A TERAPÊUTICA COM NANOMEDICAMENTOS: UM OLHAR PARA O ENVELHECIMENTO 1 Aline Ribeiro Leal de Melo ; Thais Carolyne Santos da Silva1; Antonilêni Freire Duarte Medeiros2; Sandra Marinho de Azevedo Sorage³; Luciana Ferreira de Souza4 1 Aluna do curso de Bacharelado em Enfermagem do UNIPÊ, 2 Farmacêutica, Doutoranda em Farmácia, Professora do curso de Bacharelado em Enfermagem do UNIPÊ, ³ Enfermeira especialista em Gerontologia, Mestranda em Ciência da Educação, Professora do curso de Bacharelado em Enfermagem do UNIPÊ, 4 Enfermeira, Mestre em Terapia Intensiva, Professora do curso de Bacharelado em Enfermagem do UNIPÊ. 1 INTRODUÇÃO A modernidade tem cobrado um alto preço pelo modo de vida adquirido nos últimos tempos. Cada vez mais o homem torna-se dependente das tecnologias, e isso leva a um ritmo de acelerado que antes não existia, trazendo novas doenças à tona. As mudanças no estilo de vida do homem moderno também trouxeram uma longevidade antes não possível. E quanto maior o tempo de vida, maior também é a possibilidade de adquirir patologias que aparecem ao longo da idade. Assim, faz-se necessário o estudo e desenvolvimento de novas técnicas e terapias, ou até o aperfeiçoamento do que já existe. Não tardará muito e chegaremos ao tempo descrito nos filmes de ficção científica em que o homem literalmente “navegará” pelo corpo humano. Como isso será possível? Já dispomos de tecnologia avançada para tanto: a nanotecnologia. Mas em relação ao organismo humano, sempre necessitamos esgotar todas as possibilidades de causar malefícios a um paciente, pois o mesmo já se encontra fragilizado física e psicologicamente. O controle da matéria em escala nanométrica, ou seja, da ordem da bilionésima parte do metro, traz um infinidade de aplicações em vários campos da ciência, como: o meio ambiente, a exploração espacial, as tecnologias de comunicação e informática, a agricultura, a cosmética, a higiene e saúde pública, o setor energético, dentre outros 1. O conhecimento das técnicas, bem como de candidatos a medicamentos em escala nano datam de algumas poucas décadas, a exemplo das nanopartículas poliméricas, outrora vistas como meras curiosidades de alto custo, sem nenhuma utilidade terapêutica, são reconhecidas atualmente como grande potencial medicamentoso 2. Uma pesquisa realizada por Oliveira e Moreira (2007), “análise das dissertações e teses de enfermagem sobre idoso no Brasil”, revelam como de grande importância a farmacologia e terapêutica voltadas para a terceira idade, onde indivíduos idosos são os principais consumidores e os maiores beneficiários da farmacoterapia moderna, cerca de 80% deste grupo etário consome pelo menos um tipo de medicamento. 2 OBJETIVO O objetivo do presente trabalho é identificar os aspectos de maior relevância sobre novas formas de tratamento, tendo como foco a área de nanomedicamentos no que se refere à terapêutica do envelhecimento. 3 METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa de natureza bibliográfica realizada no período de maio e junho de 2010. A identificação do objeto de estudo na literatura foi realizada em bases de dados online, de artigos indexados no National Library of Medicine (MEDLINE), na Literatra Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), no Scientific Electronic Library Online (SciELO). Utilizou-se „nanotecnologia‟ para a busca dos artigos nos periódicos nacionais e „nanotechnology‟ para a busca dos periódicos estrangeiros. Utilizamos também livros aqui referenciados, por aprofundarem o tema em questão. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Origem da publicação Analisando-se as publicações quanto a sua origem, pôde-se perceber, de forma parcial, a realidade mundial na qual a temática é abordada, indicando a baixa produção em periódicos nacionais, quando comparados aos estrangeiros. Do total de quinze artigos identificados, seis são nacionais e nove são estrangeiros. A pesquisa sobre nanomedicamentos no Brasil ainda é deficiente, considerando que os artigos estrangeiros abordam o tema de maneira mais direta do que os nacionais. O tema pioneiro e sem publicações específicas à abordagem do envelhecimento. Ano de publicação De acordo com o ano de publicação, a Figura 1 mostra que os artigos se apresentaram de modo crescente, com maior frequência nos anos de 2006 e 2007. ANO NÚMERO DE PUBLICAÇÕES 1987 01 1995 01 2003 02 2004 01 2005 02 2006 03 2007 03 2008 01 2009 01 Fig. 1 – Tabela quanto ao ano e o número de publicações. Tipo de publicação Os trabalhos encontrados foram classificados como: artigos originais, artigos de atualização e artigos de revisão. A pesquisa mostrou que a grande maioria dos estudos encontrados classificam-se como artigos originais. Este dado pode ser explicado tendo em vista que os periódicos concedem maior espaço para a publicação de artigos originais, visto que é este tipo de pesquisa que amplia o conhecimento científico de determinado fenômeno, desvelando novos achados, confirmando ou refutando achados de outras pesquisas e demonstrando particularidades dentro da realidade mundial. Por outro lado, os demais tipos de publicação refletem o conhecimento já produzido por outros estudos. Nesse sentido, a importância destas pesquisas reside no fato de que a produção deste saber contribui para a reflexão da práxis profissional. Tema de estudo A compreensão do objeto a ser estudado é fundamental na construção da pesquisa, uma vez que esse representa a estrutura de todo trabalho científico. O objeto de estudo é que conduz o desvelar do problema de pesquisa. Este último esclarece a dificuldade específica com a qual se defronta e que pretende resolver por intermédio da pesquisa.¹³ 4.1 ENVELHECIMENTO O envelhecimento da população mundial é um fenômeno novo, ao qual os países mais ricos e poderosos ainda estão tentando se adaptar. O que era no passado privilégio de alguns poucos passou a ser uma experiência de um número crescente de pessoas em todo o mundo. Envelhecer no final deste século já não é proeza reservada a uma pequena parcela da população. No entanto, no que se refere ao envelhecimento populacional, os países desenvolvidos diferem substancialmente dos subdesenvolvidos, já que os mecanismos que levam a tal envelhecimento são distintos.3 Segundo Comfort (2001), “O envelhecimento se caracteriza por uma redução da capacidade de adaptação homeostática às situações de sobrecarga funcional.” 4 Embora a grande maioria dos idosos seja portadora de, pelo menos, uma doença crônica3 nem todos ficam limitados por essas doenças, e muitos levam vida perfeitamente normal, com as suas enfermidades controladas e expressam satisfação na vida. Um idoso com uma ou mais doenças crônicas pode ser considerado um idoso saudável, se comparado com um idoso com as mesmas doenças, porém sem controle destas, com sequelas decorrentes e incapacidades associadas. Assim, o conceito clássico de saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostra-se inadequado para descrever o universo de saúde dos idosos, já que a ausência de doenças é privilégio de poucos, e o completo bemestar pode ser atingido por muitos, independentemente da presença ou não de doenças.6 4.1.1 ALTERAÇÕES ANATOMOFISIOLÓGICAS DO IDOSO Quando falamos do envelhecimento do ser humano, é de extrema importância saber as consequências desse processo, ou seja, dos agravos decorrentes das alterações anatomofisiológicas ocorridas no organismo. A senescência é resultado das várias alterações orgânicas, funcionais e psicológicas do envelhecimento normal; já a senilidade é caracterizada por afecções que acometem os idosos. É de fundamental importância saber a diferença entre a senescência e a senilidade, e atribuir as características corretamente a cada uma. Destacamos também que as doenças são as principais causadoras da perda das reservas orgânicas e, consequentemente, da aceleração do envelhecimento, e do declínio da função dos vários sistemas orgânicos. Podem-se perceber alterações de todos os sistemas do idoso. No sistema ósseo ocorre a perda progressiva da massa óssea pela diminuição do cálcio; no sistema músculoarticular há uma perda do líquido sinovial e atrofia dos músculos. A função cardíaca também é alterada, pois há uma degeneração de fibras musculares do miocárdio, causando hipertrofia.4 No sistema respiratório há uma redução da elasticidade da musculatura pulmonar, ocasionando colabamento expiratório. A função renal é comprometida pela redução dos rins, diminuição do número de néfrons e glomérulos. O sistema digestivo é um dos mais afetados, pois há alterações em todo canal alimentar, desde alterações dentárias, distúrbios de deglutição, atrofia do esôfago, estômago e alargamento do intestino delgado. Além dessas alterações, há também a diminuição bioquímica, reduzindo o metabolismo. O envelhecimento altera todo sistema endócrino, os comprometimentos são observados nas células glandulares, na secreção hormonal, nos receptores e células-alvo. O sistema nervoso sofre alterações, pois há redução da massa cerebral, responsável por parte da manutenção homeostática do corpo. 4 4.2 NANOMEDICAMENTOS Desde os primórdios da história da humanidade existe uma ligação natural entre a religião e o uso de drogas. Acreditava-se que os doentes estavam possuídos por demônios e que a saúde poderia ser restaurada pela identificação do demônio e pela descoberta de uma forma de expulsá-lo. À medida que se obtiveram conhecimentos sobre os efeitos das drogas, a importância da intervenção divina começou a ser efetivamente da competência do sacerdote, e não dos deuses. Desta forma, a terapêutica evoluiu desde suas raízes na magia para a fundamentação na experiência. A nanotecnologia farmacêutica é a área das ciências farmacêuticas envolvida no desenvolvimento, caracterização e aplicação de sistemas terapêuticos em escala nanométrica ou micrométrica.7 Nesses casos, o produto terapêutico é imobilizado, absorvido, ligado, dissolvido ou encapsulado na partícula, permitindo o controle preciso sobre a liberação da droga.8 A nanoterapia é uma promissora estratégia para o tratamento das doenças humanas. No entanto, a terapêutica molecular eficiente e, especificamente, para o tecidoalvo continua a ser um desafio significativo. Uma grande quantidade de investigações tem sido feitas para resolver as dificuldades enfrentadas por uma molécula da droga, uma vez que deixa o seu local de administração e distribui-se no corpo, espera-se que cheguem ao local de destino em doses suficientes para alterar a patologia, ou pelo menos travar a doença da progressão.9 A tecnologia de nanomedicamentos desenvolvidos especificamente à fisiologia da pessoa idosa tem como principal justificativa a redução das reações adversas e a diminuição da toxicidade dos fármacos. A liberação gradativa do fármaco, através de estimulação de „sensores‟8 que excretam o fármaco em reposta a alguma alteração, faz com que o número de doses administradas seja diminuído, reduzindo a quantidade de fármaco livre no organismo e assim reduzindo também as reações adversas. Nesse sistema, a droga é liberada em taxa pré-determinada durante um período definido de tempo. De modo geral, as taxas de liberação independem das condições ambientais, como pH. Esses sistemas podem liberar drogas durante longos períodos de tempo, de dias até anos.8 Lipossomos representam um benéfico sistema de transporte de fármacos que é utilizado em estudos clínicos para atuar como um veículo não tóxico, reduzindo os efeitos colaterais e aumentando a eficácia.10 Os lipossomos constituem transportadores de droga em micropartículas; são essencialmente esferas de membrana sintética formadas por camadas bilipídicas preenchidas com DNA, podendo alcançar alvos intracelulares por mecanismo de adsorção, endocitose, permeação ou fusão com a membrana.8 4.3 POLIFARMÁCIA E INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA Nos Estados Unidos foi observado que pacientes idosos hospitalizados recebiam em média dez drogas diferentes. É comum encontrar, nas prescrições para idosos, além de administração incorreta de medicamentos, indicações inadequadas, interações medicamentosas, associações, uso de fármacos pertencentes a uma mesma classe terapêutica, e medicamentos sem valor terapêutico8 aumentando o risco de reações adversas. Segundo a OMS, em países desenvolvidos, o consumo de medicamentos por pessoas acima de 65 anos é de 25% a 50% do total consumido e, consequentemente, a presença de múltiplas doenças no idoso geralmente leva à polifarmácia.4 As especialidades médicas analisam somente o sistema de sua competência, ignorando a integralidade do idoso, fazendo com que cada profissional indique um ou mais medicamentos. Essa polifarmácia pode conter o mesmo princípio ativo desnecessariamente, causando interações que poderiam ser evitadas, como por exemplo, resultando no aumento, na diminuição ou no surgimento de efeitos não esperados.4 A falta dessas informações leva o paciente idoso acometido por mais de uma patologia a ingerir todos os medicamentos na mesma hora, para evitar esquecimentos. Os pacientes idosos têm um risco maior de desenvolver reações adversas, devido à polifarmácia, mudanças na farmacodinâmica e farmacocinética das drogas, diminuição do controle da homeostase e da capacidade de armazenamento do fármaco. Segundo a OMS, 18% da população sofrem reações adversas quando usam até seis medicamentos e 80% quando usam acima de seis medicamentos. Os analgésicos, medicamentos cardiovasculares, antidiabéticos orais, antidepressivos e outros medicamentos psicotrópicos (barbitúricos de ação curta, antipsicóticos), relaxantes musculares, antiarrítmicos e os antibióticos são os mais comumente inclusos na fatalidade da intoxicação por medicamentos em idosos.11 A ingestão de doses elevadas dos medicamentos por descuido (negligência, esquecimento), a identificação confusa do medicamento, a via incorreta de administração e o armazenamento impróprio estão entre os principais motivos de intoxicação não intencional em idosos.12 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Visto que o envelhecimento com qualidade é uma meta da maioria das pessoas, e que para isso, a terapêutica tecnologicamente avançada pode contribuir deveras, o estudo de novas fórmulas menos tóxicas, mais eficazes e específicas, se faz presente para que possamos alcançar resultados rapidamente e tornar o uso da terapêutica nanotecnológica uma ferramenta na melhor forma de tratar o paciente idoso. Este trabalho revelou a necessidade de maior produção e/ou de maior divulgação do conhecimento produzido sobre a temática. Também se faz necessário um número maior de periódicos nacionais indexados, para que, desse modo, o conhecimento sobre nanomedicamentos e seus benefícios sobre a saúde da pessoa idosa seja difundido de forma mais democrática no Brasil. A administração de medicamentos é atividade cotidiana e de responsabilidade legal da equipe de enfermagem, em todas as instituições de saúde e, portanto, reveste-se de grande importância tanto para essa categoria profissional quanto para os clientes. Outrossim, enfermeiros e farmacêuticos devem trabalhar juntos visando à recuperação da saúde e a redução de efeitos colaterais e eventos adversos devido a necessidade de polifármacos com o advento da senilidade. Uma grande quantidade de investigações tem sido feitas, sendo assim, enfermeiros precisam estar atualizados e cientes do uso dessa promissora estratégia para o tratamento das doenças humanas. REFERÊNCIAS 1. Sánchez, Y.M.; Cruz, N.C.; Fernández, A.M.T.; Machado, O.J.D. La nanotecnología y sus posibilidades de aplicación en el campo científico-tecnológico. Revista Cubana de Salud Pública. vol. 35, n. 3, jul-set. 2009. 2 Rossi-Bergmann, B. A nanotecnologia: da saúde para além do determinismo tecnológico. Ciência e Cultura. [online]. vol. 60, n. 2, pp. 54-57. 2008. 3. Kalache, A., Veras, R., Ramos, L. O envelhecimento da população mundial. Um desafio novo. Revista de Saúde Pública, vol. 21, n. 3, São Paulo, 1987. 4. Papaléo Netto, Matheus . e col., Tratado de Gerontologia, 2. ed., rev. e ampliada - ed. Atheneu, São Paulo, 2007. 5. Ramos, L.R., Perracini, M., Rosa, T.E.C., Kalache, A. Significance and management of disability among urban elderly residents in Brazil. Journal of Cross-Cultural Gerontology, 2003. 8:313-323. 6. Ramos, LR.; Fatores determinantes do envelhecimento saudável em idosos residentes em centro urbano: Projeto Epidoso, Caderno de Saúde Pública, vol. 19, n. 3, São Paulo, 2003. 7. Pimentel, L., Mosqueira Júnior, AV., Magalhães, N. Nanotecnologia Farmacêutica aplicada ao tratamento de malária. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, n.04 São Paulo, 2007. 8. Silva, P. Farmacologia, 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. 9. Dass, C., Choong, P. Selective gene delivery for cancer therapy using cationic liposomes: In vivo proof of applicability. Journal of Controlled Release. n.113 – 2006 10. Camargo, I. et al, Testicular morphometry and stereology of adult rats treated with cyclophosphamide incorporated to the liposome. Semina: Ciências biológicas e da saúde, 2006. 11. Bernardes, A., Chorilli, M., Franco, Y. Intoxicação medicamentosa no idoso. Revista em Saúde. vol. 7, n. 15, Piracicaba, 2004. 12. Haselberger MB. 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