A IDENTIDADE MATERNA EM ADOLESCENTES ‘‘O SER MÃE’’
CAROLINA AYMERICH PINHEIRO
Nº 14928
Orientador de Dissertação:
PROF.ª DOUTORA ÂNGELA VILA-REAL
Coordenador de Seminário de Dissertação:
PROF.ª DOUTORA ÂNGELA VILA-REAL
Tese submetida como requisito parcial para a obtenção do grau
de:
MESTRE EM PSICOLOGIA
Especialidade em Psicologia Clínica
2012
Dissertação
de
Mestrado
realizada
sob
a
orientação de Professora Doutora Ângela VilaReal,
apresentada
no
ISPA
-
Instituto
Universitário para obtenção de grau de Mestre
na especialidade de Psicologia Clínica conforme
o despacho da DGES nº 19673/2006 publicado em
Diário da República 2ª série de 26 de Setembro,
2006.
AGRADECIMENTOS
Desejo agradecer,
À
Prof.ª
Doutora
Ângela
Vila-Real,
a
minha
orientadora
de
dissertação, sempre presente e disponível, que me dedicou o seu tempo ao
longo do seminário, bem como, em horas de atendimento, de modo a poder
desenvolver da melhor forma o meu projeto e a dar os primeiros passos com
mais
confiança
críticas
e
e
sabedoria.
sugestões,
Pela
pelos
sua constante
seus
orientação,
conhecimentos,
pelas
pelas
suas
qualidades
relacionais e humanas que sempre transmitiu, pela sua grande capacidade de
escuta, o Meu Muito Obrigada!
À Ajuda de Mãe e ao Vigilante, pela oportunidade que me deram em
contatar
com
adolescentes
grávidas
de
modo
a
poder
realizar
a
minha
dissertação, pela sua prontidão em me receberem e terem sido tão amáveis, o
Meu Muito Obrigada!
iii
Às adolescentes que fizeram parte do estudo e que sem elas não teria
sido possível prosseguir com o desenrolar do mesmo, pela sua sinceridade e
pela sua disposição em colaborar, o Meu Muito Obrigada!
Aos
meus
pais,
por
todo
o
amor,
amizade,
carinho,
atenção,
compreensão e dedicação diária. Por me apoiarem em todas as decisões, por
me ouvirem incondicionalmente, por acreditarem sempre que sou capaz, pela
confiança. Pela presença constante, mesmo que longe, por tudo o que em
palavras nunca conseguirei dizer, o Meu Muito Obrigada!
Ao ISPA, por me preparar para o meu futuro e por me ajudar a crescer
como pessoa e como profissional, o Meu Muito Obrigada!
A todos aqueles que acreditaram em mim e me deram força, apoio e se
dedicaram, contribuindo para o meu desenvolvimento pessoal e profissional,
possibilitando a minha chegada aqui, pois sem vós não teria sido a mesma
coisa, o Meu Muito Obrigada!
RESUMO
O
presente
maternidade
na
trabalho
insere-se
adolescência,
fase
em
na
problemática
que
as
jovens
processo de definição da sua identidade pessoal e
da
se
que
gravidez
encontram
e
num
se deparam, na
maioria dos casos, com uma gravidez inesperada, pressupondo uma grande
reestruturação e reajustamento pessoal e social, produzindo uma mudança de
identidade e uma redefinição de papéis, bem como, mudanças orgânicas e
psíquicas.
Pretende-se perceber de que forma as adolescentes que se deparam com
uma
gravidez
e
maternidade
na
adolescência,
desenvolvem
e
constroem
progressivamente, a identidade materna.
Através da metodologia qualitativa, de carácter exploratório, foram
aplicados
um
questionário
sociodemográfico
e
duas
entrevistas
semiestruturadas às participantes em duas fases distintas (no 3º trimestre
de gravidez e após o parto, decorridos cerca de 2 a 4 meses), sendo a
amostra constituída por 5 adolescentes com idades compreendidas entre os 14
e os 16 anos.
Os
resultados
adolescentes
identidade,
surge
obtidos
ao
mesmo
assistindo-se,
sugerem
tempo
assim,
à
que
que
é
a
identidade
consolidada
sobreposição
das
a
materna
nas
sua
própria
mudanças
físicas
corporais que definem o passar-se a ser mulher e simultaneamente mãe. No
entanto, a consolidação da nova identidade, por vezes é dificultada devido
ao facto das jovens mães não terem elaborado o desejo da maternidade,
estando os conflitos próprios da fase da adolescência ainda emergentes.
iv
Apesar da identidade materna surgir ao longo da gestação, elaborada
através de uma imagem idealizada das adolescentes como mães e dos bebés
como filhos, somente após o parto essa imagem se torna concreta.
Palavras-chave: adolescentes, gravidez, identidade materna e maternidade.
ABSTRACT
This work explores the problematic area of teenage pregnancy and
motherhood, a stage where young women are in the process of defining their
personal identity and facing, in most cases, an unexpected pregnancy which
involves major restructuring as well as personal and social readjustment,
resulting in a change of identity and a redefinition of roles, including
organic and psychological changes.
The objective is to understand how adolescents faced with imminent
pregnancy and motherhood, progressively develop and build their maternal
identity.
Qualitative methodology of an exploratory nature was applied to the
results
of
a
sociodemographic
questionnaire
and
two
semi-structured
interviews given to participants in two distinct phases (in the third
trimester of pregnancy and about 2-4 months after childbirth) with the
sample consisting of 5 adolescents aged 14 to 16.
The
results
suggest that
maternal
identity
in
adolescents
arises
while self-identity is being consolidated, revealing thus, the overlap of
physical bodily changes that define the passage to both womanhood and
motherhood. However, the consolidation of the new identity is sometimes
difficult due to the fact that young mothers have not properly developed
the
desire
to
be
mothers,
because
the
conflicts
of
adolescence
are
themselves still emerging.
Although maternal identity arises during pregnancy, developed through
an idealized image of teenagers as mothers and babies as children, only
after giving birth does that image become concrete.
Key-words: teenagers, pregnancy, motherhood and maternal identity.
v
INDICE
INTRODUÇÃO...……………………………………………………………………………..1
I. Enquadramento teórico……………………………………………………………………...3
1.1. Maternidade: Introdução histórico-social……………………………………….………...3
1.1.2. A maternidade na atualidade……………………………………………………4
1.2. Maternidade e adolescência…………………………………………………………….…5
1.2.1. Função materna…………………………………………………………….……5
1.2.2. Preocupação Maternal Primária…………………………………………............7
1.2.3. Características das adolescentes………………………………………………....8
1.2.4.Maternidade precoce……………………………………………………………..9
1.2.5. Fatores de risco na gravidez……………………………………………………12
1.2.6. Resultados de alguns estudos empíricos………….…………………………....14
1.3. Identidade materna……………………………………………………………….............16
1.3.1. Conceito de identidade materna…………………………………………….….16
1.3.2. Resultados de alguns estudos…………………………………………….…….17
II. MÉTODO………………………………………………………………………………….20
Participantes…………………………………………………………………………..20
Instrumentos…………………………………………………………………………..21
Caracterização dos Instrumentos……………………………………………………...21
Procedimento………………………………………………………………………….29
III. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS……………………………………………….38
Caracterização da Amostra……………………………………………………………38
Resultados das Entrevistas……………………………………………………………40
IV. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS….…………………………………………………52
V. CONCLUSÃO…………………………………………………………………………….57
Limitações…………………………………………………………………………….58
Sugestões……………………………………………………………………………...59
VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS…………………………………………………..60
VII. ANEXOS………………………………………………………………………………...70
ANEXO I - Questionário Sociodemográfico…………………………………………71
ANEXO II - Entrevistas……………………………………………………………...73
ANEXO
III
-
Termo
de
Consentimento
Informado
Instituições……………..76
ANEXO IV - Questionários………………………………………………………….79
ANEXO V - Entrevistas Transcritas…………………………………………………85
vi
para
as
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Frequência de sujeitos que referiram cada subcategoria na 1ª
entrevista………….36
Tabela 2. Frequência de sujeitos que referiram cada subcategoria na 2ª
entrevista………….37
Tabela 3. Caracterização da amostra…………………………………………………………39
vii
INTRODUÇÃO
A
presente
dissertação
aborda
o
tema
da
identidade
materna
em
adolescentes, focando-se, essencialmente, na progressiva construção desta,
desde o momento da descoberta da gravidez, passando por todo o período
gestacional, incidindo mais propriamente no último trimestre de gravidez,
até
ao
nascimento
nomeadamente,
em
do
bebé.
Portugal,
Apesar
acerca
de
da
existirem
gravidez
muitos
e
estudos,
maternidade
na
adolescência, são poucos os que se centram exatamente na construção da
identidade materna em adolescentes.
A gravidez na adolescência pressupõe uma intensa reestruturação e
reajustamento pessoal e social, que produz uma mudança de identidade e
consequentemente uma redefinição de papéis, bem como mudanças orgânicas e
psíquicas.
A
maternidade
na
adolescência
é
vivida
com
insegurança,
incerteza e sentimentos de angústia, como se houvesse uma transgressão e,
por isso, a necessidade de se provar que se pode ser uma boa mãe (Mazzini
et al., 2008). Há, aqui, uma confrontação com tarefas adultas, para as
quais
as
adolescentes
ainda
não
estão,
psicologicamente
e
socialmente
preparadas (Lourenço, 1998).
A gravidez e a maternidade na adolescência pressupõem, assim, uma
transição desenvolvimental, por serem acontecimentos que colocam em questão
o sistema pessoal a todos os níveis, estrutural, emocional e funcional,
requerendo mudanças e em consequência, novas tarefas de desenvolvimento,
revelando-se numa aceleração de papéis (Raeff, 1994, cit. in Soares &
Jongenelen, 1998).
Apesar de os jovens terem mais informação sexual do que nunca e um
acesso facilitado aos métodos contracetivos, a gravidez surge devido à
falta dos mesmos ou pelo uso incorreto (Guembe & Goñi, 2004).
Nos últimos seis anos, a taxa de natalidade de mães adolescentes
portuguesas diminuiu 1,3% (INE, 2011), no entanto, continua a constituir-se
um problema na sociedade. Esta espera que as jovens antes de constituírem
família, concluam o percurso escolar e entrem no mercado de trabalho. O
facto deste percurso nem sempre ser linear, provoca profundas alterações na
sociedade
que
vê
a
maternidade
na
adolescência,
como
um
desvio
da
normalidade (Gerardo, 2004).
Ser-se mãe na adolescência, pressupõe uma rutura com a adolescência
propriamente dita, deixando os seus hábitos e práticas associados a estas
idades, para a passagem a uma identidade materna, adotando novas práticas e
deveres para com a criança (Gerardo, 2006).
Sabe-se que as jovens que vivem em famílias disfuncionais, por vezes,
procuram compensações afetivas fora desta, através do contacto com o grupo
de pares ou de um relacionamento amoroso. Daí, pode surgir uma gravidez que
em parte é indesejada mas que se reflete como um apelo de valorização
pessoal na família e como emancipação na sociedade (Gerardo, 2006).
Devido
às
mudanças
sociais
no
decorrer
das
últimas
décadas,
nomeadamente, o aumento do nível de escolaridade, para além de boas esposas
e mães, é esperado que as mulheres se qualifiquem e obtenham uma carreira
1
profissional.
aspeto,
Dessa
acabando
a
forma,
a
maioria
gravidez
das
jovens
é
condenada
por
por
abandonar
dificultar
ou
tal
interromper
o
processo escolar, tornando-se mais difícil o acesso ao mercado de trabalho
(Santini de Almeida, 2002).
Assim, procedeu-se à aplicação de entrevistas a jovens entre os 15 e
os 16 anos, na condição de gestantes. Foram primeiro entrevistadas quando
ainda se encontravam grávidas, no terceiro trimestre de gravidez e após o
nascimento
da
criança,
por
volta
dos
3
meses
de
idade,
de
forma
a
observarem-se as diferenças decorridas ao longo de todo o processo.
Começa-se
por
falar
um
pouco
do
contexto
histórico-social
da
maternidade, passando, em seguida, por uma visão mais atual de como é
definida. Num segundo momento, é abordada a função materna, sendo esta de
extrema
importância
para
o
estabelecimento
do
vínculo
entre
a
mãe
e
criança, cabendo à mãe uma grande dedicação numa fase inicial da vida do
bebé, e a preocupação maternal primária, vivida por todas as mães no final
da gravidez e durante algumas semanas após o parto.
São definidas algumas características das adolescentes, bem como, a
maternidade precoce, como é sentida e vivenciada pelas jovens numa fase de
profundas alterações, onde os riscos são evidentes.
Antes
de
chegar
à
apresentação
e
discussão
dos
resultados
e,
posterior conclusão, um capítulo sobre a identidade materna, incidindo a
construção desta nas jovens.
A
discussão
pretende
apresentar
uma
compreensão
dos
resultados,
baseando-se nos estudos realizados anteriormente neste âmbito, bem como, em
alguns
aspetos
teóricos.
Pretende-se,
também,
apresentar
as
limitações
encontradas ao longo do estudo, fornecendo, igualmente, indicações para
futuras investigações.
I. ENQUADRAMENTO TEÓRICO
1.1 Maternidade: Introdução histórico-social
O papel da maternidade sempre foi construído como o ideal máximo da
mulher, a realização da feminilidade, não obstante, igualmente associado a
sacrifícios e renúncias (Borsa & Feil, 2008). A divisão sexual das tarefas
já existia anteriormente à revolução agrícola, cabendo ao homem atividades
como a caça e a preparação do equipamento para esta, e às mulheres a
organização
do
lar
e
a
responsabilidade
pela
educação
dos
filhos,
condicionando a sua criatividade e reduzindo a sua imaginação. Desta forma,
as mulheres detinham o poder biológico da criação, ficando o homem excluído
de tal tarefa e exercendo o poder social. O bebé era considerado só da
2
mulher, ocupando o seu corpo durante nove meses e requerendo a sua atenção
e afeto logo após o nascimento (Cruz, 1990).
Só a partir do século XVII, é que o homem passou a fazer parte do
momento do parto. No entanto, o homem entra aqui apenas como médico e
podendo, assim, a cesariana deixar de levar à morte, pois até então haviam
demasiados nascimentos, a sobrevivência das crianças era assumida com muita
dificuldade
e
a
vida
das
crianças
era
subestimada,
sendo
consideradas
desperdícios, não sendo possível aos pais dedicarem-se a elas, amando-as e
cuidando-as (Ariès, 1988).
Já no final do século XVIII e mais propriamente no século XIX, a
mulher aceitou o papel de mãe devota, dedicando todo o seu tempo ao bebé e
responsabilizando-se pelo
espaço
privado
da
família
(Braga
&
Amazonas,
2005, cit. in Borsa & Feil, 2008). No decurso deste século, também, os
riscos de mortalidade e morbilidade maternas e infantis devido à procriação
foram
progressivamente
reduzindo
graças
aos
progressos
da
medicina,
da
higiene e da alimentação (Lefaucheur, 1995).
Desta forma, a maternidade configurou-se, ao longo dos tempos, como a
única
função
da
mulher,
valorizada
socialmente,
que
lhe
permitia
ser
reconhecida, posição que se estendeu até meados do século XX, onde ser mãe
significava
pertencer
a
uma
classe
especial,
de
prestígio
dentro
da
sociedade (Borsa & Feil, 2008).
Os papéis da mulher e de homem encontravam-se, assim, vinculados à
identidade sexual, onde ser mulher implicava ter o papel de cuidar do lar e
ao homem o papel de sustento da família (Osório, cit. in Borsa & Feil,
2008).
1.1.2. A maternidade na atualidade
Sabe-se que o que marca a diferença da experiência da gravidez e
maternidade da mulher pós-moderna, ocidental e de classe média, nos dias de
hoje, é a possibilidade de escolha. A gravidez ultrapassa o momento da
conceção, bem como a maternidade o momento do parto. No entanto, ambos são
processos
dinâmicos,
acontecimentos.
A
de
construção
gravidez
e
corresponde
desenvolvimento
a
um
período,
e,
não
de
apenas
cerca
de
40
semanas, que medeia a conceção e o parto. A maternidade é um processo que
ultrapassa a gravidez, é um projeto a longo prazo. Existindo um projeto
adaptativo
de
maternidade,
psicologicamente,
a
gestação
permite
a
preparação para ser mãe, treinando os papéis e tarefas maternas, ligar-se
ao bebé afetivamente, começar a reestruturar as relações de forma a incluir
a
futura
criança,
incorporar
na
sua
identidade
a
existência
do
novo
elemento e, ao mesmo tempo, aprender, também, que é uma pessoa separada,
dotada de vida própria (Canavarro, 2001). Mas a forma como é vivida e
incorporada
culturais,
a
gravidez
bem
como,
e
com
a
as
maternidade
relacionam-se
características
(Correia, 1998).
3
da
com
própria
componentes
personalidade
Assim, o projeto de maternidade, pode ser construído e consolidado
progressivamente, ao longo de 40 semanas através dos ensaios, da ligação,
ansiedade, fantasias e reflexões (Canavarro, 2001).
Considerado
um
período
repleto
de
experiências,
expectativas
e
simbolismos, a gravidez pode, também, espoletar um período de crise e de
maior vulnerabilidade pessoal. Em muitos casos, o desejo de ter um filho e
o de ser mãe, não coincidem, sendo a distância entre gravidez e maternidade
muito grande, na ausência de um projeto definido (Mota, 2011). Nos casos em
que a gravidez não é planeada e simultaneamente desejada, pode propiciar
sentimentos contraditórios na gestante. Sentimentos positivos de alegria e
bem-estar
intenso
até
à
sensação
de
desamparo,
tristeza
profunda,
frustração, vergonha e culpa (Camacho et al., 2010).
Apesar
práticas
da
crença
comuns
a
de
todas
que
as
a
maternidade
mulheres,
a
é
um
conjunto
maternidade
é
um
natural
de
conjunto
de
comportamentos, atitudes e ações que é aprendido e reproduzido pelos atores
sociais (Malacrida, 2009). Mas é, também, um momento muito enriquecedor, de
crise e crescimento pessoal para a mulher (Campos, 2000).
No processo de desenvolvimento maturacional da mulher, a gravidez é
considerada um período de crise, envolvendo grandes alterações a nível
endócrino, somático e psicológico. Esta crise corresponde à confrontação
com novas tarefas adaptativas e libidinais, que conduzem à revivência e,
também, à emergência de conflitos mal resolvidos numa fase precoce do
desenvolvimento. Sendo imprescindível
para o
domínio da maternidade na
gravidez, a resolução da mesma (Bibring, 1959).
Autores como Colman e Colman (1994) e Bibring (1959), referem que o
período gestacional está dividido em diversas fases, havendo em cada uma
delas
uma
tarefa
revelam-se
a
concretizar.
fundamentais
No
entanto,
relativamente
às
dessas
fases,
mudanças
três
delas
comportamentais
e
psicossomáticas, da gravidez. A primeira fase, denominada de ‘‘integração’’,
baseia-se na interiorização da nova realidade física, mas também, do facto
de transportar um bebé. Dessa forma, essa fase leva a que a mulher regresse
mentalmente
feminina,
segunda
à
infância,
reavaliando
fase,
onde
e
os
com
o
objetivo
reelaborando
movimentos
de
as
do
solidificar
suas
bebé
a
relações
são
personalidade
passadas.
percebidos,
Numa
dá-se
a
‘‘diferenciação’’, momento em que a gestante deve perceber que o bebé é
autónomo e que vive segundo regras próprias. Por último, a terceira fase
‘‘separação’’, pressupõe uma preparação da separação física e psicológica
com o bebé que em pouco tempo irá nascer (Justo et al., 1999).
A adaptação à maternidade revela-se pela capacidade de superar tais
tarefas desenvolvimentais, centrando-se na capacidade de cuidar e educar um
bebé,
contribuindo
positivamente
para
o
seu
desenvolvimento
saudável
(Canavarro, 2001).
A gravidez para além de ser um momento de ensaios e expectativas, é o
momento em que os relacionamentos passados podem ser reelaborados, sendo
considerada
uma
fase
de
constante
confrontação
entre
desejos e a autenticação da realidade (Borsa, 2007).
4
a
satisfação
de
1.2. Maternidade e adolescência
1.2.1. Função materna
A gravidez é uma
experiência plena de crescimento e mudança, de
constante desafio, transformações várias, desde biológicas, a sociais e
pessoais que põem a mulher em contacto com sentimentos, comportamentos e
significados latentes desde o nascimento, que são evocados subitamente.
Assim, a mulher tem que conciliar novas questões na sua vida e estar
disponível inteiramente para a nova identidade que cresce dentro dela,
identidade esta que não contempla apenas a do novo ser, mas, também, a sua
como mãe, a do seu companheiro como pai e a dos seus pais como avós (Colman
& Colman, 1994).
Para Klein (1981; cit. in Borges, 2005), a função materna corresponde
ao ato de auxiliar o bebé a contactar com o seu mundo interno e com a
realidade. Para compreende-lo, a mãe necessita de estabelecer um vínculo
amoroso, sendo capaz de descodificar as suas necessidades. Para o exercício
da função materna é necessário que haja uma interiorização de aptidões,
atributos e tarefas que ao longo do desenvolvimento da criança, vão-se
modificando e adaptando. Assim sendo, o comportamento da mãe para com o seu
filho, não consiste de uma diversidade de respostas acidentais, mas de um
conjunto de noções e ideias, consoante aquilo que valoriza e desvaloriza na
prática da relação (Kobarg et al.,
2006). O comportamento
parental é,
então, mediado pelas crenças desenvolvidas nas vivências e experiências
sociais e culturais (Kobarg & Vieira, 2008).
Considerada
imprescindível
na
estruturação
e
desenvolvimento
do
psiquismo da criança, exercida pela mãe, é uma função onde estão presentes
diferentes
atributos,
que
a
tornam
capaz
de
executar
cuidados,
tanto
físicos, como psíquicos, para com o bebé. No entanto, para o seu exercício,
é necessário que a mãe deseje a criança (Borges, 2005).
Segundo Klaus (1993, cit. in Nascimento et
al, 2005),
o vínculo
estabelecido entre os pais e os filhos deve ser o mais forte possível, pois
é fundamental para o desenvolvimento e sobrevivência da criança. O laço
criado entre ambos, será a fonte principal para as suas futuras ligações,
sendo a partir deste vínculo que a própria poderá desenvolver um sentido de
si mesma.
A
ligação
afetiva
que
se
estabelece
entre
a
mãe
e
o
bebé,
ao
contrário do que se pensava, que apenas tinha início aquando do nascimento
da criança, sabe-se hoje que esta se forma durante o período gestacional
(Mendes, 1999, cit. in Faria, 2001).
A mãe, começa a imaginar o seu bebé, desde uma fase muito precoce da
gestação, sendo esta de forma continuada ao longo da mesma, terminando
muitas vezes, apenas no momento do parto (Sá, 2004).
Quando o bebé nasce, existe uma grande separação entre a mãe e a
criança,
deixando
esta
de
estar
protegida
e
ficando
exposta
a
uma
diversidade de estímulos aos quais não estava habituada. No entanto, cabe à
5
mãe, desde o primeiro momento que interage diretamente com a criança,
proporcionar-lhe
o
amor
necessário
que
a
conforte
e
lhe
dê
segurança
suficiente (Cordeiro, 1987).
1.2.2. Preocupação maternal primária
A preocupação maternal primária desenvolve-se gradualmente durante a
gravidez. Esta diz respeito a um estado psicológico atingido pela mãe
saudável, colocando-se em posição de oferecer um ambiente suficientemente
bom para o desenvolvimento das potencialidades inatas do seu bebé, isto é,
possibilitando a adaptação sensível e delicada às necessidades do bebé numa
fase inicial, estado esse que durante a gravidez e mais precisamente no
final desta, se torna numa sensibilidade exacerbada. Trata-se de um estado
mental que se assemelha a um adoecimento, de centralização excessiva no seu
bebé que vai nascer. Aquando do nascimento, esta sensibilidade apenas dura
algumas semanas. Sendo que depois de ultrapassado este momento, a maioria
não se recorda de tal, sendo a memória das mães reprimida (Winnicott,
2000).
Assim, a mãe propicia um contexto saudável à criança para que esta se
comece
a
manifestar,
para
que
o
seu
desenvolvimento
flua
e
comece
a
experimentar movimentos espontâneos, tornando-se dono das sensações que a
esta fase se destinam. A mãe, pode, então, pôr-se no lugar do bebé e
corresponder às suas necessidades (Winnicott, 2000).
Segundo Brazelton (1992), a preocupação sentida pelas mães no período
gravídico, reflete o quão se sentem já responsáveis pelo bebé, bem como, o
quanto já gostam dele, apesar da ansiedade, da inexperiência e da sensação
de desamparo sentida. Dessa forma, todas a mães passam por esta fase à sua
maneira, estando relacionado com alguns aspetos sociais e culturais, tais
como, a etnia, a idade, a classe social e os laços familiares (Hollway et
al., 2009).
No
final
da
gravidez,
as
preocupações
maternas
centram-se
na
preparação física e emocional para o parto, antecipando-o como doloroso,
revelando
preocupações
relativas
a
possíveis
consequências
negativas,
predominando a falta de controlo, confiança e medo (Conde & Figueiredo,
2007).
Após
criado
o
vínculo
entre
a
mãe
e
o
bebé,
a
mãe
adquire
a
competência de se colocar no lugar do filho, identificando-se com ele, e
percebendo os sinais que emite. Estes sinais, permitem a cada momento, que
a mãe aprecie as necessidades fisiológicas imediatas do bebé, adaptando o
seu comportamento (Nascimento et al, 2005).
6
1.2.3. Características das adolescentes
A adolescência, é
indivíduo,
que
uma fase do processo de desenvolvimento de um
ocorre
desde
a
puberdade,
momento
em
que
alterações
psicobiológicas iniciam a maturação, até à idade adulta, onde um sistema de
valores e crenças se enquadra numa identidade estabelecida. O início e o
fim
desta
etapa
é
difícil
de
determinar,
no
entanto,
sabe-se
que
a
puberdade, nas meninas, é assinalada pelo surgimento da menarca, já para o
fim da adolescência não existe nenhum acontecimento biológico que indique
com exatidão a entrada na idade adulta (Sampaio, 1992). Mas, Blos (1979,
cit. in Fleming, 1993) refere que a formação do carácter vem marcar esta
fase e, para Erikson (1972), é a formação da identidade que está subjacente
à fase final da adolescência.
No Ocidente, a adolescência corresponde sensivelmente à faixa etária
entre os 12 e os 20 anos, havendo oscilações deste período sujeitas às
diferenças
relativas
ao
sexo,
etnia,
meio
geográfico,
condições
socioeconómicas e culturais. De ressaltar que, existem muitas diferenças
entre os indivíduos do mesmo meio, alguns alcançando a puberdade mais
precocemente
diversos,
que
outros
apresenta
e,
ainda
diferentes
que,
ritmos
a
de
mesma
pessoa,
maturação
em
(Ferreira
momentos
&
Nelas,
2006).
Na
fase
da
adolescência,
existem
diversos
estádios
que
estão
relacionados com o cumprimento de certas tarefas, que devem ser cumpridas
para que se possa passar ao estádio seguinte. Quando estas são realizadas
com sucesso, proporcionam bem-estar ao indivíduo e a sucesso nas futuras
tarefas,
sendo
determinadas
pela
maturação
física
e
pelas
pressões
socioculturais. Os adolescentes são forçados a encarar uma aparência física
nova e semelhante à do adulto. Isto poderá levar a que os outros tratem o
adolescente
já
não
como
uma
criança
mas
sim
como
adulto
e,
consequentemente, esperem do mesmo um comportamento adequado (Gleitman et
al., 2007). Assim, após diversificados momentos de maturação, os jovens
constroem a sua identidade, identificando os seus pontos de referência,
escolhendo o seu caminho profissional e delineando alguns planos de vida
futura (Ferreira & Nelas, 2006).
Erikson (1995) vem falar da crise da identidade da adolescência,
referindo a separação da esfera adulta como sendo uma das manifestações do
que os adolescentes anseiam atingir. Têm como primeiro objetivo, descobrir
quem e o que realmente são, ao mesmo tempo que atravessam uma crise de
identidade. Deste modo, o adolescente assume uma série de atitudes, em
parte em benefício dos outros, que irão servir como espelho, onde ele se
poderá rever a si próprio. Cada papel que o sujeito adota, cada relação
humana,
cada
visão
do
mundo
que
temporariamente,
sem
significado.
experimentando
Vão
tem,
compromisso,
são
sendo
até
que
em
o
primeiro
desafio
encontram
uma
lugar
muitas
de
que
adotadas
vezes
o
gostam,
mantendo-a e passando dessa forma a ser parte integrante da sua identidade
adulta.
7
Para se afirmarem, os jovens desenvolvem estratégias de autonomia e
independência
face
aos
pais.
A
independência
nestas
idades,
torna-se
fundamental na procura do ‘‘eu’’, por forma a romperem com a infância e em
certa medida com os pais. Criando laços mais consistentes com o grupo de
pares e procurando ao longo da adolescência um relacionamento amoroso, como
prioridade. É a troca afetiva com um outro significativo que propicia a
construção do ‘‘eu’’ mais consistente (Gerardo, 2006).
É
na
procura
da
sua
identidade
que
o
indivíduo
descobre
a
sua
sexualidade, revestindo-se de grande importância, nesta etapa da vida, e
manifestando-se pelos sonhos, fantasias, desejos, masturbação e relações
sexuais (Reis et al, 2011). Existem indicações de que, pelo facto de os
jovens
iniciarem mais
cedo a
atividade
sexual,
leva
a
um
início mais
precoce da adolescência (Camarano et al, 2006).
As experiências vividas pelos jovens, nesta fase das suas vidas,
influenciam a passagem para a idade adulta. É uma fase da vida muito
vulnerável, caracterizando e delineando muitas das suas características que
de alguma forma influenciarão o seu futuro. O facto de ser um período de
muitas
escolhas,
não
significa
obrigatoriamente
que
estas
sejam
acompanhadas de um amadurecimento psicossocial, sendo que a maioria não
dispõe
de
experiência
e
informações
suficientes
para
tomarem
decisões
relativas ao seu futuro (Camarano & Mello, cit. in Camarano, 2006).
1.2.4. Maternidade precoce
A maternidade na adolescência não é um facto novo, muitas das nossas
mães e avós engravidaram na sua adolescência, no entanto, o contexto social
não era o mesmo dos dias de hoje. Nessa época, o destino da mulher baseavase unicamente na dedicação ao lar, casando e tendo filhos. Hoje em dia, uma
gravidez precoce implica mudanças de larga proporção em todos os contextos
da vida, alterando o seu percurso escolar, distanciando as jovens do grupo
de pertença, alterando significativamente os planos de vida, bem como,
mudanças a nível familiar. (Konig et al, 2008).
Uma gravidez nesta fase da vida, provoca na maioria das adolescentes
um profundo mal-estar, perturbando simultaneamente a sua identidade sexual
e dificultando não só as relações de pares mas, também, as relações com os
pais (Braconnier & Marcelli, 2000).
Sendo maioritariamente não planeada, a gravidez na adolescência é, à
partida, considerada como algo de indesejável ou como um mal a evitar.
Nestes casos, presumindo-se que não terá sido desejada, pode ou não vir a
sê-lo durante a gestação (Maruani, 1990, cit. in Nodin, 2001). Mesmo assim,
verifica-se que na maioria das jovens a gravidez é levada até ao fim e, por
vezes, repetida num curto espaço de tempo após ter tido o primeiro filho
(Canavarro & Pereira, 2001).
A notícia da existência de um feto e todas as transformações que
ocorrem a partir daí, tais como, as modificações físicas, podem ser fatores
que ajudem no desencadear do desenvolvimento de um desejo de ser mãe. No
8
entanto, também se considera que, a gravidez poderá advir de um desejo
prévio inconsciente, de engravidar (Maruani, 1990, cit. in Nodin, 2001). Ou
ainda,
como
defendem
alguns
autores
(Braconnier
&
Marcelli,
2000;
Braconnier & Marcelli, 2005), como desejo de afirmar a sua feminilidade, a
compensação de carências afetivas, o identificar-se com a figura materna ou
em alguns casos, o conseguir ultrapassá-la, atingir um estatuto adulto mais
rapidamente ou simplesmente a vontade de correr riscos.
Assim, para além de ser, a gravidez na adolescência, sempre vivida
rodeada de angústias e incerteza, muitas vezes, as adolescentes sentem
orgulho em ter um filho, tornando-se a
maternidade uma gratificação e
compensação pessoal afetiva (Rodrigues, 2010). Apesar de tudo, é sempre
enfrentada com dificuldade, pois uma gravidez em tais condições representa
uma passagem do papel de filha para o de mãe, ou seja, do querer colo para
dar colo (Moreira et al., 2008).
Ocorrendo com muita frequência nas classes sociais mais baixas e onde
a própria mãe ou
irmã também foram
mães adolescentes,
constata-se uma
valorização da maternidade que desencadeia um novo papel, o de mãe e mulher
(Dadoorian, 2003). Por isso, nas classes de baixa renda, por vezes, as
famílias
recebem
melhor
proporcionando-lhes
o
a
apoio
notícia
de
essencial
e
uma
gravidez
permitindo-lhes
adolescente,
continuar
a
estudar, ou então, o inverso total, rejeitando-as e abandonando-as. Por
outro lado, nas classes sociais mais altas, as jovens têm, geralmente, como
alternativas o casamento ou o aborto, dependendo da sua idade (Godinho et
al., 2000).
A transição à maternidade é considerada um momento tanto de desordem
e desequilíbrio, como de satisfação para as mães (Edwards, 2002, cit. in
Zagoneli,
et
al.,
2003).
O
início
da
adaptação
a
esta
fase,
suscita
sentimentos de incapacidade e confusão frente às novas exigências. Tal como
salienta Demickm et al. (2002, cit. in Zagoneli et al., 2003), esta é uma
transição desenvolvimental, i. e., uma crise de desenvolvimento. Pois a
adolescente
depara-se
com
o
desempenho
de
novos
papéis
que
exigem
a
adaptação ao bebé, confrontando-se com a criança real e aquela imaginada,
fantasiada, durante todo o período de gestação.
O
vínculo
mãe-filho
irá
desenvolvendo-se
à
medida
que
todas
as
incertezas e angústias vão-se dissipando, tornando-se mais intenso quando
superam o conflito interno com relação às dificuldades de desenvolvimento
(Zagoneli et al., 2003). O que acontece à adolescente que engravida é, uma
mudança de papéis acelerada, pois esta ainda é recetora de cuidados por
parte das suas figuras parentais, ao mesmo tempo que, terá de se tornar
numa figura de vinculação para o bebé (Jongenelen et al., 2006). Ou seja,
para além das mudanças físicas, emocionais e psicológicas que uma gravidez
acarreta na vida de uma mulher, juntam-se-lhes as mudanças normais da
transição para a vida adulta (Almeida, 1987).
A
criação
de
um
filho
na
adolescência
bloqueia
o
processo
de
exploração desta, pois é incompatível com a responsabilidade que ser mãe
acarreta. Desta forma, a adolescente é confrontada com duas hipóteses,
sendo que em ambas sairá a perder; pode optar por viver a sua adolescência,
9
no entanto, negligenciará o seu papel de mãe, estando o filho numa situação
de
risco,
ou
então,
responsabilidade,
pode
estando
optar
o
seu
por
assumir
próprio
o
seu
papel
desenvolvimento
com
comprometido
(Costa, 1994).
Dessa forma, a gravidez na adolescência é vista como um desvio em
relação ao ideal, e à adolescente grávida é imposto que viva esse momento
com culpa e vergonha. É, portanto, essencial que estas jovens recebam
orientação das próprias mães de maneira a terem um modelo a seguir e algum
suporte (Ávila, 1998 & Duarte, 2002, cit. in Joffily & Costa, 2005). Pois a
gravidez, apenas adquire significado aquando do nascimento do filho, onde
se dá a passagem do filho imaginado, para o filho real, que passa a ser a
referência, o continente para a vida e os significados que o ser mãe
envolvem (Joffily & Costa, 2005).
A forma como foram criadas pelos próprios pais, os cuidados com
eventuais irmãos mais novos, permitem de algum modo, um treino para a
prática da maternidade. As jovens, ao observarem os cuidados e as tarefas
das próprias mães, anseiam pelo dia em que serão elas mesmas a adotar esse
papel, guiando-se pela imitação (Nascimento et al, 2005).
A maternidade na adolescência interfere no desenvolvimento normal,
repercutindo-se na vida pessoal, em que a adolescente depara-se com algumas
mudanças
corporais
advindas
da
gestação,
afetando
a
sua
autoimagem
e
autoestima, ao nível da educação, refletindo-se no abandono escolar ou na
menor
progressão
educativa,
ao
nível
social
e
psicológico,
isolando-se
socialmente, ao nível socioeconómico e ocupacional e ao nível familiar,
gerando
alguma
dinâmica
relativa
à
alimentação,
ao
padrão
de
sono
e
descanso, ao lazer, entre outros (Figueiredo, 2000; Folle & Geib, 2004).
1.2.5.Factores de risco na gravidez
Na adolescência, a gravidez e maternidade, sofrem uma dupla crise de
desenvolvimento,
parentalidade,
a
imposição
da
crise
situacional
da
gravidez
à
crise
maturacional
da
adolescência
simultaneamente,
e
(Ravert & Martin, cit. in Canavarro, 2001). E segundo Lourenço (1996, cit.
in Canavarro, 2001), a perda prematura da condição de adolescente.
Todas
as
mudanças
que
os
processos
da
gravidez
e
maternidade
acarretam, interferem, com os processos normais da formação da identidade
na adolescência. Com os processos de exploração, com as relações amorosas e
relações entre os pares, com as decisões que se relacionam com a escola e
vida profissional e, também, com os processos de autonomia, importantes
desta
fase.
Desta
forma,
igualmente
complicado,
se
torna enfrentar
as
mudanças corporais e sexuais subjacentes à gravidez, no momento em que a
adolescente constrói a sua identidade sexual (Canavarro, 2001).
Psicologicamente, uma gravidez na adolescência, pode ser vivida com
constantes
sentimentos
irritabilidade
e
de
culpa
instabilidade,
e
baixa
10
de
incapacidade,
autoestima,
depressão,
dificuldade
em
se
relacionar com os outros e consigo própria e, até mesmo, comportamentos
suicidas (Costa, 1994).
Uma gravidez, na adolescência, pode, também, ampliar vulnerabilidades
prévias
e
impedir
a
continuidade
de
percursos
favoráveis
de
adaptação
(Luster & Haddow, cit. in Leal & Ribeiro, 2010). Riscos de abandono escolar
ou
escolarização
baixa,
na
maioria
das
adolescentes,
o
que
limita
a
descoberta de interesses, capacidades e competências pessoais, ao mesmo
tempo que, diminui a diversidade de projetos de vida (Leal & Ribeiro, 2010;
Rodrigues, 2010).
Estas jovens sofrem de maiores níveis de stress e isolamento social
(Passino, et al., 1993, cit. in Soares, et al., 2001), níveis de tristeza e
tensão elevados, bem como maiores riscos de suicídio (Peterson et al., cit.
in
Canavarro,
(Wiemann,
et
2001),
al.,
psicopatologia
em
maior
cit.
geral
e
frequência
in
de
Canavarro,
menores
aptidões
comportamentos
2001),
de
delinquentes
níveis
resolução
maiores
de
de
problemas
(Passino et al., cit. in Canavarro, 2001) e a repetição do modelo familiar,
mães que também engravidaram na adolescência (Rodrigues, 2010).
As
oportunidades
de
convívio
encontram-se
delimitadas,
pois
a
gravidez nesta fase do ciclo de vida, encontra-se associada a dificuldades
nos relacionamentos, elevada taxa de abandono escolar e desemprego, advindo
daí uma grande instabilidade emocional, juntando aos conflitos familiares
que ocorrem e, muitas vezes, a dificuldades económicas (Canavarro, 2001).
Tópico pouco abordado na literatura, mas que parece ser importante,
refere-se
ao
maternidade,
apoio
do
estando
companheiro
associado
a
durante
um
menor
os
processos
grau
de
de
gravidez
psicopatologia
e
das
adolescentes, contribuindo para o bem-estar geral, no entanto, este também
se associa a maior stress parental (Contreras et al., cit. in Canavarro,
2001).
A gravidez na adolescência, não pode ser considerada como um facto
isolado, mas como parte integrante da procura da identidade (Moreira et al,
2008). Esta é favorecida por algumas variáveis, tais como, o pensamento
mágico, isto é, o facto das jovens acharem que com elas não pode acontecer,
a falta de diálogo com figuras significativas, a incorreta utilização dos
métodos
contracetivos,
o
desejo
de
magoar
a
família,
considerado
um
desafio, o início da vida sexual precoce, entre outros (Silva et al.,
2004).
Como já mencionado, o meio onde as jovens estão inseridas e onde
convivem habitualmente, tal como o meio familiar, muitas vezes carenciado e
com um número elevado de elementos, ou ainda, com a figura paterna ausente,
poderão ser fatores que propiciam mais facilmente uma gravidez, alcançando
desta forma o objeto relacional em falta (Justo, 2000). Tal como defende
Matos (2005), em que nas famílias monoparentais, onde a figura paterna está
ausente, poderá haver uma falha nas regras e limitações estipuladas às
adolescentes,
podendo
tornar-se
mais
evidente
o
desencadear
de
uma
gravidez, devido à passagem ato.
Guembe e Goñi (2004) referem que um grande erro ligado à educação
sexual
fornecida
aos
adolescentes,
11
centra-se
no
facto
de
esta
ser
maioritariamente parcial, centrada apenas em aspetos funcionais e de uso,
não ensinando a ser responsáveis.
fatores
que
levam
a
uma
No entanto, o profundo conhecimento dos
gravidez
na
adolescência,
inserido
em
cada
realidade social, poderá ser benéfico para a modificação desse quadro,
favorecendo o exercício saudável da sexualidade nos adolescentes (Bruno et
al., 2009).
1.2.6. Resultados de alguns estudos empíricos
De
um
modo
geral,
os
estudos
realizados
sobre
a
maternidade
na
adolescência, têm encontrado duas principais causas geradoras do fenómeno.
Por um lado, situam-no na falta de informação suficiente sobre os métodos
contracetivos, e por outro lado, destacam os fatores associados à fraca
gratificação na vida social e, também, às angústias advindas dos riscos dos
grupos de pertença, como a família e a escola, geradores de um estado de
abandono e de fortes sentimentos de isolamento. Desta forma a maternidade
poderia ser encarada como um meio para alcançar uma nova identidade social
(Deus, 2009).
A
apenas
social,
predisposição
para
com fatores de
tendo
um
a
ordem
papel
maternidade
física
e
precoce,
não
biológica, mas
fundamental
na
formação
está
relacionada
também,
da
de
ordem
identidade
e
consequentemente, nos comportamentos e expectativas (Gerardo, 2004).
Dadoorian (2003) constatou na sua investigação acerca do desejo das
adolescentes
em
desencadeado
pela
engravidar
que,
curiosidade
o
ato
em
sexual
testar
o
nesta
seu
fase
aparelho
da
vida
é
reprodutor,
certificando dessa forma as adolescentes de que já estão preparadas para a
conceção, embora o sintam com grande surpresa.
A
gravidez
na
adolescência,
em
alguns
estudos,
é
associada
à
deficiente assistência pré-natal, maior incidência de patologias durante e
após a gestação e maior risco psicossocial. Outras investigações descrevem
desfechos biológicos menos favoráveis, apenas nas adolescentes com idades
compreendidas entre os 12 e os 15 anos, sugerindo que a intervenção de
programas de assistência pré-natal abrangentes, poderia contribuir para a
diminuição do risco de muitas complicações (Santos & Schor, 2003).
Devido ao facto de estas se encontrarem ainda envolvidas em tarefas
desenvolvimentais relativas à adolescência, poderão não estar aptas para as
tarefas referentes à maternidade e desenvolver uma interação adequada com o
bebé.
Alguns
interações
estudos
menos
referem
adequadas
com
que
os
as
seus
mães
adolescentes
filhos,
sendo
por
estabelecem
isso,
menos
sensíveis às suas necessidades, respondendo menos e de forma menos adequada
(Figueiredo,
2001).
Existindo
diferenças
significativas
em
relação
às
conceções de parentalidade em comunidades culturais com diferentes modelos
culturais (Keller et al., 2006).
Da mesma forma, Silva e Salomão (2003), vêm dizer que, a idade das
adolescentes não pode ser considerada, somente, como causa de consequências
12
negativas da gravidez, tendo que ter em conta as condições socioeconómicas
ou inadequadas de acompanhamento, como contribuintes para tal. Como referem
Chang e Chisholm (1998), existe uma grande correlação entre gravidez na
adolescência e o bairro onde habitam, sendo na maioria de um alto nível de
pobreza e consequentemente, baixo nível de educação. Indo ao encontro do
que referem Braconnier e Marcelli (2005), que o contexto, o modo de vida e
toda
a
organização
social
são
nestes
casos,
maioritariamente
desorganizados.
Chang e Chisholm (1998), sublinham, ainda, que existe um maior risco
de
gravidez
repetição
do
nas
adolescentes
modelo,
em
que
pertencentes
a
mãe
também
a
famílias
engravidou
monoparentais,
na
a
adolescência.
Circunstâncias que comprometem não apenas o bem-estar da mãe, como também,
os cuidados pré-natais e o exercício da função materna (Figueiredo et al.,
2005).
Relativamente
à
preocupação
maternal
primária,
investigadores
chegaram à conclusão que, a maioria dos bebés de mães com instalação da
preocupação maternal primária, a dentição começou entre os três e os seis
meses, enquanto que a maioria dos bebés onde não se verificou a instalação
desta sensibilidade, tiveram a sua dentição iniciada entre o sétimo e o
décimo
mês
de
vida.
Verificaram,
igualmente,
que
a
instalação
desta
preocupação, associa-se ao período em que o bebé começa a falar, sendo que
nos casos onde existe a instalação da preocupação maternal primária, a fala
inicia-se ate ao 14º mês, e o contrário, apenas é iniciada após os 14
meses. Por último, também verificaram que o período em que o bebé começa a
dormir em quarto próprio está relacionado com a instalação da preocupação
maternal primária (Colucci et al., 2006).
Quanto
a
preocupações
sentidas
durante
o
período
gestacional,
a
maioria das jovens não relata qualquer tipo de preocupação, no entanto,
algumas referem sentir medo do bebé não nascer bem, sentirem medo do parto,
medo de abortar e medo de dar o primeiro banho (Godinho et al., 2000).
Apesar de as adolescentes conhecerem os métodos contracetivos e terem
consciência que podem engravidar, utilizam-nos, na maior parte das vezes de
forma incorreta ou simplesmente não os usam, achando que uma gravidez nunca
ocorreria naquele preciso momento das suas vidas, o denominado, pensamento
mágico (Amazarray et al., 1998).
Pontes et al. (2010), no seu estudo acerca da gravidez precoce na
imaginação dos adolescentes constataram que a gravidez nestas idades é
vista pelos jovens como um ato de punição por terem iniciado a vida sexual,
sendo a figura feminina a mais prejudicada, estando-lhes associadas imagens
de abandono ou morte.
Santini de Almeida (2002) no seu estudo obteve relatos de jovens com
posições completamente contrárias, umas referindo que a maternidade na
adolescência prejudica gravemente o percurso escolar, aparecendo como um
motivo de abandono definitivo deste, tendo repercussões no seu futuro ao
nível profissional, e
delineando novos projetos de vida, como casar e
constituir família e, por outro lado, jovens que consideram a gravidez como
um empecilho à continuidade do percurso escolar. Nesse seguimento, Folle e
13
Geib (2004), chegam à conclusão, no seu estudo, que a maternidade e o bebé
tornam-se
para
as
jovens
um
ganho
afetivo
qualificando
o
processo
de
desenvolvimento pessoal e social da jovem, tornando-se esta mais madura e
ganhando motivação para continuar a estudar.
1.3. Identidade materna
1.3.1. Conceito de identidade materna
Para a transformação do adolescente em adulto, a tarefa principal é a
respetiva construção da identidade pessoal. Esta é formada a partir de
fatores intrapessoais, ou seja, as suas capacidades inatas juntamente com
as características da personalidade; de fatores interpessoais, isto é,
as
identificações realizadas com os outros e, de fatores culturais, os valores
sociais que lhe foram transmitidos. Assim, o sujeito é capaz de se perceber
como sendo ele mesmo ao longo do tempo, tal como os outros o reconhecem
(Schoen-Ferreira et al., 2003).
Para Erikson (1972), a construção da identidade implica uma definição
de quem a pessoa é, os seus valores e direções que pretende tomar. É,
portanto, uma conceção de si mesmo, que abrange as crenças, os valores e
metas do indivíduo. No entanto, como refere Mead (1934, cit. in Vala &
Monteiro, 2006), a identidade constrói-se a partir das interações sociais,
na capacidade de um indivíduo assumir a posição do outro.
A teoria da identidade propõe que os sujeitos tendem a perceber-se a
si mesmos e ao seu ambiente, através do conhecimento dos papéis que eles e
os
outros
assumem
dentro
da
sociedade.
O
centro
da
identidade
é
a
categorização do ‘‘Eu’’, que ocupa uma posição repleta de significados e
expectativas referentes a essa mesma posição e ao seu desempenho. São estas
expectativas e significados que formam um conjunto de normas que irão guiar
o comportamento do sujeito (Cárdenas et al., 2004).
É através da capacidade em ultrapassar os diversos desafios que se
lhes colocam e da remodelação das representações e da identidade que se
adquire o sucesso da reorganização identitária, organizando a identidade
prestes a assumir, de adulta e de mãe (Braconnier & Marcelli, 2000).
A construção de uma identidade materna é uma das transformações mais
significativas da
identidade da
mulher, devido às
mudanças emocionais,
físicas e sociais que acompanham a maternidade (Reid, 2010). Esta mudança
de identidade, leva a que a mulher grávida se sinta na sua intimidade
pessoal confrontando-se com uma vivência interna repleta de interrogações,
influenciadas pelo funcionamento psicológico, mas também orgânico,
acerca
do que será após o nascimento da criança (Cotralha, 2007).
Uma gravidez irá conduzir à formação de uma identidade materna e,
esta associada à formação da identidade própria de uma adolescente, implica
uma
relação
entre
as
tarefas
de
cada
uma
das
identidades.
Segundo
Colucciello (1998, cit. in Cárdenas et al., 2004), estas assemelham-se,
pois
a
tarefa
mais
importante
na
adolescência,
14
provavelmente
será
o
desenvolvimento de uma identidade pessoal e a necessidade de desenvolver um
conjunto de valores e, as adolescentes grávidas, para além de se depararem
com estas mesmas tarefas, integram a sua identidade do novo papel materno
dentro
de
um
sistema
pessoal
não
desenvolvido.
A
identidade
materna,
durante a gestação, é construída através de uma imagem idealizada de si
como
mãe
e
do
bebé
como
filho.
Mais
tarde,
no
período
pós-parto,
é
necessário que haja uma mudança no relacionamento consigo e com o filho,
passando de uma imagem idealizada para uma imagem concreta.
Desta
forma,
a
construção
da
identidade
materna
implica
um
relacionamento baseado na sua vinculação com o filho. Ao mesmo tempo que se
atribui a alguém o papel de filho, assume-se o papel de mãe, encarando os
respetivos papéis (Kimura, 1997).
Existe aqui, a aquisição de um novo estatuto nas mães adolescentes, o
de mãe que irá interferir na identidade pessoal da jovem onde predominam
representações de imaturidade e irresponsabilidade. O facto de se tornarem
mães, não significa que deixem de ser adolescentes mas, de qualquer forma,
adquirem certas responsabilidades que estão associadas à idade adulta. Há
portanto, uma aceleração no processo de passagem para a idade adulta, em
consonância com a dependência da família por falta de recursos pessoais
(Gerardo, 2006).
Segundo Maldonado (1989, cit. in Kimura, 1997), a tarefa principal de
uma mulher que se torna mãe, é a de imitar o melhor possível uma imagem o
mais familiar que conheça, que poderá ser a sua própria mãe, ou a pessoa
que preencheu a função maternal. Quando a tarefa é bem sucedida e há
identificação, as atividades maternas são reproduzidas de modo semelhante
ao
cuidado
recebido
(Kimura,
1997).
É,
portanto,
nas
vivências
com
a
própria mãe, que a filha procura identificar-se com os atributos femininos
e construir o significado de ser mãe (Seron & Milani, 2011).
A vinculação materna, nem sempre se trata de um dado imediato, sendo
considerada um processo de envolvimento afetivo gradual da mãe com o bebé.
Trata-se, portanto, de um processo bidirecional em que o comportamento do
bebé é fundamental na vinculação materna (Klaus et al., 2000; cit. in
Figueiredo, 2003).
Folle
e
Geib
(2004)
acreditam
que,
para
o
estabelecimento
da
identidade materna nas adolescentes, que muitas vezes é deteriorada pelas
condições biopsicossociais intrínsecas à adolescência e devido, também, à
falta de suporte social, tanto da parte dos familiares, como de amigos ou
outros significativos, contribuem significativamente o desenvolvimento das
suas representações sociais.
1.3.2. Resultados de alguns estudos
Estudos revelam que nalguns casos, a ligação afetiva da mãe com o
bebé, vai-se estabelecendo de forma contínua e gradual, não se verificando
de imediato no primeiro contacto entre ambos (MacFarlane, 1979; Stern,
1980).
15
Alguns
trabalhos
referem
que
a
maioria
das
adolescentes grávidas
mostra-se feliz e satisfeita com a gravidez, no entanto, não significa que
se identifiquem com o papel que estão prestes a desempenhar, pois devido à
falta de experiência e conhecimentos, quando os bebés nascem, não conseguem
cuidar deles adequadamente, não tendo consciência das responsabilidades que
a
maternidade
adolescentes
acarreta.
Pressupõe-se,
representa
apenas
a
assim,
comprovação
que
da
a
gravidez
sua
para
fertilidade
e
as
a
liberdade de poderem tomar decisões, pois assumem-se como adultas (Konig et
al, 2008).
Cabral (2003), também vem dizer que o nascimento de um bebé parece
incrementar
nas
jovens
o
processo
de
transição
para
a
vida
adulta,
sentindo-se estas mais responsáveis, consequência da incorporação do novo
papel a desempenhar.
Daddorian
(2003),
defende
que
a
maternidade
muitas
vezes
ocorre
devido à falta de atenção vivida pelas jovens no seio familiar, transpondo
para o filho uma diversidade de expectativas, tais como, o proporcionar-lhe
carinho e proteção.
Num estudo realizado por Levandowski (2005), refere que as jovens
projetam-se como mãe, segundo a forma que se relacionaram com as suas
próprias mães, defendendo que as mães são, em todos os caso, um modelo de
referência. Estas acabam por repetir um padrão de relacionamento com os
seus filhos, muito parecido àquele que experienciaram. Destaca, ainda, que
as jovens que viveram um relacionamento com as suas mães satisfatório,
foram as que denominaram a experiência da maternidade ao longo do tempo, de
forma mais positiva.
Konig et al. (2008), no seu estudo sobre as representações sociais do
significado
de
significado
é
ser
mãe,
muito
em
adolescentes
semelhante
ao
de
concluiu
maternidade
que,
na
para
elas,
sociedade,
o
sendo
descrito pela jovens como um acontecimento maravilhoso e divino com uma
mistura
de
responsabilidade
representações
relativamente
e
aos
sacrifícios.
aspetos
Após
o
positivos
parto,
as
suas
mantiveram-se,
no
entanto, acrescentam que as responsabilidades advindas da maternidade não
são as que esperavam, desconhecendo-as.
Relativamente aos planos de vida das jovens, na sua investigação,
Dadoorian (2003) constatou que os seus planos resumiam-se a um futuro
próximo, tendo como objetivo cuidar do filho e proporcionar-lhe educação.
Algumas jovens referem não ter qualquer plano de vida, logo, o nascimento
do bebé não veio provocar alterações. Nas jovens que referem mudanças,
elegem o abandono escolar como a mais marcante (Godinho et al., 2000).
Levandowski (2005), concluiu no seu estudo que a transição para a
vida adulta, como consequência de uma gravidez não planeada foi, de uma
forma
geral,
desenvolvimento
vivida
da
negativamente.
criança
e
na
No
entanto,
convivência
com
opiniões das jovens mudam para uma forma positiva.
16
no
ela,
as
decorrer
perceções
do
e
II. MÉTODO
Este trabalho de investigação, tem como primeiro objetivo, perceber
de que forma as adolescentes que se deparam com uma gravidez e maternidade
na
adolescência,
desenvolvem
e
constroem
progressivamente
a
identidade
materna. Num primeiro momento, pretende-se entrevistar as jovens durante o
terceiro trimestre de gravidez, de modo a ser possível realizar o estudo
nas datas estipuladas, sendo as mesmas novamente entrevistadas, num segundo
momento, após o parto, decorridos entre dois a quatro meses.
O presente estudo é qualitativo, de carácter exploratório na medida
em que se pretende obter dados descritivos através do contacto direto do
investigador
com
a
situação
em
estudo.
Dessa
forma
optou-se
pela
metodologia grounded theory, ou seja, teoria fundamentada nos dados. A
codificação dos dados usada é de tipo aberta, isto é, os dados extraídos
das entrevistas são decompostos, analisados, comparados, conceptualizados e
categorizados,
por
forma
a
se
fazer
uma
leitura
mais
percetível
dos
resultados (Strauss & Corbin, 1998).
Neste tipo de pesquisas, procura-se entender os fenómenos, segundo a
perspetiva dos participantes que fazem parte do estudo, a partir da qual,
posteriormente, se fazem interpretações (Neves, 1996).
Participantes
A
processo
amostra
de
deste
recolha
estudo
dos
dados
é
uma
amostra
recorreu-se
de
conveniência,
diretamente
às
pois
no
instituições
ligadas ao abrigo de adolescentes grávidas.
Os dados foram recolhidos, essencialmente, na sede da Associação ‘‘O
Vigilante’’ (1 adolescente) e na sede e em gabinetes da Associação ‘‘Ajuda
de Mãe’’ (4 adolescentes).
Com o objetivo de se perceber como é que ao longo da experiência da
gravidez e consequentemente, da maternidade as adolescentes constroem a
identidade materna, foi constituído um grupo de 5 adolescentes. A mesma
amostra, foi assim, entrevistada em dois momentos distintos. Num primeiro
17
momento, na condição de grávidas que se encontravam no terceiro trimestre
de gravidez, com idades compreendidas entre os 15 e os 16 anos. Num segundo
momento,
as
mesmas
adolescentes,
sendo
neste
caso
em
situação
de
maternidade, decorridos cerca de 2 a 4 meses, após o parto.
Como critério de inclusão tomou-se apenas em consideração o facto de
as jovens encontrarem-se na faixa etária dos 14 anos aos 16 anos e, que na
primeira entrevista se encontrassem já no terceiro trimestre de gravidez,
perguntando-se diretamente nas associações contactadas.
Instrumentos
Tendo como objeto o estudo da progressiva construção da identidade
materna
em
permitissem
adolescentes,
procedeu-se
alcançar
objeto.
tal
à
escolha
Dessa
forma,
dos
instrumentos
foram
utilizados
que
dois
instrumentos na recolha dos dados, um questionário sociodemográfico e uma
entrevista semiestruturada, sendo esta última analisada através de um único
método
de
análise.
O
questionário
e
a
entrevista
foram
aplicados
diretamente aos sujeitos da amostra.
Caracterização dos Instrumentos
Questionário sociodemográfico
Este questionário foi elaborado de acordo com as variáveis essenciais
à
caracterização
da
amostra
(ANEXO
I).
Assim
foi
recolhida
informação
referente à idade, semanas ou meses de gravidez, profissão, número de
filhos e a idade dos mesmos, bem como, a idade que tinham aquando do
nascimento do primeiro filho, caso se tratasse de multíparas, com quem
vivem e as habilitações literárias.
Para
questionadas
caracterizar
acerca
da
o
grupo
de
primiparidade,
mulheres
semanas
grávidas,
de
estas
gestação
em
foram
que
se
encontravam, pois como critério de seleção, havia necessidade de estarem
efetivamente no último trimestre de gravidez e, na segunda entrevista,
considerou-se interessante saber o género do bebé e a sua idade, tendo-se
esperado, no entanto, preferencialmente três meses após o seu nascimento
devido à preocupação maternal primária, que poderia influenciar de alguma
forma as respostas às questões colocadas.
Entrevista
Foram
existem
construídas
questões
duas
pré-definidas
entrevistas
mas
cuja
18
semiestruturadas,
ordem
pode
ser
nas
alterada
quais
pelo
entrevistador no decurso das mesmas (ANEXO II), de acordo com aquilo que
considerar mais adequado, de modo a possibilitar às entrevistadas discorrer
sobre o tema proposto, sem respostas ou condições prefixadas.
A entrevista é considerada um instrumento de grande peso à descrição
verbal da pessoa para obtenção de informação, pois é no concreto, a partir
dos
significados
atribuídos
pelos
sujeitos,
expressa
nas vivências
dos
mesmos que se constrói a realidade (Aires, 2011).
Em seguida, apresentam-se as questões relativas à primeira entrevista
estruturada,
aplicada
durante
o
terceiro
trimestre
de
gravidez
das
participantes, bem como, a explicação para cada uma das questões ter sido
colocada, a sua pertinência:
O que é para ti ser mãe?
Esta questão, fundamental para o estudo, que descreve exatamente o
tema proposto, torna-se pertinente pois é bastante direta sem que haja
possibilidade para se divagar.
Pretende analisar o significado atribuído pelas adolescentes grávidas
ao papel que estão prestes a desempenhar, ao ser mãe, ocorrendo numa fase
das suas vidas em que se encontram num processo de
construção da sua
identidade
reestruturação
pessoal,
que
pressupõe
uma
intensa
e
reajustamento pessoal e social.
Como defende Lourenço (1998), a gravidez na adolescência trata-se de
uma exposição à perda prematura da condição de adolescente e um rápido
ajuste à condição de mãe, tendo que deixar para trás as tarefas próprias da
idade em que se encontram para passar a lidar com tarefas adultas para as
quais ainda não estão psicologicamente e socialmente preparadas.
Nesse sentido, não estando psicologicamente e socialmente preparadas
para
desempenhar
as
tarefas
adultas
que
terão
que
desempenhar,
parece
importante perceber de que forma, as adolescentes, se ajustam a essa nova
condição e como a descrevem.
Quando é que surgiu esse sentimento?
É
esperado
que,
na
fase
da
adolescência,
uma
gravidez
não
seja
planeada, consequente de um desejo de ser mãe, no entanto, desde pequenas,
as meninas brincam com bonecas representando, a maioria das vezes, o papel
de mãe, ou nos casos em que têm irmãos mais novos, acabam por ajudar a
própria mãe nos cuidados com o bebé, sendo logo nestes momentos que as
19
meninas começam a interiorizar um desejo de representar elas próprias o
papel de mãe na vida real.
No entanto, como defende a literatura, muitas vezes o desejo surge
por questões afetivas ou económicas, não raros são os casos em que jovens
desejam ser mães de modo a colmatar algumas falhas afetivas das suas vidas
(Foresti, 2001).
A identidade materna, durante a gestação é construída através de uma
imagem idealizada de si como mãe e do bebé como filho. Já no período pósparto, é necessário que haja uma mudança no relacionamento consigo e com o
filho, passando de uma imagem idealizada para uma imagem concreta. Desta
forma, a construção da identidade materna implica um relacionamento baseado
na sua vinculação com o filho. Ao mesmo tempo que se atribui a alguém o
papel de filho, assume-se o papel de mãe, encarando os respetivos papéis
(Kimura, 1997).
Assim,
pretende-se
perceber
se
as
jovens
em
algum
momento
concretizaram a respetiva atribuição de papéis, incorporando o seu como
mãe.
Como é que foi a descoberta de que estavas grávida?
Esta questão pretende analisar a existência da negação perante a
situação. Segundo a literatura, muitas jovens negam a possibilidade de se
encontrarem grávidas nesta fase da vida onde não existem obstáculos, onde o
que predomina é o pensamento mágico de que esse tipo de coisas não lhes
pode suceder, submetendo-se a riscos que poderiam ser evitados.
Assim, a pergunta colocada não determina a resposta, daí podem advir
diversas situações, como quem é que descobriu que estava grávida, se a
própria, se outros, a aceitação ou negação da situação, estando intimamente
ligada à questão seguinte.
Qual foi a tua reação quando soubeste que estavas grávida?
Quando a gravidez é confirmada suscita nas jovens uma diversidade de
sentimentos e emoções que irão repercutir de alguma forma em todo o período
gestacional. Camacho et al (2010) referem que este acontecimento, quando
inesperado/não planeado, implica sempre uma surpresa iminente, podendo ser
positiva
ou
negativa,
desde
um
perfeito
bem-estar,
a
uma
sensação
de
tristeza profunda e desamparo.
O objetivo de colocar esta questão às adolescentes prende-se com a
necessidade de saber como reagiram à descoberta, o que pensaram, como se
sentiram
e
que
decisão
tomaram.
Pois
20
tal
desencadeia
um
processo
de
reorganização da perceção de si e da sua relação com o mundo, passando a
integrar a ideia de estar grávida.
Dadoorian
(2003)
refere
que
apesar
de
todos
os
problemas
que
a
situação acarreta, como o abandono escolar, a dependência económica dos
pais/terceiros é bastante comum a adolescente mostrar-se entusiasmada e
contente com a perspetiva de ser mãe.
Já alguma vez tinhas pensado ser mãe?
Esta questão está relacionada com a segunda ‘‘Quando é que surgiu
esse sentimento?’’, no entanto, pretende-se aqui perceber se a gravidez
havido sido planeada mesmo que inconscientemente, ou se simplesmente já
haviam pensado nessa possibilidade para já ou se tencionavam alguma vez ser
mães.
Como refere Mota (2011), por vezes, o desejo de ter um filho e o de
ser mãe, não coincidem, não havendo um projeto definido. Logo, existem
muitos casos, em que as adolescentes apesar de quererem ser mães e ter um
filho, podendo ser por forma a se sentirem mais completas, não sabem que
significado isso acarreta, demonstrado eficazmente
pela
ausência
de
um
projeto delineado para tal.
Como é que te imaginas como mãe?
O facto de as jovens ainda se encontrarem envolvidas em tarefas
desenvolvimentais relativas à adolescência, poderão não estar aptas para as
tarefas referentes à maternidade (Figueiredo, 2001).
Cabral
incrementar
(2003)
nas
vem
jovens
dizer
o
que
processo
o
de
nascimento
transição
de
um
para
a
bebé
vida
parece
adulta,
sentindo-se estas mais responsáveis, consequência da incorporação do novo
papel a desempenhar. No entanto, durante a gravidez poderão ainda não estar
completamente conscientes da situação em que se encontram, esperando aqui
que haja uma multiplicidade de perspetivas e posições relativas ao papel de
mãe e mais propriamente ao seu papel como mães.
É ainda esperado que, encontrando-se numa fase em que o bebé ainda
não é real, se projetem segundo o modelo que melhor conhecem, o modelo das
suas próprias mães. Levandowski (2005) diz que as jovens projetam-se como
mães, segundo a forma que se relacionaram com as suas próprias mães, vistas
como um modelo de referência.
21
Que tipo de dificuldades é que achas que vais ter?
Torna-se
fundamental
perceber
as
dificuldades
que
as
jovens
percecionam que irão deparar-se aquando do nascimento da criança, primeiro
porque a nova condição pressupõe uma rutura com a adolescência propriamente
dita,
em
que
terão ou
existirão
mudanças
nos seus
hábitos
e
práticas
diárias e segundo, porque têm de incorporar uma nova identidade, a de mãe,
adotando novas práticas e deveres (Gerardo, 2006).
Outro aspeto que é esperado que seja mencionado pelas jovens, referese à interrupção ou ao adiamento do percurso escolar e consequentemente da
vida profissional que sonhavam, estando num momento crucial das suas vidas,
onde a escolaridade é considerada imprescindível no garante de um futuro
(Santini de Almeida, 2002).
A maternidade na adolescência interfere no desenvolvimento normal,
repercutindo-se na vida pessoal em que a adolescente depara-se com algumas
mudanças
corporais
advindas
da
gestação,
afetando
a
sua
autoimagem
e
autoestima, ao nível da educação, refletindo-se no abandono escolar ou na
menor
progressão
educativa,
ao
nível
social
e
psicológico,
isolando-se
socialmente, ao nível socioeconómico e ocupacional e ao nível familiar,
gerando
alguma
dinâmica
relativa
à
alimentação,
ao
padrão
de
sono
e
descanso, ao lazer, etc. (Figueiredo, 2000; Folle & Geib, 2004).
Mudou alguma coisa na tua vida?
Aqui poderão surgir novamente uma imensidão de respostas, pois está
relacionada com questões de carácter pessoal, de maneiras de perspetivar a
mudança, sublinhando de maneiras diferentes as perdas, os ganhos ou ambos,
segundo os seus valores.
A perda prematura da condição de adolescente, processo de autonomia,
importante desta fase, mudanças corporais e sexuais subjacentes à gravidez,
competências pessoais e sociais, diminuição de projetos de vida (Leal &
Ribeiro,
2010,
Rodrigues,
2010),
isolamento
social,
oportunidades
de
convívio limitadas, são todos aspetos possíveis de serem mencionados .
Como
para
a
primeira
entrevista,
em
seguida,
apresentam-se
as
questões relativas à segunda entrevista estruturada para o estudo, sendo
que
algumas
das
questões
são
as
mesmas
que
na
primeira
aplicada,
no
entanto, achou-se pertinente para o estudo que assim fosse, de modo a mais
facilmente se perceber as diferenças e as mudanças ocorridas nesse espaço
22
de tempo, aplicada cerca de 2 a 4 meses após o parto das participantes ter
ocorrido, bem como, a
explicação para cada uma das questões ter sido
colocada, a sua pertinência:
O que é para ti ser mãe?
Após
o
nascimento
e
ao
tomarem
contato
direto e
contínuo
com a
criança, é esperado que a perceção que tinham quando o bebé ainda era
imaginado, se modifique. Neste momento, o bebé já se tornou real e o
significado anteriormente referido terá sofrido, provavelmente, alterações
com a vivência do papel de mãe.
A
criança
passou
de
imaginada
para
uma
realidade
concreta,
com
necessidades, o que implica uma intensa e diária atenção com cuidados
subentendidos. Logo, o significado do que é ser mãe, ter-se-á alterado logo
após o nascimento e ainda, reestruturado ao longo do tempo decorrido.
Assim,
jovens
pretende-se
acerca do
que
detetar
as
mudanças ocorridas
significa ser
mãe
da
primeira
na
perceção
entrevista
das
para a
segunda entrevista, onde claramente as diferenças serão notórias.
Quando é que surgiu esse sentimento?
A vinculação materna, nem sempre se trata de um dado imediato, sendo
após o nascimento do bebé e a partir do contacto e da interação entre ambos
que esta se intensifica (Klaus et al, in Figueiredo, 2003).
Como defendem Braconnier e Marcelli (2000), é através da capacidade
em ultrapassar os diversos desafios que se lhes colocam e da remodelação
das
representações
e
da
identidade
que
se
adquire
o
sucesso
da
reorganização identitária, organizando a identidade prestes a assumir, de
adulta e de mãe.
A construção de uma identidade materna é uma das transformações mais
significativas da
identidade da
mulher, devido às
mudanças emocionais,
físicas e sociais que acompanham a maternidade (Reid, 2010).
Espera-se por isso, que na segunda entrevista, em que o bebe já
nasceu e já decorreram algumas semanas de contacto direto e real entre a
mãe e o bebé, que este sentimento materno, i.e., a identidade materna, se
tenha intensificado e estabelecido.
Como é que te descreves como mãe?
23
Esta questão vem no seguimento da colocada na primeira entrevista
‘‘Como é que te imaginas como mãe?’’.
Enquanto que na primeira entrevista a questão é colocada numa fase em
que
possivelmente
as
adolescentes
ainda
não
se
consciencializaram
das
futuras responsabilidades e das mudanças que irão acorrer nas suas vidas,
neste momento,
que
novas
em que já se depararam com a nova realidade concretamente e
responsabilidades
tenciona-se
perceber
se
já
surgiram,
como
referia
bem
como
Cabral
mudanças
(2003),
o
ocorreram,
nascimento
incrementou nas jovens mães o processo de transição para a vida adulta,
sentindo-se mais responsáveis, consequência da incorporação do papel de
mãe.
E como defendia Levandowski (2005), perceber se as jovens se projetam
como mães, segundo o modelo de referência, ou seja, segundo a forma que se
relacionaram com as suas próprias mães.
Que tipo de dificuldades é que tens sentido?
Na
primeira
entrevista
a
questão
foi
colocada
de
uma
forma
imaginária, sendo as respostas provavelmente igualmente imaginárias. Após o
nascimento e ao longo do desenvolvimento do novo papel a desempenhar, em
que a situação se tornou concreta e vivenciada, as dificuldades tenham
surgido.
Espera-se encontrar dificuldades de diversa índole, no entanto, as
dificuldades funcionais, normais para o caso de serem primíparas, poderão
ser as mais destacadas, bem como, dificuldades em prosseguir ou conciliar
os estudos com o ser mãe, dificuldades nas relações de pares, dificuldades
económicas se pertencerem a classes sociais desfavorecidas, entre outras.
Portanto,
tenta-se
aqui
destacar
as
dificuldades
apontadas
pelas
jovens ao se depararem com a nova situação, assim como, a forma como as
ultrapassam.
Que tipo de apoio é que tens?
Pretende-se nesta questão observar se as jovens têm o apoio dos pais,
do
pai
da
criança,
avós
ou
outros
familiares,
amigos
ou
mesmo
da
instituição onde se encontram. Achou-se pertinente acrescentar esta questão
à segunda entrevista após se ter verificado na conclusão da primeira, que
as jovens pouco ou nada falavam dos seus familiares.
Obviamente existirão diferenças nas adolescentes provenientes de um
lar onde há a aceitação e o consequente acompanhamento de uma gravidez, dos
casos em que nem sequer têm os pais presentes nas suas vidas e habitam em
instituições.
24
O fulcral aqui prende-se com o enriquecer o conteúdo das respostas às
entrevistas no seu todo, sem se poder generalizar sem analisar caso a caso.
Desde que nos vimos, mudou alguma coisa na tua vida?
Como
a
mencionado
última
em
questão
outras
da
questões,
primeira
após
se
entrevista,
ter
mas
vivenciado
aqui
como
concretamente
já
a
situação. Que mudanças ocorreram desde o momento em que nos vimos, em que
se encontravam ainda na situação de grávidas, até agora, alguns meses após
o
bebé
ter
nascido
e
terem
presenciado
e
vivido
concretamente
a
maternidade, deixando para trás a condição de adolescente.
Como já referido anteriormente, as questões colocadas não têm uma
ordem rígida podendo ser alteradas consoante se ache mais pertinente no
decorrer
da
entrevista,
bem
como,
podem
ser
acrescentadas
questões
a
qualquer momento caso se ache fundamental para o desenvolvimento e análise
do estudo.
As entrevistas deste estudo, foram efetuadas por um entrevistador (a
autora), individualmente, a cada uma das participantes.
No
análise
tratamento
de
do
conteúdo,
material
por
se
colhido
entender
nas entrevistas,
que
esta
técnica,
realizou-se
ainda
que
a
de
maneiras diversas e até contraditórias, permite ultrapassar o nível do
senso comum e do subjetivismo na interpretação e alcançar detalhadamente o
que se pretende frente a comunicação de documentos, textos literários,
entrevistas ou observação (Minayo, 1996).
Procedimento
São agora apresentados os procedimentos relativos à forma como foi
traçado e executada a recolha de dados e a consequente análise de conteúdo
para o presente estudo. O método da análise de conteúdo considera-se uma
ferramenta essencial na compreensão da construção de significados que os
participantes exteriorizam no discurso (Silva et al., 2005).
Após
delineamento
questionário
do
sociodemográfico
objetivo
de
de
questões
estudo,
simples
foi
e,
realizado
duas
um
entrevistas
semiestruturadas.
Posteriormente, solicitou-se autorização à Associação ‘‘O Vigilante’’
e à Associação ‘‘Ajuda de Mãe’’, para que fosse possível entrevistar jovens
grávidas,
com
idades
compreendidas
entre
os
14
e
os
16 anos,
que se
encontrassem no terceiro trimestre de gravidez, sendo que, mais tarde, após
o nascimento dos bebés, haveria necessidade de voltar a contactar com as
mesmas jovens para uma nova entrevista.
25
Foi, então, entregue às associações uma folha com a Declaração de
Consentimento Informado (ANEXO III), na qual se explicava o objetivo do
estudo (em linguagem acessível), se solicitava a sua colaboração e onde
foram
garantidos
o
anonimato
e
a
confidencialidade.
A
informação
foi
igualmente prestada oralmente.
Após aprovação e assinada a Declaração de Consentimento Informado por
ambas as associações contactadas para o devido efeito, foram estas que se
encarregaram de falar com as jovens que se enquadravam nos requisitos
pedidos para o estudo, explicando-lhes o pretendido.
O momento e local da realização das entrevistas foram ajustados de
acordo com a disponibilidade e conveniência das participantes, tendo sido
estas estabelecidas de forma indireta, isto é, as assistentes sociais das
diversas entidades serviram de intermediárias no contacto e processo de
marcação das entrevistas com o entrevistador.
Pretendeu-se obedecer a alguns critérios na realização das mesmas:
espaço temporal pré-definido para a realização das entrevistas e local
calmo onde fosse possível conduzir a entrevista com privacidade e sem
interrupções por agentes externos à mesma.
O conteúdo das entrevistas foi sujeito a gravação áudio, tendo sido
pedida
autorização
da
gravação
destas
aquando
do
contacto
com
as
associações, no entanto, foi garantida a confidencialidade e o anonimato
dos dados recolhidos.
Os dados foram recolhidos em dois momentos. O primeiro contacto,
realizado nos meses de Janeiro e Fevereiro de 2012, procedeu-se no Centro
Cultural do Bairro 6 de Maio, na Damaia (gabinete da Ajuda de Mãe) onde
foram entrevistadas 2 jovens; na sede de O Vigilante, na Amadora onde se
contactou apenas com uma jovem e, numa das residências de acolhimento a
jovens mães da Ajuda de Mãe com a presença de mais 2 jovens. Tal como
definido, estas decorreram durante o terceiro trimestre de gravidez das
participantes.
Iniciou-se
pelo
preenchimento
do
questionário
sociodemográfico de carácter neutro de modo a deixar as jovens mais à
vontade e, em seguida, pela entrevista, fase das questões específicas do
estudo, tendo como finalidade perceber as expectativas e o significado que
as adolescentes atribuem acerca de ‘‘ser mãe’’, as dificuldades que esperam
vir a ter, como descobriram que estavam grávidas e o que sentiram ou como
reagiram à notícia, se já haviam pensado alguma vez ser mães e como se
imaginam nesse papel e, as mudanças ocorridas nas sua vidas desde o momento
em que se depararam com o acontecimento.
No segundo momento, contactou-se novamente com as mesmas jovens,
sendo utilizada, neste caso, apenas a entrevista já utilizada, mas com
algumas alterações, estando ajustada à nova situação. Como já mencionado,
algumas questões foram acrescentadas no decorrer da aplicação, conforme
considerado
pertinente
a
cada
situação.
A
recolha
dos
dados
decorreu
durante os meses de Abril a Junho de 2012, cerca de 2 a 4 meses após o
nascimento dos bebés. O local da realização das entrevistas foram a sede de
O Vigilante com a única jovem entrevistada pertencente à associação; na
residência já mencionada da Ajuda de Mãe, onde já se havia entrevistado uma
26
das jovens, e na sede da Ajuda de Mãe em Lisboa contando com as restantes
entrevistadas. Pretendia-se neste momento, perceber as mudanças ocorridas
nas
suas
vidas
desde
o
primeiro
contacto,
analisando
como
é
que
progressivamente, as adolescentes, se organizam como mães, observando as
diferenças, as dificuldades sentidas com a experiência da maternidade e se
as expectativas se confirmaram.
No
final
entrevistadas
de
ambas as
entrevistas
acrescentarem
algum
foi
aspeto
deixado
que
um
espaço
considerassem
para
as
importante,
relativo à sua experiência e que não tivesse sido focado no decurso da
entrevista.
As entrevistas tiveram uma duração variável entre 7 minutos e 48
minutos. A duração, em alguns casos, foi bastante reduzida devido ao facto
de algumas jovens não se sentirem muito à vontade para falarem sobre o
assunto. No entanto, na segunda entrevista houve uma melhoria relativamente
à
extensão
das
mesmas,
pois
como
algumas
referiram,
‘‘Agora
já
te
conheço.’’.
No
momento
participantes,
da
recolha
dos
explicando-lhes
o
dados
quão
agradeceu-se
importante
a
colaboração
havia
sido
a
das
sua
participação no estudo.
Terminada a fase de recolha de dados junto da amostra, procedeu-se à
sistematização da informação. Com vista à identificação e organização dos
questionários e entrevistas realizados e de modo a tornar-se mais fácil o
tratamento
dos
dados,
foi
atribuída
uma
numeração
aos
processos
que
integraram a amostra. Dessa forma, atribuiu-se aos questionários a letra S
de sujeito, juntamente com o número correspondente (1, 2, 3, 4 e 5),
segundo a ordem do contacto entre entrevistador e entrevistado. Quanto às
entrevistas, por terem sido efetuadas duas a cada participante, atribuiu-se
a
letra A
número,
para as primeiras entrevistas,
correspondente
ao
questionário
seguindo-se a mesma sigla
do
mesmo
e,
para
as
e
segundas
entrevistas, na mesma linha, no entanto, usando-se a letra B, de modo a
diferenciar
a
primeira
entrevista
da
segunda
realizada.
A
título
de
exemplo, para a primeira participante, no questionário encontra-se S1, na
sua primeira entrevista inseriu-se A S1 e, na segunda entrevista encontrase B S1.
As entrevistas efetuadas foram sujeitas a uma transformação integral
de todo o conteúdo verbal, obtendo-se assim o corpus, o qual foi por sua
vez submetido à análise de conteúdo. A análise de conteúdo permite não só
descrever como também fazer inferência, na medida em que proporciona a
passagem da descrição à interpretação do material recolhido (Bardin, 1994).
Para se proceder à análise de conteúdo foi necessário dispor dos
dados já dissociados da fonte e das condições em que foram produzidos. Em
seguida, os dados foram colocados num novo contexto construído com base nos
objetos da pesquisa, procurando construir um modelo capaz de permitir fazer
inferências sobre uma ou várias dessas condições de produção. As questões
às
quais
o
investigador
terá
que
responder
ao
proceder
à
análise
de
conteúdo, são segundo Vala (1999), a frequência em que ocorrem determinados
objetos; quais as características ou atributos associados aos diferentes
27
objetos e qual a associação ou dissociação entre os objetos. Sendo que,
para obter as respostas a estas questões é em primeiro lugar, necessário
delimitar os objetivos e definir um quadro de referência teórico. A fase
seguinte é a da constituição de um corpus de análise, ao que se segue a
definição de categorias e de unidades de análise (Bardin, 1994).
Neste estudo estão definidos os objetivos, delimitado o quadro de
referência teórico, o corpus de análise é constituído pelas entrevistas e,
as categorias e unidades de análise foram obtidas a partir da aglomeração
efetuada com as questões do guião da entrevista e também do resultado da
análise das próprias entrevistas.
Para
facilitar
necessidade
de
a
análise
desenvolver
um
do
conteúdo
processo
que
das
entrevistas,
permitisse
houve
primeiramente
a
redução dos dados e em seguida a organização e apresentação dos mesmos de
forma estruturada, conduzindo por sua vez ao desenho final e às conclusões,
sendo estes, segundo Huberman e Miles (1988), os passos a adotar quando se
pretende fazer uma análise qualitativa de qualquer documento.
Deste
modo,
após
a
transcrição
das
entrevistas
foi
efetuada
uma
primeira leitura integral das mesmas. Posteriormente uma nova leitura foi
feita, desta vez direcionada para cada uma das categorias com vista à
identificação no corpus das unidades de análise, como sugere Vala (1999).
As categorias foram definidas a partir do referencial teórico que suporta o
estudo e correspondem às questões do guião da entrevista, agrupadas segundo
as áreas em análise.
Para a primeira entrevista, as categorias selecionadas, a partir das
questões efetuadas são: ser mãe para a questão ‘‘O que é para ti ser mãe?’’,
desejo de ser mãe para as questões ‘‘Quando é que surgiu esse sentimento?’’
e ‘‘Já alguma vez tinhas pensado ser mãe?’’, história da descoberta da
gravidez para as questões ‘‘Como é que foi a descoberta de que estavas
grávida?’’ e ‘‘Qual foi a tua reação quando soubeste que estavas grávida?’’,
mãe
que
serei,
para
a
questão
‘‘Como é
que
te
imaginas
como
mãe?’’,
dificuldades ‘‘Que tipo de dificuldades é que achas que vais ter?’’ e
perceção de mudança para a questão ‘‘Mudou alguma coisa na tua vida?’’.
Nas segundas entrevistas realizadas, as categorias definidas foram:
ser mãe para a questão ‘‘O que é para ti ser mãe?’’, desejo de ser mãe para
a questão ‘‘Quando é que surgiu esse sentimento?’’, mãe que sou para ‘‘Como
é que te descreves como mãe?’’, dificuldades para a questão ‘‘Que tipo de
dificuldades é que tens sentido?’’, apoio que tenho para ‘‘Que tipo de apoio
é que tens?’’ e perceção de mudança para ‘‘Desde que nos vimos, mudou alguma
coisa na tua vida?’’.
Estas
questões
categorias
das
foram
entrevistas,
traçadas
tendo
tendo
havido
em
conta
necessidade
de
o
conteúdo
juntar
das
algumas
questões dentro da mesma categoria por assim se considerar pertinente.
Foram definidas subcategorias que emergiram dos conteúdos analisados
mediante
a
seleção
documentadas
com
entrevistas.
Em
um
dos
ou
seguida,
segmentos
dois
de
exemplos
apresentam-se
28
texto
significativos,
representativos,
as
subcategorias
que
extraídos
foram
das
selecionadas
a
partir das categorias delineadas, para a primeira entrevista aplicada, bem
como alguns exemplos, a partir dos quais se formaram as subcategorias:
o
Ser mãe - 2 participantes não sabem (A) (‘‘Não sei explicar.’’ e
‘‘Não sei o que posso esperar, não sei como vai ser…’’), 2
participantes
(‘‘…não
a
querem
reparar
abandonar…’’
e
insuficiências
‘‘…ter
do
condições…’’)
passado
(B)
apenas
uma
e
participante quer identificar-se com a própria mãe (C) (‘‘É ser
o que a minha mãe foi.’’);
o
Desejo de ser mãe - 3 participantes referem que foi perante os
factos
(A)
(‘‘Quando
soube
que
estava grávida.’’ e ‘‘Foi
a
partir do 5º mês ou 6º mês…’’), 1 participante diz que sempre
(B)
desejou
ser
mãe
(‘‘Sempre
quis
ter
a
minha’’)
e
1
participante refere ter sido planeado (C) com o intuito de
constituir família (‘‘Foi planeado por mim.’’);
o
História da descoberta da gravidez - em 3 das participantes
regista-se a rejeição da ideia (A) (‘‘…não o queria…’’ e ‘‘O
primeiro pensamento que eu tive foi que não o podia ter, porque
não dava para ter.’’), em 1 das participantes há uma aceitação
(B) da situação (‘‘…planeado.’’) e em 1 das participantes existe
ambivalência (C) (‘‘…comecei a consciencializar que tinha que
ser mãe…’’);
o
Mãe
que
serei
-
1
participante
não
sabe
(A)
como
será
desempenhar o papel de mãe (‘‘Sei lá, vai ser difícil…’’), 3
participantes idealizam que serão a mãe perfeita (B) (‘‘Acho
que vou ser uma mãe galinha.’’ e ‘‘Dar tudo o que o meu filho
precisa.’’)
e
1
participante
tenciona
igualar/ultrapassar
a
própria mãe (C) (‘‘Dar o que a minha mãe me deu e o que achei
que faltou…’’);
o
Dificuldades - 3 participantes referem dificuldades funcionais
(A)
(‘‘Vai
ser
difícil
nos
estudos…’’
e
‘‘Os
primeiros
banhos…’’), 1 participante fala em dificuldades na comunicação
(B) (‘‘…saber qual é que é o tipo de choro…’’) e 1 participante
acha que não terá qualquer tipo de dificuldade, obtendo-se a
negação
(C)
como
subcategoria
nenhuma.’’) e,
29
(‘‘Eu
acho
que
nenhuma,
o
Perceção de Mudança - 2 participantes mencionaram perdas (A)
(‘‘…já não estou a estudar.’’, ‘‘Já não tenho a mesma rotina
diária…’’), 2 participantes, pelo contrário, mencionaram como
mudança vantagens (B) (‘‘…acho que as minhas amigas ficaram
mais atenciosas…’’ e ‘‘…agora estou a aprender muita coisa,
estou a estudar…’’) e 1 participante referiu apenas muita coisa
(C) (‘‘Mudou muita coisa.’’).
Para
a
segunda
anteriormente
entrevista
referidos,
procedeu-se
apresentando-se,
em
aos
mesmos
seguida,
as
critérios
subcategorias
selecionadas a partir da segunda entrevista aplicada às adolescentes, bem
como alguns exemplos:
o
Ser
mãe
-
descrever
3
o
participantes
significado
utilizam
(‘‘…é
fixe
a
a
idealização
sensação.’’,
(A)
‘‘É
ao
uma
sensação tão grande…’’), 1 participante retira da situação um
proveito, como filho que completa (B) (‘‘…já não me imagino sem
o
meu
filho…’’)
e
1
participante
não
sabe
explicar
(C)
o
significado de ser mãe (‘‘…não sei explicar, é uma emoção.’’);
o
Desejo
de
questão
ser
de
sentimento
mãe
-
forma
surgiu
todas
as
participantes
semelhante,
perante
os
tendo-se
factos
responderam
observado
(A),
ou
seja,
à
que
o
após
o
nascimento da criança (‘‘No primeiro dia em que ele nasceu,
logo.’’, ‘‘Foi logo quando ela nasceu.’’);
o
Mãe que sou - 2 participantes descrevem-se como boa mãe (A)
(‘‘Sou uma mãe boa.’’), 2 participantes descrevem o seu papel
como mãe responsável (B) (‘‘Aprendi a ser adulta…’’ e ‘‘Ser
séria…’’) e 1 participante não sabe (C) descrever o seu papel
como mãe (‘‘É difícil…’’);
o
Dificuldades - 2 participantes referem dificuldades funcionais
(A) (‘‘Na amamentação só.’’ e ‘‘… durante a noite tenho que me
levantar
da
cama
e
ir
fazer
o
leite…’’),
2
participantes
mencionam não ter qualquer tipo de dificuldade, onde se retira
a negação (B) (‘‘Nenhuma, nenhuma.’’) e 1 participante refere as
dificuldades nos estudos (C) (‘‘…conciliar a escola com o ser
mãe…’’);
o
Apoio que tenho - 1 participante refere a mãe como auxiliar (A)
(‘‘… o apoio da minha mãe em casa.’’), 1 participante menciona
30
como apoio a segurança social (B) (‘‘Agora estou a depender da
segurança
social…’’)
e
3
participantes
referem
o
apoio
da
instituição/residência (C) onde se encontram a viver (‘‘Aqui,
na residência, não me falta nada.’’ e ‘‘…na Residência tenho
tudo para mim e para a minha filha…’’) e,
o
Mudança
-
2
participantes
revelam
como
mudança
perdas
(A)(‘‘Tive que voltar para trás da minha escolaridade.’’ e ‘‘Os
meus
planos
era
estudar…’’),
e
participantes
referem
como
mudança a responsabilidade (B) (‘‘Sempre fui muito paparicada
pela
minha
mãe,
não
fazia
muita
coisa
em
casa.’’)
e
1
participante revelou que a mudança ocorrida na sua vida é ter
alguém para cuidar, ou seja, filho que completa (C) (‘‘Agora
sinto que tenho alguém para cuidar…’’).
Foi igualmente contabilizada a frequência de sujeitos que referiram
cada subcategoria na primeira entrevista efetuada. Estes dados apresentamse sob a forma de quadro por categoria, para mais fácil compreensão do
conjunto de cada categoria e respetivas subcategorias.
Ser Mãe
Desejo
História
Mãe que
Ser Mãe
Descoberta
Serei
Dificuldades
Mudança
Gravidez
S1
A
B
A
B
A
B
S2
B
A
A
B
A
A
S3
C
A
A
C
A
A
S4
B
C
B
B
C
B
S5
A
A
C
A
B
C
Tabela nº 1: Frequência de sujeitos que referiram cada subcategoria na 1ª
entrevista
.
A título de exemplo, o sujeito (S1), para a categoria ‘‘ser mãe’’
refere que não sabe qual o significado, na segunda categoria ‘‘desejo de
ser mãe’’ encontra-se a subcategoria sempre, na ‘‘história da descoberta da
gravidez a participante rejeita a ideia de estar grávida e de vir a ter um
filho, para a categoria ‘‘mãe que serei’’, encontra-se a subcategoria mãe
perfeita,
funcionais
nas
e,
‘‘dificuldades’’,
por
último,
na
a
participante
‘‘perceção
vantagens.
31
de
refere
mudança’’,
dificuldades
encontram-se
Encontra-se o mesmo para a segunda entrevista realizada, tendo sido
contabilizada a frequência de sujeitos que referiram cada subcategoria.
Estes dados apresentam-se sob a forma de quadro por categoria, para mais
fácil compreensão do conjunto de cada categoria e respetivas subcategorias.
Ser Mãe
Desejo
Mãe que
Ser Mãe
Sou
Dificuldades
Apoio
Mudança
que
Tenho
S1
A
A
A
B
B
A
S2
A
A
B
A
C
A
S3
B
A
A
C
A
B
S4
A
A
B
B
C
B
S5
C
A
C
A
C
C
Tabela nº 2:
Frequência de sujeitos que referiram cada subcategoria na 2ª
entrevista
Desta
forma,
prossegue-se
mais
facilmente
para
a
análise
dos
resultados que se apresentam no capítulo seguinte. A teoria fundamenta-se,
assim, na construção gradual dos dados obtidos do material recolhido e não
num corpo já existente de teoria, logo o que se pretende é acrescentar
novas perspetivas para o entendimento do fenómeno e não provar algo que já
existe (Cassiani et al., 1996).
III. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Tal
como
referido
no
capítulo
anterior,
procede-se
agora
à
apresentação dos resultados obtidos a partir dos elementos recolhidos no
Questionário Sociodemográfico e da análise de conteúdo das Entrevistas e
respetivos resultados encontrados, desenvolvendo seguidamente um trabalho
de discussão dos mesmos recorrendo às teorizações dos capítulos iniciais
deste trabalho.
Do
Questionário,
características
da
extraíram-se
totalidade
da
os
dados
amostra,
relacionados
englobando
com
assim
as
características relativas às adolescentes. Das Entrevistas apresentam-se os
elementos
fundamentais
relativos
a
cada
questão
colocada,
focados
nas
categorias que a partir daí foram selecionadas.
Há
ainda
a
referir
que
não
serão
apresentados
todos
os
dados
extraídos da base de dados, passando-se a apresentar somente os resultados
considerados mais relevantes.
Primeiramente
serão
apresentados
os
quadros
relativos
aos
dados
obtidos através do Questionário Sociodemográfico que caracterizam a amostra
32
e seguidamente, os dados obtidos através das Entrevistas aplicadas durante
o decorrer do estudo.
Após sistematização de todos os dados recolhidos desenvolve-se uma
conclusão/discussão
dos
mesmos,
passando
por
cada
participante
em
particular, por forma a ser feita uma análise das diferenças encontradas da
primeira para a segunda entrevista, podendo assim chegar ao objetivo do
estudo, ou seja, perceber de que forma as adolescentes que se deparam com
uma gravidez e maternidade na adolescência, constroem progressivamente,
isto é, ao longo dos meses, desde a gravidez até após o nascimento da
criança,
a
identidade
materna.
Para
além
de
analisar
participante
a
participante, são analisadas as semelhanças e diferenças encontradas na
globalidade da amostra para cada categoria.
Caracterização da Amostra
O quadro seguinte faz a caracterização de cada uma das adolescentes
do
estudo,
indicando
a
sua
idade,
os
meses
de
gravidez
na
primeira
entrevista, a profissão, com quem vive, as habilitações literárias e, por
último, referente à segunda entrevista, quantos meses decorreram após o
parto.
Idade
Meses
de
Profissão
gravidez
Com
quem
vive
Habilitaçõ
Meses após
es
parto
Literárias
S1
15 anos
38 semanas
Estudante
Avó
Ensino
3 meses e
Preparatór
meio
io
S2
S3
S4
S5
16 anos
16 anos
16 anos
16 anos
35 semanas
8 meses
32 semanas
8 meses
Estudante
Estudante
Estudante
Estudante
Residência
Ensino
3 meses e
- Ajuda de
Preparatór
meio
Mãe
io
Mãe,
Ensino
padrasto e
Preparatór
irmãos
io
Residência
Ensino
- Ajuda de
Preparatór
Mãe
io
Residência
Ensino
-
Preparatór
O
Vigilante
4 meses
2 meses
3 meses
io
Tabela nº3: Caracterização da amostra
A
caracterização
das
participantes
foi
feita
com
base nos
dados
recolhidos através do Questionário Sociodemográfico. Assim, as adolescentes
que compõem a amostra deste estudo apresentam idades compreendidas entre os
33
15 e os 16 anos, sendo que apenas uma tem 15 anos e as restantes encontrase nessa altura com 16 anos.
O
número
de
meses
de
gravidez
das
participantes
na
situação
de
primeira entrevista, situa-se entre os 8 e os 9 meses, cumprindo assim o
requisito para a amostra, encontrar-se no terceiro trimestre de gravidez.
Considerando
participantes
o
terem
estatuto
apontado
o
profissional,
facto
de
apesar
serem
de
todas
estudantes,
as
observa-se
posteriormente a partir dos dados recolhidos nas entrevistas que apenas 3
das jovens se encontram efetivamente a estudar no momento da entrevista e
duas estão desocupadas, sendo que uma delas aguarda por vaga para poder
iniciar um curso profissional.
Relativamente a com quem vivem, considera-se pertinente apresentar os
resultados,
de
maneira
a
melhor
compreender
a
realidade
da
amostra.
Observa-se que 3 participantes habitam em residências de mães adolescentes,
sendo que após entrevistadas constatou-se que uma delas já vivia numa
residência para adolescentes e após descoberta a gravidez foi encaminhada
para uma nova instituição ao abrigo de mães adolescentes, as outras duas
que referiram viver numa residência constata-se que apenas sucedeu após
terem engravidado, pois viviam anteriormente com familiares. As outras duas
adolescentes do estudo referiram viver com familiares, nomeadamente, avó,
mãe, irmãos e padrasto, sendo que nenhuma habita com o pai.
Conforme é possível constatar no quadro acima apresentado, o nível de
escolaridade das participantes corresponde ao Ensino Preparatório (do 5º
ano ao 9º ano). No entanto, sabe-se que uma das jovens encontrava-se a
frequentar
um
curso
profissional
que,
após
ter
engravidado
não
pôde
concluir, pois de forma a poder obter o apoio da Associação Ajuda de Mãe,
deveria frequentar as aulas que ali se realizam, tendo assim recuado nos
seus
estudos
não
lhe
dando
equivalências,
encontrando-se no
momento
a
frequentar o 7º ano de escolaridade.
Alguns
estudos
(Canavarro
&
Pereira,
2001;
Almeida,
1987)
desenvolvidos acerca da maternidade na adolescência, assinalam a constante
interrupção do percurso escolar devido ao surgimento de uma gravidez não
planeada.
Quanto aos meses decorridos após o parto, para realização da segunda
entrevista,
estes
situam-se
entre
os
2
meses
e
os
4
meses,
tendo-se
esperado preferencialmente 3 meses após o nascimento, pois como já foi
referido, a preocupação maternal primária poderia influenciar de alguma
forma as respostas às questões colocadas.
Como curiosidade e por forma a criar uma relação mais descontraída
com as participantes no decorrer da entrevista, foi questionado o nome e o
sexo do bebé, resultando em dois bebés do sexo feminino e três do sexo
masculino.
No
quadro
não
são
apresentados
os
dados
relativos
ao
número
de
filhos, a suas idades e que idade tinham as jovens aquando da gravidez,
pois no que diz respeito à história obstétrica das participantes, salientase o facto de nenhuma adolescente entrevistada no estudo ter outros filhos.
Para as 5 jovens esta é a sua primeira gravidez.
34
Resultados das Entrevistas
Passa-se a apresentar os resultados obtidos para cada subcategoria
extraída das categorias selecionadas a partir das questões colocadas nas
entrevistas.
1ª entrevista:
O que é para ti ser mãe?
A partir desta questão foi criada a categoria ‘‘ser mãe’’ de onde se
obteve as seguintes subcategorias:
 Não sabem
-
2
participantes
referiram
não
saber
o
que
significa ser mãe (S1: ‘‘Não sei explicar.’’ e S5: ‘‘Para mim
ser mãe, ainda não tenho muito bem, não sei muito bem o que é
que é…Não sei o que posso esperar…’’).
 Querem reparar insuficiências do passado - 2 participantes dão
a entender que ser mãe significa ser mais do que as próprias
mães foram para elas, mencionando algumas falhas que existiram
(S2: ‘‘É saber lidar com crianças, tomar mais cuidado com uma
criança, não a abandonar, essas coisas assim. Mesmo o carinho
de mãe…’’ e S4: ‘‘É preciso ter condições, é preciso também ter
um
homem.
Ser
mãe para
mim
é
importante,
aprende-se
muita
coisa.’’).
 Identificar-se com a própria mãe - 1 participante descreve o
significado baseando-se no modelo que conhece (S3: ‘‘Ser mãe é
ganhar novas responsabilidades contigo, é ser o que a minha mãe
foi.’’).
Quando é que surgiu esse sentimento? e,
Já alguma vez tinhas pensado ser mãe?
A categoria criada a partir das questões acima foi o ‘‘desejo de ser
mãe’’, de onde se elaboraram as seguintes subcategorias:
35
 Perante
os
factos
sentimento/desejo
-
de
3
ser
das
mãe
participantes
surgiu
perante
revelam
a
que
o
confirmação
da
gravidez (S2: ‘‘Quando soube que estava grávida.’’, S3: ‘‘A partir
do momento em que eu tive a certeza que ia ter o bebé.’’ e
S5:
‘‘Foi a partir do 5º mês ou 6º mês, mais ou menos.’’).
 Sempre - 1 participante revela que sempre desejou ser mãe (S1:
‘‘Eu
tomava
conta
de
crianças
e
acho
que
sempre
quis
ter
a
minha.’’).
 Planeado - 1 participante refere que a criança foi planeada (S4:
‘‘Foi quando eu estava com o pai do meu filho, estávamos bem e
depois
olha,
Percebe-se
eu
que
procurei
o
desejo
ser
mãe.
existente
Foi
planeado
nesta
por
adolescente
mim.’’).
é
o
de
constituir família.
Como é que foi a descoberta de que estavas grávida? e,
Qual foi a tua reação quando soubeste que estavas grávida?
Para estas duas questões, como já referido, foi criada uma única
categoria, por se entender que estão interligadas, a categoria ‘‘história
da descoberta da gravidez’’:
 Rejeição
-
constata-se
que
3
participantes
rejeitaram
de
imediato a ideia de serem mães no momento. Uma das jovens em
primeiro lugar usa a
negação ao rejeitar a ideia de
estar
grávida (S1: ‘‘…a minha mãe começou a ver que eu estava a ficar
gorda do nada…’’, ‘‘…eu não sabia que estava grávida, com a
menstruação eu nunca pensei que podia estar grávida.’’) e, em
seguida, revela-se a tomada de consciência e o choque (S1:
‘‘…fiquei desorientada,’’, ‘‘’’Senti-me mal, chorei muito, não
estava
à
espera
de
ter
uma
criança
agora.’’).
Outra
jovem
refere ter sido pela falta do período que descobriu que estava
grávida, havendo em primeiro lugar a rejeição (S2: ‘‘…não o
queria…’’, ‘‘…estava quase de 4 meses, já não deu mesmo para
abortar.’’), sentindo se assustada e confusa no decorrer dos
primeiros tempos (S2: ‘‘…fiquei assustada…’’, ‘‘…medo, porque ao
princípio não sabia bem o que seria…’’) e, em seguida, surge a
aceitação,
após
se
ter
tornado
real
(S2: ‘‘…quando
ouvi
o
coração dele desisti logo…’’, ‘‘…estou desejosa de ser mãe.’’).
36
A terceira jovem a rejeitar a ideia assim que se deparou com a
situação (S3: ‘‘O primeiro pensamento que eu tive foi que não o
podia
ter,
gravidez
porque
através
não
de
dava
um
para
teste
ter.’’),
de
farmácia
confirmou
(S3:
a
sua
‘‘…quando
começaram os enjoos e o período não veio…’’), usando também a
negação ao dizer que estava a contar com a pílula e refere ter
ficado chocada e nervosa quando soube, tendo mantido a rejeição
ao longo da gravidez e culpabilizando-se por ter desiludido a
mãe, ao repetir o modelo (S3: ‘‘Aconteceu o mesmo à minha mãe e
eu não queria estar a repetir comigo.’’).
 Aceitação - apenas uma participante aceita de imediato a
gravidez (S4: ‘‘…planeado.’’, ‘‘…estou a gostar da ideia de ser
mãe.’’), tendo descoberto pela falta da menstruação e devido
aos vómitos, sentindo-se (S4: ‘‘…muito feliz.’’), no entanto,
existe uma certa rejeição implícita ao dizer (S4: ‘‘Foi pena
não ter sido na época que eu planeei…’’), de onde se deduz mais
uma vez que o filho seria para constituição de família.
 Ambivalência - umas das jovens manifesta ambivalência por não
saber o que sentir ou como reagir (S5: ‘‘Foi assustador…’’,
‘‘…não estava à espera.’’), rejeitando primeiro (S5: ‘‘…quando
descobri já não podia mesmo fazer aborto…’’, ‘‘Pensei que a
minha vida tinha ficado destruída, que nunca mais ia conseguir
realizar os meus sonhos.’’), ou seja, a gravidez é prosseguida
contra a vontade, mas ao mesmo tempo refere (S5: ‘‘…comecei a
consciencializar
gravidez.
As
que
pessoas
tinha
à
sua
que
ser
volta
mãe…’’),
na
aceitando
instituição
onde
a
se
encontrava é que descobriram a sua gravidez (S5: ‘‘…pensavam
que eu estava com anemia e fizeram me uns testes…’’).
Como é que te imaginas como mãe?
A categoria a partir da questão elaborada é ‘‘mãe que serei’’, tendo
como subcategorias:
 Não sabe - uma participante não sabe que mãe será, pois não
sabe o que é ser mãe (S5: ‘‘Sei lá. Vai ser difícil, muito
difícil.
Mas
se
houver
um
talvez eu consiga…’’).
37
pouco
de
responsabilidade…apoio,
 Mãe perfeita - 3 adolescentes consideram que serão muito boas
mães, fazendo os possíveis para que não lhes falte nada. Uma
jovem
refere
(S1:
‘‘Acho
que
vou
ser
uma
mãe
galinha.’’),
recorrendo a uma atitude funcional (S1: ‘‘…estou a tirar um
curso de apoio a crianças, já é alguma ajuda…’’) e contando com
a sua mãe como auxiliar (S1: ‘‘Depois a minha mãe também me
ajuda.’’). Outra participante diz (S2: ‘‘Dar tudo o que o meu
filho precisa.’’, ‘‘Ser uma boa mãe e fazer os possíveis que ele
cresça e fique bem.’’). E ainda outra (S4: ‘‘…tratá-la bem,
vesti-la bem, para ela estar sempre bem, cuidar dela para ela
estar sempre comigo.’’).
 Igualar/ultrapassar a mãe - uma participante revela querer ser
tão boa como a sua própria mãe foi para ela ou ainda melhor
(S3: ‘‘Espero ser o que quero ser.’’, ‘‘Dar o que a minha mãe me
deu e o que achei que faltou…’’, ‘‘Vou tentar que com o meu
filho as coisas corram melhor.’’).
Que tipo de dificuldades é que achas que vais ter?
Esta
questão
tem
como
categoria
‘‘dificuldades’’,
extraindo-se
as
seguintes subcategorias:
 Dificuldades funcionais - 3 jovens acham que terão dificuldades
funcionais de diversos tipos. Uma refere os estudos (S1: ‘‘Vai
ser difícil nos estudos…’’), outra participante integra o medo
da sua própria incapacidade/agressividade (S2: ‘‘Os primeiros
banhos, mudar a fralda.’’, ‘‘…medo de pegar nele…vesti-lo…’’) e
por último, uma jovem refere dificuldades funcionais ao ter que
mudar o centro do mundo, ao deixar de ser o centro da sua
atenção (S3: ‘‘Já não vai ser acordar e pensar em mim, agora
vai ser
acordar e pensar
nele.’’,
‘‘…não estou habituada
a
acordar a meio da noite para dar de mamar, nem com choro…isso
me vai dificultar um bocadinho.’’).
 Dificuldades na comunicação - uma jovem tem medo de não
conseguir compreender o bebé (S5: ‘‘…em saber como lidar, saber
qual é que é o tipo de choro…’’, ‘‘Acho que vai ser uma coisa
muito difícil.’’).
38
 Negação - uma jovem refere apenas achar que não terá qualquer
tipo de dificuldade (S4: ‘‘Eu acho que nenhuma, nenhuma.’’).
Mudou alguma coisa na tua vida?
A categoria selecionada para esta questão é a ‘‘perceção de mudança’’
das jovens, obtendo-se as seguintes subcategorias:
 Perda - 2 participantes mencionam como mudança algumas perdas
de diversa índole (S2: ‘‘…já não estou a estudar.’’, ‘‘…novas
responsabilidades, já não posso pensar só em mim.’’), o que
sugere que aceita e inclui na sua vida uma outra pessoa. Outra
jovem refere mudanças nos hábitos diários (S3: ‘‘Já não tenho a
mesma rotina diária…Já não vou à escola onde ia…’’, ‘‘Já não
faço
educação
algumas
física
mudanças
como
fazia…’’),
fisiológicas
como
os
acrescentando
enjoos
e
o
ainda
cansaço,
consequência da gravidez.
 Vantagens - 2 jovens referem vantagens advindas com a gravidez,
tal como, o facto de ser cuidada (S1: ‘‘…acho que as minhas
amigas ficaram mais atenciosas a ter cuidados comigo, a querer
tomar conta de mim…’’), ou ainda, para além do apoio e da
segurança
advindo
a
partir
dai,
o
facto
de
realizar
novas
aprendizagens (S4: ‘‘Eu pensava diferente.’’, ‘‘…aprendi tantas
coisas aqui.’’, ‘‘…agora estou a aprender muita coisa, estou a
estudar…’’).
 Muita coisa - uma participante refere apenas muita coisa, não
querendo prosseguir o assunto (S5: ‘‘Mudou muita coisa!’’).
2ª entrevista:
O que é para ti ser mãe?
Desta
questão
elaborou-se,
tal
como
na
primeira
entrevista,
a
categoria ‘‘ser mãe’’, obtendo-se as seguintes subcategorias:
 Idealização - 3 participantes idealizam a situação, o que
poderá ser bom na medida em que transmite confiança para as
próprias, no entanto, desde que não seja de forma exagerada.
Uma jovem refere o significado de ser mãe em termos afetivos,
39
na adaptação ao filho e no viver para outrem (S1: ‘‘…é fixe a
sensação.’’, ‘‘É bom, é ser exemplar, é tratar do meu filho,
dar-lhe
carinho,
amor,
entre
várias
coisas.’’).
Uma
outra
participante também incorpora o significado como o adaptar-se
ao filho e viver para ele (S2: ‘‘É começar a aprender na vida,
começar
a
ter
responsabilidades,
perante
os
nossos
filhos,
cuidar deles, saber cuidar, saber educar, muita coisa.’’, ‘‘Para
mim é bom.’’). E para outra jovem, idealizando, igualmente, tem
implícita uma mudança para outrem (S4: ‘‘É uma sensação tão
grande.’’, ‘‘Ser mãe é cuidar da minha filha, dar-lhe educação,
amá-la, dar carinho.’’, ‘‘…aprendi muitas coisas com a minha
filha…a
ser
adulta,
a
ter
responsabilidades…Ser
uma
pessoa
correta, sem fazer besteiras…’’).
 Filho que completa - uma jovem menciona o facto de o filho a
completar, existindo medo da perda (S3: ‘‘…já não me imagino
sem o meu filho…’’, ‘‘…é sentir que pelo meu filho faço tudo,
qualquer coisa…’’, ‘‘…pensar que se algum dia fico sem ele…tenho
medo…’’, ‘‘É ter vontade de satisfazê-lo…’’).
 Não sabe explicar - uma participante não sabe explicar (S5:
‘‘Não
sei,
não
sei
mesmo.’’,
‘‘É
bom,
é
uma
experiência
ótima.’’), no entanto, percebe-se que o filho a completa (S5:
‘‘…agora
sinto
que
tenho
alguém
para
cuidar…que
vai
estar
sempre na minha vida…’’).
Quando é que surgiu esse sentimento?
No seguimento da primeira entrevista, selecionou-se como categoria o
‘‘desejo de ser mãe’’, tendo neste caso apenas uma subcategoria, por todas
as participantes terem respondido de igual forma:
 Perante os factos - as 5 participantes do estudo dizem que o
sentimento de ser mãe surgiu quando se tornou real, a partir do
momento em que a criança nasceu (S1: ‘‘…no momento em que o
tive no colo.’’ e ‘‘Desde o primeiro dia em que eu o vi.’’),
apesar de agora expressar que quando estava grávida fantasiava
(S1: ‘‘…pensava com quem é que ele se vai parecer, como é que
ele vai ser…’’). As falas das outras participantes referem-se
apenas que foi perante os factos, não tendo acrescentado mais
nada
(S2:
‘‘No
primeiro
dia
em
que
ele
nasceu,
logo.’’,
‘‘…meteram-no em cima de mim e foi logo.’’), (S3: ‘‘Logo que ele
40
nasceu.’’, ‘‘…quando eu o vi, peguei nele…’’), (S4: ‘‘Quando o
bebé nasceu.’’, ‘‘Gostava de estar grávida, estava contente, mas
agora
é
melhor.’’) e
(S5: ‘‘Foi
logo
quando
ela
nasceu.’’,
‘‘…ainda não me tinha mentalizado…não sabia o que seria e agora
já sei.’’).
Como é que te descreves como mãe?
Sendo que na primeira entrevista a questão foi colocada de forma a
dizerem como achavam que iriam ser como mães, podendo agora descrever-se,
após terem vivido a experiência. A categoria é ‘‘mãe que sou’’, obtendo-se
como subcategorias:
 Mãe boa - 2 participantes descreveram-se como boa mãe, no
entanto,
numa
das
jovens
denota-se
o
filho
como
o
seu
complemento narcísico (S1: ‘‘Sou uma mãe boa.’’, ‘‘Agora já não
sou ninguém sem o meu filho, ele tem de estar ao pé de mim.’’,
logo o filho completa-a. A outra jovem, pelo contrário, faz uma
valorização
da
figura
materna,
desejando
igualar-se
à
sua
própria mãe (S3: ‘‘…boa mãe, mãe galinha.’’, ‘‘…tentar ao máximo
ser com o meu filho, tão boa mãe como a minha mãe foi para mim
e continua a ser.’’).
 Mãe responsável - 2 participantes revelam-se mães responsáveis
(S2: ‘‘Ser séria. Apesar do meu feitio e do meu comportamento,
perante o meu filho está tudo normal.’’), existindo uma mudança
a favor da criança e, ainda (S2: ‘‘Não sou a melhor mãe que
existe aqui…todos os dias vou aprendendo com as monitoras…’’),
valorizando
a
adolescente
não
ajuda
das
acrescenta
pessoas
nada
que
mais
a
(S4:
rodeiam.
A
‘‘Aprendi
outra
a
ser
adulta…’’, ‘‘…mãe responsável.’’).
 Não sabe - apenas uma adolescente não consegue descrever o seu
papel como mãe (S5: ‘‘É difícil. As más noites é horrível…’’).
Que tipo de dificuldades é que tens sentido?
No
seguimento
da
primeira
‘‘dificuldades e como subcategorias:
41
entrevista,
temos
a
categoria
 Dificuldades
funcionais
dificuldades
práticas
-
2
no
adolescentes
cuidado
da
referem
criança
sentir
(S2:
‘‘Na
amamentação só.’’, ‘‘Ele quando está com birra, eu não o consigo
deixar
chorar
muito
tempo’’).
A
outra
jovem
para
além
de
dificuldades no cuidado do bebé refere, também, dificuldades na
sua própria adaptação à nova instituição e a novas pessoas (S5:
‘‘…durante a noite tenho que me levantar da cama e ir fazer o
leite…mas tenho de me adaptar.’’).
 Negação - 2 jovens negam ter qualquer tipo de dificuldade no
cuidado com os filhos (S1: ‘‘Nenhuma, nenhuma.’’, ‘‘…adaptei-me
aos horários dele…’’), ao mesmo tempo que refere ter medo da
sua própria agressividade (S1: ‘‘Ao principio tinha medo de o
aleijar…’’). A outra jovem limita-se a negar dificuldades (S4:
‘‘Nenhuma…já
criei
os
meus
sobrinhos…’’,
‘‘…ainda
não
tive
dificuldade de criar a minha filha.’’).
 Dificuldades nos estudos - apenas uma das adolescentes refere
como dificuldades os estudo, tendo-se adaptado bem à criança
(S3: ‘‘…conciliar a escola com o ser mãe…’’, ‘‘De resto, não
tenho tido nenhuma dificuldade…’’).
Que tipo de apoio é que tens?
Esta
questão
revela-se
completamente
nova,
havendo
portanto
uma
categoria criada de raiz, ‘‘apoio que tenho’’ e como subcategorias surgiram
as seguintes:
 Mãe como auxiliar - uma jovem vê na mãe um apoio no cuidado à
criança
(S3:
‘‘…o
apoio
da
minha
mãe
em
casa.’’)
e
no
namorado/pai do filho um sustento para a nova família (S3:
‘‘…ganha bem para nós…’’).
 Segurança social - uma participante refere como principal apoio
económico a segurança social (S1: ‘‘Agora estou a depender da
segurança social…’’), não deixando de referir o apoio da avó
com quem vive desde pequena, do namorado/pai da criança e da
mãe
que
vive
na
casa
ao
lado,
permitindo
o
acontecimento
reparar a relação mãe-filha (S1: ‘‘Comecei a viver com a minha
avó tinha eu 6 anos…é como uma mãe para mim, ela ajuda-me
42
muito…’’, ‘‘Com a minha mãe, antes a relação não era muito boa
mas agora sim.’’).
 Instituição/Residência - as restantes 3 participantes mencionam
como principal apoio a instituição onde vivem (S2: ‘‘…a minha
vida estava mesmo a acabar.’’, ‘‘Se eu não tivesse pedido ajuda,
eu e o meu filho
não estávamos cá.’’, ‘‘Aqui não me falta
nada.’’), não deixando de referir as monitoras e doutoras da
instituição como grande auxiliares ao nível da aprendizagem dos
cuidados a ter com o filho. As outras jovens referem (S4: ‘‘…na
Residência tenho tudo para mim e para a minha filha.’’) e (S5:
‘‘Tenho a instituição…’’, ‘‘Dão-me tudo para o bebé, não me
falta
nada.’’),
maternidade
tendo
como
propiciado
a
já
visto
reparação
noutro
da
exemplo,
relação
a
mãe-filha
(S5:’’…agora vejo a minha mãe com alguma frequência.’’).
Desde que nos vimos, mudou alguma coisa na tua vida?
Para esta questão selecionou-se como categoria, no seguimento da 1ª
entrevista, ‘‘perceção de mudança’’, obtendo como subcategorias:
 Perdas - 2 adolescentes mencionam perdas quando questionadas
acerca das mudanças ocorridas desde a primeira entrevista (S1:
‘‘…queria
ser
cabeleireira…’’,
‘‘Agora
no
próximo
ano
não
tenciono estudar…não quero continuar a depender da segurança
social.’’),
observando-se
para
além
de
perdas
concretas
ao
nível dos planos profissionais, uma mudança na sua vida por
forma a poder cuidar de outrem, referindo ainda a perda da
liberdade. A outra jovem ao mencionar as perdas relativas à
liberdade
revela
uma
grande
imaturidade
(S2:
‘‘…não
estou
habituada a ter regras…’’, ‘‘O que mudou também, foram as minha
saídas à noite.’’, ‘‘O que eu tenho mais pena é que a minha
juventude acabou, curtir a vida.’’).
 Responsabilidade - 2
jovens
referem
mudanças
ao
nível
da
responsabilidade (S3: ‘‘Sempre fui muito paparicada pela minha
mãe, não fazia muita coisa em casa.’’, ‘‘…acordo trato de mim e
do meu filho’’) e (S4: ‘‘Mudou o meu comportamento, mudou a
minha rotina, já não entro e saio de casa às horas que quero,
agora tenho horários…’’), coloca a filha em primeiro lugar, e
ao
mesmo
tempo
fantasia,
pois
já
não
se
encontra
em
relacionamento com o pai da filha (S4: ‘‘…quero arranjar uma
43
casa
para
mim,
para
a
minha
filha
e
para
o
pai
da
minha
filha…’’).
 Filho que completa - apenas uma jovem menciona como grande
mudança o sentimento de se sentir completa (S5: ‘‘Agora sinto
que
tenho
referindo
alguém
ainda
para
cuidar…’’,
mudanças
ao
nível
‘‘…adiar
da
os
planos…’’),
responsabilidade
e
a
mudança de instituição.
Após terem sido apresentados os dados relativos ao material aplicado
às adolescentes, participantes do estudo, é feita em seguida uma discussão
dos resultados encontrados e interpretados pelo investigador, baseando-se
na literatura que se encontra nos capítulos anteriores.
IV. DISCUSSÃO DOS RESLTADOS
Esta investigação foi delineada com o objetivo geral de perceber como
é que as adolescentes que se deparam com uma gravidez nesta fase das suas
vidas, vão construindo ao longo da gestação e após o parto, a identidade
materna. Através da observação de cada caso individual, analisando as duas
entrevistas efetuadas de modo a detetar as diferenças encontradas, bem como
os
progressos
realidade,
sujeitos,
ou
retrocessos
recorrendo
por
forma
existentes
igualmente
a
perceber
à
as
adolescentes, numa mesma situação.
44
na
confrontação
comparação
diferenças
de
com
entrevistas
existentes
a
nova
entre
entre
as
O significado que ser mãe acarreta para as jovens durante a gravidez,
revelou-se bastante diferente no grupo estudado. Devido ao facto de na
quase totalidade da amostra a gravidez não ter sido planeada, excetuando a
situação de uma das jovens em que a gravidez é vista como uma oportunidade
de
vida,
uma
vida
idealizada
(tendo
neste
caso
sido
planeada
como
estratégia de constituir uma nova família com o namorado), verifica-se que
a partir do momento da confrontação com a situação real de estar grávida,
as adolescentes reagem de forma ambivalente, não desejando desde logo a
gravidez. Este achado vai ao encontro do que referem Camacho et al. (2010),
que quando uma gravidez não é planeada, sendo o caso da maioria da amostra,
podem surgir uma panóplia de sentimentos, como frustração, culpa, vergonha,
entre outros.
Verifica-se na quase totalidade da amostra a presença do pensamento
mágico, negando a gravidez por bastantes meses, tendo sido a confirmação
desta
na
maioria
dos
casos
no
segundo
trimestre.
Havendo
a
posterior
rejeição da mesma, pelo significado que isso carrega. Sendo que após a
tomada de consciência e após ultrapassado o medo e o susto se subentende a
aceitação
da
nova
situação
pelas
adolescentes.
Pois
apesar
de
algumas
jovens mencionarem já terem pensado acerca de serem mães, como já referido
por Mota (2011), verifica-se que em muitos casos o desejo de ter um filho e
o de ser mãe não coincidem, na ausência de um projeto pensado e definido.
De notar que três das adolescentes colocaram a hipótese de abortar,
sendo que duas o mencionam explicitamente, quando colocada a questão de que
forma
reagiram
à
descoberta.
A
possibilidade
de
abortar
poderá
estar
associada ao grau de estabilidade da relação com o pai da criança ou do
contexto sociofamiliar, pois nos dois casos em que o desejo de abortar foi
explícito,
as
jovens
não
mantinham
uma
boa
e
próxima
relação
com
familiares, da própria estabilidade emocional, bem como, do não planeamento
da gravidez.
Apesar de não ser notório à partida, o desejo de ser mãe acaba por
contemplar todas as adolescentes do estudo, a maioria revelando ter sido no
momento da descoberta, tendo esta sido tardia, onde as modificações físicas
já se manifestavam, indo ao encontro do que refere Maruani (1990, cit. in
Nodin, 2001), que a noticia de uma gravidez, tal como as transformações que
a partir daí ocorrem, podem ser fatores que desencadeiam o desejo de ser
mãe.
A idealização está bastante presente nas jovens do estudo, indo ao
encontro do que referem Konig et al. (2008), muitas jovens descrevem o ser
mãe,
após
a
consciencialização
da
situação,
como
um
acontecimento
maravilhoso, com uma mistura de responsabilidade e sacrifícios. No estudo,
durante a gravidez, a maioria imagina que será boa mãe, revelando fazer
tudo para lhes proporcionar o conforto e o amor necessário para o bem-estar
da criança.
Uma outra jovem que refere não saber como será como mãe, poderá advir
do facto de não ter tido uma mãe presente ao longo do seu desenvolvimento
(ausência de modelo), sendo que desde muito pequena foi viver para uma
instituição, contactando com a sua mãe muito pouco. Como Dadoorian (2003)
45
acrescenta, a maternidade, muitas vezes, ocorre devido à falta de atenção
vivida pelas jovens no seio familiar, transpondo dessa forma, para o filho
uma
diversidade
de expectativas,
tais como,
proporcionar-lhe
carinho
e
proteção.
Ainda uma outra jovem que refere querer ser tão boa mãe como a sua
foi para ela mesma, revelando desde já o modelo a seguir para com a sua
própria filha. Estes achados vão ao encontro de Nascimento et al. (2005)
que defendem que a forma como as jovens foram criadas pelos próprios pais,
ou os cuidados com eventuais irmãos mais novos, propicia o treino para a
prática da maternidade sendo que, dessa forma, estas podem-se guiar pela
imitação. No entanto, esta adolescente, sublinha ainda querer se possível
ser melhor do que a sua mãe, tentando talvez ultrapassar algumas falhas
afetivas sentidas.
Relativamente às relações mantidas e ao suporte emocional, as jovens
que vivem com a mãe ou no caso de uma das jovens que tem a avó presente,
descrevendo-a como mãe, usufruem de suporte emocional. Sendo as mães as
figuras
consideradas
privilegiadas
como
adolescentes,
que
modelos
de
referência
para
as
adolescentes.
As
outras
duas
após terem
engravidado viram-se
obrigadas a recorrer ao abrigo de uma instituição, pouco contato têm com
familiares, sendo o suporte emocional fornecido pelas colegas e tutoras da
instituição.
Apenas uma adolescente refere na altura da gravidez, imaginar como
será o seu filho que, como defende Sá (2004), esta revela-se de forma
continuada ao longo da gestação, terminando muitas vezes, apenas no momento
do parto. Pois os laços vinculatórios iniciam-se logo durante a gravidez,
fortificando-se no discorrer das trocas afetivas entre a mãe e o filho.
Relativamente às dificuldades que se espera ter após o parto, na
primeira entrevista, são mencionadas dificuldades mais de tipo funcional,
relativas aos cuidados a ter com o bebé. Assim como referiram Godinho et
al. (2000), que as preocupações sentidas pelas jovens durante o período
gestacional são, na maioria, dificuldades funcionais, bem como, medo e
ansiedade do parto.
Quando questionadas acerca das mudanças ocorridas nas suas vidas, na
primeira entrevista, presenciam-se respostas completamente opostas, havendo
quem defenda que a gravidez lhe trouxe alguns ganhos, tendo esses ganhos
sido afetivos e, perdas relativas à liberdade, aos seus hábitos diários e
responsabilidades
novas,
inesperadas
nestas
idades.
Como
Folle
e
Geib
(2004) mencionam, a maternidade, para muitas jovens, torna-se um ganho
afetivo
qualificando
o
processo
de
desenvolvimento
pessoal
e
social,
tornando-as mais maduras.
Apenas uma jovem refere não saber que mudanças ocorreram na sua vida,
precisamente por não saber o que significa ser mãe e que papel deverá
desempenhar. Trata-se de um único caso entre as jovens entrevistadas, uma
adolescente que se sente completamente perdida com a notícia da gravidez,
que
se
sente
referência
a
sozinha,
seguir,
sem
com
familiares que
uma
mudança
46
de
a
apoiem,
instituição
sem
por
um
se
modelo
de
encontrar
grávida, tendo deixado todos as relações que tinha realizado ao longo dos
anos na instituição onde vivia.
Na segunda entrevista, tendo decorrido algum tempo após o parto e
após os laços entre mãe e filho terem sido criados, quando questionado às
adolescentes acerca do significado de ser mãe, apenas uma resposta se
mantém igual. As outras jovens idealizam o que ser mãe significa, havendo
ainda uma jovem que se sente completa.
Neste segundo momento, todas as jovens, sem exceção referem que se
sentiram mães no momento do nascimento, assim que tiveram a criança nos
seus braços. Logo, todo o tempo passado, os meses de gravidez, as respostas
dadas anteriormente são como eliminadas, tudo agora se torna real/vivo e
concreto. Agora têm a certeza que existe um outro que precisa de cuidados e
amor da sua parte, algo que até ao momento não se haviam dado conta, apesar
de alguma ter referido anteriormente que sim. Tal como mencionado, refere
Cabral (2003) que o nascimento de um bebé parece incrementar nas jovens o
processo
de
transição
para
a
vida
adulta,
sentindo-se
estas
mais
responsáveis, consequência da incorporação do novo papel a desempenhar.
De notar que todas as adolescentes se veem na altura da entrevista
como boas mães, responsáveis, indo ao encontro do que algumas já imaginavam
que iriam ser. Sendo a maternidade na adolescência vivida com insegurança,
incerteza e sentimentos de angústia, como se houvesse uma transgressão, as
jovens sentem necessidade de provarem que se pode ser uma boa mãe (Mazzini
et al., 2008).
Havendo
ainda
uma
jovem
que
não
sabe
descrever-se
no
papel
que
atualmente desempenha como mãe.
Quanto
às
dificuldades
sentidas
no
decorrer
dos
cuidados
com
a
criança, mantêm-se as que eram imaginadas para algumas jovens. Sendo as
dificuldades relativas aos estudos a mais apontada, tal como Godinho et al.
(2000) concluíram no seu estudo que o abandono escolar é na maioria das
vezes a mudança mais significativa. Tendo outras jovens referido não estar
a
sentir qualquer
adaptação
boa,
dificuldade
juntamente
no
com
cuidado
algumas
com
jovens
a
criança, tendo sido
que
conseguem
manter
a
os
estudos, como Folle e Geib (2004) defendem que também ocorre o contrário,
havendo jovens que ao se tornarem mais maduras, ganham motivação para
continuar a estudar.
O apoio que as jovens detêm no momento é de diversas índoles, sendo
para uma a segurança social, a nível económico, mas tendo a sua avó e mãe
como figuras de suporte emocional, bem como o companheiro/pai da criança.
No caso da jovem
que desde pequena
habita em residências, tendo
sempre mantido uma relação de distância com a sua mãe, sendo esta muito
pouco harmoniosa, é visível que após o nascimento da criança, a relação
entre ambas se tenha tornado mais estreita, referindo a jovem que agora
estão muitas vezes juntas e que aos 18 anos, quando tenha que sair da
instituição
irá
residir
com
a
sua
mãe.
Sendo
o
apoio
principal
a
instituição onde reside, fornecendo-lhe tudo o que necessita para a criança
e para si própria.
47
As jovens que mantinham uma relação estável com o pai da criança
antes de engravidarem, mantiveram-na tendo o companheiro feito parte de
todo o desenvolvimento ao longo da gravidez e após o parto. Exceto um caso,
em que a jovem planeou a gravidez numa altura em que se encontrava numa
relação e antes da confirmação da mesma a relação já havia terminado, tendo
se mantido assim.
Duas jovens, pelo contrário, mantêm uma relação conflituosa com o pai
da criança, sendo num dos casos por opção da jovem que não tenciona manter
um relacionamento amoroso e, em outro caso, o próprio pai da criança nega a
paternidade.
Para a última questão colocada, ligada às mudanças ocorridas desde o
nascimento
do
bebé,
aqui
deixam
de
existir
vantagens
mencionadas
nas
respostas à primeira entrevista. As jovens, consciencializadas agora da
nova situação e das transformações todas advindas daí, referem novamente
perdas,
igualmente
ligadas
à
responsabilidade
e
à
liberdade
e,
ainda,
revelando uma grande imaturidade da parte de uma jovem, que menciona a
perda da sua liberdade como jovem, relacionada com as saídas à noite.
E não esquecendo a jovem que se encontra perdida, apesar de já estar
consciente
do
seu
novo
estatuto
que,
as
mudanças
para
ela
ocorridas
referem-se ao preenchimento que sente ao ter alguém para cuidar, alguém que
não a abandonará e que estará sempre presente, tendo obviamente, também, de
adiar os seus planos de vida por outrem.
V. CONCLUSÃO
48
Confirma-se no presente estudo muito do que foi dito teoricamente
acerca
da
gravidez
maternidade
na
e
maternidade
adolescência
na
adolescência.
pressupõem,
A
gravidez
sempre,
uma
e
a
transição
desenvolvimental, por serem acontecimentos que colocam em questão o sistema
pessoal a todos os níveis, estrutural, emocional e funcional, requerendo
mudanças e em consequência, novas tarefas de desenvolvimento, revelando-se
numa aceleração de papéis (Raeff, 1994, cit. in Soares & Jongenelen, 1998).
Observa-se que uma gravidez na adolescência gera crise, pois em quase
todos os casos esta é encarada como uma interrupção dos projetos e percurso
delineados
pelas
jovens,
seja
o
percurso
escolar,
como
as
relações
amorosas, familiares, de amizade, bem como outras ambições pessoais.
Como diz Canavarro (2001), a maternidade é um projeto a longo prazo
e, havendo um projeto adaptativo de
maternidade, a gestação permite a
preparação para ser mãe. No entanto, encontrando-se numa fase das suas
vidas de consolidação dos seus aspetos identitários, constituindo-se como
mulheres, as adolescentes confrontam-se com a dificuldade de ao mesmo tempo
terem de assumir simultaneamente o estatuto de filhas e o novo papel de
passarem elas próprias a ser mães.
A identidade materna nas adolescentes surge ao mesmo tempo que é
consolidada a
mudanças
sua
própria identidade, assistindo-se
físicas
corporais
que
definem
o
à
passar-se
sobreposição
a
ser
das
mulher
e
simultaneamente mãe. No entanto, a consolidação da nova identidade, por
vezes é dificultada devido ao facto das jovens mães não terem elaborado o
desejo
da
maternidade,
adolescência
ainda
estando
emergentes,
os
conflitos
tornando-se
próprios
complicado
a
da
fase
resolução
da
dos
mesmos na nova situação com que se deparam ligada à maternidade, onde se
juntam, também, os conflitos ligados à vivência materna.
Tal
como
diz
Kimura
(1997),
a
construção
da
identidade
materna
implica um relacionamento baseado na sua vinculação com o filho. Sendo
precisamente no momento do nascimento e no desenrolar da relação entre
ambos ao longo do tempo, onde se atribui o papel de filho à criança que
nasceu, assume-se o papel de mãe.
Dessa
forma,
apesar
da
identidade
materna
ter
começado
a
ser
construída ao longo da gestação, identidade essa elaborada através de uma
imagem idealizada das adolescentes como mães e dos bebés como filhos,
somente após o parto essa imagem idealizada se torna numa imagem concreta.
Ou seja, é perante os factos, perante a situação real de ter uma criança
nos
braços
para
cuidar
que
a
identidade
materna
se
intensifica
nas
adolescentes que não haviam planeado nem desejado uma gravidez nesta altura
da vida, deixando para trás muitos dos projetos pensados, delineados e
construídos, para se dedicarem ao que dizem ser o mais importante neste
momento, a saúde e o bem-estar dos seus filhos.
Importante sublinhar o fato de nenhuma das adolescentes rejeitar a
criança após o parto. Apesar de na primeira entrevista haver uma rejeição
da ideia de ter um filho pela maioria das adolescentes, a verdade é que
após se terem consciencializado da ideia de serem mães e de terem alguém
49
para cuidar, o que implica uma reestruturação profunda nas suas vidas, bem
como, de perdas ao nível profissional, relacional e pessoal, passa a haver
uma aceitação da sua nova condição de mãe.
Ainda a referir é o facto de os resultados irem ao encontro dos
achado de Chang e Chisholm (1998), em que existe um maior risco de ocorrer
uma
gravidez
na
adolescência
em
famílias
monoparentais,
onde
a
figura
paterna está ausente. Nenhuma das jovens do estudo vive com o seu pai. As
mães
adolescentes
parecem,
assim,
inserir-se
num
quadro
familiar
deficitário.
Entende-se,
assim,
que
uma
gravidez
e
maternidade,
mesmo
na
adolescência, são vividas de acordo com cada caso isolado, através das
experiências acumuladas pela individualidade histórica e pessoal de cada
um.
Limitações
Uma das limitações centrais deste estudo é a dimensão da amostra. Os
resultados poderiam ser mais abrangentes se o número de participantes fosse
mais alargado, não se podendo assim, inferir conclusões a partir desta.
Os
poderiam
questões,
questionários
ser
sociodemográficos,
aperfeiçoadas
assim
como
pela
a
partir
da
remodelação
bem
como,
introdução
de
outros,
as
de
entrevistas,
novos
pois
a
itens
partir
e
da
experiência constatou-se que as jovens sentem alguma dificuldade em falar
da sua vida, apesar de quando questionadas responderem ao pedido.
As
conclusões
alcançadas,
concentram-se
no
grupo
estudado,
sublinhando a impossibilidade de extrapolar tais valores para considerações
gerais em relação ao fenómeno estudado.
Sugestões
Como sugestões, poderá ser interessante fazer um estudo longitudinal
que
acompanhe as
jovens
durante todo o
processo
de
gravidez,
desde o
momento em que recebem a notícia de que estão grávidas até ao parto e
durante alguns meses da maternidade.
Talvez
pudesse
ser pertinente
entrevistar,
para
alguns familiares, bem como, o namorado/pai da criança.
50
além
das
jovens,
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58
VII. ANEXOS
59
ANEXOI
QuestionárioSociodemográfico
Questionário Sociodemográfico
O preenchimento dos dados demográficos é
muito importante para o
entendimento geral das características das participantes, que colaboram
neste estudo. Por favor, responda o melhor que conseguir, preenchendo todos
os
campos
solicitados.
A
confidencialidade
dos
dados
recolhidos
mantida, sem nenhum prejuízo para a participante.
IDADE
QUANTOS FILHOS TEM
PROFISSÃO
IDADE/MESES (filhos)
:
QUE IDADE TINHA, QUANDO NASCEU O SEU PRIMEIRO (A) FILHO (A)?
COM QUEM VIVE?
AS SUAS HABILITAÇÕES LITERÁRIAS:
ENSINO BÁSICO DO 1º CICLO (do 1º ano ao 4º ano)
ENSINO PREPARATÓRIO (do 5º ano ao 9º ano)
ENSINO SECUNDÁRIO
60
:
:
será
CURSO PROFISSIONAL
NENHUMA DAS OPÇÕES ANTERIORES
ANEXOII
Entrevistas
1ª Entrevista (terceiro trimestre de gravidez)
O que é para ti ser mãe?
Quando é que surgiu esse sentimento?
Como é que foi a descoberta de que estavas grávida?
Qual foi a tua reação quando soubeste que estavas grávida?
Já alguma vez tinhas pensado ser mãe?
Como é que te imaginas como mãe?
Que tipo de dificuldades é que achas que vais ter?
Mudou alguma coisa na tua vida?
61
Caso não seja a primeira gravidez (perguntar também acerca de):
Que idade tinhas quando engravidaste pela primeira vez?
Como é que tem corrido a experiência?
Os teus planos de vida alteraram-se depois da gravidez?
2ª Entrevista (após o parto, decorridos 2-4 meses)
O que é para ti ser mãe?
Quando é que surgiu esse sentimento?
Como é que te descreves como mãe?
Que tipo de dificuldades é que tens sentido?
Que tipo de apoio é que tens?
Desde que nos vimos, mudou alguma coisa na tua vida?
62
ANEXOIII
TermodeConsentimentoInformadoparaasInstituições
Termo de Consentimento Informado para as Instituições
Exmo. (a) Sr. (a) Diretor (a) da …………………….,
Solicito a vossa excelência a necessária autorização para a recolha
de dados de investigação num grupo de adolescentes, entre os 14 e os 16
anos, que se encontrem no terceiro trimestre de gravidez e, mais tarde,
após
o
nascimento
do
bebé.
O
estudo
será
da
minha
responsabilidade,
realizado no âmbito de tese de Mestrado Integrado em Psicologia Clínica, do
Instituto Superior de Psicologia Aplicada - Instituto Universitário.
Neste
adolescentes
trabalho,
proponho-me
grávidas,
o
estudar
significado
de
a
ser
identidade
mãe
e
quando
materna
das
surgiu
esse
sentimento. Deste modo, pretendo entrevistar as participantes no momento da
gravidez (terceiro trimestre) e após o parto (por volta dos três meses), de
forma a perceber as mudanças de significado ocorridas nesse espaço de
tempo. Ao participar neste trabalho está a contribuir para o conhecimento
numa área importante da maternidade.
Os
(idade,
instrumentos
a
aplicar
habilitações
literárias,
são
um
entre
questionário
sociodemográfico
outros)
uma
e,
entrevista
semidirecta aplicada duas vezes, durante a gravidez e após o nascimento do
bebé, de modo a perceber como é que progressivamente a adolescente se
organiza e se representa como mãe.
63
Importante referir que a participação é completamente voluntária, não
existindo nenhum risco para os participantes. Será necessário gravar as
entrevistas em modo áudio, no entanto, os dados recolhidos serão totalmente
confidenciais e ficarão num local seguro, a que só o investigador terá
acesso. Se necessitar de alguma informação complementar, estará disponível
através do e-mail: [email protected].
Com os Melhores Cumprimentos.
Data
A Orientadora
(Professora Doutora Ângela Vila-Real)
ISPA - Instituto Universitário
Rua Jardim do Tabaco, 34, 1149 - 041 Lisboa
Telefone: 218 811 700
Fax: 218 860 954
E-mail: [email protected]
64
ANEXOIV
Questionários
65
66
67
68
69
70
ANEXOV
EntrevistasTranscritas
1ª Entrevista - S1
O que é para ti ser mãe?
Não sei explicar. Acho que sempre quis ser mãe. Eu tomava conta de
crianças, e acho que sempre quis ter a minha. Já estou habituada com
crianças e acho que ter a minha é uma experiência nova. Gosto muito de
bebés. Tomei conta do meu irmão mais novo, que tem agora sete anos.
Mudava-lhe a fralda, dava o biberon, para ajudar.
Quando é que surgiu esse sentimento?
Foi porque eu comecei a tomar conta de crianças desde os seis anos e
sempre tive ligação com crianças pequeninas até agora.
Como é que foi a descoberta de que estavas grávida?
71
Eu tinha a menstruação no início tal e qual, mas já estava grávida e a
minha mãe começou a ver que eu estava a ficar gorda do nada e a minha
mãe disse que tínhamos de ir fazer o teste e eu disse que por mim não
havia problema, que ela ia gastar dinheiro à toa, porque eu não sabia
que estava grávida, com a menstruação eu nunca pensei que podia estar
grávida. Mas depois a minha mãe disse-me que havia mulheres que ás vezes
têm a menstruação quando estão grávidas e eu disse-lhe que esse não era
o meu caso e que sabia o que andava a fazer. Eu não tomava a pílula mas
usava preservativo, por isso deve ter rompido. Fiz o teste e nesse mesmo
dia
não
deu
que
eu
estava
grávida.
No
dia
seguinte
é
que
por
curiosidade, como nunca tinha feito um teste, fui reparar no teste que
tinha feito e comecei a chorar, fiquei desorientada. Não sabia o que
fazer, eu tão nova com um filho nos braços. Mas o meu namorado não ficou
nada assustado como devia, ficou todo contente e começou a dizer a toda
a gente que ia ser pai.
Qual foi a tua reação quando soubeste que estavas grávida?
Medo. Medo e susto, tudo ao mesmo tempo. Senti-me mal, chorei muito, não
estava à espera de ter uma criança agora. É difícil, porque eu estava
tirar um curso de cabeleireira, que é uma área que eu gosto e que eu
sempre vou gostar.
Já alguma vez tinhas pensado ser mãe?
Sim, mas não tão cedo. Tinha pensado mais para os 18 anos, mais para o
fim, mas pronto, aconteceu.
Como é que te imaginas como mãe?
Bem, acho que já estou preparada. Além disso já estou a tirar um curso
de apoio a crianças, já é alguma ajuda. Depois a minha mãe também me
ajuda. Acho que vou ser uma mãe galinha.
Que tipo de dificuldades é que achas que vais ter?
Eu acho que não vou ter nenhuma. Quer dizer, agora pensando bem, um
bocadinho do tempo que eu estava a pensar em continuar a estudar para
ver se acaba só este ano lectivo. Vai ser difícil nos estudos, apesar de
ter a ajuda das professoras e dos colegas, acho que ainda vou ter um
bocado de dificuldades. Eu tenho ido à escola, mas depois tenho sempre
dores de barriga, dores de cabeça e tenho de ficar em casa.
Mudou alguma coisa na tua vida?
72
Acho que não. Quer dizer, os cuidados, acho que as minhas amigas ficaram
mais atenciosas a ter cuidado comigo, a querer tomar conta de mim, a
dizer me para ter cuidado com isto e para ter cuidado com aquilo. E os
estudos, mas eu não sou má aluna, nem uma excelente aluna, mas não é
problema. Além disso já tenho conseguido adiantar alguns trabalhos na
escola e mesmo que não consiga estar na escola faço em casa. A atitude
da minha mãe, ao princípio, era um bocadinho difícil, mas agora ela já
está bem, já aceita. Estou muito feliz e ansiosa.
1ª Entrevista - S2
O que é para ti ser mãe?
É saber lidar com crianças, tomar mais cuidado com uma criança, não a
abandonar, essas coisas assim. Mesmo o carinho de mãe, que um bebé
precisa e pronto, para já vai ser bom ser mãe e é bom ter um recémnascido connosco, é só!
Quando é que surgiu esse sentimento?
Quando soube que estava grávida. Ao princípio, pronto, fiquei assustada,
não o queria, mas agora estou a aceitar e agora estou à espera que ele
nasça mesmo, porque estou desejosa de ter, estou desejosa de ser mãe.
Como é que foi a descoberta de que estavas grávida?
Com
a
falta
aparecer,
do
período,
entretanto,
fiquei
decidi
quase três
ir
à
meses
farmácia,
sem
fiz
o
o
período
teste,
deu
me
me
positivo. Quando eu fui saber de quanto tempo é que estava para fazer o
aborto, já passava do tempo, estava quase de 4 meses, já não deu mesmo
para abortar. Por isso, foi mesmo pela falta do período. Mas eu quando
ouvi o coração dele desisti logo e disse ao médico que já não ia fazer.
Se pudesse, já não fazia. Mas ele disse-me que podia ir fazer a uma
clínica privada se quisesse, mas eu disse-lhe que não. Disse que eu
tinha de pagar e tal, mas eu disse que não, já tinha ouvido o coração do
meu filho e não o vou desfazer.
Qual foi a tua reação quando soubeste que estavas grávida?
Fiquei assustada, com medo, porque ao princípio não sabia bem o que é
que
seria
e
não
sei
quê.
Mas
estive a
pesquisar,
já
tinha
muitas
informações, amigas minhas que já tinham sido mães e disseram que era
bom mas pronto, era muito nova para ter uma criança tão cedo. De resto é
bom.
73
Já alguma vez tinhas pensado ser mãe?
Pensava ser mãe daqui a uns bons aninhos, não já com 16, mas pensava, já
tinha pensado. Mas não foi planeado, não foi nada planeado, mas só que
pronto, agora que estou, estou desejosa.
Como é que te imaginas como mãe?
Dar tudo o que o meu filho precisa. Ser uma boa mãe e fazer os possíveis
que ele cresça e fique bem. Mas imagino-me bem, imagino que vou superar,
porque sozinha não estou, tenho ajuda, mas sozinha de mãe, estou sozinha
mesmo. Não tenho apoio de mãe, por isso tenho que viver com o meu filho,
saber lidar com ele.
Que tipo de dificuldades é que achas que vais ter?
Os primeiros banhos, mudar a fralda. Isso é ter medo, vou ter muito medo
de
pegar
nele,
como
vai
ser
muito
pequenino,
pegar
numa
coisinha
daquelas tem-se medo. Vou ter medo disso, de dar banho, vesti-lo e mais
nada. Pronto, de comer não porque já é mais fácil, ele já está ao nosso
colo já é mais fácil, mas de resto não.
Mudou alguma coisa na tua vida?
Mudou, já não estou a estudar. São novas responsabilidades, já não posso
pensar só em mim, tenho que pensar no bebé. Vai ser difícil, mas bom.
1ª Entrevista - S3
O que é para ti ser mãe?
Ser mãe é ganhar novas responsabilidades contigo, é ser o que a minha
mãe foi.
Quando é que surgiu esse sentimento?
74
A partir do momento em que eu tive a certeza que ia ter o bebé. Já
comecei a ver as coisas de outra forma. Quando pego na barriga, quando
ele se mexe. Mas estou sempre saturada, com enjoos, são as hormonas,
chateio-me com tudo, só durmo.
Como é que foi a descoberta de que estavas grávida?
Fiz um teste, quando começaram os enjoos e o período não veio e eu fiz
um teste de farmácia que deu positivo.
Qual foi a tua reação quando soubeste que estavas grávida?
Foi chocante não é, não estava à espera, mas pronto. Ao princípio não
lidei bem com o facto de estar grávida, mas tive que aceitar.
Fiquei nervosa, fiquei a pensar. O primeiro pensamento que eu tive foi
que não o podia ter, porque não dava para ter. aconteceu o mesmo à minha
mãe e eu não queria estar a repetir comigo. Foi uma grande desilusão
para ela. Ela avisa-me sempre para ter atenção, coisas que aconteceram
com ela e que acabaram por acontecer comigo, mas depois pronto. Estava a
tomar a pílula e depois tive um golpe num dedo e tive uma infeção
urinária,
tive
de
tomar
antibióticos
e
foi
assim.
Não
usava
preservativo, estava a contar com a pílula.
Já alguma vez tinhas pensado ser mãe?
Não tão cedo.
Como é que te imaginas como mãe?
Espero ser o que quero ser. Dar o que a minha mãe me deu e o que achei
que faltou, basicamente. Faltou mais conversa, mas conversa mesmo. Não é
dizer, ‘‘faz isto ou faz aquilo’’, faltou conversa, porque se ela tivesse
conversado comigo eu não me fartava tanto de a ouvir e com ela a ralhar
e a mandar fazer coisas, eu não gosto, perco logo a vontade de falar com
ela. Mas se ela se sentasse comigo para conversar e explicar as coisas e
até eu tentar abrir-me de alguma forma. Vou tentar que com o meu filho
as coisas corram melhor.
Que tipo de dificuldades é que achas que vais ter?
Dificuldades..claro que não vai ser igual a antes e que vou sentir
muitas diferenças, mas acho que vai ser ultrapassado, espero. Já não vai
ser acordar e pensar em mim, agora vai ser acordar e pensar nele. No
75
inicio da gravidez vai ser acordar à noite e amamentar, claro que vai
ser complicado, não estou habituada a acordar a meio da noite para dar
de mamar, nem com choro, mas vai ter que ser não é. Acho que isso me vai
dificultar um bocadinho.
Mudou alguma coisa na tua vida?
Claro, claro que sim. Já não tenho a mesma rotina diária, claro. Já não
vou à escola onde ia, não é. Já não faço educação física como fazia, já
não tenho aulas como tinha, já não passeio como passeava. Mudou várias
coisas, os enjoos, o cansaço, não estava habituada, obvio.
É um bocadinho chocante ao inicio, não deve ter sido só para mim, mas
como
para
todas
as
mães
adolescente.
Todas
ou
quase
todas,
mas
ultrapassa-se.
1ª Entrevista - S4
O que é para ti ser mãe?
É preciso ter condições, é preciso também ter um homem. Ser mãe para mim
é importante, aprende-se muita coisa. Agente aprende muita coisa, por
causa dos nossos filhos.
Quando é que surgiu esse sentimento?
Foi quando eu estava com o pai do meu filho, estávamos bem e depois
olha, eu procurei ser mãe. Foi planeado por mim.
Como é que foi a descoberta de que estavas grávida?
Descobri por causa da menstruação, por causa dos vómitos, foi isso.
Qual foi a tua reação quando soubeste que estavas grávida?
Olha, eu fiquei muito feliz. Foi pena não ter sido na época que eu
planeei, mas olha, estou feliz na mesma.
Já alguma vez tinhas pensado ser mãe?
76
Já, mas não era agora. Era antes quando a vida estava bem melhor, mas
olha, aconteceu e fiquei feliz na mesma. Estou a gostar de ser mãe,
estou a gostar da ideia de ser mãe. Através disso também aprendi muita
coisa. Para mim, é a melhor coisa que existe é ser mãe e depois vem o
filho.
Como é que te imaginas como mãe?
Eu imagino tantas coisas. Por exemplo imagino como vou tratar a minha
filha, tratá-la bem, vesti-la bem, para ela estar sempre bem, cuidar
dela para ela estar sempre comigo. Estou muito feliz de ter a minha
filha, apesar de tudo.
Que tipo de dificuldades é que achas que vais ter?
Eu acho que nenhuma, nenhuma. Criar um filho pode ser até complicado,
mas isso depende das condições da vida. De resto, eu acho que vai correr
tudo bem.
Mudou alguma coisa na tua vida?
Mudou, mudou tantas coisas. Eu pensava diferente. Agora estou aqui na
Ajuda de Mãe e eu aprendi tantas coisas aqui. Antes, quando eu vivia na
casa da minha tia, fazia as coisas que eu queria, muita coisa que deve
ser e que não deve ser, que está certo ou errado. Mas agora não, agora
estou a aprender muita coisa, estou a estudar, que é coisa importante
também. Gosto de estar aqui, não por causa de mim, por causa da minha
filha que eu também estou aqui.
77
1ª Entrevista - S5
O que é para ti ser mãe?
Para mim ser mãe, ainda não tenho muito bem..não sei muito bem o que é
que é porque ainda não tive a minha filha. Mas acho que vai ser uma
experiência boa. Não sei o que posso esperar, não sei como vai ser, vaime trazer mais responsabilidades.
Quando é que surgiu esse sentimento?
Foi a partir do 5º mês ou 6º mês, mais ou menos. Eu no início não estava
muito consciente disso, foi uma coisa que não estava à espera. Pronto é
assim.
Como é que foi a descoberta de que estavas grávida?
Foi assustador, completamente assustador. Mas pronto, depois comecei a
consciencializar que tinha que ser mãe, porque eu quando descobri já não
podia mesmo fazer aborto, então, pronto teve que ser assim. Descobri uma
vez que estava na instituição e pensavam que eu estava com anemia e
fizeram me uns testes, mandaram me fazer análises e descobriram que eu
estava grávida, pronto foi assim. Depois tiveram que procurar outra
instituição para eu poder ficar e vim para aqui (O Vigilante).
Qual foi a tua reação quando soubeste que estavas grávida?
Foi muito má, foi muito má. Era uma coisa que eu não estava à espera.
Pensei
que a
minha vida tinha
ficado destruída, que
nunca
mais ia
conseguir realizar os meus sonhos. Sinto que tenho apoio, mas estou um
bocado balançada. Sinto me um bocado sozinha, apesar de ter muita gente
à
minha
volta
a
apoiar-me,
mas
sinto-me
sozinha.
Porque
mudei
de
instituição, foi conhecer novas pessoas
Já alguma vez tinhas pensado ser mãe?
Não, por agora não.
Como é que te imaginas como mãe?
Sei lá. Vai ser difícil, muito difícil. Mas se houver um pouco de
responsabilidade e um bocado de, sei lá, de não sei, de apoio, talvez eu
consiga mais facilmente do que se estivesse sozinha, se calhar.
78
Que tipo de dificuldades é que achas que vais ter?
Dificuldades, não sei. Sinceramente não sei. Não sei, em saber como
lidar, saber qual é que é o tipo de choro, para saber o que é que tem,
não sei. Acho que vai ser uma coisa muito difícil.
Mudou alguma coisa na tua vida?
Mudou, muita coisa.
2ª Entrevista - S1
O que é para ti ser mãe?
É complicado de dizer, mas é uma situação incrível, é algo que não
esperava que se passasse tão cedo, mas é fixe a sensação. É bom, é ser
exemplar, é tratar do meu filho, dar-lhe carinho, amor, entre várias
coisas. Mas eu só comecei a meter na minha cabeça que ia ser mãe, no
momento em que o tive no colo. Para falar a verdade foi desde o momento
em que comecei a sentir as contrações.
Quando é que surgiu esse sentimento?
Desde o primeiro dia em que eu o vi. Quando ele tava dentro da barriga,
ainda não tava bem intacta que ia ser mãe, mas depois quando ele nasceu
tudo mudou. Quando ele tava dentro da barriga eu pensava com quem é que
79
ele se vai parecer, como é que ele vai ser, se vai nascer gordinho, se
vai nascer magro, como é que eu me vou adaptar em ter uma criança, como
é que eu vou ter o horário na cabeça de quando ele acordar durante a
noite para mamar, várias coisas. Quais os cuidados que eu vou ter com
ele, como é que eu vou conseguir dar banho numa criança tão pequenina,
foi isso.
Como é que te descreves como mãe?
Sou uma mãe boa. Quando o tive nos meus braços pela primeira vez, foi
uma sensação incrível. Foi algo de outro mundo. Nunca pensei que iria
ter uma criança nos meus braços que fosse minha. Sempre cuidei de filhos
mas que não eram meus, eram das minhas amigas, então quando tive o meu
foi algo especial. Agora já não sou ninguém sem o meu filho, ele tem de
estar ao pé de mim.
Que tipo de dificuldades é que tens sentido?
Nenhuma, nenhuma. Eu até adaptei-me aos horários dele, agora que ele
mudou, foi fácil. Porque ele agora já dorme a noite toda, mas antes não,
acordava de três em três horas. Agora já não, mama às 23:00 horas, dorme
até as 6:00 horas mais ou menos, dependendo da mamada que lhe dou de
noite. Ao princípio tinha medo de o aleijar, tinha medo de o agarrar mal
e deslocar qualquer coisa, mas agora já não. só tive pena de não ter
sido eu a dar-lhe o primeiro banho depois do parto.
O pai do bebé está presente?
Sempre, em todas as consultas, quando estava grávida, quando ele nasceu
também estava lá. E agora também, estamos sempre juntos. Não vivemos
juntos mas costumamos estar sempre juntos. Ele é mais velho, tem 18 anos
e está a trabalhar.
Que tipo de apoio é que tens?
Agora estou a depender da segurança social, quando a segurança social me
manda
dinheiro,
como
ele
ainda
só
mama
eu
já
antecipo,
compro
já
bastantes fraldas e toalhitas. Eu antes comprava pacotes, mas agora
compro caixas, como a segurança social está a mandar o dinheiro mais
tarde. Tenho ajuda da minha avó, da minha mãe, do meu namorado. Eu vivo
com a minha avó, mas a minha mãe vive ao lado. Comecei a viver com a
minha avó tinha eu seis anos, porque a minha mãe trabalhava fora. Tenho
uma relação muito boa com a minha avó, é como uma mãe para mim, ela
ajuda-me muito, tudo o que eu precisar e se tiver dificuldades. Então
agora que o meu filho esteve doente, foi difícil para mim, porque eu não
80
esperava que ele adoecesse, ele ficou chocho, não mamava, bolsava muito,
depois estava com febre e eu não sabia o que fazer, se não fosse a minha
avó eu ficava ali sem saber. Ele teve quase uma semana cheio de febre.
Levei-o às urgências de noite, porque eu já não sabia o que fazer com
ele, entrei em pânico. A médica chamou-me, eu fui lá dentro e a médica
disse-me para eu não me preocupar que a febre que ele tinha era devido
ao tempo ter mudado, como estava bom tempo e de repente ficou mau, ele
então ficou constipado e acabou por ficar com febre. Ele estava muito
atacado, com o nariz muito tapado, a médica mandou-me ir fazer aerossol
com ele e fiquei no hospital, fiquei fiquei, ficámos a fazer aerossol e
depois a médica perguntou-me se eu achava que ele já estava melhor e eu
disse que sim, que ele já estava a respirar como deve ser e que ele já
estava bom. Depois a médica disse-me para ficar mais um bocadinho para
ver se a febre baixa ou se fica igual. Eu fiquei lá, a febre entretanto
começou a baixar, devido ao soro que eu estava-lhe a dar pela seringa,
depois eu fui ter com a médica e disse que para mim a febre já tinha
baixado, depois ela disse que me ia receitar benuron em supositório para
lhe ir dando de 8 em 8 horas e ir passando-lhe soro na cara ou então
fazer-lhe aerossol com soro. Depois fui para casa e a minha mãe tem
experiência já de grande, que ela teve contacto com gente mais velha,
gente da terra como nós dizemos, gente de Cabo Verde e então, a minha
mãe disse-me para ir pedir a um vizinho folha de eucalipto e arruda,
como ele tem a horta, eu fui-lhe pedir e fervi aquilo tudo junto e
depois dei-lhe banho com aquilo e então desde ai a febre passou. Agora
ele já está bom.
Com a minha mãe, antes a relação não era muito boa mas agora sim. Quando
eu fiquei grávida fiquei muito chata.
A Ajuda de Mãe, ajuda-me no bom sentido. Eu gosto da Ajuda de Mãe porque
eu posso estar nas aulas e posso estar com o meu filho, ele fica no
berçário que é no mesmo edifício e ajuda-me porque eu posso ter a minha
escolaridade. E no mau sentido é um bocadinho complicado porque nem
muitas coisas agente entende pelo computador. Agente entende melhor de
for mesmo na sala de aulas, mas pronto, é bom. Temos professor mas é
tudo pelo computador.
Os teus planos de vida alteraram-se?
Sim muito, antes de engravidar, eu estava no último ano de um curso de
cabeleireira e quando soube que estava grávida tive que desistir. Por
isso
deixei
o
curso,
tive
que
recorrer
à
Ajuda
de
Mãe para
poder
continuar na escola. Tive que voltar para trás da minha escolaridade. Eu
já estava no 9º ano e tive que voltar para o 7º ano, como o curso era de
dois
anos,
não
contou
e
tive
de
voltar
atrás,
sem
ficar
com
equivalência. As minhas colegas já estão a fazer estágio e tudo num
salão. Agora no próximo ano não tenciono estudar. O meu filho está a
crescer e eu não quero continuar a depender da segurança social, quero
81
arranjar um trabalho e como eu já vou fazer os 17 anos não vai dar para
estar a depender da segurança social. O Wilson vai crescer, vai precisar
de mais cuidados, vai precisar de roupa, de fraldas, se calhar vai
precisar de leite, de sopa, fruta, iogurte, certas coisas e o dinheiro
da segurança social é muito pouco para poder sustentar o meu filho, são
140 euros. Não é nada e as roupas dos miúdos agora estão bastante caras,
eu tive a ver e não compensa nada e então eu decidi chegar a um acordo
com a minha avó e a minha mãe. Eu este ano não estudo, vou ver se
arranjo um trabalho e vou trabalhar, mas se eu conseguir conciliar o
trabalho e a escola, eu tento estudar de noite, como lá ao pé de minha
casa temos uma escola das novas oportunidades, eu sempre posso fazer
isso e a minha mãe disse-me que fica com o meu filho, em vez de eu estar
a pagar uma ama ou uma creche, a minha mãe disse que ficaria com o meu
filho. Disse para lhe levar as coisinhas para ela fazer a sopa e isso,
porque a minha mãe também não pode estar a dar-me tudo, ela também tem
os meus irmãos para criar e um dele é pequeno. Eu na minha situação
estou a depender da segurança social, até para comprar as minhas coisas
e tudo, porque é um bocadinho difícil ter uma criança e estar sempre a
pedir ajuda às pessoas, então eu quero sempre ter a minha liberdade.
Quero tentar comprar as minhas coisas com o dinheiro, tentar fazer com
que o dinheiro chegue para certas coisas e quando não chega eu tenho de
pedir. Se eu entrar numa loja e comprar uma peça de roupa ou outra, o
dinheiro já foi. A roupa para bebé agora, as calças estão a 15 euros, os
casacos e camisolas, estão a 20 euros ou mais e é complicado. O Wilson
já está a crescer e eu não vou estar sempre a vestir-lhe as roupas de
agora porque vai crescer.
Desde que nos vimos, mudou alguma coisa na tua vida?
Sim, eu queria ser cabeleireira, mas não me aceitam em nenhum salão sem
ter o diploma, então tem gente que vai lá a casa, porque eu faço uns
biscates e elas sabem que eu sei fazer algumas coisas, como esticar o
cabelo,
pentear,
trançar,
meter
postiço,
fazer
brasileira
e
essas
coisas. Ligam-me para irem lá a minha casa pentear e como é óbvio, é
dinheiro que é para o meu filho e eu aceito. Mas espero vir a tirar o
curso de cabeleireira, eu vou ser a cabeleireira que eu quero e ter o
meu
próprio
emprego.
Eu
não
vou
desistir,
se
der
deu, se
não
der
paciência. Mas como ele vai começar a comer sopa, fruta, iogurtes e
essas coisas, vai-me ajudar, porque posso sempre arranjar o meu trabalho
e deixo o meu filho com a minha mãe e sei que ele vai estar em boas
mãos. Se o deixar numa creche, não conheço lá ninguém, nem sei o que é
que vão fazer ao meu filho, é difícil, é complicado. Eu no principio
também não
quis deixar o Wilson aqui, porque houve uma vez que ligaram
lá para cima para a sala e disseram-me que ele estava com fome e ele não
estava com fome, estava todo borrado e assou-se todo. Desde ai não
gostei nada, mas agora já estão a trata-lo bem, porque eu tive de fazer
82
queixa, eu disse à diretora que o Wilson estava todo assado e
que não
poderia ser. Depois ela avisou as outras que não podem chamar nenhuma
mãe para ir ao berçário sem verem antes a fralda. Daí tudo mudou.
Comecei a comprar as pomadas que o Wilson necessitava e passou e agora
todas as vezes que elas mudam-lhe a fralda, eu pedi-lhes para aplicarem
a pomada nele para ele não assar. É um protetor da pele que vai ajudar a
que ele não se asse tão rápido. As fraldas do hospital é que lhe fizeram
alergia, então eu comprei as Huggies quando eu estava grávida com o
dinheiro do pré-natal e muitas das roupas e toalhitas, mas ele não se
adaptou
às
toalhitas.
Depois
tive
de
comprar
Dodot
e
a
estas
ele
adaptou-se. Também lhe compro fraldas de pano, tem uma com o nome dele e
vou sempre comprando, é uma coisa que dá para usar sempre. Mas as
fraldas são muito caras, cada volume de fraldas etapa I, vinham só 62
fraldas e eram 20 euros, até doía comprar mas tinha de ser.
Mais nada mudou.
2ª Entrevista - S2
O que é para ti ser mãe?
83
Para mim o que é que é ser mãe… É uma boa… É começar a aprender na vida,
começar a ter responsabilidades, perante os nossos filhos, cuidar deles,
saber cuidar, saber educar, muita coisa. Eu estou a aprender a educá-lo,
estou a tirar algumas dúvidas que tinha. Para mim é bom. Pronto, tenho
de cuidar dele, dar de mamar, dar banho. Na outra entrevista, dissesteme que estavas com receio. Sim tinha, mas deixei de ter esses receios
todos, depois de ser mãe. Vi que era bom. Mas é difícil ser mãe, saber
cuidar, as preocupações, mas passou tudo.
Quando é que surgiu esse sentimento?
No
primeiro dia
em que
ele
nasceu,
logo.
Mesmo quando ele
nasceu,
meteram-no em cima de mim e foi logo. Senti me feliz, muito feliz,
gostei mesmo. Se pudesse voltava à maternidade, e muitas vezes eu digo
que tenho saudades da maternidade e tenho. Foi uma boa experiência que
eu tive na maternidade, pensava que ía sofrer, mas não, foi bom. Mas
estava à espera que ele nascesse dentro do tempo, ele estava para nascer
no dia 22 de Fevereiro e acabou por nascer no dia 21 de Janeiro, um mês
antes. Mas para quem nasceu prematuro está bom.
Como é que te descreves como mãe?
Ser séria. Apesar do meu feitio e do meu comportamento, perante o meu
filho está tudo normal. Não sou a melhor mãe que existe aqui, mas
pronto, todos os dias vou aprendendo com as monitoras e com as doutoras.
Mas fora isso, nada de mais.
Na altura mencionaste que não tinhas o apoio de mãe, não tens nenhum
familiar que te apoie?
Ter tenho, mas a família que tenho é a minha irmã só. Agora neste
momento estou sem falar com ela porque estou de castigo, mas ela vem me
cá visitar e ao sobrinho. Ela foi a primeira a ver o meu filho, ela e
avó dele da parte do pai. Mas ela (irmã) é que assistiu ao parto, o pai
não queria, estava com medo, coisas de homens.
Quer dizer que o pai está presente?
Está, o pai está presente. Ele vem cá visitá-lo com a mãe. Às vezes vem
a mãe sozinha e outras vezes vem ele sozinho. Mas quando pode ele vem. É
bom para o meu filho. Para mim não, eu já não estou com ele, separei-me
do pai do meu filho. Mas somos bons amigos.
Que tipo de dificuldades é que tens sentido?
84
Na amamentação só. Porque tem que haver uma hora fixa para ele e eu não
tenho conseguido fazer porque cada vez que ele tem fome, eu dou-lhe
sempre a mama e não pode ser. Tenho que lhe dar de 3 em 3 horas, porque
já não é aquele bebé que tenha de mamar de 2 em 2 horas. E eu não sou
capaz de deixar 3 horas. Agora dei-lhe de mamar às 9:20 horas e eu sei
que às 11:20 ele já tem fome, mas eu não posso, tenho de aguentar mais
uma hora para ele mamar. Ele quando está com a birra, eu não o consigo
deixar chorar muito tempo. Durante a noite ele faz um intervalo de 4/5
horas, mas durante o dia é que ele quer fazer um horário mais pequeno.
Como é que tem corrido a experiência?
Boa, muito bem.
Desde que nos vimos, mudou alguma coisa na tua vida?
Mudou muita coisa. Aprendi a perder o medo de falar com as pessoas
estranhas, mas apesar de tudo não falo o que vai na minha vida. Da outra
vez que falei consigo estava com vergonha, mas agora já passou. Quanto
ao nascimento do meu filho, estou a aprender a dar valor, a amar. A amar
a ele, às outras pessoas não, só ao meu filho. A aprender a amar e a dar
carinho, é a única pessoa a quem eu dou carinho, a mais ninguém. Posso
ser amiga das outras pessoas, mas amor a carinho só dou ao meu filho.
Porque ele é meu, sei que ele é meu e que as outras pessoas podem-me
virar um dia as costas e deixar-me e, como o meu filho sei que se lhe
der
amor
e
carinho
ele
não
me
vai
abandonar.
Tens
medo
de
ser
abandonada? Sim, deixar de poder confiar nas outras pessoas. No meu
filho não, eu sei que posso contar com ele para tudo.
Os teus planos de vida alteraram-se desde que engravidaste? Estás a
estudar?
Não, agora estou à espera do curso. Estou à espera da resposta do curso,
já estou encaminhada para um curso, mas estou à espera de saber quando é
que começa. É um curso profissional, de acompanhamento de crianças. Acho
que são 3 anos e é na Amadora. Podes ficar na residência por quanto
tempo?
Depende,
até
ter
condições,
mas
isto
é
temporário,
é
para
grávidas adolescentes. Mas a minha situação está um bocado complicada,
porque
ainda
não
tenho
estudos,
depois
se
começo
o
curso,
elas
(restantes colegas da residência) estão de férias e eu estou na escola.
Não tenho tempo nenhum para estar em casa e se tiver em casa é uma
semana de férias, mas pronto eu agora tenho de fazer o curso, ir para a
escola e acabar para dar uma vida melhor ao meu filho. Como lá fora não
lhe podia dar, preferi vir cá para dentro. Foste tu que escolheste vir
para a residência? Fui, fui falar com a minha assistente social e ela
85
depois
comunicou
com
a
Ajuda
de
Mãe,
mas
eu
já
tinha
feito
um
atendimento de psicologia, mas fui pedir outra vez ajuda porque a minha
vida estava mesmo a acabar. Se eu não tivesse pedido ajuda, eu e o meu
filho não estávamos cá. O meu filho não tinha nascido, tinha nascido mas
tinham-me retirado e eu tinha ido para outra residência, não para mães e
bebés,
tinha
ido
para
uma
residência
de
jovens.
Já
vivias
numa
residência? Não, morava na minha casa, em Almada. Na minha não, na casa
do meu pai, mas depois o meu pai quis vir viver para Lisboa e queria que
eu viesse, mas eu não vim, não queria vir para cá e não quero estar cá
em Lisboa. Só cá estou em Lisboa porque estou na residência. Eu não
gosto destas zonas, muito movimento e eu gosto de tranquilidade. Estou
habituada a estar na tranquilidade, cada vez que vou à rua só vejo é
carros e lá na minha zona não havia carros. Pronto havia carros, mas não
havia tanto movimento e faz me confusão. E depois também não queria que
o meu filho crescesse aqui, por exemplo, quando ele tiver dois anos, já
queria estar fora daqui. Estar aqui até o meu filho fazer um ano e
depois seguir a minha vida, só que estou a ver a minha vida complicada.
O pai do meu filho está a trabalhar mas não quer fazer nada, não quer
lutar. Estou a ver que a escola também nunca mais começa, está muito
complicado. Ficaste a viver sozinha em Almada? Sozinha não, fiquei com
os
padrinhos do
meu
filho. Depois
a madrinha dele
não podia ficar
comigo, porque tem uma doença que é a esclerose múltipla e, então, ela
disse: ‘‘Cátia, gosto muito de ti, gosto muito do Leandro, mas não posso
ficar
contigo aqui porque tenho
um
filho,
também, de
13
anos para
cuidar. Apesar de ele estar com o pai, a viver com o pai, o meu filho de
15 em 15 dias está cá em casa’’. Foi quando eu pensei na vida e decidi
pedir ajuda. Já tinha pedido, para roupas e isso para o meu filho, já
tinha feito o enxoval para ele, foi a Ajuda de Mãe que me deu. Depois
quando eu pedi ajuda foi logo as técnicas que me fizeram uma entrevista
e passado uma semana já cá estava. Fiz em Novembro a entrevista e a 5 de
Dezembro já cá estava, já tinha entrado. Só que é complicado e está a
ser complicado eu cá estar, porque não se tem liberdade nenhuma e há
muitas regras. Quero é que o tempo passe num instante para poder sair de
cá. Aqui, fico até aos 18 anos e depois não sei se vou para a de Paço de
Arcos ou para a de adultas. O meu filho depois já vai ter um ano e meio
e eu não quero estar aqui, já quero estar fora daqui. Porque não quero
que ele cresça aqui. Quero arranjar uma casa para viver com o meu filho,
mas para isso tenho que trabalhar e estando aqui na Ajuda de Mãe é
complicado. Podemos trabalhar, o problema é que praticamente eu quase
nunca saio de casa. Só saio às vezes para ir à Ajuda de Mãe, lá à Sede
em Alcântara ou para ir às consultas com o meu filho ou para ir às
minhas, ou para ir Às compras e não sei quê. Mas como é que, vou-me
inscrever num trabalho, mas se eu não posso sair de casa como é que eu
vou trabalhar, fico preocupada. Só quando eu sair do castigo e poder
começar a sair, começo a procurar trabalho, porque o currículo já tenho
feito, só me falta entregar. Já trabalhei antes de vir para cá, mas na
outra margem. Na outra margem é tudo mais fácil do que aqui em Lisboa.
86
Aqui
em
Lisboa
pedem
currículos
e
não
sei
quê,
lá
eles
não
pedem
currículo e eu consegui um emprego num restaurante. Já estava grávida,
mas não sabia, estava de 3 meses. Depois passado um mês fui fazer o
teste e pronto, a minha patroa mandou-me embora porque estava grávida,
não queria que eu continuasse lá porque depois era um prejuízo para ela.
Podia
acontecer alguma
coisa na
minha gravidez e
depois ser
ela
a
culpada e ela não queria. Ela disse: ‘‘Cátia, vais-te embora agora, tens
o teu filhote, estás os cinco meses com ele a que tens direito e depois
regressas outra vez’’. Mas depois, como é que eu ia. Eu queria voltar
para lá, mas como é que eu ia voltar para lá se não tinha casa onde
ficar com ele. E depois não tinha ninguém com quem o deixar. A minha
irmã trabalhava em Almada, eu morava na Charneca da Caparica, como é que
deslocava-me todos os dias. Tinha que me levantar às seis da manhã para
levar o meu filho lá para a creche onde está a minha sobrinha, era muito
complicado. Não seria possível ficares a viver com a tua irmã? Agora
não porque estamos chateadas, estamos as duas chateadas uma com a outra.
Quando a gente fizer as pazes…ela está a lutar por mim, acho que ela
ainda
continua
a
lutar
por
mim,
para
me
tirar
daqui,
só
que
é
complicado. Ela tem casa, mas o problema é que ela tem duas filhas e tá
com uma amiga em casa, é complicado. Elas dormem no mesmo quarto e as
filhas dormem no outro quarto e, é complicado eu estar lá e estar num
quarto com elas as duas e o meu filho com os bebés, é isso que elas não
querem. A minha irmã diz que vai arranjar uma casa com quatro quartos,
um para elas as duas, outro para cada bebé e um para mim e para o meu
filho, mas só que está complicado. Lá é
barato, só que elas estão
desempregadas. Uma está a trabalhar agora e a outra está desempregada, é
complicado ela arranjar casa agora. Mas eu disse a ela para continuar a
lutar por mim. O pai do meu filho também diz que está a lutar por mim.
Mas só que eu não quero ir viver com o pai do meu filho, para depois ele
um dia me manda embora, não. Prefiro ficar sozinha com o meu filho. Ele
agora quer que eu vá viver com ele, mas já me disseram as minha colegas
daqui, as que consigo falar e desabafar, por exemplo, a mãe daquele
bebé. Eu cada vez que falo com ela e digo-lhe que gosto muito do pai do
meu filho, mas não dá para ficar com ele. Ela pergunta porquê. E depois
ela explica-me, sabes porque é que os homens querem, querem ficar com a
gente para começar a ficarem com o dinheiro dos nossos filhos, para
poderem usar o dinheiro deles, para andarem a gastar e depois darem-nos
um pontapé no rabo e tu saíres de casa. E o filho ficar com ele. É isso
que eu não quero, não quero ficar com ele. Pronto ele é pai, sim senhor,
tem tanto direito como eu tenho, mas ficar com ele não fico. Ele pode
vir buscar, pode vir ver o filho, pode estar com o filho. Eu também
posso sair com eles, mas ficar com ele não fico. Lá no Hospital eu
disse-lhe, ficar contigo não fico, gosto muito de ti, mas ficar contigo
não fico.
Mas, os meus planos era estudar, tira o 12º ano ou o 9º ano e depois
começar a trabalhar e um dia mais tarde tirar a carta. Mas agora está
complicado, trabalhar, estudar e depois tirar a carta. Agora é que eu
87
tenho de pensar que tenho um filho, não posso fazer nada disto. Poder
estudar posso, trabalhar também, mas tenho de gerir o tempo dele. Tirar
a carta, se eu estudar, trabalhar ao mesmo tempo e a carta é complicado
para a minha vida. Mas tirar a carta era uma coisa que tu querias muito
para já? Era. Pronto já me disseram que eu posso começar a ir agora às
aulas, mas tirar mesmo a carta não posso ainda, só posso a partir dos 18
anos. Já me mandaram ir às aulas, para ter as aulas feitas, mas só que
eu disse que ainda era muito cedo e para já tinha um filho de 3 meses.
Na altura tinha dois meses e meio. E eles aconselharam-me, então olha
quando ele estiver grandinho com ¾ anos, pensa em tirar a carta e eu
disse, vou pensar tirar a carta mas primeiro tenho que ter o dinheiro na
mão. Não vou tirar a carta à toa, depois não tenho dinheiro para pagar e
eles disseram que fazia muito bem. O pai do meu filho agora também está
a tirar a carta. Por um lado é bom que ele tenha carta, depois seu um
dia eu tiver na minha casa e ele na dele e precisar de uma emergência e
ligar para ele, ele pega no carro pelo menos para se juntar comigo. O
que mudou também, foram as minhas saídas À noite. Pensei logo, pronto,
vou ter um filho, não posso ir sair. Para já não vou deixar o meu filho
com ninguém, só para ir sair. Primeiro está o meu filho e depois é que
está
as
noites.
Quando
ele
estiver
grandinho,
eu
penso
em
ir
à
discoteca. Ou no dia dos meus anos vou. Eu não saía muito, mas pronto em
festas de anos e não sei quê, eu ia. Mas depois diziam, para irmos ali
ou irmos ao HK e eu dizia, que não queria mas elas insistiam às vezes e
eu
ia,
mas
houve
muitas
vezes
que
eu
disse
que
não
porque
estava
cansada. Muitas vezes eu chegava da escola cansada. Eu fui uma vez à
discoteca, quando estava grávida mas não sabia, bebi e depois no dia a
seguir vomitei e fui fazer o teste e estava grávida. Disseram-me: ‘‘Você
está
grávida’’.
E
eu
fiquei
a
olhar
para
ela.
Será
mesmo
que
dá
positivo? E ela disse que tava dois risquinhos, é porque tava grávida. E
eu fiquei, olha a minha noite acabou e tinha aproveitado uma noite antes
de fazer o teste. E agora se eu quiser, se eu ainda cá estiver, nos meus
anos, em Outubro, peço a elas para sair. O meu filho aí já tem nove
meses, mais ou menos. O que eu tenho mais pena é que a minha juventude
acabou,
curtir
a
vida.
A
partir
do
momento
em
que
eu
entrei
na
maternidade e tive o meu filho, a minha juventude acabou. Agora é seguir
com a vida, com este miúdo.
Aqui na residência estás bem e tens tudo, tens apoio?
Sim, não me falta nada. Por um lado estou feliz por estar aqui, mas
pronto, aqui há muitas regras, não estou habituada a ter regras. Eu
antes entrava e saía à hora que eu queria e agora aqui tenho de estar às
19:00 horas em casa. Mas estou a gostar.
88
2ª Entrevista - S3
O que é para ti ser mãe?
Ser mãe para mim é melhor do que aquilo que eu pensava. Pensei que ía
ter mais dificuldades e o parto pensei que ia ser…ao princípio as dores
foram horríveis, mas quando ele nasceu já tinha esquecido todas as
dores. E pronto é…já não me imagino sem o meu filho, é uma coisa que uma
pessoa não tem noção antes de ter mesmo. Quem não é mãe não sabe o que é
o amor de mãe. O amor de mãe é sentir que pelo meu filho faço tudo,
qualquer coisa que…nem conseguir pensar que se algum dia fico sem ele ou
se algum dia acontece alguma coisa, tenho medo, dá medo. Mas é uma coisa
que sabes, que tentas fazer o máximo que consegues. Eu tento fazer o
máximo que consigo para ser a melhor mãe possível, para conseguir dar
tudo o que ele precisa ou mais. É ter vontade de satisfazê-lo, vontade
de não o ver doente, de não o ver mal.
Agora dou mais valor ao que a minha mãe fez por mim e faz. Agora sim dou
mais valor porque sei que não é fácil e que tudo o que ela fez foi a
pensar em mim e no melhor para mim e sei que, não sei se algum dia vou
conseguir devolver tanta coisa boa que a minha mãe fez por mim. Mas vou
tentar ao máximo ser com o meu filho, tão boa mãe como a minha mãe foi
para mim e continua a ser.
Quando é que surgiu esse sentimento?
Logo que ele nasceu. Estava cheia de dores, só queria que ele saísse e
despachasse aquilo, mas depois quando eu o vi, peguei nele, já nem
queria
saber
o
que é
que
me
estavam a
fazer.
Estavam-me
a
coser,
apertaram-me a barriga, já nem estava a ligar, só estava a olhar para
ele. A partir daquele momento esqueci tudo, as dores, as noites mal
dormidas, o tempo que fiquei lá, esqueci tudo. Podia fazer tudo outra
vez, só para ver ele a nascer outra vez. Fiquei no hospital durante uma
noite, fui internada na sexta-feira a tarde, à uma e ele só nasceu às
cinco da tarde de sábado, ainda foi um bom tempo, algumas horas, mas
valeu a pena.
O pai da criança está presente?
89
Está, eu namoro com ele e ele vê o filho todos os dias. Mas não vivemos
juntos, ele tem 18 anos e vive com os pais dele e eu com a minha mãe e
irmãos. Mas ele está sempre comigo, todos os dias. Ele deixou de estudar
e conseguiu arranjar trabalho. Mas ele só tem o 9º ano e tem o curso de
gestão e felizmente ele está a trabalhar na área, numa empresa. Ele
ganha bem para nós que ainda não temos casa e não temos despesas para
pagar. Dá para nós, para ele, para mim e para o meu filho, mas depois
vai ser mais complicado quando arranjarmos uma casa para nós, já vou ter
que estar a trabalhar também, quando acabar o meu curso e se deus quiser
a faculdade. Mas ainda não quero sair de casa, é difícil deixar a minha
mãe. Todos os dias, eu saio da escola e ele sai do trabalho à mesma hora
e apanhamos o mesmo comboio, depois vamos para casa e ele fica lá um
bocadinho e depois vai para casa dele e é sempre assim. Esteve comigo no
parto, dormiu lá comigo.
Como é que te descreves como mãe?
Sou uma boa mãe, sou uma mãe galinha. Sou uma boa mãe. Pelo menos tento
sê-lo.
Que tipo de dificuldades é que tens sentido?
Dificuldades, dificuldades é conciliar a escola com o ser mãe, é um
bocado
complicado.
Claro
que
nós
quando
acordamos,
há
dias
que
dá
vontade de irmos passear com os nossos filhos, ou ficar em casa com os
nossos
filhos,
mas não
pode
ser,
temos
de
vir
para
a
escola
para
conseguir o que queremos, para poder um dia, ter essa vontade e ir, sem
nenhuma preocupação. De resto, não tenho tido nenhuma dificuldade, é um
bebé que se porta bem e só chora quando tem fome. Teve uma bronquiolite
e à noite no inverno tinha sempre o nariz entupido.
Que tipo de apoio é que tens?
Tenho o apoio da minha mãe em casa, os meus irmãos são mais novos. Mas
tenho uma irmã que me apoia, ela tem 15 anos, mas vive em Inglaterra com
o meu pai. Tenho dois irmãos só da parte do meu pai, a menina de 15 anos
e um bebé de dois anitos. Mas apoio do meu pai não. Desde que…eu ia a
Inglaterra uma vez por ano para casa do meu pai, nas férias de verão e
quando estava grávida ainda estive lá, mas quando cheguei cá, o meu pai
descobriu que eu estava grávida e ele nunca mais voltou a falar comigo,
nunca mais quis falar, por estar grávida. Depois das coisas que ele me
disse também não tentei falar mais com ele. Não faz muita diferença,
porque também nunca tive grande apoio dele, só o via uma vez por ano e
ele
não
ligava
para
perguntar
se
estava
tudo
bem,
praticamente
só
falávamos uma vez por ano, que para mim não é nada. Só para cobrir o
tempo que ele tinha ficado sem dizer nada, sem dar nada para a minha mãe
90
e sem dar nada para mim, por isso não há muita diferença falar com ele
ou não falar. Mas continuo a falar com a minha irmã.
Desde que nos vimos, mudou alguma coisa na tua vida?
A responsabilidade. Agora tenho de pensar que não posso ir tarde para
casa porque está frio e tenho o meu bebé, tenho de tapá-lo, tenho de
levar certas coisas sempre antes de sair de casa, tenho de lavar a roupa
dele. Quando ele suja umas collants ou um babete, tenho de ir logo pôr
de molho, tratar das coisas dele. Ainda não tinha essa responsabilidade
toda. Eu sempre fui muito paparicada pela minha mãe, por isso não fazia
muita coisa em casa, não tratava da roupa, coisas que faço agora. Posso
ter a ajuda da minha mãe, mas ela já trabalha, não a quero cansar.
Eu agora acordo trato de mim e do meu filho e depois apanhamos o comboio
para vir para a escola, eu vou para as aulas e ele fica no berçário. Eu
entro às 9:30 horas e depois saio às 17:00 horas. Mas ontem saí às 13:30
horas e amanhã supostamente saía às 17:45 horas, mas é feriado, é um
horário escolar normal. Há dias em que ficamos sem tempo, vamos para
casa já cansados, já não temos assim grande tempo para fazer muita
coisa. Dou-lhe banho, a minha mãe ajuda-me noutras coisas. No banho não,
eu sou muito…quando quero uma coisa tenho que fazer eu. Quando saí da
maternidade tinha que ser eu a dar banho, estava cheia de dores mas
tinha que ser eu, queria dar banho, queria mudar a fralda, não queria
sobrecarregar muito a minha mãe e também queria matar essa curiosidade.
Por isso quem dá banho sou eu, só às vezes se eu estiver a dormir, ela
aproveita e eu durmo mais tempo enquanto ela cuida do meu filho. Depois
eu acordo e é só tratar de mim e vamos embora que ela sai ao mesmo
tempo. E às vezes eu chegava atrasada.
Os teus planos de vida alteraram-se desde que engravidaste?
Não, não mudaram. Continuo a estudar e vou continuar. Nada se alterou,
continuo com os mesmos objetivos. Que são acabar o 12º ano, entrar na
faculdade. Quero tirar arquitetura mas estou a pensar com um filho,
estudar arquitetura, já ouvi dizer que é complicado. Perder um ano, é
complicado, mas tenho que ver, na altura vejo.
91
2ª Entrevista - S4
O que é para ti ser mãe?
É uma sensação tão grande, eu gostei muito de ser mãe. Gosto muito da
minha filha. Não sei explicar, mas é tão bom. Ser mãe é cuidar da minha
filha,
dar-lhe
educação,
amá-la,
dar
carinho.
Eu
já
aprendi
muitas
coisas com a minha filha. Aprendi a ser adulta, a ter responsabilidades.
Aprendi a cuidar da minha filha, a ser uma mãe responsável. Ser uma
pessoa correta, sem fazer besteiras, porque eu antes fazia muitas, mas
agora já não estou a fazer por causa da minha filha.
Quando é que surgiu esse sentimento?
Quando a bebé nasceu. Gostava de estar grávida, estava contente, mas
agora é melhor. Sofri tanto quando ela nasceu, primeiro fui para o
hospital parir a minha filha e depois voltei para cá, para a Residência.
Depois apanhei uma infeção no útero e fui internada no hospital, mas a
minha filha ficou lá comigo e depois correu tudo bem. Mas de resto está
tudo bem graças a deus. Os primeiros tempos foram complicados, mas
estava feliz de ter a minha filha.
Que tipo de dificuldades é que tens sentido?
92
Nenhuma. É que eu já criei os meus sobrinhos, quando vivia em casa da
minha irmã e da minha mãe em Cabo Verde, mas ainda não tive dificuldades
de criar a minha filha. Quando ela está doente ou algumas coisas que eu
não sei, eu pergunto-me elas na Residência ajudam-me. Mas quando ela
chora eu já sei mais ou menos, ou é fome ou é calor. Ela dorme comigo às
vezes e outras vezes dorme no berço ao meu lado. Ela também está a
desenvolver bem, eu dou de mamar.
Sentes que tens todo o apoio de que precisas?
Sim, eu na Residência tenho tudo para mim e para a minha filha. Quer
dizer, tudo não, mas também não vou dizer o que é.
A tua família aceitou a gravidez?
A minha tia não, mas a minha mãe agora sim. Eu vivia em Cabo Verde com a
minha mãe, irmã e avós. Depois vim para Portugal para conhecer o meu
pai, vim sozinha, tinha 14 anos. Conheci-o e gostei dele, mas não correu
muito bem porque ele não para e então não cheguei a viver com ele.
Fiquei a viver com a minha tia cá, não voltei para Cabo Verde. Depois
quando fiquei grávida, a minha tia não aceitou e então tive que vir para
a Residência. Eu vou falando com a minha mãe por telefone, ela diz que
está com saudades minha e eu também tenho saudades da minha mãe. Mas vou
primeiro acabar o meu estudo, porque continuo a estudar e quer ter o 12º
ano feito, depois volto para Cabo Verde, que eu quero viver lá.
O pai da bebé está presente?
Aqui em Portugal ele não está. Ele está em Cabo Verde, vive lá e é
cantor, mas já registou a miúda. Desde que ela nasceu só a viu uma vez,
mas liga-me muitas vezes para saber como está a bebé.
É difícil não estar com ele, porque nós não estamos juntos, mas vai
passar. Desde que esteja com a minha filha tudo passa. Dói muito, dói e
é um bocado difícil, porque gosto muito dele, mas a minha filha está em
primeiro lugar.
Desde que nos vimos, mudou alguma coisa na tua vida?
Mudou muita coisa. A minha vida está igual mas mudou muita coisa. Mudou
o meu comportamento, mudou a minha rotina, já não entro e saio de casa
às horas que quero, agora tenho horários, já não saio para a discoteca
como antes, agora tenho de pensar na minha filha. Mas é bom, a minha
filha é mais importante.
Os teus planos de vida alteraram-se desde que engravidaste?
93
Mudaram, mas eu continuo a fazer as minhas coisas e vou lutar por aquilo
que eu quero. Continuo a estudar que era uma coisa que eu queria muito e
vou continuar na Residência por agora. Depois quero arranjar uma casa
para mim, para a minha filha e para o pai da minha filha, em Cabo Verde.
Não quero ficar aqui, gosto mais de estar lá, é muito diferente. Aqui
não é como eu pensava. Mas é só isso, não tinha mais planos.
2ª Entrevista - S5
O que é para ti ser mãe?
É bom, é uma experiência ótima. É…não sei explicar, é uma emoção. Não
sei, não sei mesmo! Eu, quando ela nasceu, quando olhei para ela fiquei
tipo…não sabia o que fazer, não sabia se havia de chorar, se havia de
rir. Foi tão bom. E agora pronto, exige algumas dificuldades, porque só
94
agora é que estou a aprender, mas tem sido uma experiência boa. É uma
criança saudável, não tenho razões de queixa. Mas qual é que achas que é
o teu papel como mãe? É cuidar da minha filha, é ter responsabilidades
sobre ela, amá-la, tanta coisa. É uma coisa inexplicável, não dá mesmo
para descrever. Eu agora sinto que tenho alguém para cuidar, que amo
mesmo de verdade. Alguém que vai estar sempre na minha vida até ao fim
dos meus dias. Mais do que isso não sei.
Quando é que surgiu esse sentimento?
Foi logo quando ela nasceu. Eu já me estava assim a adaptar, mas não era
a mesma coisa porque ela estava dentro da barriga, não sei não dava para
ter aquele sentimento que é uma criança, não dava. Só quando ela nasceu
é que deu me mesmo para…não sei, foi bom. Ela estava cá dentro e ainda
não me tinha mentalizado muito bem, não sabia o que seria e agora já
sei. Eu antes achava que tinha ficado com a vida destruída, mas agora
não é bem assim. Apesar de ter tido a minha filha, eu posso continuar a
fazer as minhas coisas. Eu pensava que a minha vida ia parar ali e não
ia sair dali, mas agora não penso a mesma coisa, só que claro que agora
vou ter de adiar os meus planos.
Como é que te descreves como mãe?
É difícil. As más noites é horrível, mas a minha filhota até não me dá
más noites, é uma criança muito calma. É capaz de dormir a noite toda
desde que nasceu. Quando estava no hospital não, porque tinha outro bebé
no mesmo quarto que eu e, enquanto ele chorava a minha filha dormia e
quando
ele
se
calava
a
minha
filha
chorava.
Estive
dois
dias
no
hospital, foram aquelas 48 horas e depois fui-me embora, como foi de
parto normal, foi muito fácil durou 3 horas mais ou menos. Ela nasceu às
3:55 horas, eu fui para o hospital eram 23:00 horas, quase meia noite e
depois ainda tive que estar à espera (risos), porque não tinham vagas e
eu tive que ficar à espera a sofrer, mas pronto depois correu bem. Mesmo
assim o que me custou mais foi levar a epidural, porque nós não nos
podemos
mesmo
mexer,
temos
de
ficar
quietinhas,
não
podemos
nem
tremelicar, ficar bem quietinhas para nos darem a injeção, foi o que me
custou mais, depois o resto foi fácil.
Que tipo de dificuldades é que tens sentido?
Dificuldades, não sei. Sinceramente não sei. Não sei, em saber como
lidar, saber qual é que é o tipo de choro, para saber o que é que tem,
não sei. Acho que vai ser uma coisa muito difícil.
Desde que nos vimos, mudou alguma coisa na tua vida?
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Mudou. Primeiro, tenho a minha filha cá fora, tenho a responsabilidade
de cuidar dela. Sei lá, a minha relação com a minha mãe não era muito
boa e agora parece que de um momento para o outro as coisas ficaram
lindamente. Agora vejo a minha mãe com alguma frequência, ela vem-me
visitar e antes raramente vinha, veio só uma vez. Agora quando ela
nasceu já veio mais vezes, até me foi ver ao hospital. Como é que a tua
mãe ficou a saber que estavas grávida? Foram as técnicas da instituição
onde eu estava que lhe contaram, porque eu nessa altura estava na escola
e depois foi muito complicado porque ficou um bocado chateada na altura,
mas depois passou-lhe. E tens mais alguém que te venha visitar? Tenho
um irmão mais velho que me vem ver às vezes e tenho outra irmã mais
velha mas não conheço. E pronto, tenho pessoas que me apoiam e tudo.
Quando estavas na outra instituição passavas algum tempo com a tua mãe?
Passava fins-de-semana, mas não vivia com ela. Estava na instituição
desde os 6 anos, por isso é que já era praticamente a minha casa e
custou-me um bocado vir para aqui, mas nós temos de nos adaptar a novas
coisas, tal como eu me estou a adaptar à minha filha e já me levou 3
meses.
Como é que tem corrido a experiência? Para além de tudo o que me
disseste, o que é que achas que podes acrescentar?
Na altura senti-me muito sozinha, com a mudança de instituição, mas
agora já me adaptei, já cá estou há seis meses.
A minha filha agora já começa a sorrir, às vezes estamos só a olhar para
ela assim com cara séria e ela ri-se, não sei que piada é que tem, mas
pronto. Agora é que ela tá a começar, mas é bom. Dou-lhe de mamar e doulhe suplemento, porque ela no início engordou, mas recuperou muito bem,
normalmente é uma semana, duas semanas, mas foi só os cinco dias, perdeu
e recuperou logo e passado uns tempos começou a engordar só 100 gramas e
então tive que pôr o suplemento e amamentar ao mesmo tempo. É mais
difícil, porque durante a noite tenho que me levantar da cama e ir fazer
o leite e depois voltar para a cama, depois dar-lhe o leite, pronto é
mais complicado, mas tenho de me adaptar. Tens um quarto só para ti e
para a tua filha? Sim, só nós as duas.
Os teus planos de vida alteraram-se?
Sim, muito. Agora para estudar é um bocado difícil, se bem que eu
gostava mesmo de estudar, mas tem que ser. Agora vou ter que procurar
trabalho, no máximo posso ficar na instituição dois anos, mas como não
posso continuar a estudar porque normalmente os cursos são de 3 anos,
não dá para fazer. Eu estava a fazer um, então tive que parar e agora
tenho
de
arranjar
trabalho.
Depois
quando
voltar
para
casa,
posso
continuar no trabalho e estudar outra vez. Vais ter de procurar casa?
96
Não, para mim não porque tenho a minha mãe, agora há outras raparigas
que sim, que vão ter de procurar casa mas eu não. Por enquanto ainda
tenho essa benesse de ir viver com a minha mãe. E agrada-te? Sim.
Viveste muito pouco tempo com a tua mãe, não foi? Sim, também não
convivíamos muito, por isso é que às vezes haviam algumas discussões
quando estava na instituição, mas pronto. E o que é que gostavas de
estudar? Comunicação e Marketing, que era o que eu estava a estudar.
O pai do bebé está presente?
Não, não está e nunca esteve. Infelizmente nunca esteve e, por causa
disso tenho de fazer o teste de paternidade porque ele não aceita de
maneira nenhuma, mesmo sabendo que a filha é mesmo dele, ele não aceita,
ele não quer aceitar. Era teu namorado? Era, namorámos durante muito
tempo. Mas eu só descobri que estava grávida passado 5 meses de nós
termos acabado, é normal que ele também tenha ficado assim, mas ele
sabe, ele no fundo sabe, porque fazendo as contas como deve ser dava
certo, mas pronto. Ele ficou a pensar se deveria acreditar ou não, ele
lá acreditou na altura, mas agora, não sei. Ele já viu a bebé? Não, não
viu. Deve ter visto por fotografias, porque uma tia dele, com quem ele
morava
e
com
o
pai
também,
pediu-me
fotografias
dela,
até
está
interessada e já lhe deve ter mostrado mas pessoalmente não, não viu
ainda. Ele é mais velho? É, é mais velho um ano. E estuda? Sim, não
agora não está a estudar. Agora está a trabalhar se não me engano.
Entretanto pode ter voltado a estudar, mas não sei. Na altura, ele
estava a estudar. E como é que te sentiste, com a falta de apoio da
parte dele? Eu, tenho de viver a minha vida, se ele quiser aceitar a
filha aceita, se não quiser, o que é que eu posso fazer! Não o posso
obrigar.
Que tipo de apoio é que tens?
Tenho a instituição, tenho da minha mãe do meu irmão, dos meus colegas,
de
toda
a
gente
praticamente,
toda
a
gente.
Não
pago
casa,
nem
alimentação. Dão me tudo para o bebé, não me falta nada nada. Estou
feliz. Às vezes dá-me um bocado de trabalho e ando muito cansada, porque
ela acorda-me durante a noite, não eu é que tenho de a acordar porque
ela não acorda, então tenho de a acordar para ela beber o leite, ela não
acorda e esta noite ela acordou, foi porque ela se arranhou, com as
unhas arranhou a cara e fez sangue, é que sou eu que lhe corto as unhas
mas faz muita impressão, aqueles dedos tão pequenos, mas pronto.
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Orientador de Dissertação: PROF.ª DOUTORA ÂNGELA VILA