VIDEOSCOPIA – UMA FERRAMENTA NO COMBATE AOS ILÍCITOS José AGOSTINHO1; Hugo PEREIRA2; Paulo OLIVEIRA3 RESUMO As perdas de água constituem uma das principais causas de ineficiência das Entidades Gestoras de abastecimento de água, uma vez que correspondem à água que não é faturada nem utilizada para outros usos autorizados, mas que é captada, tratada e transportada em infraestruturas de elevado valor patrimonial e com custos de operação e manutenção significativos. A dimensão económico-financeira das perdas de água é assim de grande relevância para a Entidade Gestora, pelo que quantas mais medidas e meios se dediquem ao seu controlo e investigação, melhor será para os interesses da entidade. Uma das metodologias utilizadas para a redução do índice de perdas de água, é a identificação de consumos fraudulentos por parte de Utilizadores que possuem contratos ativos com a Entidade Gestora, utilizando como método a Videoscopia. Estes consumos fraudulentos podem resultar de derivações do ramal a montante do contador, permitindo consumos elevados de água que não são contabilizados. Estes consumos elevados de água não contabilizados são de difícil deteção e confirmação, uma vez que esses Utilizadores mantêm um valor de consumo de água semelhante à média dos Utilizadores do sistema em questão e encontram-se em situação regular através dos contratos, pelo que não existem indícios óbvios de fraude. Palavras-chave: videoscopia, ilícitos, perdas, eficiência, rendimento. 1 - Engenheiro Eletrotécnico, Coordenador dos Centros de Exploração Sul e Responsável da Área de Planeamento e Controlo Estratégico da Luságua – Serviços Ambientais, S.A., Administrador da Luságua Lisboa 2 - Técnico, Responsável pelo Serviço de Videoscopia da Luságua – Serviços Ambientais, S.A. 3 - Engenheiro Civil, Vogal (Membro da Comissão Executiva) e Diretor de Engenharia e Novos Projetos da AQUAPOR – Serviços S.A., Presidente do Conselho de Administração da Luságua Lisboa, Águas do Lena, Águas da Teja, Águas do Planalto, Luságua Alcanena, Águas da Azambuja e Águas da Figueira, Vogal do Conselho da Administração da Águas do Vouga, Águas de Alenquer e Luságua – Serviços Ambientais, S.A. 1/7 1. INTRODUÇÃO A melhoria da eficiência dos sistemas de abastecimento de água, através da redução de água não faturada e cuja relevância é inquestionável dos pontos de vista económico, social e ambiental, constitui atualmente uma das prioridades estratégicas das Entidades Gestoras. Desta forma, a LUSÁGUA – Serviços Ambientais, S.A. decidiu investir na Videoscopia, como um dos principais métodos para a identificação de perdas de água, designadamente de perdas aparentes, que refletem um volume de água que se encontra a ser utilizado ilicitamente, visto que não é devidamente contabilizado. A Videoscopia é um método de fiscalização rápido e contínuo, que tem como uma das suas principais mais-valias, o facto de não recorrer a práticas destrutivas/invasivas. Desta forma o local fica identificado e monitorizado, sem levantar qualquer suspeita da ação realizada. A Videoscopia é apenas um dos produtos, do portfólio que a LUSÁGUA – Serviços Ambientais, S.A. coloca à disposição dos seus Clientes. Figura 1 - Logotipo do produto 2. MÉTODO DE APLICAÇÃO 2.1 Processo Sendo a Videoscopia um método de fácil aplicação no terreno, a mesma tem uma forte componente de trabalho de BackOffice. Apenas com recurso a um trabalho de monitorização e avaliação dos consumos dos vários Utilizadores, se conseguirão excelentes resultados no terreno. A avaliação em BackOffice deve ter em consideração, pelo menos, um aspeto fundamental na caracterização dos Utilizadores: • Tipo de habitação – Tipologia da habitação do Utilizador e se apresenta piscina e/ou jardim. Comparar os consumos com os dos restantes Utilizadores com tipologias idênticas. Depois desta etapa, o serviço deve ser então encaminhado para o exterior, onde se deverão proceder a alguns testes, de forma a aferir algumas situações: • Estado de ocupação do imóvel – Aferir se o mesmo se encontra habitado ou desabitado, ou se só terá utilização sazonal; 2/7 • Verificar acessos – Verificar se o contador se encontra acessível (interior ou exterior) e se a válvula de corte se encontra operacional; • Origens de água alternativas – Verificar se o Utilizador tem poço ou furo. Mesmo tendo captação própria, o mesmo poderá estar igualmente a incorrer numa prática ilícita de consumo indevido. Se todas as verificações forem concordantes, devemos então avançar para fiscalização, com recurso a Videoscopia. Figura 2 - Fluxograma de atividades 3/7 2.2 Tipos de consumos ilícitos detetados Ao longo das inspeções realizadas às tubagens, com recurso a Videoscopia, podemos detetar de forma mais comum, dois tipos de ligações ilegais. • Ligação em “T”: Esta infração é das mais usuais, sendo também das mais fáceis de detetar. A tubagem de alimentação ao contador não pode ter nenhuma outra derivação, devendo assim ser direta até ao mesmo. Figura 3 - Esquema representativo de uma ligação em “T” Figura 4 - Imagem real de uma ligação em “T” • Ligação em “Picagem” Consiste num pequeno furo na tubagem, através do qual é construída uma outra tubagem, de forma a servir toda a área da habitação que se desejar. 4/7 As picagens são infrações complicadas de serem detetadas e requerem a máxima atenção por parte do operador do videoscópio. Figura 5 - Esquema representativo de uma ligação em “Picagem” Figura 6 - Imagem real de uma ligação em “Picagem” Ao longo das inspeções são encontradas tubagens em mau estado, devido à sua composição e principalmente devido à sua idade, apresentando um grau de calcificação muito grande e que desta forma dificulta, podendo mesmo impossibilitar, o uso da Videoscopia. Estes casos são detetados e reportados às Entidades Gestoras. 5/7 Figura 7 - Imagem real de uma tubagem em mau estado (calcário) 3. VANTAGENS PARA O CLIENTE A Videoscopia é um serviço discreto perante os vários Utilizadores da Entidade Gestora, mas ainda assim, é necessário informá-los para o corte momentâneo do abastecimento de água, de forma a realizar a tarefa. Se durante o processo de inspeção for detetado algum consumo ilícito, o mesmo é normalmente transmitido ao Utilizador pela Entidade Gestora, procedendo esta, normalmente, ao corte de água, até que a normal condição seja reposta. Não sendo a Videoscopia um serviço prestado diretamente pela Entidade Gestora, fica normalmente esta com a sua imagem mais salvaguardada, visto o ilícito ter sido detetado por entidade terceira. Outra vantagem para as Entidades Gestoras, consiste na ausência de custos na compra e na manutenção dos equipamentos de Videoscopia, bem como na contratação de mão-de-obra especializada. Cada equipamento de Videoscopia representa um investimento mínimo de dezenas de milhares de euros, sendo que cada reparação associada ao equipamento é em média superior a 11.000.00 €. A tudo isto terá de ser incluída a mão-de-obra especializada, que tem uma forte componente de formação, para que se possa minorar ao máximo os riscos de avaria com o equipamento e assim evitar manutenções consecutivas. Por fim, ao ser utilizado o serviço de Videoscopia, a Entidade Gestora pode, através de apresentação de penalidades aos Utilizadores, recuperar parte da receita que outrora se julgara perdida. 4. CONCLUSÕES A Videoscopia é um processo que se encontra implementado pela LUSÁGUA - SERVIÇOS AMBIENTAIS S.A. nas várias empresas do seu grupo e que tem apresentado resultados extremamente 6/7 positivos. É um serviço no qual, ao longo dos anos, a LUSÁGUA - SERVIÇOS AMBIENTAIS S.A. foi absorvendo conhecimento, que lhe permite também minorar os inconvenientes associados ao nível de custos e reparações. O serviço em causa acarreta consigo inúmeras vantagens para as Entidades Gestoras, na ótica de recuperação de receitas, mas também por baixar em grande escala o índice de perdas existente. Das mais-valias do procedimento realizado, salienta-se não ser necessário recorrer a técnicas dispendiosas e destrutivas, o que possibilita apresentar uma produtividade muito elevada com resultados que se repercutem de imediato. 7/7