Departamento de Matemática APLICAÇÕES CONFORMES E GEOMETRIA HIPERBÓLICA PLANA Aluno: Daniel Carletti Orientador: Ricardo Sá Earp Introdução Estudou-se as Aplicações Conformes, dando foco para as Transformações de Möbius e Inversões com respeito a círculos e retas. Depois, aprofundou-se na teoria da Geometria Hiperbólica Plana. Objetivos Estudar um campo que envolve a Análise Complexa e Geometria Diferencial, e aprofundar-se nesses dois assuntos enquanto se aprende um tópico que não é abordado com muito foco na grade de graduação (Geometria Hiperbólica Plana). Metodologia O estudo começou com a definição de aplicação conforme. f : U C C é uma aplicação conforme, caso ela preserve os ângulos e orientações. f : U C C é uma aplicação holomorfa, caso z U , f ( z ) exista. Considere f : U C C holomorfa e f ( z ) 0 z U , então f é uma aplicação conforme. Para demonstrar isso usamos a regra da cadeia da derivada complexa. Demonstração: considere duas curvas e U , tais que (0) (0) , (0) 0 e (0) 0 . (0) ) e entre as curvas O ângulo entre as curvas e no ponto (0) (0) é igual a arg( (0) ( f )(0) ) . Pela regra da cadeia, f e f no ponto f (0) f (0) é igual a arg( ( f )(0) (0) f ( (0)) , como (0) 0 e tiramos que o segundo ângulo é igual a arg (0) f ( (0)) f ( (0)) 0 , temos que o argumento desse número complexo está bem definido. Como ( f )(0) (0) f ( (0)) (0) arg arg , arg ( f )(0) (0) f ( (0)) (0) demonstrando que f é uma aplicação conforme. Com uma base básica de aplicações conformes podemos agora estudar as Transformações de Möbius ou Transformações bilineares. Essas funções na geometria hiperbólica plana são importantes, pois todas as isometrias são desse tipo. As Transformações de Möbius são da seguinte forma: az b w T ( z) , a, b, c, d C ad bc 0 cz d A transformação está bem definida para todo ponto de C , com exceção de ∞ e d c (c 0) . Se c 0, então T () , caso c 0, T () a / c e T (d / c) Pode-se facilmente calcular a inversa dessa função que é outra Transformação de Möbius: (0) (0) , conclui-se que Departamento de Matemática dw b cw a Além disso, T 1 () , se c 0 e, caso c 0 , T () d / c e T (a / c) . O que mostra que toda transformação de Möbius é uma bijeção do plano complexo estendido ( C {}) em si mesmo. Em seguida foi analisado que as Transformações de Möbius são aplicações conformes. Caso z d / c e z , a derivada T (z ) está bem definida, logo a função é holomorfa e, portanto, conforme nesses pontos. Caso z , w 1 / z 0 e T ( w) (bz a) /(dz c) , que tem derivada bem definida T (w) (bc ad ) /(dz c) 2 0 quando w 0 e c 0 , se c 0 a aplicação não teria problema na derivada, logo é conforme em w 0 e z . Caso z d / c , w 1 / T ( z ) tem derivada bem definida w (bc ad ) /(az b) 2 e diferente de zero quando z d / c . Conclui-se que todas as aplicações de Möbius são aplicações conformes. Vamos mostrar que a seguinte equação Az z Bz B z C 0 , com A, C e z T 1 ( w) AC B representa um círculo ou uma reta no plano complexo e toda reta ou círculo podem ser representado dessa forma. 2 Todo círculo pode ser representado pela equação z z 0 R 2 , onde z0 é o centro e R 2 é o raio. Expandindo essa equação obtemos z z z z 0 zz 0 z 0 z 0 R 2 0 e, depois, multiplicando essa equação por A 0 e fazendo B Az 0 e C A( z 0 z 0 R 2 ) , obtemos que o círculo pode ser representado pela equação Az z Bz B z C 0 e respeita a desigualdade 2 AC B . Fazendo o processo inverso, podemos vemos que qualquer equação da forma Az z Bz B z C 0 com A 0 e AC B raio por 2 representa um círculo com centro B / A e ( B AC ) / A 2 (aqui vemos explicitamente o porquê da desigualdade AC B 2 2 ser necessária). Vamos mostrar que, quando A 0 , a equação Bz B z C 0 representa uma reta. Uma reta do plano complexo pode ser representada por z z 0 tv , onde z0 é um ponto da reta, v é um vetor paralelo à reta e t é um número real. Trabalhando um pouco com essa fórmula obtemos: ( z z 0 ) / v t . Como t é real, também podemos dizer que ( z z 0 ) / v t . Assim obtemos: ( z z0 ) / v = ( z z0 ) / v , que pode ser escrito da forma vz v z z 0 v z 0 v 0 e multiplicado por i fica v iz v i z ( z 0 v z 0 v) i 0 . Igualando B vi e C ( z 0 v z 0 v) i (perceba que B v i e C é real, pois z0v z0 v é imaginário puro), temos que a equação fica da forma Bz B z C 0 . Fazendo o processo inverso toda equação da forma Bz B z C 0 equivale a uma reta com diretor igual a B vi e ponto inicial igual a C /(B B) . Demonstraremos que as Transformações de Möbius levam círculos ou retas em círculos ou retas. Se c 0 , então podemos dividir o numerador e o denominador por c para az b transformar em outra transformação equivalente da seguinte forma: T ( z ) . Perceba zd b ad que a operação pode ser escrita da seguinte forma: a . Considere as seguintes zd operações: T1 ( z) z d , T2 ( z) 1 / z, T3 ( z) (b ad ) z, T4 ( z) z a . É fácil perceber que Departamento de Matemática T ( z) T4 T3 T2 T1 ( z) , então para provar que as Transformações de Möbius com c 0 levam círculos e retas em círculos ou retas, só precisa mostrar que as operações do formato T ( z ) az, T ( z ) z a e T ( z ) 1 / z levam círculos ou retas em círculos ou retas. A operação T ( z ) z a claramente leva círculos ou retas em círculos ou retas, pois essa operação é uma translação no plano complexo. A operação T ( z ) az é uma homotetia com uma rotação em torno da origem, então também tem a mesma propriedade. Para perceber que a operação T ( z ) 1 / z , considere um círculo ou uma reta representado pela equação Az z Bz B z C 0 , tal que AC B . Depois dos pontos desse conjunto passarem pela transformação w 1 / z eles irão satisfazer a seguinte equação A Bw Bw Cww 0 , que também representa um círculo ou um reta (Para perceber isso divida a equação original por z z ). Caso c 0 , a operação é da forma T ( z ) az b , logo também leva círculos ou retas em círculos ou retas. az b Também foi importante estudar os pontos fixos dessas operações. Fazendo z, cz d descobriu-se que os pontos fixos (diferentes de infinito) satisfazem 2 cz (d a) z b 0 (caso c 0 , infinito é ponto fixo). Analisando todos os casos, percebeu-se que uma transformação diferente da identidade ( T ( z ) z ) possui um ou dois pontos fixos (incluindo ), logo uma transformação pode ser determinada pela imagem de três pontos e uma transformação com três ou mais pontos fixos deve ser a identidade. Seguidamente foram calculados todos os mapas conformes do círculo unitário em si mesmo. Para tal, necessitou-se do lema de Schwarz: seja f : D D , onde D é o disco unitário centrado na origem e tal que f (0) 0 , tem-se que f ( z ) z , z D e f (0) 1 , 2 caso f ( z ) z para algum número diferente de zero ou f (0) 1 , tem-se que f ( z ) az com a 1 . Suponha f : D D um mapa conforme, tal que f (0) p , defina a transformação g ( z ) ( z p) /( z p 1) ( g ( p ) 0 e g é um mapa conforme do disco unitário aberto). Considere h( z ) g f ( z ) (tem-se h(0) 0 ). Utiliza-se o lema de Schwarz: h( z ) z , porém essa função tem inversa ( f e g são mapas conformes de Assim, temos D em D ), logo h 1 ( z ) z . h( z ) z , portanto, pelo lema de Schwarz, h( z) e i z . Concluindo: f ( z ) g 1 (e i z ) (e i z p) /(e i z p 1) e i ( z pe i ) /( ze i p 1) . Fazendo pe i z 0 , percebe-se que f ( z ) e i ( z z 0 ) /( z z 0 1) . Logo, conclui-se que todo mapa conforme de D em D é da forma ei ( z z0 ) /( z z0 1) com z 0 1 e, como toda função da forma anterior é uma bijeção de D em D e uma operação conforme, toda função desse formato é um mapa conforme. Também se podem escrever essas operações da seguinte maneira: (az c) /(cz a) , aa cc 1 . Para perceber isso, faça: f ( z ) e i ( z z 0 ) /( z z 0 1) (e i / 2 z z 0 e i / 2 ) /( ze i / 2 z 0 e i / 2 ) z0 z0 1 Departamento de Matemática e i / 2 z e i / 2 e i / 2 z 0 e i / 2 f ( z) z 0 / z e i / 2 z 0 e i / 2 Fazendo b ed , obtém-se: f ( z ) (bz d ) /(dz b) , com bb d d 1 Finalmente para achar a forma pretendida, multiplique o numerador ou denominador por i e faça a bi e c di , obtendo: f ( z ) (az c) /(cz a) , com aa cc 1 Depois de caracterizar bem quais são os mapas conformes do disco, nosso objetivo foi verificar quais eram os mapas conformes do semi-plano superior em si mesmo. Para tal, foi necessário entender a Transformação de Cayley. z i T ( z) z i Essa é um função que é uma bijeção do semi-plano superior no disco unitário centrado na origem. Primeiro, percebe-se que essa operação leva a reta real no círculo de raio e centro na origem. 0i 1 i T (0) 1 , T (1) i e T () 1 0i 1 i Como essa é uma Transformação de Möbius, ela leva círculo ou retas em círculos ou retas. Então a reta real será levada no círculo que passa por -1, -i e 1, que é o círculo unitário centrado na origem. Também perceba que ela leva um ponto no interior do semi-plano em um ponto no interior do disco. Seja z um número complexo pertencente no semi-plano superior, ou seja, Im( z ) 0 . ( z i ) /( z i ) , É fácil perceber que Re( z i ) Re( z i ) e Vamos estudar Im( z i ) Im( z i) , logo z i z i z i / z i 1 . Como a Transformação de Cayley é uma bijeção de C {} em C {} , leva o interior do semi-plano no interior do disco e leva a fronteira do semi-plano na fronteira do disco, mostra-se que essa operação é uma bijeção do semi-plano superior no disco unitário centrado na origem. Com essas informações é possível caracterizar os mapas conformes do semi-plano superior em si mesmo. Suponha f : H 2 H 2 ( H 2 {z C, Re( z) 0} ) uma transformação conforme. Defina T ( z ) ( z i) /( z i) e g ( z) T f T 1 ( z) , logo g é uma transformação do disco unitário em si mesmo e é da forma g ( z ) (az c) /(cz a) , com aa cc 1 . Pode-se obter a forma de f : f ( z) T 1 g T ( z) z i z 1 (a c) z (c a)i , T 1 ( z ) i e g T ( z) . T ( z) z i z 1 (a c) z (a c)i (a a c c) z i (a a c c) f ( z ) T 1 g T ( z ) i (a a c c) z i (a a c c) (2 Re(a) 2 Re(c)) z i(2i Im( a) 2i Im( c)) (Re(a) Re(c)) z (Im( a) Im( c)) f ( z ) i (2i Im( a) 2i Im( c)) z i(2 Re(a) 2 Re(c)) (Im( c) Im( a)) z (Re(a) Re(c)) Com Re(a) Re(c) , Im( a) Im( c) , Im( c) Im( a) e Re(a) Re(c) . Departamento de Matemática z , com , , , e 1 z Falta demonstrar que toda função dessa forma é um mapa conforme de H 2 em H 2 . az b Seja f : C {} C {} f ( z ) , com a, b, c, d e ad bc 1 . Considere cz d z H 2 , vamos provar que f ( z) H 2 . 1 az b a z b (ad bc)( z z ) 2i Im( z ) Im( z ) Im( f ( z )) 0 2 2 2 2i cz d c z d 2i cz d 2i cz d cz d Obtém-se que f ( z ) Logo, f ( z ) H 2 . Durante a iniciação científica foi definido qual era a métrica hiperbólica. Vamos definir T H 2 como sendo o espaço tangente de H 2 no ponto z 0 , ou seja, o conjunto de z0 vetores de 2 com ponto base z 0 . Agora para cada ponto de H 2 , vamos considerar o seguinte produto escalar: u ,v u, v H 2 , u, v T H 2 , onde , é o produto escalar euclidiano de 2 . z0 Im ( zo ) Esse produto escalar tem uma norma associada: u uH , u, v T H 2 , onde , é a norma euclidiana usual. 2 z0 Im ( z o ) Considere g H a métrica definida pelo produto escalar , H , g H é denominada como a 2 métrica hiperbólica do H . 1 1 1 2 gH dz 2 (dx 2 dy 2 ) 2 g , onde g é a métrica euclidiana. 2 Im ( z ) y y O H 2 munido com a métrica g H é denominado semi-plano de Poincaré e é um dos modelos do semi-plano hiperbólico. O conjunto que consiste da reta real com o ponto ao infinito é chamado do bordo infinito do H 2 ( H 2 ). Também pode ser calculado o ângulo entre u e v nessa métrica: u, v H u, v Im 2 ( z 0 ) u, v cos( ) 2 uHvH u v Im ( z 0 ) u v Daqui se conclui que os ângulos entre u e v na métrica hiperbólica são iguais aos ângulos na métrica euclidiana. Levando em conta essa informação, foi possível calcular quais eram as isometrias do semi-plano de Poincaré. Para que um difeomorfismo T : H 2 H 2 seja uma isometria é preciso que: g H (u, v) g H ( Dz T (u), Dz T (v)) u , v T H 2 z u x vx , T ( x, y ) (u ( x, y ), v( x, y )) D z u v y y Para ser uma isometria a operação T precisa ser conforme, logo os candidatos a serem as isometrias positivas, são os mapas conformes de H 2 em H 2 , que são da forma: az b T ( z) , com a, b, c, d e ad bc 1 . cz d Vamos provar que todas as operações dessa forma são isometrias positivas. Departamento de Matemática a(cz d ) c(az b) ad bc 1 2 2 (cz d ) (cz d ) (cz d ) 2 Im( z ) , já foi calculado anteriormente. Im(T ( z )) 2 cz d T ( z) T ( z) Im( T ( z )) 1 Im( z ) g H ( Dz T (u ), Dz T (v)) g H (T ( z ) (u ),T ( z ) (v)) T ( z ) (u ), T ( z ) (v) Im 2 (T ( z )) T ( z ) 2 u,v Im 2 (T ( z )) 1 u , v g H (u, v) Im 2 ( z ) Logo, provou-se que T é uma isometria positiva (preserva ângulos e orientações). Para encontrar as isometrias negativas vamos usar a operação w z que é uma isometria euclidiana e fixa a parte imaginária de cada z, logo também é uma isometria do plano hiperbólico. Assim, as isometrias negativas serão as transformações T (z ) , onde T é uma isometria positiva de H 2 . As isometrias negativas são da seguinte forma: az b , com a, b, c, d e ad bc 1 . T ( z) cz d Em seguida, foram estudadas as inversões com respeito a círculos e alguma de suas propriedades. Primeiro vamos defini-la, seja um círculo de raio R e centro a , a inversão de um ponto z é o ponto z * , pertencente à semi-reta que começa em a e passa por z que satisfaz: z* a z a R2 g H ( Dz T (u ), Dz T (v)) Como z * pertence à semi-reta que começa em a e passa por z , ele pode ser escrito da seguinte forma: z * a t ( z a) , onde t e t 0 Das duas equações acima se pode retirar que: z* a R2 t 2 za za Logo, podemos obter a seguinte igualdade: R2 R2 R2 * z a ( z a) a a 2 ( z a) ( z a) za A partir da igualdade acima podem ser retiradas algumas propriedades das inversões com respeito aos círculos, a primeira é que ela preserva ângulos, mas inverte orientações, porque é a Transformação de Möbius composta com uma conjugação (a conjugação preserva ângulos e inverte orientação). A segunda propriedade é que a inversão leva círculos ou retas ou círculos ou retas, pois tanto Transformação de Möbius quanto a conjugação possuem essa propriedade. Também é fácil perceber que a inversão com respeito ao círculo de raio R e centro a fixa os pontos pertencentes a esse círculo. Considere z pertencente ao círculo, ou seja, ( z a)( z a) R 2 . Vamos calcular z* . Departamento de Matemática R2 ( z a)( z a) a z ( z a) ( z a) Em seguida, foi preciso demonstrar que a inversão com respeito ao círculo de raio R e centro a fixa globalmente os círculos ortogonais a esse. Considere um círculo de raio r e centro b ortogonal ao primeiro círculo, ou seja, z * a R 2 r 2 b a . Sabemos que os pontos de interseção entre os dois círculos estão fixados, logo só precisamos mostrar que mais um ponto do círculo ortogonal fica no mesmo círculo. Vamos escolher dois pontos do segundo círculo que estão na reta que passa pelos dois centros. Esses pontos são: (b a ) (b a ) z1 b r e z1 b r. ba ba 2 z1 a z 2 a b (b a) (b a) r ra b r a (b a)1 ba ba ba (b a)1 r ba z1 a z 2 a b a r 2 R 2 2 Logo, o inverso de z1 com respeito ao círculo é z2 , e vice-versa. Como a inversão com respeito a círculos leva círculos ou retas em círculos ou retas e três pontos determinam um círculo, temos que os círculos ortogonais ficam globalmente fixados. Vamos agora caracterizar as inversões com respeito a círculos ortogonais à reta real, ou seja, o centro é um número real. R2 2 z R2 z R2 2 R R z* z z z R R 2 R2 1 Igualando a , b , c e d , obtemos: R R R R 2 2 2 R az b 1 z* , onde ad bc 2 R R2 cz d Logo as inversões com respeito a círculos ortogonais ao eixo real são isometrias negativas do plano hiperbólico. Depois de ter visto todas essas informações, foi possível estudar quais são as geodésicas do plano hiperbólico. Uma geodésica é uma curva de classe C 1 por partes e regular, tal que para cada par de pontos dessa curva, a curva que minimiza o comprimento é essa. No 2 , as geodésicas são as retas. É possível demonstrar que as semi-retas verticais são geodésicas do plano hiperbólico. Considere dois pontos da forma a bi e a ci , onde a, b, c e c b 0 . Perceba que a curva : 0,1 H 2 , (t ) a bi (c b)it é um segmento de reta vertical que liga os dois pontos. Vamos calcular o seu comprimento na métrica hiperbólica. 1 LH ( ) (t ), (t ) 0 1/ 2 H (c b)i, (c b)i dt 2 0 Im( a bi (c b)it ) 1 1/ 2 dt cb dt log(b (c b) 1) log(b (c b) 0) b (c b)t 0 1 LH ( ) LH ( ) log(c) log(b) Departamento de Matemática Agora considere outra curva : 0,1 H 2 , (t ) x(t ) y (t )i de classe C 1 por partes e regular, tal que (0) a bi e (1) a ci . Como é uma curva de classe C 1 por partes, existem números reais 0 s0 s1 ... sn 1, tais que é de classe C 1 para cada intervalo si 1 , si para cada i 1, 2...n LH ( ) LH ( ) n si i 1 s i 1 n si (t ), (t ) i 1 si 1 1/ 2 H n si dt i 1 s i 1 ( x (t )) 2 ( y (t )) 2 dt y (t ) n s i y (t ) n si y (t ) ( x (t )) 2 ( y (t )) 2 dt dt dt y (t ) i 1 si 1 y (t ) i 1 si 1 y (t ) log( y (1)) log( y (0)) log(c) log(b) LH ( ) Provou-se que qualquer curva tem que liga esses dois pontos tem comprimento hiperbólico maior ou igual segmento de reta vertical (a igualdade só é válida quando é um segmento de reta), logo as semi-retas verticais são geodésicas do plano hiperbólico. Considere dois pontos a e b que não estão na mesma semi-reta vertical, logo existe um semicírculo de raio R centro x0 , onde x0 é um número real que passa por esses dois pontos. Seja a inversão I : H 2 H 2 com respeito ao círculo de centro x0 R e raio 2 R . Essa operação fixa ponto x0 R , pois pertence ao círculo com o qual está sendo feita a inversão, e leva o ponto x0 R para , pois é o centro do círculo ao qual está sendo feita a inversão. Também é possível perceber que ele fixa globalmente o eixo real. Como o semi-círculo é ortogonal ao eixo real e essa operação é uma isometria, temos que a imagem desse círculo será ortogonal à imagem da reta real, pelo fato de a reta real ser fixada temos que a imagem do círculo é ortogonal a ela. Assim, é possível concluir que os semi-círculos ortogonais ao eixo são geodésicas do plano hiperbólico, porque a transformação I 1 : H 2 H 2 leva as semirretas verticais em semi-círculos ortogonais. Conclui-se que as geodésicas do plano hiperbólico são as semi-retas verticais e os semi-círculos ortogonais ao eixo real, além disso só existe uma geodésica passando por dois pontos de H 2 . Vamos fazer uma comparação da geometria hiperbólica com a geometria euclidiana analisando os postulados de Euclides: 1. Por dois pontos passa somente uma geodésica. 2. Todo segmento de geodésica pode ser prolongado indefinidamente. 3. Dois ângulos retos são iguais. 4. Para cada ponto p e real positivo r , existe um círculo com centro p e raio r . 5. Seja uma geodésica e um ponto p , existe uma única geodésica passando por p e paralela a . No caso euclidiano, as geodésicas são as retas e esses postulados são facilmente verificados. Na geometria hiperbólica, só são obedecidos os quatro primeiros postulados e o quinto não é verificado. O primeiro postulado já foi verificado, provando que existe somente uma geodésica passando por dois pontos. O segundo postulado pode ser verificado percebendo que todo segmento de reta ou arco de círculos ortogonais ao eixo real no H 2 podem ser estendidos a semi-retas verticais e semi-círculos ortogonais ao eixo real, respectivamente. Departamento de Matemática Para verificar o terceiro postulado, só é preciso mostrar que todo par de geodésicas 1 , 2 podem ser levadas através de isometrias para eixo imaginário e o semi-círculo ortogonal ao eixo real e ao eixo imaginário que passa pelo ponto i. Caso uma das geodésicas seja uma semi-reta vertical, deve ser feito uma operação da forma z x0 , onde x0 é onde a semi-reta intersecta o eixo real, levando essa semi-reta vertical no eixo imaginário. Em seguida deve-ser fazer uma operação da forma z / R , onde R é o raio do semi-círculo que corresponde à outra geodésica. Caso as duas geodésicas sejam semi-círculos, deve ser feita uma inversão na qual o centro é a interseção de uma dessas geodésicas com o eixo real e raio arbitrário para transformar um semi-círculo em um semi-reta vertical, em seguida se cai no caso anterior. O quarto postulado é mais facilmente avaliado usando o modelo do Disco de Poincaré, então ele será analisado depois de sua definição. O quinto postulado é falso. Inicialmente, é necessário saber o que são duas geodésicas paralelas, que pode ser definido como duas geodésicas que tem um ponto no bordo infinito em comum. Para verificar que esse postulado é falso, vamos considerar o eixo imaginário e um ponto p que não pertence a ele. É possível traçar por p uma semi-reta vertical e um semicírculo ortogonal ao eixo real e tangente ao eixo imaginário. A semi-reta vertical que passa por p e o eixo imaginário são paralelos, pois tem o ponto em comum no bordo infinito e semicírculo ortogonal e o eixo imaginário p são, pois tem o ponto 0 (zero) em comum. Logo existem duas paralelas ao eixo imaginário que passam por p, demonstrando que o postulado não é válido. Com o conhecimento das geodésicas, agora serão classificadas as isometrias positivas, a partir de seus pontos fixos. az b Considere a isometria positiva f ( z ) , com a, b, c, d e ad bc 1 , vamos cz d analisar seus pontos fixos: az b z é ponto fixo se f ( z ) z. cz d az b cz 2 dz cz 2 (d a) z b 0 Se c 0 , os pontos fixos podem ser obtidos resolvendo a equação de segundo grau. Vamos analisar o seu discriminante. (d a) 2 4bc a 2 2ad d 2 4bc , como ad bc 1 bc ad 1 obtém-se: a 2 d 2 2ad 4 (a d ) 2 4 Se (a d ) 2 4 0 , os dois pontos fixos são números reais diferentes. Se (a d ) 2 4 0 , existe apenas um ponto fixo que é um número real. Se (a d ) 2 4 0 , existem dois pontos fixos complexos conjugados, dos quais um tem parte imaginária maior que zero e o outro não. Caso c 0 , os pontos fixos irão satisfazer a seguinte equação (d a) z b 0 e o ponto será um ponto fixo. Nesse caso, se a d o ponto infinito será o único ponto fixo e se a d os pontos b /(d a ) e serão pontos fixos. As transformações hiperbólicas serão aquelas que fixarem dois pontos no bordo infinito, ou seja, com c 0 e (a d ) 2 4 0 , ou c 0 e a d . Considere que os pontos fixados são x1 e x 2 , existe uma única geodésica que passa por esses dois pontos. Como os pontos x1 e x 2 estão fixados, a geodésica também será fixada. Seja um ponto p pertence à curva , f ( p ) p pertence também a (caso f ( p ) p , a aplicação teria três pontos fixos e Departamento de Matemática seria uma aplicação constante). Suponha que a orientação da curva de x1 até x 2 , seja a mesma que p até f ( p ) . Considere um ponto q qualquer entre p até f ( p ) na curva . Podese obter: d H ( p, f (q)) d H ( p, q) d H (q, f (q)) d H ( p, f ( p)) d H ( f ( p), f (q)) Pelo fato de f ser uma isometria retira-se que d H ( f ( p), f (q)) d H ( p, q) e, portanto, d H ( p, f ( p)) d H (q, f (q)) . Agora vamos considerar que q apenas está na curva . Existe n Z tal que q está entre f n ( p) e f n1 ( p) . Para perceber esse fato, considere o eixo imaginário e o ponto i , os pontos que tem distância de i são e i e e i , quando tende a infinito e i vai para infinito e e i vai para zero, os pontos tendem a ir aos pontos do bordo infinito. Fazendo o análogo, f n ( p) vai para x 2 e f n ( p) vai para x1 , se n tender a infinito. Daí é fácil concluir d H (q, f (q)) d H ( f n ( p), f n1 ( p)) d H ( p, f ( p)) . Caso z 0 não pertença à curva , é possível traçar um geodésica que passa por esse ponto e ortogonal a no ponto z . Sabemos que ponto z será deslocado uma distância ao longo da curva , é a curva será levada em uma curva ortogonal a no ponto f (z ) . Como f é uma isometria a distância entre z 0 e z será mantida e f ( z 0 ) terá essa mesma distância de f (z ) . Em seguida foram caracterizadas as Transformações elípticas, que possuem dois pontos fixos no plano complexo, porém apenas um ponto fixo z 0 em H 2 , o que acontece quando c 0 e (a d ) 2 4 0 . Para analisar essa transformação, escolha um ponto z e trace o segmento de geodésica entre z 0 e z , a o ponto z 0 é fixo e z será levado em f (z ) , que preserva a distância ao ponto z . A geodésica será levada em outra geodésica f ( ) que faz certo ângulo 0 com a geodésica no ponto z . Com isso é possível caracterizar a transformação de um ponto genérico p . Primeiro deve ser traçado a geodésica entre z 0 e p que faz um ângulo com a geodésica no ponto z . Como f é isometria o ângulo entre f ( ) e f ( ) , também é , pelo fato de o ângulo entre f ( ) e ser 0 tem-se que o ângulo entre f ( ) e é 0 (Foi considerado que os ângulos são orientados). Finalmente obtém que o ângulo entre f ( ) e é 0 0 . A transformação elíptica é uma rotação hiperbólica de 0 em torno do ponto z 0 . O último tipo de isometrias positivas são as Transformações parabólicas, que fixam apenas um ponto no bordo do infinito, c 0 e (a d ) 2 4 0 , ou c 0 e a d . Para discutir essas transformações é cabível a definição de uma classe de curvas no plano hiperbólico, os horociclos. Os horociclos são os círculos tangentes ao eixo real e as retas horizontais. Uma propriedade dos horociclos é que a imagem de um horociclo através de uma isometria é sempre um horociclo. Para provar tal propriedade, só é preciso perceber que as isometrias levaram um ponto do bordo infinito em outro ponto do bordo infinito, as isometrias são operações conformes e preservam a tangência entre a curva e o eixo real, e pela propriedade de retas ou círculo serem levados em retas ou círculos pelas transformações de Möbius. Considere as transformações parabólicas que fixam o ponto , ou seja, são da forma f ( z ) z b , é fácil perceber que todos os horociclos tangentes ao , ou seja, as retas horizontais, são globalmente fixados. Caso a isometria f fixe um ponto do eixo real x , a Departamento de Matemática transformação T : H 2 H 2 , T ( z ) 1 /( z x) é uma transformação que leva o ponto x para , portanto a função g ( z) T f T 1 ( z) fixa o ponto . g fixa cada horociclo tangente ao , logo f ( z) T 1 f T ( z) terá essa mesma propriedade. Vamos então definir o Disco de Poincaré, para isso vamos utilizar a transformação de Cayley e a métrica hiperbólica. 2i z i i( z 1) , T 1 ( z ) , T 1 ( z ) T ( z) (1 z ) 2 zi z 1 Im(T ( z )) 1 z 2 (1 z )(1 z ) T 1 ( z ) u , v 2 g D (u , v) g H (T 1 ( z )(u ), T 1 ( z )(v)) Im(T ( z )) 4 u, v (1 z ) 2 2 O Disco de Poincaré é o disco unitário centrado na origem dotado com a métrica acima. As isometrias do disco de Poincaré serão as aplicações do espaço em si mesmo do mesmo jeito que o semi-plano de Poincaré. (az c) , com aa cc 1 f ( z) (cz a) As geodésicas serão os diâmetros e os arcos de círculos ortogonais ao disco de raio um centrado na origem, o que pode ser facilmente verificado com o fato de a Transformação de Cayley ser conforme e levar círculos ou retas em círculos ou retas. Agora é fácil estudar os pontos que tem uma distância da origem, que serão os pontos do círculo euclidiano de centro 0 e raio th( / 2) . Para perceber isso vamos calcular a distância de um ponto w até a origem. A geodésica que passam pela origem são os diâmetros, portanto a curva pode ser parametrizada como (t ) tw, t 0,1 , vamos calcular a distância entre 0 e w . 1 w dt log( 1 w ) log( 1 w ) log 2 2 1 w 1 w t 0 0 Agora, vamos estudar o conjunto de pontos que tem distância hiperbólica . 1 1 d H (0, w) g D ( (t ), (t ))1/ 2 dt 2w 1 w 1 w d H (0, w) log e w th 1 w 2 1 w Isso mostra que os pontos que tem distância euclidiana constante da origem igual a th . Mostrando isso, podem ser usadas transformações parabólicas para deslocar o centro 2 para outros pontos, provando que todo círculo hiperbólico pode ser representado por um circulo euclidiano no Disco de Poincaré. Para ver que os círculos hiperbólicos também podem ser representados por círculos euclidianos no semi-plano de Poincaré, para isso é só utilizar a Transformação de Cayley levando o disco no semi-plano, e essa transformação tem a propriedade de leva círculos ou retas em círculos ou retas (para perceber que não leva em uma reta, perceba que o infinito não pode pertencer a esse conjunto), porém nada garante que círculos hiperbólicos e os círculos euclidianos que representam têm o raio ou centro em comum. Departamento de Matemática Conclusões Para abordar o tema, Geometria Hiperbólica Plana, foi necessário obter um conhecimento básico de diversas áreas da matemática e, além disso, a oportunidade de estudar assuntos um pouco mais avançados, como por exemplo, Geometria Diferencial que só costuma ser abordado tardiamente na grade curricular do curso de matemática. Além disso, toda semana foi pedido ao aluno que apresentasse o tópico estudado em casa, o que desenvolveu bastante a capacidade expositiva e de reproduzir as demonstrações do livro. Referências 1 – LEVINSON, N.; REDHEFFER, R. M. Complex Variables. San Francisco: Holden-Day, Inc., 1970. 429p. 2 – EARP, R. S.; TOUBIANA, E. Introduction à la géométrie hyperbolique et aux surfaces de Riemann. Paris: Cassini, 2009.364p.