A poupança e a produção
A produção em massa com a intensificação do uso da tecnologia trouxeram a possibilidade
da redução dos custos dos produtos. Desta forma um grande número de consumidores pode
consumir produtos inimagináveis em outros tempos. O automóvel e mais recentemente o celular são
exemplos de bens que conseguiram aumentar em muito o número de consumidores combinando
estes dois elementos. Contudo, somente melhores preços não seriam suficientes para sustentar este
consumo e a crescente produção. O sistema de consumo massificado contou com ajuda fundamental
do crédito para se desenvolver.
O princípio da intermediação financeira, ou de crédito, está em captar sobras do orçamento
de famílias e de empresas, as chamadas poupanças, por um lado e canalizar para outras empresas,
famílias e o próprio governo que querem antecipar o consumo de algo com estes recursos.
Antecipar porque quando se compra um produto a prazo, em geral, faltam recursos para se comprar
à vista. Este hábito muito difundido em nossa cultura contribui decisivamente para os lucros
estratosféricos dos bancos. Sem duvida, poderíamos simplesmente culpar o governo que mantém
uma das taxas de juros mais elevada do planeta, mas estaríamos nos eximindo da nossa culpa. No
Brasil, o volume de poupança ainda é baixo, está em torno de 18% do PIB, ou seja, este é volume
de recursos que se poupam no país. Deste dinheiro poupado saem os recursos para se construir
casas, saneamento básico, para as empresas se expandirem e mais uma infinidade de outros fins
entre eles a própria antecipação de consumo comprando-se automóveis geladeiras e tudo mais que
se queira. Contudo, deste dinheiro guardado, 2/3 dele é emprestado para o governo. Estes recursos
emprestados para o governo servem para renovar dívidas contraídas em outros tempos e que
continuam sendo postergadas e não pagas. Na verdade não há como solucionar esta equação no
curto prazo.
A poupança é fundamental para o crescimento sustentado do país, e no Brasil, além de ser
pouca sua destinação têm finalidades menos nobres. A sociedade se vê compelida a ajudar o
governo a pagar a dívida pública direta e indiretamente. Diretamente através dos tributos que cada
vez mais aumentam sua participação na renda dos cidadãos e indiretamente pela ausência de
serviços de qualidade, que se esperava, fossem oferecidos pelo governo com os recursos dos
tributos. Para satisfazer a lacuna deixada pelo governo na educação, na saúde, na segurança entre
tantos outros recorremos a iniciativa privada que naturalmente nos cobra “de novo” pelo serviço.
Como muitas vezes já aconteceu, a sociedade deveria ser chamada a participar do “esforço”
para resolver estes problemas. A proposta, desta vez é diferente, os cidadãos deveriam ser
chamados a poupar como aconteceu no Japão no pós-guerra. Pode-se argumentar que a renda do
brasileiro é baixa, mas não é menor que a da Japão neste período ou da Korea antes de se tornar um
tigre asiático. O difícil realmente está em convencer a população a retardar o consumo e a receber o
prêmio pela paciência chamado juro. Com um volume maior de poupança haveria mais recursos
para serem emprestados e uma efetiva concorrência entre os bancos, que como conseqüência
forçaria a queda taxa de juros. O círculo virtuoso se concluiria com a destinações mais nobres dos
recursos que são aqueles aplicados na produção gerando mais emprego e mais renda. A maior
barreira está nos padrões culturais e no desinteresse em modificá-los já que os mais contrariados
seriam aqueles que mais lucram com isso no país, os bancos.
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