ENTREVISTA COM
Phillipe Willemart
Por: Aldenice Sousa
Phillipe Willemart, professor doutor da Universidade de São Paulo (USP), é presença
confirmada no II Simpósio Nacional de Crítica Genética e Arquivologia, que acontece de 20 a 22 de agosto na Universidade Estadual do piauí- UESPI. Villemar é referência no tema da crítica genética e autor de várias obras como Escritura e Linhas
Fantasmáticas (1983), Além da Psicanálise: a Literatura e as Artes (1995), Proust, Poeta e Psicanalista (2000) e Educação
Sentimental em Proust (2002). A Crítica genética, que teve sua origem na França, é uma abordagem relativamente nova no
Brasil e envolve o estudo da gênese da criação literária. Na entrevista a seguir, concedida com exclusividade para Ascom/
UESPI, o pesquisador fala do surgimento da área no país e oferece sugestões de leitura a quem tiver interesse na área.
O senhor é considerado um dos principais introdutores da Crítica Genética no Brasil. De que forma se deu o início dos estudos da criação literária no país?
No início, em 1982, fui apenas, transmissor, uma espécie de Hermès entre quem inventou a crítica genética na França, meu mestre Louis Hay e sua equipe, e todos aqueles que se convenceram da riqueza dessa nova linha de pesquisa. Examinando o que se passou desde a implantação da crítica genética no país, vejo que o movimento progrediu, valorizando a relação do manuscrito com a teoria psicanalítica e favorecendo a criação de
polos de debates. A chave do sucesso de uma linha de pesquisa está na relação entre o orientador entusiasta e convincente, refletindo e publicando, e sua equipe de pós-graduandos e iniciantes científicos, escrevendo e debatendo.
A história da Crítica genética no Brasil pode parecer planejada, mas não foi. Iniciei com a transcrição e estudo dos manuscritos do conto Hérodias, de Flaubert, em 1981 e 1982, no Instituto de Textos et Manuscritos Modernos, em Paris. Dei uma disciplina de pós na USP e publiquei alguns artigos na Folha de São Paulo e no Estadão, em 1984. Isso foi
suficiente para juntar jovens pesquisadores, atraídos pela abordagem inédita de documentos esquecidos até então.
Reunindo os jovens geneticistas, alguns estudiosos e pesquisadores interessados nos manuscritos por outros meios como a filologia e a crítica textual, foi fundada a Associação dos Pesquisadores do Manuscrito Literário (APML) em 1985, hoje a Associação
dos pesquisadores em crítica genética (APCG). A nova instituição realizou congressos em São Paulo, Niterói, João Pessoa, Salvador,
Vitória, Porto Alegre, Florianópolis, e agora em Teresina. Esse é o segundo Simpósio que realizamos no Piauí, graças ao esforço
admirável de Márcia Edlena Lima e sua equipe. Outras equipes de pesquisadores trabalham em Londrina, Belo Horizonte e Recife.
Quais as principais etapas ou procedimentos da análise da criação de um autor?
Primeiro, gostar de uma obra publicada - romance, conto, peça de teatro ou poesia. Procurar os manuscritos. Se ainda estão com os herdeiros, pode haver dificuldade porque escondem ou recusam a visita, achando que os manuscritos são inapropriados para a publicação ou para a pesquisa, porque revelam a intimidade do autor ou simplesmente porque querem
vendê-los. Se for em biblioteca pública, são classificados, o que facilita a pesquisa; ou esquecidos num canto embora registrados. Depois o pesquisador tem que decifrar e classificar o que encontrou; analisar e comparar trechos, capítulos ou a
obra completa para encontrar os processos de criação; sintetizar a maneira de criar a obra e por fim, teorizar e articular os
achados para contribuir com uma teoria da escritura. As etapas podem ser diferentes, dependendo também do pesquisador.
O Senhor pode citar as principais instituições do Brasil a desenvolverem Crítica Literária como linha de pesquisa?
A crítica genética é praticada por cerca de 250 pesquisadores em 22 instituições no Brasil. Os pesquisadores pertencem, na
sua maioria, as Universidades Federais, desde a do Rio Grande do Sul até a do Amazonas. Além da Universidade Estadual do
Piauí- UESPI, em Teresina, também podem ser citadas a Pontifícia Universidade Católica de Recife e de São Paulo, a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, a Mackenzie e a Universidade Anhembi Morumbi de São Paulo; a Universidade Luterana
do Brasil. em Canoas, e as três Universidades públicas paulistas: UNESP, UNICAMP e USP, além da Casa Rui Barbosa, no Rio.
Existe alguma diferença nos estudos em relação às regiões, já que os autores brasileiros possuem uma linguagem distin ta, como por exemplo as diferenças entre escritores do sul do país e do Nordeste brasileiro?
Os processos de criação diferem embora, dependendo da teoria crítica utilizada - psicanálise, teoria da recepção, literatura comparada etc- o mesmo autor possa ser lido de maneira diferente. A análise não depende somente da origem geográfica do escritor.
A respeito do II Simpósio Nacional de Crítica Genética, que será realizado na UESPI, qual seria a relevância e quais as
expectativas em relação ao evento?
A importância do IIº Simpósio se deve ao público, constituído de alunos de graduação, do mestrado da UESPI e das regiões adjacentes, Norte e Nordeste. Esse é um público relativamente novo que esperamos sensibilizar à crítica genética.
Que dicas o senhor daria para quem deseja estudar essa linha de pesquisa?
Se o jovem pesquisador encontrou “seu autor”, isto é se gostou do texto publicado, do romance, da poesia ou do teatro, deve tentar encontrar os manuscritos, procurar os processos de criação, consultar a produção brasileira a partir da Manuscrítica- revista
da APCG disponível na web (http://manuscritica.fflch.usp.br/, e trabalhar até redigir um artigo, uma dissertação ou uma tese.
V Cite alguns trabalhos de referência que podem ser consultados por quem deseja conhecer mais a Crítica Genética.
Podem ser citadas as obras Criação em Processo: Ensaios de Crítica Genética, organizada por Roberto Zular que também publicou, junto com Claudia Amigo Pino Escrever sobre escrever. Temos Fogos de artifícios:Flaubert e a escritura, de Verônica Galindez Jorge e A fissura e a verruma: corpo e escrita em Memórias do Cárcere, de Conceição Aparecida Bento. Além das obras de Cecília Almeida Salles e de Philippe Willemart.
Pode ser citadas ainda obras de geneticistas franceses traduzidas como: Almuth Grésillon em Elementos de crítica genética e
Louis Hay A literatura dos escritores: questões de crítica genética.
Citamos os anais dos congressos realizados desde 1985 pela APLM-APCG publicados em Florianópolis por Sergio Romanelli, Em João Pessoa por Sônia Van Dijck, Em Niterói por Marlene Gomes Mendes, Porto Alegre por Marie-Hélène Paret Passos, Em Salvador por Elizabeth Hazin e Silvia Anastacio, Em São Paulo por Philippe Willemart, Telê A.Lopez, Cecilia A. Salles, Roberto Zular e em Vitória por Cirillo Aparecido.
O site da Associação de Pesquisadores em Crítica Genética - APCG tem mais informações: www.apcg.com.br
Para mais informações sobre o II Simpósio Nacional de Crítica Genética que acontece entre os dias 20 e 22 de agosto na
UESPI veja o site http://www.simposiocga.com/
Download

ENTREVISTA COM