitos e
MEILLASOUX, Claude. 1976
Mulheres, celeiros e capitais. Porto, Editora Afrontamento, 1976
em estruturas de poder no cenário urbano.
SCOTT, R. Parry. _________. Vulnerabilidade masculina, curso de vida e moradia urbana: um dilemma para homens
adultos de bairros populares, em Romeu Gomes, Sobre Masculinidade Saúde, Fiocruz, Rio de Janeiro, 2011
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