A IDENTIDADE MATERNA EM ADOLESCENTES ‘‘O SER MÃE’’ CAROLINA AYMERICH PINHEIRO Nº 14928 Orientador de Dissertação: PROF.ª DOUTORA ÂNGELA VILA-REAL Coordenador de Seminário de Dissertação: PROF.ª DOUTORA ÂNGELA VILA-REAL Tese submetida como requisito parcial para a obtenção do grau de: MESTRE EM PSICOLOGIA Especialidade em Psicologia Clínica 2012 Dissertação de Mestrado realizada sob a orientação de Professora Doutora Ângela VilaReal, apresentada no ISPA - Instituto Universitário para obtenção de grau de Mestre na especialidade de Psicologia Clínica conforme o despacho da DGES nº 19673/2006 publicado em Diário da República 2ª série de 26 de Setembro, 2006. AGRADECIMENTOS Desejo agradecer, À Prof.ª Doutora Ângela Vila-Real, a minha orientadora de dissertação, sempre presente e disponível, que me dedicou o seu tempo ao longo do seminário, bem como, em horas de atendimento, de modo a poder desenvolver da melhor forma o meu projeto e a dar os primeiros passos com mais confiança críticas e e sabedoria. sugestões, Pela pelos sua constante seus orientação, conhecimentos, pelas pelas suas qualidades relacionais e humanas que sempre transmitiu, pela sua grande capacidade de escuta, o Meu Muito Obrigada! À Ajuda de Mãe e ao Vigilante, pela oportunidade que me deram em contatar com adolescentes grávidas de modo a poder realizar a minha dissertação, pela sua prontidão em me receberem e terem sido tão amáveis, o Meu Muito Obrigada! iii Às adolescentes que fizeram parte do estudo e que sem elas não teria sido possível prosseguir com o desenrolar do mesmo, pela sua sinceridade e pela sua disposição em colaborar, o Meu Muito Obrigada! Aos meus pais, por todo o amor, amizade, carinho, atenção, compreensão e dedicação diária. Por me apoiarem em todas as decisões, por me ouvirem incondicionalmente, por acreditarem sempre que sou capaz, pela confiança. Pela presença constante, mesmo que longe, por tudo o que em palavras nunca conseguirei dizer, o Meu Muito Obrigada! Ao ISPA, por me preparar para o meu futuro e por me ajudar a crescer como pessoa e como profissional, o Meu Muito Obrigada! A todos aqueles que acreditaram em mim e me deram força, apoio e se dedicaram, contribuindo para o meu desenvolvimento pessoal e profissional, possibilitando a minha chegada aqui, pois sem vós não teria sido a mesma coisa, o Meu Muito Obrigada! RESUMO O presente maternidade na trabalho insere-se adolescência, fase em na problemática que as jovens processo de definição da sua identidade pessoal e da se que gravidez encontram e num se deparam, na maioria dos casos, com uma gravidez inesperada, pressupondo uma grande reestruturação e reajustamento pessoal e social, produzindo uma mudança de identidade e uma redefinição de papéis, bem como, mudanças orgânicas e psíquicas. Pretende-se perceber de que forma as adolescentes que se deparam com uma gravidez e maternidade na adolescência, desenvolvem e constroem progressivamente, a identidade materna. Através da metodologia qualitativa, de carácter exploratório, foram aplicados um questionário sociodemográfico e duas entrevistas semiestruturadas às participantes em duas fases distintas (no 3º trimestre de gravidez e após o parto, decorridos cerca de 2 a 4 meses), sendo a amostra constituída por 5 adolescentes com idades compreendidas entre os 14 e os 16 anos. Os resultados adolescentes identidade, surge obtidos ao mesmo assistindo-se, sugerem tempo assim, à que que é a identidade consolidada sobreposição das a materna nas sua própria mudanças físicas corporais que definem o passar-se a ser mulher e simultaneamente mãe. No entanto, a consolidação da nova identidade, por vezes é dificultada devido ao facto das jovens mães não terem elaborado o desejo da maternidade, estando os conflitos próprios da fase da adolescência ainda emergentes. iv Apesar da identidade materna surgir ao longo da gestação, elaborada através de uma imagem idealizada das adolescentes como mães e dos bebés como filhos, somente após o parto essa imagem se torna concreta. Palavras-chave: adolescentes, gravidez, identidade materna e maternidade. ABSTRACT This work explores the problematic area of teenage pregnancy and motherhood, a stage where young women are in the process of defining their personal identity and facing, in most cases, an unexpected pregnancy which involves major restructuring as well as personal and social readjustment, resulting in a change of identity and a redefinition of roles, including organic and psychological changes. The objective is to understand how adolescents faced with imminent pregnancy and motherhood, progressively develop and build their maternal identity. Qualitative methodology of an exploratory nature was applied to the results of a sociodemographic questionnaire and two semi-structured interviews given to participants in two distinct phases (in the third trimester of pregnancy and about 2-4 months after childbirth) with the sample consisting of 5 adolescents aged 14 to 16. The results suggest that maternal identity in adolescents arises while self-identity is being consolidated, revealing thus, the overlap of physical bodily changes that define the passage to both womanhood and motherhood. However, the consolidation of the new identity is sometimes difficult due to the fact that young mothers have not properly developed the desire to be mothers, because the conflicts of adolescence are themselves still emerging. Although maternal identity arises during pregnancy, developed through an idealized image of teenagers as mothers and babies as children, only after giving birth does that image become concrete. Key-words: teenagers, pregnancy, motherhood and maternal identity. v INDICE INTRODUÇÃO...……………………………………………………………………………..1 I. Enquadramento teórico……………………………………………………………………...3 1.1. Maternidade: Introdução histórico-social……………………………………….………...3 1.1.2. A maternidade na atualidade……………………………………………………4 1.2. Maternidade e adolescência…………………………………………………………….…5 1.2.1. Função materna…………………………………………………………….……5 1.2.2. Preocupação Maternal Primária…………………………………………............7 1.2.3. Características das adolescentes………………………………………………....8 1.2.4.Maternidade precoce……………………………………………………………..9 1.2.5. Fatores de risco na gravidez……………………………………………………12 1.2.6. Resultados de alguns estudos empíricos………….…………………………....14 1.3. Identidade materna……………………………………………………………….............16 1.3.1. Conceito de identidade materna…………………………………………….….16 1.3.2. Resultados de alguns estudos…………………………………………….…….17 II. MÉTODO………………………………………………………………………………….20 Participantes…………………………………………………………………………..20 Instrumentos…………………………………………………………………………..21 Caracterização dos Instrumentos……………………………………………………...21 Procedimento………………………………………………………………………….29 III. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS……………………………………………….38 Caracterização da Amostra……………………………………………………………38 Resultados das Entrevistas……………………………………………………………40 IV. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS….…………………………………………………52 V. CONCLUSÃO…………………………………………………………………………….57 Limitações…………………………………………………………………………….58 Sugestões……………………………………………………………………………...59 VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS…………………………………………………..60 VII. ANEXOS………………………………………………………………………………...70 ANEXO I - Questionário Sociodemográfico…………………………………………71 ANEXO II - Entrevistas……………………………………………………………...73 ANEXO III - Termo de Consentimento Informado Instituições……………..76 ANEXO IV - Questionários………………………………………………………….79 ANEXO V - Entrevistas Transcritas…………………………………………………85 vi para as LISTA DE TABELAS Tabela 1. Frequência de sujeitos que referiram cada subcategoria na 1ª entrevista………….36 Tabela 2. Frequência de sujeitos que referiram cada subcategoria na 2ª entrevista………….37 Tabela 3. Caracterização da amostra…………………………………………………………39 vii INTRODUÇÃO A presente dissertação aborda o tema da identidade materna em adolescentes, focando-se, essencialmente, na progressiva construção desta, desde o momento da descoberta da gravidez, passando por todo o período gestacional, incidindo mais propriamente no último trimestre de gravidez, até ao nascimento nomeadamente, em do bebé. Portugal, Apesar acerca de da existirem gravidez muitos e estudos, maternidade na adolescência, são poucos os que se centram exatamente na construção da identidade materna em adolescentes. A gravidez na adolescência pressupõe uma intensa reestruturação e reajustamento pessoal e social, que produz uma mudança de identidade e consequentemente uma redefinição de papéis, bem como mudanças orgânicas e psíquicas. A maternidade na adolescência é vivida com insegurança, incerteza e sentimentos de angústia, como se houvesse uma transgressão e, por isso, a necessidade de se provar que se pode ser uma boa mãe (Mazzini et al., 2008). Há, aqui, uma confrontação com tarefas adultas, para as quais as adolescentes ainda não estão, psicologicamente e socialmente preparadas (Lourenço, 1998). A gravidez e a maternidade na adolescência pressupõem, assim, uma transição desenvolvimental, por serem acontecimentos que colocam em questão o sistema pessoal a todos os níveis, estrutural, emocional e funcional, requerendo mudanças e em consequência, novas tarefas de desenvolvimento, revelando-se numa aceleração de papéis (Raeff, 1994, cit. in Soares & Jongenelen, 1998). Apesar de os jovens terem mais informação sexual do que nunca e um acesso facilitado aos métodos contracetivos, a gravidez surge devido à falta dos mesmos ou pelo uso incorreto (Guembe & Goñi, 2004). Nos últimos seis anos, a taxa de natalidade de mães adolescentes portuguesas diminuiu 1,3% (INE, 2011), no entanto, continua a constituir-se um problema na sociedade. Esta espera que as jovens antes de constituírem família, concluam o percurso escolar e entrem no mercado de trabalho. O facto deste percurso nem sempre ser linear, provoca profundas alterações na sociedade que vê a maternidade na adolescência, como um desvio da normalidade (Gerardo, 2004). Ser-se mãe na adolescência, pressupõe uma rutura com a adolescência propriamente dita, deixando os seus hábitos e práticas associados a estas idades, para a passagem a uma identidade materna, adotando novas práticas e deveres para com a criança (Gerardo, 2006). Sabe-se que as jovens que vivem em famílias disfuncionais, por vezes, procuram compensações afetivas fora desta, através do contacto com o grupo de pares ou de um relacionamento amoroso. Daí, pode surgir uma gravidez que em parte é indesejada mas que se reflete como um apelo de valorização pessoal na família e como emancipação na sociedade (Gerardo, 2006). Devido às mudanças sociais no decorrer das últimas décadas, nomeadamente, o aumento do nível de escolaridade, para além de boas esposas e mães, é esperado que as mulheres se qualifiquem e obtenham uma carreira 1 profissional. aspeto, Dessa acabando a forma, a maioria gravidez das jovens é condenada por por abandonar dificultar ou tal interromper o processo escolar, tornando-se mais difícil o acesso ao mercado de trabalho (Santini de Almeida, 2002). Assim, procedeu-se à aplicação de entrevistas a jovens entre os 15 e os 16 anos, na condição de gestantes. Foram primeiro entrevistadas quando ainda se encontravam grávidas, no terceiro trimestre de gravidez e após o nascimento da criança, por volta dos 3 meses de idade, de forma a observarem-se as diferenças decorridas ao longo de todo o processo. Começa-se por falar um pouco do contexto histórico-social da maternidade, passando, em seguida, por uma visão mais atual de como é definida. Num segundo momento, é abordada a função materna, sendo esta de extrema importância para o estabelecimento do vínculo entre a mãe e criança, cabendo à mãe uma grande dedicação numa fase inicial da vida do bebé, e a preocupação maternal primária, vivida por todas as mães no final da gravidez e durante algumas semanas após o parto. São definidas algumas características das adolescentes, bem como, a maternidade precoce, como é sentida e vivenciada pelas jovens numa fase de profundas alterações, onde os riscos são evidentes. Antes de chegar à apresentação e discussão dos resultados e, posterior conclusão, um capítulo sobre a identidade materna, incidindo a construção desta nas jovens. A discussão pretende apresentar uma compreensão dos resultados, baseando-se nos estudos realizados anteriormente neste âmbito, bem como, em alguns aspetos teóricos. Pretende-se, também, apresentar as limitações encontradas ao longo do estudo, fornecendo, igualmente, indicações para futuras investigações. I. ENQUADRAMENTO TEÓRICO 1.1 Maternidade: Introdução histórico-social O papel da maternidade sempre foi construído como o ideal máximo da mulher, a realização da feminilidade, não obstante, igualmente associado a sacrifícios e renúncias (Borsa & Feil, 2008). A divisão sexual das tarefas já existia anteriormente à revolução agrícola, cabendo ao homem atividades como a caça e a preparação do equipamento para esta, e às mulheres a organização do lar e a responsabilidade pela educação dos filhos, condicionando a sua criatividade e reduzindo a sua imaginação. Desta forma, as mulheres detinham o poder biológico da criação, ficando o homem excluído de tal tarefa e exercendo o poder social. O bebé era considerado só da 2 mulher, ocupando o seu corpo durante nove meses e requerendo a sua atenção e afeto logo após o nascimento (Cruz, 1990). Só a partir do século XVII, é que o homem passou a fazer parte do momento do parto. No entanto, o homem entra aqui apenas como médico e podendo, assim, a cesariana deixar de levar à morte, pois até então haviam demasiados nascimentos, a sobrevivência das crianças era assumida com muita dificuldade e a vida das crianças era subestimada, sendo consideradas desperdícios, não sendo possível aos pais dedicarem-se a elas, amando-as e cuidando-as (Ariès, 1988). Já no final do século XVIII e mais propriamente no século XIX, a mulher aceitou o papel de mãe devota, dedicando todo o seu tempo ao bebé e responsabilizando-se pelo espaço privado da família (Braga & Amazonas, 2005, cit. in Borsa & Feil, 2008). No decurso deste século, também, os riscos de mortalidade e morbilidade maternas e infantis devido à procriação foram progressivamente reduzindo graças aos progressos da medicina, da higiene e da alimentação (Lefaucheur, 1995). Desta forma, a maternidade configurou-se, ao longo dos tempos, como a única função da mulher, valorizada socialmente, que lhe permitia ser reconhecida, posição que se estendeu até meados do século XX, onde ser mãe significava pertencer a uma classe especial, de prestígio dentro da sociedade (Borsa & Feil, 2008). Os papéis da mulher e de homem encontravam-se, assim, vinculados à identidade sexual, onde ser mulher implicava ter o papel de cuidar do lar e ao homem o papel de sustento da família (Osório, cit. in Borsa & Feil, 2008). 1.1.2. A maternidade na atualidade Sabe-se que o que marca a diferença da experiência da gravidez e maternidade da mulher pós-moderna, ocidental e de classe média, nos dias de hoje, é a possibilidade de escolha. A gravidez ultrapassa o momento da conceção, bem como a maternidade o momento do parto. No entanto, ambos são processos dinâmicos, acontecimentos. A de construção gravidez e corresponde desenvolvimento a um período, e, não de apenas cerca de 40 semanas, que medeia a conceção e o parto. A maternidade é um processo que ultrapassa a gravidez, é um projeto a longo prazo. Existindo um projeto adaptativo de maternidade, psicologicamente, a gestação permite a preparação para ser mãe, treinando os papéis e tarefas maternas, ligar-se ao bebé afetivamente, começar a reestruturar as relações de forma a incluir a futura criança, incorporar na sua identidade a existência do novo elemento e, ao mesmo tempo, aprender, também, que é uma pessoa separada, dotada de vida própria (Canavarro, 2001). Mas a forma como é vivida e incorporada culturais, a gravidez bem como, e com a as maternidade relacionam-se características (Correia, 1998). 3 da com própria componentes personalidade Assim, o projeto de maternidade, pode ser construído e consolidado progressivamente, ao longo de 40 semanas através dos ensaios, da ligação, ansiedade, fantasias e reflexões (Canavarro, 2001). Considerado um período repleto de experiências, expectativas e simbolismos, a gravidez pode, também, espoletar um período de crise e de maior vulnerabilidade pessoal. Em muitos casos, o desejo de ter um filho e o de ser mãe, não coincidem, sendo a distância entre gravidez e maternidade muito grande, na ausência de um projeto definido (Mota, 2011). Nos casos em que a gravidez não é planeada e simultaneamente desejada, pode propiciar sentimentos contraditórios na gestante. Sentimentos positivos de alegria e bem-estar intenso até à sensação de desamparo, tristeza profunda, frustração, vergonha e culpa (Camacho et al., 2010). Apesar práticas da crença comuns a de todas que as a maternidade mulheres, a é um conjunto maternidade é um natural de conjunto de comportamentos, atitudes e ações que é aprendido e reproduzido pelos atores sociais (Malacrida, 2009). Mas é, também, um momento muito enriquecedor, de crise e crescimento pessoal para a mulher (Campos, 2000). No processo de desenvolvimento maturacional da mulher, a gravidez é considerada um período de crise, envolvendo grandes alterações a nível endócrino, somático e psicológico. Esta crise corresponde à confrontação com novas tarefas adaptativas e libidinais, que conduzem à revivência e, também, à emergência de conflitos mal resolvidos numa fase precoce do desenvolvimento. Sendo imprescindível para o domínio da maternidade na gravidez, a resolução da mesma (Bibring, 1959). Autores como Colman e Colman (1994) e Bibring (1959), referem que o período gestacional está dividido em diversas fases, havendo em cada uma delas uma tarefa revelam-se a concretizar. fundamentais No entanto, relativamente às dessas fases, mudanças três delas comportamentais e psicossomáticas, da gravidez. A primeira fase, denominada de ‘‘integração’’, baseia-se na interiorização da nova realidade física, mas também, do facto de transportar um bebé. Dessa forma, essa fase leva a que a mulher regresse mentalmente feminina, segunda à infância, reavaliando fase, onde e os com o objetivo reelaborando movimentos de as do solidificar suas bebé a relações são personalidade passadas. percebidos, Numa dá-se a ‘‘diferenciação’’, momento em que a gestante deve perceber que o bebé é autónomo e que vive segundo regras próprias. Por último, a terceira fase ‘‘separação’’, pressupõe uma preparação da separação física e psicológica com o bebé que em pouco tempo irá nascer (Justo et al., 1999). A adaptação à maternidade revela-se pela capacidade de superar tais tarefas desenvolvimentais, centrando-se na capacidade de cuidar e educar um bebé, contribuindo positivamente para o seu desenvolvimento saudável (Canavarro, 2001). A gravidez para além de ser um momento de ensaios e expectativas, é o momento em que os relacionamentos passados podem ser reelaborados, sendo considerada uma fase de constante confrontação entre desejos e a autenticação da realidade (Borsa, 2007). 4 a satisfação de 1.2. Maternidade e adolescência 1.2.1. Função materna A gravidez é uma experiência plena de crescimento e mudança, de constante desafio, transformações várias, desde biológicas, a sociais e pessoais que põem a mulher em contacto com sentimentos, comportamentos e significados latentes desde o nascimento, que são evocados subitamente. Assim, a mulher tem que conciliar novas questões na sua vida e estar disponível inteiramente para a nova identidade que cresce dentro dela, identidade esta que não contempla apenas a do novo ser, mas, também, a sua como mãe, a do seu companheiro como pai e a dos seus pais como avós (Colman & Colman, 1994). Para Klein (1981; cit. in Borges, 2005), a função materna corresponde ao ato de auxiliar o bebé a contactar com o seu mundo interno e com a realidade. Para compreende-lo, a mãe necessita de estabelecer um vínculo amoroso, sendo capaz de descodificar as suas necessidades. Para o exercício da função materna é necessário que haja uma interiorização de aptidões, atributos e tarefas que ao longo do desenvolvimento da criança, vão-se modificando e adaptando. Assim sendo, o comportamento da mãe para com o seu filho, não consiste de uma diversidade de respostas acidentais, mas de um conjunto de noções e ideias, consoante aquilo que valoriza e desvaloriza na prática da relação (Kobarg et al., 2006). O comportamento parental é, então, mediado pelas crenças desenvolvidas nas vivências e experiências sociais e culturais (Kobarg & Vieira, 2008). Considerada imprescindível na estruturação e desenvolvimento do psiquismo da criança, exercida pela mãe, é uma função onde estão presentes diferentes atributos, que a tornam capaz de executar cuidados, tanto físicos, como psíquicos, para com o bebé. No entanto, para o seu exercício, é necessário que a mãe deseje a criança (Borges, 2005). Segundo Klaus (1993, cit. in Nascimento et al, 2005), o vínculo estabelecido entre os pais e os filhos deve ser o mais forte possível, pois é fundamental para o desenvolvimento e sobrevivência da criança. O laço criado entre ambos, será a fonte principal para as suas futuras ligações, sendo a partir deste vínculo que a própria poderá desenvolver um sentido de si mesma. A ligação afetiva que se estabelece entre a mãe e o bebé, ao contrário do que se pensava, que apenas tinha início aquando do nascimento da criança, sabe-se hoje que esta se forma durante o período gestacional (Mendes, 1999, cit. in Faria, 2001). A mãe, começa a imaginar o seu bebé, desde uma fase muito precoce da gestação, sendo esta de forma continuada ao longo da mesma, terminando muitas vezes, apenas no momento do parto (Sá, 2004). Quando o bebé nasce, existe uma grande separação entre a mãe e a criança, deixando esta de estar protegida e ficando exposta a uma diversidade de estímulos aos quais não estava habituada. No entanto, cabe à 5 mãe, desde o primeiro momento que interage diretamente com a criança, proporcionar-lhe o amor necessário que a conforte e lhe dê segurança suficiente (Cordeiro, 1987). 1.2.2. Preocupação maternal primária A preocupação maternal primária desenvolve-se gradualmente durante a gravidez. Esta diz respeito a um estado psicológico atingido pela mãe saudável, colocando-se em posição de oferecer um ambiente suficientemente bom para o desenvolvimento das potencialidades inatas do seu bebé, isto é, possibilitando a adaptação sensível e delicada às necessidades do bebé numa fase inicial, estado esse que durante a gravidez e mais precisamente no final desta, se torna numa sensibilidade exacerbada. Trata-se de um estado mental que se assemelha a um adoecimento, de centralização excessiva no seu bebé que vai nascer. Aquando do nascimento, esta sensibilidade apenas dura algumas semanas. Sendo que depois de ultrapassado este momento, a maioria não se recorda de tal, sendo a memória das mães reprimida (Winnicott, 2000). Assim, a mãe propicia um contexto saudável à criança para que esta se comece a manifestar, para que o seu desenvolvimento flua e comece a experimentar movimentos espontâneos, tornando-se dono das sensações que a esta fase se destinam. A mãe, pode, então, pôr-se no lugar do bebé e corresponder às suas necessidades (Winnicott, 2000). Segundo Brazelton (1992), a preocupação sentida pelas mães no período gravídico, reflete o quão se sentem já responsáveis pelo bebé, bem como, o quanto já gostam dele, apesar da ansiedade, da inexperiência e da sensação de desamparo sentida. Dessa forma, todas a mães passam por esta fase à sua maneira, estando relacionado com alguns aspetos sociais e culturais, tais como, a etnia, a idade, a classe social e os laços familiares (Hollway et al., 2009). No final da gravidez, as preocupações maternas centram-se na preparação física e emocional para o parto, antecipando-o como doloroso, revelando preocupações relativas a possíveis consequências negativas, predominando a falta de controlo, confiança e medo (Conde & Figueiredo, 2007). Após criado o vínculo entre a mãe e o bebé, a mãe adquire a competência de se colocar no lugar do filho, identificando-se com ele, e percebendo os sinais que emite. Estes sinais, permitem a cada momento, que a mãe aprecie as necessidades fisiológicas imediatas do bebé, adaptando o seu comportamento (Nascimento et al, 2005). 6 1.2.3. Características das adolescentes A adolescência, é indivíduo, que uma fase do processo de desenvolvimento de um ocorre desde a puberdade, momento em que alterações psicobiológicas iniciam a maturação, até à idade adulta, onde um sistema de valores e crenças se enquadra numa identidade estabelecida. O início e o fim desta etapa é difícil de determinar, no entanto, sabe-se que a puberdade, nas meninas, é assinalada pelo surgimento da menarca, já para o fim da adolescência não existe nenhum acontecimento biológico que indique com exatidão a entrada na idade adulta (Sampaio, 1992). Mas, Blos (1979, cit. in Fleming, 1993) refere que a formação do carácter vem marcar esta fase e, para Erikson (1972), é a formação da identidade que está subjacente à fase final da adolescência. No Ocidente, a adolescência corresponde sensivelmente à faixa etária entre os 12 e os 20 anos, havendo oscilações deste período sujeitas às diferenças relativas ao sexo, etnia, meio geográfico, condições socioeconómicas e culturais. De ressaltar que, existem muitas diferenças entre os indivíduos do mesmo meio, alguns alcançando a puberdade mais precocemente diversos, que outros apresenta e, ainda diferentes que, ritmos a de mesma pessoa, maturação em (Ferreira momentos & Nelas, 2006). Na fase da adolescência, existem diversos estádios que estão relacionados com o cumprimento de certas tarefas, que devem ser cumpridas para que se possa passar ao estádio seguinte. Quando estas são realizadas com sucesso, proporcionam bem-estar ao indivíduo e a sucesso nas futuras tarefas, sendo determinadas pela maturação física e pelas pressões socioculturais. Os adolescentes são forçados a encarar uma aparência física nova e semelhante à do adulto. Isto poderá levar a que os outros tratem o adolescente já não como uma criança mas sim como adulto e, consequentemente, esperem do mesmo um comportamento adequado (Gleitman et al., 2007). Assim, após diversificados momentos de maturação, os jovens constroem a sua identidade, identificando os seus pontos de referência, escolhendo o seu caminho profissional e delineando alguns planos de vida futura (Ferreira & Nelas, 2006). Erikson (1995) vem falar da crise da identidade da adolescência, referindo a separação da esfera adulta como sendo uma das manifestações do que os adolescentes anseiam atingir. Têm como primeiro objetivo, descobrir quem e o que realmente são, ao mesmo tempo que atravessam uma crise de identidade. Deste modo, o adolescente assume uma série de atitudes, em parte em benefício dos outros, que irão servir como espelho, onde ele se poderá rever a si próprio. Cada papel que o sujeito adota, cada relação humana, cada visão do mundo que temporariamente, sem significado. experimentando Vão tem, compromisso, são sendo até que em o primeiro desafio encontram uma lugar muitas de que adotadas vezes o gostam, mantendo-a e passando dessa forma a ser parte integrante da sua identidade adulta. 7 Para se afirmarem, os jovens desenvolvem estratégias de autonomia e independência face aos pais. A independência nestas idades, torna-se fundamental na procura do ‘‘eu’’, por forma a romperem com a infância e em certa medida com os pais. Criando laços mais consistentes com o grupo de pares e procurando ao longo da adolescência um relacionamento amoroso, como prioridade. É a troca afetiva com um outro significativo que propicia a construção do ‘‘eu’’ mais consistente (Gerardo, 2006). É na procura da sua identidade que o indivíduo descobre a sua sexualidade, revestindo-se de grande importância, nesta etapa da vida, e manifestando-se pelos sonhos, fantasias, desejos, masturbação e relações sexuais (Reis et al, 2011). Existem indicações de que, pelo facto de os jovens iniciarem mais cedo a atividade sexual, leva a um início mais precoce da adolescência (Camarano et al, 2006). As experiências vividas pelos jovens, nesta fase das suas vidas, influenciam a passagem para a idade adulta. É uma fase da vida muito vulnerável, caracterizando e delineando muitas das suas características que de alguma forma influenciarão o seu futuro. O facto de ser um período de muitas escolhas, não significa obrigatoriamente que estas sejam acompanhadas de um amadurecimento psicossocial, sendo que a maioria não dispõe de experiência e informações suficientes para tomarem decisões relativas ao seu futuro (Camarano & Mello, cit. in Camarano, 2006). 1.2.4. Maternidade precoce A maternidade na adolescência não é um facto novo, muitas das nossas mães e avós engravidaram na sua adolescência, no entanto, o contexto social não era o mesmo dos dias de hoje. Nessa época, o destino da mulher baseavase unicamente na dedicação ao lar, casando e tendo filhos. Hoje em dia, uma gravidez precoce implica mudanças de larga proporção em todos os contextos da vida, alterando o seu percurso escolar, distanciando as jovens do grupo de pertença, alterando significativamente os planos de vida, bem como, mudanças a nível familiar. (Konig et al, 2008). Uma gravidez nesta fase da vida, provoca na maioria das adolescentes um profundo mal-estar, perturbando simultaneamente a sua identidade sexual e dificultando não só as relações de pares mas, também, as relações com os pais (Braconnier & Marcelli, 2000). Sendo maioritariamente não planeada, a gravidez na adolescência é, à partida, considerada como algo de indesejável ou como um mal a evitar. Nestes casos, presumindo-se que não terá sido desejada, pode ou não vir a sê-lo durante a gestação (Maruani, 1990, cit. in Nodin, 2001). Mesmo assim, verifica-se que na maioria das jovens a gravidez é levada até ao fim e, por vezes, repetida num curto espaço de tempo após ter tido o primeiro filho (Canavarro & Pereira, 2001). A notícia da existência de um feto e todas as transformações que ocorrem a partir daí, tais como, as modificações físicas, podem ser fatores que ajudem no desencadear do desenvolvimento de um desejo de ser mãe. No 8 entanto, também se considera que, a gravidez poderá advir de um desejo prévio inconsciente, de engravidar (Maruani, 1990, cit. in Nodin, 2001). Ou ainda, como defendem alguns autores (Braconnier & Marcelli, 2000; Braconnier & Marcelli, 2005), como desejo de afirmar a sua feminilidade, a compensação de carências afetivas, o identificar-se com a figura materna ou em alguns casos, o conseguir ultrapassá-la, atingir um estatuto adulto mais rapidamente ou simplesmente a vontade de correr riscos. Assim, para além de ser, a gravidez na adolescência, sempre vivida rodeada de angústias e incerteza, muitas vezes, as adolescentes sentem orgulho em ter um filho, tornando-se a maternidade uma gratificação e compensação pessoal afetiva (Rodrigues, 2010). Apesar de tudo, é sempre enfrentada com dificuldade, pois uma gravidez em tais condições representa uma passagem do papel de filha para o de mãe, ou seja, do querer colo para dar colo (Moreira et al., 2008). Ocorrendo com muita frequência nas classes sociais mais baixas e onde a própria mãe ou irmã também foram mães adolescentes, constata-se uma valorização da maternidade que desencadeia um novo papel, o de mãe e mulher (Dadoorian, 2003). Por isso, nas classes de baixa renda, por vezes, as famílias recebem melhor proporcionando-lhes o a apoio notícia de essencial e uma gravidez permitindo-lhes adolescente, continuar a estudar, ou então, o inverso total, rejeitando-as e abandonando-as. Por outro lado, nas classes sociais mais altas, as jovens têm, geralmente, como alternativas o casamento ou o aborto, dependendo da sua idade (Godinho et al., 2000). A transição à maternidade é considerada um momento tanto de desordem e desequilíbrio, como de satisfação para as mães (Edwards, 2002, cit. in Zagoneli, et al., 2003). O início da adaptação a esta fase, suscita sentimentos de incapacidade e confusão frente às novas exigências. Tal como salienta Demickm et al. (2002, cit. in Zagoneli et al., 2003), esta é uma transição desenvolvimental, i. e., uma crise de desenvolvimento. Pois a adolescente depara-se com o desempenho de novos papéis que exigem a adaptação ao bebé, confrontando-se com a criança real e aquela imaginada, fantasiada, durante todo o período de gestação. O vínculo mãe-filho irá desenvolvendo-se à medida que todas as incertezas e angústias vão-se dissipando, tornando-se mais intenso quando superam o conflito interno com relação às dificuldades de desenvolvimento (Zagoneli et al., 2003). O que acontece à adolescente que engravida é, uma mudança de papéis acelerada, pois esta ainda é recetora de cuidados por parte das suas figuras parentais, ao mesmo tempo que, terá de se tornar numa figura de vinculação para o bebé (Jongenelen et al., 2006). Ou seja, para além das mudanças físicas, emocionais e psicológicas que uma gravidez acarreta na vida de uma mulher, juntam-se-lhes as mudanças normais da transição para a vida adulta (Almeida, 1987). A criação de um filho na adolescência bloqueia o processo de exploração desta, pois é incompatível com a responsabilidade que ser mãe acarreta. Desta forma, a adolescente é confrontada com duas hipóteses, sendo que em ambas sairá a perder; pode optar por viver a sua adolescência, 9 no entanto, negligenciará o seu papel de mãe, estando o filho numa situação de risco, ou então, responsabilidade, pode estando optar o seu por assumir próprio o seu papel desenvolvimento com comprometido (Costa, 1994). Dessa forma, a gravidez na adolescência é vista como um desvio em relação ao ideal, e à adolescente grávida é imposto que viva esse momento com culpa e vergonha. É, portanto, essencial que estas jovens recebam orientação das próprias mães de maneira a terem um modelo a seguir e algum suporte (Ávila, 1998 & Duarte, 2002, cit. in Joffily & Costa, 2005). Pois a gravidez, apenas adquire significado aquando do nascimento do filho, onde se dá a passagem do filho imaginado, para o filho real, que passa a ser a referência, o continente para a vida e os significados que o ser mãe envolvem (Joffily & Costa, 2005). A forma como foram criadas pelos próprios pais, os cuidados com eventuais irmãos mais novos, permitem de algum modo, um treino para a prática da maternidade. As jovens, ao observarem os cuidados e as tarefas das próprias mães, anseiam pelo dia em que serão elas mesmas a adotar esse papel, guiando-se pela imitação (Nascimento et al, 2005). A maternidade na adolescência interfere no desenvolvimento normal, repercutindo-se na vida pessoal, em que a adolescente depara-se com algumas mudanças corporais advindas da gestação, afetando a sua autoimagem e autoestima, ao nível da educação, refletindo-se no abandono escolar ou na menor progressão educativa, ao nível social e psicológico, isolando-se socialmente, ao nível socioeconómico e ocupacional e ao nível familiar, gerando alguma dinâmica relativa à alimentação, ao padrão de sono e descanso, ao lazer, entre outros (Figueiredo, 2000; Folle & Geib, 2004). 1.2.5.Factores de risco na gravidez Na adolescência, a gravidez e maternidade, sofrem uma dupla crise de desenvolvimento, parentalidade, a imposição da crise situacional da gravidez à crise maturacional da adolescência simultaneamente, e (Ravert & Martin, cit. in Canavarro, 2001). E segundo Lourenço (1996, cit. in Canavarro, 2001), a perda prematura da condição de adolescente. Todas as mudanças que os processos da gravidez e maternidade acarretam, interferem, com os processos normais da formação da identidade na adolescência. Com os processos de exploração, com as relações amorosas e relações entre os pares, com as decisões que se relacionam com a escola e vida profissional e, também, com os processos de autonomia, importantes desta fase. Desta forma, igualmente complicado, se torna enfrentar as mudanças corporais e sexuais subjacentes à gravidez, no momento em que a adolescente constrói a sua identidade sexual (Canavarro, 2001). Psicologicamente, uma gravidez na adolescência, pode ser vivida com constantes sentimentos irritabilidade e de culpa instabilidade, e baixa 10 de incapacidade, autoestima, depressão, dificuldade em se relacionar com os outros e consigo própria e, até mesmo, comportamentos suicidas (Costa, 1994). Uma gravidez, na adolescência, pode, também, ampliar vulnerabilidades prévias e impedir a continuidade de percursos favoráveis de adaptação (Luster & Haddow, cit. in Leal & Ribeiro, 2010). Riscos de abandono escolar ou escolarização baixa, na maioria das adolescentes, o que limita a descoberta de interesses, capacidades e competências pessoais, ao mesmo tempo que, diminui a diversidade de projetos de vida (Leal & Ribeiro, 2010; Rodrigues, 2010). Estas jovens sofrem de maiores níveis de stress e isolamento social (Passino, et al., 1993, cit. in Soares, et al., 2001), níveis de tristeza e tensão elevados, bem como maiores riscos de suicídio (Peterson et al., cit. in Canavarro, (Wiemann, et 2001), al., psicopatologia em maior cit. geral e frequência in de Canavarro, menores aptidões comportamentos 2001), de delinquentes níveis resolução maiores de de problemas (Passino et al., cit. in Canavarro, 2001) e a repetição do modelo familiar, mães que também engravidaram na adolescência (Rodrigues, 2010). As oportunidades de convívio encontram-se delimitadas, pois a gravidez nesta fase do ciclo de vida, encontra-se associada a dificuldades nos relacionamentos, elevada taxa de abandono escolar e desemprego, advindo daí uma grande instabilidade emocional, juntando aos conflitos familiares que ocorrem e, muitas vezes, a dificuldades económicas (Canavarro, 2001). Tópico pouco abordado na literatura, mas que parece ser importante, refere-se ao maternidade, apoio do estando companheiro associado a durante um menor os processos grau de de gravidez psicopatologia e das adolescentes, contribuindo para o bem-estar geral, no entanto, este também se associa a maior stress parental (Contreras et al., cit. in Canavarro, 2001). A gravidez na adolescência, não pode ser considerada como um facto isolado, mas como parte integrante da procura da identidade (Moreira et al, 2008). Esta é favorecida por algumas variáveis, tais como, o pensamento mágico, isto é, o facto das jovens acharem que com elas não pode acontecer, a falta de diálogo com figuras significativas, a incorreta utilização dos métodos contracetivos, o desejo de magoar a família, considerado um desafio, o início da vida sexual precoce, entre outros (Silva et al., 2004). Como já mencionado, o meio onde as jovens estão inseridas e onde convivem habitualmente, tal como o meio familiar, muitas vezes carenciado e com um número elevado de elementos, ou ainda, com a figura paterna ausente, poderão ser fatores que propiciam mais facilmente uma gravidez, alcançando desta forma o objeto relacional em falta (Justo, 2000). Tal como defende Matos (2005), em que nas famílias monoparentais, onde a figura paterna está ausente, poderá haver uma falha nas regras e limitações estipuladas às adolescentes, podendo tornar-se mais evidente o desencadear de uma gravidez, devido à passagem ato. Guembe e Goñi (2004) referem que um grande erro ligado à educação sexual fornecida aos adolescentes, 11 centra-se no facto de esta ser maioritariamente parcial, centrada apenas em aspetos funcionais e de uso, não ensinando a ser responsáveis. fatores que levam a uma No entanto, o profundo conhecimento dos gravidez na adolescência, inserido em cada realidade social, poderá ser benéfico para a modificação desse quadro, favorecendo o exercício saudável da sexualidade nos adolescentes (Bruno et al., 2009). 1.2.6. Resultados de alguns estudos empíricos De um modo geral, os estudos realizados sobre a maternidade na adolescência, têm encontrado duas principais causas geradoras do fenómeno. Por um lado, situam-no na falta de informação suficiente sobre os métodos contracetivos, e por outro lado, destacam os fatores associados à fraca gratificação na vida social e, também, às angústias advindas dos riscos dos grupos de pertença, como a família e a escola, geradores de um estado de abandono e de fortes sentimentos de isolamento. Desta forma a maternidade poderia ser encarada como um meio para alcançar uma nova identidade social (Deus, 2009). A apenas social, predisposição para com fatores de tendo um a ordem papel maternidade física e precoce, não biológica, mas fundamental na formação está relacionada também, da de ordem identidade e consequentemente, nos comportamentos e expectativas (Gerardo, 2004). Dadoorian (2003) constatou na sua investigação acerca do desejo das adolescentes em desencadeado pela engravidar que, curiosidade o ato em sexual testar o nesta seu fase aparelho da vida é reprodutor, certificando dessa forma as adolescentes de que já estão preparadas para a conceção, embora o sintam com grande surpresa. A gravidez na adolescência, em alguns estudos, é associada à deficiente assistência pré-natal, maior incidência de patologias durante e após a gestação e maior risco psicossocial. Outras investigações descrevem desfechos biológicos menos favoráveis, apenas nas adolescentes com idades compreendidas entre os 12 e os 15 anos, sugerindo que a intervenção de programas de assistência pré-natal abrangentes, poderia contribuir para a diminuição do risco de muitas complicações (Santos & Schor, 2003). Devido ao facto de estas se encontrarem ainda envolvidas em tarefas desenvolvimentais relativas à adolescência, poderão não estar aptas para as tarefas referentes à maternidade e desenvolver uma interação adequada com o bebé. Alguns interações estudos menos referem adequadas com que os as seus mães adolescentes filhos, sendo por estabelecem isso, menos sensíveis às suas necessidades, respondendo menos e de forma menos adequada (Figueiredo, 2001). Existindo diferenças significativas em relação às conceções de parentalidade em comunidades culturais com diferentes modelos culturais (Keller et al., 2006). Da mesma forma, Silva e Salomão (2003), vêm dizer que, a idade das adolescentes não pode ser considerada, somente, como causa de consequências 12 negativas da gravidez, tendo que ter em conta as condições socioeconómicas ou inadequadas de acompanhamento, como contribuintes para tal. Como referem Chang e Chisholm (1998), existe uma grande correlação entre gravidez na adolescência e o bairro onde habitam, sendo na maioria de um alto nível de pobreza e consequentemente, baixo nível de educação. Indo ao encontro do que referem Braconnier e Marcelli (2005), que o contexto, o modo de vida e toda a organização social são nestes casos, maioritariamente desorganizados. Chang e Chisholm (1998), sublinham, ainda, que existe um maior risco de gravidez repetição do nas adolescentes modelo, em que pertencentes a mãe também a famílias engravidou monoparentais, na a adolescência. Circunstâncias que comprometem não apenas o bem-estar da mãe, como também, os cuidados pré-natais e o exercício da função materna (Figueiredo et al., 2005). Relativamente à preocupação maternal primária, investigadores chegaram à conclusão que, a maioria dos bebés de mães com instalação da preocupação maternal primária, a dentição começou entre os três e os seis meses, enquanto que a maioria dos bebés onde não se verificou a instalação desta sensibilidade, tiveram a sua dentição iniciada entre o sétimo e o décimo mês de vida. Verificaram, igualmente, que a instalação desta preocupação, associa-se ao período em que o bebé começa a falar, sendo que nos casos onde existe a instalação da preocupação maternal primária, a fala inicia-se ate ao 14º mês, e o contrário, apenas é iniciada após os 14 meses. Por último, também verificaram que o período em que o bebé começa a dormir em quarto próprio está relacionado com a instalação da preocupação maternal primária (Colucci et al., 2006). Quanto a preocupações sentidas durante o período gestacional, a maioria das jovens não relata qualquer tipo de preocupação, no entanto, algumas referem sentir medo do bebé não nascer bem, sentirem medo do parto, medo de abortar e medo de dar o primeiro banho (Godinho et al., 2000). Apesar de as adolescentes conhecerem os métodos contracetivos e terem consciência que podem engravidar, utilizam-nos, na maior parte das vezes de forma incorreta ou simplesmente não os usam, achando que uma gravidez nunca ocorreria naquele preciso momento das suas vidas, o denominado, pensamento mágico (Amazarray et al., 1998). Pontes et al. (2010), no seu estudo acerca da gravidez precoce na imaginação dos adolescentes constataram que a gravidez nestas idades é vista pelos jovens como um ato de punição por terem iniciado a vida sexual, sendo a figura feminina a mais prejudicada, estando-lhes associadas imagens de abandono ou morte. Santini de Almeida (2002) no seu estudo obteve relatos de jovens com posições completamente contrárias, umas referindo que a maternidade na adolescência prejudica gravemente o percurso escolar, aparecendo como um motivo de abandono definitivo deste, tendo repercussões no seu futuro ao nível profissional, e delineando novos projetos de vida, como casar e constituir família e, por outro lado, jovens que consideram a gravidez como um empecilho à continuidade do percurso escolar. Nesse seguimento, Folle e 13 Geib (2004), chegam à conclusão, no seu estudo, que a maternidade e o bebé tornam-se para as jovens um ganho afetivo qualificando o processo de desenvolvimento pessoal e social da jovem, tornando-se esta mais madura e ganhando motivação para continuar a estudar. 1.3. Identidade materna 1.3.1. Conceito de identidade materna Para a transformação do adolescente em adulto, a tarefa principal é a respetiva construção da identidade pessoal. Esta é formada a partir de fatores intrapessoais, ou seja, as suas capacidades inatas juntamente com as características da personalidade; de fatores interpessoais, isto é, as identificações realizadas com os outros e, de fatores culturais, os valores sociais que lhe foram transmitidos. Assim, o sujeito é capaz de se perceber como sendo ele mesmo ao longo do tempo, tal como os outros o reconhecem (Schoen-Ferreira et al., 2003). Para Erikson (1972), a construção da identidade implica uma definição de quem a pessoa é, os seus valores e direções que pretende tomar. É, portanto, uma conceção de si mesmo, que abrange as crenças, os valores e metas do indivíduo. No entanto, como refere Mead (1934, cit. in Vala & Monteiro, 2006), a identidade constrói-se a partir das interações sociais, na capacidade de um indivíduo assumir a posição do outro. A teoria da identidade propõe que os sujeitos tendem a perceber-se a si mesmos e ao seu ambiente, através do conhecimento dos papéis que eles e os outros assumem dentro da sociedade. O centro da identidade é a categorização do ‘‘Eu’’, que ocupa uma posição repleta de significados e expectativas referentes a essa mesma posição e ao seu desempenho. São estas expectativas e significados que formam um conjunto de normas que irão guiar o comportamento do sujeito (Cárdenas et al., 2004). É através da capacidade em ultrapassar os diversos desafios que se lhes colocam e da remodelação das representações e da identidade que se adquire o sucesso da reorganização identitária, organizando a identidade prestes a assumir, de adulta e de mãe (Braconnier & Marcelli, 2000). A construção de uma identidade materna é uma das transformações mais significativas da identidade da mulher, devido às mudanças emocionais, físicas e sociais que acompanham a maternidade (Reid, 2010). Esta mudança de identidade, leva a que a mulher grávida se sinta na sua intimidade pessoal confrontando-se com uma vivência interna repleta de interrogações, influenciadas pelo funcionamento psicológico, mas também orgânico, acerca do que será após o nascimento da criança (Cotralha, 2007). Uma gravidez irá conduzir à formação de uma identidade materna e, esta associada à formação da identidade própria de uma adolescente, implica uma relação entre as tarefas de cada uma das identidades. Segundo Colucciello (1998, cit. in Cárdenas et al., 2004), estas assemelham-se, pois a tarefa mais importante na adolescência, 14 provavelmente será o desenvolvimento de uma identidade pessoal e a necessidade de desenvolver um conjunto de valores e, as adolescentes grávidas, para além de se depararem com estas mesmas tarefas, integram a sua identidade do novo papel materno dentro de um sistema pessoal não desenvolvido. A identidade materna, durante a gestação, é construída através de uma imagem idealizada de si como mãe e do bebé como filho. Mais tarde, no período pós-parto, é necessário que haja uma mudança no relacionamento consigo e com o filho, passando de uma imagem idealizada para uma imagem concreta. Desta forma, a construção da identidade materna implica um relacionamento baseado na sua vinculação com o filho. Ao mesmo tempo que se atribui a alguém o papel de filho, assume-se o papel de mãe, encarando os respetivos papéis (Kimura, 1997). Existe aqui, a aquisição de um novo estatuto nas mães adolescentes, o de mãe que irá interferir na identidade pessoal da jovem onde predominam representações de imaturidade e irresponsabilidade. O facto de se tornarem mães, não significa que deixem de ser adolescentes mas, de qualquer forma, adquirem certas responsabilidades que estão associadas à idade adulta. Há portanto, uma aceleração no processo de passagem para a idade adulta, em consonância com a dependência da família por falta de recursos pessoais (Gerardo, 2006). Segundo Maldonado (1989, cit. in Kimura, 1997), a tarefa principal de uma mulher que se torna mãe, é a de imitar o melhor possível uma imagem o mais familiar que conheça, que poderá ser a sua própria mãe, ou a pessoa que preencheu a função maternal. Quando a tarefa é bem sucedida e há identificação, as atividades maternas são reproduzidas de modo semelhante ao cuidado recebido (Kimura, 1997). É, portanto, nas vivências com a própria mãe, que a filha procura identificar-se com os atributos femininos e construir o significado de ser mãe (Seron & Milani, 2011). A vinculação materna, nem sempre se trata de um dado imediato, sendo considerada um processo de envolvimento afetivo gradual da mãe com o bebé. Trata-se, portanto, de um processo bidirecional em que o comportamento do bebé é fundamental na vinculação materna (Klaus et al., 2000; cit. in Figueiredo, 2003). Folle e Geib (2004) acreditam que, para o estabelecimento da identidade materna nas adolescentes, que muitas vezes é deteriorada pelas condições biopsicossociais intrínsecas à adolescência e devido, também, à falta de suporte social, tanto da parte dos familiares, como de amigos ou outros significativos, contribuem significativamente o desenvolvimento das suas representações sociais. 1.3.2. Resultados de alguns estudos Estudos revelam que nalguns casos, a ligação afetiva da mãe com o bebé, vai-se estabelecendo de forma contínua e gradual, não se verificando de imediato no primeiro contacto entre ambos (MacFarlane, 1979; Stern, 1980). 15 Alguns trabalhos referem que a maioria das adolescentes grávidas mostra-se feliz e satisfeita com a gravidez, no entanto, não significa que se identifiquem com o papel que estão prestes a desempenhar, pois devido à falta de experiência e conhecimentos, quando os bebés nascem, não conseguem cuidar deles adequadamente, não tendo consciência das responsabilidades que a maternidade adolescentes acarreta. Pressupõe-se, representa apenas a assim, comprovação que da a gravidez sua para fertilidade e as a liberdade de poderem tomar decisões, pois assumem-se como adultas (Konig et al, 2008). Cabral (2003), também vem dizer que o nascimento de um bebé parece incrementar nas jovens o processo de transição para a vida adulta, sentindo-se estas mais responsáveis, consequência da incorporação do novo papel a desempenhar. Daddorian (2003), defende que a maternidade muitas vezes ocorre devido à falta de atenção vivida pelas jovens no seio familiar, transpondo para o filho uma diversidade de expectativas, tais como, o proporcionar-lhe carinho e proteção. Num estudo realizado por Levandowski (2005), refere que as jovens projetam-se como mãe, segundo a forma que se relacionaram com as suas próprias mães, defendendo que as mães são, em todos os caso, um modelo de referência. Estas acabam por repetir um padrão de relacionamento com os seus filhos, muito parecido àquele que experienciaram. Destaca, ainda, que as jovens que viveram um relacionamento com as suas mães satisfatório, foram as que denominaram a experiência da maternidade ao longo do tempo, de forma mais positiva. Konig et al. (2008), no seu estudo sobre as representações sociais do significado de significado é ser mãe, muito em adolescentes semelhante ao de concluiu maternidade que, na para elas, sociedade, o sendo descrito pela jovens como um acontecimento maravilhoso e divino com uma mistura de responsabilidade representações relativamente e aos sacrifícios. aspetos Após o positivos parto, as suas mantiveram-se, no entanto, acrescentam que as responsabilidades advindas da maternidade não são as que esperavam, desconhecendo-as. Relativamente aos planos de vida das jovens, na sua investigação, Dadoorian (2003) constatou que os seus planos resumiam-se a um futuro próximo, tendo como objetivo cuidar do filho e proporcionar-lhe educação. Algumas jovens referem não ter qualquer plano de vida, logo, o nascimento do bebé não veio provocar alterações. Nas jovens que referem mudanças, elegem o abandono escolar como a mais marcante (Godinho et al., 2000). Levandowski (2005), concluiu no seu estudo que a transição para a vida adulta, como consequência de uma gravidez não planeada foi, de uma forma geral, desenvolvimento vivida da negativamente. criança e na No entanto, convivência com opiniões das jovens mudam para uma forma positiva. 16 no ela, as decorrer perceções do e II. MÉTODO Este trabalho de investigação, tem como primeiro objetivo, perceber de que forma as adolescentes que se deparam com uma gravidez e maternidade na adolescência, desenvolvem e constroem progressivamente a identidade materna. Num primeiro momento, pretende-se entrevistar as jovens durante o terceiro trimestre de gravidez, de modo a ser possível realizar o estudo nas datas estipuladas, sendo as mesmas novamente entrevistadas, num segundo momento, após o parto, decorridos entre dois a quatro meses. O presente estudo é qualitativo, de carácter exploratório na medida em que se pretende obter dados descritivos através do contacto direto do investigador com a situação em estudo. Dessa forma optou-se pela metodologia grounded theory, ou seja, teoria fundamentada nos dados. A codificação dos dados usada é de tipo aberta, isto é, os dados extraídos das entrevistas são decompostos, analisados, comparados, conceptualizados e categorizados, por forma a se fazer uma leitura mais percetível dos resultados (Strauss & Corbin, 1998). Neste tipo de pesquisas, procura-se entender os fenómenos, segundo a perspetiva dos participantes que fazem parte do estudo, a partir da qual, posteriormente, se fazem interpretações (Neves, 1996). Participantes A processo amostra de deste recolha estudo dos dados é uma amostra recorreu-se de conveniência, diretamente às pois no instituições ligadas ao abrigo de adolescentes grávidas. Os dados foram recolhidos, essencialmente, na sede da Associação ‘‘O Vigilante’’ (1 adolescente) e na sede e em gabinetes da Associação ‘‘Ajuda de Mãe’’ (4 adolescentes). Com o objetivo de se perceber como é que ao longo da experiência da gravidez e consequentemente, da maternidade as adolescentes constroem a identidade materna, foi constituído um grupo de 5 adolescentes. A mesma amostra, foi assim, entrevistada em dois momentos distintos. Num primeiro 17 momento, na condição de grávidas que se encontravam no terceiro trimestre de gravidez, com idades compreendidas entre os 15 e os 16 anos. Num segundo momento, as mesmas adolescentes, sendo neste caso em situação de maternidade, decorridos cerca de 2 a 4 meses, após o parto. Como critério de inclusão tomou-se apenas em consideração o facto de as jovens encontrarem-se na faixa etária dos 14 anos aos 16 anos e, que na primeira entrevista se encontrassem já no terceiro trimestre de gravidez, perguntando-se diretamente nas associações contactadas. Instrumentos Tendo como objeto o estudo da progressiva construção da identidade materna em permitissem adolescentes, procedeu-se alcançar objeto. tal à escolha Dessa forma, dos instrumentos foram utilizados que dois instrumentos na recolha dos dados, um questionário sociodemográfico e uma entrevista semiestruturada, sendo esta última analisada através de um único método de análise. O questionário e a entrevista foram aplicados diretamente aos sujeitos da amostra. Caracterização dos Instrumentos Questionário sociodemográfico Este questionário foi elaborado de acordo com as variáveis essenciais à caracterização da amostra (ANEXO I). Assim foi recolhida informação referente à idade, semanas ou meses de gravidez, profissão, número de filhos e a idade dos mesmos, bem como, a idade que tinham aquando do nascimento do primeiro filho, caso se tratasse de multíparas, com quem vivem e as habilitações literárias. Para questionadas caracterizar acerca da o grupo de primiparidade, mulheres semanas grávidas, de estas gestação em foram que se encontravam, pois como critério de seleção, havia necessidade de estarem efetivamente no último trimestre de gravidez e, na segunda entrevista, considerou-se interessante saber o género do bebé e a sua idade, tendo-se esperado, no entanto, preferencialmente três meses após o seu nascimento devido à preocupação maternal primária, que poderia influenciar de alguma forma as respostas às questões colocadas. Entrevista Foram existem construídas questões duas pré-definidas entrevistas mas cuja 18 semiestruturadas, ordem pode ser nas alterada quais pelo entrevistador no decurso das mesmas (ANEXO II), de acordo com aquilo que considerar mais adequado, de modo a possibilitar às entrevistadas discorrer sobre o tema proposto, sem respostas ou condições prefixadas. A entrevista é considerada um instrumento de grande peso à descrição verbal da pessoa para obtenção de informação, pois é no concreto, a partir dos significados atribuídos pelos sujeitos, expressa nas vivências dos mesmos que se constrói a realidade (Aires, 2011). Em seguida, apresentam-se as questões relativas à primeira entrevista estruturada, aplicada durante o terceiro trimestre de gravidez das participantes, bem como, a explicação para cada uma das questões ter sido colocada, a sua pertinência: O que é para ti ser mãe? Esta questão, fundamental para o estudo, que descreve exatamente o tema proposto, torna-se pertinente pois é bastante direta sem que haja possibilidade para se divagar. Pretende analisar o significado atribuído pelas adolescentes grávidas ao papel que estão prestes a desempenhar, ao ser mãe, ocorrendo numa fase das suas vidas em que se encontram num processo de construção da sua identidade reestruturação pessoal, que pressupõe uma intensa e reajustamento pessoal e social. Como defende Lourenço (1998), a gravidez na adolescência trata-se de uma exposição à perda prematura da condição de adolescente e um rápido ajuste à condição de mãe, tendo que deixar para trás as tarefas próprias da idade em que se encontram para passar a lidar com tarefas adultas para as quais ainda não estão psicologicamente e socialmente preparadas. Nesse sentido, não estando psicologicamente e socialmente preparadas para desempenhar as tarefas adultas que terão que desempenhar, parece importante perceber de que forma, as adolescentes, se ajustam a essa nova condição e como a descrevem. Quando é que surgiu esse sentimento? É esperado que, na fase da adolescência, uma gravidez não seja planeada, consequente de um desejo de ser mãe, no entanto, desde pequenas, as meninas brincam com bonecas representando, a maioria das vezes, o papel de mãe, ou nos casos em que têm irmãos mais novos, acabam por ajudar a própria mãe nos cuidados com o bebé, sendo logo nestes momentos que as 19 meninas começam a interiorizar um desejo de representar elas próprias o papel de mãe na vida real. No entanto, como defende a literatura, muitas vezes o desejo surge por questões afetivas ou económicas, não raros são os casos em que jovens desejam ser mães de modo a colmatar algumas falhas afetivas das suas vidas (Foresti, 2001). A identidade materna, durante a gestação é construída através de uma imagem idealizada de si como mãe e do bebé como filho. Já no período pósparto, é necessário que haja uma mudança no relacionamento consigo e com o filho, passando de uma imagem idealizada para uma imagem concreta. Desta forma, a construção da identidade materna implica um relacionamento baseado na sua vinculação com o filho. Ao mesmo tempo que se atribui a alguém o papel de filho, assume-se o papel de mãe, encarando os respetivos papéis (Kimura, 1997). Assim, pretende-se perceber se as jovens em algum momento concretizaram a respetiva atribuição de papéis, incorporando o seu como mãe. Como é que foi a descoberta de que estavas grávida? Esta questão pretende analisar a existência da negação perante a situação. Segundo a literatura, muitas jovens negam a possibilidade de se encontrarem grávidas nesta fase da vida onde não existem obstáculos, onde o que predomina é o pensamento mágico de que esse tipo de coisas não lhes pode suceder, submetendo-se a riscos que poderiam ser evitados. Assim, a pergunta colocada não determina a resposta, daí podem advir diversas situações, como quem é que descobriu que estava grávida, se a própria, se outros, a aceitação ou negação da situação, estando intimamente ligada à questão seguinte. Qual foi a tua reação quando soubeste que estavas grávida? Quando a gravidez é confirmada suscita nas jovens uma diversidade de sentimentos e emoções que irão repercutir de alguma forma em todo o período gestacional. Camacho et al (2010) referem que este acontecimento, quando inesperado/não planeado, implica sempre uma surpresa iminente, podendo ser positiva ou negativa, desde um perfeito bem-estar, a uma sensação de tristeza profunda e desamparo. O objetivo de colocar esta questão às adolescentes prende-se com a necessidade de saber como reagiram à descoberta, o que pensaram, como se sentiram e que decisão tomaram. Pois 20 tal desencadeia um processo de reorganização da perceção de si e da sua relação com o mundo, passando a integrar a ideia de estar grávida. Dadoorian (2003) refere que apesar de todos os problemas que a situação acarreta, como o abandono escolar, a dependência económica dos pais/terceiros é bastante comum a adolescente mostrar-se entusiasmada e contente com a perspetiva de ser mãe. Já alguma vez tinhas pensado ser mãe? Esta questão está relacionada com a segunda ‘‘Quando é que surgiu esse sentimento?’’, no entanto, pretende-se aqui perceber se a gravidez havido sido planeada mesmo que inconscientemente, ou se simplesmente já haviam pensado nessa possibilidade para já ou se tencionavam alguma vez ser mães. Como refere Mota (2011), por vezes, o desejo de ter um filho e o de ser mãe, não coincidem, não havendo um projeto definido. Logo, existem muitos casos, em que as adolescentes apesar de quererem ser mães e ter um filho, podendo ser por forma a se sentirem mais completas, não sabem que significado isso acarreta, demonstrado eficazmente pela ausência de um projeto delineado para tal. Como é que te imaginas como mãe? O facto de as jovens ainda se encontrarem envolvidas em tarefas desenvolvimentais relativas à adolescência, poderão não estar aptas para as tarefas referentes à maternidade (Figueiredo, 2001). Cabral incrementar (2003) nas vem jovens dizer o que processo o de nascimento transição de um para a bebé vida parece adulta, sentindo-se estas mais responsáveis, consequência da incorporação do novo papel a desempenhar. No entanto, durante a gravidez poderão ainda não estar completamente conscientes da situação em que se encontram, esperando aqui que haja uma multiplicidade de perspetivas e posições relativas ao papel de mãe e mais propriamente ao seu papel como mães. É ainda esperado que, encontrando-se numa fase em que o bebé ainda não é real, se projetem segundo o modelo que melhor conhecem, o modelo das suas próprias mães. Levandowski (2005) diz que as jovens projetam-se como mães, segundo a forma que se relacionaram com as suas próprias mães, vistas como um modelo de referência. 21 Que tipo de dificuldades é que achas que vais ter? Torna-se fundamental perceber as dificuldades que as jovens percecionam que irão deparar-se aquando do nascimento da criança, primeiro porque a nova condição pressupõe uma rutura com a adolescência propriamente dita, em que terão ou existirão mudanças nos seus hábitos e práticas diárias e segundo, porque têm de incorporar uma nova identidade, a de mãe, adotando novas práticas e deveres (Gerardo, 2006). Outro aspeto que é esperado que seja mencionado pelas jovens, referese à interrupção ou ao adiamento do percurso escolar e consequentemente da vida profissional que sonhavam, estando num momento crucial das suas vidas, onde a escolaridade é considerada imprescindível no garante de um futuro (Santini de Almeida, 2002). A maternidade na adolescência interfere no desenvolvimento normal, repercutindo-se na vida pessoal em que a adolescente depara-se com algumas mudanças corporais advindas da gestação, afetando a sua autoimagem e autoestima, ao nível da educação, refletindo-se no abandono escolar ou na menor progressão educativa, ao nível social e psicológico, isolando-se socialmente, ao nível socioeconómico e ocupacional e ao nível familiar, gerando alguma dinâmica relativa à alimentação, ao padrão de sono e descanso, ao lazer, etc. (Figueiredo, 2000; Folle & Geib, 2004). Mudou alguma coisa na tua vida? Aqui poderão surgir novamente uma imensidão de respostas, pois está relacionada com questões de carácter pessoal, de maneiras de perspetivar a mudança, sublinhando de maneiras diferentes as perdas, os ganhos ou ambos, segundo os seus valores. A perda prematura da condição de adolescente, processo de autonomia, importante desta fase, mudanças corporais e sexuais subjacentes à gravidez, competências pessoais e sociais, diminuição de projetos de vida (Leal & Ribeiro, 2010, Rodrigues, 2010), isolamento social, oportunidades de convívio limitadas, são todos aspetos possíveis de serem mencionados . Como para a primeira entrevista, em seguida, apresentam-se as questões relativas à segunda entrevista estruturada para o estudo, sendo que algumas das questões são as mesmas que na primeira aplicada, no entanto, achou-se pertinente para o estudo que assim fosse, de modo a mais facilmente se perceber as diferenças e as mudanças ocorridas nesse espaço 22 de tempo, aplicada cerca de 2 a 4 meses após o parto das participantes ter ocorrido, bem como, a explicação para cada uma das questões ter sido colocada, a sua pertinência: O que é para ti ser mãe? Após o nascimento e ao tomarem contato direto e contínuo com a criança, é esperado que a perceção que tinham quando o bebé ainda era imaginado, se modifique. Neste momento, o bebé já se tornou real e o significado anteriormente referido terá sofrido, provavelmente, alterações com a vivência do papel de mãe. A criança passou de imaginada para uma realidade concreta, com necessidades, o que implica uma intensa e diária atenção com cuidados subentendidos. Logo, o significado do que é ser mãe, ter-se-á alterado logo após o nascimento e ainda, reestruturado ao longo do tempo decorrido. Assim, jovens pretende-se acerca do que detetar as mudanças ocorridas significa ser mãe da primeira na perceção entrevista das para a segunda entrevista, onde claramente as diferenças serão notórias. Quando é que surgiu esse sentimento? A vinculação materna, nem sempre se trata de um dado imediato, sendo após o nascimento do bebé e a partir do contacto e da interação entre ambos que esta se intensifica (Klaus et al, in Figueiredo, 2003). Como defendem Braconnier e Marcelli (2000), é através da capacidade em ultrapassar os diversos desafios que se lhes colocam e da remodelação das representações e da identidade que se adquire o sucesso da reorganização identitária, organizando a identidade prestes a assumir, de adulta e de mãe. A construção de uma identidade materna é uma das transformações mais significativas da identidade da mulher, devido às mudanças emocionais, físicas e sociais que acompanham a maternidade (Reid, 2010). Espera-se por isso, que na segunda entrevista, em que o bebe já nasceu e já decorreram algumas semanas de contacto direto e real entre a mãe e o bebé, que este sentimento materno, i.e., a identidade materna, se tenha intensificado e estabelecido. Como é que te descreves como mãe? 23 Esta questão vem no seguimento da colocada na primeira entrevista ‘‘Como é que te imaginas como mãe?’’. Enquanto que na primeira entrevista a questão é colocada numa fase em que possivelmente as adolescentes ainda não se consciencializaram das futuras responsabilidades e das mudanças que irão acorrer nas suas vidas, neste momento, que novas em que já se depararam com a nova realidade concretamente e responsabilidades tenciona-se perceber se já surgiram, como referia bem como Cabral mudanças (2003), o ocorreram, nascimento incrementou nas jovens mães o processo de transição para a vida adulta, sentindo-se mais responsáveis, consequência da incorporação do papel de mãe. E como defendia Levandowski (2005), perceber se as jovens se projetam como mães, segundo o modelo de referência, ou seja, segundo a forma que se relacionaram com as suas próprias mães. Que tipo de dificuldades é que tens sentido? Na primeira entrevista a questão foi colocada de uma forma imaginária, sendo as respostas provavelmente igualmente imaginárias. Após o nascimento e ao longo do desenvolvimento do novo papel a desempenhar, em que a situação se tornou concreta e vivenciada, as dificuldades tenham surgido. Espera-se encontrar dificuldades de diversa índole, no entanto, as dificuldades funcionais, normais para o caso de serem primíparas, poderão ser as mais destacadas, bem como, dificuldades em prosseguir ou conciliar os estudos com o ser mãe, dificuldades nas relações de pares, dificuldades económicas se pertencerem a classes sociais desfavorecidas, entre outras. Portanto, tenta-se aqui destacar as dificuldades apontadas pelas jovens ao se depararem com a nova situação, assim como, a forma como as ultrapassam. Que tipo de apoio é que tens? Pretende-se nesta questão observar se as jovens têm o apoio dos pais, do pai da criança, avós ou outros familiares, amigos ou mesmo da instituição onde se encontram. Achou-se pertinente acrescentar esta questão à segunda entrevista após se ter verificado na conclusão da primeira, que as jovens pouco ou nada falavam dos seus familiares. Obviamente existirão diferenças nas adolescentes provenientes de um lar onde há a aceitação e o consequente acompanhamento de uma gravidez, dos casos em que nem sequer têm os pais presentes nas suas vidas e habitam em instituições. 24 O fulcral aqui prende-se com o enriquecer o conteúdo das respostas às entrevistas no seu todo, sem se poder generalizar sem analisar caso a caso. Desde que nos vimos, mudou alguma coisa na tua vida? Como a mencionado última em questão outras da questões, primeira após se entrevista, ter mas vivenciado aqui como concretamente já a situação. Que mudanças ocorreram desde o momento em que nos vimos, em que se encontravam ainda na situação de grávidas, até agora, alguns meses após o bebé ter nascido e terem presenciado e vivido concretamente a maternidade, deixando para trás a condição de adolescente. Como já referido anteriormente, as questões colocadas não têm uma ordem rígida podendo ser alteradas consoante se ache mais pertinente no decorrer da entrevista, bem como, podem ser acrescentadas questões a qualquer momento caso se ache fundamental para o desenvolvimento e análise do estudo. As entrevistas deste estudo, foram efetuadas por um entrevistador (a autora), individualmente, a cada uma das participantes. No análise tratamento de do conteúdo, material por se colhido entender nas entrevistas, que esta técnica, realizou-se ainda que a de maneiras diversas e até contraditórias, permite ultrapassar o nível do senso comum e do subjetivismo na interpretação e alcançar detalhadamente o que se pretende frente a comunicação de documentos, textos literários, entrevistas ou observação (Minayo, 1996). Procedimento São agora apresentados os procedimentos relativos à forma como foi traçado e executada a recolha de dados e a consequente análise de conteúdo para o presente estudo. O método da análise de conteúdo considera-se uma ferramenta essencial na compreensão da construção de significados que os participantes exteriorizam no discurso (Silva et al., 2005). Após delineamento questionário do sociodemográfico objetivo de de questões estudo, simples foi e, realizado duas um entrevistas semiestruturadas. Posteriormente, solicitou-se autorização à Associação ‘‘O Vigilante’’ e à Associação ‘‘Ajuda de Mãe’’, para que fosse possível entrevistar jovens grávidas, com idades compreendidas entre os 14 e os 16 anos, que se encontrassem no terceiro trimestre de gravidez, sendo que, mais tarde, após o nascimento dos bebés, haveria necessidade de voltar a contactar com as mesmas jovens para uma nova entrevista. 25 Foi, então, entregue às associações uma folha com a Declaração de Consentimento Informado (ANEXO III), na qual se explicava o objetivo do estudo (em linguagem acessível), se solicitava a sua colaboração e onde foram garantidos o anonimato e a confidencialidade. A informação foi igualmente prestada oralmente. Após aprovação e assinada a Declaração de Consentimento Informado por ambas as associações contactadas para o devido efeito, foram estas que se encarregaram de falar com as jovens que se enquadravam nos requisitos pedidos para o estudo, explicando-lhes o pretendido. O momento e local da realização das entrevistas foram ajustados de acordo com a disponibilidade e conveniência das participantes, tendo sido estas estabelecidas de forma indireta, isto é, as assistentes sociais das diversas entidades serviram de intermediárias no contacto e processo de marcação das entrevistas com o entrevistador. Pretendeu-se obedecer a alguns critérios na realização das mesmas: espaço temporal pré-definido para a realização das entrevistas e local calmo onde fosse possível conduzir a entrevista com privacidade e sem interrupções por agentes externos à mesma. O conteúdo das entrevistas foi sujeito a gravação áudio, tendo sido pedida autorização da gravação destas aquando do contacto com as associações, no entanto, foi garantida a confidencialidade e o anonimato dos dados recolhidos. Os dados foram recolhidos em dois momentos. O primeiro contacto, realizado nos meses de Janeiro e Fevereiro de 2012, procedeu-se no Centro Cultural do Bairro 6 de Maio, na Damaia (gabinete da Ajuda de Mãe) onde foram entrevistadas 2 jovens; na sede de O Vigilante, na Amadora onde se contactou apenas com uma jovem e, numa das residências de acolhimento a jovens mães da Ajuda de Mãe com a presença de mais 2 jovens. Tal como definido, estas decorreram durante o terceiro trimestre de gravidez das participantes. Iniciou-se pelo preenchimento do questionário sociodemográfico de carácter neutro de modo a deixar as jovens mais à vontade e, em seguida, pela entrevista, fase das questões específicas do estudo, tendo como finalidade perceber as expectativas e o significado que as adolescentes atribuem acerca de ‘‘ser mãe’’, as dificuldades que esperam vir a ter, como descobriram que estavam grávidas e o que sentiram ou como reagiram à notícia, se já haviam pensado alguma vez ser mães e como se imaginam nesse papel e, as mudanças ocorridas nas sua vidas desde o momento em que se depararam com o acontecimento. No segundo momento, contactou-se novamente com as mesmas jovens, sendo utilizada, neste caso, apenas a entrevista já utilizada, mas com algumas alterações, estando ajustada à nova situação. Como já mencionado, algumas questões foram acrescentadas no decorrer da aplicação, conforme considerado pertinente a cada situação. A recolha dos dados decorreu durante os meses de Abril a Junho de 2012, cerca de 2 a 4 meses após o nascimento dos bebés. O local da realização das entrevistas foram a sede de O Vigilante com a única jovem entrevistada pertencente à associação; na residência já mencionada da Ajuda de Mãe, onde já se havia entrevistado uma 26 das jovens, e na sede da Ajuda de Mãe em Lisboa contando com as restantes entrevistadas. Pretendia-se neste momento, perceber as mudanças ocorridas nas suas vidas desde o primeiro contacto, analisando como é que progressivamente, as adolescentes, se organizam como mães, observando as diferenças, as dificuldades sentidas com a experiência da maternidade e se as expectativas se confirmaram. No final entrevistadas de ambas as entrevistas acrescentarem algum foi aspeto deixado que um espaço considerassem para as importante, relativo à sua experiência e que não tivesse sido focado no decurso da entrevista. As entrevistas tiveram uma duração variável entre 7 minutos e 48 minutos. A duração, em alguns casos, foi bastante reduzida devido ao facto de algumas jovens não se sentirem muito à vontade para falarem sobre o assunto. No entanto, na segunda entrevista houve uma melhoria relativamente à extensão das mesmas, pois como algumas referiram, ‘‘Agora já te conheço.’’. No momento participantes, da recolha dos explicando-lhes o dados quão agradeceu-se importante a colaboração havia sido a das sua participação no estudo. Terminada a fase de recolha de dados junto da amostra, procedeu-se à sistematização da informação. Com vista à identificação e organização dos questionários e entrevistas realizados e de modo a tornar-se mais fácil o tratamento dos dados, foi atribuída uma numeração aos processos que integraram a amostra. Dessa forma, atribuiu-se aos questionários a letra S de sujeito, juntamente com o número correspondente (1, 2, 3, 4 e 5), segundo a ordem do contacto entre entrevistador e entrevistado. Quanto às entrevistas, por terem sido efetuadas duas a cada participante, atribuiu-se a letra A número, para as primeiras entrevistas, correspondente ao questionário seguindo-se a mesma sigla do mesmo e, para as e segundas entrevistas, na mesma linha, no entanto, usando-se a letra B, de modo a diferenciar a primeira entrevista da segunda realizada. A título de exemplo, para a primeira participante, no questionário encontra-se S1, na sua primeira entrevista inseriu-se A S1 e, na segunda entrevista encontrase B S1. As entrevistas efetuadas foram sujeitas a uma transformação integral de todo o conteúdo verbal, obtendo-se assim o corpus, o qual foi por sua vez submetido à análise de conteúdo. A análise de conteúdo permite não só descrever como também fazer inferência, na medida em que proporciona a passagem da descrição à interpretação do material recolhido (Bardin, 1994). Para se proceder à análise de conteúdo foi necessário dispor dos dados já dissociados da fonte e das condições em que foram produzidos. Em seguida, os dados foram colocados num novo contexto construído com base nos objetos da pesquisa, procurando construir um modelo capaz de permitir fazer inferências sobre uma ou várias dessas condições de produção. As questões às quais o investigador terá que responder ao proceder à análise de conteúdo, são segundo Vala (1999), a frequência em que ocorrem determinados objetos; quais as características ou atributos associados aos diferentes 27 objetos e qual a associação ou dissociação entre os objetos. Sendo que, para obter as respostas a estas questões é em primeiro lugar, necessário delimitar os objetivos e definir um quadro de referência teórico. A fase seguinte é a da constituição de um corpus de análise, ao que se segue a definição de categorias e de unidades de análise (Bardin, 1994). Neste estudo estão definidos os objetivos, delimitado o quadro de referência teórico, o corpus de análise é constituído pelas entrevistas e, as categorias e unidades de análise foram obtidas a partir da aglomeração efetuada com as questões do guião da entrevista e também do resultado da análise das próprias entrevistas. Para facilitar necessidade de a análise desenvolver um do conteúdo processo que das entrevistas, permitisse houve primeiramente a redução dos dados e em seguida a organização e apresentação dos mesmos de forma estruturada, conduzindo por sua vez ao desenho final e às conclusões, sendo estes, segundo Huberman e Miles (1988), os passos a adotar quando se pretende fazer uma análise qualitativa de qualquer documento. Deste modo, após a transcrição das entrevistas foi efetuada uma primeira leitura integral das mesmas. Posteriormente uma nova leitura foi feita, desta vez direcionada para cada uma das categorias com vista à identificação no corpus das unidades de análise, como sugere Vala (1999). As categorias foram definidas a partir do referencial teórico que suporta o estudo e correspondem às questões do guião da entrevista, agrupadas segundo as áreas em análise. Para a primeira entrevista, as categorias selecionadas, a partir das questões efetuadas são: ser mãe para a questão ‘‘O que é para ti ser mãe?’’, desejo de ser mãe para as questões ‘‘Quando é que surgiu esse sentimento?’’ e ‘‘Já alguma vez tinhas pensado ser mãe?’’, história da descoberta da gravidez para as questões ‘‘Como é que foi a descoberta de que estavas grávida?’’ e ‘‘Qual foi a tua reação quando soubeste que estavas grávida?’’, mãe que serei, para a questão ‘‘Como é que te imaginas como mãe?’’, dificuldades ‘‘Que tipo de dificuldades é que achas que vais ter?’’ e perceção de mudança para a questão ‘‘Mudou alguma coisa na tua vida?’’. Nas segundas entrevistas realizadas, as categorias definidas foram: ser mãe para a questão ‘‘O que é para ti ser mãe?’’, desejo de ser mãe para a questão ‘‘Quando é que surgiu esse sentimento?’’, mãe que sou para ‘‘Como é que te descreves como mãe?’’, dificuldades para a questão ‘‘Que tipo de dificuldades é que tens sentido?’’, apoio que tenho para ‘‘Que tipo de apoio é que tens?’’ e perceção de mudança para ‘‘Desde que nos vimos, mudou alguma coisa na tua vida?’’. Estas questões categorias das foram entrevistas, traçadas tendo tendo havido em conta necessidade de o conteúdo juntar das algumas questões dentro da mesma categoria por assim se considerar pertinente. Foram definidas subcategorias que emergiram dos conteúdos analisados mediante a seleção documentadas com entrevistas. Em um dos ou seguida, segmentos dois de exemplos apresentam-se 28 texto significativos, representativos, as subcategorias que extraídos foram das selecionadas a partir das categorias delineadas, para a primeira entrevista aplicada, bem como alguns exemplos, a partir dos quais se formaram as subcategorias: o Ser mãe - 2 participantes não sabem (A) (‘‘Não sei explicar.’’ e ‘‘Não sei o que posso esperar, não sei como vai ser…’’), 2 participantes (‘‘…não a querem reparar abandonar…’’ e insuficiências ‘‘…ter do condições…’’) passado (B) apenas uma e participante quer identificar-se com a própria mãe (C) (‘‘É ser o que a minha mãe foi.’’); o Desejo de ser mãe - 3 participantes referem que foi perante os factos (A) (‘‘Quando soube que estava grávida.’’ e ‘‘Foi a partir do 5º mês ou 6º mês…’’), 1 participante diz que sempre (B) desejou ser mãe (‘‘Sempre quis ter a minha’’) e 1 participante refere ter sido planeado (C) com o intuito de constituir família (‘‘Foi planeado por mim.’’); o História da descoberta da gravidez - em 3 das participantes regista-se a rejeição da ideia (A) (‘‘…não o queria…’’ e ‘‘O primeiro pensamento que eu tive foi que não o podia ter, porque não dava para ter.’’), em 1 das participantes há uma aceitação (B) da situação (‘‘…planeado.’’) e em 1 das participantes existe ambivalência (C) (‘‘…comecei a consciencializar que tinha que ser mãe…’’); o Mãe que serei - 1 participante não sabe (A) como será desempenhar o papel de mãe (‘‘Sei lá, vai ser difícil…’’), 3 participantes idealizam que serão a mãe perfeita (B) (‘‘Acho que vou ser uma mãe galinha.’’ e ‘‘Dar tudo o que o meu filho precisa.’’) e 1 participante tenciona igualar/ultrapassar a própria mãe (C) (‘‘Dar o que a minha mãe me deu e o que achei que faltou…’’); o Dificuldades - 3 participantes referem dificuldades funcionais (A) (‘‘Vai ser difícil nos estudos…’’ e ‘‘Os primeiros banhos…’’), 1 participante fala em dificuldades na comunicação (B) (‘‘…saber qual é que é o tipo de choro…’’) e 1 participante acha que não terá qualquer tipo de dificuldade, obtendo-se a negação (C) como subcategoria nenhuma.’’) e, 29 (‘‘Eu acho que nenhuma, o Perceção de Mudança - 2 participantes mencionaram perdas (A) (‘‘…já não estou a estudar.’’, ‘‘Já não tenho a mesma rotina diária…’’), 2 participantes, pelo contrário, mencionaram como mudança vantagens (B) (‘‘…acho que as minhas amigas ficaram mais atenciosas…’’ e ‘‘…agora estou a aprender muita coisa, estou a estudar…’’) e 1 participante referiu apenas muita coisa (C) (‘‘Mudou muita coisa.’’). Para a segunda anteriormente entrevista referidos, procedeu-se apresentando-se, em aos mesmos seguida, as critérios subcategorias selecionadas a partir da segunda entrevista aplicada às adolescentes, bem como alguns exemplos: o Ser mãe - descrever 3 o participantes significado utilizam (‘‘…é fixe a a idealização sensação.’’, (A) ‘‘É ao uma sensação tão grande…’’), 1 participante retira da situação um proveito, como filho que completa (B) (‘‘…já não me imagino sem o meu filho…’’) e 1 participante não sabe explicar (C) o significado de ser mãe (‘‘…não sei explicar, é uma emoção.’’); o Desejo de questão ser de sentimento mãe - forma surgiu todas as participantes semelhante, perante os tendo-se factos responderam observado (A), ou seja, à que o após o nascimento da criança (‘‘No primeiro dia em que ele nasceu, logo.’’, ‘‘Foi logo quando ela nasceu.’’); o Mãe que sou - 2 participantes descrevem-se como boa mãe (A) (‘‘Sou uma mãe boa.’’), 2 participantes descrevem o seu papel como mãe responsável (B) (‘‘Aprendi a ser adulta…’’ e ‘‘Ser séria…’’) e 1 participante não sabe (C) descrever o seu papel como mãe (‘‘É difícil…’’); o Dificuldades - 2 participantes referem dificuldades funcionais (A) (‘‘Na amamentação só.’’ e ‘‘… durante a noite tenho que me levantar da cama e ir fazer o leite…’’), 2 participantes mencionam não ter qualquer tipo de dificuldade, onde se retira a negação (B) (‘‘Nenhuma, nenhuma.’’) e 1 participante refere as dificuldades nos estudos (C) (‘‘…conciliar a escola com o ser mãe…’’); o Apoio que tenho - 1 participante refere a mãe como auxiliar (A) (‘‘… o apoio da minha mãe em casa.’’), 1 participante menciona 30 como apoio a segurança social (B) (‘‘Agora estou a depender da segurança social…’’) e 3 participantes referem o apoio da instituição/residência (C) onde se encontram a viver (‘‘Aqui, na residência, não me falta nada.’’ e ‘‘…na Residência tenho tudo para mim e para a minha filha…’’) e, o Mudança - 2 participantes revelam como mudança perdas (A)(‘‘Tive que voltar para trás da minha escolaridade.’’ e ‘‘Os meus planos era estudar…’’), e participantes referem como mudança a responsabilidade (B) (‘‘Sempre fui muito paparicada pela minha mãe, não fazia muita coisa em casa.’’) e 1 participante revelou que a mudança ocorrida na sua vida é ter alguém para cuidar, ou seja, filho que completa (C) (‘‘Agora sinto que tenho alguém para cuidar…’’). Foi igualmente contabilizada a frequência de sujeitos que referiram cada subcategoria na primeira entrevista efetuada. Estes dados apresentamse sob a forma de quadro por categoria, para mais fácil compreensão do conjunto de cada categoria e respetivas subcategorias. Ser Mãe Desejo História Mãe que Ser Mãe Descoberta Serei Dificuldades Mudança Gravidez S1 A B A B A B S2 B A A B A A S3 C A A C A A S4 B C B B C B S5 A A C A B C Tabela nº 1: Frequência de sujeitos que referiram cada subcategoria na 1ª entrevista . A título de exemplo, o sujeito (S1), para a categoria ‘‘ser mãe’’ refere que não sabe qual o significado, na segunda categoria ‘‘desejo de ser mãe’’ encontra-se a subcategoria sempre, na ‘‘história da descoberta da gravidez a participante rejeita a ideia de estar grávida e de vir a ter um filho, para a categoria ‘‘mãe que serei’’, encontra-se a subcategoria mãe perfeita, funcionais nas e, ‘‘dificuldades’’, por último, na a participante ‘‘perceção vantagens. 31 de refere mudança’’, dificuldades encontram-se Encontra-se o mesmo para a segunda entrevista realizada, tendo sido contabilizada a frequência de sujeitos que referiram cada subcategoria. Estes dados apresentam-se sob a forma de quadro por categoria, para mais fácil compreensão do conjunto de cada categoria e respetivas subcategorias. Ser Mãe Desejo Mãe que Ser Mãe Sou Dificuldades Apoio Mudança que Tenho S1 A A A B B A S2 A A B A C A S3 B A A C A B S4 A A B B C B S5 C A C A C C Tabela nº 2: Frequência de sujeitos que referiram cada subcategoria na 2ª entrevista Desta forma, prossegue-se mais facilmente para a análise dos resultados que se apresentam no capítulo seguinte. A teoria fundamenta-se, assim, na construção gradual dos dados obtidos do material recolhido e não num corpo já existente de teoria, logo o que se pretende é acrescentar novas perspetivas para o entendimento do fenómeno e não provar algo que já existe (Cassiani et al., 1996). III. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Tal como referido no capítulo anterior, procede-se agora à apresentação dos resultados obtidos a partir dos elementos recolhidos no Questionário Sociodemográfico e da análise de conteúdo das Entrevistas e respetivos resultados encontrados, desenvolvendo seguidamente um trabalho de discussão dos mesmos recorrendo às teorizações dos capítulos iniciais deste trabalho. Do Questionário, características da extraíram-se totalidade da os dados amostra, relacionados englobando com assim as características relativas às adolescentes. Das Entrevistas apresentam-se os elementos fundamentais relativos a cada questão colocada, focados nas categorias que a partir daí foram selecionadas. Há ainda a referir que não serão apresentados todos os dados extraídos da base de dados, passando-se a apresentar somente os resultados considerados mais relevantes. Primeiramente serão apresentados os quadros relativos aos dados obtidos através do Questionário Sociodemográfico que caracterizam a amostra 32 e seguidamente, os dados obtidos através das Entrevistas aplicadas durante o decorrer do estudo. Após sistematização de todos os dados recolhidos desenvolve-se uma conclusão/discussão dos mesmos, passando por cada participante em particular, por forma a ser feita uma análise das diferenças encontradas da primeira para a segunda entrevista, podendo assim chegar ao objetivo do estudo, ou seja, perceber de que forma as adolescentes que se deparam com uma gravidez e maternidade na adolescência, constroem progressivamente, isto é, ao longo dos meses, desde a gravidez até após o nascimento da criança, a identidade materna. Para além de analisar participante a participante, são analisadas as semelhanças e diferenças encontradas na globalidade da amostra para cada categoria. Caracterização da Amostra O quadro seguinte faz a caracterização de cada uma das adolescentes do estudo, indicando a sua idade, os meses de gravidez na primeira entrevista, a profissão, com quem vive, as habilitações literárias e, por último, referente à segunda entrevista, quantos meses decorreram após o parto. Idade Meses de Profissão gravidez Com quem vive Habilitaçõ Meses após es parto Literárias S1 15 anos 38 semanas Estudante Avó Ensino 3 meses e Preparatór meio io S2 S3 S4 S5 16 anos 16 anos 16 anos 16 anos 35 semanas 8 meses 32 semanas 8 meses Estudante Estudante Estudante Estudante Residência Ensino 3 meses e - Ajuda de Preparatór meio Mãe io Mãe, Ensino padrasto e Preparatór irmãos io Residência Ensino - Ajuda de Preparatór Mãe io Residência Ensino - Preparatór O Vigilante 4 meses 2 meses 3 meses io Tabela nº3: Caracterização da amostra A caracterização das participantes foi feita com base nos dados recolhidos através do Questionário Sociodemográfico. Assim, as adolescentes que compõem a amostra deste estudo apresentam idades compreendidas entre os 33 15 e os 16 anos, sendo que apenas uma tem 15 anos e as restantes encontrase nessa altura com 16 anos. O número de meses de gravidez das participantes na situação de primeira entrevista, situa-se entre os 8 e os 9 meses, cumprindo assim o requisito para a amostra, encontrar-se no terceiro trimestre de gravidez. Considerando participantes o terem estatuto apontado o profissional, facto de apesar serem de todas estudantes, as observa-se posteriormente a partir dos dados recolhidos nas entrevistas que apenas 3 das jovens se encontram efetivamente a estudar no momento da entrevista e duas estão desocupadas, sendo que uma delas aguarda por vaga para poder iniciar um curso profissional. Relativamente a com quem vivem, considera-se pertinente apresentar os resultados, de maneira a melhor compreender a realidade da amostra. Observa-se que 3 participantes habitam em residências de mães adolescentes, sendo que após entrevistadas constatou-se que uma delas já vivia numa residência para adolescentes e após descoberta a gravidez foi encaminhada para uma nova instituição ao abrigo de mães adolescentes, as outras duas que referiram viver numa residência constata-se que apenas sucedeu após terem engravidado, pois viviam anteriormente com familiares. As outras duas adolescentes do estudo referiram viver com familiares, nomeadamente, avó, mãe, irmãos e padrasto, sendo que nenhuma habita com o pai. Conforme é possível constatar no quadro acima apresentado, o nível de escolaridade das participantes corresponde ao Ensino Preparatório (do 5º ano ao 9º ano). No entanto, sabe-se que uma das jovens encontrava-se a frequentar um curso profissional que, após ter engravidado não pôde concluir, pois de forma a poder obter o apoio da Associação Ajuda de Mãe, deveria frequentar as aulas que ali se realizam, tendo assim recuado nos seus estudos não lhe dando equivalências, encontrando-se no momento a frequentar o 7º ano de escolaridade. Alguns estudos (Canavarro & Pereira, 2001; Almeida, 1987) desenvolvidos acerca da maternidade na adolescência, assinalam a constante interrupção do percurso escolar devido ao surgimento de uma gravidez não planeada. Quanto aos meses decorridos após o parto, para realização da segunda entrevista, estes situam-se entre os 2 meses e os 4 meses, tendo-se esperado preferencialmente 3 meses após o nascimento, pois como já foi referido, a preocupação maternal primária poderia influenciar de alguma forma as respostas às questões colocadas. Como curiosidade e por forma a criar uma relação mais descontraída com as participantes no decorrer da entrevista, foi questionado o nome e o sexo do bebé, resultando em dois bebés do sexo feminino e três do sexo masculino. No quadro não são apresentados os dados relativos ao número de filhos, a suas idades e que idade tinham as jovens aquando da gravidez, pois no que diz respeito à história obstétrica das participantes, salientase o facto de nenhuma adolescente entrevistada no estudo ter outros filhos. Para as 5 jovens esta é a sua primeira gravidez. 34 Resultados das Entrevistas Passa-se a apresentar os resultados obtidos para cada subcategoria extraída das categorias selecionadas a partir das questões colocadas nas entrevistas. 1ª entrevista: O que é para ti ser mãe? A partir desta questão foi criada a categoria ‘‘ser mãe’’ de onde se obteve as seguintes subcategorias: Não sabem - 2 participantes referiram não saber o que significa ser mãe (S1: ‘‘Não sei explicar.’’ e S5: ‘‘Para mim ser mãe, ainda não tenho muito bem, não sei muito bem o que é que é…Não sei o que posso esperar…’’). Querem reparar insuficiências do passado - 2 participantes dão a entender que ser mãe significa ser mais do que as próprias mães foram para elas, mencionando algumas falhas que existiram (S2: ‘‘É saber lidar com crianças, tomar mais cuidado com uma criança, não a abandonar, essas coisas assim. Mesmo o carinho de mãe…’’ e S4: ‘‘É preciso ter condições, é preciso também ter um homem. Ser mãe para mim é importante, aprende-se muita coisa.’’). Identificar-se com a própria mãe - 1 participante descreve o significado baseando-se no modelo que conhece (S3: ‘‘Ser mãe é ganhar novas responsabilidades contigo, é ser o que a minha mãe foi.’’). Quando é que surgiu esse sentimento? e, Já alguma vez tinhas pensado ser mãe? A categoria criada a partir das questões acima foi o ‘‘desejo de ser mãe’’, de onde se elaboraram as seguintes subcategorias: 35 Perante os factos sentimento/desejo - de 3 ser das mãe participantes surgiu perante revelam a que o confirmação da gravidez (S2: ‘‘Quando soube que estava grávida.’’, S3: ‘‘A partir do momento em que eu tive a certeza que ia ter o bebé.’’ e S5: ‘‘Foi a partir do 5º mês ou 6º mês, mais ou menos.’’). Sempre - 1 participante revela que sempre desejou ser mãe (S1: ‘‘Eu tomava conta de crianças e acho que sempre quis ter a minha.’’). Planeado - 1 participante refere que a criança foi planeada (S4: ‘‘Foi quando eu estava com o pai do meu filho, estávamos bem e depois olha, Percebe-se eu que procurei o desejo ser mãe. existente Foi planeado nesta por adolescente mim.’’). é o de constituir família. Como é que foi a descoberta de que estavas grávida? e, Qual foi a tua reação quando soubeste que estavas grávida? Para estas duas questões, como já referido, foi criada uma única categoria, por se entender que estão interligadas, a categoria ‘‘história da descoberta da gravidez’’: Rejeição - constata-se que 3 participantes rejeitaram de imediato a ideia de serem mães no momento. Uma das jovens em primeiro lugar usa a negação ao rejeitar a ideia de estar grávida (S1: ‘‘…a minha mãe começou a ver que eu estava a ficar gorda do nada…’’, ‘‘…eu não sabia que estava grávida, com a menstruação eu nunca pensei que podia estar grávida.’’) e, em seguida, revela-se a tomada de consciência e o choque (S1: ‘‘…fiquei desorientada,’’, ‘‘’’Senti-me mal, chorei muito, não estava à espera de ter uma criança agora.’’). Outra jovem refere ter sido pela falta do período que descobriu que estava grávida, havendo em primeiro lugar a rejeição (S2: ‘‘…não o queria…’’, ‘‘…estava quase de 4 meses, já não deu mesmo para abortar.’’), sentindo se assustada e confusa no decorrer dos primeiros tempos (S2: ‘‘…fiquei assustada…’’, ‘‘…medo, porque ao princípio não sabia bem o que seria…’’) e, em seguida, surge a aceitação, após se ter tornado real (S2: ‘‘…quando ouvi o coração dele desisti logo…’’, ‘‘…estou desejosa de ser mãe.’’). 36 A terceira jovem a rejeitar a ideia assim que se deparou com a situação (S3: ‘‘O primeiro pensamento que eu tive foi que não o podia ter, gravidez porque através não de dava um para teste ter.’’), de farmácia confirmou (S3: a sua ‘‘…quando começaram os enjoos e o período não veio…’’), usando também a negação ao dizer que estava a contar com a pílula e refere ter ficado chocada e nervosa quando soube, tendo mantido a rejeição ao longo da gravidez e culpabilizando-se por ter desiludido a mãe, ao repetir o modelo (S3: ‘‘Aconteceu o mesmo à minha mãe e eu não queria estar a repetir comigo.’’). Aceitação - apenas uma participante aceita de imediato a gravidez (S4: ‘‘…planeado.’’, ‘‘…estou a gostar da ideia de ser mãe.’’), tendo descoberto pela falta da menstruação e devido aos vómitos, sentindo-se (S4: ‘‘…muito feliz.’’), no entanto, existe uma certa rejeição implícita ao dizer (S4: ‘‘Foi pena não ter sido na época que eu planeei…’’), de onde se deduz mais uma vez que o filho seria para constituição de família. Ambivalência - umas das jovens manifesta ambivalência por não saber o que sentir ou como reagir (S5: ‘‘Foi assustador…’’, ‘‘…não estava à espera.’’), rejeitando primeiro (S5: ‘‘…quando descobri já não podia mesmo fazer aborto…’’, ‘‘Pensei que a minha vida tinha ficado destruída, que nunca mais ia conseguir realizar os meus sonhos.’’), ou seja, a gravidez é prosseguida contra a vontade, mas ao mesmo tempo refere (S5: ‘‘…comecei a consciencializar gravidez. As que pessoas tinha à sua que ser volta mãe…’’), na aceitando instituição onde a se encontrava é que descobriram a sua gravidez (S5: ‘‘…pensavam que eu estava com anemia e fizeram me uns testes…’’). Como é que te imaginas como mãe? A categoria a partir da questão elaborada é ‘‘mãe que serei’’, tendo como subcategorias: Não sabe - uma participante não sabe que mãe será, pois não sabe o que é ser mãe (S5: ‘‘Sei lá. Vai ser difícil, muito difícil. Mas se houver um talvez eu consiga…’’). 37 pouco de responsabilidade…apoio, Mãe perfeita - 3 adolescentes consideram que serão muito boas mães, fazendo os possíveis para que não lhes falte nada. Uma jovem refere (S1: ‘‘Acho que vou ser uma mãe galinha.’’), recorrendo a uma atitude funcional (S1: ‘‘…estou a tirar um curso de apoio a crianças, já é alguma ajuda…’’) e contando com a sua mãe como auxiliar (S1: ‘‘Depois a minha mãe também me ajuda.’’). Outra participante diz (S2: ‘‘Dar tudo o que o meu filho precisa.’’, ‘‘Ser uma boa mãe e fazer os possíveis que ele cresça e fique bem.’’). E ainda outra (S4: ‘‘…tratá-la bem, vesti-la bem, para ela estar sempre bem, cuidar dela para ela estar sempre comigo.’’). Igualar/ultrapassar a mãe - uma participante revela querer ser tão boa como a sua própria mãe foi para ela ou ainda melhor (S3: ‘‘Espero ser o que quero ser.’’, ‘‘Dar o que a minha mãe me deu e o que achei que faltou…’’, ‘‘Vou tentar que com o meu filho as coisas corram melhor.’’). Que tipo de dificuldades é que achas que vais ter? Esta questão tem como categoria ‘‘dificuldades’’, extraindo-se as seguintes subcategorias: Dificuldades funcionais - 3 jovens acham que terão dificuldades funcionais de diversos tipos. Uma refere os estudos (S1: ‘‘Vai ser difícil nos estudos…’’), outra participante integra o medo da sua própria incapacidade/agressividade (S2: ‘‘Os primeiros banhos, mudar a fralda.’’, ‘‘…medo de pegar nele…vesti-lo…’’) e por último, uma jovem refere dificuldades funcionais ao ter que mudar o centro do mundo, ao deixar de ser o centro da sua atenção (S3: ‘‘Já não vai ser acordar e pensar em mim, agora vai ser acordar e pensar nele.’’, ‘‘…não estou habituada a acordar a meio da noite para dar de mamar, nem com choro…isso me vai dificultar um bocadinho.’’). Dificuldades na comunicação - uma jovem tem medo de não conseguir compreender o bebé (S5: ‘‘…em saber como lidar, saber qual é que é o tipo de choro…’’, ‘‘Acho que vai ser uma coisa muito difícil.’’). 38 Negação - uma jovem refere apenas achar que não terá qualquer tipo de dificuldade (S4: ‘‘Eu acho que nenhuma, nenhuma.’’). Mudou alguma coisa na tua vida? A categoria selecionada para esta questão é a ‘‘perceção de mudança’’ das jovens, obtendo-se as seguintes subcategorias: Perda - 2 participantes mencionam como mudança algumas perdas de diversa índole (S2: ‘‘…já não estou a estudar.’’, ‘‘…novas responsabilidades, já não posso pensar só em mim.’’), o que sugere que aceita e inclui na sua vida uma outra pessoa. Outra jovem refere mudanças nos hábitos diários (S3: ‘‘Já não tenho a mesma rotina diária…Já não vou à escola onde ia…’’, ‘‘Já não faço educação algumas física mudanças como fazia…’’), fisiológicas como os acrescentando enjoos e o ainda cansaço, consequência da gravidez. Vantagens - 2 jovens referem vantagens advindas com a gravidez, tal como, o facto de ser cuidada (S1: ‘‘…acho que as minhas amigas ficaram mais atenciosas a ter cuidados comigo, a querer tomar conta de mim…’’), ou ainda, para além do apoio e da segurança advindo a partir dai, o facto de realizar novas aprendizagens (S4: ‘‘Eu pensava diferente.’’, ‘‘…aprendi tantas coisas aqui.’’, ‘‘…agora estou a aprender muita coisa, estou a estudar…’’). Muita coisa - uma participante refere apenas muita coisa, não querendo prosseguir o assunto (S5: ‘‘Mudou muita coisa!’’). 2ª entrevista: O que é para ti ser mãe? Desta questão elaborou-se, tal como na primeira entrevista, a categoria ‘‘ser mãe’’, obtendo-se as seguintes subcategorias: Idealização - 3 participantes idealizam a situação, o que poderá ser bom na medida em que transmite confiança para as próprias, no entanto, desde que não seja de forma exagerada. Uma jovem refere o significado de ser mãe em termos afetivos, 39 na adaptação ao filho e no viver para outrem (S1: ‘‘…é fixe a sensação.’’, ‘‘É bom, é ser exemplar, é tratar do meu filho, dar-lhe carinho, amor, entre várias coisas.’’). Uma outra participante também incorpora o significado como o adaptar-se ao filho e viver para ele (S2: ‘‘É começar a aprender na vida, começar a ter responsabilidades, perante os nossos filhos, cuidar deles, saber cuidar, saber educar, muita coisa.’’, ‘‘Para mim é bom.’’). E para outra jovem, idealizando, igualmente, tem implícita uma mudança para outrem (S4: ‘‘É uma sensação tão grande.’’, ‘‘Ser mãe é cuidar da minha filha, dar-lhe educação, amá-la, dar carinho.’’, ‘‘…aprendi muitas coisas com a minha filha…a ser adulta, a ter responsabilidades…Ser uma pessoa correta, sem fazer besteiras…’’). Filho que completa - uma jovem menciona o facto de o filho a completar, existindo medo da perda (S3: ‘‘…já não me imagino sem o meu filho…’’, ‘‘…é sentir que pelo meu filho faço tudo, qualquer coisa…’’, ‘‘…pensar que se algum dia fico sem ele…tenho medo…’’, ‘‘É ter vontade de satisfazê-lo…’’). Não sabe explicar - uma participante não sabe explicar (S5: ‘‘Não sei, não sei mesmo.’’, ‘‘É bom, é uma experiência ótima.’’), no entanto, percebe-se que o filho a completa (S5: ‘‘…agora sinto que tenho alguém para cuidar…que vai estar sempre na minha vida…’’). Quando é que surgiu esse sentimento? No seguimento da primeira entrevista, selecionou-se como categoria o ‘‘desejo de ser mãe’’, tendo neste caso apenas uma subcategoria, por todas as participantes terem respondido de igual forma: Perante os factos - as 5 participantes do estudo dizem que o sentimento de ser mãe surgiu quando se tornou real, a partir do momento em que a criança nasceu (S1: ‘‘…no momento em que o tive no colo.’’ e ‘‘Desde o primeiro dia em que eu o vi.’’), apesar de agora expressar que quando estava grávida fantasiava (S1: ‘‘…pensava com quem é que ele se vai parecer, como é que ele vai ser…’’). As falas das outras participantes referem-se apenas que foi perante os factos, não tendo acrescentado mais nada (S2: ‘‘No primeiro dia em que ele nasceu, logo.’’, ‘‘…meteram-no em cima de mim e foi logo.’’), (S3: ‘‘Logo que ele 40 nasceu.’’, ‘‘…quando eu o vi, peguei nele…’’), (S4: ‘‘Quando o bebé nasceu.’’, ‘‘Gostava de estar grávida, estava contente, mas agora é melhor.’’) e (S5: ‘‘Foi logo quando ela nasceu.’’, ‘‘…ainda não me tinha mentalizado…não sabia o que seria e agora já sei.’’). Como é que te descreves como mãe? Sendo que na primeira entrevista a questão foi colocada de forma a dizerem como achavam que iriam ser como mães, podendo agora descrever-se, após terem vivido a experiência. A categoria é ‘‘mãe que sou’’, obtendo-se como subcategorias: Mãe boa - 2 participantes descreveram-se como boa mãe, no entanto, numa das jovens denota-se o filho como o seu complemento narcísico (S1: ‘‘Sou uma mãe boa.’’, ‘‘Agora já não sou ninguém sem o meu filho, ele tem de estar ao pé de mim.’’, logo o filho completa-a. A outra jovem, pelo contrário, faz uma valorização da figura materna, desejando igualar-se à sua própria mãe (S3: ‘‘…boa mãe, mãe galinha.’’, ‘‘…tentar ao máximo ser com o meu filho, tão boa mãe como a minha mãe foi para mim e continua a ser.’’). Mãe responsável - 2 participantes revelam-se mães responsáveis (S2: ‘‘Ser séria. Apesar do meu feitio e do meu comportamento, perante o meu filho está tudo normal.’’), existindo uma mudança a favor da criança e, ainda (S2: ‘‘Não sou a melhor mãe que existe aqui…todos os dias vou aprendendo com as monitoras…’’), valorizando a adolescente não ajuda das acrescenta pessoas nada que mais a (S4: rodeiam. A ‘‘Aprendi outra a ser adulta…’’, ‘‘…mãe responsável.’’). Não sabe - apenas uma adolescente não consegue descrever o seu papel como mãe (S5: ‘‘É difícil. As más noites é horrível…’’). Que tipo de dificuldades é que tens sentido? No seguimento da primeira ‘‘dificuldades e como subcategorias: 41 entrevista, temos a categoria Dificuldades funcionais dificuldades práticas - 2 no adolescentes cuidado da referem criança sentir (S2: ‘‘Na amamentação só.’’, ‘‘Ele quando está com birra, eu não o consigo deixar chorar muito tempo’’). A outra jovem para além de dificuldades no cuidado do bebé refere, também, dificuldades na sua própria adaptação à nova instituição e a novas pessoas (S5: ‘‘…durante a noite tenho que me levantar da cama e ir fazer o leite…mas tenho de me adaptar.’’). Negação - 2 jovens negam ter qualquer tipo de dificuldade no cuidado com os filhos (S1: ‘‘Nenhuma, nenhuma.’’, ‘‘…adaptei-me aos horários dele…’’), ao mesmo tempo que refere ter medo da sua própria agressividade (S1: ‘‘Ao principio tinha medo de o aleijar…’’). A outra jovem limita-se a negar dificuldades (S4: ‘‘Nenhuma…já criei os meus sobrinhos…’’, ‘‘…ainda não tive dificuldade de criar a minha filha.’’). Dificuldades nos estudos - apenas uma das adolescentes refere como dificuldades os estudo, tendo-se adaptado bem à criança (S3: ‘‘…conciliar a escola com o ser mãe…’’, ‘‘De resto, não tenho tido nenhuma dificuldade…’’). Que tipo de apoio é que tens? Esta questão revela-se completamente nova, havendo portanto uma categoria criada de raiz, ‘‘apoio que tenho’’ e como subcategorias surgiram as seguintes: Mãe como auxiliar - uma jovem vê na mãe um apoio no cuidado à criança (S3: ‘‘…o apoio da minha mãe em casa.’’) e no namorado/pai do filho um sustento para a nova família (S3: ‘‘…ganha bem para nós…’’). Segurança social - uma participante refere como principal apoio económico a segurança social (S1: ‘‘Agora estou a depender da segurança social…’’), não deixando de referir o apoio da avó com quem vive desde pequena, do namorado/pai da criança e da mãe que vive na casa ao lado, permitindo o acontecimento reparar a relação mãe-filha (S1: ‘‘Comecei a viver com a minha avó tinha eu 6 anos…é como uma mãe para mim, ela ajuda-me 42 muito…’’, ‘‘Com a minha mãe, antes a relação não era muito boa mas agora sim.’’). Instituição/Residência - as restantes 3 participantes mencionam como principal apoio a instituição onde vivem (S2: ‘‘…a minha vida estava mesmo a acabar.’’, ‘‘Se eu não tivesse pedido ajuda, eu e o meu filho não estávamos cá.’’, ‘‘Aqui não me falta nada.’’), não deixando de referir as monitoras e doutoras da instituição como grande auxiliares ao nível da aprendizagem dos cuidados a ter com o filho. As outras jovens referem (S4: ‘‘…na Residência tenho tudo para mim e para a minha filha.’’) e (S5: ‘‘Tenho a instituição…’’, ‘‘Dão-me tudo para o bebé, não me falta nada.’’), maternidade tendo como propiciado a já visto reparação noutro da exemplo, relação a mãe-filha (S5:’’…agora vejo a minha mãe com alguma frequência.’’). Desde que nos vimos, mudou alguma coisa na tua vida? Para esta questão selecionou-se como categoria, no seguimento da 1ª entrevista, ‘‘perceção de mudança’’, obtendo como subcategorias: Perdas - 2 adolescentes mencionam perdas quando questionadas acerca das mudanças ocorridas desde a primeira entrevista (S1: ‘‘…queria ser cabeleireira…’’, ‘‘Agora no próximo ano não tenciono estudar…não quero continuar a depender da segurança social.’’), observando-se para além de perdas concretas ao nível dos planos profissionais, uma mudança na sua vida por forma a poder cuidar de outrem, referindo ainda a perda da liberdade. A outra jovem ao mencionar as perdas relativas à liberdade revela uma grande imaturidade (S2: ‘‘…não estou habituada a ter regras…’’, ‘‘O que mudou também, foram as minha saídas à noite.’’, ‘‘O que eu tenho mais pena é que a minha juventude acabou, curtir a vida.’’). Responsabilidade - 2 jovens referem mudanças ao nível da responsabilidade (S3: ‘‘Sempre fui muito paparicada pela minha mãe, não fazia muita coisa em casa.’’, ‘‘…acordo trato de mim e do meu filho’’) e (S4: ‘‘Mudou o meu comportamento, mudou a minha rotina, já não entro e saio de casa às horas que quero, agora tenho horários…’’), coloca a filha em primeiro lugar, e ao mesmo tempo fantasia, pois já não se encontra em relacionamento com o pai da filha (S4: ‘‘…quero arranjar uma 43 casa para mim, para a minha filha e para o pai da minha filha…’’). Filho que completa - apenas uma jovem menciona como grande mudança o sentimento de se sentir completa (S5: ‘‘Agora sinto que tenho referindo alguém ainda para cuidar…’’, mudanças ao nível ‘‘…adiar da os planos…’’), responsabilidade e a mudança de instituição. Após terem sido apresentados os dados relativos ao material aplicado às adolescentes, participantes do estudo, é feita em seguida uma discussão dos resultados encontrados e interpretados pelo investigador, baseando-se na literatura que se encontra nos capítulos anteriores. IV. DISCUSSÃO DOS RESLTADOS Esta investigação foi delineada com o objetivo geral de perceber como é que as adolescentes que se deparam com uma gravidez nesta fase das suas vidas, vão construindo ao longo da gestação e após o parto, a identidade materna. Através da observação de cada caso individual, analisando as duas entrevistas efetuadas de modo a detetar as diferenças encontradas, bem como os progressos realidade, sujeitos, ou retrocessos recorrendo por forma existentes igualmente a perceber à as adolescentes, numa mesma situação. 44 na confrontação comparação diferenças de com entrevistas existentes a nova entre entre as O significado que ser mãe acarreta para as jovens durante a gravidez, revelou-se bastante diferente no grupo estudado. Devido ao facto de na quase totalidade da amostra a gravidez não ter sido planeada, excetuando a situação de uma das jovens em que a gravidez é vista como uma oportunidade de vida, uma vida idealizada (tendo neste caso sido planeada como estratégia de constituir uma nova família com o namorado), verifica-se que a partir do momento da confrontação com a situação real de estar grávida, as adolescentes reagem de forma ambivalente, não desejando desde logo a gravidez. Este achado vai ao encontro do que referem Camacho et al. (2010), que quando uma gravidez não é planeada, sendo o caso da maioria da amostra, podem surgir uma panóplia de sentimentos, como frustração, culpa, vergonha, entre outros. Verifica-se na quase totalidade da amostra a presença do pensamento mágico, negando a gravidez por bastantes meses, tendo sido a confirmação desta na maioria dos casos no segundo trimestre. Havendo a posterior rejeição da mesma, pelo significado que isso carrega. Sendo que após a tomada de consciência e após ultrapassado o medo e o susto se subentende a aceitação da nova situação pelas adolescentes. Pois apesar de algumas jovens mencionarem já terem pensado acerca de serem mães, como já referido por Mota (2011), verifica-se que em muitos casos o desejo de ter um filho e o de ser mãe não coincidem, na ausência de um projeto pensado e definido. De notar que três das adolescentes colocaram a hipótese de abortar, sendo que duas o mencionam explicitamente, quando colocada a questão de que forma reagiram à descoberta. A possibilidade de abortar poderá estar associada ao grau de estabilidade da relação com o pai da criança ou do contexto sociofamiliar, pois nos dois casos em que o desejo de abortar foi explícito, as jovens não mantinham uma boa e próxima relação com familiares, da própria estabilidade emocional, bem como, do não planeamento da gravidez. Apesar de não ser notório à partida, o desejo de ser mãe acaba por contemplar todas as adolescentes do estudo, a maioria revelando ter sido no momento da descoberta, tendo esta sido tardia, onde as modificações físicas já se manifestavam, indo ao encontro do que refere Maruani (1990, cit. in Nodin, 2001), que a noticia de uma gravidez, tal como as transformações que a partir daí ocorrem, podem ser fatores que desencadeiam o desejo de ser mãe. A idealização está bastante presente nas jovens do estudo, indo ao encontro do que referem Konig et al. (2008), muitas jovens descrevem o ser mãe, após a consciencialização da situação, como um acontecimento maravilhoso, com uma mistura de responsabilidade e sacrifícios. No estudo, durante a gravidez, a maioria imagina que será boa mãe, revelando fazer tudo para lhes proporcionar o conforto e o amor necessário para o bem-estar da criança. Uma outra jovem que refere não saber como será como mãe, poderá advir do facto de não ter tido uma mãe presente ao longo do seu desenvolvimento (ausência de modelo), sendo que desde muito pequena foi viver para uma instituição, contactando com a sua mãe muito pouco. Como Dadoorian (2003) 45 acrescenta, a maternidade, muitas vezes, ocorre devido à falta de atenção vivida pelas jovens no seio familiar, transpondo dessa forma, para o filho uma diversidade de expectativas, tais como, proporcionar-lhe carinho e proteção. Ainda uma outra jovem que refere querer ser tão boa mãe como a sua foi para ela mesma, revelando desde já o modelo a seguir para com a sua própria filha. Estes achados vão ao encontro de Nascimento et al. (2005) que defendem que a forma como as jovens foram criadas pelos próprios pais, ou os cuidados com eventuais irmãos mais novos, propicia o treino para a prática da maternidade sendo que, dessa forma, estas podem-se guiar pela imitação. No entanto, esta adolescente, sublinha ainda querer se possível ser melhor do que a sua mãe, tentando talvez ultrapassar algumas falhas afetivas sentidas. Relativamente às relações mantidas e ao suporte emocional, as jovens que vivem com a mãe ou no caso de uma das jovens que tem a avó presente, descrevendo-a como mãe, usufruem de suporte emocional. Sendo as mães as figuras consideradas privilegiadas como adolescentes, que modelos de referência para as adolescentes. As outras duas após terem engravidado viram-se obrigadas a recorrer ao abrigo de uma instituição, pouco contato têm com familiares, sendo o suporte emocional fornecido pelas colegas e tutoras da instituição. Apenas uma adolescente refere na altura da gravidez, imaginar como será o seu filho que, como defende Sá (2004), esta revela-se de forma continuada ao longo da gestação, terminando muitas vezes, apenas no momento do parto. Pois os laços vinculatórios iniciam-se logo durante a gravidez, fortificando-se no discorrer das trocas afetivas entre a mãe e o filho. Relativamente às dificuldades que se espera ter após o parto, na primeira entrevista, são mencionadas dificuldades mais de tipo funcional, relativas aos cuidados a ter com o bebé. Assim como referiram Godinho et al. (2000), que as preocupações sentidas pelas jovens durante o período gestacional são, na maioria, dificuldades funcionais, bem como, medo e ansiedade do parto. Quando questionadas acerca das mudanças ocorridas nas suas vidas, na primeira entrevista, presenciam-se respostas completamente opostas, havendo quem defenda que a gravidez lhe trouxe alguns ganhos, tendo esses ganhos sido afetivos e, perdas relativas à liberdade, aos seus hábitos diários e responsabilidades novas, inesperadas nestas idades. Como Folle e Geib (2004) mencionam, a maternidade, para muitas jovens, torna-se um ganho afetivo qualificando o processo de desenvolvimento pessoal e social, tornando-as mais maduras. Apenas uma jovem refere não saber que mudanças ocorreram na sua vida, precisamente por não saber o que significa ser mãe e que papel deverá desempenhar. Trata-se de um único caso entre as jovens entrevistadas, uma adolescente que se sente completamente perdida com a notícia da gravidez, que se sente referência a sozinha, seguir, sem com familiares que uma mudança 46 de a apoiem, instituição sem por um se modelo de encontrar grávida, tendo deixado todos as relações que tinha realizado ao longo dos anos na instituição onde vivia. Na segunda entrevista, tendo decorrido algum tempo após o parto e após os laços entre mãe e filho terem sido criados, quando questionado às adolescentes acerca do significado de ser mãe, apenas uma resposta se mantém igual. As outras jovens idealizam o que ser mãe significa, havendo ainda uma jovem que se sente completa. Neste segundo momento, todas as jovens, sem exceção referem que se sentiram mães no momento do nascimento, assim que tiveram a criança nos seus braços. Logo, todo o tempo passado, os meses de gravidez, as respostas dadas anteriormente são como eliminadas, tudo agora se torna real/vivo e concreto. Agora têm a certeza que existe um outro que precisa de cuidados e amor da sua parte, algo que até ao momento não se haviam dado conta, apesar de alguma ter referido anteriormente que sim. Tal como mencionado, refere Cabral (2003) que o nascimento de um bebé parece incrementar nas jovens o processo de transição para a vida adulta, sentindo-se estas mais responsáveis, consequência da incorporação do novo papel a desempenhar. De notar que todas as adolescentes se veem na altura da entrevista como boas mães, responsáveis, indo ao encontro do que algumas já imaginavam que iriam ser. Sendo a maternidade na adolescência vivida com insegurança, incerteza e sentimentos de angústia, como se houvesse uma transgressão, as jovens sentem necessidade de provarem que se pode ser uma boa mãe (Mazzini et al., 2008). Havendo ainda uma jovem que não sabe descrever-se no papel que atualmente desempenha como mãe. Quanto às dificuldades sentidas no decorrer dos cuidados com a criança, mantêm-se as que eram imaginadas para algumas jovens. Sendo as dificuldades relativas aos estudos a mais apontada, tal como Godinho et al. (2000) concluíram no seu estudo que o abandono escolar é na maioria das vezes a mudança mais significativa. Tendo outras jovens referido não estar a sentir qualquer adaptação boa, dificuldade juntamente no com cuidado algumas com jovens a criança, tendo sido que conseguem manter a os estudos, como Folle e Geib (2004) defendem que também ocorre o contrário, havendo jovens que ao se tornarem mais maduras, ganham motivação para continuar a estudar. O apoio que as jovens detêm no momento é de diversas índoles, sendo para uma a segurança social, a nível económico, mas tendo a sua avó e mãe como figuras de suporte emocional, bem como o companheiro/pai da criança. No caso da jovem que desde pequena habita em residências, tendo sempre mantido uma relação de distância com a sua mãe, sendo esta muito pouco harmoniosa, é visível que após o nascimento da criança, a relação entre ambas se tenha tornado mais estreita, referindo a jovem que agora estão muitas vezes juntas e que aos 18 anos, quando tenha que sair da instituição irá residir com a sua mãe. Sendo o apoio principal a instituição onde reside, fornecendo-lhe tudo o que necessita para a criança e para si própria. 47 As jovens que mantinham uma relação estável com o pai da criança antes de engravidarem, mantiveram-na tendo o companheiro feito parte de todo o desenvolvimento ao longo da gravidez e após o parto. Exceto um caso, em que a jovem planeou a gravidez numa altura em que se encontrava numa relação e antes da confirmação da mesma a relação já havia terminado, tendo se mantido assim. Duas jovens, pelo contrário, mantêm uma relação conflituosa com o pai da criança, sendo num dos casos por opção da jovem que não tenciona manter um relacionamento amoroso e, em outro caso, o próprio pai da criança nega a paternidade. Para a última questão colocada, ligada às mudanças ocorridas desde o nascimento do bebé, aqui deixam de existir vantagens mencionadas nas respostas à primeira entrevista. As jovens, consciencializadas agora da nova situação e das transformações todas advindas daí, referem novamente perdas, igualmente ligadas à responsabilidade e à liberdade e, ainda, revelando uma grande imaturidade da parte de uma jovem, que menciona a perda da sua liberdade como jovem, relacionada com as saídas à noite. E não esquecendo a jovem que se encontra perdida, apesar de já estar consciente do seu novo estatuto que, as mudanças para ela ocorridas referem-se ao preenchimento que sente ao ter alguém para cuidar, alguém que não a abandonará e que estará sempre presente, tendo obviamente, também, de adiar os seus planos de vida por outrem. V. CONCLUSÃO 48 Confirma-se no presente estudo muito do que foi dito teoricamente acerca da gravidez maternidade na e maternidade adolescência na adolescência. pressupõem, A gravidez sempre, uma e a transição desenvolvimental, por serem acontecimentos que colocam em questão o sistema pessoal a todos os níveis, estrutural, emocional e funcional, requerendo mudanças e em consequência, novas tarefas de desenvolvimento, revelando-se numa aceleração de papéis (Raeff, 1994, cit. in Soares & Jongenelen, 1998). Observa-se que uma gravidez na adolescência gera crise, pois em quase todos os casos esta é encarada como uma interrupção dos projetos e percurso delineados pelas jovens, seja o percurso escolar, como as relações amorosas, familiares, de amizade, bem como outras ambições pessoais. Como diz Canavarro (2001), a maternidade é um projeto a longo prazo e, havendo um projeto adaptativo de maternidade, a gestação permite a preparação para ser mãe. No entanto, encontrando-se numa fase das suas vidas de consolidação dos seus aspetos identitários, constituindo-se como mulheres, as adolescentes confrontam-se com a dificuldade de ao mesmo tempo terem de assumir simultaneamente o estatuto de filhas e o novo papel de passarem elas próprias a ser mães. A identidade materna nas adolescentes surge ao mesmo tempo que é consolidada a mudanças sua própria identidade, assistindo-se físicas corporais que definem o à passar-se sobreposição a ser das mulher e simultaneamente mãe. No entanto, a consolidação da nova identidade, por vezes é dificultada devido ao facto das jovens mães não terem elaborado o desejo da maternidade, adolescência ainda estando emergentes, os conflitos tornando-se próprios complicado a da fase resolução da dos mesmos na nova situação com que se deparam ligada à maternidade, onde se juntam, também, os conflitos ligados à vivência materna. Tal como diz Kimura (1997), a construção da identidade materna implica um relacionamento baseado na sua vinculação com o filho. Sendo precisamente no momento do nascimento e no desenrolar da relação entre ambos ao longo do tempo, onde se atribui o papel de filho à criança que nasceu, assume-se o papel de mãe. Dessa forma, apesar da identidade materna ter começado a ser construída ao longo da gestação, identidade essa elaborada através de uma imagem idealizada das adolescentes como mães e dos bebés como filhos, somente após o parto essa imagem idealizada se torna numa imagem concreta. Ou seja, é perante os factos, perante a situação real de ter uma criança nos braços para cuidar que a identidade materna se intensifica nas adolescentes que não haviam planeado nem desejado uma gravidez nesta altura da vida, deixando para trás muitos dos projetos pensados, delineados e construídos, para se dedicarem ao que dizem ser o mais importante neste momento, a saúde e o bem-estar dos seus filhos. Importante sublinhar o fato de nenhuma das adolescentes rejeitar a criança após o parto. Apesar de na primeira entrevista haver uma rejeição da ideia de ter um filho pela maioria das adolescentes, a verdade é que após se terem consciencializado da ideia de serem mães e de terem alguém 49 para cuidar, o que implica uma reestruturação profunda nas suas vidas, bem como, de perdas ao nível profissional, relacional e pessoal, passa a haver uma aceitação da sua nova condição de mãe. Ainda a referir é o facto de os resultados irem ao encontro dos achado de Chang e Chisholm (1998), em que existe um maior risco de ocorrer uma gravidez na adolescência em famílias monoparentais, onde a figura paterna está ausente. Nenhuma das jovens do estudo vive com o seu pai. As mães adolescentes parecem, assim, inserir-se num quadro familiar deficitário. Entende-se, assim, que uma gravidez e maternidade, mesmo na adolescência, são vividas de acordo com cada caso isolado, através das experiências acumuladas pela individualidade histórica e pessoal de cada um. Limitações Uma das limitações centrais deste estudo é a dimensão da amostra. Os resultados poderiam ser mais abrangentes se o número de participantes fosse mais alargado, não se podendo assim, inferir conclusões a partir desta. Os poderiam questões, questionários ser sociodemográficos, aperfeiçoadas assim como pela a partir da remodelação bem como, introdução de outros, as de entrevistas, novos pois a itens partir e da experiência constatou-se que as jovens sentem alguma dificuldade em falar da sua vida, apesar de quando questionadas responderem ao pedido. As conclusões alcançadas, concentram-se no grupo estudado, sublinhando a impossibilidade de extrapolar tais valores para considerações gerais em relação ao fenómeno estudado. Sugestões Como sugestões, poderá ser interessante fazer um estudo longitudinal que acompanhe as jovens durante todo o processo de gravidez, desde o momento em que recebem a notícia de que estão grávidas até ao parto e durante alguns meses da maternidade. Talvez pudesse ser pertinente entrevistar, para alguns familiares, bem como, o namorado/pai da criança. 50 além das jovens, VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aires, L. (2011). Paradigma Qualitativo e Práticas de Investigação Educacional. Lisboa: Universidade Aberta. Almeida, J. (1987). Adolescência e Maternidade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. Amazarray, M., Machado, P., Oliveira, V. & Gomes, W. (1998). A Experiência de Assumir a Gestação na Adolescência: um Estudo Fenomenológico. Psicologia: Reflexão e Crítica, 11 (3). Ariès, P. (1988). A Criança e as Vida Familiar no Antigo Regime. Lisboa: relógio d’Água. (Obra original publicada em 1973). Bardin, L. (1994). Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70. Bibring, G. (1959). Some considerations of the psychological processes in pregnancy. The Psychoanalytic Study of the Child, 14, 113-121. Borges, M. (2005). Função Materna e Função Paterna, Suas Vivências na Atualidade. (Tese para obtenção do grau de mestre em Psicologia). Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia. Borsa, J. (2007). Considerações acerca da Relação Mãe-Bebé da Gestação ao Puerpério. Psicanálise e Transdisciplinaridade, 2, 310-321. 51 Borsa, J. & Feil, C. (2008). O Papel da Mulher no Contexto Familiar: Uma Breve Reflexão. Consultado no dia 7 de Dezembro de 2011 em: www.psicologia.com.pt. Braconnier, A. & Marcelli, D. (2000). As mil faces da adolescência. Lisboa: Climepsi. Braconnier, A. & Marcelli, D. (2005). Adolescência e psicopatologia. Lisboa: Climepsi. Brazelton, T. (1992). Tornar-se Família - O Crescimento da Vinculação Antes e Depois do Nascimento. Lisboa: Terramar Edições. Bruno, Z., Feitosa, F., Silveira, K., Morais, I. & Bezerra, M. (2009). Reincidência de Gravidez em Adolescentes. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, 31 (10), 480-484. Cabral, C. (2003). Contracepção e gravidez na adolescência na perspectiva de jovens pais de uma comunidade favelada do Rio de Janeiro. Cadernos de Saúde Pública, 19 (2), 283-292. Camacho, K., Vargens, O., Progianti, J. & Spíndola, T. (2010). Vivenciando Repercussões e Transformações de uma Gestação: Perspectivas de Gestantes. Ciencia y Enfermeria, 2 (16), 115-125. Camarano, A. & Mello, J. (2006). Transições ao Longo do Ciclo da Vida. In Transição para a Vida Adulta ou Vida Adulta em Transição?/Org Ana Amélia Camarano. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa Económica Aplicada, 13-30. Camarano, A., Mello, J. & Kanso, S. (2006). Do Nascimento à Morte: Principais Transições. In Transição para a Vida Adulta ou Vida Adulta em Transição?/Org Ana Amélia Camarano. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa Aplicada, 31-60. Campos, R. (2000). Processo Gravídico, Parto e Prematuridade: Uma discussão teórica do ponto de vista do psicólogo. Análise Psicológica, 1 (18), 15-35. Canavarro, M. (2001). Gravidez e Maternidade - Representações e Tarefas de Desenvolvimento. In In Canavarro, M.(Ed.) Psicologia da Gravidez e da Maternidade. Coimbra: Quarteto Editora, 17 - 48. Canavarro, M. & Pereira, A. (2001). Gravidez e Maternidade na Adolescência: Perspectivas Teóricas. In Canavarro, M.(Ed.) Psicologia da Gravidez e da Maternidade. Coimbra: Quarteto Editora, 323-355. 52 Cassiani, S., Caliri, M. & Pelá, N. (1996). A teoria fundamentada nos dados como abordagem da pesquisa interpretativa. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 4 (3), 75-88. Cárdenas, W., López, J. & Cortés, Á. (2004). El Embarazo Adolescente y la Construcción de Identidad. Hallazgos - Revista de Investigaciones. Bogotá: Departamento de Comunicaciones de la Universidad Santo Tomás. Chang, P. & Chisholm, R. (1998). National Initiative on Teenage Pregnancy. Virginia: American Medical Student Association. Colman, L. & Colman, A. (1994). Gravidez - A Experiência Psicológica. Lisboa: Colibri. Colucci, A., Mello, A., Mello, C., Pavan, E., Silveira, L. & Grácio, M. (2006). Investigação das Condições para a Instalação da Preocupação Maternal Primária: Incidência na População e Estudo Longitudinal dos Bebés Observados. Arquivos Brasileiros de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal, 100 (1). São Paulo. Conde, A. & Figueiredo, B. (2007). Preocupações de mães e pais, na gravidez, parto e pós-parto. Análise Psicológica, 3 (25), 381-398. Cordeiro, D. (1987). Saúde Mental e a Vida. Lisboa: Ed. Salamandra. Correia, M. J. (1998). Sobre a maternidade. Análise Psicológica, 3 (16), 365-371. Costa, M. (1994). Divórcio, Monoparentalidade e Recasamento - Intervenção Psicológica em Transições Familiares. Edições ASA/Instituto para o Desenvolvimento Humano. Cotralha, N. (2007). Adaptação Psicológica à Gravidez em Mulheres Toxicodependentes. Lisboa: Dinalivro. Cruz, M. (1990). Encantos e Desencantos da Maternidade. Análise Psicológica, 8 (4), 367-370. Dadoorian, D. (2003). Gravidez na Adolescência: um Novo Olhar. Psicologia, Ciência e Profissão, 21 (3), 84-91. Deus, I. (2009). A Maternidade na Adolescência: ‘‘O Efeito Bairro para a Socialização na Gravidez Precoce’’. (Tese para obtenção do grau de Mestre em Serviço Social). Faculdade Universidade Católica Portuguesa. 53 de Ciências Humanas. Lisboa: Erikson, E. (1972). Identidade, Juventude e Crise. Rio de Janeiro: Zahar Editores. Erikson, E. (1995). Childhood and Society. London: Vintage. Faria, C. (2001). Aspectos psicológicos da infertilidade. In Canavarro, M.(Ed.) Psicologia da Gravidez e da Maternidade. Coimbra: Quarteto Editora, 189-209. Ferreira, M. & Nelas, P. (2006). Adolescências…Adolescentes…Millenium Revista do ISPV, 32 (11), 141-162. Figueiredo, B. (2000). Maternidade na Adolescência: Consequências e Trajectórias Desenvolvimentais. Análise Psicológica, 4 (18), 485-498. Figueiredo, B. (2001). Mães e Bebés. Textos Universitários de Ciências Sociais e Humanas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. Figueiredo, B. (2003). Vinculação materna: Contributo para a compreensão das dimensões envolvidas no processo inicial de vinculação da mãe ao bebé. Revista Internacional de Psicología Clínica y de la Salud, 3 (3), 521-539. Figueiredo, B., Pacheco, A. & Magarinho, R. (2005). Grávidas Adolescentes e Grávidas Adultas. Diferentes Circunstâncias de Risco? Porto: Acta Médica, 18 (2), 97-105. Fleming M. (1993). Adolescência e Autonomia - O desenvolvimento psicológico e a relação com os pais. Porto: Edições Afrontamento. Folle, E. & Geib, L. (2004). Representações Sociais das Primíparas Adolescentes sobre o Cuidado Materno ao Recém-Nascido. Revista LatinoAmericana de Enfermagem, 12 (2), 183-190. Gerardo, F. (2004). Maternidade na Adolescência: uma forma de integração social e/ou exclusão social. In A Questão Social no Novo Milénio.(VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais). Coimbra: Faculdade de Economia. Gerardo, F. (2006). A Maternidade na Adolescência Constrói Diferentes Modos de ser-se Mãe: ‘‘adolescente-mãe’’, ‘‘mãe-adolescente’’, ‘‘mãe-amiga’’ Construção identitária e integração social. Cidades - Comunidades e Territórios, 12 (13), 121-133. Glaser, B. (1978). Theoretical Sensivity. Mill Valley: Sociology Press. 54 Gleitman, H., Fridlund, A. & Reisberg, D. (2007). Psicologia. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. Godinho, R., Schelp, J., Parada, C. & Bertoncello, N. (2000). Adolescentes e Grávidas: Onde Buscam Apoio? Revista Latino-Americana de Enfermagem, 8 (2), 25-32. Guembe, P. & Goñi, C. (2004). No ho diguis als meus pares. Com conèixer I resoldre els problems dels adolescents. Barcelona: Columna Edicions. Hollway, W., Phoenix, A., Elliott, H., Urwin, C. & Gunaratnam, Y. (2009). Identities in Process: Becoming Bangladeshi, African Caribbean and White Mothers. UK: Economic & Social Research Council. INE. (2011). Indicadores Sociais - 2010. Consultado em 20 de Maio de 2012, através de http://www.ine.pt. Joffily, S. & Costa, Adolescência? L. (2005). Retirado É em 13 Possível de Prevenir Novembro a Gravidez na de 2011 em www.psicologia.com.pt. Jongenelen, I., Soares, I., Grossmann, K. & Martins, C. (2006). Vinculação em mães adolescentes e seus bebés. Psicologia, 20 (1), 11-36. Justo, J. (2000). Gravidez adolescente, maternidade adolescente e bebés adolescentes: Causas, consequências, intervenção preventiva e não só. Revista Portuguesa de Psicossomática, 2 (2), 97-147. Justo, J., Bacelar-Nicolau, H. & Dias, O. (1999). Evolução Psicológica ao Longo da Gravidez e Puerpério: Um Estudo Transversal. Revista Portuguesa de Psicossomática, 1 (1), 115-129. Keller, H., Lamm, B., Abels, M., Yovsi, R., Borke, J., Jensen, H., Papaligoura, Z., Holub, C., Lo, W., Tomiyama, A., Su, Y., Wang, Y. & Chaudhary, N. (2006). Cultural Models, Socialization Goals, and Parenting Ethnotheories. Journal of Cross-Cultural Psychology, 37 (2), 155-172. Kimura, A. (1997). A construção da personagem mãe: Considerações teóricas sobre identidade e papel materno. Revista Esc. Enf. Universidade de São Paulo, 31 (2), 339-343. Kobarg, A., Sachetti, V. & Vieira, M. (2006). Valores e Crenças Parentais: Reflexões Teóricas. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, 16 (2), 96-102. 55 Kobarg, A. & Vieira, Desenvolvimento M. (2008). Infantil nos Crenças e Práticas Contextos Rural e de Mães Urbano. sobre o Psicologia: Reflexão e Crítica, 21 (3), 401-408. Konig, A., Dora da Fonseca, A. & Gomes, V. (2008). Representações Sociais de Adolescentes Primíparas sobre ‘‘Ser Mãe’’. Revista Eletrónica de Enfermagem, 10 (2), 405-413. Leal, I. & Ribeiro, J. (2010). Psicologia da Saúde: Sexualidade, Género e Saúde. Lisboa: ISPA. Lefaucheur, N. (1995). Maternidade, Família, Estado. In História das Mulheres no Ocidente. Porto: Edições Afrontamento. Levandowski, D. (2005). A Transição para a Parentalidade e a Relação de Casal de Adolescentes. (Tese para obtenção do grau de Doutor em Psicologia). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Instituto de Psicologia. Lourenço, M. (1998). ‘‘Textos e Contextos da Gravidez na Adolescência’’ - A adolescente, a família e a escola. Lisboa: Fim de Século. MacFarlane, A. (1979). A Psicologia do Nascimento. Lisboa: Moraes Editores. Malacrida, C. (2009). Performing motherhood in a disablist world: Dilemmas of motherhood, femininity and disability. International Journal of Qualitative Studies in Education, 22 (1), 99-117. Matos, M. (2005). Adolescência, representação e psicanálise. Lisboa: Climepsi. Mazzini, M., Alves, Z., Silva, M. & Sagim, M. (2008). Mães Adolescentes: A Construção de sua Identidade Materna. Ciência e Cuidados de Saúde, 7 (4), 493-502. Miles, M. & Huberman, A. (1994). Qualitative Data Analysis (2nd edition). Thousand Oaks, CA: Sage Publications. Moreira, T., Viana, D., Queiroz, M. & Jorge M. (2008). Conflitos Vivenciados pelas Adolescentes com a Descoberta da Gravidez. Revista Escolar de Enfermagem, 42 (2), 312-320. Mota, M. (2011). Maternidade Representações em Instituição. Sociais da (Dissertação Gravidez: de A Mestrado Experiência Social). Lisboa: Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. 56 da em Psicologia Nascimento, C., Mader, C., Falcone, V. & Nóbrega, F. (2005). A Natureza do Vínculo Mãe/Filho - Onde Tudo Começa. In Vínculo Mãe/Filho/Org Fernando José de Nóbrega. Rio de Janeiro: Revinter, 13-19. Neves, J. (1996). Pesquisa Qualitativa - características, usos e possibilidades. In Caderno de Pesquisas em Administração, 1 (3), 1-5. Nodin, N. (2001). Os Jovens Portugueses e a Sexualidade em Finais do século XX. APF - Associação para o Planeamento da Família. Pontes, M., Barcelos, T., Tachibana, M. & Aiello-Vaisberg, T. (2010). A Gravidez Precoce no Imaginário Coletivo de Adolescentes. Psicologia: Teoria e Prática, 12 (1), 85-96. Reid, C. (2010). Becoming a Mother Without Losing Myself. (A Final Project Submitted to the Graduate Centre for Applied Psychology, Athabasca University). Canada: Athabasca University. Reis, M., Ramiro, L. & Matos, M. (2011). A Sexualidade na Adolescência. In A Saúde dos Adolescentes. Lisboa: ISPA. Rodrigues, R. (2010). Gravidez na Adolescência. Revista do hospital de crianças Maria pia, 19 (3): S 201. Porto: Nascer e Crescer. Sampaio, D. (1992). Ninguêm morre sozinho. Lisboa: Editorial Caminho. Santini de Almeida, M. (2002). Gravidez adolescente: a diversidade das situações. Revista Brasileira de Estudos de População, 19 (2), 197207. Santos, S. & Schor, N. (2003). Vivências da maternidade na adolescência precoce. Revista de Saúde Pública, 37 (1), 15-23. São Paulo. Sá, E. & Biscaia, J. (2004). A gravidez no pensamento das mães. In A Maternidade e o Bebé/Org Eduardo Sá. Lisboa: Fim de Século, 13-21. Schoen-Ferreira, T., Aznar-Faria, M. & Silvares, E. (2003). A construção da identidade em adolescentes: um estudo exploratório. Estudos de Psicologia, 8 (1), 107-115. São Paulo. Seron, C. & Milani, R. (2011). A construção da identidade feminina na adolescência: Um enfoque na relação mãe e filha. Psicologia: Teoria e Prática, 13 (1), 154-164. Maringá. 57 Silva, C., Gobbi, B. & Simão, A. (2005). O Uso da Análise de Conteúdo como uma Ferramenta para a Pesquisa Qualitativa: Descrição e Aplicação do Método. Revista Organ. Rurais, 7 (1), 70-81. Silva, D., Abreu, C., Margaro, M. & Gonçalves, A. (2004). Perceção de Mães Adolescentes Antes e Depois da Vivência em Oficinas de Orientação Sexual. Revista Brasileira de Sexualidade Humana, 15 (2), 23-34. Silva, D. & Salomão, N. (2003). A maternidade na perspectiva de mães adolescentes e avós maternas dos bebés. Estudos de Psicologia, 8 (1), 135-145. Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Soares, I. & Jongenelen, I. (1998). Maternidade na Adolescência: Contributos para uma abordagem desenvolvimental. Análise Psicológica, 3 (16), 373-384. Soares, I., Marques, M., Martins, C., Figueiredo, B., Jongenelen, I. & Matos, R. (2001). Gravidez e Maternidade na Adolescência: Um Estudo Longitudinal. In Canavarro, M.(Ed.) Psicologia da Gravidez e da Maternidade. Coimbra: Quarteto Editora, 359 - 368. Stern, D. (1980). Bebé-mãe: Primeira relação humana. Lisboa: Moraes Editores. Strauss, A. & Corbin, J. (1998). Basics of qualitative research: techniques and procedures for developing grounded theory. London: Sage. Vala, J. (1999). A análise de conteúdo. In A. S. Silva e J. M. Pinto (Eds), Metodologia das ciências sociais, (pp. 101-128). Porto: Edições Afrontamento. Vala, J. & Monteiro, M. (2006). Psicologia A Preocupação Social. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. Winnicott, D. (2000). Materna Primária (1956). In Da Pediatria à Psicanálise - Obras Escolhidas. Rio de Janeiro: Imago. Zagonel, I., Martins, M., Pereira, K. & Athayde, J. (2003). O Cuidado Humano Diante da Transição ao Papel Materno: Vivências no Puerpério. Revista Electrónica de Enfermagem, V.5, nº2, p.24. 58 VII. ANEXOS 59 ANEXOI QuestionárioSociodemográfico Questionário Sociodemográfico O preenchimento dos dados demográficos é muito importante para o entendimento geral das características das participantes, que colaboram neste estudo. Por favor, responda o melhor que conseguir, preenchendo todos os campos solicitados. A confidencialidade dos dados recolhidos mantida, sem nenhum prejuízo para a participante. IDADE QUANTOS FILHOS TEM PROFISSÃO IDADE/MESES (filhos) : QUE IDADE TINHA, QUANDO NASCEU O SEU PRIMEIRO (A) FILHO (A)? COM QUEM VIVE? AS SUAS HABILITAÇÕES LITERÁRIAS: ENSINO BÁSICO DO 1º CICLO (do 1º ano ao 4º ano) ENSINO PREPARATÓRIO (do 5º ano ao 9º ano) ENSINO SECUNDÁRIO 60 : : será CURSO PROFISSIONAL NENHUMA DAS OPÇÕES ANTERIORES ANEXOII Entrevistas 1ª Entrevista (terceiro trimestre de gravidez) O que é para ti ser mãe? Quando é que surgiu esse sentimento? Como é que foi a descoberta de que estavas grávida? Qual foi a tua reação quando soubeste que estavas grávida? Já alguma vez tinhas pensado ser mãe? Como é que te imaginas como mãe? Que tipo de dificuldades é que achas que vais ter? Mudou alguma coisa na tua vida? 61 Caso não seja a primeira gravidez (perguntar também acerca de): Que idade tinhas quando engravidaste pela primeira vez? Como é que tem corrido a experiência? Os teus planos de vida alteraram-se depois da gravidez? 2ª Entrevista (após o parto, decorridos 2-4 meses) O que é para ti ser mãe? Quando é que surgiu esse sentimento? Como é que te descreves como mãe? Que tipo de dificuldades é que tens sentido? Que tipo de apoio é que tens? Desde que nos vimos, mudou alguma coisa na tua vida? 62 ANEXOIII TermodeConsentimentoInformadoparaasInstituições Termo de Consentimento Informado para as Instituições Exmo. (a) Sr. (a) Diretor (a) da ……………………., Solicito a vossa excelência a necessária autorização para a recolha de dados de investigação num grupo de adolescentes, entre os 14 e os 16 anos, que se encontrem no terceiro trimestre de gravidez e, mais tarde, após o nascimento do bebé. O estudo será da minha responsabilidade, realizado no âmbito de tese de Mestrado Integrado em Psicologia Clínica, do Instituto Superior de Psicologia Aplicada - Instituto Universitário. Neste adolescentes trabalho, proponho-me grávidas, o estudar significado de a ser identidade mãe e quando materna das surgiu esse sentimento. Deste modo, pretendo entrevistar as participantes no momento da gravidez (terceiro trimestre) e após o parto (por volta dos três meses), de forma a perceber as mudanças de significado ocorridas nesse espaço de tempo. Ao participar neste trabalho está a contribuir para o conhecimento numa área importante da maternidade. Os (idade, instrumentos a aplicar habilitações literárias, são um entre questionário sociodemográfico outros) uma e, entrevista semidirecta aplicada duas vezes, durante a gravidez e após o nascimento do bebé, de modo a perceber como é que progressivamente a adolescente se organiza e se representa como mãe. 63 Importante referir que a participação é completamente voluntária, não existindo nenhum risco para os participantes. Será necessário gravar as entrevistas em modo áudio, no entanto, os dados recolhidos serão totalmente confidenciais e ficarão num local seguro, a que só o investigador terá acesso. Se necessitar de alguma informação complementar, estará disponível através do e-mail: [email protected]. Com os Melhores Cumprimentos. Data A Orientadora (Professora Doutora Ângela Vila-Real) ISPA - Instituto Universitário Rua Jardim do Tabaco, 34, 1149 - 041 Lisboa Telefone: 218 811 700 Fax: 218 860 954 E-mail: [email protected] 64 ANEXOIV Questionários 65 66 67 68 69 70 ANEXOV EntrevistasTranscritas 1ª Entrevista - S1 O que é para ti ser mãe? Não sei explicar. Acho que sempre quis ser mãe. Eu tomava conta de crianças, e acho que sempre quis ter a minha. Já estou habituada com crianças e acho que ter a minha é uma experiência nova. Gosto muito de bebés. Tomei conta do meu irmão mais novo, que tem agora sete anos. Mudava-lhe a fralda, dava o biberon, para ajudar. Quando é que surgiu esse sentimento? Foi porque eu comecei a tomar conta de crianças desde os seis anos e sempre tive ligação com crianças pequeninas até agora. Como é que foi a descoberta de que estavas grávida? 71 Eu tinha a menstruação no início tal e qual, mas já estava grávida e a minha mãe começou a ver que eu estava a ficar gorda do nada e a minha mãe disse que tínhamos de ir fazer o teste e eu disse que por mim não havia problema, que ela ia gastar dinheiro à toa, porque eu não sabia que estava grávida, com a menstruação eu nunca pensei que podia estar grávida. Mas depois a minha mãe disse-me que havia mulheres que ás vezes têm a menstruação quando estão grávidas e eu disse-lhe que esse não era o meu caso e que sabia o que andava a fazer. Eu não tomava a pílula mas usava preservativo, por isso deve ter rompido. Fiz o teste e nesse mesmo dia não deu que eu estava grávida. No dia seguinte é que por curiosidade, como nunca tinha feito um teste, fui reparar no teste que tinha feito e comecei a chorar, fiquei desorientada. Não sabia o que fazer, eu tão nova com um filho nos braços. Mas o meu namorado não ficou nada assustado como devia, ficou todo contente e começou a dizer a toda a gente que ia ser pai. Qual foi a tua reação quando soubeste que estavas grávida? Medo. Medo e susto, tudo ao mesmo tempo. Senti-me mal, chorei muito, não estava à espera de ter uma criança agora. É difícil, porque eu estava tirar um curso de cabeleireira, que é uma área que eu gosto e que eu sempre vou gostar. Já alguma vez tinhas pensado ser mãe? Sim, mas não tão cedo. Tinha pensado mais para os 18 anos, mais para o fim, mas pronto, aconteceu. Como é que te imaginas como mãe? Bem, acho que já estou preparada. Além disso já estou a tirar um curso de apoio a crianças, já é alguma ajuda. Depois a minha mãe também me ajuda. Acho que vou ser uma mãe galinha. Que tipo de dificuldades é que achas que vais ter? Eu acho que não vou ter nenhuma. Quer dizer, agora pensando bem, um bocadinho do tempo que eu estava a pensar em continuar a estudar para ver se acaba só este ano lectivo. Vai ser difícil nos estudos, apesar de ter a ajuda das professoras e dos colegas, acho que ainda vou ter um bocado de dificuldades. Eu tenho ido à escola, mas depois tenho sempre dores de barriga, dores de cabeça e tenho de ficar em casa. Mudou alguma coisa na tua vida? 72 Acho que não. Quer dizer, os cuidados, acho que as minhas amigas ficaram mais atenciosas a ter cuidado comigo, a querer tomar conta de mim, a dizer me para ter cuidado com isto e para ter cuidado com aquilo. E os estudos, mas eu não sou má aluna, nem uma excelente aluna, mas não é problema. Além disso já tenho conseguido adiantar alguns trabalhos na escola e mesmo que não consiga estar na escola faço em casa. A atitude da minha mãe, ao princípio, era um bocadinho difícil, mas agora ela já está bem, já aceita. Estou muito feliz e ansiosa. 1ª Entrevista - S2 O que é para ti ser mãe? É saber lidar com crianças, tomar mais cuidado com uma criança, não a abandonar, essas coisas assim. Mesmo o carinho de mãe, que um bebé precisa e pronto, para já vai ser bom ser mãe e é bom ter um recémnascido connosco, é só! Quando é que surgiu esse sentimento? Quando soube que estava grávida. Ao princípio, pronto, fiquei assustada, não o queria, mas agora estou a aceitar e agora estou à espera que ele nasça mesmo, porque estou desejosa de ter, estou desejosa de ser mãe. Como é que foi a descoberta de que estavas grávida? Com a falta aparecer, do período, entretanto, fiquei decidi quase três ir à meses farmácia, sem fiz o o período teste, deu me me positivo. Quando eu fui saber de quanto tempo é que estava para fazer o aborto, já passava do tempo, estava quase de 4 meses, já não deu mesmo para abortar. Por isso, foi mesmo pela falta do período. Mas eu quando ouvi o coração dele desisti logo e disse ao médico que já não ia fazer. Se pudesse, já não fazia. Mas ele disse-me que podia ir fazer a uma clínica privada se quisesse, mas eu disse-lhe que não. Disse que eu tinha de pagar e tal, mas eu disse que não, já tinha ouvido o coração do meu filho e não o vou desfazer. Qual foi a tua reação quando soubeste que estavas grávida? Fiquei assustada, com medo, porque ao princípio não sabia bem o que é que seria e não sei quê. Mas estive a pesquisar, já tinha muitas informações, amigas minhas que já tinham sido mães e disseram que era bom mas pronto, era muito nova para ter uma criança tão cedo. De resto é bom. 73 Já alguma vez tinhas pensado ser mãe? Pensava ser mãe daqui a uns bons aninhos, não já com 16, mas pensava, já tinha pensado. Mas não foi planeado, não foi nada planeado, mas só que pronto, agora que estou, estou desejosa. Como é que te imaginas como mãe? Dar tudo o que o meu filho precisa. Ser uma boa mãe e fazer os possíveis que ele cresça e fique bem. Mas imagino-me bem, imagino que vou superar, porque sozinha não estou, tenho ajuda, mas sozinha de mãe, estou sozinha mesmo. Não tenho apoio de mãe, por isso tenho que viver com o meu filho, saber lidar com ele. Que tipo de dificuldades é que achas que vais ter? Os primeiros banhos, mudar a fralda. Isso é ter medo, vou ter muito medo de pegar nele, como vai ser muito pequenino, pegar numa coisinha daquelas tem-se medo. Vou ter medo disso, de dar banho, vesti-lo e mais nada. Pronto, de comer não porque já é mais fácil, ele já está ao nosso colo já é mais fácil, mas de resto não. Mudou alguma coisa na tua vida? Mudou, já não estou a estudar. São novas responsabilidades, já não posso pensar só em mim, tenho que pensar no bebé. Vai ser difícil, mas bom. 1ª Entrevista - S3 O que é para ti ser mãe? Ser mãe é ganhar novas responsabilidades contigo, é ser o que a minha mãe foi. Quando é que surgiu esse sentimento? 74 A partir do momento em que eu tive a certeza que ia ter o bebé. Já comecei a ver as coisas de outra forma. Quando pego na barriga, quando ele se mexe. Mas estou sempre saturada, com enjoos, são as hormonas, chateio-me com tudo, só durmo. Como é que foi a descoberta de que estavas grávida? Fiz um teste, quando começaram os enjoos e o período não veio e eu fiz um teste de farmácia que deu positivo. Qual foi a tua reação quando soubeste que estavas grávida? Foi chocante não é, não estava à espera, mas pronto. Ao princípio não lidei bem com o facto de estar grávida, mas tive que aceitar. Fiquei nervosa, fiquei a pensar. O primeiro pensamento que eu tive foi que não o podia ter, porque não dava para ter. aconteceu o mesmo à minha mãe e eu não queria estar a repetir comigo. Foi uma grande desilusão para ela. Ela avisa-me sempre para ter atenção, coisas que aconteceram com ela e que acabaram por acontecer comigo, mas depois pronto. Estava a tomar a pílula e depois tive um golpe num dedo e tive uma infeção urinária, tive de tomar antibióticos e foi assim. Não usava preservativo, estava a contar com a pílula. Já alguma vez tinhas pensado ser mãe? Não tão cedo. Como é que te imaginas como mãe? Espero ser o que quero ser. Dar o que a minha mãe me deu e o que achei que faltou, basicamente. Faltou mais conversa, mas conversa mesmo. Não é dizer, ‘‘faz isto ou faz aquilo’’, faltou conversa, porque se ela tivesse conversado comigo eu não me fartava tanto de a ouvir e com ela a ralhar e a mandar fazer coisas, eu não gosto, perco logo a vontade de falar com ela. Mas se ela se sentasse comigo para conversar e explicar as coisas e até eu tentar abrir-me de alguma forma. Vou tentar que com o meu filho as coisas corram melhor. Que tipo de dificuldades é que achas que vais ter? Dificuldades..claro que não vai ser igual a antes e que vou sentir muitas diferenças, mas acho que vai ser ultrapassado, espero. Já não vai ser acordar e pensar em mim, agora vai ser acordar e pensar nele. No 75 inicio da gravidez vai ser acordar à noite e amamentar, claro que vai ser complicado, não estou habituada a acordar a meio da noite para dar de mamar, nem com choro, mas vai ter que ser não é. Acho que isso me vai dificultar um bocadinho. Mudou alguma coisa na tua vida? Claro, claro que sim. Já não tenho a mesma rotina diária, claro. Já não vou à escola onde ia, não é. Já não faço educação física como fazia, já não tenho aulas como tinha, já não passeio como passeava. Mudou várias coisas, os enjoos, o cansaço, não estava habituada, obvio. É um bocadinho chocante ao inicio, não deve ter sido só para mim, mas como para todas as mães adolescente. Todas ou quase todas, mas ultrapassa-se. 1ª Entrevista - S4 O que é para ti ser mãe? É preciso ter condições, é preciso também ter um homem. Ser mãe para mim é importante, aprende-se muita coisa. Agente aprende muita coisa, por causa dos nossos filhos. Quando é que surgiu esse sentimento? Foi quando eu estava com o pai do meu filho, estávamos bem e depois olha, eu procurei ser mãe. Foi planeado por mim. Como é que foi a descoberta de que estavas grávida? Descobri por causa da menstruação, por causa dos vómitos, foi isso. Qual foi a tua reação quando soubeste que estavas grávida? Olha, eu fiquei muito feliz. Foi pena não ter sido na época que eu planeei, mas olha, estou feliz na mesma. Já alguma vez tinhas pensado ser mãe? 76 Já, mas não era agora. Era antes quando a vida estava bem melhor, mas olha, aconteceu e fiquei feliz na mesma. Estou a gostar de ser mãe, estou a gostar da ideia de ser mãe. Através disso também aprendi muita coisa. Para mim, é a melhor coisa que existe é ser mãe e depois vem o filho. Como é que te imaginas como mãe? Eu imagino tantas coisas. Por exemplo imagino como vou tratar a minha filha, tratá-la bem, vesti-la bem, para ela estar sempre bem, cuidar dela para ela estar sempre comigo. Estou muito feliz de ter a minha filha, apesar de tudo. Que tipo de dificuldades é que achas que vais ter? Eu acho que nenhuma, nenhuma. Criar um filho pode ser até complicado, mas isso depende das condições da vida. De resto, eu acho que vai correr tudo bem. Mudou alguma coisa na tua vida? Mudou, mudou tantas coisas. Eu pensava diferente. Agora estou aqui na Ajuda de Mãe e eu aprendi tantas coisas aqui. Antes, quando eu vivia na casa da minha tia, fazia as coisas que eu queria, muita coisa que deve ser e que não deve ser, que está certo ou errado. Mas agora não, agora estou a aprender muita coisa, estou a estudar, que é coisa importante também. Gosto de estar aqui, não por causa de mim, por causa da minha filha que eu também estou aqui. 77 1ª Entrevista - S5 O que é para ti ser mãe? Para mim ser mãe, ainda não tenho muito bem..não sei muito bem o que é que é porque ainda não tive a minha filha. Mas acho que vai ser uma experiência boa. Não sei o que posso esperar, não sei como vai ser, vaime trazer mais responsabilidades. Quando é que surgiu esse sentimento? Foi a partir do 5º mês ou 6º mês, mais ou menos. Eu no início não estava muito consciente disso, foi uma coisa que não estava à espera. Pronto é assim. Como é que foi a descoberta de que estavas grávida? Foi assustador, completamente assustador. Mas pronto, depois comecei a consciencializar que tinha que ser mãe, porque eu quando descobri já não podia mesmo fazer aborto, então, pronto teve que ser assim. Descobri uma vez que estava na instituição e pensavam que eu estava com anemia e fizeram me uns testes, mandaram me fazer análises e descobriram que eu estava grávida, pronto foi assim. Depois tiveram que procurar outra instituição para eu poder ficar e vim para aqui (O Vigilante). Qual foi a tua reação quando soubeste que estavas grávida? Foi muito má, foi muito má. Era uma coisa que eu não estava à espera. Pensei que a minha vida tinha ficado destruída, que nunca mais ia conseguir realizar os meus sonhos. Sinto que tenho apoio, mas estou um bocado balançada. Sinto me um bocado sozinha, apesar de ter muita gente à minha volta a apoiar-me, mas sinto-me sozinha. Porque mudei de instituição, foi conhecer novas pessoas Já alguma vez tinhas pensado ser mãe? Não, por agora não. Como é que te imaginas como mãe? Sei lá. Vai ser difícil, muito difícil. Mas se houver um pouco de responsabilidade e um bocado de, sei lá, de não sei, de apoio, talvez eu consiga mais facilmente do que se estivesse sozinha, se calhar. 78 Que tipo de dificuldades é que achas que vais ter? Dificuldades, não sei. Sinceramente não sei. Não sei, em saber como lidar, saber qual é que é o tipo de choro, para saber o que é que tem, não sei. Acho que vai ser uma coisa muito difícil. Mudou alguma coisa na tua vida? Mudou, muita coisa. 2ª Entrevista - S1 O que é para ti ser mãe? É complicado de dizer, mas é uma situação incrível, é algo que não esperava que se passasse tão cedo, mas é fixe a sensação. É bom, é ser exemplar, é tratar do meu filho, dar-lhe carinho, amor, entre várias coisas. Mas eu só comecei a meter na minha cabeça que ia ser mãe, no momento em que o tive no colo. Para falar a verdade foi desde o momento em que comecei a sentir as contrações. Quando é que surgiu esse sentimento? Desde o primeiro dia em que eu o vi. Quando ele tava dentro da barriga, ainda não tava bem intacta que ia ser mãe, mas depois quando ele nasceu tudo mudou. Quando ele tava dentro da barriga eu pensava com quem é que 79 ele se vai parecer, como é que ele vai ser, se vai nascer gordinho, se vai nascer magro, como é que eu me vou adaptar em ter uma criança, como é que eu vou ter o horário na cabeça de quando ele acordar durante a noite para mamar, várias coisas. Quais os cuidados que eu vou ter com ele, como é que eu vou conseguir dar banho numa criança tão pequenina, foi isso. Como é que te descreves como mãe? Sou uma mãe boa. Quando o tive nos meus braços pela primeira vez, foi uma sensação incrível. Foi algo de outro mundo. Nunca pensei que iria ter uma criança nos meus braços que fosse minha. Sempre cuidei de filhos mas que não eram meus, eram das minhas amigas, então quando tive o meu foi algo especial. Agora já não sou ninguém sem o meu filho, ele tem de estar ao pé de mim. Que tipo de dificuldades é que tens sentido? Nenhuma, nenhuma. Eu até adaptei-me aos horários dele, agora que ele mudou, foi fácil. Porque ele agora já dorme a noite toda, mas antes não, acordava de três em três horas. Agora já não, mama às 23:00 horas, dorme até as 6:00 horas mais ou menos, dependendo da mamada que lhe dou de noite. Ao princípio tinha medo de o aleijar, tinha medo de o agarrar mal e deslocar qualquer coisa, mas agora já não. só tive pena de não ter sido eu a dar-lhe o primeiro banho depois do parto. O pai do bebé está presente? Sempre, em todas as consultas, quando estava grávida, quando ele nasceu também estava lá. E agora também, estamos sempre juntos. Não vivemos juntos mas costumamos estar sempre juntos. Ele é mais velho, tem 18 anos e está a trabalhar. Que tipo de apoio é que tens? Agora estou a depender da segurança social, quando a segurança social me manda dinheiro, como ele ainda só mama eu já antecipo, compro já bastantes fraldas e toalhitas. Eu antes comprava pacotes, mas agora compro caixas, como a segurança social está a mandar o dinheiro mais tarde. Tenho ajuda da minha avó, da minha mãe, do meu namorado. Eu vivo com a minha avó, mas a minha mãe vive ao lado. Comecei a viver com a minha avó tinha eu seis anos, porque a minha mãe trabalhava fora. Tenho uma relação muito boa com a minha avó, é como uma mãe para mim, ela ajuda-me muito, tudo o que eu precisar e se tiver dificuldades. Então agora que o meu filho esteve doente, foi difícil para mim, porque eu não 80 esperava que ele adoecesse, ele ficou chocho, não mamava, bolsava muito, depois estava com febre e eu não sabia o que fazer, se não fosse a minha avó eu ficava ali sem saber. Ele teve quase uma semana cheio de febre. Levei-o às urgências de noite, porque eu já não sabia o que fazer com ele, entrei em pânico. A médica chamou-me, eu fui lá dentro e a médica disse-me para eu não me preocupar que a febre que ele tinha era devido ao tempo ter mudado, como estava bom tempo e de repente ficou mau, ele então ficou constipado e acabou por ficar com febre. Ele estava muito atacado, com o nariz muito tapado, a médica mandou-me ir fazer aerossol com ele e fiquei no hospital, fiquei fiquei, ficámos a fazer aerossol e depois a médica perguntou-me se eu achava que ele já estava melhor e eu disse que sim, que ele já estava a respirar como deve ser e que ele já estava bom. Depois a médica disse-me para ficar mais um bocadinho para ver se a febre baixa ou se fica igual. Eu fiquei lá, a febre entretanto começou a baixar, devido ao soro que eu estava-lhe a dar pela seringa, depois eu fui ter com a médica e disse que para mim a febre já tinha baixado, depois ela disse que me ia receitar benuron em supositório para lhe ir dando de 8 em 8 horas e ir passando-lhe soro na cara ou então fazer-lhe aerossol com soro. Depois fui para casa e a minha mãe tem experiência já de grande, que ela teve contacto com gente mais velha, gente da terra como nós dizemos, gente de Cabo Verde e então, a minha mãe disse-me para ir pedir a um vizinho folha de eucalipto e arruda, como ele tem a horta, eu fui-lhe pedir e fervi aquilo tudo junto e depois dei-lhe banho com aquilo e então desde ai a febre passou. Agora ele já está bom. Com a minha mãe, antes a relação não era muito boa mas agora sim. Quando eu fiquei grávida fiquei muito chata. A Ajuda de Mãe, ajuda-me no bom sentido. Eu gosto da Ajuda de Mãe porque eu posso estar nas aulas e posso estar com o meu filho, ele fica no berçário que é no mesmo edifício e ajuda-me porque eu posso ter a minha escolaridade. E no mau sentido é um bocadinho complicado porque nem muitas coisas agente entende pelo computador. Agente entende melhor de for mesmo na sala de aulas, mas pronto, é bom. Temos professor mas é tudo pelo computador. Os teus planos de vida alteraram-se? Sim muito, antes de engravidar, eu estava no último ano de um curso de cabeleireira e quando soube que estava grávida tive que desistir. Por isso deixei o curso, tive que recorrer à Ajuda de Mãe para poder continuar na escola. Tive que voltar para trás da minha escolaridade. Eu já estava no 9º ano e tive que voltar para o 7º ano, como o curso era de dois anos, não contou e tive de voltar atrás, sem ficar com equivalência. As minhas colegas já estão a fazer estágio e tudo num salão. Agora no próximo ano não tenciono estudar. O meu filho está a crescer e eu não quero continuar a depender da segurança social, quero 81 arranjar um trabalho e como eu já vou fazer os 17 anos não vai dar para estar a depender da segurança social. O Wilson vai crescer, vai precisar de mais cuidados, vai precisar de roupa, de fraldas, se calhar vai precisar de leite, de sopa, fruta, iogurte, certas coisas e o dinheiro da segurança social é muito pouco para poder sustentar o meu filho, são 140 euros. Não é nada e as roupas dos miúdos agora estão bastante caras, eu tive a ver e não compensa nada e então eu decidi chegar a um acordo com a minha avó e a minha mãe. Eu este ano não estudo, vou ver se arranjo um trabalho e vou trabalhar, mas se eu conseguir conciliar o trabalho e a escola, eu tento estudar de noite, como lá ao pé de minha casa temos uma escola das novas oportunidades, eu sempre posso fazer isso e a minha mãe disse-me que fica com o meu filho, em vez de eu estar a pagar uma ama ou uma creche, a minha mãe disse que ficaria com o meu filho. Disse para lhe levar as coisinhas para ela fazer a sopa e isso, porque a minha mãe também não pode estar a dar-me tudo, ela também tem os meus irmãos para criar e um dele é pequeno. Eu na minha situação estou a depender da segurança social, até para comprar as minhas coisas e tudo, porque é um bocadinho difícil ter uma criança e estar sempre a pedir ajuda às pessoas, então eu quero sempre ter a minha liberdade. Quero tentar comprar as minhas coisas com o dinheiro, tentar fazer com que o dinheiro chegue para certas coisas e quando não chega eu tenho de pedir. Se eu entrar numa loja e comprar uma peça de roupa ou outra, o dinheiro já foi. A roupa para bebé agora, as calças estão a 15 euros, os casacos e camisolas, estão a 20 euros ou mais e é complicado. O Wilson já está a crescer e eu não vou estar sempre a vestir-lhe as roupas de agora porque vai crescer. Desde que nos vimos, mudou alguma coisa na tua vida? Sim, eu queria ser cabeleireira, mas não me aceitam em nenhum salão sem ter o diploma, então tem gente que vai lá a casa, porque eu faço uns biscates e elas sabem que eu sei fazer algumas coisas, como esticar o cabelo, pentear, trançar, meter postiço, fazer brasileira e essas coisas. Ligam-me para irem lá a minha casa pentear e como é óbvio, é dinheiro que é para o meu filho e eu aceito. Mas espero vir a tirar o curso de cabeleireira, eu vou ser a cabeleireira que eu quero e ter o meu próprio emprego. Eu não vou desistir, se der deu, se não der paciência. Mas como ele vai começar a comer sopa, fruta, iogurtes e essas coisas, vai-me ajudar, porque posso sempre arranjar o meu trabalho e deixo o meu filho com a minha mãe e sei que ele vai estar em boas mãos. Se o deixar numa creche, não conheço lá ninguém, nem sei o que é que vão fazer ao meu filho, é difícil, é complicado. Eu no principio também não quis deixar o Wilson aqui, porque houve uma vez que ligaram lá para cima para a sala e disseram-me que ele estava com fome e ele não estava com fome, estava todo borrado e assou-se todo. Desde ai não gostei nada, mas agora já estão a trata-lo bem, porque eu tive de fazer 82 queixa, eu disse à diretora que o Wilson estava todo assado e que não poderia ser. Depois ela avisou as outras que não podem chamar nenhuma mãe para ir ao berçário sem verem antes a fralda. Daí tudo mudou. Comecei a comprar as pomadas que o Wilson necessitava e passou e agora todas as vezes que elas mudam-lhe a fralda, eu pedi-lhes para aplicarem a pomada nele para ele não assar. É um protetor da pele que vai ajudar a que ele não se asse tão rápido. As fraldas do hospital é que lhe fizeram alergia, então eu comprei as Huggies quando eu estava grávida com o dinheiro do pré-natal e muitas das roupas e toalhitas, mas ele não se adaptou às toalhitas. Depois tive de comprar Dodot e a estas ele adaptou-se. Também lhe compro fraldas de pano, tem uma com o nome dele e vou sempre comprando, é uma coisa que dá para usar sempre. Mas as fraldas são muito caras, cada volume de fraldas etapa I, vinham só 62 fraldas e eram 20 euros, até doía comprar mas tinha de ser. Mais nada mudou. 2ª Entrevista - S2 O que é para ti ser mãe? 83 Para mim o que é que é ser mãe… É uma boa… É começar a aprender na vida, começar a ter responsabilidades, perante os nossos filhos, cuidar deles, saber cuidar, saber educar, muita coisa. Eu estou a aprender a educá-lo, estou a tirar algumas dúvidas que tinha. Para mim é bom. Pronto, tenho de cuidar dele, dar de mamar, dar banho. Na outra entrevista, dissesteme que estavas com receio. Sim tinha, mas deixei de ter esses receios todos, depois de ser mãe. Vi que era bom. Mas é difícil ser mãe, saber cuidar, as preocupações, mas passou tudo. Quando é que surgiu esse sentimento? No primeiro dia em que ele nasceu, logo. Mesmo quando ele nasceu, meteram-no em cima de mim e foi logo. Senti me feliz, muito feliz, gostei mesmo. Se pudesse voltava à maternidade, e muitas vezes eu digo que tenho saudades da maternidade e tenho. Foi uma boa experiência que eu tive na maternidade, pensava que ía sofrer, mas não, foi bom. Mas estava à espera que ele nascesse dentro do tempo, ele estava para nascer no dia 22 de Fevereiro e acabou por nascer no dia 21 de Janeiro, um mês antes. Mas para quem nasceu prematuro está bom. Como é que te descreves como mãe? Ser séria. Apesar do meu feitio e do meu comportamento, perante o meu filho está tudo normal. Não sou a melhor mãe que existe aqui, mas pronto, todos os dias vou aprendendo com as monitoras e com as doutoras. Mas fora isso, nada de mais. Na altura mencionaste que não tinhas o apoio de mãe, não tens nenhum familiar que te apoie? Ter tenho, mas a família que tenho é a minha irmã só. Agora neste momento estou sem falar com ela porque estou de castigo, mas ela vem me cá visitar e ao sobrinho. Ela foi a primeira a ver o meu filho, ela e avó dele da parte do pai. Mas ela (irmã) é que assistiu ao parto, o pai não queria, estava com medo, coisas de homens. Quer dizer que o pai está presente? Está, o pai está presente. Ele vem cá visitá-lo com a mãe. Às vezes vem a mãe sozinha e outras vezes vem ele sozinho. Mas quando pode ele vem. É bom para o meu filho. Para mim não, eu já não estou com ele, separei-me do pai do meu filho. Mas somos bons amigos. Que tipo de dificuldades é que tens sentido? 84 Na amamentação só. Porque tem que haver uma hora fixa para ele e eu não tenho conseguido fazer porque cada vez que ele tem fome, eu dou-lhe sempre a mama e não pode ser. Tenho que lhe dar de 3 em 3 horas, porque já não é aquele bebé que tenha de mamar de 2 em 2 horas. E eu não sou capaz de deixar 3 horas. Agora dei-lhe de mamar às 9:20 horas e eu sei que às 11:20 ele já tem fome, mas eu não posso, tenho de aguentar mais uma hora para ele mamar. Ele quando está com a birra, eu não o consigo deixar chorar muito tempo. Durante a noite ele faz um intervalo de 4/5 horas, mas durante o dia é que ele quer fazer um horário mais pequeno. Como é que tem corrido a experiência? Boa, muito bem. Desde que nos vimos, mudou alguma coisa na tua vida? Mudou muita coisa. Aprendi a perder o medo de falar com as pessoas estranhas, mas apesar de tudo não falo o que vai na minha vida. Da outra vez que falei consigo estava com vergonha, mas agora já passou. Quanto ao nascimento do meu filho, estou a aprender a dar valor, a amar. A amar a ele, às outras pessoas não, só ao meu filho. A aprender a amar e a dar carinho, é a única pessoa a quem eu dou carinho, a mais ninguém. Posso ser amiga das outras pessoas, mas amor a carinho só dou ao meu filho. Porque ele é meu, sei que ele é meu e que as outras pessoas podem-me virar um dia as costas e deixar-me e, como o meu filho sei que se lhe der amor e carinho ele não me vai abandonar. Tens medo de ser abandonada? Sim, deixar de poder confiar nas outras pessoas. No meu filho não, eu sei que posso contar com ele para tudo. Os teus planos de vida alteraram-se desde que engravidaste? Estás a estudar? Não, agora estou à espera do curso. Estou à espera da resposta do curso, já estou encaminhada para um curso, mas estou à espera de saber quando é que começa. É um curso profissional, de acompanhamento de crianças. Acho que são 3 anos e é na Amadora. Podes ficar na residência por quanto tempo? Depende, até ter condições, mas isto é temporário, é para grávidas adolescentes. Mas a minha situação está um bocado complicada, porque ainda não tenho estudos, depois se começo o curso, elas (restantes colegas da residência) estão de férias e eu estou na escola. Não tenho tempo nenhum para estar em casa e se tiver em casa é uma semana de férias, mas pronto eu agora tenho de fazer o curso, ir para a escola e acabar para dar uma vida melhor ao meu filho. Como lá fora não lhe podia dar, preferi vir cá para dentro. Foste tu que escolheste vir para a residência? Fui, fui falar com a minha assistente social e ela 85 depois comunicou com a Ajuda de Mãe, mas eu já tinha feito um atendimento de psicologia, mas fui pedir outra vez ajuda porque a minha vida estava mesmo a acabar. Se eu não tivesse pedido ajuda, eu e o meu filho não estávamos cá. O meu filho não tinha nascido, tinha nascido mas tinham-me retirado e eu tinha ido para outra residência, não para mães e bebés, tinha ido para uma residência de jovens. Já vivias numa residência? Não, morava na minha casa, em Almada. Na minha não, na casa do meu pai, mas depois o meu pai quis vir viver para Lisboa e queria que eu viesse, mas eu não vim, não queria vir para cá e não quero estar cá em Lisboa. Só cá estou em Lisboa porque estou na residência. Eu não gosto destas zonas, muito movimento e eu gosto de tranquilidade. Estou habituada a estar na tranquilidade, cada vez que vou à rua só vejo é carros e lá na minha zona não havia carros. Pronto havia carros, mas não havia tanto movimento e faz me confusão. E depois também não queria que o meu filho crescesse aqui, por exemplo, quando ele tiver dois anos, já queria estar fora daqui. Estar aqui até o meu filho fazer um ano e depois seguir a minha vida, só que estou a ver a minha vida complicada. O pai do meu filho está a trabalhar mas não quer fazer nada, não quer lutar. Estou a ver que a escola também nunca mais começa, está muito complicado. Ficaste a viver sozinha em Almada? Sozinha não, fiquei com os padrinhos do meu filho. Depois a madrinha dele não podia ficar comigo, porque tem uma doença que é a esclerose múltipla e, então, ela disse: ‘‘Cátia, gosto muito de ti, gosto muito do Leandro, mas não posso ficar contigo aqui porque tenho um filho, também, de 13 anos para cuidar. Apesar de ele estar com o pai, a viver com o pai, o meu filho de 15 em 15 dias está cá em casa’’. Foi quando eu pensei na vida e decidi pedir ajuda. Já tinha pedido, para roupas e isso para o meu filho, já tinha feito o enxoval para ele, foi a Ajuda de Mãe que me deu. Depois quando eu pedi ajuda foi logo as técnicas que me fizeram uma entrevista e passado uma semana já cá estava. Fiz em Novembro a entrevista e a 5 de Dezembro já cá estava, já tinha entrado. Só que é complicado e está a ser complicado eu cá estar, porque não se tem liberdade nenhuma e há muitas regras. Quero é que o tempo passe num instante para poder sair de cá. Aqui, fico até aos 18 anos e depois não sei se vou para a de Paço de Arcos ou para a de adultas. O meu filho depois já vai ter um ano e meio e eu não quero estar aqui, já quero estar fora daqui. Porque não quero que ele cresça aqui. Quero arranjar uma casa para viver com o meu filho, mas para isso tenho que trabalhar e estando aqui na Ajuda de Mãe é complicado. Podemos trabalhar, o problema é que praticamente eu quase nunca saio de casa. Só saio às vezes para ir à Ajuda de Mãe, lá à Sede em Alcântara ou para ir às consultas com o meu filho ou para ir às minhas, ou para ir Às compras e não sei quê. Mas como é que, vou-me inscrever num trabalho, mas se eu não posso sair de casa como é que eu vou trabalhar, fico preocupada. Só quando eu sair do castigo e poder começar a sair, começo a procurar trabalho, porque o currículo já tenho feito, só me falta entregar. Já trabalhei antes de vir para cá, mas na outra margem. Na outra margem é tudo mais fácil do que aqui em Lisboa. 86 Aqui em Lisboa pedem currículos e não sei quê, lá eles não pedem currículo e eu consegui um emprego num restaurante. Já estava grávida, mas não sabia, estava de 3 meses. Depois passado um mês fui fazer o teste e pronto, a minha patroa mandou-me embora porque estava grávida, não queria que eu continuasse lá porque depois era um prejuízo para ela. Podia acontecer alguma coisa na minha gravidez e depois ser ela a culpada e ela não queria. Ela disse: ‘‘Cátia, vais-te embora agora, tens o teu filhote, estás os cinco meses com ele a que tens direito e depois regressas outra vez’’. Mas depois, como é que eu ia. Eu queria voltar para lá, mas como é que eu ia voltar para lá se não tinha casa onde ficar com ele. E depois não tinha ninguém com quem o deixar. A minha irmã trabalhava em Almada, eu morava na Charneca da Caparica, como é que deslocava-me todos os dias. Tinha que me levantar às seis da manhã para levar o meu filho lá para a creche onde está a minha sobrinha, era muito complicado. Não seria possível ficares a viver com a tua irmã? Agora não porque estamos chateadas, estamos as duas chateadas uma com a outra. Quando a gente fizer as pazes…ela está a lutar por mim, acho que ela ainda continua a lutar por mim, para me tirar daqui, só que é complicado. Ela tem casa, mas o problema é que ela tem duas filhas e tá com uma amiga em casa, é complicado. Elas dormem no mesmo quarto e as filhas dormem no outro quarto e, é complicado eu estar lá e estar num quarto com elas as duas e o meu filho com os bebés, é isso que elas não querem. A minha irmã diz que vai arranjar uma casa com quatro quartos, um para elas as duas, outro para cada bebé e um para mim e para o meu filho, mas só que está complicado. Lá é barato, só que elas estão desempregadas. Uma está a trabalhar agora e a outra está desempregada, é complicado ela arranjar casa agora. Mas eu disse a ela para continuar a lutar por mim. O pai do meu filho também diz que está a lutar por mim. Mas só que eu não quero ir viver com o pai do meu filho, para depois ele um dia me manda embora, não. Prefiro ficar sozinha com o meu filho. Ele agora quer que eu vá viver com ele, mas já me disseram as minha colegas daqui, as que consigo falar e desabafar, por exemplo, a mãe daquele bebé. Eu cada vez que falo com ela e digo-lhe que gosto muito do pai do meu filho, mas não dá para ficar com ele. Ela pergunta porquê. E depois ela explica-me, sabes porque é que os homens querem, querem ficar com a gente para começar a ficarem com o dinheiro dos nossos filhos, para poderem usar o dinheiro deles, para andarem a gastar e depois darem-nos um pontapé no rabo e tu saíres de casa. E o filho ficar com ele. É isso que eu não quero, não quero ficar com ele. Pronto ele é pai, sim senhor, tem tanto direito como eu tenho, mas ficar com ele não fico. Ele pode vir buscar, pode vir ver o filho, pode estar com o filho. Eu também posso sair com eles, mas ficar com ele não fico. Lá no Hospital eu disse-lhe, ficar contigo não fico, gosto muito de ti, mas ficar contigo não fico. Mas, os meus planos era estudar, tira o 12º ano ou o 9º ano e depois começar a trabalhar e um dia mais tarde tirar a carta. Mas agora está complicado, trabalhar, estudar e depois tirar a carta. Agora é que eu 87 tenho de pensar que tenho um filho, não posso fazer nada disto. Poder estudar posso, trabalhar também, mas tenho de gerir o tempo dele. Tirar a carta, se eu estudar, trabalhar ao mesmo tempo e a carta é complicado para a minha vida. Mas tirar a carta era uma coisa que tu querias muito para já? Era. Pronto já me disseram que eu posso começar a ir agora às aulas, mas tirar mesmo a carta não posso ainda, só posso a partir dos 18 anos. Já me mandaram ir às aulas, para ter as aulas feitas, mas só que eu disse que ainda era muito cedo e para já tinha um filho de 3 meses. Na altura tinha dois meses e meio. E eles aconselharam-me, então olha quando ele estiver grandinho com ¾ anos, pensa em tirar a carta e eu disse, vou pensar tirar a carta mas primeiro tenho que ter o dinheiro na mão. Não vou tirar a carta à toa, depois não tenho dinheiro para pagar e eles disseram que fazia muito bem. O pai do meu filho agora também está a tirar a carta. Por um lado é bom que ele tenha carta, depois seu um dia eu tiver na minha casa e ele na dele e precisar de uma emergência e ligar para ele, ele pega no carro pelo menos para se juntar comigo. O que mudou também, foram as minhas saídas À noite. Pensei logo, pronto, vou ter um filho, não posso ir sair. Para já não vou deixar o meu filho com ninguém, só para ir sair. Primeiro está o meu filho e depois é que está as noites. Quando ele estiver grandinho, eu penso em ir à discoteca. Ou no dia dos meus anos vou. Eu não saía muito, mas pronto em festas de anos e não sei quê, eu ia. Mas depois diziam, para irmos ali ou irmos ao HK e eu dizia, que não queria mas elas insistiam às vezes e eu ia, mas houve muitas vezes que eu disse que não porque estava cansada. Muitas vezes eu chegava da escola cansada. Eu fui uma vez à discoteca, quando estava grávida mas não sabia, bebi e depois no dia a seguir vomitei e fui fazer o teste e estava grávida. Disseram-me: ‘‘Você está grávida’’. E eu fiquei a olhar para ela. Será mesmo que dá positivo? E ela disse que tava dois risquinhos, é porque tava grávida. E eu fiquei, olha a minha noite acabou e tinha aproveitado uma noite antes de fazer o teste. E agora se eu quiser, se eu ainda cá estiver, nos meus anos, em Outubro, peço a elas para sair. O meu filho aí já tem nove meses, mais ou menos. O que eu tenho mais pena é que a minha juventude acabou, curtir a vida. A partir do momento em que eu entrei na maternidade e tive o meu filho, a minha juventude acabou. Agora é seguir com a vida, com este miúdo. Aqui na residência estás bem e tens tudo, tens apoio? Sim, não me falta nada. Por um lado estou feliz por estar aqui, mas pronto, aqui há muitas regras, não estou habituada a ter regras. Eu antes entrava e saía à hora que eu queria e agora aqui tenho de estar às 19:00 horas em casa. Mas estou a gostar. 88 2ª Entrevista - S3 O que é para ti ser mãe? Ser mãe para mim é melhor do que aquilo que eu pensava. Pensei que ía ter mais dificuldades e o parto pensei que ia ser…ao princípio as dores foram horríveis, mas quando ele nasceu já tinha esquecido todas as dores. E pronto é…já não me imagino sem o meu filho, é uma coisa que uma pessoa não tem noção antes de ter mesmo. Quem não é mãe não sabe o que é o amor de mãe. O amor de mãe é sentir que pelo meu filho faço tudo, qualquer coisa que…nem conseguir pensar que se algum dia fico sem ele ou se algum dia acontece alguma coisa, tenho medo, dá medo. Mas é uma coisa que sabes, que tentas fazer o máximo que consegues. Eu tento fazer o máximo que consigo para ser a melhor mãe possível, para conseguir dar tudo o que ele precisa ou mais. É ter vontade de satisfazê-lo, vontade de não o ver doente, de não o ver mal. Agora dou mais valor ao que a minha mãe fez por mim e faz. Agora sim dou mais valor porque sei que não é fácil e que tudo o que ela fez foi a pensar em mim e no melhor para mim e sei que, não sei se algum dia vou conseguir devolver tanta coisa boa que a minha mãe fez por mim. Mas vou tentar ao máximo ser com o meu filho, tão boa mãe como a minha mãe foi para mim e continua a ser. Quando é que surgiu esse sentimento? Logo que ele nasceu. Estava cheia de dores, só queria que ele saísse e despachasse aquilo, mas depois quando eu o vi, peguei nele, já nem queria saber o que é que me estavam a fazer. Estavam-me a coser, apertaram-me a barriga, já nem estava a ligar, só estava a olhar para ele. A partir daquele momento esqueci tudo, as dores, as noites mal dormidas, o tempo que fiquei lá, esqueci tudo. Podia fazer tudo outra vez, só para ver ele a nascer outra vez. Fiquei no hospital durante uma noite, fui internada na sexta-feira a tarde, à uma e ele só nasceu às cinco da tarde de sábado, ainda foi um bom tempo, algumas horas, mas valeu a pena. O pai da criança está presente? 89 Está, eu namoro com ele e ele vê o filho todos os dias. Mas não vivemos juntos, ele tem 18 anos e vive com os pais dele e eu com a minha mãe e irmãos. Mas ele está sempre comigo, todos os dias. Ele deixou de estudar e conseguiu arranjar trabalho. Mas ele só tem o 9º ano e tem o curso de gestão e felizmente ele está a trabalhar na área, numa empresa. Ele ganha bem para nós que ainda não temos casa e não temos despesas para pagar. Dá para nós, para ele, para mim e para o meu filho, mas depois vai ser mais complicado quando arranjarmos uma casa para nós, já vou ter que estar a trabalhar também, quando acabar o meu curso e se deus quiser a faculdade. Mas ainda não quero sair de casa, é difícil deixar a minha mãe. Todos os dias, eu saio da escola e ele sai do trabalho à mesma hora e apanhamos o mesmo comboio, depois vamos para casa e ele fica lá um bocadinho e depois vai para casa dele e é sempre assim. Esteve comigo no parto, dormiu lá comigo. Como é que te descreves como mãe? Sou uma boa mãe, sou uma mãe galinha. Sou uma boa mãe. Pelo menos tento sê-lo. Que tipo de dificuldades é que tens sentido? Dificuldades, dificuldades é conciliar a escola com o ser mãe, é um bocado complicado. Claro que nós quando acordamos, há dias que dá vontade de irmos passear com os nossos filhos, ou ficar em casa com os nossos filhos, mas não pode ser, temos de vir para a escola para conseguir o que queremos, para poder um dia, ter essa vontade e ir, sem nenhuma preocupação. De resto, não tenho tido nenhuma dificuldade, é um bebé que se porta bem e só chora quando tem fome. Teve uma bronquiolite e à noite no inverno tinha sempre o nariz entupido. Que tipo de apoio é que tens? Tenho o apoio da minha mãe em casa, os meus irmãos são mais novos. Mas tenho uma irmã que me apoia, ela tem 15 anos, mas vive em Inglaterra com o meu pai. Tenho dois irmãos só da parte do meu pai, a menina de 15 anos e um bebé de dois anitos. Mas apoio do meu pai não. Desde que…eu ia a Inglaterra uma vez por ano para casa do meu pai, nas férias de verão e quando estava grávida ainda estive lá, mas quando cheguei cá, o meu pai descobriu que eu estava grávida e ele nunca mais voltou a falar comigo, nunca mais quis falar, por estar grávida. Depois das coisas que ele me disse também não tentei falar mais com ele. Não faz muita diferença, porque também nunca tive grande apoio dele, só o via uma vez por ano e ele não ligava para perguntar se estava tudo bem, praticamente só falávamos uma vez por ano, que para mim não é nada. Só para cobrir o tempo que ele tinha ficado sem dizer nada, sem dar nada para a minha mãe 90 e sem dar nada para mim, por isso não há muita diferença falar com ele ou não falar. Mas continuo a falar com a minha irmã. Desde que nos vimos, mudou alguma coisa na tua vida? A responsabilidade. Agora tenho de pensar que não posso ir tarde para casa porque está frio e tenho o meu bebé, tenho de tapá-lo, tenho de levar certas coisas sempre antes de sair de casa, tenho de lavar a roupa dele. Quando ele suja umas collants ou um babete, tenho de ir logo pôr de molho, tratar das coisas dele. Ainda não tinha essa responsabilidade toda. Eu sempre fui muito paparicada pela minha mãe, por isso não fazia muita coisa em casa, não tratava da roupa, coisas que faço agora. Posso ter a ajuda da minha mãe, mas ela já trabalha, não a quero cansar. Eu agora acordo trato de mim e do meu filho e depois apanhamos o comboio para vir para a escola, eu vou para as aulas e ele fica no berçário. Eu entro às 9:30 horas e depois saio às 17:00 horas. Mas ontem saí às 13:30 horas e amanhã supostamente saía às 17:45 horas, mas é feriado, é um horário escolar normal. Há dias em que ficamos sem tempo, vamos para casa já cansados, já não temos assim grande tempo para fazer muita coisa. Dou-lhe banho, a minha mãe ajuda-me noutras coisas. No banho não, eu sou muito…quando quero uma coisa tenho que fazer eu. Quando saí da maternidade tinha que ser eu a dar banho, estava cheia de dores mas tinha que ser eu, queria dar banho, queria mudar a fralda, não queria sobrecarregar muito a minha mãe e também queria matar essa curiosidade. Por isso quem dá banho sou eu, só às vezes se eu estiver a dormir, ela aproveita e eu durmo mais tempo enquanto ela cuida do meu filho. Depois eu acordo e é só tratar de mim e vamos embora que ela sai ao mesmo tempo. E às vezes eu chegava atrasada. Os teus planos de vida alteraram-se desde que engravidaste? Não, não mudaram. Continuo a estudar e vou continuar. Nada se alterou, continuo com os mesmos objetivos. Que são acabar o 12º ano, entrar na faculdade. Quero tirar arquitetura mas estou a pensar com um filho, estudar arquitetura, já ouvi dizer que é complicado. Perder um ano, é complicado, mas tenho que ver, na altura vejo. 91 2ª Entrevista - S4 O que é para ti ser mãe? É uma sensação tão grande, eu gostei muito de ser mãe. Gosto muito da minha filha. Não sei explicar, mas é tão bom. Ser mãe é cuidar da minha filha, dar-lhe educação, amá-la, dar carinho. Eu já aprendi muitas coisas com a minha filha. Aprendi a ser adulta, a ter responsabilidades. Aprendi a cuidar da minha filha, a ser uma mãe responsável. Ser uma pessoa correta, sem fazer besteiras, porque eu antes fazia muitas, mas agora já não estou a fazer por causa da minha filha. Quando é que surgiu esse sentimento? Quando a bebé nasceu. Gostava de estar grávida, estava contente, mas agora é melhor. Sofri tanto quando ela nasceu, primeiro fui para o hospital parir a minha filha e depois voltei para cá, para a Residência. Depois apanhei uma infeção no útero e fui internada no hospital, mas a minha filha ficou lá comigo e depois correu tudo bem. Mas de resto está tudo bem graças a deus. Os primeiros tempos foram complicados, mas estava feliz de ter a minha filha. Que tipo de dificuldades é que tens sentido? 92 Nenhuma. É que eu já criei os meus sobrinhos, quando vivia em casa da minha irmã e da minha mãe em Cabo Verde, mas ainda não tive dificuldades de criar a minha filha. Quando ela está doente ou algumas coisas que eu não sei, eu pergunto-me elas na Residência ajudam-me. Mas quando ela chora eu já sei mais ou menos, ou é fome ou é calor. Ela dorme comigo às vezes e outras vezes dorme no berço ao meu lado. Ela também está a desenvolver bem, eu dou de mamar. Sentes que tens todo o apoio de que precisas? Sim, eu na Residência tenho tudo para mim e para a minha filha. Quer dizer, tudo não, mas também não vou dizer o que é. A tua família aceitou a gravidez? A minha tia não, mas a minha mãe agora sim. Eu vivia em Cabo Verde com a minha mãe, irmã e avós. Depois vim para Portugal para conhecer o meu pai, vim sozinha, tinha 14 anos. Conheci-o e gostei dele, mas não correu muito bem porque ele não para e então não cheguei a viver com ele. Fiquei a viver com a minha tia cá, não voltei para Cabo Verde. Depois quando fiquei grávida, a minha tia não aceitou e então tive que vir para a Residência. Eu vou falando com a minha mãe por telefone, ela diz que está com saudades minha e eu também tenho saudades da minha mãe. Mas vou primeiro acabar o meu estudo, porque continuo a estudar e quer ter o 12º ano feito, depois volto para Cabo Verde, que eu quero viver lá. O pai da bebé está presente? Aqui em Portugal ele não está. Ele está em Cabo Verde, vive lá e é cantor, mas já registou a miúda. Desde que ela nasceu só a viu uma vez, mas liga-me muitas vezes para saber como está a bebé. É difícil não estar com ele, porque nós não estamos juntos, mas vai passar. Desde que esteja com a minha filha tudo passa. Dói muito, dói e é um bocado difícil, porque gosto muito dele, mas a minha filha está em primeiro lugar. Desde que nos vimos, mudou alguma coisa na tua vida? Mudou muita coisa. A minha vida está igual mas mudou muita coisa. Mudou o meu comportamento, mudou a minha rotina, já não entro e saio de casa às horas que quero, agora tenho horários, já não saio para a discoteca como antes, agora tenho de pensar na minha filha. Mas é bom, a minha filha é mais importante. Os teus planos de vida alteraram-se desde que engravidaste? 93 Mudaram, mas eu continuo a fazer as minhas coisas e vou lutar por aquilo que eu quero. Continuo a estudar que era uma coisa que eu queria muito e vou continuar na Residência por agora. Depois quero arranjar uma casa para mim, para a minha filha e para o pai da minha filha, em Cabo Verde. Não quero ficar aqui, gosto mais de estar lá, é muito diferente. Aqui não é como eu pensava. Mas é só isso, não tinha mais planos. 2ª Entrevista - S5 O que é para ti ser mãe? É bom, é uma experiência ótima. É…não sei explicar, é uma emoção. Não sei, não sei mesmo! Eu, quando ela nasceu, quando olhei para ela fiquei tipo…não sabia o que fazer, não sabia se havia de chorar, se havia de rir. Foi tão bom. E agora pronto, exige algumas dificuldades, porque só 94 agora é que estou a aprender, mas tem sido uma experiência boa. É uma criança saudável, não tenho razões de queixa. Mas qual é que achas que é o teu papel como mãe? É cuidar da minha filha, é ter responsabilidades sobre ela, amá-la, tanta coisa. É uma coisa inexplicável, não dá mesmo para descrever. Eu agora sinto que tenho alguém para cuidar, que amo mesmo de verdade. Alguém que vai estar sempre na minha vida até ao fim dos meus dias. Mais do que isso não sei. Quando é que surgiu esse sentimento? Foi logo quando ela nasceu. Eu já me estava assim a adaptar, mas não era a mesma coisa porque ela estava dentro da barriga, não sei não dava para ter aquele sentimento que é uma criança, não dava. Só quando ela nasceu é que deu me mesmo para…não sei, foi bom. Ela estava cá dentro e ainda não me tinha mentalizado muito bem, não sabia o que seria e agora já sei. Eu antes achava que tinha ficado com a vida destruída, mas agora não é bem assim. Apesar de ter tido a minha filha, eu posso continuar a fazer as minhas coisas. Eu pensava que a minha vida ia parar ali e não ia sair dali, mas agora não penso a mesma coisa, só que claro que agora vou ter de adiar os meus planos. Como é que te descreves como mãe? É difícil. As más noites é horrível, mas a minha filhota até não me dá más noites, é uma criança muito calma. É capaz de dormir a noite toda desde que nasceu. Quando estava no hospital não, porque tinha outro bebé no mesmo quarto que eu e, enquanto ele chorava a minha filha dormia e quando ele se calava a minha filha chorava. Estive dois dias no hospital, foram aquelas 48 horas e depois fui-me embora, como foi de parto normal, foi muito fácil durou 3 horas mais ou menos. Ela nasceu às 3:55 horas, eu fui para o hospital eram 23:00 horas, quase meia noite e depois ainda tive que estar à espera (risos), porque não tinham vagas e eu tive que ficar à espera a sofrer, mas pronto depois correu bem. Mesmo assim o que me custou mais foi levar a epidural, porque nós não nos podemos mesmo mexer, temos de ficar quietinhas, não podemos nem tremelicar, ficar bem quietinhas para nos darem a injeção, foi o que me custou mais, depois o resto foi fácil. Que tipo de dificuldades é que tens sentido? Dificuldades, não sei. Sinceramente não sei. Não sei, em saber como lidar, saber qual é que é o tipo de choro, para saber o que é que tem, não sei. Acho que vai ser uma coisa muito difícil. Desde que nos vimos, mudou alguma coisa na tua vida? 95 Mudou. Primeiro, tenho a minha filha cá fora, tenho a responsabilidade de cuidar dela. Sei lá, a minha relação com a minha mãe não era muito boa e agora parece que de um momento para o outro as coisas ficaram lindamente. Agora vejo a minha mãe com alguma frequência, ela vem-me visitar e antes raramente vinha, veio só uma vez. Agora quando ela nasceu já veio mais vezes, até me foi ver ao hospital. Como é que a tua mãe ficou a saber que estavas grávida? Foram as técnicas da instituição onde eu estava que lhe contaram, porque eu nessa altura estava na escola e depois foi muito complicado porque ficou um bocado chateada na altura, mas depois passou-lhe. E tens mais alguém que te venha visitar? Tenho um irmão mais velho que me vem ver às vezes e tenho outra irmã mais velha mas não conheço. E pronto, tenho pessoas que me apoiam e tudo. Quando estavas na outra instituição passavas algum tempo com a tua mãe? Passava fins-de-semana, mas não vivia com ela. Estava na instituição desde os 6 anos, por isso é que já era praticamente a minha casa e custou-me um bocado vir para aqui, mas nós temos de nos adaptar a novas coisas, tal como eu me estou a adaptar à minha filha e já me levou 3 meses. Como é que tem corrido a experiência? Para além de tudo o que me disseste, o que é que achas que podes acrescentar? Na altura senti-me muito sozinha, com a mudança de instituição, mas agora já me adaptei, já cá estou há seis meses. A minha filha agora já começa a sorrir, às vezes estamos só a olhar para ela assim com cara séria e ela ri-se, não sei que piada é que tem, mas pronto. Agora é que ela tá a começar, mas é bom. Dou-lhe de mamar e doulhe suplemento, porque ela no início engordou, mas recuperou muito bem, normalmente é uma semana, duas semanas, mas foi só os cinco dias, perdeu e recuperou logo e passado uns tempos começou a engordar só 100 gramas e então tive que pôr o suplemento e amamentar ao mesmo tempo. É mais difícil, porque durante a noite tenho que me levantar da cama e ir fazer o leite e depois voltar para a cama, depois dar-lhe o leite, pronto é mais complicado, mas tenho de me adaptar. Tens um quarto só para ti e para a tua filha? Sim, só nós as duas. Os teus planos de vida alteraram-se? Sim, muito. Agora para estudar é um bocado difícil, se bem que eu gostava mesmo de estudar, mas tem que ser. Agora vou ter que procurar trabalho, no máximo posso ficar na instituição dois anos, mas como não posso continuar a estudar porque normalmente os cursos são de 3 anos, não dá para fazer. Eu estava a fazer um, então tive que parar e agora tenho de arranjar trabalho. Depois quando voltar para casa, posso continuar no trabalho e estudar outra vez. Vais ter de procurar casa? 96 Não, para mim não porque tenho a minha mãe, agora há outras raparigas que sim, que vão ter de procurar casa mas eu não. Por enquanto ainda tenho essa benesse de ir viver com a minha mãe. E agrada-te? Sim. Viveste muito pouco tempo com a tua mãe, não foi? Sim, também não convivíamos muito, por isso é que às vezes haviam algumas discussões quando estava na instituição, mas pronto. E o que é que gostavas de estudar? Comunicação e Marketing, que era o que eu estava a estudar. O pai do bebé está presente? Não, não está e nunca esteve. Infelizmente nunca esteve e, por causa disso tenho de fazer o teste de paternidade porque ele não aceita de maneira nenhuma, mesmo sabendo que a filha é mesmo dele, ele não aceita, ele não quer aceitar. Era teu namorado? Era, namorámos durante muito tempo. Mas eu só descobri que estava grávida passado 5 meses de nós termos acabado, é normal que ele também tenha ficado assim, mas ele sabe, ele no fundo sabe, porque fazendo as contas como deve ser dava certo, mas pronto. Ele ficou a pensar se deveria acreditar ou não, ele lá acreditou na altura, mas agora, não sei. Ele já viu a bebé? Não, não viu. Deve ter visto por fotografias, porque uma tia dele, com quem ele morava e com o pai também, pediu-me fotografias dela, até está interessada e já lhe deve ter mostrado mas pessoalmente não, não viu ainda. Ele é mais velho? É, é mais velho um ano. E estuda? Sim, não agora não está a estudar. Agora está a trabalhar se não me engano. Entretanto pode ter voltado a estudar, mas não sei. Na altura, ele estava a estudar. E como é que te sentiste, com a falta de apoio da parte dele? Eu, tenho de viver a minha vida, se ele quiser aceitar a filha aceita, se não quiser, o que é que eu posso fazer! Não o posso obrigar. Que tipo de apoio é que tens? Tenho a instituição, tenho da minha mãe do meu irmão, dos meus colegas, de toda a gente praticamente, toda a gente. Não pago casa, nem alimentação. Dão me tudo para o bebé, não me falta nada nada. Estou feliz. Às vezes dá-me um bocado de trabalho e ando muito cansada, porque ela acorda-me durante a noite, não eu é que tenho de a acordar porque ela não acorda, então tenho de a acordar para ela beber o leite, ela não acorda e esta noite ela acordou, foi porque ela se arranhou, com as unhas arranhou a cara e fez sangue, é que sou eu que lhe corto as unhas mas faz muita impressão, aqueles dedos tão pequenos, mas pronto. 97 98